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Direitos Difusos e Coletivos

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TEORIA GERAL DO PROCESSO COLETIVO
1 – Evolução histórico-metodológica do Processo Coletivo
1.1 – Fases metodológicas do estudo do Direito Processual Civil
1.1.1 – fase sincrética (ou civilista)
A fase sincrética (ou civilista) nasceu no Direito Romano e durou, mais ou menos, até 1868. É a negativa de existência do Direito Processual. Não se entendia o Processo como algo autônomo do Direito Material. Processo e direito material eram vistos como coisas sinônimas. Dizia-se o seguinte: “O direito de ação é o direito civil armado para a guerra”. Só tinha direito de ação quem tinha o direito subjetivo.
Em 1868, Von Bülbw, um romanista, descobriu que a relação jurídica bilateral liga os sujeitos entre si, gerando deveres e obrigações recíprocos, que só interessam a eles próprios. Rompida essa relação jurídica material, surge um conflito e nasce outra relação jurídica, que liga os sujeitos com o Estado: a relação jurídica processual. Nasce o direito de acionar o Estado, pouco importando se o sujeito tem ou não razão.
Para a doutrina, essa ideia de Bülbw dá ensejo ao surgimento da próxima fase metodológica do processo civil, a fase autonomista.
1.1.2 – fase autonomista (ou científica)
A fase autonomista nasceu em 1868 e durou aproximadamente até 1950. Quando surgiu, foram construídos conceitos jurídicos fantásticos, baseados na autonomia do processo, mas acabou havendo um exagero, tendo faltado à fase autonomista uma postura crítica, preocupada com os resultados, que são trazidos justamente pelo direito material. 
Daí o surgimento da terceira fase metodológica do processo civil, a fase instrumentalista.
1.1.3 – fase instrumentalista
1.1.3.1 – noções gerais
A fase instrumentalista iniciou-se em 1950 e dura, mais ou menos, até hoje. Surge a partir da obra de Mauro Cappellettti e Brian Garth, chamada “Acesso à Justiça”, em que os autores sustentam uma reaproximação entre o Direito Material e o Processual, com vistas a, sem perder a autonomia do Processo, torná-lo instrumento de acesso à Justiça.
1.1.3.2 – as “ondas renovatórias do processo civil”
Partindo dessa ideia de instrumentalidade, Garth e Cappelletti sustentam que os ordenamentos jurídicos deveriam enfrentar três movimentos renovatórios, denominados “as três ondas renovatórias do processo civil”:
1.1.3.1.1 – tutela dos necessitados
A primeira onda renovatória corresponde à tutela dos necessitados. O processo só se tornaria instrumento de acesso à justiça se o financeiramente pobre pudesse entrar com ação. Veja que o ano da obra coincide com o da promulgação da Lei Brasileira de Assistência Judiciária (Lei 1.060/1950).
Com base nessa onda renovatória, surge a Justiça Gratuita, o Juizado de Pequenas Causas, a Justiça do Trabalho gratuita etc.
1.1.3.1.2 – representação em juízo dos direitos metaindividuais
A segunda onda renovatória corresponde à representação em juízo dos direitos metaindividuais. Nasce o conceito de Processo Coletivo justamente no momento em que se percebe a necessidade da representação em juízo daqueles direitos.
Garth e Cappelletti perceberam que o direito individual clássico não era capaz de tutelar três tipos de direitos ou interesses e, considerando o processo um instrumento de acesso à justiça, não se poderia imaginar que qualquer direito ficasse sem tutela:
i) os direitos de titularidade indeterminada:
Se muitas pessoas detêm determinado direito, ninguém o acabaria defendendo (ex.: o ar que as pessoas respiram).
ii) os direitos economicamente desinteressantes do ponto de vista individual:
Quando o desvio final individualmente considerado é muito baixo, a tutela do direito se torna economicamente desinteressante do ponto de vista individual. Todavia, esse mesmo desvio pode ser enorme do ponto de vista do violador, daí a necessidade de tutelá-lo coletivamente (ex.: o fornecedor vende milhares de caixas de 1 litro de leite com 50 ml a menos).
iii) os direitos cuja tutela coletiva seja recomendável, do ponto de vista da facilidade (litígios repetitivos):
Há certos direitos que o indivíduo até tutela individualmente, mas tanta gente tem o mesmo direito que seria conveniente o ajuizamento de uma só ação (ex.: foram ajuizados, só em São Paulo, aproximadamente 850.000 ações para discutir os expurgos inflacionários na poupança).
O processo coletivo nasce graças a esta segunda onda renovatória, não como negação do processo individual, mas por uma necessidade real de reformular conceitos processuais civis tradicionais, com a finalidade de adequá-los à tutela dos interesses metaindividuais.
Há dois conceitos de direito individual que não se encaixam no processo coletivo: legitimidade e coisa julgada.
1.1.3.1.3 - efetividade das decisões judiciais
A terceira onda renovatória do processo civil é a da efetividade das decisões judiciais. É a fase que vive hoje o Brasil e o que o NCPC quer buscar a qualquer custo.
1.2 – Dimensões de direitos fundamentais (Paulo Bonavides)
A classificação acima é de natureza processual. Em direito constitucional, todavia, o tema é encarado segundo uma ótica diversa. A classificação mais aceita, de Paulo Bonavides, criou uma divisão de diretos fundamentais através de suas diferentes dimensões:
1.2.1 – 1ª dimensão: direitos civis e políticos (séculos XVIII e XIX)
Os direitos civis e políticos surgem como forma de controle das atividades do Estado, negando o poder absoluto dos Reis. Voto, liberdade, patrimônio seriam verdadeiras liberdades negativas, limitadoras do Poder Estatal.
1.2.2 – 2ª dimensão: direitos econômicos e sociais (séculos XIX e XX)
Os direitos econômicos e sociais não são mais relacionados com a limitação do poder do Estado. O Liberalismo de que decorreu a concepção anterior gerou o “Capitalismo Selvagem”. O Estado então é chamado a intervir, para garantir o Welfare State. Graças a essa geração, surgem os direitos trabalhistas, saúde, previdência etc. Bonavides chamou essa segunda geração de liberdades positivas.
1.2.3 – 3ª dimensão: direitos da coletividade (século XX para o XXI)
Diferentemente dos anteriores, de caráter marcadamente individual, surgem os direitos do corpo social, sem os quais as pessoas não conseguem viver em sociedade, como o meio ambiente, patrimônio público etc.[1: Dica mnemônica: liberdade (1ª), igualdade (2ª) e fraternidade (3ª).]
1.3 – Evolução histórica do Processo Coletivo no Brasil
Diz-se que o processo coletivo nasceu no Brasil em 1981, com a edição da Lei 6.938/1981 (lei que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e dá outras providências). A ação popular sempre existiu, mas com feição nitidamente individual. A Lei 6.938/1981 dizia que para a defesa do meio-ambiente o instrumento adequado seria a ação civil pública.
Todavia, a consolidação do processo coletivo ocorre com a edição da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/1985).
A potencialização do processo coletivo no Brasil, enquanto disciplina merecedora de estudo, ocorre com a CR/88 e o CDC, em 1990. O sistema é posteriormente complementado com leis posteriores, como o ECA, o Estatuto da Cidade, o Estatuto do Idoso, o Estatuto do Torcedor etc.
Para o futuro, espera-se a sistematização do Processo Coletivo. Houve a proposta de criação de um Código Brasileiro de Processo Coletivo, engavetado pelo Governo Federal. Em 2009, o Ministério da Justiça nomeou uma Comissão, que elaborou o PL 5139, chamado de Nova Lei de Ação Civil pública. Sistematizada, lógica. A lei vem sofrendo absoluta resistência no Congresso, pois os parlamentares morrem de medo de dar mais poder ao Ministério Público. O projeto de Código foi abandonado. Mas a lei, na verdade, é um Código, com outra nomenclatura (para facilitar a aprovação).
2 – Natureza dos direitos metaindividuais
Os direitos sempre foram classificados em públicos (relações de Estados com Estados ou de Estados com indivíduos) ou privados (relações de indivíduo com indivíduo). Partindo dessa premissa, os direitos metaindividuais seriam públicos ou privados?
Na verdade, o processo coletivo não pertence a nenhum dos dois ramos,pois essa suma divisio (divisão máxima) está superada. Não mais se fala em direito público e privado, mas entre direitos coletivos e individuais. É até possível classificar o direito individual em público ou privado, mas o direito coletivo fica em categoria separada.
Diz-se que o processo coletivo é um processo de interesse público, por extravasar os interesses do indivíduo. O interesse público pode ser primário ou secundário. Primário, segundo Mancuso, seria o bem geral (aquilo que faz bem a todos); secundário, o que a Administração crê que seria o bem geral (aquilo que diz respeito aos interesses da Fazenda, enquanto pessoa jurídica). Segundo essa perspectiva, o processo coletivo é de interesse público primário. A grande maioria das ações de processo coletivo é ajuizada contra o Estado, pois ele está sempre buscando atender ao interesse público secundário.
3 – Classificação do Processo Coletivo
3.1 – Quanto aos sujeitos
Quanto aos sujeitos, o processo coletivo pode ser: ativo ou passivo.
3.1.1 – processo coletivo ativo (ou ação coletiva ativa)
Processo coletivo ativo é aquele em que a coletividade é a autora. A ação coletiva ativa é a única com previsão legal no sistema brasileiro.
3.1.2 – processo coletivo passivo (ou ação coletiva passiva)
Processo coletivo passivo é aquele em que a coletividade é ré. Não há previsão legal dessa modalidade no sistema brasileiro. No projeto da nova LACP, há previsão de criação de processo coletivo passivo.
Justamente em virtude dessa ausência de previsão legal, há duas posições quanto à ação coletiva passiva:
1ª corrente: nega a sua existência, pois o sistema não responde, por exemplo, quem será o representante da coletividade, quando demanda. Além disso, para essa corrente, não há processo coletivo passivo por ausência de previsão legal (Dinamarco).
2ª corrente (majoritária): existe processo coletivo passivo, decorrente não somente de uma interpretação do sistema como um todo, como porque a realidade prática já provou sua existência. É o direito que se amolda à sociedade, e não o contrário.
Ex.: o MPT tem ajuizado ações coletivas para obstar a realização de greve de metroviários ou, ao menos, manter um mínimo de funcionamento. Nessa hipótese, os metroviários são réus. Outro exemplo: ação coletiva para proibir greve na Polícia Federal.
A crítica de Dinamarco é respondida da seguinte forma: a representação da coletividade passiva é o sindicato ou associação. Essa é a posição de Gajardoni, Ada, Didier, Hermes, dentre outros.
Há vários problemas de processo coletivo sem solução, como o do metroviário não sindicalizado. Ele é proibido de fazer greve?
3.2 – Quanto ao objeto
Quanto ao objeto, o processo coletivo pode ser especial ou comum.
3.2.1 – processo coletivo especial
Processo coletivo especial são as ações de controle abstrato da constitucionalidade das leis ou atos normativos (ADI, ADC e ADPF). A decisão nessas ações afeta a todos. São ações negligenciadas em Direito Processual Civil.
3.2.2 – processo coletivo comum
Processo coletivo comum são todas as ações para a tutela dos interesses metaindividuais que não têm relação com o controle abstrato de constitucionalidade.
Qualquer ação pode ser coletivizada (cobrança, declaratória etc.) O que importa é a natureza do direito em questão. Todavia, as principais são: Ação Civil Pública, Ação Coletiva, Ação Popular, Ação de Improbidade Administrativa, MS coletivo etc.
Alguns autores, como Hugo Nigro Mazzili, fazem distinção entre Ação Coletiva e ACP, dizendo que ACP serviria para todos os direitos, mas a tutela dos direitos do consumidor e individuais homogêneos seria feita por ação coletiva. É mera questão de nomenclatura. Gajardoni não trabalha com essa distinção.
4 – Principais princípios de Direito Processual Coletivo Comum
Princípio, para Celso Antonio Bandeira de Melo, é norma estrutural: todas as demais normas sobre o tema decorrem do princípio.
Segundo o autor, princípio é vetor legislativo e interpretativo: ao elaborar uma lei, o legislador deve observar a direção pelo princípio ditada. Do mesmo modo, o operador do direito, ao interpretar a norma, deve fazê-lo de modo a potencializar a aplicação do princípio em que ela se funda.
4.1 – Princípio da indisponibilidade mitigada da ação coletiva
O princípio da indisponibilidade mitigada da ação coletiva está previsto no art. 5º, § 3º, da Lei 7.347/1985 e no art. 9º, da Lei 4.717/1965:
Art. 5º (...) § 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)
Art. 9º Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.
O princípio diz que são vedados a desistência ou o abandono infundado da ação coletiva. O interesse por trás do processo coletivo é público. Na hipótese de desistência, não há extinção, mas sucessão processual.
Quando houver a desistência ou o abandono fundados, excepcionalmente, nesse caso, o Juiz pode homologar a desistência, sem a sucessão, e extinguir o feito. Por isso é que o princípio possui a palavra “mitigada”: porque admite exceção. Ex.: ACP contra empresa que jogava resíduos em rio, que vai à falência.
4.2 – Princípio da indisponibilidade da execução coletiva
O princípio da indisponibilidade da execução coletiva está previsto nos arts. 15 da LACP e 16 da LAP:
Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)
Art. 16. Caso decorridos 60 (sessenta) dias da publicação da sentença condenatória de segunda instância, sem que o autor ou terceiro promova a respectiva execução. o representante do Ministério Público a promoverá nos 30 (trinta) dias seguintes, sob pena de falta grave.
A execução coletiva é obrigatória. Se o vencedor não executar a sentença, qualquer outro legitimado pode e o MP deve realizar a execução. A regra foi erigida a princípio para evitar a chamada “mala preta” (o condenado, em geral o Estado, receber parte do valor total da condenação para não executar o total).
Este princípio não admite exceção.
4.3 – Princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito
O princípio do interesse jurisdicional no conhecimento do mérito não tem previsão legal, sendo extraído da interpretação do sistema. Segundo ele, o juiz da ação coletiva está autorizado a abrandar os rigores das regras processuais sobre a admissibilidade da ação para julgar o mérito do processo coletivo.
A extinção do processo sem resolução do mérito é a frustração da atividade jurisdicional do Estado. É a ausência de resposta do Estado. No processo coletivo, esse abrandamento justifica-se em razão do interesse público primário: há um grande número de pessoas aguardando aquela decisão.
Ex.: imagine uma ação popular de um Vereador contra um Prefeito, com altos indícios de desvio de verba. O réu alega ilegitimidade ativa, por ser o autor condenado criminalmente, com direitos políticos suspensos. Em vez de extinguir a ação, o juiz deve convidar outros legitimados a integrarem o polo ativo.
4.4 – Princípio da prioridade na tramitação
De acordo com o princípio da prioridade na tramitação, prefere-se o julgamento dos processos coletivos ao dos processos individuais. A razão é que, como dito, o processo coletivo é de interesse público primário. Por trás dele estão milhares de pessoas esperando a decisão. Ele não prefere a todos os processos, como o MS e o HC, mas aos individuais sem qualquer prioridade.
4.5 – Princípio do máximo benefício da tutela jurisdicional coletiva
O princípio do máximo benefícioda tutela jurisdicional coletiva está previsto no art. 103, §§ 3º e 4º, do CDC:
Art. 103 (...) § 3º Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
A coisa julgada coletiva, como regra, só beneficia as pretensões individuais correspondentes, nunca as prejudicando. A coisa julgada coletiva procedente pode ser transportada para a situação individual e executada. A ação coletiva julgada improcedente não impede o ajuizamento de ação individual para pedir a mesma coisa.
Ao princípio, dá-se também o nome de “transporte in utilibus da coisa julgada coletiva”. Isso, ao mesmo tempo em que é bom para o cidadão, é horrível para o sistema: obriga o Judiciário a se pronunciar infinitamente sobre a mesma questão (no exemplo dos expurgos inflacionários, proferir 850.000 vezes a mesma decisão).
Além do Judiciário, o réu é também prejudicado, por ficar em situação de indefinição ad eternum.
4.6 – Princípio da máxima efetividade do processo coletivo (ou do ativismo judicial)
O princípio da máxima efetividade do processo coletivo (ou do ativismo judicial) é implícito nas regras do processo coletivo. Graças a ele, diz-se que há um aumento do poder do juiz do processo coletivo em relação ao do juiz do processo individual. Isso por causa do interesse público primário. Nos EUA, o princípio é conhecido como defining functions.
Quatro providências podem ser adotadas pelo juiz do processo coletivo, as quais serão analisadas a seguir.
4.6.1 – controle das políticas públicas
A CR é pródiga em promessas. Basta ver a redação dos arts. 5º a 7º. O problema é que, apesar de abundantes, o entendimento uniforme no âmbito do STF é de que elas são vinculantes em relação ao administrador público. Ou seja, não pode o administrador, por razões de conveniência e oportunidade, decidir se implementará ou não as promessas constitucionais, estando a elas vinculado.
O controle das políticas públicas pelo Poder Judiciário é tema em construção, mas tanto o STF quanto STJ, à luz da amplitude dos poderes do processo coletivo, entendem que pode o Judiciário intervir na discricionariedade administrativa.
O REsp 577.836/SC, de relatoria do Ministro Luiz Fux, dá todas as diretrizes para que se possa intervir na discricionariedade administrativa. Segundo o julgado, essa intervenção é possível para a implantação de direitos fundamentais previstos na CR. Quando o Judiciário faz uma determinação para que o Estado implante certa política pública, o faz não por vontade própria, mas porque a CR já fez essa opção e o administrador não a está cumprindo. É exatamente este o limite que tem o Judiciário, a prévia previsão constitucional da política pública a ser implantada.
Ex.: pode o Judiciário determinar a construção de creche em vez de praça, pois a construção de creche é direito constitucionalmente prioritário. O Judiciário diz ao administrador: “construa praça se sobrar dinheiro”.
Relativamente ao controle das políticas públicas, vale destacar a teoria da reserva do possível. O STF já pronunciou que, diante da falta de disponibilidade orçamentária comprovada para a implantação da política pública, o Poder Público pode deixar de implantá-la globalmente, mas não pode deixar de atender ao núcleo essencial da garantia fundamental.
Ex.: ajuizada ACP para a construção de creche em vez de praça, a Prefeitura comprova que não está fazendo praça e não tem dinheiro para fazer praça nem creche. Diante desse quadro, o que se determina, com base na reserva do possível, é que, se não tem dinheiro para fazer creche, o Poder Público deve bancar o preço de creche particular para as crianças que dela necessitem.
O argumento da teoria da reserva do possível, portanto, não é válido para não implementar as promessas constitucionais, ainda que de fato não haja recursos suficientes. Em outras palavras, não há a opção de não cumprir e, ainda que não seja possível implementar a política pública de forma universal, o ente público deve garantir o mínimo existencial do direito. Ex.: não havendo escola para todas as crianças em certa cidade, o ente público deve bancar um ônibus e fornecer escola em cidades próximas. 
Assim, ante uma omissão patológica na implementação do direito, o Judiciário pode ele mesmo implementar a política pública, mediante decisão fundamentada e em caráter excepcional. 
Isso não violaria o princípio da tripartição dos poderes? Não. O STF entende que não se trata de violação de poderes, uma vez que o juiz não cria a política pública, mas simplesmente determina que se cumpra a própria CR. Dessa forma, o juiz não pode implementar uma política pública para a qual não haja previsão na CR.
Ademais, o juiz possui legitimidade constitucional, que advém da fundamentação das decisões judiciais. O controle do arbítrio judicial é feito exatamente através da fundamentação das decisões.
Como executar uma sentença que implementa política pública? Como o Judiciário vai compelir o ente público a cumprir a determinação judicial? Há varias soluções sendo cogitadas. Uma delas é a imposição de astreintes (art. 461 do CPC e art. 84 do CDC). Essa multa é imposta contra o poder público, mas o STJ, no julgamento do REsp 111.564/RN, admitiu, em tese, a aplicação dessa multa ao agente público, desde que o descumprimento seja voluntário e que o administrador tenha oportunidade de defesa antes de se lhe aplicar a multa (é a preservação da garantia do contraditório).
De acordo com o art. 11 da Lei de Improbidade Administrativa, o administrador que não cumpre seus deveres, inclusive em relação às políticas públicas, comete improbidade administrativa. Haveria a possibilidade de exclusão e substituição provisória do administrador público, para a efetiva implementação da política pública determinada pelo Judiciário. Essa é uma possibilidade importada do direito italiano.
Seria, ainda, possível realizar o controle orçamentário. A administração pública tem dois tipos de orçamento aprovados em lei: plano plurianual e os orçamentos anuais. O Judiciário determina a reserva do orçamento anual ou plurianual, com a finalidade de alocar verbas específicas para a implementação da política pública.
4.6.2 – poderes de flexibilização procedimental
O juiz pode adequar o procedimento do processo coletivo conforme particularidades da ação coletiva.
Ex.: o MP instaura o inquérito civil e fica três anos levantando provas. Citado o réu, não é justo que ele se defenda em 15 dias acerca de provas produzias em tanto tempo. Nesse caso, pode o juiz conceder, por exemplo, três meses para a apresentação de defesa.
Ex.: prevalece o entendimento de que a reparação do dano ao patrimônio público é imprescritível, mas as penas pela improbidade administrativa não são imprescritíveis. Uma ação de improbidade prescrita proposta pelo MP para aplicação de penas poderia ser recebida pelo juiz a título de ação de reparação de danos ao patrimônio público. Essa flexibilização beneficia a coletividade. 
4.6.3 – aumento dos poderes instrutórios do juiz
Se o juiz pode determinar a produção de prova em ação individual (art. 130 do CPC), no processo coletivo ele pode fazê-lo com muito mais razão, para alcançar a verdade.
Art. 130. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
4.6.4 – remessa de peças ao MP, para a propositura de ações coletivas (art. 7º da LACP)
Art. 7º Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providênciascabíveis.
Essa regra é um embrião do “incidente de coletivização das demandas”, presente no projeto de NCPC.
4.7 – Princípio da máxima amplitude ou da atipicidade do processo coletivo
O princípio da máxima amplitude (ou da atipicidade) do processo coletivo está previsto no art. 83 do CDC, no art. 212 do ECA, no art. 82 do Estatuto do Idoso e outros:
CDC: Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela. (...)
ECA: Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes. (...)
Estatuto do Idoso: Art. 82. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ação pertinentes. (...)
Qualquer ação pode ser coletivizada. Não existe tipicidade das ações coletivas. Exemplos: ações anulatórias de Termos de ajustamento de Conduta (acordos celebrados com órgãos públicos), ação monitória coletiva (Promotor morre antes de assinar o TAC assinado pela outra parte).
4.8 – Princípio da ampla divulgação da demanda coletiva (art. 94, CDC)
O princípio da ampla divulgação da demanda coletiva está previsto no art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
É especialmente focado na tutela dos interesses individuais homogêneos. A ideia é que todos fiquem sabendo que há uma ação coletiva e não ajuízem ações individuais com o mesmo conteúdo. No PL 5139, há previsão segundo a qual a divulgação tem de ser feita de acordo com o grupo prejudicado (ex.: menção do ajuizamento da ação nas contas de luz ou nos extratos bancários).
No REsp 1.377.400 (Informativo 536), o STJ decidiu que a falta de publicação do edital destinado a possibilitar a intervenção de interessados como litisconsortes (art. 94 do CDC) não impede, por si só, a produção de efeitos erga omnes da sentença de procedência relativa a direitos individuais homogêneos. No caso, o juízo a quo negara a pretensão individual homogênea, sob o fundamento de que não teria sido requerida a publicação pelo autor da ação coletiva. A tese não foi aceita pelo STJ, pois o dispositivo existe para proteger o beneficiário da ação coletiva, ampliando o número de pessoas que poderão ter conhecimento da ação. Não serve para prejudicá-lo.
4.9 – Princípio da integratividade do microssistema processual coletivo
O STJ reconheceu a existência do princípio da integratividade do microssistema processual coletivo (ex.: REsp 1.108.542).
Significa que todo o processo coletivo brasileiro está contido em um núcleo essencial, a Lei de Ação Civil Pública e o Código de Defesa do Consumidor, em virtude do art. 21 da LACP e do art. 90 do CDC. A união dessas normas forma a chamada “norma de reenvio”:
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. (Incluído Lei nº 8.078, de 1990)
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não contrariar suas disposições.
Todavia, pode ocorrer de faltar determinada norma na LACP e no CDC. Nesse caso, a aplicação subsidiária não será do CPC, mas das outras normas do ordenamento jurídico brasileiro que tratam de processo coletivo: LAP (Lei 4.717/1965), ECA (Lei 8.069/1990), Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992), Lei do Mandado de Segurança Coletivo (Lei 12.016/2009), Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) etc. Trata-se de um sistema comunicativo, em que todas as leis influenciam-se reciprocamente com o núcleo.
O nome desse quadro é “teoria do diálogo das fontes normativas”, também chamado de “sistema integrativo aberto” (sistema em que as várias leis se integrariam, umas conversando com as outras).
Se, mesmo assim a regra não for encontrada, aplica-se subsidiariamente o CPC.
Exemplos de aplicação do microssistema de direito processual coletivo:
i) segundo o REsp 1.108.542/SP, a regra do reexame necessário da ação popular (quando a demanda é julgada improcedente) aplica-se à ACP. O CPC tem sentido diverso;
ii) segundo a doutrina, apesar da omissão do 210 do ECA, as pessoas jurídicas de direito público que não constam daquele rol podem propor ACP por integração do art. 5º da LACP;
iii) inversão do ônus da prova nas ACP’s que tratam de questões ambientais em interpretação integrativa do CDC (REsp 883.656/RS). Essa aplicação pode ser dar em qualquer ACP e não apenas em matéria ambiental;
iv) o STJ estabeleceu que a prescrição da ACP é de 5 anos, aplicando integrativamente o art. 21 da LAP (REsp 1.070.896/SP). Há precedentes em sentido contrário, de forma que não é pacífica a questão no STJ.
4.10 – Princípio da adequada representação ou do controle judicial da legitimação coletiva
O princípio da adequada representação ou do controle judicial da legitimação coletiva é inspirado no direito norte-americano (class actions), em que qualquer pessoa é legitimada à propositura de uma ação coletiva, desde que comprove que representa adequadamente os interesses da categoria, com base nos seguintes requisitos:
i) tenha idoneidade histórica;
ii) seja advogado atuante na área;
iii) tenha dinheiro suficiente; e
iv) tenha relação direta com o dano (seja prejudicado ou represente os prejudicados).
Essa primeira fase, da comprovação da adequação, chama-se certification. Superada essa fase, o processo prossegue, com o julgamento do mérito da ação. 
No Brasil, o sistema não permite que qualquer um ajuíze ACP. Há um rol de legitimados coletivos. Aqui, a “adequada representação” é presumida. O controle da legitimação coletiva, portanto, é legislativo, mas o juiz também controla a legitimação.
Assim, diferentemente do sistema americano, em que qualquer indivíduo pode propor ação coletiva desde que prove ao Juiz, por critérios pré-definidos, ser o representante adequado da categoria, no Brasil esse controle, em princípio, não é judicial, mas legislativo. Por isso, o art. 5º da LACP presume que todos os entes ali descritos são representantes adequados da coletividade.
A dúvida que surge é a seguinte: além do controle legislativo (ope legis), também é lícito ao juiz controlar a adequada representação dos legitimados?
1ª corrente (Nelson Nery Jr.): não, salvo quanto à associação, pois a própria lei determina que deve ser realizada a “pertinência temática”. Nery fala que quem tem de fazer o juízo sobre se o legitimado representa ou não os interesses é o próprio autor.
2ª corrente (Ada e maioria da doutrina): pode o magistrado realizar o controle da adequada legitimação para todos os legitimados, e não só para a associação. A dúvida que fica é a seguinte: quais são os critérios para esse controle? Nos EUA são aqueles quatro requisitos vistos acima. No Brasil, o critério para o controle é a análise dos fins institucionais do proponente.
Exemplo prático: o MP ajuíza ação porque, numa determinada cidade, a empresa de TV a cabo bloqueou um canal, sem diminuição da mensalidade.
Para Nery, o MP poderia ajuizar a ação, pois o controle teria sido feito já pelo MP. Para Ada e a maioria, seria necessário analisar se o interesse tutelado se enquadra numa das quatro hipóteses previstas no art. 127 da CR.[2: Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.]
Para Gajardoni, esse tipo de ação não se enquadra em nenhum dos interesses previstos no art. 127 da CR, ainda que haja quem entenda que se trataria da defesada ordem jurídica. Segundo o autor, pode-se debater se haveria o enquadramento numa daquelas hipóteses, mas não negar o controle prévio realizado pelo Juiz. Entretanto, havendo dúvida acerca da adequada representação, deve-se reconhecer a legitimidade. Quanto mais legitimados defendendo o interesse coletivo, melhor.
Acerca desse tema, vale destacar o controle da legitimidade do MP para o ajuizamento de ação civil pública acerca do DPVAT, realizado pelo STJ (Súmula 470):
Súmula 470 - O Ministério Público não tem legitimidade para pleitear, em ação civil pública, a indenização decorrente do DPVAT em benefício do segurado.
Vê-se que o DPVAT não se encaixa em qualquer das hipóteses previstas na CR. O MP possui legitimidade, mas não representa adequadamente os interesses da coletividade (a Súmula está tecnicamente errada, pois não falta legitimidade ao MP, mas sim representatividade). 
Atenção, pois por unanimidade dos votos, o Plenário do STF firmou entendimento de que o Ministério Público tem legitimidade para defender contratantes do seguro obrigatório DPVAT (referente à indenização de vítimas de acidentes de trânsito), no Recurso Extraordinário (RE) 631111. Os Ministros entenderam que a situação tratada nos autos é semelhante à de outros direitos individuais homogêneos, que, apesar da sua natureza – de direitos divisíveis, disponíveis e com titular determinado ou determinável –, o Supremo assentou o interesse social em sua tutela, autorizando a iniciativa do Ministério Público de defendê-los em juízo mediante ação coletiva, com base no artigo 127 da Constituição.
Ex.: ação coletiva proposta pela DP em relação aos expurgos econômicos de um plano econômico. Adotando-se a primeira posição, o juiz determinaria a citação; ao se adotar a segunda posição, o juiz deve analisar se essa possibilidade está dentro do art. 134 da CR.
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV. 
Um necessitado geralmente possui dinheiro depositado em poupança, pois não há tributação, portanto, é o que mais rende. Nesse caso, o STJ entendeu que a defesa do hipossuficiente está dentro das funções institucionais da DP.
Representação adequada é ou não condição da ação? Quando o juiz diz que falta representação adequada, ele não extingue o processo sem resolução do mérito, devendo convidar qualquer outro colegitimado. É, portanto, pressuposto processual de validade e não condição da ação. O efeito prático é o mesmo, pois causa a extinção do processo sem resolução do mérito, com a ressalva de que o juiz não deve extinguir de plano na ação coletiva.
5 – Objeto do Processo Coletivo
Objeto do processo coletivo são os direitos ou interesses metaindividuais (art. 81 do CDC):
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
Neste tópico, será estudada a classificação de Barbosa Moreira:
	Direitos ou interesses metaindividuais (art. 81, CDC)
	Naturalmente coletivos
	Difusos (5.2.1)
	
	
	Coletivos (5.2.2)
	
	Acidentalmente coletivos
	Individuais homogêneos (5.2.3)
Para a teoria geral do direito, direito é interesse tutelado pela norma (ex.: segurança pública), enquanto interesse é pretensão não tutelada pela norma (ex.: número de policiais). Para o processo coletivo, entretanto, a discussão é inócua. Direitos e interesses serão tratados como sinônimos.
Interesses metaindividuais são os que transcendem um único indivíduo, ou seja, que não podem ser titularizados individual ou coletivamente por uma só pessoa. Não se confundem com litisconsórcio, que é a pluralidade de interesses individuais. São sinônimos de interesse metaindividuais os plurindividuais e os transindividuais.
São diferenças entre os naturalmente e os acidentalmente coletivo:
i) divisibilidade:
Os direitos ou interesses metaindividuais naturalmente coletivos caracterizam-se pelo traço da indivisibilidade. Trata-se de um direito que não pode ser divido entre os titulares (ou todos ganham ou todos perdem). Seria o caso de litisconsórcio unitário (mas, vale lembrar, não se trata de litisconsórcio).
Os acidentalmente coletivos são caracterizados pela natureza divisível e particular do objeto.
ii) possibilidade de apropriação individual:
Quando o interesse é naturalmente coletivo, o bem tutelado na ação não pode ser apropriado particularmente, nem ser partido, de modo que ou todos são vencedores, ou todos são perdedores. Ex.: no caso de desvio de dinheiro, que resultou em improbidade administrativa, ou o dano é reparado para todos ou não é reparado. Não é possível a divisibilidade do objeto da ação.
Já nos acidentalmente coletivos, o bem pode ser apropriado por uma única pessoa. Ex.: há mil pessoas vítimas de um acidente de consumo, mas apenas uma pessoa entra com a ação: apenas ela será beneficiada, de forma que o objeto pode ser apropriado por uma só pessoa. 
5.1 – Direitos ou interesses difusos
São características dos direitos ou interesses difusos:
i) indeterminabilidade dos sujeitos (número indefinido de titulares); 
ii) titulares unidos por circunstâncias de fato (sem relação jurídica) extremamente mutáveis;
iii) alta conflituosidade interna: existência de posições divergentes;
iv) alta abstração.
Exemplos: meio-ambiente, moralidade administrativa, patrimônio público, propaganda enganosa etc.
5.2 – Direitos ou interesses coletivos
São características dos direitos ou interesses coletivos:
i) titulares indetermináveis de per si, mas determináveis por grupo;
ii) titulares unidos por circunstâncias jurídicas (com relação jurídica entre si ou com a parte contrária);
iii) baixa conflituosidade interna: ausência de posições divergentes (em geral);
iv) baixa abstração.
Ex.: Súmula 643 do STF:
Súmula 643 - O MINISTÉRIO PÚBLICO TEM LEGITIMIDADE PARA PROMOVER AÇÃO CIVIL PÚBLICA CUJO FUNDAMENTO SEJA A ILEGALIDADE DE REAJUSTE DE MENSALIDADES ESCOLARES.
A maioria das pretensões coletivas é ajuizada por sindicatos ou associações de classe. A principal diferença entre os interesses coletivos e os difusos é a presença ou não da relação jurídica.
5.3 – Direitos ou interesses individuais homogêneos
São os direitos ou interesses individuais homogêneos que geram a maioria dos problemas em processo coletivo. Em realidade, são direitos individuais que por pura questão de política legislativa podem ser tutelados coletivamente, fazendo com que o direito individual padronizado (ações repetitivas) ou antieconômico receba tratamento coletivo.
O legislador permitiu que recebessem tratamento coletivo porque são tantos os titulares que eles estão homogeneizados na sociedade (são globais). A opção por tratá-los coletivamente é puramente política.
Razões para esse tratamento:
i) economia processual (resolver o problema do Judiciário);
ii) redução de custos (evitar o pagamento de custas de milhões de processos);
iii) evitar decisões contraditórias; 
iv) molecularização dos conflitos (solução do problema através de teses e não de casos específicos)[3: Os direitos ou interesses individuais homogêneos tratam o problema “de baciada”, e não a “conta-gotas”.]
v) ampliação do acesso à justiça.
São características dos direitos ou interesses individuais homogêneos:
i)sujeitos indeterminados, mas determináveis na fase de execução;
ii) pretensão de origem comum;
iii) existência de uma tese jurídica comum e geral.
Vários autores sustentam que os interesses individuais homogêneos não são transindividuais, pois não extrapolam o limite do indivíduo. São direitos individuais tutelados coletivamente. Gajardoni entende que apesar de individuais, tais direitos possuem reflexos coletivos, motivo pelo qual seriam transindividuais.
5.4 – Considerações finais sobre o objeto do processo coletivo
Alguns autores não vislumbram diferença entre os direitos ou interesses difusos e coletivos (Dinamarco) e outros entre os coletivos e os individuais homogêneos. Portanto, há uma zona cinzenta entre eles, de modo que a classificação legal não é completamente segura, tampouco autoexcludente. Ex.: a Súmula 643 trata de um direito coletivo ou individual homogêneo ? Veja que um pai pode ajuizar sozinho uma ação cujo fundamento seja o reajuste de mensalidades escolares. Gajardoni acha que se trata de um direito coletivo, em virtude da relação jurídica que une os titulares.
O que define o objeto do processo coletivo é o direito afirmado na inicial, e não a classificação ou os exemplos estanques supracitados. Ex.: propaganda enganosa é, em tese, direito difuso, mas eventuais prejudicados podem ajuizar ação de indenização, que terá natureza de direito individual homogêneo.
6 – Coisa julgada nas ações coletivas
6.1 – Previsão legal
A coisa julgada nas ações coletivas está prevista nos seguintes dispositivos legais:
i) arts. 103 do CDC:
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
§ 2° Na hipótese prevista no inciso III, em caso de improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título individual.
§ 3° Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
§ 4º Aplica-se o disposto no parágrafo anterior à sentença penal condenatória.
ii) art. 104 do CDC:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
iii) art. 18 da LAP:
Art. 18. A sentença terá eficácia de coisa julgada oponível "erga omnes", exceto no caso de haver sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
iv) art. 16 da LACP:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
v) art. 2º-A da Lei 9.494/1997:
Art. 2o-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
6.2 – Características da coisa julgada
6.2.1 – características da coisa julgada no processo civil individual
No processo civil individual, a coisa julgada é considerada:
i) pro et contra: a imutabilidade dos efeitos da decisão ocorre quando o sujeito ganha e quando ele perde, de modo que a relação jurídica não pode ser mais discutida; e
ii) inter partes: a imutabilidade alcança somente as partes, não atingindo quem não está no processo (art. 472 do CPC):
Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.
6.2.2 – características da coisa julgada no processo civil coletivo
No processo coletivo, o modelo da coisa julgada é absolutamente diverso, sendo considerado: erga omnes ou ultra partes (art. 103 do CDC) e secundum eventum litis e in utilibus.
6.2.2.1 – coisa julgada erga omnes e ultra partes (art. 103 do CDC)
No processo coletivo, não há como a coisa julgada atingir somente as partes, pois é da sua essência justamente que os efeitos da decisão atinjam um sem-número ou até todas as pessoas. Por isso se diz que os efeitos da coisa julgada são erga omnes e ultra partes.
Há quem não faça distinção entre coisa julgada erga omnes e ultra partes (Antonio Gidi). Gajardoni concorda com essa posição. Para ele, tudo deveria ser ultra partes. Isso porque o CDC diz que, nos direitos difusos, a decisão é erga omnes, mas os efeitos de eventual decisão interessarão a determinado grupo ou categoria de interessados. É exatamente o que ocorre com a decisão proferia em ação para a defesa de direitos individuais homogêneos (ex.: o resultado da ação ajuizada de reparação dos danos causados pelo remédio Microvlar somente se aplica às mulheres que tomaram a medicação).
6.2.2.2 – coisa julgada secundum eventum litis e in utilibus
No processo coletivo, o sujeito não autoriza alguém a ajuizar ação em seu favor. A coisa julgada é chamada secundum eventum litis porque, segundo o evento da lide, haverá ou não coisa julgada. Ou seja, somente haverá coisa julgada se a demanda for julgada procedente.
Também a coisa julgada coletiva é considerada in utilibus, pois somente haverá coisa julgada se a procedência beneficiar o indivíduo e naquilo que o beneficiar.
Com efeito, a coisa julgada coletiva, em todos os interesses transindividuais, nunca prejudica as pretensões individuais. Trata-se do chamado “transporte in utilibus secundum eventum litis”. Assim, mesmo que julgada improcedente a ação coletiva, nada impede o ajuizamento da ação individual. Nunca haverá prejuízo para as ações individuais (art. 104 do CDC).
O art. 104, entretanto, estabelece uma condição para que se possa beneficiar da ação coletiva: se a ação individual já estiver ajuizada, o indivíduodeverá requerer a suspensão dela ao tomar conhecimento da existência da ação coletiva correspondente. Isso para esperar o julgamento da ação coletiva.
Caso, entretanto, o indivíduo não suspenda a sua ação individual no prazo de 30 dias, ele não se beneficiará da eventual procedência da ação coletiva, prosseguindo na ação individual. É o preço que o indivíduo paga.
A suspensão da ação individual é facultativa à parte. Em regra, só terá cabimento quando a ação coletiva correspondente for para a tutela dos coletivos e dos individuais homogêneos. Isso porque quando a principal relacionar-se à tutela dos direitos difusos, em geral ela não terá nada a ver com os interesses individuais.
Tem-se entendido que o termo inicial do prazo de 30 dias para suspensão da ação individual é contado da data em que o réu comunica, na ação individual, a existência da ação coletiva correspondente. A doutrina dá um nome para esse dever do réu de avisar da ação coletiva: “dever de informação”.
Qual é o interesse do réu em avisar que existe uma ação coletiva? Se ele não avisa e o autor não suspende a individual (por não ter sido avisado), ainda que o autor perca a individual, ele pode se beneficiar do resultado da ação coletiva.
A suspensão da ação individual se dará por prazo indeterminado, não se aplicando o art. 265 do CPC (hipóteses de suspensão do processo). Ou seja, não incide o prazo de um ano previsto no CPC.[4: Cuidado com a aplicação de regras do CPC no processo coletivo.]
Vale destacar, entretanto, que apesar da clareza do art. 104 do CDC no sentido de que a suspensão é facultativa, o STJ, no REsp 1.110.549/RS, entendeu ser possível ao juiz, independentemente de requerimento da parte, suspender o andamento da ação individual até o julgamento da ação coletiva. Trata-se de um julgado do STJ nesse sentido, mas há outros, do mesmo tribunal, vedando a suspensão de ofício pelo magistrado.
A possibilidade de suspensão de ofício pelo juiz é a posição adotada pelos juízes estaduais do RS. Para os que defendem essa posição, ninguém na prática pede para suspender as ações individuais, pois a coletiva demora muito para ser julgada (também porque o processo parado não gera honorários advocatícios), de modo que o Judiciário acaba tendo de julgar não somente a ação coletiva como todas as milhares de ações individuais. Daí a razão para a suspensão ex officio.
Para fundamentar a decisão, o STJ invocou a aplicação do art. 543-C, § 1º, do CPC, que permite a suspensão de todas as ações pendentes de REsp até que o STJ julgue um recurso eleito entre os vários pendentes:
Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).
§ 1o Caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais até o pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 11.672, de 2008).
A ideia é a seguinte: como os demais processos seriam suspensos com a chegada dos recursos representativos da controvérsia ao STJ, aquela suspensão poderia ser feita já na origem.[5: Recomenda-se a análise dos fundamentos do julgado.]
A prevalecer esse entendimento (que é somente um precedente), haverá, no regime jurídico coletivo, dois tipos de suspensão da ação individual:
i) regime da suspensão facultativa (art. 104 do CDC); e
ii) regime da suspensão judicial (previsão no precedente do STJ). 
Gajardoni considera que o STJ praticamente legislou acerca da questão, ampliando muito a interpretação analógica do dispositivo.
Julgada improcedente a ação coletiva para a tutela dos direitos coletivos e individuais homogêneos, a ação individual suspensa (pela parte ou pelo juiz) volta a correr (vale lembrar que a coisa julgada somente beneficia o autor). Entretanto, se a ação coletiva for julgada procedente, a ação individual suspensa será extinta por falta de interesse (interesse-necessidade), ou, melhor ainda, será convertida em liquidação/execução de sentença.
Se a ação individual foi julgada improcedente e só após foi ajuizada uma ação coletiva julgada procedente, o indivíduo pode se beneficiar?
1ª corrente (Hugo Nigro Mazzili): sim, por conta da igualdade e porque a parte não teve a oportunidade de utilizar a prerrogativa do art. 104 do CDC.
2ª corrente (Ada Pellegrini Grinover): não, porque a coisa julgada individual sempre prefere à coletiva. A coisa julgada mais justa é da individual, em virtude de eventuais particularidades do caso concreto. Para Gajardoni, se as demandas forem idênticas, aquele que perde deve ajuizar rescisória.
Todavia, há uma única hipótese em que o indivíduo será prejudicado pela sentença de improcedência da ação coletiva, não podendo mais ajuizar ação individual de objeto correspondente: art. 94 do CDC:[6: Gajardoni: “hipótese do orelhudo”.]
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
O dispositivo estabelece que, proposta uma ação coletiva, são publicados editais para que os interessados possam intervir no processo na condição de litisconsortes. Aquele que foi parte no processo coletivo acaba por ser afetado pela coisa julgada da ação coletiva.
É pacífico que o disposto no art. 94 se aplica na tutela dos direitos individuais homogêneos (ex.: caso dos expurgos inflacionários ou do remédio Microvlar). Vários autores aceitam a aplicação do dispositivo, também, para a tutela dos direitos coletivos (ex.: caso do sindicato pedindo aumento para a categoria). Ninguém aceita a aplicação do art. 94 para os direitos difusos. Ou seja, numa ACP ambiental, o indivíduo não pode ser litisconsorte do MP, pois não se está discutindo nenhum direito individual do suposto interessado.
6.2.2.3 – coisa julgada secundum eventum probationis
Nos direitos e interesses difusos e coletivos, a improcedência por falta de provas (também chamada de coisa julgada secundum eventum probationis) sempre permite a repropositura da ação coletiva.
Acerca desse tema, cumpre tecer algumas observações:
i) na nova ação, tem de haver uma preliminar indicando qual é a prova nova, sob pena de indeferimento da inicial. Prova nova, neste caso, é a capaz de, por si só, alterar o resultado do processo anterior;
ii) a repropositura da ação inclusive pode ser feita pelo vencido da ação anterior. Se o MP perdeu a primeira ação, ele pode propor a segunda. Tecnicamente, não se trata de repropositura, em virtude da prova nova;
iii) a possibilidade da propositura de ação com prova nova não depende de o juiz, na primitiva ação, ter assim declarado.
Já na ação coletiva para a tutela dos direitos individuais homogêneos, a improcedência por qualquer fundamento leva à impossibilidade de ajuizamento de uma nova ação coletiva, preservando-se apenas as pretensões individuais. Não há a coisa julgada secundum eventum probationis na tutela dos direitos individuais homogêneos.
A doutrina critica essa hipótese, dizendo que o tratamento deveria ser o mesmo a todas as modalidades. Foi uma opção do legislador.
Há precedentes da Justiça do Trabalho indicando que as ações ajuizadas por sindicato que tenham sido julgadas improcedentes obstam o ajuizamento de ações individuais pelos sindicalizados. A Justiça do Trabalho entende que o sindicato tem uma representação mais adequada que os outros legitimados para a ação coletiva, pois os filiados se sindicalizam voluntariamente.
6.3 – Ação rescisória contra as sentenças coletivas
A sentença coletiva, na medida em que faz coisa julgada, pode ser rescindida? Não cabe ação rescisória nas ações para a tutela dos direitos difusos e coletivos julgadas improcedentes por falta de provas (isso porque não há coisa julgadanessa hipótese). Entretanto, nos demais casos ela é cabível, geralmente é ajuizada pelos réus da ação coletiva e segue o regime do CPC. 
O réu na rescisória de uma ação coletiva é o autor da coletiva, se a ação coletiva for julgada procedente. Geralmente, o autor das coletivas é o MP. Assim, quando a ação rescisória for ajuizada pelo réu da coletiva, o réu da rescisória será o autor da coletiva. Veja que se trata de hipótese em que o MP ou a DP (e não a Fazenda a que eles pertencem) será réu ou ré, conforme o caso.
6.4 – Questão relativa aos arts. 16 da LACP e 2º-A da Lei 9.494/1997
Ambas as disposições têm por objetivo limitar a eficácia do processo coletivo: o art. 16 da LACP para apontar que a sentença do processo coletivo de procedência só valeria nos limites territoriais da comarca em que prolatada; o art. 2º-A, da Lei 9.494/97 para limitar os efeitos da sentença de procedência aos associados na data da propositura e condicionar o ajuizamento das ações coletivas contra o poder público por associações a uma prévia autorização assemblear dos associados:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Toda a doutrina aponta que os dispositivos são inconstitucionais, ineficazes e ilógicos.
Inconstitucionais porque criados por MP sem os requisitos constitucionais e porque violadores da proporcionalidade, corolário do devido processo legal, fazendo com que milhares de ações coletivas tenham que ser ajuizadas para a tutela de um dano nacional.
Ineficazes porque não acompanhados da alteração dos arts. 93 e 103 do CDC, que não estabelecem, nos interesses metaindividuais, limitação da eficácia da sentença aos limites territoriais do órgão prolator, de modo que aqueles dispositivos, por conta da integratividade do microssistema processual coletivo, acabam tornando letra morta as regras atacadas.
E ilógicos porque fazem com que a decisão nas ações coletivas não valha fora da competência territorial do prolator, enquanto nas ações individuais elas valem (ex.: divórcio e outras), o que não faz o menor sentido.
Na verdade, o legislador embaralhou o conceito de competência com o de coisa julgada, como se fosse possível limitar a segunda com base na primeira.
Inicialmente, a Corte Especial do STJ, no julgamento do EREsp 293.407/SP, entendeu que os dispositivos seriam constitucionais. Neste julgamento, contudo, o STJ deixou “no ar” que, por conta do art. 512 do CPC, se ele ou a 2ª instância julgarem a ação pelo mérito, a eficácia da decisão se estenderia para o território nacional ou do estado (ou estados), respectivamente. O problema deste entendimento era que o réu não recorreria da sentença contra ele mesmo, com medo de aumentar a amplitude da competência territorial.[7: Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.]
Finalmente, no julgamento do REsp 1.243.887/PR, também da Corte Especial, da lavra do Ministro Luis Felipe Salomão, o STJ reconheceu a ineficácia do art. 16 da LACP (não trata do art. 2º-A), estabelecendo que a coisa julgada coletiva não fica restrita aos limites territoriais do órgão prolator. Pelo contrário, o alcance da decisão é estabelecido pelo pedido formulado na petição inicial e o que foi acolhido pela sentença. O caso era de pagamento de expurgos inflacionários e o autor fez o transporte in utilibus da coisa julgada de outro processo de comarca diversa também do estado do Paraná, no qual o juiz estabeleceu que a sentença valeria para todo o estado do Paraná. O STJ entendeu, portanto, que vale o que estabelecido na sentença.
Vale observar que, para concursos da advocacia pública, deve-se seguir a letra da lei.
6.5 – Regime da coisa julgada no processo coletivo (art. 103 do CDC): quadro-resumo
	
	Erga omnes
(impede outra ação coletiva)
	Ultra partes (só a categoria): impede outra coletiva
	Não há coisa julgada (não impede outra coletiva)
	Direitos Difusos
	Procedente ou improcedente
	
	Improcedente por falta de provas
	Direitos Coletivos
	
	Procedente ou improcedente
	Improcedente por falta de provas
	Direitos Individuais Homogêneos
	Procedente ou improcedente (por qualquer fundamento)
	
	Vide observação no item 6.2.2.3 acima.
7 – Relação entre demandas
7.1 – Teorias acerca da relação entre demandas
No direito processual civil clássico, o estudo da relação entre demandas gira em torno de duas teorias:
i) teoria dos elementos da ação:
Segundo a teoria dos elementos da ação, duas ações são iguais ou semelhantes quando batem os elementos (art. 301 e §§ do CPC):
Art. 301 (...) § 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso.
Essa teoria, entretanto, tem se mostrado cada vez mais insuficiente, daí o surgimento da segunda.
ii) teoria da identidade da relação jurídica material:
Segundo a teoria da identidade da relação jurídica material, o que define se uma demanda é igual ou semelhante a outra é o liame de direito material entre elas (o direito material discutido), e não a identidade de partes, pedido e causa de pedir.
Ex.: o sujeito invade um sítio pertencente a dois irmãos. Um deles ajuíza ação possessória, que resta julgada improcedente. Pela primeira teoria, a ação poderia ser reproposta, por serem diversas as partes. Pela segunda, não. Imagine uma associação com 2000 integrantes. Poderia em tese haver 2000 demandas iguais. A primeira teoria não resolve esse problema, mas é a adotada no Brasil.
7.2 – Consequências da identidade entre demandas
7.2.1 – demanda individual e demanda individual
7.2.1.1 – identidade total
Em se tratando de demandas individuais, caso haja identidade total dos elementos da ação, haverá litispendência ou coisa julgada, conforme esteja a ação anterior tramitando ou tenha transitado em julgado, quando do ajuizamento da segunda.
No sistema individual, em ambos os casos a identidade dos elementos leva à extinção sem resolução do mérito (267, V, do CPC):
Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005) (...)
V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada;
7.2.1.2 – identidade parcial
Caso haja identidade parcial dos elementos da ação, haverá conexão ou continência (arts. 103 e 104 do CPC, respectivamente):
Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando Ihes for comum o objeto ou a causa de pedir.
Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.
Conexão ocorre quando há identidade de pedidos ou causas de pedir. Continência háquando as demandas têm partes e causas de pedir iguais, mas o pedido de uma é maior que o da outra. De acordo com o sistema brasileiro, a identidade parcial leva à reunião para julgamento conjunto (art. 105 do CPC) ou, se não for possível, a suspensão de um dos processos (art. 265 do CPC):
Art. 105. Havendo conexão ou continência, o juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente.
7.2.2 – demanda individual e demanda coletiva
7.2.2.1 – identidade total
Não existe a possibilidade identidade total entre uma ação coletiva e uma individual, pois as partes e o pedido são diferentes. Podem propor a ação coletiva os legitimados previstos na LACP. O indivíduo não possui tal legitimidade. Além disso, os pedidos são diferentes, pois o pedido da ação coletiva é genérico (art. 95 do CDC) e pretende a tutela de um interesse metaindividual, não individual:
Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados.
O art. 104 do CDC é expresso nesse sentido:
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
Perceba, contudo, que o dispositivo está incompleto, pois é pacífico que não induzem litispendência para as ações individuais as ações coletivas previstas nos incisos I, II e III do art. 81 (direitos ou interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos), e não somente as previstas nos incisos I e o II.
Assim, nunca haverá litispendência ou coisa julgada entre ações individuais e coletivas.
7.2.2.2 – identidade parcial
Há a possibilidade de identidade parcial entre uma demanda individual e uma coletiva, pois a causa de pedir pode ser igual (ex.: responsabilidade civil da empresa farmacêutica, no caso do Microvlar, é fundamento tanto para uma ação individual como para uma coletiva). Se as causas de pedir são iguais, pode haver conexão entre ambas. Nunca continência.
Segundo o CDC, a consequência da conexão entre uma demanda individual e uma coletiva é a suspensão (facultativa ou judicial) da ação individual. Como será estudado a seguir, se fossem duas ações coletivas, a consequência seria a reunião dos processos, para julgamento conjunto.
Esse raciocínio somente vale para as ações coletivas que tutelam interesses individuais homogêneos e coletivos. Os interesses difusos não têm nada a ver com as ações individuais. Os fundamentos serão sempre diferentes. Nunca será determinada a suspensão de uma demanda individual para aguardar o julgamento de uma coletiva.
7.2.3 – demanda coletiva e demanda coletiva (inclusive de variadas espécies)
7.2.3.1 – identidade total
Em se tratando de duas demandas coletivas, é possível haver identidade total dos elementos. Ex.: dois promotores ajuízam ações iguais em duas comarcas diferentes. Se é possível a identidade de demandas, pode existir coisa julgada, a depender de a ação ser julgada procedente ou improcedente por fundamento diverso da falta de provas. Havendo coisa julgada, a consequência será a extinção de um dos processos.
É possível também haver a litispendência (exemplo das ACP’s ajuizadas em comarcas diferentes). A doutrina indica duas soluções possíveis para esse fenômeno:
i) se as partes formais forem as mesmas, uma das ações deve ser extinta (ex.: duas ações ajuizadas pelo MP/SP);
ii) se as partes formais forem distintas (ex.: MPSP e MPF; MPSP e Associação “X”) prevalece o entendimento de que o caso é de reunião das ações coletivas para julgamento conjunto, ou, não sendo possível, suspensão de uma das ações litispendentes.
Perceba que é o sistema que define, conforme o caso, a consequência que terá a litispendência. No sistema individual, é a extinção; no coletivo, a extinção, a reunião ou a suspensão de uma delas, conforme o caso.
7.2.3.2 – identidade parcial
Se é possível que coincidam todos os elementos de duas demandas coletivas, evidentemente que também é possível a coincidência de apenas um deles. Portanto, pode ocorrer tanto conexão quanto continência entre duas ações coletivas. Ex.: uma ação popular para a reparação do dano ao patrimônio público e uma ação de improbidade administrativa requerendo a reparação do dano e imposição de outras consequências da lei (multa etc.)
Havendo conexão ou continência, a solução em ambos os casos é a mesma: a reunião para julgamento conjunto ou a suspensão de uma das ações (mesma solução adotada para a hipótese de identidade total).
7.3 – Critério para a reunião de demandas coletivas
No processo individual, as regras que definem a reunião dos feitos conexos estão previstas nos arts. 106 e 219 do CPC. Atrairá a competência para julgamento o juízo prevento, considerado como aquele que primeiro profere o despacho de “cite-se”, sendo a mesma competência territorial (art. 106) ou aquele em que é primeiramente realizada a citação, em se tratando de competência territorial diversa (art. 219):
Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar.
Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. (...)
Em se tratando de processo coletivo, a regra é outra, em razão do disposto nos arts. 2º, parágrafo único, da LACP e 5º, § 3º, da LAP: a prevenção se dá pela propositura da ação.
Art. 2º (...) Parágrafo único A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
Art. 5º (...) § 3º A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações, que forem posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos fundamentos.
Propositura é um momento diverso do despacho positivo e da citação. É a distribuição (arts. 251 e seguintes, do CPC):
Por fim, vale observar que todo o regime exposto acima, acerca das consequências da relação entre demandas coletivas, restaria prejudicado se prevalecesse o disposto nos arts. 16 da LACP e 2-A, caput, da Lei 9.494/1997:
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova. (Redação dada pela Lei nº 9.494, de 10.9.1997)
Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001) (...)
Isso porque, uma vez alterada a competência em decorrência da reunião dos processos, a decisão não terá efeitos em nenhuma das comarcas.
8 – Liquidação e execução de sentença coletiva
8.1 – Direitos e interesses difusos e coletivos
Os direitos e interesses difusos e coletivos, como visto, têm como principal característica a indivisibilidade do objeto. Isso significa que ou todos ganham, ou todos perdem. Há dois modelos de liquidação e execução da sentença coletiva, no caso deles: liquidação e execução da pretensão coletiva e da pretensão individual.
8.1.1 – liquidação e execução da pretensão coletiva (art. 15 da LACP)
Art. 15. Decorridos sessenta dias do trânsito emjulgado da sentença condenatória, sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual iniciativa aos demais legitimados. (Redação dada pela Lei nº 8.078, de 1990)
8.1.1.1 – legitimados
Vencendo o autor de determinada demanda coletiva, o legitimado ativo para liquidar e executar a sentença é o próprio autor e, caso ele não o faça, qualquer colegitimado e o MP. Trata-se do princípio da indisponibilidade da execução coletiva.
8.1.1.2 – destinatário do dinheiro
Caso se trate de ação coletiva para a defesa do patrimônio público, o beneficiário do dinheiro porventura obtido será a entidade lesada (ex.: se o Prefeito for condenado a devolver R$ 500.000,00 à Prefeitura, o destinatário será a Prefeitura).
Caso esteja sendo buscada a proteção de bens imateriais (ex.: meio ambiente, idoso, moralidade, criança e adolescente), o dinheiro obtido irá para o fundo previsto no art. 13 da LACP e na Lei 9.008/1995 (que instituiu o Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos - FDD):
Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. (...)
Há dois grandes grupos de fundos: o Federal, para condenações impostas pela Justiça Federal e administrado pelo Ministério da Justiça, e os estaduais (cada estado possui um). Para cada um desses fundos, há várias contas (idoso, meio ambiente, criança e adolescente etc.) A rigor, o dinheiro desse fundo seria para reparação dos bens lesados e realização de campanhas educativas. Quem gere esse fundo é um Conselho, composto de membros de vários órgãos (MP etc.)
A grande crítica de Gajardoni é que o dinheiro obtido com o fundo não servirá para reparar o rio ou a comunidade lesada, mas ficará no fundo, podendo ser usado em outro lugar para outra finalidade.
8.1.1.3 – competência
A competência para a liquidação e execução da sentença coletiva será do mesmo juiz que julgou a ação de conhecimento (art. 475-P, II, do CPC, inserido pela Lei 11.232/2005):
Art. 475-P. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: 
II – o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição; 
Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o exequente poderá optar pelo juízo do local onde se encontram bens sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. 
8.1.2 – liquidação e execução da pretensão individual (arts. 103, § 3º e 104 do CDC)
O modelo anterior era da liquidação e execução da sentença coletiva em favor de toda a coletividade. Todavia, no sistema brasileiro há o transporte in utilibus da coisa julgada na ação coletiva. Trata-se de liquidação e execução individual da sentença coletiva (exs.: pescador que não mais trabalha em virtude da empresa que poluiu o rio pode executar a sentença coletiva; um sujeito que ficou surdo pode executar a sentença proferida em ação civil pública que condenou a empresa a fornecer aos operadores de britadeira protetores auriculares).
8.1.2.1 – legitimidade
Têm legitimidade para a execução da pretensão individual a vítima e seus sucessores.
8.1.2.2 – destinatário do dinheiro
Evidentemente, são destinatários do dinheiro obtido com a indenização a vítimas e seus sucessores.
Por se tratar de interesses difusos e coletivos, diferentemente do primeiro modelo, na liquidação individual há a necessidade de uma prévia liquidação da sentença, que comprovará não somente a extensão do dano e o seu valor, como também o nexo de causalidade. No exemplo do pescador, ele deverá provar o prejuízo sofrido e que era pescador do rio.
Essa “liquidação”, entretanto, é bem diferente da prevista no art. 475-A do CPC (que somente apura quantum debeatur). Nesta, apura-se quanto custa, a extensão do dano, o nexo de causalidade etc. Dinamarco fala claramente que, a rigor, não se trata de uma liquidação. Para o autor, seria uma liquidação imprópria. Gajardoni prefere chamá-la de “habilitação”.[8: Art. 475-A. Quando a sentença não determinar o valor devido, procede-se à sua liquidação. (Incluído pela Lei nº 11.232, de 2005) (...)]
8.1.2.3 – competência
A liquidação da pretensão individual pode ser ajuizada em dois lugares (competência concorrente): no domicílio do autor (art. 101, I, do CDC) e no juízo da condenação (art. 98, § 2º, I, do CDC):
Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor; (...)
Art. 98. A execução poderá ser coletiva, sendo promovida pelos legitimados de que trata o art. 82, abrangendo as vítimas cujas indenizações já tiveram sido fixadas em sentença de liquidação, sem prejuízo do ajuizamento de outras execuções. (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995) (...)
§ 2° É competente para a execução o juízo:
I - da liquidação da sentença ou da ação condenatória, no caso de execução individual;
8.2 – Direitos e interesses individuais homogêneos
O que caracteriza os direitos e interesses individuais homogêneos, como visto, é a divisibilidade do objeto. Trata-se de direitos que, a rigor, são individuais, mas condensados para tratamento coletivo. Há três modelos de liquidação e execução da sentença coletiva a eles relacionados: liquidação e execução da pretensão individual, da pretensão coletiva e da pretensão coletiva residual (fluid recovery).
8.2.1 – liquidação e execução da pretensão individual (art. 97 do CDC)
Diferentemente do que ocorre nos difusos e coletivos, nos direitos e interesses individuais homogêneos a sentença é naturalmente feita para beneficiar o indivíduo.
8.2.1.1 – legitimidade
A legitimidade para a liquidação e a execução da pretensão individual é da vítima e seus sucessores.
8.2.1.2 – destinatário do dinheiro
Os destinatários do dinheiro obtido com a indenização são a vítima e seus sucessores.
Há, aqui, uma particularidade. Também será necessária prévia liquidação imprópria (“habilitação”), nos mesmos moldes anteriores. Essa liquidação é menos complexa, todavia, pois a sentença já é prolatada pensando na pretensão individual. Na habilitação individual decorrente de sentença que reconhece a violação a interesse ou direito difuso ou coletivo, a pretensão é de natureza diversa.
8.2.1.3 – competência
A liquidação (“habilitação”) da pretensão individual pode ser ajuizada em dois lugares (competência concorrente): no domicílio do autor (art. 101, I, do CDC) e no juízo da condenação (art. 98, § 2º, I, do CDC).
8.2.1.4 – Súmula 345 do STJ
A Súmula 345 do STJ afasta a aplicação do art. 1º-D da Lei 9.494/1997:
Súmula 345 - São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
Art. 1º-D. Não serão devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não embargadas. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)
No processo coletivo, se não forem fixados honorários ao advogado do exequente individual, nenhum deles irá ajuizar essa demanda.
8.2.2 – liquidação e execução da pretensão coletiva
Condenada a empresa a indenizar as mulheres lesadas pelo remédio Microvlar, cada indivíduo pegou cópia da sentença e liquidou a sentença. Todavia, em vez de ajuizar várias execuções, eles poderiam ter ajuizado uma só execução, através de um dos legitimados à ação civil pública, nos termos do art. 98, caput, do CDC.
8.2.2.1 – legitimidade
Têm legitimidade para a execução da pretensão coletiva os legitimados para o ajuizamento da ACP (art. 5º da LACP, com redação dada pela Lei 11.448/2007):
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: 
I - o Ministério Público; 
II - a Defensoria

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