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Atendimentos Breves fenomenologia

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Atendimentos Breves
 
Módulo 1
 
Definição de aconselhamento psicológico:
 
Bibliografia obrigatória:
SCHMIDT, M. “O nome, a taxonomia e o campo do Aconselhamento Psicológico.” In: MORATO, H. et al. (orgs.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial, cap. I.
  
Rogers é um autor que não fazia distinção entre aconselhamento psicológico e psicoterapia, pois considerava que ambos consistiam em contatos diretos com o indivíduo, com o objetivo de lhe proporcionar mudanças significativas em suas atitudes e comportamentos, contatos estes que se fundamentavam numa relação facilitadora do desenvolvimento psicológico do indivíduo.
Apesar disso, porém, predomina a tendência de se fazer a discriminação entre psicoterapia e aconselhamento enquanto atividades diferentes.
O aconselhamento psicológico é uma prática exclusiva de psicólogos, que se caracteriza por se centrar nas potencialidades e nos aspectos saudáveis dos indivíduos, não nas suas fragilidades ou aspectos psicopatológicos. Além disso, o aconselhamento também tem como foco o modo como a pessoa se percebe e os projetos pessoais que quer realizar para desempenhar um papel social produtivo.
Dessa forma, questões de normalidade ou anormalidade psicológicas são insignificantes para o aconselhamento, já que este se concentra nas potencialidades do indivíduo, no sentido de lhe proporcionar um desenvolvimento psicológico o mais amplo possível. No entanto, é preciso destacar que em psicologia a normalidade é extremamente difícil de ser conceituada, porque há várias significações e conotações possíveis.
Pode-se também caracterizar o aconselhamento como um atendimento psicológico em períodos de crise, no qual o objetivo é facilitar as escolhas do indivíduo na situação que vive, escolhas essas das quais depende seu desenvolvimento posterior.
Assim, esse atendimento está voltado a questões situacionais, ao apoio e à prevenção, mais comumente dirigido à solução de problemas.
No entanto, como assinala Schmidt logo no início de seu texto, aconselhamento tem dois sentidos: pode indicar os significados de sugestão, recomendação e orientação, mais próximos ao sentido de aconselhamento na perspectiva tradicional; pode ainda denotar a situação em que várias pessoas se reúnem para pensar e decidir com justeza a respeito de algo de seu interesse, o que se aproxima da definição de Rogers da relação de ajuda presente tanto no aconselhamento quanto na psicoterapia.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados pelas autoras, em defesa de suas teses.
 2) A partir da leitura, procure definir aconselhamento psicológico. Confronte se sua definição está de acordo com a que as autoras apresentam: aconselhamento psicológico é um atendimento psicológico que se diferencia da psicoterapia. É mais própria para períodos situacionais de crise, tem uma duração mais curta que a psicoterapia e não leva em conta a questão da normalidade ou da psicopatologia, mas a capacidade do indivíduo de lidar com as questões que o afligem.
 3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Com relação ao aconselhamento psicológico podemos dizer que:
I) É um atendimento que se diferencia da psicoterapia para a maioria dos autores; no entanto, para Rogers, o aconselhamento não se distingue da psicoterapia, já que ambos têm como objetivo o desenvolvimento psicológico do indivíduo;
II) É um atendimento que tem como foco a cura dos aspectos psicopatológicos do indivíduo;
III) É um atendimento que é mais adequado às situações de crise, para facilitar as escolhas do indivíduo.
Estão corretas as afirmativas:
a) I e II;
b) I e III;
c) II e III;
d) Todas estão corretas;
e) Nenhuma está correta.
Se você compreendeu adequadamente o conteúdo estudado, você terá assinalado a alternativa c.
 
História do aconselhamento psicológico:
 
Bibliografia obrigatória:
SCHMIDT, M. “O nome, a taxonomia e o campo do Aconselhamento Psicológico.” In: MORATO, H. et al. (orgs.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial, cap. I.
 
O aconselhamento psicológico nasceu nos anos 30 do século passado nos Estados Unidos como especialidade e área de atuação e saber do psicólogo. Em seu início estava estreitamente ligado à orientação vocacional e à psicometria, principalmente à pesquisa sobre testes vocacionais, como os de aptidões
A teoria que lhe deu origem foi a Traço e Fator, cujas concepções de natureza humana e do processo de aconselhamento psicológico fundamentavam-se na Educação. O processo, assim, não era clínico.
Essa teoria partia do pressuposto que o aconselhamento deveria se centrar num processo educativo do aconselhando, cuja meta era a solução de problemas específicos do indivíduo nas áreas educacional e profissional, através do desenvolvimento de atitudes e comportamentos condizentes com as normas sociais vigentes.
Williamson, um dos expoentes do aconselhamento psicológico na Teoria Traço e Fator, define-o como um atendimento que auxilia o indivíduo a aprender determinadas matérias escolares, condutas adequadas de cidadania, valores sociais e todos os outros hábitos, habilidades, atitudes e crenças que constituem um ser humano normal. Em outras palavras, o processo teria o objetivo de eliminar ou modificar comportamentos considerados inadequados, tanto os sociais quanto os educacionais. A mudança de comportamento e atitudes, segundo o autor, seria satisfatória para o aconselhando e para a sociedade em que vivia.
Nesse sentido, segundo Schmidt, a Teoria Traço e Fator, articulada à vertente experimental dos estudos psicométricos, deu à sua prática de aconselhar, que está enraizada no sendo comum, uma aura de cientificidade, e abriu espaço para o atendimento psicológico, diferente da psicoterapia.
Esta, que não era prática de psicólogos, mas de médicos, fundamentava-se na psicanálise. Tinha como público indivíduos que sofriam de distúrbios psicológicos mais graves. Inscrevia-se no eixo saúde/doença psicológicas, ao invés do eixo ajustamento/desajustamento preconizado pelo aconselhamento. Além disso, tinha uma duração mais prolongada.
Em 1942, Rogers publica o livro Aconselhamento e Psicoterapia, lançando as bases da primeira fase de suas ideias e prática: a terapia não-diretiva. A não-diretividade é geralmente associada à total não interferência do terapeuta ou conselheiro no processo do cliente.
No entanto, precisamos compreendê-la no contexto em que foi gerada, isto é, como uma oposição ao processo de aconselhamento na Teoria Traço e Fator, que era prepotente e autoritário, já que o lugar do conselheiro nessa teoria era o de mostrar ao aconselhando “o caminho certo” a seguir para modificar comportamentos desajustados e desadaptados socialmente.
Contrapõe-se a isto o conselheiro rogeriano, que era “um ouvinte interessado e compreensivo, que, pela técnica da reflexão, queria proporcionar que a esfera de exploração pessoal do cliente ou aconselhando se configurasse o mais proximamente possível de suas vivências e percepções atuais e conscientes.” (Schmidt, p. 5).
Com suas ideias, Rogers eliminou a tradicional distinção entre aconselhamento e psicoterapia. Apesar disso, a clássica divisão entre eles continuou, até porque o primeiro era mais afeito ao atendimento em instituições, enquanto a psicoterapia ficava circunscrita aos consultórios particulares, praticada por profissionais autônomos.
Essa situação perdurou até a década de 90 do século passado quando se começou a fazer uma ressignificação do campo do Aconselhamento Psicológico, como um campo de práticas nas quais há a abertura para se responder à pluralidade e à singularidade das demandas dos clientes.
Isto requer que os clientes sejam compreendidos a certa distância das classificações psicopatológicas. Requisita também uma perspectiva interdisciplinar dos fenômenos socioculturais que dão forma às demandas por ajuda psicológica.
Pede, além do mais, um diálogo com o saber popular, próprio da clientela,o que tira do psicólogo seu lugar de especialista e o coloca no lugar de um facilitador, que reconhece o direito do outro a seu próprio modo de sentir, pensar e agir. Dessa forma, cria as condições para a possibilidade de que o cliente faça suas próprias escolhas.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de suas teses.
 2) A partir da leitura, procure definir as características da Teoria Traço e Fator. Confronte se sua definição está de acordo com a que Schmidt apresenta: como uma teoria que se fundamentava na educação e que tinha como finalidade a solução de problemas específicos.
 3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Historicamente, a Teoria Traço e Fator foi aquela que deu origem ao Aconselhamento Psicológico, tendo surgido nos Estados Unidos, nas primeiras décadas do século XX. Com relação a aconselhamento nessa teoria, assinale a alternativa incorreta:
a) Era um atendimento clínico;
b) Estava ligado à psicometria;
c) Pretendia resolver problemas específicos do indivíduo;
d) Estava ligado à Orientação Vocacional;
e) Abriu campo de trabalho para o psicólogo.
 Se você compreendeu adequadamente o conteúdo que estudou terá assinalado a alternativa a. O aconselhamento nessa teoria era um processo educativo, não clínico.
 
Perspectivas teóricas em aconselhamento psicológico:
 
Bibliografia obrigatória:
SCHMIDT, M. “O nome, a taxonomia e o campo do Aconselhamento Psicológico.” In: MORATO, H. et al. (orgs.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial, cap. I.
 
Nesse item estudaremos duas teorias de aconselhamento: a Teoria Traço e Fator e o aconselhamento em Rogers. Embora haja outras – estudaremos o aconselhamento na abordagem fenomenológica existencial no módulo - , essas duas são fundamentais: a primeira porque foi a teoria inaugural do aconselhamento psicológico; a segunda por ter transformado esse tipo de atendimento em uma prática clínica.
A Teoria Traço e Fator parte do pressuposto de que há interdependência entre indivíduo e meio social, o qual influencia a formação do indivíduo, além dos fatores endógenos e constitucionais.
Nessa perspectiva o ser humano nasce com potencialidade tanto para o bem como para o mal. Deve, pois, educar-se para desenvolver suas potencialidades para agir corretamente, tanto em relação a si próprio como também, e principalmente, com relação à sociedade em que vive, para ter as condutas adequadas de um bom cidadão. As potencialidades humanas necessitam de cuidados e assistência para serem desenvolvidas plenamente.
Dessa forma, a clientela do aconselhamento nessa teoria eram jovens que tinham problemas em relação à vida acadêmica (como dificuldade de aprendizagem); profissional (como a desadaptação no trabalho); ou de conduta social (delinqüência, desajustamentos).
O processo de aconselhamento baseava-se num psicodiagnóstico fundamentado principalmente nos resultados de testes psicológicos, e em entrevistas com o aconselhando, seus pais e outros (como professores, colegas).
Na última etapa, o de aconselhamento propriamente dito, o conselheiro, que era considerado um educador, utilizava técnicas de convencimento e sugestão, no intuito de persuadir o jovem aconselhando a mudar sua conduta e comportamento. Dessa forma, nessa teoria a relação era racional. O conselheiro só lidava com emoções e sentimentos de seu cliente na medida em que estes interferissem na capacidade de “bem pensar” do indivíduo.
Rogers subverte essa posição. Para esse autor, o ser humano tem a tendência a atualizar suas potencialidades inatas e possui dentro de si os recursos necessários para isso. Assim, seguindo a tendência à atualização, o próprio cliente sabe o que é melhor para si mesmo.
Houve três fases no pensamento e na prática de Rogers: a terapia não-diretiva, contraposição à Teoria Traço e Fator; a Terapia Centrada no Cliente; e a Abordagem Centrada na Pessoa, que será tema do próximo módulo de estudo.
A terapia não-diretiva se centrou na pessoa total do cliente em vez de o processo de aconselhamento focar o problema; em vez de visar ao resultado, priorizava o próprio processo. Ponto fundamental da prática rogeriana nessa fase era que o conselheiro usava da técnica de reflexão, isto é, apenas repetia o que o cliente dizia com o colorido afetivo com que este se expressava.
Essa técnica acabou se banalizando e foi criticada e ridicularizada. Por causa disso, Rogers fez uma revisão de seu pensamento e prática, o que deu origem ao segundo período de seu trabalho: a Terapia Centrada no Cliente.
Essa fase foi marcada pela elaboração das atitudes pessoais do conselheiro que facilitavam o processo de atualização das potencialidades do cliente: a compreensão empática, a congruência e a atenção positiva incondicional, atitudes que eram condições necessárias e suficientes para que a mudança no cliente acontecesse.
O que possibilitava a mudança no cliente era a aprendizagem significativa, um tipo de aprendizagem que integra a dimensão cognitiva à afetiva, e que não provinha da tarefa educativa do conselheiro, mas do próprio cliente, na medida em que podia entrar em contato consigo mesmo.
 Módulo 2
 
A Abordagem Centrada na Pessoa
 
Bibliografia obrigatória:
 
SCHMIDT, M. “O nome, a taxonomia e o campo do Aconselhamento Psicológico.” In: MORATO, H. et al. (orgs.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial, cap. I.
 
A Abordagem Centrada na Pessoa, que se iniciou na década de 70 do século passado, última fase dos estudos teóricos e da prática de Rogers, se caracterizou pela ampliação da prática clínica rogeriana para grupos e outros contextos, como a educação e a área gerencial em empresas, por exemplo.
O que possibilitou essa expansão foi a transposição da relação terapêutica, fundamentada nas atitudes básicas do terapeuta, a qual tinha sido elaborada na Teoria Centrada no Cliente no contexto de relação dual, para os contextos coletivos, aos quais Rogers passou a dedicar-se com grande interesse. Sua atenção aos fenômenos grupais e coletivos adveio do fato de ele ter deixado de considerar que a psicoterapia seria mobilizadora de mudanças sociais.
Na esteira dessa transposição o que aconteceu é que o facilitador, que na Terapia Centrada no Cliente era um psicólogo na relação com seu cliente, poderia ser um outro profissional, como o professor na relação com seus alunos, ou um gerente na relação com sua equipe. Bastava para tanto que tivessem as atitudes básicas nessa relação, criando as condições para a aprendizagem significativa e a mudança.
Dessa forma, estendeu o que era privativo da psicoterapia e do aconselhamento (que não via como processos diferentes) para quaisquer âmbitos das relações interpessoais em que estão em jogo as relações de ajuda. Estas podem ser compreendidas como aquelas em que uma pessoa tenta ajudar outra ou outras a se desenvolverem psicologicamente, isto é, a atualizarem plenamente suas potencialidades para serem a si mesmos.
A relação de ajuda, então, não se dá exclusivamente entre o psicólogo e seu cliente, mas também acontece entre outros profissionais e sua clientela específica ou até entre leigos, como entre pais e filhos ou um casal.
Ela proporciona a aprendizagem significativa. Assim, a proposta de Rogers se distanciou dos objetivos educacionais da Teoria Traço e Fator, bem como do modelo médico-curativo presente na psicoterapia psicanalítica. Pela aprendizagem significativa, como já dissemos anteriormente, o indivíduo, ao integrar aspectos cognitivos e afetivos por si e em si mesmo, tem uma experiência autoreveladora, o que produz mudança na consciência, nas condutas e atitudes.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure definir as características da Abordagem Centrada na Pessoa. Confronte sua definição está deacordo com a que Schmidt apresenta: como uma abordagem que preconiza a mudança através da experiência de aprendizagem significativa vivida em relações de ajuda.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A Abordagem Centrada na Pessoa parte do pressuposto que a aprendizagem significativa acontece numa relação de ajuda, o que significa que o facilitador tem para com o outro ou outros atitudes de compreensão empática, congruência e atenção positiva incondicional. Para essa abordagem clínica, o facilitador pode ser:
 
I) Um psicólogo em sua relação com seu cliente ou com um grupo;
II) Um professor na relação com seus alunos;
III) Um gerente na sua relação com sua equipe de trabalho;
IV) Uma mãe na relação com seus filhos;
 
Estão corretas as airmativas:
 
a) I, II, III e IV;
b) I, II e III;
c) I, II e IV;
d) II, III e IV;
e) I e IV.
 
Se você compreendeu corretamente o conteúdo do texto estudado, terá assinalado a alternativa a.
 
 
O Aconselhamento na Abordagem Centrada na Pessoa e seu desenvolvimento recente
 
Bibliografia obrigatória:
SCHMIDT, M. “O nome, a taxonomia e o campo do Aconselhamento Psicológico.” In: MORATO, H. et al. (orgs.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial, cap. I.
 
Como ficamos sabendo no item anterior, o psicólogo na Abordagem Centrada na Pessoa é um facilitador. Como bem diz Schmidt, a função do facilitador “é informada pela capacidade de viver e traduzir em palavras e gestos, enfim, pela sua presença pessoal, as atitudes básicas” (Schmidt, p. 7): a compreensão empática, a congruência e a atenção positiva incondicional.
Dessa forma, questiona e reflete sobre o poder do especialista nas relações de ajuda. Para Rogers, esta é uma posição política, que em seu pensamento está circunscrita às relações interpessoais entre os indivíduos, que são entendidas como relações de poder. Para ele, o facilitador é uma pessoa que se define politicamente pelo compartilhamento e/ou o abandono do poder de controle sobre outros e da tomada de decisão a respeito do que é melhor para os outros.
No campo do Aconselhamento Psicológico suas ideias levaram à crítica e rompimento com posições autoritárias e de controle sobre o outro. Isto significou o abandono, por parte do psicólogo, do lugar de especialista e seu dispositivo de conhecimento.
Rogers tinha uma concepção individualista de ser humano. Era o indivíduo como portador de capacidades ou sintomas que se destacava contra o pano de fundo da sociedade, vista como um todo harmônico e orgânico.
Assim, não pensava em relações institucionais, que foram matéria de reflexão da análise institucional a partir da década de 60 do século passado, mas em relações interpessoais e o poder pessoal que se davam nas instituições, isto é, no indivíduo nas instituições. Isso é importante na medida em que o Aconselhamento Psicológico desde sua origem é uma prática cuja vocação é o atendimento em instituições.
A partir da década de 90, ainda baseando-se no enfoque dado por Rogers ao aconselhamento na Abordagem Centrada na Pessoa, mas não aprisionado a ele, o Aconselhamento Psicológico foi reconfigurado, notadamente por profissionais que integram o Serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia da USP.
O Aconselhamento Psicológico contemporaneamente está, com diz Schmidt, num espaço de fronteira entre a clínica psicológica e a educação, num “entre-lugares”, mas não é um nem outro. É um espaço de abertura no qual “algo” pode emergir e delinear-se sem se que saiba a priori o que será.
Na realidade, o Aconselhamento Psicológico define-se atualmente como um campo de práticas aberto a responder à singularidade e diversidade de demandas da clientela. Responder a elas pede criatividade por parte dos psicólogos, requer invenção de práticas que vão ao encontro de tais demandas.
Requisita também do profissional uma perspectiva de seu trabalho a partir de uma posição “instável”, que procura articular o já conhecido e o novo; o conhecimento científico próprio à Psicologia aos conhecimentos de outras áreas, como a Sociologia, a Antropologia e a Filosofia, e ao saber do senso comum, mais próprio dos clientes.
 
Módulo 3
A ética na prática do aconselhamento psicológico em instituições:
ROSENBERG, R. L. “Palavras sobre ética” In: ROSENBERG, R. L. (Org.) Aconselhamento Psicológico centrado na pessoa. Cap. 7, pp. 84-88.
 
No atendimento psicológico em instituição é preciso que o psicólogo questione os objetivos e as consequências do atendimento que presta. Isto quer dizer que deve estar atento, para além do que é explícito, a quem ou ao que interessam suas práticas. Assim, estas não devem estar a serviço da manutenção da própria instituição, da discriminação do outro, da valorização do profissional ou às normas sociais predominantes.
Embora com boas intenções, o psicólogo pode, se não for cuidadoso, “rotular” seu cliente, patologizando seu comportamento, suas atitudes ou modo de ser; assim, uma pessoa assustada pode ser vista como neurótica; uma criança “com energia para dar e vender”, chamada de hiperativa.
O psicólogo, ao fazer isto, usa seus conhecimentos para conservar seu poder sobre o cliente, enquanto aquele que tem a autoridade e o mandato social para diagnosticar, definir quem é o outro, corrigi-lo, ajustá-lo ou curá-lo, para que este esteja dentro das condutas socialmente esperadas.
Porém, o que é esperado socialmente são os comportamentos e atitudes que são humanamente construídos e definidos pelas instituições, tais como a família e a escola.
Dessa forma, a conduta ética do profissional implica não aceitar passivamente as queixas que lhe são feitas por indivíduos hierarquicamente superiores, por idade, sexo ou cargo profissional, por exemplo.
Ao contrário, ao visar o bem-estar psicológico dos indivíduos, o psicólogo precisa, antes de tudo, abrir mão de conhecimentos prévios, para olhar para a situação como um todo e para as relações humanas mantendo-se fora do jogo de poder para não ser um instrumento de coação nem de preconceitos.
O lugar ético do psicólogo é dispor-se a uma relação aberta à liberdade de autodescoberta, criatividade e experiência do cliente, sem julgá-lo ou conduzi-lo; assim, escuta-o e intervém, mas tendo em vista fundamentalmente a busca do indivíduo por uma existência mais autêntica, o que difere de critérios como os de felicidade, ajustamento ou normalidade.
As questões do indivíduo não são para serem resolvidas ou solucionadas pelo psicólogo; este, dessa forma, não deve pensar ou decidir por aquele. As soluções encontradas pelo cliente para seus problemas são muito mais satisfatórias que as vindas do profissional, que não é o detentor de um saber absoluto.
Assim, a conduta ética em aconselhamento psicológico é a abertura à alteridade, à variedade das vivências e experiências do outro. O lugar do psicólogo é estar junto delas e facilitar que o outro se aproprie delas. O poder que o profissional pode exercer é sobre as suas próprias experiências e vivências, é responsabilizar-se por si mesmo como ser humano.
 
O aconselhamento na fenomenologia-existencial: cuidar de ser
Bibliografia obrigatória:
 
SCHEEFFER, R. Teorias de aconselhamento. Cap. 4: “O aconselhamento existencial.”, pp. 69-81.
 
Bibliografia para aprofundamento:
ALMEIDA, F. “Aconselhamento Psicológico numa visão fenomenológico-existencial: cuidar de ser.” In: MORATO, H. T. P. (Coord.) Aconselhamento psicológico centrado na pessoa, cap. 2.
 
 
Para Heidegger, o ser do homem se constitui no cuidado. Isto só é possível se entendermos o ser do homem enquanto Dasein (ser-aí), quer dizer, enquanto existência.
Existir, tal como a fenomenologia-existencial heideggeriana o compreende, significa apreender e responder a tudo o que se apresenta ao homem, concepção que está em oposição ao modo como a metodologia lógico-científica apreende o homem, isto é, como essência, o que o aprisiona.
Em Ser e Tempo, Heidegger questiona a compreensão de ser que, desdeos filósofos gregos, é a da civilização ocidental. Nessa obra, fica explícita a questão do ser do homem, já que ele é o único ente que ser pergunta sobre o ser.
Contrariamente à tradição de pensamento ocidental, o ser dos entes não é mais apreendido numa acepção conceitual, e a razão não é mais critério de diferenciação entre o ser do homem e o dos demais entes. O homem é compreendido como aquele que se dá conta e responde ao ser no modo como o ente se apresenta, seja ele uma coisa, um outro ou si mesmo.
O homem é o lugar do ser, o “aí” da manifestação do ser, pois sem ele o ser dos entes não teria a quem se apresentar. Assim, o homem é ser-no-mundo. Mundo, nesta acepção significa a trama de relações significativas, na qual os entes se mostram. Assim, ser e mundo são constitutivos do ser do homem. Já os outros entes são, segundo Heidegger, intramundanos, quer dizer, estão no mundo.
Tudo o que é está sob a perspectiva humana. Dessa forma, o ser dos entes está sob a responsabilidade do homem, que cuida de ser cuidando dos entes com os quais se defronta. Também é responsável pelo modo como viver sua vida, que não é determinada, mas é uma possibilidade.
Ser-no-mundo também significa ser-com, uma vez que o homem convive no mundo com outros, que estão presentes no modo de ser cotidiano, em que o ser-aí, é sempre “alguém”, ou seja, ele responde, como todos os outros, às solicitações que lhe vem ao encontro. Este é o modo de existência impessoal, em que o homem está perdido de si mesmo.
O Dasein, (ou ser-aí) termo com que Heidegger designa o ser humano também é constituído por outros modos de ser originários, como o encontrar-se e o compreender.
O encontrar-se, que constitui o ser humano ontologicamente, corresponde aos estados de humor que mostram como o homem está em sua existência. Isto quer dizer que o homem é afetado por tudo o que lhe vem ao encontro em sua existência; isto também diz de como o homem está sendo no mundo.
O modo como compreendemos as coisas se dá antes pelo afeto que pela razão. Isto quer dizer que o mundo sempre se abre para nós, seres humanos, pela emoção. Porém, ao mesmo tempo a emoção também está inscrita na realidade que é o mundo. Assim, é a afetividade que, por um lado, mostra a realidade e, por outro, evidencia aquilo de que o ser humano foge ou que está em busca, enquanto cuida de ser. Em seu cotidiano, em que o homem está absorto em sua ocupação, ele é como que enlaçado, tomado pelas emoções que mostram as coisas como elas aparecem.
O compreender também é outra condição originária do ser homem, a qual tem uma relação de circularidade com a condição do encontrar-se. Isso é assim na medida em que todo encontrar-se pressupõe uma certa compreensão a respeito do mundo, uma vez que a cada modo específico de afetação um mundo específico nos é dado a ver. Por outro lado, toda compreensão é constituída por um dado afeto ou estado de ânimo Tal compreensão é anterior à reflexão, ao conhecimento cognitivo.
A compreensão se dá sempre numa dada perspectiva na qual o homem se localiza. Mas o homem, que é ser-aí, é possibilidade de ser assim como o que o homem compreende. Mas isto se dá segundo determinadas possibilidades abertas pelo mundo no qual vive.
Na cotidianidade a compreensão se dá no modo da impessoalidade, isto é, a compreensão e a interpretação dada ao ser das coisas é aquele que “todo mundo” tem. Isto significa que o homem se afasta de si mesmo, absorvido no mundo, pelo movimento de queda, isto é, “arrancados de nosso poder ser próprio e lançados na impropriedade do impessoal.” (p. 50). Mas existe a possibilidade do homem cuidar de ser no modo da autenticidade, que veremos no próximo item.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pelo autor, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure definir o cuidar de ser na cotidianidade, isto é, no modo de ser impróprio. Confronte sua definição com a que Almeida apresenta: cuidar de ser na impropriedade é o modo de ser como “todo mundo”, em que o homem está fechado para si mesmo e para suas possibilidades mais próprias, mais autênticas.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
No texto que estudamos Almeida apresenta a concepção de homem de Heidegger, que o chama de Dasein, e as estruturas ontológicas ser-no-mundo, ser-com, encontrar-se, compreender e cuidado. A respeito dessas estruturas na cotidianidade podemos dizer que:
I) Ser-no-mundo significa que o homem não pode ser sem mundo, sendo este uma trama de relações significativas na qual as coisas podem aparecer enquanto tais. Na cotidianidade os entes intramundanos são instrumentos dos quais se serve para determinados fins;
II) Ser-com é a estrutura que diz respeito à convivência com outros no mundo. Isto significa que no cotidiano os outros estão sempre presentes;
III) O encontrar-se é a condição originária que se expressa pelos estados de humor e as emoções, que revelam como o homem está sendo em sua existência. Na cotidianidade, absorvido no mundo de sua ocupação, o estado de ânimo em que se encontra provém do mundo;
IV) Compreender é a condição ontológica que está intrinsicamente ligada ao encontrar-se. Ela diz respeito ao modo como as coisas são captadas pelo olhar do homem, captação esta que é pré-reflexiva. Na cotidianidade, a compreensão se dá pelo modo da impropriedade, isto é, pelo modo como todo mundo compreende;
V) Cuidado, como estrutura originária do ser do homem, é aquela em que o homem tem a sua vida sob sua responsabilidade ou tutela. No cotidiano, o cuidar de ser projeta na queda, na absorção no mundo, e se perdendo de si mesmo e de suas possibilidades de ser mais autênticas.
 
Estão corretas as afirmativas:
a) I, II e III;
b) I, III e IV;
c) II; IV e V;
d) III, IV e V;
e) I, II, III, IV e V.
 
 
Se você compreendeu corretamente o texto terá assinalado a alternativa e.
 
 
Angústia e cuidado
 
Bibliografia obrigatória:
 
ALMEIDA, F. “Aconselhamento Psicológico numa visão fenomenológico-existencial: cuidar de ser.” In: MORATO, H. T. P. (Coord.) Aconselhamento psicológico centrado na pessoa, cap. 2.
 
 
 
 
 
Vamos ver agora a angústia, afinação básica que leva à propriedade ou autenticidade, que desemboca no cuidado.
O homem vive sempre em situação, e nas situações que vive o homem é sempre a fim de si mesmo com seu projeto último. Isto significa que a autenticidade é destinação humana, mesmo quando, na queda, o homem é absorvido no mundo de sua ocupação.
Por outro lado, o ser foi dado ao homem como sua responsabilidade, como uma tarefa que não está pronta e que deve ser realizada.
O Dasein é aberto a si mesmo num encontrar-se compreensivo. Os estados de humor, os afetos sempre nos colocam diante de algum ente intramundano; o único afeto que coloca o homem diante de si mesmo é a angústia, diferente da queda, em que, absorvido no mundo e nos outros, o Dasein fecha-se para si mesmo, foge de si mesmo, o que o impede de ser a si mesmo autenticamente.
Medo e angústia são fenômenos similares. No medo foge-se de um ente intramundano; na queda, o Dasein foge de si mesmo em direção ao mundo e aos entes intramundanos; assim, estes, na queda, não são temíveis como no medo, e o homem se deixa absorver por eles e pelo mundo.
Partindo-se do pressuposto que ser-no-mundo é originário de ser humano, a angústia é um afeto que se tem diante do próprio ser-no-mundo, e não qualquer ente intramundano. Por isso, na angústia o mundo passa a não ter mais o significado que antes tinha. Ele e a coexistência com outros perdem o sentido.
A angústia coloca o homem diante de seu poder-ser-no-mundo de um modo mais próprio, mais autêntico; abre, dessa forma, a possibilidade da singularidade, que só pode vir de si mesmo.
Ela também mostra que o mundo é inóspito, que não é tão familiar como se acredita quando se vive a impropriedade. Assim, pode-se compreender a queda como aquele movimento em direção ao mundo em que este é percebidocomo familiar e hospitaleiro.No entanto, esta cotidiana familiaridade é um velamento da inospitalidade do mundo, e angústia existe em estado latente no ser-no-mundo.
Assim, a angústia, na cotidianidade, é oculta e mostra-se como temor; o temor é angústia imprópria. É a angústia que tira o homem da queda e lhe mostra que a propriedade e a impropriedade são possibilidades em relação a seu poder-ser.
Poder-ser a si próprio sempre significa ser o que já se é; isto quer dizer que nenhum homem pode vir a ser o que ele não é previamente. Entretanto, o que um homem poderá ser sempre está além do que ele é atualmente.
Como vimos o homem é ser-no-mundo, onde está em relação com os entes intramundanos e convive com outros. Ele está sempre afim de si mesmo e vai em direção a seu poder-ser.
O cuidado é uma totalidade estrutural originária do Dasein, que se é anterior a qualquer comportamento, conduta ou atitude específica do homem. Cuidado significa que o Dasein cuida de ser enquanto cuida dos entes intramundanos enquanto instrumentos e dos outros, no modo da solicitude. Assim, o cuidado, no sentido heideggerio, é um todo articulado.
Pensando-se no aconselhamento psicológico na abordagem fenomenológico-existencial, podemos dizer que tem como objetivo o cuidado do homem consigo mesmo, com os outros e com o mundo de um modo próprio, o que necessariamente passa pela angústia, pela sida da queda em que o homem se encontra na cotidianidade.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pelo autor, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure definir angústia e cuidado. Confronte sua definição com a que Almeida apresenta: angústia é uma afetação básica que singulariza o homem, na medida em que o retira da queda, em que está absorvido no mundo e nos outros; cuidado, um todo estrutural articulado, em que o homem cuida de ser quem é enquanto cuida dos entes intramundanos e dos outros com quem convive no mundo. O cuidado pode ser impróprio ou próprio.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Assinale a alternativa incorreta:
 
Para a Daseinsanalyse a angústia é uma modalização do encontrar-se humano, que:
a) Expõe ao Dasein a inospitalidade do mundo, cuja familiaridade é ilusória;
b) Abre ao Dasein a si mesmo, retirando-o da queda em que vive na cotidianidade;
c) Desvela ao Dasein suas possibilidades mais próprias de poder-ser;
d) Torna o mundo e a convivência com outros sem sentido;
e) Apresenta ao Dasein o significado dos entes intramundanos em sua instrumentalidade.
 
Se você compreendeu adequadamente o texto lido você terá assinalado a alternativa e. Esta alternativa está errada porque o significado dos entes intramundanos em sua instrumentalidade é dado na cotidianidade, em que as coisas são instrumentos para o homem.
 
Atitude do terapeuta no aconselhamento fenomenológico
 
 
Bibliografia obrigatória:
SPANOUDIS, S. (1997) “A tarefa do aconselhamento e orientação a partir da daseinsanalyse.” Revista da Associação Brasileira de Daseinsalnalyse, nos. 1, 2 e 4.
 
 
Bibliografia para aprofundamento:
 
 
BARRETO, C. “A ação clínica e a perspectiva fenomenológica existencial.” In: MORATO, H. T. P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa perspectiva fenomenológica existencial., cap. 3.
 
 
A fenomenologia-existencial é um método de compreensão do existir humano. No caso da Daseinsanalyse precisamos entender método em sua acepção original, etimologicamente falando. Método é um termo que vem do antigo grego META ÒDÓS. META quer dizer “após” e ÒDÓS significa “caminho”. Assim, a palavra método quer dizer “continuar um caminho que nos conduz a ver o nosso existir simplesmente como ele se mostra.” (p. 56).
Além disso, não podemos chamar a Daseinsanalyse de teoria, se entendermos teoria em sua noção tradicional de um conjunto sistematizado de ideias já pré-estabelecidas e baseadas em explicações causais e deterministas. No entanto, ela é uma teoria, se compreendermos esse termo como “plenitude de desvelamento”, tal como era seu significado original no grego antigo.
Dessa forma, a Daseinsanalyse não é uma teoria de sistema psicológico, mas um método para a compreensão do existir humano, que possibilita ver os fenômenos como eles se mostram e desvelar o sentido daquilo que encontramos.
Partindo da exposição acima, como podemos compreender o aconselhamento psicológico na fenomenologia-existencial? Qual é a atitude do terapeuta nessa abordagem ou método?
Em primeiro lugar é necessário atentarmos para o fato de que um atendimento psicológico só é possível porque o homem é originariamente um ser-com, isto é, faz parte de ser humano a co-existência com outros, e é só nessa co-existência que existe a possibilidade da autenticidade, como um modo de ser mais próprio. Isto significa que a autenticidade permite a saída da objetificação, da massificação do homem.
Se tomarmos a palavra aconselhar etimologicamente, veremos que tanto no Latim quanto no grego essa palavra traz o sentido de “junto”. Isto é fundamental para compreendermos que aconselhamento é algo que se faz junto com o outro. Dito isto, fica mais clara a concepção que a Daseinsanalyse tem de aconselhamento: “considerar algo, clarear e resolver algo junto com o outro” (p. 58).
Dessa forma, nos encontros de aconselhamento na abordagem fenomenológico-existencial, o terapeuta busca clarear junto com o cliente a totalidade dos significados e compreender como o outro se relaciona com as situações que vive, com as pessoas com quem convive e como está afinado, isto é, como se sente nas situações que experiencia, para que este busque seu modo mais próprio de ser.
 
  
Módulo 5
 
 
Diferenças entre psicodiagnóstico tradicional e o colaborativo
 
Bibliografia obrigatória:
YEHIA, G. Y. “Entre psicodiagnóstico e aconselhamento psicológico.” In: MORATO, H. T. P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa abordagem fenomenológica existencial: uma introdução. Cap. V, pp. 65-74.
 
 
O psicodiagnóstico tradicional traz a marca do modelo médico. Seu desenvolvimento contribuiu muito para a profissão do psicólogo, na medida em que este atendimento, bem como o estudo acerca dos testes psicológicos e sua aplicação são exclusivos desse profissional.
Em seus primórdios, o psicodiagnóstico estava intimamente atrelado à psicometria, que foi bastante influenciada pelo paradigma científico. O homem era visto como a soma de suas características, que eram passíveis de mensuração através dos testes.
Quanto à relação entre psicólogo e paciente, o profissional buscava a neutralidade científica. Não se envolvia na relação, procurando medir de maneira rigorosa as características de personalidade ou cognitivas do paciente. A análise dos dados obtidos era puramente quantitativa.
Com o tempo, surgiu o psicodiagnóstico fundamentado na psicanálise, em testes projetivos e em entrevistas psicológicas que a essa época já se haviam desenvolvido. A análise dos testes passou a ser interpretativa, mas a relação entre o psicólogo e o paciente continuou distanciada.
As críticas a essas duas concepções de psicodiagnóstico levou à criação do psicodiagnóstico colaborativo, no qual muda a relação entre o psicólogo e seu paciente, bem como o modo como são utilizados testes e a compreensão do que está sendo vivenciado.
Além de outras questões pertinentes, o que é importante salientar com relação ao psicodiagnóstico colaborativo é que o cliente sai de sua passividade para se tornar agente ativo e corresponsável pelo processo.
Assim, o psicólogo deixa de ser o especialista que é o detentor do conhecimento teórico e técnico e do saber a respeito do outro, para ser um facilitador de mudanças positivas no cliente, e de abertura de possibilidade de um leque maior de escolhas que proporcionem novas perspectivas de vida para o outro.
Psicólogo e cliente engajam-se, dessa forma, numa relação em que o primeiro está interessado em acompanhar o segundo num processo deautodiagnóstico. A consequência dessa nova postura é que o paciente se implica na resolução de seus próprios problemas e questões e “adquire maiores possibilidades de continuar acessando o significado de suas experiências”, (p. 66) depois de findo o processo. Assim, sente-se capaz de transformar suas descobertas em conhecimento pessoal – ao invés de obter informações advindas do psicólogo – para usá-lo para resolver problemas presentes e futuros.
 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure diferenciar o psicodiagnóstico tradicional do colaborativo. Perceba se sua diferenciação está de acordo com a que a autora apresenta: o psicodiagnóstico tradicional, seja baseado na psicometria, seja psicanalítico, está fundamentado em teorias e técnicas, e busca fazer uma averiguação rigorosa e neutra do cliente. Neste, o cliente é passivo e apenas recebe as informações que o psicólogo lhe passa ao final do processo.
No psicodiagnóstico colaborativo o que muda é a atitude do psicólogo na relação com o cliente. Embora os procedimentos sejam os mesmos do tradicional, no colaborativo as atitudes para com o cliente são diferentes nessas situações. O psicólogo engaja-se com o cliente numa relação em que ambos são corresponsáveis pelo processo e pela descoberta do que se passa com o cliente e da resolução de seus problemas.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Madalena é mãe de Renato, de cinco anos. Foi a uma entrevista com uma psicóloga, porque acha que seu filho precisa passar por um processo psicodiagnóstico, porque desde que seu irmão caçula nasceu, há um ano, Rodrigo começou a sofrer de enurese noturna e tem pedido de novo a chupeta, que deixara de chupar aos dois anos.
 
Se a psicóloga que a está atendendo se engajar num processo colaborativo com Madalena, ela vai:
 
I) Pedir informações a Madalena acerca da situação pela qual Renato está passando, tentando compreender o modo como fala de seu filho e chamando-lhe a atenção para isso;
II) Pedir que Madalena fale mais sobre o modo como vê a situação pela qual Renato está passando no momento e quais são os sentimentos pelo filho quando este faz xixi na cama e pede a chupeta para que a mãe possa se dar conta deles caso não tenha clareza deles;
III) Pedir que Madalena explicite o motivo pelo qual resolveu procurar ajuda psicológica neste momento, para tentar entender a “crise” na sua relação com o filho.
 
Está(ao) correta(s) a(s) afirmativa(s):
 
a) I;
b) II;
c) III;
d) I e II;
e) I e III.
 
Se você compreendeu corretamente o texto terá assinalado a alternativa d. A afirmativa III está errada porque saber o motivo pelo qual a mãe recorreu a uma ajuda nesse momento não é exclusiva do psicodiagnóstico colaborativo. A psicóloga neste caso está interessada em ter informações para si mesma, sem compartilhá-las com Madalena.
 
 
 
 
A abordagem fenomenológica existencial 
 
Bibliografia obrigatória:
 
YEHIA, G. Y. “Entre psicodiagnóstico e aconselhamento psicológico.” In: MORATO, H. T. P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa abordagem fenomenológica existencial: uma introdução. Cap. V, pp. 65-74.
 
A abordagem fenomenológica existencial é aquela que embasa a prática do psicodiagnóstico colaborativo. Esta é um método de pesquisa que se propõe a desvelar o fenômeno no modo mesmo como se apresenta.
Ser-no-mundo com outros significa que lidamos com as coisas a partir da compreensão pré-reflexiva que temos delas, compreensão esta em que as coisas já se mostram para nós com seu significado. E lidamos dessa forma com as coisas convivendo com outros nesse mesmo mundo que é uma trama de significados. A compreensão que temos é uma atitude natural cotidiana. Quando essa trama se rompe é que tentamos entender o que está acontecendo, e precisamos explicar por que algo não está funcionando e porquê.
Uma ideia central da fenomenologia é a intencionalidade, entendida por Heidegger como abertura ao outro. Isto significa que as coisas para nós sempre têm um sentido, mesmo que não damos conta dele racionalmente. Assim, temos sempre uma perspectiva pela qual enxergamos as coisas, interpretamo-las.
A interpretação é uma articulação da compreensão através da fala. A palavra é o que revela, tanto para o psicólogo quanto para o outro. É nela que o fenômeno aparece. É por ela que o psicólogo tem acesso à experiência do outro e à sua própria.
A noção de ser-com é fundamental na fenomenologia existencial. Ser humano é ser com outros, que estão co-presentes mesmo na solidão e no isolamento, que são modos deficientes de con-vivência.
Quando se está no cotidiano, na impessoalidade, está-se distante do outro. Um exemplo disso são as mães que só sabem falar de seu filho o que outros, a professora ou os vizinhos, por exemplo, dizem dele. Quando se está na impessoalidade tomamos as coisas como elas são, não nos envolvemos com as coisas como um eu, mas como “todo mundo”, como “a gente”. Sair do modo impessoal exige uma desconstrução, uma apropriação do que uma dada coisa significa para mim, na minha singularidade.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure explicitar a abordagem fenomenológica existencial Perceba se sua explicitação está de acordo com a que Yehia apresenta: um método de investigação em que compreendemos o fenômeno que queremos conhecer do modo como se mostra. A fenomenologia existencial concebe o homem como um ser-no-mundo no qual convive com outros.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A respeito das concepções da fenomenologia existencial assinale a alternativa correta:
I) Ser-no-mundo significa que o ser humano só existe numa trama de relações significativas, na qual as coisas têm seu significado. No mundo lidamos com as coisas pela serventia que elas têm para nós;
II) Ser-com significa que ser humano é conviver com outros no mundo. Para a fenomenologia existencial a solidão é um modo deficiente de convivência;
III) A compreensão é uma estrutura originária de ser humano, que é pré-reflexiva; isto quer dizer que as coisas sempre têm um significado para nós, mesmo que não tenhamos consciência dele.
 
Estão corretas as afirmativas:
 
a) Nenhuma está correta;
b) Todas estão corretas;
c) I e II;
d) I e III;
e) II e III.
 
 
A abordagem fenomenológica existencial no psicodiagnóstico colaborativo
 
Bibliografia obrigatória:
 
YEHIA, G. Y. “Entre psicodiagnóstico e aconselhamento psicológico.” In: MORATO, H. T. P. et al. (Coord.) Aconselhamento Psicológico numa abordagem fenomenológica existencial: uma introdução. Cap. V, pp. 65-74.
 
O fenômeno a ser desvelado, no caso do psicodiagnóstico é o que acontece com a criança que está passando pelo processo. Assim, mesmo que o terapeuta deva conhecer os processos psicológicos descritos e compreendidos por uma dada teoria, ater-se rigidamente a eles limita a compreensão da realidade do cliente e de suas experiências.
Dessa forma, no psicodiagnóstico a proposta é trazer à luz o que faz com que aquela criança singular, seus pais e seu contexto e dinâmica familiares apareçam de uma certa forma e não de outra. Mais que isto, é identificar junto àquela família da qual se está cuidando psicologicamente o que está em aberto e pode ser possibilidades novas e diferentes daquelas pessoas serem-no-mundo com outros. É dessa forma que o trabalho se torna interventivo.
Uma criança, quando vem ao psicodiagnóstico é interpretado de certa maneira por seus pais. No momento em que procuram um psicólogo é porque houve a quebra das expectativas de poderem se relacionar com seu filho da maneira como vinham fazendo, maneira essa que se mostrou infrutífera. Os pais têm uma compreensão pré-reflexivade seu filho e de sua relação com ele, compreensão essa que nem sempre é clara para os pais. Assim, cabe ao psicólogo ajudar esses pais a torná-la clara, e gerar neles, se possível, um sentimento de estranheza que abra novas possibilidades de compreensão que rompam com a rotineira. Além disso, é importante que o psicólogo também os ajude a se perceberem como pessoas, já que seu filho ocupa um lugar que faz parte de seu projeto de vida.
Nas entrevistas de psicodiagnóstico com os pais o objetivo é possibilitar que eles se distanciem daquilo que vivem no cotidiano para que o psicólogo possa compreender quais os pressupostos que regem a compreensão que eles têm de seu filho. É essa compreensão prévia que permite que o terapeuta possa interpretar fenomenologicamente o que se passa com a criança e com seus pai, o que significa buscar algo que está presente embora oculto.
Na relação entre psicólogo e paciente as intervenções visam a fazer com que os pais saiam do impessoal para apropriar-se da relação com seu filho e consigo mesmos.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure explicitar como a abordagem fenomenológica existencial fundamenta o psicodiagnóstico. Perceba se sua explicitação está de acordo com a que autora apresenta: o que acontece com a criança é compreendido e interpretado pelo modo como se mostra. Também é importante explicitar que as entrevistas são feitas de modo a aproximar todos os envolvidos da compreensão a respeito da criança, abrindo possibilidades de um novo olhar dos pais para seu filho e para consigo mesmos, de modo a poderem a se relacionar de modo diferente do costumeiro.
 
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Selma veio a uma entrevista com Jonas, um psicólogo, encaminhada pelo pediatra de sua filha Clara, de seis anos. O médico a encaminhou porque considera que a criança é excessivamente dependente de Selma para sua idade.
A menina não fica sem sua mãe na casa de outras pessoas, mesmo na de seus avós maternos, com quem tem intimidade. Não vai à casa de amigas da escola quando é convidada. Selma diz ao psicólogo que incentiva Clara a ficar sozinha, mas a criança diz ter medo de que algo vá lhe acontecer.
No meio da conversa Selma conta que Clara sofre de bronquite; assim, toma muito cuidado para que a filha não fique exposta a vento e para que se agasalhe, para não se resfriar.
Mais tarde, na conversa diz, emocionada, que havia tido outro filho antes de Clara, o qual morreu de meningite aos oito meses.
 
Diante do exposto acima o psicólogo:
 
a) Diz a Selma que ela precisa de terapia para elaborar o luto de seu filho que morreu, para não atrapalhar o desenvolvimento psicológico de Clara;
b) Pede informações detalhadas sobre como foi a doença de seu filho, para saber se ela foi negligente com a criança;
c) Diz à mãe que incentivar a menina a ficar sozinha é uma atitude inadequada e inútil, já que a criança tem medo;
d) Pede-lhe que fale sobre como compreende o medo da filha de ficar sozinha;
e) Pede-lhe que venha acompanhada de seu marido na próxima entrevista, para saber como ele enfrentou a morte de seu filho.
 
Se você compreendeu apropriadamente o texto terá assinalado a alternativa d, que é a única em que a intervenção do psicólogo vai no sentido de saber a compreensão que Sema tem de sua filha e pode abrir possibilidades de uma nova compreensão.
 
 
 
Aconselhamento Psicológico em instituições
 
Bibliografia obrigatória:
 
SCHMIDT, M. L. S. “Aconselhamento psicológico e instituição: algumas considerações sobre o Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP.” In: MORATO, H. T. P. (Coord.)Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios. Cap. 4, pp. 89-104.
 
O aconselhamento psicológico esteve desde seus primórdios vinculado a instituições, principalmente as educacionais. Em sua origem, nos Estados Unidos, o aconselhamento surgiu com a Teoria Traço e Fator, da qual já falamos no módulo 1.
Essa teoria, que teve um desenvolvimento simultâneo ao da Orientação Vocacional e ao da Orientação Educacional, enfatizava, como já vimos, o ajustamento educacional e profissional. Além disso, dava destaque à realização do Aconselhamento Psicológico no ambiente escolar.
O aconselhamento psicológico que nessa teoria não era clínico, mas um processo educacional; abriu um campo específico de trabalho para os psicólogos, distinto das psicoterapias, as quais tratavam das chamadas “doenças mentais” e eram praticadas por médicos.
Nessas práticas oriundas da Teoria Traço e Fator insinua-se, então, uma atividade afeita às instituições, não apenas porque eram realizadas nas instituições escolares, mas também porque criaram dispositivos práticos e teóricos que respondiam às demandas institucionais, como no caso da Orientação Educacional, e davam destaque ao estudo e intervenção nos contextos sócio-culturais dos aconselhandos, cuja conduta só tem significação em função destes.
A Teoria Traço e Fator pode ser considerada progressista por ter aberto um campo mais amplo que o da psicoterapia, na medida em que já havia em suas práticas a preocupação de responder a demandas institucionais e sociais, o que deu a possibilidade de as tarefas do psicólogo estarem abertas a um leque mais amplo de demandas, além de colocá-lo como interlocutor com outros profissionais de áreas afins.
Por outro lado, sua concepção de natureza humana e o lugar que o conselheiro ocupa nessa teoria podem ser considerados retrógados e autoritários. Rogers, com sua teoria e prática revolucionará o campo do Aconselhamento, ao mesmo tempo em que conservou a tendência progressista da Teoria Traço e Fator.
As ideias de Rogers já foram estudadas nos módulos 1 e 2. Para este módulo, precisamos retomar a questão das atitudes básicas do conselheiro – empatia, congruência e atenção positiva incondicional – que Rogers ampliou do contexto psicoterápico para outros contextos. Essas atitudes passaram, então, a ser uma equação básica para qualquer relacionamento cuja finalidade era a mudança e o desenvolvimento psicológico.
Assim, a equação básica foi transposta para o contexto educacional, para pequenos grupos, para as relações em instituições e outras.
Com relação ao campo do Aconselhamento Psicológico propriamente dito, as ideias de Rogers, além de abrirem um campo mais propriamente clínico ao psicólogo, trazem um importante questionamento: o do papel do especialista.
Isto acontece primeiramente pelo fato de Rogers definir a mudança psicológica como decorrente do que ele chama de aprendizagem significativa, um tipo de aprendizagem autorreveladora e que integra os aspectos cognitivos e afetivos. Essa aprendizagem não se dá apenas na relação psicoterápica, mas em outras relações de ajuda, que são aquelas em que se tenta promover o crescimento psicológico de outros.
Sendo assim, o psicólogo é um facilitador, um profissional que tenta promover a aprendizagem significativa através de uma relação de ajuda fundamentada nas atitudes básicas, necessárias e suficientes para a mudança psicológica. Desta forma, esse profissional deixa de ser um especialista.
Isto significa que o psicólogo compartilha o poder e o controle com leigos, isto é, aqueles que não detêm o conhecimento científico. Assim, o Aconselhamento Psicológico tornou-se um campo afeito a práticas democráticas, “atento às singularidades e pluralidades psico-socioculturais da clientela”, como diz Schmidt. (p. 96), e que vão ao encontro das experiências concretas de sua vida cotidiana.
Desta feita, o campo do Aconselhamento Psicológico configura-se como uma região de fronteira entre práticas clínico-pedagógicas e educacionais e entre as diversas disciplinas que tratam de assuntos humanos. Este campo está voltado não só para compreender as demandas da clientela através de uma compreensão do contextopsicossocial e cultural dessas demandas, mas também para responder a elas usando os recursos presentes na clientela.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pela autora, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure definir o campo do aconselhamento psicológico em instituições e perceba se sua definição com a que Schmidt apresenta: um campo de práticas abertas a compreender a singularidade e a pluralidade das demandas a partir da compreensão do contexto psicossocial e cultural dessas demandas, e respondendo a elas usando os recursos de que a clientela dispõe..
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Segundo Schimidt (1997) existe na proposta de Rogers uma abertura para a realização de um tipo de trabalho plural por parte do profissional psicólogo, trazendo à tona uma gama de possibilidades de atuação àquelas pessoas que estão ligadas aos assuntos humanos e designa as relações de ajuda como o lócus dessas possibilidades. Nesse sentido:
Assinale a alternativa INCORRETA.
a) Rogers inspira uma definição de Aconselhamento Psicológico que responde às demandas pessoais, grupais e institucionais;
b) Esta função de facilitar também requer o reconhecimento e a compreensão da dimensão clínica presente nos trabalhos sociais em que o psicólogo possa se engajar.
c) Propõe uma definição de Aconselhamento Psicológico que acolha a idéia de participação igualitária de leigos e profissionais na construção de situações propícias à aprendizagem significativa.
d) Coloca em questão a verticalidade da relação de ajuda, questionando o poder do especialista.
e) Insere o conselheiro em diferentes esferas como tendo o papel de facilitador, seja nas relações duais, grupais ou institucionais, sendo capaz de propiciar as condições necessárias e suficientes (clima psicossocial não ameaçador) para desencadear o processo criativo de desenvolvimento junto a indivíduos, grupos ou instituições.
 
Se você compreendeu corretamente o texto estudado você terá assinalado a alternativa b. Esta alternativa está errada porque a função de facilitar não implica o reconhecimento e a compreensão da dimensão clínica nos trabalhos sociais, mas diz respeito ao aconselhamento psicológico para Rogers, a qual não se diferenciava, para esse autor, da psicoterapia.
 
Plantão psicológico como prática de aconselhamento psicológico em instituições
SCHMIDT, M. L. S. “Aconselhamento psicológico e instituição: algumas considerações sobre o Serviço de Aconselhamento Psicológico do IPUSP.” In: MORATO, H. T. P. (Coord.)Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios. Cap. 4, pp. 89-104.
 
O plantão psicológico é uma das modalidades de prática no campo do aconselhamento psicológico.
É um espaço e tempo para que o cliente possa receber ajuda psicológica no momento de sua necessidade. Dessa maneira, pede que a instituição disponibilize determinados horários por períodos ininterruptos de tempo para que os clientes possam procurá-lo; dos psicólogos pede abertura para a escuta do sofrimento psicológico que emerge no momento.
Constitui-se como um atendimento que não é uma triagem, isto é, não é uma averiguação para se saber se a clientela se adéqua aos dispositivos de cuidado disponíveis numa instituição, mas um espaço de elaboração da experiência ou da situação problemática pela qual passa o cliente.
Assim, o lugar do plantonista é o de facilitar ao cliente a clarificação de sua queixa, de seu sofrimento psicológico e de sua demanda por ajuda. Isto significa ajudá-lo a se situar em sua experiência e a ressignificá-la. Seu lugar também é o de examinar com o cliente como este deseja encaminhar a demanda e tentar responder a esse encaminhamento.
Responder à demanda não necessariamente quer dizer atendê-la, visto que os recursos de ajuda psicológica de uma instituição são limitados. Assim, a disponibilidade do plantão psicológico é garantir que todo cliente que chegue no horário disponível será escutado.
No encaminhamento da demanda, do qual o cliente participa ativamente, o que se busca é procurar encontrar aquele mais adequado a cada cliente em sua singularidade e na especificidade de sua demanda, seja na própria instituição, seja em alguma outra.
Outra característica importante do plantão é o de servir como referência de ajuda psicológica à comunidade onde está inserido, uma vez que a clientela pode procurá-lo sem qualquer agendamento prévio, no momento em que necessita.
 
Módulo 6:
 
Grupos de Encontro como possibilidade de atuação do psicólogo
 
Bibliografia obrigatória:
MORATO, H. T. P. e SCHMIDT, M. L. S. “Aprendizagem significativa e experiência: um grupo de encontro em instituição acadêmica.” In: MORATO, H. T. P.(coord.) Aconselhamento psicológico centrado na pessoa: novos desafios, Cap. 6, pp. 117-130.
 
Grupos de encontro consistem na convivência em regime de autogestão de seis a oito pessoas, em reuniões semanais de uma hora e meia a duas horas, que se encontram no intuito de conversarem sobre suas experiências, conflitos ou dificuldades em questões pessoais ou profissionais e em suas relações interpessoais.
Tais reuniões são coordenadas por um facilitador, normalmente um psicólogo, o qual cria as condições facilitadoras para a aprendizagem significativa.
No contexto da formação de profissionais de educação e saúde, a aprendizagem significativa diz respeito a um processo de ensino-aprendizagem que contempla não apenas os aspectos teórico-técnicos da transmissão do saber, mas também aos aspectos afetivo-emocionais. Assim, na aprendizagem significativa, como dizem as autoras, “as noções de intersubjetividade, experiência e criatividade permitem articular seus modos próprios de transmissão, elaboração e avaliação do saber.” (p. 118)
No capítulo, as autoras narram e refletem sobre sua experiência como facilitadoras de um grupo de encontro que se reuniu durante os cinco anos de formação de um grupo de alunos de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Nesses cinco anos de encontros semanais, cuja estrutura era a informalidade, muitas questões emergiram e foram elaboradas pelos participantes: desde a falta de lugar na universidade (já que o prédio ocupado pelas salas de aula no Instituto de Psicologia não tinha condições adequada de uso e os alunos tinham que assistir às aulas em outras unidades da universidade), até o vazio que sentiam a medida que a formatura se aproximava.
Também apareceram durante as reuniões do grupo polaridades tais como fragmentação e centralização; ruptura e transformação; informação e experiência. Durante as reuniões o grupo apareceu como espaço de acolhimento dessas polaridades, onde elas podiam ser refletidas e elaboradas. Assim, por exemplo, a questão da fragmentação, que apareceu tanto ligada ao espaço físico da faculdade quanto às disciplinas do currículo e das relações interpessoais, pode ser questionada e colocada em seu devido contexto.
A polaridade entre a informação e a experiência foi de fundamental importância. A informação diz respeito ao discurso dito competente, ou do especialista, em contraposição à experiência que diz respeito ao conhecimento adquirido por um modo de ser. Os participantes opuseram o quê e o modo como aprendiam na sala de aula (informação, discurso teórico) ao modo como aprendiam no grupo de encontro (experiência). Assim, questionavam-se sobre como encontrar “o eixo da formação profissional” (p.125) entre as informações que recebiam e o que experienciavam e sobre a possibilidade de se elaborarem as informações teóricas fora da experiência vivida.
Nessa medida, os alunos apontam para uma temática sobre a qual reflete Walter Benjamin: a hegemonia da informação como transmissão de saber no mundo moderno em detrimento da narrativa. Para esse pensador, a narrativa, forma artesanal de construção da experiência e da memória, é ao mesmo tempo individual e coletiva; implica relações igualitáriasentre o narrador, que conta sua experiência, e o ouvinte, que, ao escutar, pode amalgamar o que está sendo narrado em sua própria experiência.
Assim, como a narrativa diz respeito ao que é diretamente experienciado, todos são autoridade, isto é, todos têm direito a falar. No sentido oposto, a informação não se conecta à experiência direta, mas com a explicação teórica; além disso, é transmitida de modo hierarquizado: quem está autorizado a falar é o especialista, isto é, a palavra fica circunscrita aos que detêm o saber instituído.
Assim, tomar a experiência como matéria-prima na formação de profissionais de saúde e educação implica resgatar a narrativa como modo de transmissão de saber e haver uma comunidade democrática de pessoas que detêm o direito de falar e escutar. Nessa medida, o grupo de encontro pode ser uma possibilidade de ruptura com os modos convencionais do processo de aprendizagem, proporcionando aos participantes uma aprendizagem significativa, que alia os aspectos cognitivos aos afetivos da aprendizagem.
 
 
 
Plantão psicológico em instituições: plantão psicológico na escola
 
 
Bibliografia obrigatória: MAHFOUD, M. “Plantão psicológico na escola: uma experiência.” In: MORATO, H. T. P. Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios. Cap. 8, pp. 143-158.
 
Uma possibilidade de atendimento psicológico em aconselhamento psicológico em instituições é o plantão psicológico. No texto, o autor dá um exemplo disso, relatando sua experiência em plantão psicológico numa escola particular na cidade de São Paulo.
Sua experiência no Serviço de Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia da USP fundamentada na Abordagem Centrada na Pessoa levou Mahfoud a ter como foco na escola o aluno enquanto pessoa.
Isto significou não se ater aos comportamentos ou condutas desajustadas dos alunos ou às suas dificuldades de aprendizagem; significou, ao contrário, vê-los como totalidades integradas.
O plantão foi implantado levando-se em conta a fase de vida em que estavam, isto é, a puberdade ou adolescência; assim, o material de divulgação do plantão foi feito com desenhos e letras de músicas que iam ao encontro do interesse dos alunos nessa fase da vida.
O psicólogo colocou-se à disposição daqueles que estivessem interessados em procurá-lo para conversar. A finalidade do plantão era facilitar o desenvolvimento psicológico dos jovens, de modo que pudessem se descobrir como pessoas e ser mais verdadeiramente eles mesmos. Também tinha o objetivo de que o psicólogo ficasse como referência para o aluno no caso de este precisar novamente de alguma ajuda psicológica.
Ver os alunos como pessoas possibilitou que aqueles que eram encaminhados para atendimento por professores ou orientadores não se sentissem julgados, na medida em que sabiam que o interesse do psicólogo era por ele, não por seus comportamentos ou por seu baixo rendimento escolar.
No texto se percebe que o psicólogo precisa estar atento e sensível ao modo como os integrantes da instituição o percebem; assim, no presente caso, Mahfoud compreendeu que os professores o viam como “aliado” dos alunos. Foi preciso que aqueles percebessem as mudanças significativas que o plantão produzia na conduta e atitudes dos alunos para que passassem a confiar nessa prática e no psicólogo.
O autor também defende a ideia de que, ao responder a uma demanda da instituição, o psicólogo o faça de modo que vá ao encontro de suas próprias concepções. Quando foi solicitado a fazer orientação vocacional na escola, Mahfoud o fez mantendo a centralidade da pessoa, fundamental na Abordagem Centrada na Pessoa.
Ao invés de apenas aplicar testes de aptidões e habilidades e de personalidade, o autor, tendo o aluno como pessoa como perspectiva, baseou a orientação na escolha, o que implica que a pessoa precisa saber de si, de seus desejos e limites. O método de orientação, então, iniciava-se pelo questionamento do orientando a respeito de si mesmo, para só depois utilizar algum teste de personalidade.
O modo como Mahfoud foi construindo o método de orientação aponta para a abertura à criatividade do psicólogo; lendo o texto, acompanhamos a criação de um método novo de orientação vocacional afeito à concepção de ser humano da Abordagem Centrada na Pessoa.
O autor também chama a atenção no texto para outra questão: o psicólogo também é uma pessoa, não um especialista que tem o domínio do conhecimento sobre o outro. Assim, diante da morte de alunos, Mahfoud viu-se tão perplexo quanto outros integrantes da instituição. Frente ao mistério da vida e da morte, há a desorientação, e cabe ao psicólogo estar junto aos alunos.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, observando os argumentos utilizados pelo autor, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure definir o lugar do psicólogo da Abordagem Centrada na Pessoa na instituição. Perceba se sua definição está de acordo com o que o autor apresenta: o lugar do psicólogo é de quem tem a pessoa como centro, estando atento aos integrantes da instituição e às demandas institucionais. O psicólogo não é um especialista, e facilita processos de desenvolvimento psicológico, tais como processos de escolha e elaboração de experiências pessoais que levem a atitudes mais autênticas.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
Rodrigo, de 16 anos, que está na 2ª série do Ensino Médio, foi chamado pelo psicólogo de sua escola. Foi encaminhado por um professor com quem foi agressivo verbalmente durante a aula depois de ter sido chamado a atenção por estar conversando com um colega.
O rapaz começou a conversa falando de uma situação pela qual está passando em casa: seus pais têm brigado muito e têm falado em se separar.
 
Se o psicólogo for da Abordagem Centrada na Pessoa ele vai:
 
a) Interromper o que Rodrigo está falando para dizer-lhe que a situação familiar pela qual está passando é séria mas não vem ao caso, já que foi encaminhado por causa de sua agressividade;
b) Interromper o que Rodrigo está falando para dizer-lhe que está preocupado com as consequências que a agressão ao professor podem lhe trazer;
c) Deixar que Rodrigo conte a situação familiar pela qual está passando e depois perguntar-lhe sobre a agressão ao professor;
d) Deixar que Rodrigo conte a situação familiar pela qual está passando e depois dizer-lhe que seria bom que ele tivesse uma consulta com um psiquiatra;
e) Deixar que Rodrigo conte a situação familiar pela qual está passando para compreender como ele se situa e como se sente frente a ela.
 
Se você compreendeu o texto terá assinalado a alternativa e. As outras alternativas estão erradas porque em nenhuma delas o psicólogo escuta Rodrigo como a uma pessoa que sabe o que é melhor para si mesmo. Na última alternativa o psicólogo deixa que Rodrigo fale do que é importante para ele próprio e tenta compreender sua experiência.
 
 
 
Plantão psicológico em instituições: plantão numa instituição judiciária:
 
Bibliografia obrigatória:
BARBANTI, L. F. e CHALOM, M. H. “Um serviço de plantão psicológico em instituição judiciária: ilustração prático-teórica.” In MORATO, H. T. P. Aconselhamento psicológico centrado na pessoa: novos desafios. Cap. 11, pp 183-201.
 
O pedido de plantão psicológico na instituição judiciária foi feito pelo chefe do Serviço Médico da instituição devido aos altos índices de suicídio e alcoolismo da clientela desse Serviço: os funcionários e seus dependentes.
A finalidade do plantão era oferecer atendimento psicológico aos funcionários da instituição e seus dependentes no momento da busca dos clientes por ajuda psicológica e compreender a sua demanda. O encaminhamento para psicoterapia só seria feito se fosse este o desejo do cliente. Dessa forma, o atendimento em plantão valorizava o movimento do cliente em sua busca por ajuda e respeitava suas escolhas.
O objetivo do plantão psicológico não era oferecer solução aos problemas dos altos índices de suicídio ealcoolismo entre os funcionários da instituição e seus dependentes, mas facilitar que a pessoa se apropriasse da situação que estivesse vivendo, independentemente de qual fosse.
Os plantonistas tiveram que se deparar com a estrutura hierárquica e de poder da instituição judiciária, o que também apareceu nas falas dos clientes e no relacionamento entre os funcionários da instituição.
Reuniões entre a equipe de plantonistas e alguns médicos sanaram questões referentes à divulgação do plantão. Também houve a oportunidade de se esclarecerem possíveis preconceitos com relação ao pedido de ajuda psicológica. Outra conquista foi a presença mais constante da psiquiatra do Serviço Médico às reuniões com os plantonistas, de modo a poderem refletir sobre clientes encaminhados por ela ao plantão. Tudo isso repercutiu significativamente no número de clientes que procuraram o serviço de plantão.
A equipe de plantonistas refletiu acerca das diferenças entre psicoterapia breve, segundo Fiorini, e o plantão psicológico. Na psicoterapia breve, o terapeuta focaliza um tema que esteja causando sofrimento psicológico ao cliente, tema esse que é compreendido a partir do conteúdo de sua queixa. A duração da terapia é pré-determinada, com a finalidade de agilizar o processo e preparar o cliente para o fim da terapia. Há o objetivo de mudança do cliente no sentido de ele solucionar certas questões.
O atendimento em plantão psicológico visa à pessoa do cliente, não o problema que o aflige nem um modo já pré-estabelecido de lidar com ele. A finalidade é a escuta, para possibilitar que o cliente ressignifique suas experiências e decida como deseja encaminhá-las. O final dos atendimentos é decidido junto com o cliente, que pode se dar por satisfeito com um único encontro, por exemplo.
 
Módulo 7
 
Oficinas de criatividade, o lugar do facilitador, os recursos e materiais
 
 
Bibliografia obrigatória:
 
SCHMIDT, M. L. S. e OSTRONOFF, V. H. “Oficinas de criatividade: elementos para a explicitação de propostas teórico-práticas.” In: MORATO, H. T. P. (Coord.)Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios. Cap. 20, pp. 329-338.
 
Segundo Schmidt e Ostronoff, “as oficinas de criatividade caracterizam-se como espaços de elaboração da experiência pessoal e coletiva através do uso de recursos expressivos.” (p. 329)
Tal proposta de oficinas não tem o objetivo de ensinar habilidades específicas; assim, na concepção que as autoras defendem, o lugar do oficineiro é o de um facilitador de processos criativos que acontecem por canais não-racionais e não-verbais de expressão.
Ser um facilitador nessa prática é, então, estar disponível ao outro, isto é, ao grupo e às pessoas participantes, de maneira respeitosa e autêntica, para que estes possam se experienciar e compartilhar sua experiência.
Apesar de caber ao facilitador toda a organização das oficinas, ele o faz de maneira flexível, atento aos movimentos grupais e pessoais de cada participante, de maneira a mudar o que for necessário para acompanhá-los.
Sua intervenção é respeitosa e sintônica com o modo de criar de cada um. O modo como vê os produtos das oficinas (produção gráfica, por exemplo) não é psicologicamente avaliativa nem interpretativa, mas compreensiva; assim, apenas ajuda a ampliar o significado que cada participante atribui a seu próprio produto.
Cabe também ao facilitador prover um tempo e um espaço razoavelmente estruturados para que as oficinas se realizem, que sirvam como base estável para o processo criativo, que não acontece diretamente vinculado ao tempo e espaço objetivos, e que sejam adequados à proposta de oficina que o facilitador planejou.
Os recursos e materiais que podem ser utilizados em oficinas de criatividade são os mais variados: recursos corporais; sensibilização sensorial; música; recursos plásticos. Ao facilitador cabe escolhê-los, e sua escolha dependerá do grau de intimidade que possui com os materiais, de sua criatividade e de sua sensibilidade.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto de Schmidt e Ostronoff., observando os argumentos utilizados pelas autoras, em defesa de suas teses.
 
2) A partir da leitura, procure definir as oficinas de criatividade. Perceba se sua definição e explicitação estão de acordo com a que as autoras propõem: as oficinas de criatividade são uma modalidade de atendimento psicológico em grupo, cuja finalidade é a elaboração e o compartilhamento de experiências pessoais, através do uso de recursos expressivos.
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
São atribuições do facilitador de uma oficina:
 
I) Estabelecer um tempo e um espaço adequados à proposta de oficina que o facilitador planeja, mas flexíveis o suficiente para contemplarem as necessidades dos participantes;
II) Fazer intervenções que vão ao encontro do significado que os participantes atribuem às suas produções, isto é, fazer interpretações psicológicas que explicitem o conteúdo interno dos participantes;
III) Criar condições para o desenvolvimento do processo criativo de cada participante e do grupo através de sua presença atenta, autêntica e respeitosa.
 
Estão corretas as afirmativas:
 
a) I, e II;
b) I, e III;
c) II e III;
d) Todas estão corretas;
e) Nenhuma está correta.
 
Se você compreendeu adequadamente o texto terá assinalado a alternativa c. A afirmativa II está errada porque o facilitador não faz interpretações psicológicas que explicitem o conteúdo interno do participante expresso em sua produção. As suas intervenções são compreensivas.
 
 
 
Oficinas de criatividade, constituição dos grupos e elaboração das experiências
 
Bibliografia obrigatória:
 
SCHMIDT, M. L. S. e OSTRONOFF, V. H. “Oficinas de criatividade: elementos para a explicitação de propostas teórico-práticas.” In: MORATO, H. T. P. (Coord.)Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: novos desafios. Cap. 20, pp. 329-338.
 
 
A constituição dos grupos de participantes é de suma importância numa oficina de criatividade. Há dois modos de formação de grupos: no primeiro o grupo se constitui de um coletivo já existente, como uma equipe de trabalho numa instituição; no segundo, o grupo se forma a partir da divulgação de oficinas oferecidas pelo facilitador.
No primeiro caso, é necessário explicitar-se a demanda do grupo para se saber se as oficinas são a melhor resposta a ela. Nesse sentido, é de suma importância que o psicólogo venha a conhecer as motivações, expectativas e objetivos do grupo, e se o nível de integração do grupo é compatível com a realização das oficinas, uma vez que estas não são o melhor tipo de atendimento psicológico a um grupo desintegrado.
No segundo caso, o grupo é formado circunstancialmente, em função da participação na oficina. Ao oficineiro, neste tipo de coletivo, cabe definir a população-alvo e a temática, a duração, o local e o horário das oficinas. Cabe também a ele saber quais são as expectativas e motivação das pessoas com relação à realização dos trabalhos.
É fundamental também que o oficineiro esteja atento aos efeitos que as oficinas acarretarão na instituição onde elas são oferecidas, tendo em vista certos “transtornos” que elas acarretam, uma vez que quebram a rotina institucional, e que mobilizam não apenas os participantes, mas também aqueles que ficam fora delas.
As oficinas proporcionam a elaboração de experiências pessoais e coletivas através das produções, que se realizam no eixo da aprendizagem significativa. Essas produções testemunham não só a força criativa das pessoas e grupos quando lhes é oferecido condições facilitadoras, mas também o desejo de compartilhamento de experiências.
Assim, as oficinas rompem com o isolamento, ativam laços sociais e comunicacionais. Possibilitam também o desenvolvimento de sentimentos de pertença social dos participantes.
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto de Schmidt e Ostronoff., observando os argumentos utilizados pelas autoras, em

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