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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E EXATAS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE TEÓFILO OTONI - MG. Greice Kelly da Silva Aguilar Teófilo Otoni – MG 2015 UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E EXATAS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE TEÓFILO OTONI - MG. Greice Kelly da Silva Aguilar Profª MSc. Sorele Carpanez Veiga Corrêa Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Exatas, como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Graduação em Ciências Contábeis, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Teófilo Otoni – MG 2015 ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE TEÓFILO OTONI - MG. Greice Kelly da Silva Aguilar Profª MSc. Sorele Carpanez Veiga Corrêa Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Exatas, como parte dos requisitos exigidos para a conclusão do Curso de Graduação em Ciências Contábeis, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Aprovado em: _________________________________________ Professora Kênia Fabiana Cota Mendonça _________________________________________ Professor Simão Pereira da Silva _________________________________________ Professora Sorele Carpanez Veiga Corrêa Orientadora Teófilo Otoni – MG 2015 AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, ao Senhor e Rei de Israel que me dá força para levantar todos os dias e para confiar que tudo irá dar certo, mesmo nas situações mais complicadas aos meus olhos. A minha família, que apesar de bem diferente de mim, tem o dom, toda ela, da bondade e de se fazer presente na hora da necessidade. Em especial a minha avó, a qual chamo de mãe, que tem um coração tão bom, que eu não sei como pode tanta bondade em um só ser. A minha mainha, Maria Gracimar, que precisou aprender o que é ser mãe comigo, cuidando de mim sozinha, enfrentando tudo que foi e necessário, mas não desistiu. Minha mãe que me ensinou o caminho da fé em Deus, fé esta – mais que a confiança é o conhecimento de Quem tudo pode – que aliada à inteligência me dá condições de seguir em frente. Aos meus colegas de sala, que sempre muito esforçados e se desdobrando muitas vezes para cumprir com as obrigações acadêmicas, foram uma motivação a mais para que continuasse. Tenho um carinho e admiração muito grande por todos eles. A Rosane, a Érika, ao Elton, a Luceni, a Alane, ao César, a Gisele, a Helem, ao Danilo, a Josilaine, ao José, a Juliana, a todos vocês meu muito obrigada. A Cristina e ao Idalmar, técnicos do escritório local da EMATER em Teófilo Otoni, com os quais tive as primeiras informações acerca da Agricultura Familiar de Teófilo Otoni. Ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais e a Associação dos Agricultores Familiares Frutos da Terra que na pessoa de sua secretária e associados, os agricultores familiares fornecedores da merenda escolar, me concederam os dados que possibilitaram a execução deste trabalho. A minha orientadora Profª MSc. Sorele Carpanez Veiga Corrêa, que tanto me ensinou e me é exemplo de profissional. Ao passo que valoriza o que faz, fazendo não só a coisa certa, mas sempre buscando fazer certo as coisas. RESUMO AGUILAR, Greice Kelly da Silva. Análise da Participação da Agricultura Familiar no Programa Nacional de Alimentação Escolar no município de Teófilo Otoni - MG. 2015. 82 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Ciências Contábeis). Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Teófilo Otoni, MG. A Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009 é considerada um marco para a agricultura familiar. Sua promulgação é advinda da participação dos setores estatais e sociedade civil organizada numa busca de aproximar a educação, segurança alimentar e nutricional e agricultura familiar. Ela dispõe acerca da compra de gêneros alimentícios da Agricultura Familiar para alimentação escolar definindo o percentual mínimo de aquisição junto ao setor de 30%. Este trabalho teve como proposta analisar - mediante pesquisas bibliográfica, documental e estudo de caso - a participação da Agricultura Familiar no Programa Nacional de Alimentação Escolar no Município de Teófilo Otoni – MG, na perspectiva dos agricultores familiares fornecedores. A população estudada foi composta dos agricultores familiares fornecedores do PNAE, que desde o início do fornecimento, em 2011, até 2014, somaram um total de 38 fornecedores, dos quais, 10 não se mantiveram no fornecimento. O contato com os produtores foi difícil, com alguns por não possuírem telefone e outros que apesar de possuírem um número para contatá-los, por não ser possível serviço de comunicação via celular na comunidade onde residem. Tal fato reduziu a população de estudo a 26 agricultores familiares. Para realização da análise utilizou-se de dados fornecidos por sistemas oficiais do Governo Federal e Municipal de Prestação de Contas em conjunto com os dados da pesquisa obtidos por meio de entrevistas aos agricultores familiares fornecedores do PNAE. Para coleta de dados e nas entrevistas-estruturadas realizadas junto aos agricultores familiares fornecedores do programa, utilizou-se a análise de conteúdo em conjunto com a análise qualitativa. O estudo evidencia que os fornecedores não enfrentaram dificuldades para iniciar o fornecimento para a merenda escolar, os problemas surgiram a partir do início das vendas para o PNAE, ocasionando a desistência durante o processo. A operacionalização do programa apesar de cumprir o percentual mínimo legal de compra da agricultura familiar, é ineficiente, visto que atende 1,54% das famílias por estabelecimento agropecuário. Há ainda dificuldades com relação ao atraso nos pagamentos, que começaram a ocorrer após a mudança de gestão na prefeitura, nos anos de 2013 e 2014. Ademais da dificuldade com relação ao pagamento, há problemas relacionados ao repasse dos pedidos aos agricultores fornecedores, pois nem todos realizam o fornecimento frequente pois afirmam não receber os pedidos por parte da associação que participam, sendo este o maior entrave relatado. Em síntese, considerando que o município tem um contingente maior de produtores, somente uma parte dos agricultores familiares locais têm o acesso ao mercado institucional, mas não todos. Quanto à aquisição tem atingido o percentual mínimo, mas apresenta deficiência em relação ao pagamento. As constatações obtidas neste estudo podem servir para que a administração municipal tenha ciência das dificuldades enfrentadas pelos fornecedores da alimentação escolar e busque desenvolver ações para resolução dos mesmos. Bem como, se torna um subsídio para novas pesquisas acerca da agricultura familiar de Teófilo Otoni -MG e como base para comparações em estudos em outrosmunicípios. Palavras-Chave: Agricultura Familiar. PNAE. Políticas Públicas. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 7 1.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 8 1.1.1 Objetivos específicos .............................................................................................. 8 1.2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 10 2.1 A AGRICULTURA FAMILIAR SOB A ÓTICA DA CONTABILIDADE SOCIAL ........................................................................................................................................ 10 2.1.1 Agricultura Familiar ........................................................................................... 10 2.1.2 Dados da Agricultura Familiar .......................................................................... 12 2.1.3 Caracterização da Agricultura Familiar no município de Teófilo Otoni – MG ........................................................................................................................................ 14 2.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E POLÍTICAS PÚBLICAS ................................. 19 2.3 PLANO SAFRA DA AGRICULTURA FAMILIAR E A INSERÇÃO DO PNAE 23 2.3.1 Programa Nacional de Alimentação Escolar .................................................... 24 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 35 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ........................................................................ 35 3.1.1 Quanto à abordagem do problema .................................................................... 35 3.1.2 Quanto aos objetivos ........................................................................................... 35 3.1.3 Quanto aos procedimentos .................................................................................. 38 3.2 ANÁLISE DOS DADOS ......................................................................................... 39 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................. 41 4.1 PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR EM TEÓFILO OTONI ............................................................................................................................ 41 4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS AGRICULTORES FAMILIARES FORNECEDORES DO PNAE REDE DE ENSINO MUNICIPAL EM TEÓFILO OTONI – MG ............. 44 4.3 PRODUÇÃO ............................................................................................................ 47 4.4 FORNECIMENTO A MERENDA ESCOLAR DA REDE MUNICIPAL ............. 50 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 60 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 62 APÊNDICES ................................................................................................................. 76 7 1 INTRODUÇÃO O art. 6° da Constituição Federal trata a alimentação como um direito social, assim como a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, entre outros. Além do referido artigo, a Carta Magna, no inciso VII, art. 208 constitui a alimentação escolar, como um direito dos educandos e como um dever para o Estado, a ser ofertada por meio de programa suplementar. A alimentação escolar tem sido um tema discutido desde muito antes do advento da Carta Magna em vigor. Tais discussões levaram a criação e desenvolvimento de ações em parceria com órgãos internacionais para buscar resolver o problema da insegurança alimentar de parte da população brasileira (BRASIL, 2014f). Entre as ações desenvolvidas, estão programas associando a alimentação e a nutrição, dos quais vigorou o programa de alimentação escolar. E dentre suas várias transformações ao longo dos anos culminou no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) tal como é conhecido atualmente (BRASIL, 2014f). Este programa traz em suas diretrizes, a necessidade da promoção da alimentação escolar saudável e adequada para a universalidade dos alunos da rede pública de educação básica. O objetivo é garantir a segurança alimentar e nutricional dos educandos (BRASIL, 2009). O PNAE busca ainda envolver a comunidade para o controle social das ações dos Estados, Distrito Federal e Municípios, para a garantia da alimentação saudável e adequada por meio da constituição dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAEs). Bem como visa o estímulo ao desenvolvimento sustentável ao incentivar a aquisição de gêneros alimentícios para a merenda escolar, produzidos em âmbito local pela agricultura familiar (BRASIL, 2009). Ao determinar a aquisição de produtos provenientes da agricultura familiar, o programa passa a constituir-se como um mercado institucional a este segmento (BRASIL, 2009). E esta atividade agrícola de propriedade, produção e gestão predominantemente familiar (ABRAMOVAY, 1998), pode então não mais se ver a mercê de atravessadores (intermediários na venda dos produtos) por dificuldade de acesso aos mercados (FBB, 2013). Políticas públicas voltadas à agricultura familiar, a exemplo do PNAE, permitem a valorização desta atividade e demonstram o entendimento da importância deste segmento para o desenvolvimento nacional (FERREIRA; SILVEIRA; GARCIA, 2001). O acesso às políticas pelos agricultores familiares conta com exigências que se iniciam pela necessidade do porte do Documento de Aptidão ao PRONAF (DAP), mas também com 8 incentivos para que estes agricultores se organizem entre si e qualifiquem suas ações comerciais (BRASIL, 2014a). Ao se constatar, através de pesquisas, como as realizadas por Chaim e Belik, (2012), Vannuchi e Reinach (2012), Prado et al (2013) e Ribeiro, Ceratti e Broch (2013), histórias na operacionalização do PNAE, no que concerne a aquisição dos alimentos da agricultura familiar, este trabalho analisou em âmbito local, a participação dos agricultores familiares no programa. Diante do exposto, o presente trabalho buscou responder a seguinte pergunta orientadora: Como se realiza a participação dos Agricultores Familiares no Programa Nacional de Alimentação Escolar no município de Teófilo Otoni - MG? 1.1 OBJETIVO GERAL Descrever como ocorre a participação dos Agricultores Familiares no Programa Nacional de Alimentação Escolar no município de Teófilo Otoni – MG. 1.1.1 Objetivos específicos a) Identificar como se deu a adesão dos agricultores familiares ao PNAE no município de Teófilo Otoni, em Escolas Municipais. b) Caracterizar os agricultores familiares fornecedores de gêneros alimentícios ao PNAE. c) Descrever o processo de fornecimento de gêneros alimentícios pela Agricultura Familiar para o PNAE no município de Teófilo Otoni – MG sob a perspectiva dos agricultores familiares fornecedores. d) Verificar o cumprimento por parte da Entidade Executora (EEx) do percentual mínimo de 30% de aquisição de alimentos junto a Agricultura Familiar do município para a merenda escolar, conforme Lei n. 11.947/2009, por meio de sistemas oficiais de prestação de contas. 1.2 JUSTIFICATIVA O Programa Nacional de Alimentação Escolar ao incluir a Agricultura Familiar entre seus fornecedores visa o aumento na qualidade da alimentação servida aos educandos e em contrapartida garantir um novo mercado a este segmento produtivo. A compra da produçãoda agricultura familiar para a alimentação escolar, com vistas ao desenvolvimento sustentável local, se apresenta como uma política pública de atendimento aos agricultores familiares, que atua diretamente na dificuldade de comercialização apresentada pelo setor e, em consequência promove a geração de mais renda no campo e contribuição para economia local. 9 O Programa busca ainda incentivar a organização dos agricultores em associações e cooperativas a fim de qualificar suas ações comerciais. Desse modo, este trabalho se justifica ao analisar se os benefícios relacionados ao aumento da renda, a valorização da produção local e a um mercado fixo de comercialização propostos pelo PNAE à agricultura familiar, tem alcançado os agricultores familiares fornecedores no município de Teófilo Otoni – MG. Buscou-se compreender como ocorre a inclusão dos agricultores familiares no PNAE dentro do município e através da perspectiva destes conhecer os desafios e benefícios da comercialização junto ao mercado institucional. Pois, ao se fazer a análise a partir do ponto de vista dos beneficiários desta política pública, proporciona-se uma mudança na forma que o programa é avaliado. O FNDE se utiliza de relatórios fornecidos pelo Conselho de Alimentação Escolar (CAE) e pela Entidade Executora (EEx) do programa como forma de avaliação e fiscalização, mas além da prestação de contas e obediência rígida ao percentual de aquisição, falta a avaliação dada pelos fornecedores, o que permitiria uma visão holística da operacionalização do PNAE. O conhecimento das dificuldades enfrentadas pelos agricultores no fornecimento pode orientar a administração municipal na busca de desenvolver ações para resolução das mesmas, a fim de operacionalizar o programa de maneira a não somente satisfazer as determinações legais, mas também beneficiar o agricultor familiar alvo da política pública. Bem como, propiciar a valorização da produção local e a evidenciação do potencial de contribuição econômica e social deste segmento dentro do município de Teófilo Otoni – MG. Visto que a compra para Merenda Escolar feita junto a estes produtores, garante no mínimo a permanência, no município, de 30% dos recursos destinados a alimentação escolar, promovendo a economia urbana e rural. O estudo permite ainda através da caracterização dos agricultores familiares fornecedores da Merenda Escolar um conhecimento maior deste setor, servindo de subsídio para novas pesquisas sobre o tema aqui delimitado e apresenta-se como um componente de comparação para trabalhos da mesma natureza em outros municípios. 10 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A AGRICULTURA FAMILIAR SOB A ÓTICA DA CONTABILIDADE SOCIAL Assim como a Contabilidade que se volta para vida econômica e financeira das empresas, a Contabilidade Social se volta para vida econômica de um país. Esta última reúne instrumentos capazes de mensurar o movimento da economia de uma nação num certo período de tempo (PAULANI; BOBIK, 2007): quanto se produziu, quanto se consumiu, quanto se investiu, quanto se vendeu para o exterior, quanto se comprou do exterior. Portanto, a “Contabilidade Social é uma síntese contábil dos fatos que caracterizam a atividade econômica de um país” (BRESSER-PEREIRA; NAKANO, 1972, p.01). A mensuração do movimento econômico só é praticável a partir da identificação dos setores de produção, das atividades econômicas neles desenvolvidas e dos agentes ativos que as desenvolvem (MOURÃO, 2008). Neste sentido, pode-se então identificar os setores da economia em: primário, secundário e terciário. O setor primário é aquele classificado como o de produção ou agrícola, o setor secundário como o de transformação ou industrial, e o setor terciário onde se insere os serviços (SOUSA, 2004). O setor primário, como aquele que compreende as atividades de produção ou agropecuárias, é onde se insere a agricultura familiar. E a utilidade do segmento é percebida a partir do momento que sua produção é levada ao mercado. Como assinala Shaikh e Tonak (1994 apud PINTO, 2007, p. 09), “a produção feita realizada pela agricultura familiar e consumida no âmbito desta família, não cria qualquer objeto de utilidade social, mas a produção levada ao mercado sim”. No entanto, na visão de Andrioli (2008), o próprio trabalho da família na agricultura familiar é responsável pela geração de valor, integrando a produção e o consumo. 2.1.1 Agricultura Familiar O conceito de Agricultura Familiar não raras vezes esteve associado a expressões como “pequena produção”, “agricultura de subsistência” e “produção de baixa renda”. E aqueles que desenvolviam esta atividade eram chamados de “pequenos produtores”. Estes termos deram a esse segmento uma conotação que não fazia jus ao que ele realmente representa, uma vez que, desprezava seu potencial produtivo e, consequentemente, econômico, implicando a este setor uma importância estritamente social (ABRAMOVAY, 1997). Ao se procurar caracterizar tal atividade, identifica-se a agricultura familiar como aquela que apresenta um perfil fundamentalmente distributivo. E tem como sua principal 11 característica a diversificação que se contrapõem a especialização produtiva da agricultura patronal (VEIGA, 1996). Ao passo que se percebe no modelo patronal uma total separação entre gestão e trabalho, e dentre outras características a predominância da mão de obra assalariada. No modelo familiar há uma relação intrínseca entre gestão e trabalho, e o trabalho assalariado quando adotado, o é de forma complementar (VEIGA, 1996). Abramovay (1998) no que concerne a definição de agricultura familiar, afirma que definições são adotadas de acordo com a finalidade prática a que serão atribuídas. A exemplo daquela adotada para fins de atribuição de crédito que pode diferenciar-se da utilizada em um estudo acadêmico que objetiva uma quantificação estatística. Mas segundo o autor três atributos básicos sempre estarão presentes em tais definições, quais sejam a gestão, a propriedade e o trabalho familiar. Para fins do presente trabalho o conceito utilizado será o mesmo adotado para formulação das políticas públicas de atendimento a agricultura familiar, que se encontra no art. 3º da Lei nº 11.326 de 24 de julho de 2006. Neste instrumento legal, o agricultor familiar é definido como: aquele que desenvolve atividades no meio rural, utilizando para estas, predominantemente mão-de-obra da própria família; mão-de-obra com a qual dirija seu estabelecimento ou empreendimento; detenha área igual ou inferior a quatro módulos fiscais (unidade de medida agrária); e, tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, a ser definida pelo Poder Executivo. Esta delimitação então dada à agricultura familiar pelo Estado, com vistas ao seu fortalecimento, demonstra mesmo que com certo retardo que o segmento começa a ser percebido como vantajoso. Bem como sua importância para o desenvolvimento nacional a ser entendida (FERREIRA; SILVEIRA; GARCIA, 2001; VEIGA, 1996). Segundo Abramovay (1998) o auxílio recebido pela agricultura familiar advém do fruto a ser gerado pelo seu desenvolvimento. A exemplo de melhores condições de vida, desenvolvimento sustentável, luta contra a pobreza. O que o faz ser visto como o setor com a capacidade de contrabalançar a tendência de desvalorização do meio rural. Desta forma “o fortalecimento da agricultura familiar é visto assim como o principal meio de construção daquilo que em nossa sociedade e, em certo sentido, em nossa civilização é visto como uma contradição nos termos: a cidadania no campo” (ABRAMOVAY, 1998, p. 144).Entretanto, ao se fazer a opção pela agricultura familiar, é imperioso que seja feita uma integração entre as políticas agrícola e fundiária. Isto no sentido de gerar novas chances de expansão e/ou reconversão produtiva para o maior quantitativo de estabelecimentos ainda 12 não consolidados (VEIGA, 1997). E que no escopo das políticas formuladas, os programas criados para o desenvolvimento da agricultura familiar se voltem a três eixos prioritários, o fundiário, o creditício e o educacional (VEIGA, 1997). 2.1.2 Dados da Agricultura Familiar Estudos acerca da agricultura familiar constatam que diferenças na dotação de terra, capital e recursos naturais, associadas à forma de acesso a bens e serviços públicos geram também diferenças na estrutura de produção utilizada. Assim como geram diferenças na capacidade de inovação, participação no mercado de trabalho e estratégias de diversificação de renda. Tais mudanças levam também a distinção desta atividade em três tipos: a agricultura familiar de subsistência, a agricultura familiar em transição e a agricultura familiar consolidada (IICA; CEPAL; FAO, 2014). A definição para cada tipo consiste em que (BLUM, 2001 apud PIROLI; SANTAROSA, 2013): a) Agricultura Familiar de Subsistência: será aquela em que se desenvolvem atividades bastante diversificadas, de quatro a sete atividades produtivas para o sustento familiar e comercialização do excedente; b) Agricultura Familiar de Transição: possui um nível um pouco menor de diversificação de atividades para obtenção de renda que a de subsistência, de três a seis, onde os produtores buscam assistência técnica e creditícia em menor intensidade que os consolidados. Os produtores deste tipo apresentam ainda poder de análise, discernimento e gerenciamento em maior grau do que aqueles apresentados pelos produtores da agricultura familiar de subsistência que possuem dificuldades nesse sentido; e, c) Agricultura Familiar Consolidada: é aquela em que há uma semi-especialização, onde se desenvolve cerca de três a cinco atividades para geração de renda, seus produtores tem um maior nível de instrução, e se servem de assistência técnica e creditícia. Estima-se que, em países da América Latina e no Caribe a maioria das unidades familiares pertence à categoria de agricultura familiar de subsistência. Em torno de mais de 60% destas, seguida da de transição com 28% e pela consolidada com 12%, estes percentuais variam de acordo com cada país, mas em todos a agricultura de subsistência se constitui o tipo que retém um número maior de estabelecimentos (IICA; CEPAL; FAO, 2013). O mesmo quadro é visto no Brasil onde mais de 60% da agricultura familiar é de subsistência e menos de 20% é do tipo consolidada (IICA; CEPAL; FAO, 2013). 13 Isto é confirmado por Tavares (2009) quando afirma que a agricultura familiar vem produzindo gêneros alimentícios para o consumo e, de maneira simultânea, para o abastecimento da sociedade desde a colônia. E por Souza Filho e Batalha (2005) ao caracterizar a agricultura familiar brasileira como uma atividade bastante heterogênea. Que inclui de famílias muito pobres, donas de um pedaço de terra que, dificilmente serve de base para uma unidade de produção que consiga manter-se ao longo do tempo. E famílias com terra, capacitação, organização, conhecimento técnico, etc. O país conta com 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar, cada um com uma área média de 18,37 hectares. Os estabelecimentos ocupam 80,25 milhões de hectares, o que representa 24,3% da área total ocupada por estabelecimentos agropecuários. E 12,3 milhões de pessoas trabalham na agricultura familiar (IBGE, 2006). Da produção nacional, de acordo com o Censo Agropecuário de 2006, a agricultura familiar participava com 87% da produção de mandioca, 70% de feijão, 46% de milho, 38% de café, 34% de arroz, 58% de leite, 21% de trigo, 16% de soja, 59% da criação de suínos, 50% de aves e 30% de bovinos (IBGE, 2006). A importância do segmento para economia enfatiza o papel das políticas de crédito, de assistência técnica, de pesquisa e de comercialização, voltadas ao setor com vistas a assegurar um ambiente propício ao seu desenvolvimento econômico (GUILHOTO et al, 2007). Grande parcela da atividade em função do ambiente social que a vincula ao mercado não consegue se garantir de forma econômica. E os mecanismos de comercialização onde se apresenta a figura do atravessador são ainda de suma importância (ABRAMOVAY, 1998; 1999). O ambiente onde esta situação se apresenta é aquele onde as unidades familiares contam com margens de escolha reduzidas para comercializar seus produtos, obter financiamentos, adquirir insumos e de acesso à informação (ABRAMOVAY, 1998; 1999). Mas ainda há um espaço a ser ocupado nos mercados agrícolas convencionais pela agricultura familiar. E seu desempenho, irá depender primordialmente de sua capacidade de organização local e pressão sobre as instituições públicas (ABRAMOVAY, 1998; 1999). A integração aos mercados e o exercício da atividade agrícola, segundo Wanderley “exige cada vez mais o domínio de conhecimentos técnicos necessários ao trabalho com plantas, animais e máquinas e o controle de sua gestão por meio de uma nova contabilidade” (2003, p.46). A modernização da agricultura fez do agricultor uma profissão multidimencional, profissão esta que poderá ser aprendida em escolas dirigidas para este fim e junto a especialistas de assistência técnica (WANDERLEY, 2003). 14 Verdade é que a modernização da agricultura traz consigo inovações que requerem do agricultor um novo posicionamento e conhecimentos técnicos para aprimoramento, como explicitado por Wanderley (2003). No entanto, seu conhecimento tradicional adquirido através das gerações não pode e nem deve ser dispensado (GRAIN et al, 2009). Conhecimento este construído por agricultores e agricultoras “até conseguir níveis de fineza e sofisticação que ainda nos custa apreciar em toda a sua extensão” (GRAIN et al, 2009, p.04) A agricultura, conforme Grain et al (2009, p.04): requer muitos outros saberes e habilidades: podar, enxertar, tosquiar, domar, domesticar, fiar, tecer, curtir, salgar, secar, fermentar, usar a argila, fabricar cestas, selecionar as melhores plantas e animais, prever o clima, cortar a madeira no momento adequado, reconhecer a lua para plantar, podar ou colher, são só alguns dos mais comuns. A valorização e preservação dos saberes tradicionais são de extrema importância, pois estes não são coisas (GRAIN et al, 2009). “São tecidos muito complexos de relações, muitas delas ancestrais, e se entreveram com a comunidade, o coletivo, a região, a circunstância, a experiência de onde surgem e onde são celebrados como parte de um todo que pulsa porque está vivo” (GRAIN et al, 2009, p. 02). 2.1.3 Caracterização da Agricultura Familiar no município de Teófilo Otoni – MG O Município de Teófilo Otoni está situado no nordeste de Minas Gerais, na zona do Mucuri, sendo considerado o centro macrorregional. E ocupa uma área segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 3.242,27 km². Com respeito à área, o município mantém limites com as cidades de Novo Oriente de Minas, Itaipé, Ouro Verde de Minas, Ataléia, Frei Gaspar, Itambacuri, Pavão, Carlos Chagas, Poté e Ladainha (ESAF, 2012). Em termos populacionais, Teófilo Otoni conta com um total de 134.745 habitantes, dos quais 110.076 (81,7%) residem na zona urbana e 24.669 (18,3%) residem em áreas rurais (IBGE, 2014a). Ao que se refere à educação, o município conta com: 3 centros de educação infantil municipais; 14 creches filantrópicas; 45 escolas estaduais; 56 escolas municipais;26 escolas particulares; e, 6 instituições de ensino superior (ESAF, 2012). O município compreende ainda, 5 distritos e 106 comunidades rurais (CMDRS, [2008?]). E tem no comércio e na prestação de serviços a maior contribuição para o PIB Municipal, seguidos pela indústria e agropecuária (IBGE, 2014a). Apesar de não ser a responsável pela maior parte do PIB do município, a produção agropecuária não se constitui em uma atividade inexpressiva. Esta atividade tem sua base na 15 pecuária de corte e leite e na agricultura familiar de subsistência, com ênfase na produção de mudas ornamentais (ESAF, 2012). O município oferece condições climáticas que favorecem o desenvolvimento da atividade agropecuária. E conta com várias comunidades rurais, que possuem um grande potencial e tradição na produção de frutas e hortaliças (CMDRS, [2008?]). Nestas comunidades a comercialização destes produtos juntamente com a de mudas de plantas ornamentais, contribui substancialmente em sua formação de renda (GEPAF, 2010). A comercialização de seus produtos é feita em feiras livres, no Mercado Municipal, CEASA, supermercados, armazéns e atacadistas (CMDRS, [2008?]). O município de Teófilo Otoni apresenta ainda pequenas fabriquetas para produção de farinha, aguardente, queijos e doces diversos no meio rural. E conta a realização de festivais tradicionais, como o da laranja na comunidade da Lajinha, do repolho em Potonzinho e da cenoura em Itamunheque (CMDRS, [2008?]). Segundo os dados do Censo Agropecuário de 2006, existem no município 2.429 propriedades em áreas rurais ocupando uma área de 212.771 ha. Sendo o módulo fiscal em Teófilo Otoni correspondente a 40 hectares, os estabelecimentos de agricultura familiar somam um total de 1.625 propriedades, de acordo com a Lei 11.326/2006, segundo pode ser visto na Tabela 1 abaixo (CMDRS, [2008?]; IBGE, 2014b). Tabela 1- Número de estabelecimentos agropecuários Em Unidades Percentual Área (Hectares) Área (Percentual) Total 2.429 100 212.771 100 Agricultura não familiar 804 33,1 171.930 80,81 Agricultura familiar - Lei 11.326 1.625 66,9 40.841 19,19 Fonte: Adaptado de IBGE 2006 Conforme os números apresentados na Tabela 2 a seguir, dos 1.625 estabelecimentos familiares do município, as atividades econômicas mais expressivas, consistem na pecuária e criação de outros animais, na horticultura e floricultura. Na pecuária e criação de outros animais se destacam a criação de bovinos e aves, desenvolvidas em 794 e 102 estabelecimentos respectivamente, seguidos pela criação de suínos e outros animais (IBGE, 2014b). Tabela 2 - Número de estabelecimentos agropecuários e grupos de atividade econômica Lavouras temporárias Horticultura e floricultura Lavouras permanentes Pecuária e criação de outros animais Florestas plantadas Aquicultura Total 151 337 178 916 42 1 1625 Fonte: Adaptado de IBGE 2006 16 A condição do produtor de acordo com os estabelecimentos é majoritariamente de proprietários que correspondem a 1.447 propriedades, cerca de 89% do total. Seguido pela condição de assentado sem titulação definitiva, em 73 estabelecimentos, produtor sem área em 53 estabelecimentos, ocupante em 43 e Arrendatário e Parceiro em 6 e 4 estabelecimentos respectivamente (IBGE, 2014b). Acerca do grau de instrução dos agricultores, cerca de 54,65% deles possuem o ensino fundamental incompleto, se encontram na alfabetização de jovens e adultos 17,48%, não sabem ler nem escrever em torno de 9,35%. Com ensino médio completo são 8,56%, possuindo curso superior uma parcela de 2,21%, e aqueles sem nenhum nível de instrução, mas com conhecimento de leitura e escrita representam 2,77% do total (IBGE, 2014b). Com respeito ao documento para o acesso a políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar, já foram emitidas para agricultores do município o número de total de 2.719 DAPs Pessoa Física, das quais se encontram ativas 1.668 (BRASIL, 2014b). O Quadro 1 destaca as principais culturas da agricultura familiar no município, associadas a sua comunidade rural produtora. São ao todo trinta gêneros alimentícios produzidos em treze comunidades rurais, classificadas segundo a maior regularidade na produção e comercialização dos alimentos selecionados. 17 Quadro 1 - Oferta dos principais cultivos da agricultura familiar do município de Teófilo Otoni. COMUNIDADES PRODUTOS Hortaliças/ Leguminosas/ Grãos Frutas Outros Produtos ALTO SÃO JACINTO Alface Brócolos Couve Repolho Tempero verde Abóbora jacarezinho Chuchu Pimentão Pepino Quiabo Tomate Vagem Beterraba Mandioca Banana da terra Feijão carioquinha CEDRO/ ÁGUA FRIA Alface Couve Espinafre Repolho Tempero verde Abóbora jacarezinho Chuchu Tomate Vagem Mandioca Laranja bahia Ovos caipira LAJINHA/ LIBERDADE Alface Repolho Chuchu Quiabo Tomate Banana da terra Laranja bahia Limão tahiti Ponkan Farinha de mandioca POTONZINHO Couve-flor Repolho Tempero verde Jiló Pimentão Quiabo Tomate Vagem SÃO JULIÃO Mandioca Banana prata Banana caturra Farinha de mandioca Ovos caipira CORGÃO Batata doce Mandioca Banana prata Laranja bahia Ponkan Ovos caipira SÃO MIGUEL DO PITA Tempero verde Chuchu Tomate Vagem Inhame Mandioca Banana da terra Banana prata Farinha de mandioca (continua) 18 (conclusão) COMUNIDADES PRODUTOS Hortaliças/ Leguminosas/ Grãos Frutas Outros Produtos ITAMUNHEQUE Alface Couve Tempero verde Abóbora jacarezinho Chuchu Tomate Quiabo Beterraba Cenoura Inhame Banana da terra Banana prata Banana caturra BONFIM Repolho Tempero verde Chuchu Vagem Mandioca Banana da terra Laranja bahia Ponkan SÃO PEDRO/ CRICIÚMA Couve Tempero verde Abóbora jacarezinho Cenoura Mandioca Banana da terra Banana prata Laranja bahia Ponkan ASSENTAMENTO FRITZ Alface Quiabo Vagem Inhame Mandioca Banana prata Banana caturra Limão tahiti Colorífico de urucum Feijão carioquinha ASSENTAMENTO SAUDADE Inhame Mandioca Banana prata Banana caturra Farinha de mandioca Feijão carioquinha BARRA NOVA/ MUCURI Repolho Abóbora jacarezinho Chuchu Quiabo Beterraba Cenoura Banana prata Fonte: Adaptada de EMATER (2010). Embora existam condições favoráveis ao desenvolvimento da agricultura familiar no município e se possa contar uma produção diversificada advinda de várias comunidades rurais, a atividade enfrenta dificuldades das quais se pode citar (CMDRS, [2008?]): a) Resistência à adoção de novas tecnologias para produção em substituição as técnicas tradicionais. b) Preços baixos e dificuldades de comercialização resultantes da falta de programação e planejamento da produção, da pouca informação de mercado, da presença de intermediários na comercialização, da produção em pequena escala e falta de local para comercialização dos produtos em períodos de safra. 19 c) O êxodo rural que exige da grande maioria dos agricultores familiares a contratação de mão-de-obra não familiar em época de plantio e colheita. Mão-de-obra esta que não é absorvidaem outros períodos, causando escassez no mercado de trabalho e estagnação da agricultura familiar. d) A pouca disponibilidade de terras em função do fracionamento das propriedades por posse e/ou herança, limitações pelo próprio relevo e pela deficiência de acesso a entidades de ação ambientais para abertura de novas áreas. Bem como pela venda de pequenas propriedades para grandes produtores. e) Falta de preocupação com a conservação do solo e da água. f) Falta de recursos por parte das comunidades rurais para atendimento de suas necessidades e para promoção do desenvolvimento comunitário a fim de atender a população mais carente. De acordo com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável do Município (CMDRS), a agricultura familiar tem apresentado expressivo crescimento da produtividade. Crescimento este alcançado no decorrer dos anos apesar das dificuldades supracitadas e, outras que o segmento enfrenta como a falta de segurança em algumas comunidades rurais, necessidade de investimento nas pequenas fabriquetas já existentes, moradias precárias (CMDRS, [2008?]). São essas dificuldades que os agricultores e agricultoras familiares enfrentam que demonstram a necessidade não só do acesso, mas também da manutenção e fortalecimento das políticas públicas que os venha atender em suas demandas específicas (EMATER, 2012). 2.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E POLÍTICAS PÚBLICAS Para Di Pietro (2014, p.55), a Administração Pública pode ser entendida tanto como “as pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos que exercem a função administrativa” quanto “a atividade administrativa exercida por aqueles entes”. Meirelles (1998, p.65) entende Administração Pública como “todo o aparelhamento do Estado preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas”. Meirelles (1998) ressalta ainda que a Administração pratica atos de execução, os também chamados atos administrativos. Sendo que a prática de tais atos se dará com maior ou menor autonomia funcional, de acordo com a competência do órgão e de seus agentes. A Administração Pública, como o aparato do Estado para realização de suas funções, conta com limitadores de sua ação que são os princípios. A Carta Magna cita em seu art. 37 os princípios aos quais está submetida a Administração Pública, quais sejam, legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (Quadro 2). 20 Quadro 2 - Princípios da Administração Pública Princípio da Legalidade A Administração Pública só pode fazer o que a lei permite. Princípio da Impessoalidade Implica o agir de maneira prática no atendimento do interesse público, e proíbe a promoção pessoal de agentes ou autoridades. Princípio da Moralidade Administrativa Exige da Administração Pública uma atuação de acordo com os padrões éticos de probidade, decência e boa-fé. Princípio da Publicidade Demanda a ampla divulgação dos atos praticados pela Administração Pública. Princípio da Eficiência Expressa o imperativo de que o agente público realize suas atividades com presteza, perfeição e rendimento funcional. Fonte: Adaptada de Di Pietro (2014). O Princípio da Eficiência entre os já citados é considerado como o mais moderno da função administrativa (MEIRELLES, 1998). Este apresenta a necessidade de resultados positivos para o serviço público e que o atendimento das necessidades da sociedade seja satisfatório (DI PIETRO, 2014). Para o alcance desta eficiência aponta-se para o modelo descentralizado de gestão, que passou a estar em pauta para o sistema político administrativo brasileiro a partir de meados da década de 70 (ARRETCHE, 1996). Enquanto a centralização constitui “a concentração de recursos e/ou competências e/ou poder decisório nas mãos de entidades específicas no ‘centro’ (governo central, agência central, entre outras)” (ARRETCHE, 1996, p. 06). Descentralizar se constitui em “deslocar estes recursos do ‘centro’ e colocá-los em outras entidades específicas (os entes descentralizados)” (ARRETCHE, 1996, p. 06). Para Melo (1996, p.13) a descentralização é entendida como “transferência de poder decisório a municípios ou entidades e órgãos locais”. Mas, a descentralização não é definida apenas pela transferência de atribuições para alcançar a eficiência, na qual o foco recai sobre a modernização gerencial da gestão pública, mas também por expressar tendências democratizantes, participativas e de responsabilização (FARAH, 2001; MELO, 1996). Com respeito às políticas públicas de educação, a política de descentralização dos recursos para as escolas foi implementada em conformidade com as novas tendências democratizantes do setor público, que passaram da fase do autoritarismo à participação (TAKAHASHI, 2005). O intuito da descentralização foi promover uma maior participação social na implementação e formulação das políticas, bem como democratizar a administração pública (LEITE, 2009). O processo de descentralização na gestão de políticas públicas se 21 iniciou em meados da década de 1990 e se efetivou quando o governo federal apresentou condições institucionais para formular e implementar programas de transferências de atribuições para os governos locais (LEITE, 2009). As políticas públicas, no entanto, visam garantir determinado direito de cidadania, de maneira difusa ou para um segmento social, cultural, étnico ou econômico (PARANÁ, [20-- ?]). São entendidas como o conjunto de ações, metas e planos que os governos estabelecem para promover o bem estar social 1(CALDAS, 2008). Também são concebidas, em uma visão mais abrangente, como a totalidade de meios, decisões e ações, que reúnem diferentes atores e concentram esforços (PALUDO, 2013; PARANÁ, [20--?]). Tais meios, decisões e ações são utilizados pelos governos para transformar uma realidade, efetivar direitos e atender as necessidades público-sociais (PALUDO, 2013). A necessidade de execução de políticas públicas está na própria responsabilidade do Estado com relação à garantia dos direitos civis (direito à vida, segurança, saúde, educação, dentre outros) (PALUDO, 2013). A responsabilidade pela promoção dos direitos civis exige ações concretas dos governantes na manutenção e viabilização de políticas públicas (PALUDO, 2013; PARANÁ, [20--?]). Políticas estas capazes de fortalecer a democracia e fomentar o desenvolvimento econômico sustentável (PALUDO, 2013). A formulação das políticas públicas pode partir de iniciativa dos poderes executivo, ou legislativo, separadamente ou em conjunto, quando são formuladas a partir de propostas e demandas de segmentos da sociedade (PARANÁ, [20--?]). As reivindicações sociais são apresentadas aos administradores públicos por meio de grupos organizados, a exemplo dos sindicatos, entidades de representação empresarial, associação de moradores, associações patronais e ONGs (CALDAS, 2008). A participação da sociedade na formulação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas pode ser assegurada na lei que as institui (PARANÁ, [20--?]). E esta participação se dá por meio dos conselhos em nível municipal, estadual e nacional e de instrumentos como audiências públicas, encontros e conferências setoriais (PARANÁ, [20--?]). A participação é também definida como um direito da população e, por conseguinte responsabilidade do Estado conforme determina a Lei da Transparência. Segundo o art. 48, da 1 Estado do bem-estar humano que existe quando as necessidades das pessoas são satisfeitas, os problemas são administrados e as oportunidades para a satisfação seus objetivos de vida são maximizadas (KERSTENETZKY, 2012). O bem-estar socialpode ainda ser entendido como garantia de direitos sociais de cidadania ou garantia de direitos sociais politicamente reivindicados (KERSTENETZKY, 2012). 22 Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, com redação dada pela Lei 131 de 2009 (Lei da Transparência): Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante: I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; Quanto à gestão das políticas públicas, esta se dava inicialmente de maneira centralizada (ARRETCHE, 1996; PALUDO, 2013). No contexto atual, democrático- descentralizado, as políticas contam com a participação da sociedade e são formuladas em parceria entre atores público e privado (PALUDO, 2013). A descentralização, como forma de gestão, favorece a democratização das relações entre sociedade e Estado, e possibilita a minimização das incertezas, integração de esforços, e atendimento das demandas sociais (FARAH 2001; PALUDO, 2013). Melo (1996) aponta ainda que as justificativas de ordem política para a descentralização envolvem além de fatores políticos relacionados à promoção da democracia participativa, os relacionados à preservação de identidades territoriais, especialmente em países que apresentam importantes diferenças étnicas e culturais. O Programa Nacional de Alimentação Escolar exemplifica os pontos acima descritos por Melo (1996). O programa é administrado de forma descentralizada desde 1994 contando com a participação social para fiscalização da Merenda Escolar por meio do Conselho de Alimentação Escolar (CAE). E ainda busca em suas diretrizes preservar e valorizar as identidades territoriais quando dá preferência a alimentos da região, respeitando a vocação agrícola do território. A postura descentralizadora do PNAE trouxe efeitos positivos para a política pública, haja vista a) o significativo aumento dos recursos disponibilizados para atender o programa; b) a maior fiscalização dos gastos públicos, via controle social; c) o dinamismo na economia dos municípios, uma vez que o cardápio da alimentação escolar atende as vocações agrícolas locais fomentando o desenvolvimento da economia local (COSTA, 2013, p.67). Paludo (2013) apresenta a instituição e ampliação da atuação dos conselhos de participação da sociedade como ponto positivo nesse processo de descentralização da gestão de políticas públicas. Os conselhos marcam uma reconfiguração nas relações entre Estado e sociedade (CARNEIRO, 2006). Estes são canais institucionalizados de participação política, onde há um controle público sobre a ação governamental, de deliberação legalmente aceita e onde se publicizam as ações do governo (CARNEIRO, 2006; PALUDO, 2013). 23 Também tem sua importância destacada o papel do município na definição e administração de políticas públicas o que exige a criação de novas formas de intervenção que se voltem ao atendimento das necessidades locais e dos interesses da comunidade (PALUDO, 2013). Contudo, os efeitos da descentralização não tendem a ser positivos caso as administrações locais não demonstrem capacidade institucional de fornecer de maneira adequada bens e serviços sociais (MELO, 1996). 2.3 PLANO SAFRA DA AGRICULTURA FAMILIAR E A INSERÇÃO DO PNAE O Plano Safra da Agricultura Familiar foi criado em 2003 baseado em seu principal programa de crédito, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) (BAHIA, 2013; MALUF, 2006). Sua criação foi impulsionada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) e se diferenciou dos Planos de Safra anteriormente desenvolvidos e voltados mais para a grande produção (MALUF, 2006). O lançamento do Plano ocorre anualmente e possui vigência de julho a junho do ano subsequente (MALLMANN, 2014). No Plano está contido um conjunto de políticas públicas, como pode ser visto no Quadro 3, que abrangem os serviços de assistência técnica e extensão rural, a garantia de preços, o crédito, a cobertura de renda no seguro, a comercialização e a organização econômica das famílias residentes no campo (SECOM, 2013). Quadro 3 - Programas do Plano Safra 2014-2015 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) Política pública de financiamento da produção familiar. O Pronaf surge na década de 1990 como a principal política de suporte econômico e produtivo à agricultura familiar, a partir da qual foram desenhadas outras políticas e programas importantes, para integrar as ações governamentais para este segmento social (GAZZOLA; SCHNEIDER, 2013). Segundo Mallmann (2014), o Pronaf mais que um instrumento de garantia de crédito, é uma oportunidade para que os agricultores familiares coloquem em prática o seu projeto de desenvolvimento, suas expectativas de renda e de mudança de vida. PAA Política de comercialização que possibilita a compra direta de alimentos produzidos por agricultores familiares e suas organizações. O PAA garante o atendimento de populações em estado de insegurança alimentar e nutricional e promove ainda a inclusão social no campo, fortalecendo a agricultura familiar (SECOM, 2013). Programa de Infraestrutura para Territórios Rurais (PROINF) O programa apoia iniciativas de beneficiamento, armazenamento e de comercialização de produtos. Bem como, a estruturação e qualificação de serviços públicos locais ou estaduais de armazenamento, transporte, comercialização e outros. (continua) 24 (conclusão) Garantia-Safra Garantia para agricultores de baixa renda que vivem em localidades atingidas por adversidades climáticas, principalmente o Semiárido. Em caso de perda de no mínimo 50% da produção agrícola, as famílias recebem o benefício no valor de R$ 850. Seguro agrícola Mecanismo de proteção para agricultoras e agricultores familiares que contratam financiamentos de custeio agrícola no âmbito do Pronaf. O Seguro Agrícola garante 80% da receita bruta esperada. Programa de Garantia Preços para Agricultura Familiar (PGPAF) O Programa garante desconto no pagamento do financiamento às famílias agricultoras que acessam o Pronaf Custeio ou o Pronaf Investimento, em caso de queda de preços no mercado. A Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Política de Assistência Técnica e Extensão Rural para agricultoras e agricultores familiares com vistas ao aumento da renda e a melhoria da qualidade de vida. PNAE Programa que proporciona alimentação saudável aos alunos de escolas públicas estimulando a produção da agricultura familiar. Fonte: Adaptada de Brasil (2014c). O PNAE, que já existia desde os anos 1950, foi reestruturado para atender a compra de alimentos dos agricultores familiares, ampliando a partir de 2009 o Plano Safra da Agricultura Familiar (GAZZOLA; SCHNEIDER, 2013; SECOM, 2013). 2.3.1 Programa Nacional de Alimentação Escolar O Programa Nacional de Alimentação Escolar, apesar de ser introduzido no Plano Safra a partir de 2009, já era alvo de debates acerca da qualidade e valor nutricional dos alimentos por ele fornecidos desde 1969 (ABREU, 2014). Mas, em função da centralização das decisões, da operacionalização na esfera federal e a falta de participação da sociedade, a mudança na orientaçãodos produtos a serem consumidos para alimentação escolar não aconteceu (ABREU, 2014). Na década de 70 também ocorreu, segundo Abreu (2014, p. 47): uma tentativa de grupos relacionados à área de saúde para melhorar o valor nutricional da alimentação escolar oferecida pelo governo federal, e inserir os pequenos produtores como fornecedores de compras públicas, barateando os preços dos alimentos e garantindo melhores preços a esses produtores. Tais propostas não foram concretizadas devido à conjuntura política na época, aos aspectos organizacionais e recursos insuficientes, bem como disputas entre instituições setoriais. Em 2003, as discussões voltam a ocorrer, mas contando com a participação da sociedade civil, na busca da promoção de políticas que incluíssem parcelas menos favorecidas da população lhes garantindo uma alimentação regular e adequada (ABREU, 2014). A partir dos debates realizados e com uma maior participação social, foi proposto o reajuste do valor 25 per capita/dia repassado no âmbito do PNAE, bem como um novo marco legal para aprimorar o programa (ABREU, 2014). No ano 2008, houve uma aproximação entre os setores de educação, de segurança alimentar e nutricional e de agricultura familiar (ABREU, 2014). Aproximação esta permitida através do Decreto nº 6.447/08, que incluía a alimentação escolar entre as destinações dos alimentos adquiridos no âmbito do PAA. A participação de diferentes atores dos setores estatais e da sociedade civil organizada culminou em 2009, na promulgação Lei nº 11.947 que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar (ABREU, 2014). A referida lei, entre suas orientações acerca da merenda escolar, apresenta a determinação do emprego de no mínimo 30% dos recursos repassados pelo FNDE, na compra de produtos dos agricultores familiares. Abreu (2014, p.51-52) descreve que: O cenário político federal favorável, observado a partir da preocupação explícita do governo do Presidente Lula com a Segurança Alimentar e Nutricional, traduzidas no Programa Fome Zero; a inclusão socioeconômica dos pequenos produtores rurais, através do Pronaf, PAA, entre diversos outros programas sociais implementados; e a intensa participação social nos debates entre diferentes setores – educação, segurança alimentar e agricultura familiar – deram origem ao Projeto de Lei Federal nº 2.877 enviado ao Senado, propondo modificações no PNAE. As negociações para aprovação deste projeto de lei no Congresso Nacional resultou na Lei Federal nº 11.947/09. Implementado em 1955 e gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) possui caráter suplementar como prevê o inciso VII, art. 208 da CF/88. O programa através da oferta de alimentação escolar e de ações de educação alimentar e nutricionais visa contribuir para o rendimento escolar dos estudantes, seu desenvolvimento, crescimento e aprendizagem. Objetiva ainda, a formação de hábitos alimentares saudáveis. O atendimento do PNAE abrange alunos de toda a educação básica, desde a Educação Infantil a educação de jovens e adultos que estejam matriculados em escolas públicas, filantrópicas e em entidades comunitárias (BRASIL, 2014c). Atualmente o PNAE é regido pela Lei nº 11.947/2009 e conforme orientação da referida lei, está regulamentado pela Resolução nº 26/2013 do Conselho Deliberativo do FNDE. Para alcançar seu objetivo de suprir, de maneira parcial, as necessidades nutricionais dos alunos, o PNAE passou por diversas transformações. Uma destas transformações foi a de abandonar seu perfil de execução centralizador, mantido desde sua criação até 1993, por um meio descentralizado de execução (BRASIL, 2014f). Em seu período caracterizado como centralizador, toda a realização do programa se concentrava no órgão gerenciador, até então a 26 Campanha Nacional de Alimentação Escolar (CNAE). O CNAE fazia desde o planejamento dos cardápios a distribuição dos alimentos em todo o país. Em 1994, este cenário altera-se, e em virtude da Lei nº 8.913, de 12 de julho de 1994, os recursos do PNAE passam a ser transferidos aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (BRASIL, 2014f). A transferência de recursos do FNDE é realizada com base no Censo Escolar do ano anterior ao atendimento, por ter o cálculo de seu valor feito de acordo com a quantidade de alunos e dias letivos, onde tem se (BRASIL, 2014c): Total de Recursos = Nº de alunos x Nº de dias x Valor per capita (1) A despeito de ser empregado como base para a transferência de recursos no âmbito do PNAE, o Censo Escolar, de acordo com o Decreto n. 6.425, de 4 de abril de 2008, exige participação obrigatória de toda instituição de educação, de direito público ou privado, com ou sem fins lucrativos. Os dados coletados no recenseamento são para a elaboração de diagnósticos sobre a educação brasileira. E contribuem também para a implementação de políticas públicas na área da educação (BRASIL, 2014g), a exemplo da merenda escolar. Como pode ser percebido, a fórmula de cálculo do repasse de recursos do PNAE apresenta também em sua composição o valor per capita. Este valor é definido em função da modalidade de ensino a ser atendida e se desenvolvida em comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas, variando conforme Tabela 3 abaixo: Tabela 3 - Valor de repasse por dia letivo para cada aluno de acordo com a etapa e modalidade de ensino e correspondente valor de compra da Agricultura Familiar Modalidade de Ensino Valor per capta 30% Agricultura Familiar Ensino fundamental, no ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos – EJA; R$ 0,30 (trinta centavos de real) R$ 0,09 Pré-escola (exceto em escolas localizadas em áreas indígenas e remanescentes de quilombos) R$ 0,50 (cinquenta centavos de real) R$ 0,15 Alunos que frequentam o Atendimento Educacional Especializado – AEE no contraturno R$ 0,50 (cinquenta centavos de real) R$ 0,15 Escolas indígenas quilombolas R$ 0,60 (sessenta centavos de real) R$ 0,18 Para os alunos do Programa Mais Educação R$ 0,90 (noventa centavos de real) R$ 0,27 Ensino integral R$ 1,00 (um real) R$ 0,30 Creches (incluindo as localizadas em áreas indígenas e remanescentes de quilombos) R$ 1,00 (um real) R$ 0,30 Fonte: Elaborada com base no art. 38, Resolução nº 26/2013 do CD/FNDE. 27 Para a transferência de recursos não é necessária a celebração de convênio, ajuste, acordo, contrato ou instrumento congênere, sendo que a utilização do valor repassado será para aquisição exclusiva de gêneros alimentícios (BRASIL, 2013). A transferência é feita em dez parcelas mensais, correspondendo cada uma a 20 (vinte) dias de aula, iniciando-se no mês de fevereiro, para o atendimento total de 200 dias letivos (BRASIL, 2014d). Os recursos são repassados à responsável pela execução do Programa, chamada de Entidade Executora (EEx), que poderá ser a Secretaria Estadual de Educação, a Prefeitura ou a Escola (BRASIL, 2014a). A operacionalização do PNAE tem seu acompanhamento e fiscalização feito pela sociedade, por meio do Conselho de Alimentação Escolar (CAE), pelo FNDE, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Controladoria Geral da União (CGU) e pelo Ministério Público (BRASIL, 2014d). Conforme art. 14 da Lei nº 11.947/2009, no mínimo 30% dos recursos repassados para a execução do programa devem ser destinados à aquisição de alimentos diretamente da agricultura familiar. Devendo no entanto dar-se prioridade aos assentamentos de reforma agrária, comunidadestradicionais indígenas e comunidades quilombolas. A aquisição de gêneros alimentícios será feita no município das escolas sempre que possível for, sendo que poderá haver complementação da demanda no território rural, estado e país, nesta ordem de prioridade. Os alimentos a serem adquiridos da agricultura familiar deverão atender a legislação sanitária, que normatiza o registro dos produtos e empreendimentos, sendo inspecionados por uma das seguintes instâncias: Serviço de Inspeção Federal (SIF); Serviço de Inspeção Estadual (SIE); Serviço de Inspeção Municipal (SIM); Serviço de Inspeção Vegetal/MAPA e Vigilância Sanitária (BRASIL, 2014a). 2.3.1.1 Procedimentos para aquisição dos produtos para o PNAE Como referido anteriormente, sua regulamentação legal advém da Resolução nº 26/2013, do Conselho Deliberativo do FNDE. Esta resolução descreve procedimentos a serem observados para aquisição por parte das Entidades Executoras (EEx) e, venda dos produtos provenientes da agricultura familiar por parte dos agricultores familiares e suas organizações formais ou informais. Dentre as exigências para a compra está à necessidade do porte por parte dos fornecedores da Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf (DAP). O aludido documento pode ser entendido como uma 28 espécie de identidade do Agricultor Familiar, Associação/Cooperativa, para ter acesso a algumas políticas públicas, como é o caso do PNAE (BRASIL, 2014a). Os grupos formais consistem em agricultores familiares rurais constituídos em cooperativas e associações. Os informais são grupos de agricultores familiares organizados que deverão ser apresentados junto a EEx por uma Entidade Articuladora (EA). Esta possui como atribuição, assessorar e articular os agricultores familiares detentores de DAP Física para a elaboração do projeto de venda. As EAs são entidades representativas da agricultura familiar, cadastradas no Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (Sibrater), Sindicato de Trabalhadores Rurais e de Trabalhadores da Agricultura Familiar (Sintraf) e entidades credenciadas pelo MDA para emissão da DAP. A EA não poderá receber remuneração, proceder à venda, assinar como proponente e não terá responsabilidade jurídica (BRASIL, 2014a). A compra e venda dos produtos da agricultura familiar será feita de acordo com as seguintes etapas (BRASIL, 2014a): a) Mapeamento dos produtos da agricultura familiar: havendo o mapeamento dos produtos da agricultura familiar local (localidade, produto, quantidade e época da colheita), este será solicitado pela Secretaria de Educação e pelo nutricionista à Secretaria de Agricultura, á Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural local e ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais. b) Construção do cardápio: conhecendo os produtos ofertados, sua qualidade, tempo da safra e localidade, procede-se a elaboração do cardápio pelo nutricionista (Responsável Técnico). Os alimentos que deverão compor o cardápio serão aqueles básicos, de acordo com as referências nutricionais, a cultura alimentar de onde a escola está situada, considerando a diversificação agrícola da região e sua sazonalidade. Podem ser adquiridos além de alimentos in natura, os industrializados como pães, bolos, sucos etc. Em sua elaboração, o cardápio também deverá oferecer no mínimo, três porções de frutas e hortaliças semanalmente. Assim que concluída a construção do cardápio, o nutricionista informará a EEx quais produtos devem ser demandados e suas quantidades. c) Chamada Pública: a aquisição de alimentos no âmbito do PNAE é feita por meio de licitação pública conforme Lei nº 8.666/1993 ou Lei nº 10.520/2002, ou, ainda, “poderá ser realizada dispensando-se o procedimento licitatório desde que os preços sejam compatíveis com os vigentes no mercado local” de acordo com o art. 14 da Lei 11.947/2009. Ao optar pela dispensa de procedimento licitatório, a EEx fará a aquisição por meio de chamada pública, que é a modalidade de edital referente a agricultura familiar. A chamada pública deverá ser 29 realizada pela Entidade Executora, seja esta a Secretaria Estadual de Educação, a Prefeitura ou a Escola, e deverá ser publicada em jornal de circulação local. Também publicada na forma de mural em local público de ampla circulação, divulgar em seu endereço na internet, caso haja, e divulgar para organizações locais da agricultura familiar e para entidades de assistência técnica e extensão rural do município ou do estado. Se necessário, publique-se em jornal de circulação regional, estadual ou nacional e em rádios locais. Os editais das chamadas públicas deverão permanecer abertos para recebimento dos projetos de venda por um período mínimo de 20 dias. Na chamada pública, deverão constar quais os alimentos e quantidade de cada um deles que se deseja adquirir da Agricultura Familiar, todas as exigências de condições dos alimentos e da entrega, bem como o preço de aquisição. Este deve ser um preço médio baseado no mínimo em pesquisa de três mercados em âmbito local, territorial, estadual, ou nacional, nesta ordem de prioridade dando preferência a feira do produtor da agricultura familiar, caso haja. Quando priorizados pela EEx em seu edital, a compra de produtos orgânicos ou agroecológicos, poderá majorar os preços em até 30% com relação aos preços estabelecidos para produtos convencionais. d) Projeto de Venda: o projeto deverá ser elaborado de acordo com a chamada pública, e é na realidade o documento de formalização do interesse dos agricultores familiares em vender para o PNAE, devendo conter a assinatura do agricultor, em caso de grupo formal, a assinatura deverá ser do representante do grupo e, em caso de grupo informal pelos agricultores fornecedores. A documentação de habilitação dos fornecedores exigida para venda ao programa, deverá ser entregue à EEx juntamente com o projeto, e será: 1. Quando fornecedor individual: o extrato da DAP Física do agricultor familiar, emitido nos últimos 60 dias; CPF; declaração de que os gêneros alimentícios são de produção própria. 2. Quando grupo informal: o extrato da DAP de cada agricultor participante, emitido nos últimos 60 dias; CPF; declaração de que os gêneros alimentícios são de produção própria. 3. Quando grupo formal: o extrato da DAP Jurídica, emitido nos últimos 60 dias; prova de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), prova de regularidade com a Fazenda Federal, relativa à Seguridade Social e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); cópia do estatuto e ata de posse da atual diretoria da entidade registrada em órgão competente; declaração de que os gêneros alimentícios são de produção dos associados/cooperados; declaração do seu representante legal de responsabilidade pelo controle do atendimento do limite individual de venda de seus cooperados/associados. 30 e) Seleção entre os Grupos de Projetos de Venda: etapa de responsabilidade das EEx dando prioridade a seguinte ordem: os assentamentos de reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e as comunidades quilombolas, não havendo prioridade entre estes;- os fornecedores de gêneros alimentícios certificados como orgânicos ou agroecológicos, segundo a Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003; os Grupos Formais (organizações produtivas detentoras de Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP Jurídica) sobre os Grupos Informais (agricultores familiares, detentores de Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP Física, organizados em grupos) e estes sobre os Fornecedores Individuais (detentores de DAP Física). Em caso de persistência de empate, será realizado sorteio ou, emhavendo consenso entre as partes, poderá optar-se pela divisão no fornecimento dos produtos a serem adquiridos entre as organizações finalistas. É estabelecido por agricultor familiar o limite individual de venda de R$ 20.000,00 por DAP Familiar /ano/entidade executora. f) Assinatura do Contrato: deverá ser assinado pelas partes envolvidas, entendido e cumprido de forma a garantir a segurança tanto da EEx quanto da cooperativa/associação, grupo informal ou fornecedor individual. No contrato, será estabelecido o cronograma de entrega, a data de pagamento aos vendedores e todas as cláusulas de compra e venda. g) Execução: seguirá o cronograma estabelecido no contrato e como prova de entrega dos produtos de acordo com o cronograma previsto em contrato e conforme padrões de qualidade exigidos. Será assinado pelo representante da Entidade Executora e do grupo fornecedor, o Termo de Recebimento da Agricultura Familiar e feita a emissão de documento fiscal seja, nota do produtor rural, nota avulsa ou nota fiscal se tratando de grupo formal. Em caso de contrato firmado por associação que possua caráter de entidade sem fins econômicos, pela impossibilidade desta de emitir nota fiscal, o pagamento será feito diretamente aos agricultores, que farão a emissão da nota em seu próprio nome. A Figura 1 apresenta de forma sistematizada as etapas descritas: 31 Figura 1- Etapas para Aquisição de Gêneros Alimentícios da Agricultura Familiar para a Alimentação Escolar Fonte: Elaborado com base em Brasil (2014a) A Entidade Executora estará desobrigada da aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar, conforme previsto no § 2º, art. 14 da Lei nº 11.947/2009, mediante três situações: impossibilidade de emissão de documento fiscal correspondente; inviabilidade de fornecimento regular e constante dos gêneros alimentícios; e condições higiênico-sanitárias inadequadas, 2.3.1.2 Desafios e resultados do Programa Nacional de Alimentação Escolar O Programa Nacional de Alimentação Escolar tem buscado cumprir o seu papel enquanto programa suplementar de alimentação para o atendimento ao aluno em todas as etapas da Educação Básica. Tem também se preocupado em fazê-lo de forma a atender as necessidades nutricionais do educando, respeitando os hábitos alimentares da região em que reside e a vocação agrícola de seu município. Ou seja, o programa dá suporte não somente a educação como também ao desenvolvimento da economia local (BRASIL, 2014a). Contudo, ao longo de seus anos de existência e diversas reestruturações, o PNAE apresentou e tem apresentado não somente êxitos, mas também desafios em sua implementação, seja no que concerne ao seu objetivo, gestão, imposições legais, controle social, etc. 32 Triches (2012) aponta como um dos desafios no âmbito do programa, o fato de a ideia original do PNAE nunca ter sido alcançada. Em sua idealização este seria um programa de assistência alimentar para atender grande parte da população que se encontrava subnutrida, garantindo a estas pessoas uma refeição que fosse significativa para o quadro apresentado. Outro desafio exposto pela autora, a partir de dados formais e informais do ano de 2007 e anteriores, sobre o perfil dos municípios em relação à compra de agricultores familiares, foi a baixa adesão por parte das EEx à compra de gêneros da agricultura familiar para abastecimento das escolas. O que pode ser explicado por dificuldades de ordem burocrática e regulatória, assim como, pela falta de vontade política da administração municipal (TRICHES, 2012). A malversação de recursos, também já foi assinalada como um desafio do programa, problema este que levou a sua reestruturação em 2000. Houve uma ênfase no papel dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAEs), seja como pré-requisito para o repasse dos recursos, bem como, em sua função fiscalizadora da execução do PNAE (VALENTE, 2002). Outros problemas, que podem ser pontuados, são com respeito ao processo de implementação do PNAE em sua forma descentralizada, quais sejam (VALENTE, 2002): suspensão do repasse de recursos em 2001 aos municípios, por falta de apresentação da prestação de contas; implantação dos CAEs de maneira inadequada; dificuldade de compra de gêneros alimentícios dos agricultores familiares locais e da região, em função das limitações legais impostas pelos Tribunais de Contas dos Estados. Ainda sobre os Conselhos de Alimentação Escolar, o efetivo cumprimento de suas atribuições continua sendo um dos grandes desafios do PNAE. Existem municípios em que os CAEs são simplesmente figurativos, criados e mantidos unicamente pelo fato de ser pré- requisito para o recebimento dos recursos do programa (BADUE; CHMIELEWSKA, 2011). Até mesmo a extensão do município é apresentada como um desafio do programa. Em grandes cidades, o desenho descentralizado do PNAE, não tem se apresentado como o de maior funcionalidade para promoção do desenvolvimento local e, consequente geração de estímulo à pequena produção agropecuária (BELIK; SOUZA, 2009). A razão para o programa apresentar um maior desafio de execução nos grandes municípios e regiões metropolitanas, tanto para os gestores quanto para os agricultores, está nas características específicas destes. Características como o elevado grau de urbanização e de alunos matriculados, porção territorial reservada à agricultura pequena ou inexistente, bem como um número reduzido de agricultores (SANTOS; EVANGELISTA; OLIVEIRA, 2012). 33 Ao se refletir sobre um programa de tamanha abrangência quanto o PNAE, não é possível deixar passar despercebida a questão informacional. A informação é muito importante seja para o acesso dessa política pública pelos municípios, pelos agricultores familiares e suas organizações, quanto para boa execução do programa e sua consequente fiscalização. O acesso a informação também tem sido um desafio apresentado no âmbito do programa. Agricultores se queixam de que não há ampla divulgação das chamadas públicas, pois muitas são divulgadas apenas pelo site das prefeituras e Diário Oficial. E, que quando se tem acesso a chamada pública, ela não apresenta com clareza qual o padrão de qualidade exigido para os produtos nem o prazo para assinatura do contrato, assim como não tem o cronograma de entregas exposto, o que causa dificuldades aos produtores (MALINA, 2012). Outro desafio consiste na unificação de informações a respeito da compra da agricultura familiar e sua disponibilização pública para que o controle social seja exercido por mais instituições e pessoas. Assim como não existe uma ferramenta para controle e gerenciamento das informações em relação à quantidade de agricultores que acessam ao PNAE e de projetos elaborados, valores envolvidos, percentuais alcançados, etc. (BADUE; CHMIELEWSKA, 2011). Embora ainda haja muitos desafios a serem superados, o PNAE constitui-se igualmente como um programa de bons resultados. Ele contribui tanto do ponto de vista social quanto do nutricional e econômico quando fomenta a aproximação entre agricultores familiares e consumidores, conectando campo e cidade. O que o torna uma alternativa de auxílio no enfrentamento dos problemas atinentes ao consumo e a produção de alimentos (PAULA; KAMIMURA; SILVA, 2014). Fortunati (2008) faz referência ao PNAE como um dos maiores e mais importantes programas de alimentação das classes mais carentes do mundo. Uma vez que tem obtido índices surpreendentes no que se refere à contribuiçaõ nutricional de grande parte da população. Pois existem mais de 54 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha da pobreza e a escola pública consegue atender a quase a totalidade desta
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