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Prévia do material em texto

EXMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA6ºVARA CÍVEL DA COMARCA DEFORTALEZA, CEARÁ
AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE CONSUMO (CARTÃO DE CRÉDITO) CUMULADA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER, CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
NOME DO REQUERENTE,QUALIFICAÇÃO DO REQUERENTE, vem por intermédio daDefensoria Pública do Estado do Ceará, representado(a) pelo Defensor Público que vem, à presença de Vossa Excelência, através da Defensoria Pública Estadual, pelo Defensor Público e estagiária que esta subscreve, com especial fundamento no Código Brasileiro de Proteção e Defesa do Consumidor, demais cânones aplicáveis à espécie e no mais atual entendimento jurisprudencial e doutrinário acerca da matéria, propor a presenteAÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE CONSUMO C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER, CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO E ANTECIPAÇÃO DE TUTELAem face doNOME DO RÉU,QUALIFICAÇÃO DO RÉU, pelas razões de fato e de direito adiante expostas.
INICIALMENTE
Requer os benefícios da justiça gratuita, em razão de estar sendo assistido(a) pela Defensoria Pública, por ser pobre na forma da lei, conforme dispositivos insertos na Lei Federal 1.060/50, acrescida das alterações estabelecidas na Lei Federal 7.115/83, bem como em atendimento ao preceito constitucional, na esfera federal, da Lei Complementar Federal nº 80/94, reformada pela Lei Complementar Federal nº 132/2009 e, estadual, por meio da Lei Complementar Estadual nº. 06/97, tudo por apego á égide semânticaprevista no artigo 5°, LXXIV da Carta da República de 1988.
SINOPSE FÁTICA
DESCRIÇÃO DOS FATOS
DOSFUNDAMENTOS JURÍDICOS
A pretensão autoral está em absoluta conformidade com o entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça, notadamente em face dos enunciados de súmulas 379, 380, 381 e 382, haja vista que se trata de contrato bancário de consumo,o qual é tutelado por norma de ordem pública prevista artigo 1º do CDC.
Ao contrário da orientação ao dever de solidariedade positivado no microssistema consumerista, a postura do fornecedor, em regra, tem sido a de que só avençam se houver solução de continuidade no pagamento ou se o consumidor aceitar parcelamento de, no mínimo, 24 (vinte e quatro) parcelas, em uma lógica inversa e desleal, estimuladora do superendividamento do consumidor e capaz de provocar o lucro excessivo ou o aumento arbitrário do lucro do fornecedor pelo não pagamento ou pelo pagamento parcial das faturas.
Tais práticas afrontam a ordem jurídica posta desde a Constituição Federal, quando trata do abuso do poder econômico sob a ótica dos princípios gerais da atividade econômica, dentre os quais o de defesa do consumidor (artigo 170, V e artigo173, § 4º).
Assim, o que se questiona é justamente o cumprimento das regras do contrato de consumo em relação às informações prévias, claras e adequadas acerca dasconsequências e modos do contrato, destacando as cláusulas limitadoras (artigos 46 usque 54 do CDC), bem como a inconstitucionalidade da capitalização dos juros, assuntos não tratados nas súmulas supratranscritas.
O simples cumprimento do contrato pela parte demandante não obsta o pedido de repetição do indébito, notadamente diante do fato de que tal pretensão somente surge quando houver pagamento indevido (in casu, acima do devido), de sorte que o cumprimento das cláusulas contratuais pelo devedor é pressuposto para o ingresso da demanda.
É forçoso aclarar que os princípios que regem a relação contratual, principalmente a boa fé objetiva, faz incidir a intitulada "teoria dos deveres laterais do contrato", segundo a qual a idoneidade negocial deve ser perenizada antes, durante e apósa formação e cumprimento do contrato, viabilizando, assim, a possibilidade de discussão dos termos do negócio jurídico após o seu integral cumprimento, respeitado, obviamente, o prazo prescricional.
Insta explanar que o CDC, em seu artigo 6º, V, incutiu,em nosso ordenamento, a denominada "Teoria da Base do Negócio Jurídico", segundo a qual se exige a constante manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, de modo a se efetivar uma adequação axiológica das cláusulas contratuais, hábil a possibilitar a satisfação dos interesses de ambas as partes, obstando, assim, a ocorrência de vantagens excessivas de uma sobre a outra parte.
Portanto, diferentemente do que ocorre com a cláusula rebus sic stantibus, o reconhecimento da onerosidade excessiva,apta a autorizar a reavaliação das cláusulas contratuais em contratos de consumo, independe da ocorrência de fato imprevisível, bastando restar configurada a onerosidade excessiva em face do consumidor.
A razão para tal afirmação reside na constatação deque nos contratos de adesão, principalmente naqueles cujo objeto cinge-se à concessão de créditos ou empréstimos, as cláusulas que fixam a incidência de juros e multas não são discutidas entre os contraentes, de modo que apenas uma das partes, no caso, ainstituição financeira, detémos privilégios para fixar todos os encargos pertinentes.
Com efeito, a modificação das cláusulas iníquas, abusivas ou excessivamente onerosas ao consumidor, decorre do pressuposto de que obrigações nulas não podem ser convalidadas.
Ocorre que, em obséquio da especial proteção outorgada constitucionalmente ao consumidor, o próprio Superior Tribunal de Justiça, em análise a questões voltadas a empréstimos bancários, verificou que inúmeras instituições financeiras estabeleciam taxas de juros elevadíssimas, completamente desproporcionais.
Em razão disso, passou-se a autorizar a revisão contratual, de modo a estabelecer que a taxa de juros, para ser perenizada judicialmente, deveria retratar o patamar médio praticado no mercado,senão vejamos in literis:
AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECURSO ESPECIAL - AÇÃO REVISIONAL - CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO - ADMINISTRADORA - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS NÃO PACTUADA - LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO PARA OPERAÇÕES DA ESPÉCIE - 1- É assente o entendimento desta Corte no sentido de que "as empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Leide Usura" (Súmula 283/STJ). 2- A Segunda Seção desta Corte firmou o entendimento de que o fato de as taxas de juros excederem o limite de 12% ao ano, por si, não implica abusividade; Impondo-se sua redução, tão-somente, quando comprovado que discrepantes em relação à taxa de mercado após vencida a obrigação. 3- Não tendo como se aferir a taxa de juros acordada, sendo pela própria falta de pactuação, como no caso dos autos, ou pela não juntada do contrato, devem os juros remuneratórios ser fixados à taxa média do mercado em operações da espécie. 4- Agravo Regimental improvido. (STJ - AgRg-AI 1.316.972 - (2010/0104225-7) - 3ª T. - Rel. Min. Sidnei Beneti - DJe 27.09.2012 - p. 1647)
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃOREVISIONAL - CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO - TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS - LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO PARA OPERAÇÕES DA ESPÉCIE OU ASSEMELHADAS - 1- O reconhecimento da abusividade da taxa de juros nos contratos de cartão de crédito pode ser verificada mediante o cotejo entra a taxa contratada e a média das taxas de mercado para as mesmas operações ou assemelhadas. 2- A verificação da abusividade ou não, no caso concreto, encontra óbice no enunciado 7/STJ , não se podendo extrair do acórdão o quanto a taxa de juros contratada superou a média de mercado para símile operação. 3- As instâncias ordinárias registraram não se poder extrair dos autos a data da contratação ou a pactuação expressa da capitalização mensal de juros, tema que não se sujeita à verificação desta Corte na esteirados enunciados nº 5 e 7/STJ . 4- AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (STJ - AgRg-REsp 1.235.612 - (2011/0027728-6) - 3ª T. - Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino - DJe 19.08.2013 - p. 1174)
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL - CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - POSSIBILIDADE DE COBRANÇA VINCULADA A COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS DA MP1.963-17/2000 - EXPRESSA PACTUAÇÃO NÃO CONSTATADA - ILEGALIDADE NA COBRANÇA - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - CUMULATIVIDADE COM OUTROS ENCARGOS REFERENTES À MORA - IMPOSSIBILIDADE - DUPLA PENALIZAÇÃO DO ATRASO NO PAGAMENTO - PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DESTA CORTE - APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA - 1- A Capitalização de juros é admitida a partir da publicação da Medida Provisória de nº 1.963-17/2000, desde que comprovada a contratação após o dia 31 de março de 2000 e a expressa pactuação no instrumento particular. 2- Não constatada a expressa pactuação da cobrança de juros capitalizados no contrato tem-se essa como inexistente, tornando a cobrançaindevida. 3- A comissão de permanência tem natureza tríplice, sendo tal encargo referente à remuneração pelo capital mutuado, sua atualização e penalidade pelo atraso no pagamento. 4- A cobrança de outros encargos decorrentes da mora do particular cumuladacom a comissão de permanência findaria por penalizar em duplicidade o mesmo evento,sendo tal prática rechaçada pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, nos moldes das súmulas 30 e 296 da referida Corte. 5- Apelação Cível conhecida e desprovida. 6- Sentença mantida. (TJCE - AC 0086783-77.2005.8.06.0001 - Relª Maria Iraneide Moura Silva - DJe 12.07.2013 - p. 32)
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL - CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS NÃO PACTUADA - ILEGALIDADE - LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS - IMPOSSIBILIDADE - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM OUTROS ENCARGOS REMUNERATÓRIOS E MORATÓRIOS - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULAS 296 E 472 DO STJ - MULTA MORATÓRIA - LIMITE LEGAL - RECURSO APELATÓRIO CONHECIDO EM PARTE E PARCIALMENTE PROVIDO - 1- A capitalização mensal de juros, apesar de firmado o contrato empós a edição da Medida Provisória nº 2.170-36/2001, não é possível, visto inexistir pactuação expressa no instrumento respectivo. 2- A limitação de juros remuneratórios de 12% ao ano, prevista na Lei de Usura, não é aplicável aos contratos bancários, salvo aqueles regidos por leis especiais, a exemplo das cédulas de crédito rural, industrial e comercial. 3- É admitida a cobrança da comissão de permanência no período da inadimplêncianos contratos bancários, à taxa de mercado, desde que pactuada e cobrada de forma exclusiva, ou seja, não cumulada com outros encargos moratórios, remuneratórios ou correção monetária. 4- Recurso apelatório conhecido em parte e parcialmente provido. (TJCE- AC 0046232-84.2007.8.06.0001 - Rel. Francisco Gladyson Pontes - DJe 15.04.2013 - p. 48)
Por outro lado, com relação à impossibilidade de capitalização dos juros em face da inconstitucionalidade da Medida Provisória 2171/2001, ao lado da ausência das informações prévias e das cláusulas abusivas - o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar voto da Ministra Cármen Lúcia Antunes, em 05 de novembro de 2008, no Recurso Extraordinário 582760, reconheceu que sem estar expressamente contratada, não pode haver cobrança de capitalização de juros seja de até um ano (como prevê a prefalada medida provisória), seja em período superior.
Nesse sentido, inclusive, o pronunciamento da Ministra Cármen Lúcia Antunes do Supremo Tribunal Federal, no trecho abaixo extraído da decisão exarada:
“(...) E é nessa perspectiva que a conclusão que se me impõe é a de que não é a mera instituição legal de capitalização mensal, semestral, anual ou qualquer outra que importa juridicamente para o respeito aos direitos constitucionais e legais do consumidor, mas a clareza (diria mesmo a transparência) do contrato firmado, ou seja, o respeito ao direito à informação de que é titular o consumidor que lhe permite saber o que efetivamente pagará de juros e determinará, assim, o respeito a seu direito.” (trecho do voto da Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, do Supremo Tribunal Federal, nos autos do Recurso Extraordinário 582.760 / RS em 05 de novembro de 2008 - sem destaque no original)
Por último, em face da RECL. 1897/AC, já tem decidido, recentemente, o STF sobre a inadmissibilidade de capitalização mensal, como se vê adiante:
CONTRATO BANCÁRIO. JUROS. CAPITALIZAÇÃO EM PERÍODO INFERIOR A UM ANO. INADMISSIBILIDADE. ART. 5º DA MP 2.087-29/2001, EDITADA COMO MP 2.140-34. INCONSTITUCIONALIDADE RECONHECIDA INCIDENTALMENTE. Controle difuso de constitucionalidade, exercido em ação civil pública. Não usurpação de competência do Supremo. Reclamação julgada improcedente. Agravo improvido. Inteligência do art. 102, inc. I, “a”, da CF. Não usurpa competência do Supremo Tribunal Federal, decisão que, em ação civil pública de natureza condenatória, declara incidentalmente a inconstitucionalidade de norma jurídica. RECURSO. Agravo regimental. Reclamação. Inconsistente. Inexistência de razões novas. Rejeição. Éde rejeitar agravo regimental que não apresenta razões novas capazes de ditar reforma da decisão agravada.
(STF - Rcl 1897 AgR / AC - ACRE - AG.REG. NA RECLAMAÇÃO – Relator(a): Min. CEZAR PELUSO (PRESIDENTE) - Julgamento: 18/08/2010 - Órgão Julgador:Tribunal Pleno - DJe-020 DIVULG 31-01-2011 PUBLIC 01-02-2011).
Importante salientar que, quando o CDC determina que a informação seja prévia e adequada, está justamente dizendo que as informações precisam ser dadas emconformidade com a compreensão doconsumidor, sem utilização de termos técnicos incompreensíveis ao leigo, com clareza, esclarecendo os “prós e contras” do negócio, a orientação e verificação da capacidade de endividamento do consumidor, de modo que a sua liberdade de escolha possa ser realmente exercida.
Ocorre que a prática deste mercado de financiamento, com raras exceções, tem se caracterizado por atitudes diametralmente opostas às regras de direito do consumidor. Cabe, então, ao sistema de justiça fazê-lo ser respeitado.
Sabe-se, entrementes, que, a partir da MP 2170-36/00, passou-se a admitir a contratação de capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano nos contratos bancários em geral. Com a edição da Lei Federal 10.931/04, essa possibilidade foi também adotada para amodalidade de Cédula de Crédito Bancário.
Por outro lado, impõe-se à atuação judicial a necessidade de, primeiramente, delimitar qual seja a conduta esperada em cada situação concreta, para posteriormente confrontá-la àquela efetivamente praticada. No caso sub judice, necessário se faz cotejar o contrato em lide sob a batuta da cláusula geral de boa-fé objetiva, adotada no âmbito contratual e aplicável tanto às relações contratuais em geral, como às relações de consumo. Nesse diapasão, sobressaem os deveres anexos entre os quais se ressalta o dever de informação.
No mercado de consumo, a informação ao consumidor (publicidade) é antecede a contratação e prestada no exato momento da contratação. E é precisamente esse dever de informação, prestado formalmente no ato da contratação, que circunda a hipótese do caso em contenda.
O direito à informação, segundo a boa doutrina, decorre especialmente do princípio da transparência, consectário, por sua vez, da adoção da boa-fé objetiva e do dever anexo de prestar as informações necessárias à formação, desenvolvimento e conclusão do negócio jurídico entabulado entre as partes.
Assim, a interpretação sistemática dos artigos 4º, 6º, 31, 46 e 54 doCDC leva-se à conclusão de que, para se desincumbir de seus deveres mútuos de informação, os contratantes devem prestar todos os esclarecimentos, de forma correta, clara, precisa e ostensiva, a respeito dos elementos essenciais ao início da relação contratual.
Neste sentido é o Código Consumerista:
Art. 54 - Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
(...)
§ 3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. (Redação da LEI Nº 11.785/22.09.2008)Art.46 - Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não Ihes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
No magistério de Sérgio Cavalieri Filho:
”A nova concepção contratual está essencialmente estruturada sobre os princípios da equidade e boa-fé. A afronta a estes princípios rompe o desejado e justo equilíbrio econômico da relação jurídica de consumo, fazendo ruir o Direito e passa a representar uma vantagem excessiva para o fornecedor e um ônus não razoável para o consumidor.
O sistema protetivo do consumidor está estruturado sobre os princípios da equidade, da boa-fé e da função social do contrato, dos quais decorrem os que vedam a lesão e o enriquecimento indevido, tudo como corolário do resgate da dignidade da pessoa humana. (Programa de Direito do Consumidor, 3. edição, Atlas, 2011, págs. 102 e 103)”.
E ainda acrescenta e emérito magistrado:
“ A nova concepção dos contratos repudia, de modo veemente e absoluto, a lesão, o prejuízo não razoável. A primazia não é mais da vontade, mas, sim, da justiça contratual. (ob. cit. pág. 117)”.
Só há autonomia da vontade quando o consumidor é bem informado e pode manifestar a sua decisão de maneira refletida. Além de informar ao consumidor e de esclarecê-lo, tem o fornecedor especialista o dever de aconselhá-lo e de orientá-lo. Assim, por falta de informação adequada, o fornecedor pode responder.
E a falta de oportunidade de compreensão do que estava contratando, consoante já dissertado, levou o demandante a sofrer graves prejuízos, redundando em dizer que as cláusulas aqui atacadas são abusivas e nulas de pleno jure. A propósito, vejamosas seguintes regras do CDC:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
(...)
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
XI - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido;
Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
Com efeito, o cumprimento desse dever, até mesmo em consequência da objetividade da boa-fé, não toma em consideração a intenção do agente em ludibriar, omitir ou lesionar a parte contrária; o que se busca efetivamente é proteção dos contratantes.
Em matéria de contratos bancários, os juros remuneratórios são essenciais e preponderantes na decisão de contratar. São justamente essas taxas de juros que viabilizam a saudável concorrência e que levam o consumidor a optar por uma ou outra instituição financeira.
Entrementes, embora a sua irrefutável importância, percebe-se que a maioria da população brasileira ainda não compreende a fórmula do cálculo dos juros bancários contratados.Observa-se que não há qualquer esclarecimento prévio, tampouco se concretizou o ideal de educação do consumidor, previsto no art. 4º, IV, do CDC.
Nesse contexto, a capitalização de juros está longe de ser um instituto conhecido, compreendido e facilmenteidentificado pelo consumidor. A realidade cotidiana é a de que os contratos bancários, muito embora estejam cada vez mais difundidos na nossa sociedade, ainda são incompreensíveis à maioria dos consumidores, que são levados a contratar e aos poucos vão aprendendo pelas regras da experiência.
Obtém-se, dessas premissas, o padrão de comportamento a ser esperado do homem médio, que aceita a contratação do financiamento a partir do confronto entre taxas nominais ofertadas no mercado. De considerar, ainda, comomedida da atitude objetivamente esperada de cada contratante, o padrão de conhecimento e comportamento das pessoas na nossa sociedade. Tudo porque se vive numa sociedade de profundas disparidades sociais, com relativamente baixo grau de instrução.
Doutrabanda, atribui-se à instituição financeira – detentora de elevado conhecimento a respeito dos valores envolvidos, dos métodos de cálculo e ainda do perfil de seu cliente e dos riscos operacionais envolvidos – o dever de prestar as informações de forma clara e evidente, no intuito de dar concretude ao equilíbrio entre as partes das relações de consumo. Desse modo, o CDC impõe expressamente a prestação de esclarecimentos detalhados, claros, precisos, corretos e ostensivos, de todas as cláusulas que compõem os contratos de consumo, sob pena de abusividade.
Assim, deve-se concluir se a constância expressa das taxas de juros anual e mensal é, por si só, clara o bastante aos olhos do consumidor, a ponto de se antevera existência da capitalização, uma vez que oconsentimento informado do consumidor às cláusulas contratuais que lhe são impostas é deduzido do entendimento de que a previsão das referidas taxas permitem ao consumidor conhecer os exatos termos contratados.
Dessarte, mesmo para aqueles consumidores dotados de profundo conhecimento acerca da matéria, a simples visualização das taxas de juros não é suficiente para compreensão adequada de qual periodicidade de capitalização lhe está sendo ofertada ou imposta. A periodicidade da capitalização, por sua vez,é dado relevante para a apuração da taxa de juros real incidente no contrato, bem como para o acompanhamento da evolução do saldo devedor.
Resulta, daí, que, mesmo a apuração dos valores anuais, calculados por método simples, demandaria a utilização de meios eletrônicos para a maioria dos consumidores, dificultando, induvidosamente, a identificação visível da própria divergência entre a taxa de juros anual e o duodécuplo da taxa mensal.
Chega-se à ilação, desse modo, que a menção numérica às taxas de juros no contrato em lide, embora permita a compreensão dos termos contratados, não é, por si só, suficiente ao efetivo cumprimento do dever legal de prestação da adequada e transparente informação, que deve se encontrar escrita de forma compreensível ao consumidor. Deve, portanto, ser afastada a capitalização dos juros, haja vista que houve violação da boa-fé objetiva, inclusive por não ter sido entregue uma via contratual.
Esse é o entendimento mais recente do Tribunal da Cidadania, senão vejamos:
CIVIL.BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. CONTRATAÇÃO EXPRESSA. NECESSIDADE DE PREVISÃO. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.
1. A contratação expressa da capitalização de juros deve ser clara, precisa e ostensiva, não podendoser deduzida da mera divergência entre a taxa de juros anual e o duodécuplo da taxa de juros mensal.
2. Reconhecida a abusividade dos encargos exigidos no período de normalidade contratual, descaracteriza-se a mora.
3. Recurso especial não provido.
(STJ - REsp Nº 1.302.738 – SC - RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI – T3 – TERCEIRA TURMA - J. 03.05.2012)
A questão, então, é simples e é clara: só se pode falar ou cogitar de capitalização se ele tiver sido prévia, ostensiva, clara e adequadamente inseridano pacto com o consumidor, o que não ocorreu no presente caso.
Enfim, para que as cláusulas contratuais tenham eficácia em relação ao consumidor, delas ele necessariamente deverá ter tomado conhecimento prévio e total do seu conteúdo. Mera declaração de recebimento das cláusulas gerais é insuficiente. Assim, as cláusulas gerais não integrantes no contrato, eventualmente aquiescidas e assinadas pelo consumidor, não lhe são oponíveis.
DA POSSIBILIDADE DO PARCELAMENTO JUDICIAL DO DÉBITO REMANESCENTE
Sobre a questão do parcelamento judicial do débito decorrente de contrato de consumo, pronuncia-seNOME DO REQUERENTE(citada por Geraldo Farias da Costa em artigo publicado no livro Direitos do Consumidor Endividado, publicado pela Revista dos Tribunais):
“No direito brasileiro, em face do CDC parece também ser possível considerar-se a existência deste dever de renegociação a favordo consumidor, pois tanto o art. 6º, V menciona o direito do consumidor de pedir a modificação do contrato em caso de onerosidadeexcessiva, quanto nos arts. 52 e 53 menciona o direito à informação, ao pagamento antecipado e devolução das quantias pagas. logo, parece-me possível também no brasil requerer a antecipação desta modificação e a cooperação do parceiro-fornecedor (dever de renegociação) para a readaptação do contrato (princípio da boa fé doart. 4º, iii) e sua manutenção (art. 51, § 2º).
Não se diga que há impossibilidade jurídica do presente pedido por se considerar o parcelamento liberalidade das partes, haja vista quese trata de um contrato de consumo em que se deve concretizar os valores constitucionalmente assegurados, devendo, também, ser pautado pela BOA FÉ e pelo dever de solidariedade, principalmente em casos como o presente, onde foi concedido um crédito bem maior do que o que poderia ser dignamente suportado pelo(a) promovente, que goza de presunção legal de vulnerabilidade (CDC, artigo 4º, I).
Ademais, o código consumerista adotou, no caput do artigo 7º, o diálogo das fontes como premissa a ser utilizada em favor do consumidor. Nesse sentido, é de se adotar o artigo 480 do Código Civil, como forma de ressaltar o dever de cooperação do fornecedor, impondo a alteração do modo de execução da dívida, a fim de evitar a ruína daquele. Vejamos, a propósito, o que dispõe o artigo em comento:
Art. 48 - Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
De sua parte, o próprio Código Buzaid, em seu artigo 745-A, assim disciplina:
Art. 745-A - No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exeqüente e comprovando o depósito de 30% (trinta por cento) do valor em execução, inclusive custas e honorários de advogado, poderá o executado requerer seja admitido a pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção monetária e juros de 1% (um por cento) ao mês. (Redação da LEI Nº 11.382 /06.l2.2006)
Com efeito, nada impede a adaptação do caso em querela ao artigo em comento, em analogia, com a modificação da exclusão de custas e honorários, por ser a autora beneficiária da justiça gratuita, devendo o débito, de acordo com os cálculos anexos, ou seja,VALOR DO DÉBITO, ser parcelado de acordo com as condições financeiras da requerente, levando-se em conta o patamar máximo e legal de 30% de sua remuneraçãodisponível (art. 2º, § 2º, I, da Lei Federal 10.820/03).
Assim, para que a autora possa, mesmo com orçamento apertado, continuar sua jornada de vida com o mínimo dedignidade, reconhece como inconteste o saldo devedor apresentado na planilha anexa, com realinho aos ditames legais, devendo o débito ser dividido emNº DE PARCELASparcelas iguais e sucessivas deVALOR DAS PARCELAS, única forma de tornar o débito pagável,sem que afete diretamente a sua sobrevivência e de sua família.
Nesse sentido - e por estas razões - é que o direito brasileiro vem admitindo o parcelamento judicial de débitos de consumo como se pode confirmar pelas decisões que se seguem:
CONSUMIDOR.FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. DÉBITO DE CONSUMO REGULAR. SOLICITAÇÃO DE PARCELAMENTO DO DÉBITO. POSSIBILIDADE, NO CASO EM CONCRETO. SENTENÇA MANTIDA.
- Não há que se falar em litispendência, porquanto não se trata da mesma causa de pedir constante dademanda anterior (fls. 127/133), já que a presente lide versa estritamente sobre pedido de parcelamento do débito apurado entre os meses de outubro de 2006 a agosto de 2008. Preliminar que resta afastada.
- Hipótese do caso em concreto que recomenda o deferimento do parcelamento do débito. Excepcionalidade do caso. Situação em que o parcelamento se mostra a forma através da qual há maior probabilidade de adimplemento do débito.
Aplicação do princípio da eqüidade. - Ressalvadas as possibilidades de corte na hipótese de inadimplemento das parcelas referentes ao débito em questão. A cessação do fornecimento de energia somente poderá ocorrer
por débitos novos não abrangidos pelo parcelamento em questão, e sempre mediante prévio aviso.
- Sentença de procedência que resta mantida, conforme autoriza o art.46 da Lei nº 9.099/95.
NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO. (TJRS - RECURSO INOMINADO CÍVEL Nº 71002002921 - PRIMEIRA TURMA RECURSAL - RELATOR: HELENO TREGNAGO SARAIVA – j. 06.11.2009)
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - PEDIDO DE PARCELAMENTO - NECESSIDADE DE CONCESSÃO PARA EVITAR INADIMPLEMENTO, TENDO EM VISTA A CONDIÇÃO ECONÔMICA DA PARTE - Já é entendimento pacificado desta Turma Recursal de que para fim de permitir o cumprimento da obrigação, diante da condição econômica da parte, o parcelamento do débito decorrente de consumo de energia elétrica é medida que se impõe. No presente caso, viável o fracionamento do valor deVALOR A SER FRACIONADOemNº DE PARCELASparcelas mensais e sucessivas deVALOR DAS PARCELAS, tendo em vista que o autor não se nega a pagar o débito, ao contrário, procurou a ré para que esta aceitasse o valor devido do modo que conseguisse cumprir com sua obrigação, devido a sua frágil situação econômica. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. (TJRS - RIn 71003127636 - 2ª T.R.Cív. - Relª Vivian Cristina Angonese Spengler - J. 28.03.2012)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - AGRAVO REGIMENTAL - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - INOCORRÊNCIA - ÁGUA - FORNECIMENTO DE ÁGUA -SUSPENSÃO - PARCELAMENTO DO DÉBITO - (...) 5- Em relação ao parcelamento estabelecido judicialmente, existe julgado desta Corte no sentido de que permite-se que o "magistrado interfira na relação contratual para reequilibrar o sinalagma e formentar a execução, quando houver onerosidade excessiva e desvantagem exagerada para o consumidor (...) O parcelamento permite que a ré receba o que lhe é devido, o que doutra forma restará obstaculizado, o que não se coaduna com a essencialidade da contraprestação do fornecimento de água" (AgRg no REsp 1.064.832/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 4.9.2008). 6- Agravo regimental parcialmente provido, apenas para fazer constar a expressão "corte no fornecimento de água", em vez de "corte no fornecimento de energia elétrica". (STJ - AgRg-AI 1.359.604 - (2010/0190666-3) - 2ª T. - Rel. Min. Mauro Campbell Marques - DJe09.05.2011 - p. 581)
ADMINISTRATIVO E DIREITO CONSUMIDOR. FORNECIMENTO DE ÁGUA. SUSPENSÃO. PARCELAMENTO DO DÉBITO. RECURSO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535 DO CPC. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 283/STF.
(...)
II - No mais, o fornecimento de água foi determinado, na hipótese, tendo em vista situação peculiar, qual seja, o parcelamento do débito. Senão vejamos: "o Código de Defesa doConsumidor permite que o magistrado interfira na relação contratual para reequilibrar o sinalagma e fomentar a execução, quando houver onerosidade excessiva e desvantagem exagerada para o consumidor. Dessa forma, a presente demanda se enquadra perfeitamente na citada hipótese, vez que qualquer valor que venha a ser cobrado retroativamente junto com o consumo atual colocará o consumidor em situação de desequilíbrio financeiro, impedindo o cumprimento do contrato. Pontue-se, ainda, que o parcelamento permiteque a ré receba o que lhe é devido, o que doutra forma restará obstaculizado, o que não se coaduna com a essencialidade da contraprestação do fornecimento de água".
(...)(STJ - AgRg no REsp 1064832 / RJ - Relator(a) Ministro FRANCISCO FALCÃO - Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA - Data do Julgamento 26/08/2008 - Data da Publicação/Fonte DJe 04/09/2008).
De destacar, finalmente, por verdadeiro, que, como advertido por Boaventura de Sousa Santos, é papel da DEFENSORIA PÚBLICA, enquanto instituição incumbidaconstitucionalmente de propiciar o acesso à justiça, estimular a solidificação de correntes jurisprudenciais que atendam o princípio da dignidade às pessoas em condições de vulnerabilidade.
DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA
O artigo 273, I do CPC prevê a possibilidadede o juiz, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.
Da mesma forma é a prescrição do CDC, ex textus:
Art. 84 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o Juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que asseguremo resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1º - A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.
§ 2º - A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa (artigo 287 do Código de Processo Civil).
§ 3º - Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao Juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu.
§ 4º - O Juiz poderá, na hipótese do § 3º ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.
Com efeito, a tutela antecipada é a decisão provisória que satisfaz total ou parcialmente, imediatamente o direito material deduzido. Exige verossimilhança baseada em prova segura, inequívoca. A tutela antecipa os efeitos do provimento final.
A prova inequívoca é a prova robusta, consistente, que conduza a um juízo de probabilidade. É prova com boa dose de credibilidade; não é prova absoluta, irrefutável. É qualquer meio de prova, em geral documental, capaz de influir, positivamente, no convencimento do juiz – prova suficiente para o surgimento do verossímil. Verossimilhançaé o juízo que permite chegar a uma verdade provável sobre os fatos: elevado grau de probabilidade da versão apresentada pelo(a) autor(a).
No que tange ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, inevitável a comparação com o periculum in mora ou risco de dano iminente do processo cautelar, refletindo-se, no dizer autorizado de Ovídio Baptista da Silva, na exposição a perigo do direito provável.
Aocomentar os requisitos para a concessão da tutela antecipada, o Professor Luiz Guilherme Marinoni assim disserta:
"É possível a concessão da tutela antecipatória não só quando o dano é apenas temido, mas igualmente quando o dano está sendo ou já foi produzido.
Nos casos em que o comportamento ilícito se caracteriza como atividade de natureza continuativa ou como pluralidade de atos suscetíveis de repetição, como, por exemplo, nas hipóteses de concorrência desleal ou de difusão notícias lesivas à personalidade individual, é possível ao juiz dar a tutela para inibir a continuação da atividade prejudicial ou para impedir a repetição do ato." (in "A Antecipação da Tutela na Reforma do Processo Civil", Ed. Malheiros, p. 57).
A propósito, sobre a tutela antecipatória jurisdicional, leciona o emérito Professor e Desembargador Cândido Rangel Dinamarco, em seu livro "Reforma do Processo Civil":
A lei fala em "antecipar os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial", no pressuposto conceitual de que a tutela seja o próprio provimento a ser emitido pelo juiz. Antecipar os efeitos da tutela seria antecipar os efeitos do provimento, ou da sentença que no futuro se espera. Na realidade, tutela jurisdicional é a proteção em si mesmo e consiste nos resultados que o processo projeta para fora de si e sobre a vida dos sujeitos que litigam. Ela coincide com os efeitos dos provimentos emitidos pelo juiz. Beneficiar-se de efeitos antecipados, como está naletra do art. 273, é precisamente beneficiar-se da tutela antecipada. Por isso é que neste estudo se vai falando em antecipação da tutela, fórmula dotada de mais simplicidade do que a antecipação dos efeitos da tutela. (ob. cit. p.140) (IN, A Reforma do Código de Processo Civil, Cândido Rangel Dinamarco, 2ª ed., revistae ampliada com a nova disciplina do agravo - Malheiros Editores Ltda -São Paulo-SP-1995 –pp. 145/146).
Os requisitos essenciais para a concessão da tutela antecipada estão inequivocamente presentes no processo em curso, ou seja, há prova inequívoca, robusta, idônea, consistente do direito do(a) autor(a), constante dos documentos trazidos à colação, permitindo-se a esse r. juízo chegar a uma verdade provável sobre os fatos, relativa certeza quanto a esta veracidade (verossimilhança). Tal requisito encontra-se inequivocamente assente na espécie, ante a robustez dos argumentos sustentados pelo(a) demandante, com amparo em legislação específica.
Quanto ao dano irreparável ou de difícil reparação, este se encontra patente, uma vez que resta cristalino que a demora da prestação jurisdicional trará prejuízos de difícil reparação à parte requerente, a qual está impedida de atender a outras necessidades vitais, como a de compra de alimentos.
O periculum in mora, por sua vez, entremostra-se presente na grande quantidade de beneficiários endividados que buscam essa modalidade de FINANCIAMENTO, recorrendo diuturnamente ao Judiciário, tendo em vista a violação dos limites legais dos juros e da mora.
Ademais, caso não seja concedida a tutela antecipada ora requerida imediatamente, haverá sério comprometimento da renda da parte autoral, uma vez que a dívida tende somente a aumentar, redundando em afetação da sua própria dignidade. Assim, nítido está que o requerente não poderá esperar o julgamento definitivo da lide, sobpena de sério prejuízo material e moral insuscetíveis de recomposição.
Importante trazer à colação os ensinamentos doutrinários do eminente jurista Nelson Nery Junior, proferidos em sua magnífica obra Código de Processo CivilComentado, onde com maestriapreleciona que:
“Ações que admitem a tutela antecipada. Em toda ação de conhecimento, em tese, é admissível a antecipação de tutela, seja a ação declaratória, constitutiva (positiva ou negativa), condenatória, mandamental etc. A providência tem cabimento, quer a ação de conhecimento seja processada pelo rito comum (ordinário ou sumário) ou especial, desde que verificados os pressupostos da norma sob comentário” (...) (ob. cit. ,5ª edição; 2001, p.732)
A parte autora tem contra si uma dívida crescente emvelocidade assustadora e precisa, urgentemente, de uma resposta do Judiciário para a readequação da divida para preservar a dignidade, como já vem acontecendo em casos símiles, a exemplos dos seguintes:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCÁRIO. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. LEGALIDADE DA AVENÇA. MENORES TAXAS DE JUROS. LIMITAÇÃO DO DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO DO TRABALHADOR. PERCENTUAL DE 30%. PREVISÃO LEGAL. EQUILÍBRIO ENTRE OS OBJETIVOS DO CONTRATO E A NATUREZA ALIMENTAR DO SALÁRIO. 1. Não incidem as Súmulas 05 e 07 do STJ quando os fatos delineados pelas instâncias ordinárias se revelarem incontroversos, de modo a permitir, na via especial, uma nova valoração jurídica, com a correta aplicação do Direito ao caso concreto. 2. Este Tribunal Superior assentou ser possível o empréstimo consignado, não configurando tal prática penhora de salário, mas, ao revés, o desconto em folha de pagamento proporciona menores taxas de juros incidentes sobre o mútuo, dada a diminuição do risco de inadimplência do consumidor, por isso a cláusula contratual que a prevê não é reputada abusiva, não podendo, outrossim, ser modificada unilateralmente. 3. Entretanto, conforme prevêem os arts. 2º, § 2º, I, da Lei 10.820/2003, 45 da Lei 8.112/90 e 8º do Decreto 6.386/2008, asoma dos descontos em folha referentes ao pagamento de empréstimos, financiamentos e operações de arrendamento mercantil não poderá exceder a 30% (trinta por cento) da remuneração disponível do trabalhador. É que deve-se atingir um equilíbrio (razoabilidade) entre os objetivos do contrato e a naturezaalimentar do salário (dignidade da pessoa humana). Precedentes do STJ. 4. Agravo regimentala que se nega provimento. (STJ - AgRg nos EDcl no REsp 1223838/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADORCONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 03/05/2011, DJe 11/05/2011)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. POSSIBILIDADE. PRESENÇA DOS REQUISITOS EXIGIDOS PELO ART. 273 DO CPC. BENEFICIÁRIOS DO INSS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS EM FOLHA DE PAGAMENTO. PREVISÃO LEGAL. EQUILÍBRIO ENTRE OS OBJETIVOS DO CONTRATO E A NATUREZA ALIMENTAR DO SALÁRIO. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO, MAS DESPROVIDO. 1. Quanto à concessão de tutela antecipada em sede de ação civil pública, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem se manifestado pela possibilidade da medida, desde que se façam presentes os requisitos do artigo 273 da Lei Adjetiva Civil, quais sejam: a verossimilhança de suas alegações, o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, e de não haver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. 2. As limitações nos descontos em folha de pagamento, nos empréstimos consignados, não apenas decorrem de leis em pleno vigor - que gozam, como se sabe, de presunção de constitucionalidade, veiculando proibições, a meu sentir, absolutamente legítimas -, mas também do próprio núcleo essencial do direito social ao salário, como expressão da dignidade dapessoa humana, devendo-se, por isso mesmo, possibilitar aos seus titulares o acesso ao mínimo existencial. 3. Decisão agravada que se mantém. 4. Agravo conhecido e desprovido. (TJCE - Agravo de Instrumento 1831962200980600000 – Rel. Desa. MARIA NAILDE PINHEIRO NOGUEIRA – 2ª C. Cível – j. 31.10.2011)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM REVISÃO CONTRATUAL E INDENIZATÓRIA. DESCONTOS EM CONTA-CORRENTE DESTINADA AO DEPÓSITO DE VERBAS SALARIAIS. SUPERENDIVIDAMENTO. PARCELAS FIXADAS ACIMA DA RENDA MENSAL DA CONSUMIDORA. TUTELA ANTECIPADADEFERIDA. LIMITAÇÃO DOS DESCONTOS A 30% DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA AGRAVADA. VEDAÇÃO À NEGATIVAÇÃO. MULTA DIÁRIA. 1. A verossimilhança e a plausibilidade das alegações autorais restaram demonstradas, sendo que a plausibilidade do direito decorre da natureza da relação jurídica estabelecida entre as partes, que é regida pelo Código de Defesa do Consumidor. 2. A probabilidade do dano está presente, pois não pode a instituição financeira apropriar-se integralmente dos rendimentos do correntista para compensação de dívidas, deixando o cliente desprovido de meios básicos para seu sustento. 3. Não merece reparo a decisão que limita de 30% os descontos em conta corrente em que a autora recebe proventos de aposentadoria, viabilizando, de um lado, o sustento da parte e o pagamento parcial da dívida. (...) 5. A multa aplicada mostra-se necessária e de valor razoável, haja vista que sua fixação se deu nos estritos limites do parágrafo 4º do art. 461 do CPC e em consonânciacom os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, sendo certo que para o agravante evitar sua incidência basta cumprir o comando judicial. 6. Recurso a que se nega seguimento, nos termos do artigo 557, caput, do CPC. (TJRJ - DES. ELTON LEME - Julgamento: 28/09/2009 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL - 2009.002.33873)
É certo que as decisões supratranscritas tratam de descontos em empréstimos consignados, mas é igualmente certo que a motivação da decisão é a mesma: proteger a dignidade do consumidor nopagamento da dívida, possibilitando o equilíbrio contratual.
Entende o Superior Tribunal de Justiça – STJ que a simples discussão judicial da dívida não é suficiente para obstaculizar ou remover a negativação do devedor nos bancos de dados, a qual depende da presença concomitante dos seguintes requisitos: a) ação proposta pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; b) efetiva demonstração de que a pretensão se funda na aparência do bom direito; e c) depósito ou prestação de cauçãoidônea do valor referente à parcela incontroversa, para o caso de a contestação ser apenas de parte do débito. (Resp n. 527.618, Segunda Seção, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, julgado em 22/11/2003; Resp n. 1.061.530, Segunda Seção, Rel. Min. Nancy Andrighi,julgado em 22/10/2008).
Ressalte-se que a decisão, ao mesmo tempo em propicia que o consumidor inicie o resgate da sua dignidade, é reversível: dá oportunidade ao consumidor de demonstrar a sua boa fé e fazer o pagamento do valor incontroverso sem prejudicar o direito do credor, haja vista que a antecipação da tutela não significa, em principio, qualquer quitação da dívida.
Vejamos, a propósito, o que vêm decidindo nossos tribunais pátrios a respeito da possibilidade da CONCESSÃO DE TUTELA ANTECIPADA, emcasos semelhantes ao sub judice:
AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - CONTRATO BANCÁRIO - AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIO - TUTELA ANTECIPADA DEFERIDA PARA DETERMINAR O DEPÓSITO DAS PARCELAS, VEDAR A EXCLUSÃO DO NOME DO AUTOR NOS CADASTROS DE INADIMPLENTES E MANTÊ-LO NA POSSE DO BEM QUE GARANTE A DÍVIDA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - INSURGÊNCIA DA CASA BANCÁRIA - 1- INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ - Impossibilidade de análise dos requisitos ensejadores da concessão de tutela antecipada, por consubstanciarem os aspectos fáticos da demanda. 2- Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg-AG-REsp. 260.619 - (2012/0246834-8) - 4ª T. - Rel. Min. Marco Buzzi - DJe 14.03.2013 - p. 747)
CONTRATOBANCÁRIO - AÇÃO REVISIONAL - CADASTRO DE INADIMPLÊNCIA - INSCRIÇÃO OU MANUTENÇÃO - "Agravo regimental no agravo de instrumento. Reexame de provas. Inviabilidade. Súmula nº 7/STJ . Contratos bancários. Ação revisional. Inscrição/manutenção em cadastros deinadimplência. Tutela antecipada ou medida cautelar. 1. A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.061.530/RS, Relatora Ministra Nancy Andrighi, submetido ao regime dos recursos repetitivos, firmou posicionamento do sentido deque: 'a) A abstenção da inscrição/manutenção em cadastro de inadimplentes, requerida em antecipação de tutela e/ou medida cautelar, somente será deferida se,cumulativamente: I - a ação for fundada em questionamento integral ou parcial do débito; II - houver demonstração de que a cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada do STF ou STJ; III - houver depósito da parcela incontroversa ou for prestada a caução fixada conforme o prudente arbítrio do juiz'. 2. Agravoregimental não provido." (STJ - AgRg-AI 1.014.697 - (2008/0033417-9) - 3ª T. - Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva - DJe 27.02.2013)
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE EMPRESTIMO - LIMINAR CONCEDIDA - REQUISITOS AUTORIZADORES - FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA - OCORRÊNCIA - CONTESTAÇÃO PARCIAL DO DÉBITO COM FULCRO EM ABUSIVIDADES CONTRATUAIS - DETERMINAÇÃO DE DEPÓSITO DO VALOR INCONTROVERSO - PRESENTES OS ELEMENTOS NECESSÁRIOS À CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA NOS TERMOS DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - AGRAVO CONHECIDO E DESPROVIDO - 1- Constata-se a presença dos requisitos necessários à concessão da medida liminar a partir da análise dos autos, verificando-se o periculum in mora pela abusividade de cláusulas contratuais constatadas em juízo probabilístico e o fumus boni iuris, vislumbrado no receio de ofensa ao direito de crédito do requerente em possível negativação de seu nome por cobrança indevida. 2- Na esteira da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, fazem-se necessários três requisitos para deixar de ser enviado nome para cadastro de proteção ao crédito, quais sejam: a) haja ação proposta pelo devedor contestando a existência integral ou parcial do débito; B) que haja efetiva demonstração de que a contestação da cobrança indevida se funda na aparência do bom direito e em jurisprudência consolidada no Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; C) que, sendo a contestação apenas parte do débito, deposite o valor referente à parte tidapor incontroversa,ou preste caução idônea, ao prudente arbítrio do magistrado. 3- Constata-se o preenchimento de tais elementos, dada a impugnação parcial do valor do contrato, fundada na abusividade de cláusulas contratuais aferidas por este juízo recursal, tendo sido ainda determinado o depósito do valor incontroverso pelo juízo de primeiro grau. 4- Precedentes do Superior Tribunal de Justiça e desta Corte Alencarina.5- Agravo de instrumento conhecido e desprovido. 6- Decisão mantida. (TJCE - AI 0009148-13.2011.8.06.0000 - Relª Maria Iraneide Moura Silva - DJe 22.08.2013 - p. 16).
AGRAVO DE INSTRUMENTO - CIVIL E PROCESSO CIVIL - CONTRATO BANCÁRIO - AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - DEPÓSITO DO VALOR INCONTROVERSO DAS PARCELAS - POSSIBILIDADE -IMPEDIMENTO QUANTO À INCLUSÃO DO NOME DO AGRAVANTE NOS CADASTROS DE INADIMPLENTES - PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS ESTABELECIDOS PELO STJ - AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO - 1- Cogita-se de Agravo de Instrumento, com pedido de tutela antecipada, interposto contra decisão que indeferiu, liminarmente, o pedido de antecipação de tutela requestado, que visava a nulidade das cláusulas contratuais mediante a consignação judicial das parcelas conforme valores que entende devidos, bem como a abstenção das restrições creditícias impostas ao seu nome. 2- A jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça entende que o cancelamento ou a abstenção da inscrição do nome do inadimplente, nos órgãos de proteção ao crédito, somente pode ser condicionada à existência concomitante de três elementos, dentre eles o depósito da parte incontroversa ou a prestação de caução idônea à critério do Magistrado. 3- Desta feita, deve ser condicionado o deferimento da liminar requestada ao depósito do valor incontroverso das parcelas avençadas, já que o depósito do valor entendido por devido e portanto não contestado, já basta para o deferimento do pedido em questão, ainda mais se o valor das parcelas contratuais está sendo discutido em juízo. 4- Além da interposição da ação revisional,o agravante se utilizou de meio lícito e idôneo para afastar os efeitos da mora, que no caso, consiste na pretensão de depositar em juízo os valores incontroversos das parcelas, o que comprova a existência de verossimilhança. 5- Esta e. Corte tem se afiliado à linha de pensamento que entende que a discussão do débito já é motivo suficiente para possibilitar o depósito somente do valor incontroverso, garantindo ao devedor a purgação da mora, bem como as consequências fáticas e jurídicas decorrentes deste ato. 6- Antecipação de tutela deferida. Decisão interlocutória modificada. 7- Agravo de instrumento provido. (TJCE - AI 0078843-20.2012.8.06.0000 - Rel. Váldsen da Silva Alves Pereira - DJe 10.04.2013 - p. 125)
Por fim, o novo artigo 285-B do CPC, notadamente seu parágrafo único, em redação clara, assevera que em obrigações contratais, a exemplo da manejada nesta petição, os valores que se busca combater devem ser expressamente identificados e tratados como controversos, enquanto aos valores incontroversos, de igual modo aqui já apontados, deve ser dado o direito de se haver pagos, de tal forma que não importe mora a eventual prestação controvertida ulteriormente não declarada nula.
Art. 285-B - Nos litígios que tenham por objeto obrigações decorrentes de empréstimo, financiamento ou arrendamento mercantil, o autor deverá discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, quantificando o valor incontroverso.
Parágrafo único - O valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo contratados.
Destina-se o presente pleito não só à declaração de nulidade das cláusulas já bastante demonstradas abusivas, mas também ao pleno adimplemento da dívida e sua total extinção, o que só reitera a boa-fé da requerente.
Requer-se, desse modo, que seja, liminarmente, concedida a tutela cautelar na presente demanda, a fim de determinar a suspensão das cobranças provenientes do contrato aderido perante o banco promovido, assim como possibilitar a liquidação dodébito de maneira justa e digna.
DOS PEDIDOS
Em face do exposto, requer, se digne Vossa Excelência de:
1) Conceder os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, em face das razões dissertadas em preliminar;
2) Conceder, inaudita altera pars, os efeitos da antecipação da tutela, nos termos do art. 273 do CPC c/c artigo 84 do CDC, para o fim de:
2.1) DETERMINAR o imediato depósito judicial do valor incontroverso da dívida, ou seja,VALOR DA DÍVIDA, emNº DE PARCELASparcelas iguais e sucessivas deVALOR DA PARCELA, exclusive honorários e custas, por ser beneficiário(a) da justiça gratuita, no banco que Vossa Excelência indicar, requerendo-se, de logo, expedição de ofício para abertura de conta exclusivamente para este fim, até o final da avença, única forma de preservar o seu poder de compra das necessidades mensais mínimas à sobrevivência;
2.2) DETERMINAR, em seguida, a exclusão do nome do(a) autor(a) de qualquer órgão que represente restrição a seu crédito (tipo SPC, SERASA, SCI e serviços similares), inclusive protesto de título, em razão do débito ora discutido, até ulterior deliberação (STJ - AgRg no REsp 932467-RS – j. 08/02/2011);
3) Mandar citar o(a) promovido(a) para, querendo, responder ao presente, sob aspenas do artigo 319 do CPC;
4) Reconhecer, nos termos do artigo 6º, VIII do CDC, a inversão do ônus da prova, dada a hipossuficiência do autor e a verossimilhança de suas alegações, determinando-se que o banco réu apresente aos autos cópia fiel do contrato sub judice;
5) Intimar o douto representante do Ministério Público, para acompanhar este feito até o final, já que se trata de norma de interesse social conforme artigo 1º do CDC;
6) Empós os ulteriores termos, julgar a presente ação procedente, por sentença, para os fins de confirmar todos os pedidos realizados em preliminar - certamente deferidos - reconhecendo-se, no contrato celebrado entre as partes integrantes deste feito, a nulidade da capitalização dos juros de financiamento, pois não contratada, e/ou estabeleçam nessa taxa de juros remuneratórios um percentual abusivo e informado ao consumidor apenas na fatura mensal, quando a compra já foi efetuada, determinando-se a revisão da dívida para o valor apresentado na planilha de cálculo anexa, a fimde que seja adimplida nos moldesdissertados em preliminar (2.1), declarando-se a extinção da dívida ao final do parcelamento e, por consequencia, a exclusão definitiva do nome da requerente dos cadastros pejorativos de créditos;
7) RECONHECER a mora docredor, em face de sua cobrança abusiva, que deu causa à inadimplência do(a) requerente;
8) Ad argumentandum tantum, se não atendidos os pedidos anteriores, seja declarada nula de pleno jure a cobrança abusiva de juros, e, consequentemente, determinando ocumprimento do contrato com os juros do mercado à época da contratação, a ser apurado em liquidação de sentença;
9) Finalmente, condenar o(a) requerido(a) no pagamento das verbas de sucumbência, na base de 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, os quais deverão ser revertidos à DEFENSORIA PÚBLICA-GERAL DO ESTADO DO CEARÁ .
Protesta provar o alegado por todos os meios admitidos em Direito, a juntada de novos documentos, oitiva de testemunhas (oportunamente arroladas), perícias, bem como quaisquer outras providências que Vossa Excelência julgue necessárias à perfeita resolução do feito, ficando tudo de logo requerido.
Dá à causa, para efeitos meramente processuais, o valor deVALORDA CAUSA.
Nesses termos.
Pede deferimento.
CIDADE,DIA DE MÊS DE ANO.
NOME DO(A) DEFENSOR(A) PÚBLICO(A)
Defensor(a) Público(a)
Indicar Órgão de Atuação
Av. Pinto Bandeira, nº 1.111, Luciano Cavalcante, Fortaleza-CE
CEP 60.811-170, Fone: (85) 3101-3434

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