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Temas Contemporâneos do Direito Penal Reedicao

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TEMAS 
CONTEMPORÂNEOS 
DO DIREITO PENAL
Capacitação em 
Práticas Judiciárias
Reedição
autor
SERgIO ChASTINET DuARTE guIMARãES
Prezado(a) Servidor(a),
Tenho a grata satisfação de dar continuidade e promover a ampliação do 
processo de qualificação profissional dos nossos servidores, por meio da 
implementação do Programa de Formação e Aperfeiçoamento dos Servido-
res do Poder Judiciário do Estado da Bahia. 
Para tanto, faço chegar as suas mãos o material didático da Capacitação 
em Práticas Judiciárias – Reedição, desenvolvido para atender os servido-
res lotados nas unidades judiciárias, finalísticas de 1º e 2º graus, das comar-
cas de Salvador e demais do Interior do Estado que não participaram da 
edição 2011 desse Programa. 
A referida ação, com carga horária de 100h/aula, encontra-se estrutura-
da com foco no desenvolvimento de Competências - Essenciais, Específicas 
e Estratégicas, por meio de discussões sobre teorias e conceitos inerentes 
à dinâmica organizacional, bem como sobre temas atuais do segmento jurí-
dico, que guardam estreita relação com as atividades desenvolvidas diaria-
mente na Justiça Baiana. 
Elaborado por meio da parceria UNICORP/IDP e embasado em bibliogra-
fias atuais e na experiência do corpo docente envolvido, o conteúdo cons-
truído está organizado de forma integrada e em sintonia com a vivência de 
nossos servidores.
Desse modo, o material didático possui importância fundamental, pois 
servirá como referencial e suporte ao processo de ensino e de aprendizagem.
Como pode ser visto o Programa de Capacitação em Práticas Judiciá-
rias é mais que um curso. Ele foi concebido pela UNICORP exclusivamente 
para atender os servidores do Poder Judiciário Baiano. Por isso, aproveite a 
oportunidade e amplie o seu conhecimento pessoal e profissional. 
Faça a diferença e mude o seu mundo!
Des. Mario Alberto Hirs
Presidente
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
sumário
1. Unidade 1 – a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006 
(Lei Maria da Penha) 6
1.1 Precedentes fáticos e legislativos 6
1.2 Conceito de violência doméstica 8
1.3 Formas de violência doméstica 10
1.4 a competência do Juizado de Violência doméstica e 
Familiar contra a Mulher 11
1.5 disposições penais e processuais penais na Lei Maria 
da Penha: as medidas protetivas de urgência. 12
1.6 disposições penais e processuais penais na Lei Maria 
da Penha: a prisão preventiva. 13
1.7 disposições penais e processuais penais na Lei Maria 
da Penha: o afastamento das medidas descarcerizadoras 
da Lei nº 9.099/1995. 16
1.8 disposições penais e processuais penais na Lei Maria 
da Penha: a(in)constitucionalidade do afastamento 
das medidas descarcerizadoras preconizadas pela 
Lei nº 9.099/1995. 17
1.9 disposições penais e processuais penais na Lei Maria 
da Penha: a natureza condicionada ou não da ação penal 
por crime de lesão corporal simples praticado contra a 
mulher em situação de violência doméstica ou familiar. 20
2. Unidade 2 – a reForMa ProCediMentaL no ProCesso 
PenaL BrasiLeiro. 38
3. Unidade 3 – PresCrição PenaL aPós a Lei 12.234, 
de 05 de Maio de 2010. 54
4
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
4. Unidade 4 – a noVa disCiPLina dos CriMes sexUais. 61
4.1 o novo tipo de estupro: alternatividade ou 
cumulatividade? 63
4.2 a possibilidade de se reconhecer o caráter relativo 
da vulnerabilidade: atipicidade material. 68
4.3 o abolitio criminis “achado” na nova disciplina da 
corrupção de menores. 72
4.4 o novo tipo do artigo 218 do Código Penal 73
4.5 o novo capítulo da interminável discussão em torno 
da ação penal nos crimes contra a liberdade sexual. 76
4.6 a descriminalização do lenocínio que não implique em 
exploração sexual. 82
5. Unidade 5 – CriMes FUnCionais. 91
5.1 Bem jurídico nos crimes contra a administração pública 91
5.2 Crimes funcionais, ou praticados por funcionário público 
contra a administração em geral: classificação dos crimes 
funcionais. 92
5.3 Crimes funcionais, ou praticados por funcionário público 
contra a administração em geral: conceito de funcionário 
público para efeitos penais 94
5.4 Crimes funcionais em espécie: principais tipos penais 
e hipóteses de incidência. 97
5.5 Crimes funcionais em espécie: principais tipos penais 
e hipóteses de incidência – Peculato 98
5.6 Crimes funcionais em espécie: principais tipos penais 
e hipóteses de incidência – Concussão 101
5.7 Crimes funcionais em espécie: principais tipos penais 
e hipóteses de incidência – excesso de exação. 102
5.8 Crimes funcionais em espécie: principais tipos penais 
e hipóteses de incidência – Crimes de corrupção. 103
5.9 elementos comuns aos tipos de corrupção 
passiva e ativa. 104
5
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
5.10 elementos comuns aos tipos de corrupção passiva 
e ativa: especificidades da corrupção passiva – 
art. 317 do CP 105
5.11 elementos comuns aos tipos de corrupção passiva 
e ativa: especificidades da corrupção ativa – 
art. 333 do CP. 106
6. BiBLiograFia 113
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
1. unidade 1 – a Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 
2006 (Lei maria da Penha)
Precedentes fáticos e legislativos. Conceito de violência doméstica. 
Formas de violência doméstica. A competência do Juizado de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher. Disposições penais e processuais 
penais na Lei Maria da Penha: as medidas protetivas de urgência; a pri-
são preventiva; a (in)constitucionalidade do afastamento das medidas 
descarcerizadoras preconizadas pela Lei 9.099/1995; a natureza condi-
cionada ou não da ação penal por crime de lesão corporal simples pra-
ticado contra a mulher em situação de violência doméstica ou familiar.
esta Lei introduziu importantes modificações no ordenamento jurídico 
brasileiro notadamente nas áreas penal, processual e de família, que não 
podem ser desconhecidas pelos operadores do direito.
no que interessa ao direito penal, o afastamento das medidas descar-
cerizadoras da Lei nº 9.099/1995 somado a ampliação das hipóteses de 
decretação da prisão preventiva, resultaram, sem dúvida, em incremento 
do poder punitivo estatal, denotando a opção do legislador pela “solução 
retributivista-aflitiva” de que fala o professor nilo Batista.1
Passamos, então, a procurar conhecê-la em seus aspectos 
fundamentais.
1.1 Precedentes fáticos e legislativos
a Lei nº 11.340/2006 foi criada sob a demanda de ações afirmativas 
para tratar da violência de gênero, e passou a ser conhecida como Lei 
1 “só Carolina não viu” – violência doméstica e políticas criminais no Brasil” in Comentários 
à Lei de Violência doméstica e domiciliar contra a Mulher. org. adriana ramos de Mello. 
2ª ed. rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, PP. ix/xiii.
7
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
Maria da Penha em razão do caso criminal em foi vítima Maria da Penha 
Maia Fernandes e que culminou com a condenação do estado brasileiro 
perante a Comissão interamericana de direitos humanos.
Vamos aos fatos. em 29 de maio de 1983, na Cidade de Fortaleza, no 
estado do Ceará, a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes foi atin-
gida por um tiro de espingarda, enquanto dormia. o autor do crime foi 
seu então marido, o economista M.a.h.V. este tiro atingiu sua coluna e 
a deixou paraplégica. Pouco após retornar para sua residência, Maria da 
Penha sofreu nova agressão por parte do marido, agora enquanto se ba-
nhava, por meio de choque elétrico.
M.a.V.h. foi pronunciado em 31 de outubro de 1986 econdenado em 
4 de maio de 1991. esse julgamento foi anulado a pedido da defesa, que 
alegou vício de quesitação, seguindo-se nova sessão de julgamento, em 
15 de março de 1996, na qual o réu foi afinal condenado, por tentativa de 
homicídio, a pena de dez anos e seis meses de reclusão. em setembro de 
2002, o réu foi preso, cumpriu menos de um terço da pena em regime 
fechado e ingressou no regime aberto, retornando à liberdade no estado 
do rio grande do norte.
em 20 de agosto de 1988, Maria da Penha e duas organizações interna-
cionais de defesa dos direitos da Mulher apresentaram denúncia junto à 
Comissão interamericana de direitos humanos, órgão da oea com atri-
buição para analisar as petições denunciando violações aos direitos hu-
manos. o estado brasileiro foi condenado à revelia. em seu relatório nº 54, 
publicado em 16 de abril de 2001, a Comissão interamericana de direitos 
humanos considerou que “a ineficácia judicial, a impunidade e a impossi-
bilidade de a vítima obter uma reparação mostra a falta de cumprimento 
do compromisso (pelo Brasil) de reagir adequadamente ante a violência 
doméstica”. Considerou-se, também, que houve violação de compromis-
sos internacionais assumidos pelo país, para afinal recomendar “ao es-
tado que proceda a uma investigação séria, imparcial e exaustiva para 
determinar a responsabilidade penal do autor do delito de tentativa de 
homicídio em prejuízo da senhora Fernandes e para determinar se há ou-
tros fatos ou ações de agentes estatais que tenham impedido o processa-
mento rápido e efetivo do responsável; também recomenda a reparação 
8
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
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E SERVIDORES
efetiva e pronta da vítima e a adoção de medidas, no âmbito nacional, 
para eliminar essa tolerância do estado ante a violência doméstica contra 
as mulheres”.
o relatório foi entregue ao estado brasileiro, em março de 2001, para 
o cumprimento das suas recomendações no prazo de um mês. ante a 
omissão da resposta, foi tornado público. em março de 2008 o estado do 
Ceará atendeu a recomendação da Comissão interamericana de direitos 
humanos e concordou com o pagamente, em prol de Maria da Penha, do 
valor de sessenta mil reais, a título de indenização. 2
É importante, ainda, observar que o Brasil é signatário da Conven-
ção sobre a eliminação de todas as Formas de discriminação Contra 
a Mulher – inicialmente ratificada com reservas, posteriormente reti-
radas em face da Constituição de 1988, e, afinal, aprovada, na íntegra, 
pelo Congresso nacional, por meio do decreto Legislativo nº 26/1994, 
e promulgada pelo presidente da república pelo decreto nº 26/1994 – e 
da Convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a Vio-
lência Contra a Mulher, ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 
1995, aprovada pelo Congresso nacional por meio do decreto Legisla-
tivo nº 107/1995 e promulgada pelo presidente da república por meio 
do decreto nº 1.973/1996.
1.2 Conceito de violência doméstica
este conceito é importante porque define o âmbito de aplicação das 
graves medidas previstas na Lei Maria da Penha.
o artigo 5º da Lei define a violência doméstica e familiar contra a mulher 
como qualquer “ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, 
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimo-
nial”, no âmbito da unidade doméstica (art. 5º, inciso i), da família (art. 5º, 
inciso ii) e em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva 
ou tenha convivido com a vítima, independente de coabitação (art. 5º, inciso 
2 CUnha, rogério sanches. Pinto, ronaldo Batista. Violência doméstica: Lei Maria da 
Penha (Lei 11.340/2006), comentada artigo por artigo. 2ed. são Paulo: editora revista dos 
tribunais, 2008, pp. 21/26. 
9
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
iii). o dispositivo contém um parágrafo único, prevendo que “as relações 
pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual”.
Como se vê, a Lei é aplicável sempre que a mulher for vítima da violên-
cia doméstica e familiar, cujas formas são descritas no art. 7º, admitindo-
-se que o agressor seja homem ou mulher, independente da orientação 
sexual dos envolvidos.
Com isso a Lei Maria da Penha cria uma situação jurídica privilegiada 
da mulher em relação ao homem, havendo quem aponte a incompatibili-
dade da Lei neste ponto com a Constituição Federal, que prevê, em seu 
artigo 5º inciso i, que “homens e mulheres são iguais em direitos e obri-
gações, nos termos desta Constituição.”
a alegação de inconstitucionalidade acima referida cria três correntes 
jurisprudenciais possíveis:
1. não aplicar as medidas penais desfavoráveis ao réu, por 
se entender inconstitucional a discriminação entre ho-
mens e mulheres. esta corrente irá admitir que o réu, 
por exemplo, faça a transação penal do art. 76 da Lei nº 
9.099/1995, considerando inconstitucionais os artigos 17 e 
41 da Lei Maria da Penha.
2. aplicar a Lei Maria da Penha integralmente, entendendo-
-se que não há inconstitucionalidade na discriminação 
operada entre os sexos, em razão da histórica situação 
de inferioridade social e econômica a que é submetida a 
mulher na sociedade brasileira.
3. adotar uma solução intermediária, que admite incons-
titucionalidade relativa, sanada pela extensão da tutela 
prevista na Lei Maria da Penha aos casos em que homens 
se apresentem como sujeitos passivos de violência do-
méstica e familiar. esta solução interpretativa é proposta 
pela jurisprudência do tJMg :
Basta ao intérprete afastar a condição pessoal de mulher 
em situação de risco doméstico, suscitada na sua criação (da 
Lei), para que não haja qualquer inconstitucionalidade possível, 
10
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
estendendo-se os efeitos da norma em questão a quaisquer indi-
víduos que estejam em idêntica situação de violência familiar, ou 
doméstica, sejam eles homens, mulheres ou crianças. A leitura da 
Lei Federal 11.340/2006, sem a discriminação criada, não apresen-
ta qualquer mácula de inconstitucionalidade, bastando afastar as 
disposições qualificadoras de violência doméstica à mulher, para 
violência doméstica a qualquer indivíduo da relação familiar, para 
que sejam plenamente lícitas suas disposições.3
Cabe, por outro lado, observar que o conceito de violência doméstica 
e familiar contra a mulher não se restringe às situações fáticas em que 
há relação entre o casal homem/mulher ou mulher/mulher, aplicando-
-se também em relação às mulheres esporadicamente agregadas à 
unidade doméstica, como empregadas, ou que são ou se consideram 
aparentadas, por laços naturais, por afinidade ou vontade expressa, no 
âmbito da família.
Já a extensão do conceito a qualquer relação íntima de afeto, nos ter-
mos do art. 5º, inciso iii, da Lei Maria da Penha, é considerada inaplicável 
por guilherme souza nucci,4 para quem a disposição da Lei extrapolou os 
termos da Convenção interamericana, que no seu art. 2º, § 1º, circunscre-
ve a violência doméstica contra a mulher a situações ocorridas “dentro da 
família ou da unidade doméstica ou em qualquer outra relação interpes-
soal, em que o agressor conviva ou tenha convivido no mesmo domicílio 
que a mulher e que compreende, entre outros, estupro, violação, maus 
tratos e abuso sexual”.
1.3 Formas de violência doméstica
as formas de violência doméstica ou familiar contra a mulher, pres-
critas no art. 7º da Lei Maria da Penha, balizam as infrações penais que 
podem atrair a incidência dos rigores da lei de proteção à mulher.
no art. 7º, inciso i, estão compreendidas as infrações penais contra a pes-
soa, como aslesões corporais. no inciso ii, as infrações contra a liberdade 
3 apel. Crim. 10672.07.249317-0, rel. Judimar Biber, j. 06.11.2007,do 21.11.2008.
4 apud CUnha, rogério sanches. Pinto, ronaldo Batista. op. cit, pp. 54/55. 
11
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
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individual como o constrangimento ilegal, a ameaça e o cárcere privado. no 
inciso iii, as infrações contra a dignidade sexual, como o estupro e exploração 
sexual. no inciso iV, as infrações patrimoniais, como furto e roubo, e, no inci-
so V, as infrações contra a honra, como calúnia, difamação e injúria.
tanto crimes como contravenções penais podem configurar formas 
de violência doméstica e familiar contra a mulher, a atrair os rigores da 
Lei Maria da Penha.
1.4 A competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher
o art. 14 da Lei Maria da Penha prevê a criação dos Juizados de Violên-
cia doméstica e Familiar contra a Mulher (JVdFCM), com competência 
cível e criminal para conhecer das situações de violência doméstica e fa-
miliar contra a mulher.
assim, nos estados em que for criado o Juizado de Violência domes-
tica e Familiar contra a Mulher, como é o caso da Bahia, este órgão será 
competente para conhecer dos crimes que configurem formas de vio-
lência doméstica e familiar contra a mulher. enquanto não for criado o 
Juizado, a competência para aplicar as medidas previstas na Lei Maria da 
Penha, inclusive as de natureza civil (!), é do juiz criminal (art. 33 da Lei).
algumas exceções merecem destaque: a prerrogativa de função afas-
ta a competência do JVdFCM, por ser prevista na Constituição Federal. 
o mesmo se dá contra os crimes dolosos contra a vida, atraídos para a 
competência do tribunal do Júri.
nas demais causas penais submetidas ao conhecimento do JVdFCM, 
a competência se estabelece de acordo com as regras do CPP, e o que 
dispõe o art. 13 da Lei Maria da Penha. a regra geral, portanto, é a do art. 
70 do CPP: o lugar em que se consumou a infração.
nas causas cíveis, o JVdFCM decidirá sobre as medidas protetivas de 
urgência – cautelares – previstas no art. 22 e 23, mas a competência para 
conhecer da ação principal é do juízo cível ou de família ordinário.
em razão da regra do art. 41 da Lei Maria da Penha, afasta-se a com-
petência recursal das turmas recursais. em regra, a competência re-
cursal é dos tribunais de Justiça, mas, se a causa for da competência 
12
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
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E SERVIDORES
de juiz federal, a competência recursal será dos tribunais regionais 
Federais.
1.5 Disposições penais e processuais penais na Lei Maria da 
Penha: As medidas protetivas de urgência.
Passamos a analisar as alterações mais importantes que a Lei Maria da 
Penha operou no ordenamento jurídico penal e processual penal brasi-
leiro. são elas as medidas protetivas de urgência; a prisão preventiva e o 
afastamento das medidas descarcerizadoras da Lei nº 9.099/1995.
a Lei Maria da Penha prevê medidas protetivas de urgência para as-
segurar a segurança e o bem estar da mulher vitimizada por violência 
doméstica e familiar. no artigo 22 são previstas medidas de urgência que 
obrigam o agressor, enquanto no art. 23 e 24 são previstas medidas pro-
tetivas de urgência em relação à pessoa da ofendida.
dentre estas medidas, notadamente as previstas no artigo 22, algumas 
têm inequívoca natureza de cautelares penais, por incidirem na esfera do 
direito de ir e vir do suposto agressor, como o afastamento do lar (art.22, 
ii) e a proibição de aproximação da ofendida art. 22, iii, “a”).
tais medidas possuem o caráter cautelar, e, como lembram rogério 
sanches Cunha e ronaldo Batista Pinto, “devem preencher os dois pres-
supostos tradicionalmente apontados pela doutrina, para a concessão 
das medidas cautelares, consistentes no periculum in mora (perigo na 
demora) e no fumus boni juris (aparência do bom direito).”5 Já Fernando 
Célio de Brito nogueira adverte:
Sem que haja pelo menos um começo de prova e uma situação 
de incontornável urgência, em tese amparada pelo direito posi-
tivo, o magistrado não tem como deferir nenhuma das medidas 
previstas, pois isso traduziria algo temerário. 6
5 idem, p. 136.
6 apud CUnha, rogério sanches. Pinto, ronaldo Batista. idem, ibidem.
13
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
E APERFEIÇOAMENTO 
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E SERVIDORES
Para geraldo Prado, algumas das medidas protetivas previstas no art. 
22, “deflagram conseqüências da maior gravidade”, e, “por conta disso, 
os elementos configuradores da justa causa para a medida devem estar 
demonstrados e devem ser explicitados pelo juiz em sua decisão.”7
desta forma, repita-se que o deferimento das medidas protetivas de 
urgência que obrigam o (suposto) agressor deve estar fundamentado na 
demonstração de indícios suficientes da autoria delitiva e de sua necessi-
dade, sem o que não haverá justa causa para a adoção da medida.
1.6 Disposições penais e processuais penais na Lei Maria da 
Penha: a prisão preventiva.
a Lei Maria da Penha trouxe importantes alterações na disciplina da 
prisão preventiva. o artigo 42 incluiu no art. 313, inciso iV, do CPP, nova 
hipótese de cabimento dessa espécie de prisão cautelar, que passa 
a ser admitida também “se o crime envolver violência doméstica e 
familiar contra a mulher, nos termos da lei especifica, para garantir a 
execução das medidas protetivas.” anteriormente, a prisão preventiva 
só era cabível, em regra, para crimes apenados com pena de reclusão, 
salvo as hipóteses pontuais descritas nos incisos ii e iii do artigo 313 
do CPP.
agora, alargou-se o âmbito de incidência da prisão preventiva, que 
passa a ser admitida para qualquer crime doloso que envolva violência 
doméstica e familiar contra a mulher, quando tenha por escopo garantir 
a execução das medidas protetivas de urgência. tome-se, por exemplo, a 
lesão corporal, que mesmo na forma qualificada do artigo 129, § 9º do CP, 
em regra geral não admitia a prisão preventiva. agora, se tiver o objetivo 
de garantir a execução da medida protetiva, nos termos da parte final do 
art. 313, iV, do CPP em sua nova redação, será cabível.
a novidade ampliadora das hipóteses de incidência da prisão preven-
tiva mais uma vez suscita a discussão sobre a constitucionalidade da 
7 in Comentários à Lei de Violência doméstica e domiciliar contra a Mulher. org. 
adriana ramos de Mello. 2ª ed. rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, PP. 122/123.
14
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
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discriminação de gênero. se a mulher for a vítima de alguns crimes que 
antes, em regra geral, não admitiam a prisão preventiva, agora, com a 
Lei Maria da Penha, seu agressor ou sua agressora poderá ser preso, ou 
presa, preventivamente. Mas se o homem for a vítima, a lei nega tal pro-
teção, ou seja, seu agressor ou sua agressora não poderá ser preso, ou 
presa, preventivamente.
L.g. grandinetti Castanho de Carvalho se posiciona pela inconstitucio-
nalidade da discriminação de gênero em relação ao cabimento da prisão 
preventiva:
Definitivamente, não há justificativa constitucional para a gri-
tante diferença de tratamento, ainda que se entenda a situação 
cultural que leva as mulheres à condição de vítimas preferenciais 
da violência doméstica. Havia, contudo, outros meios de proteger 
vítimas de violência doméstica, incluindo o gênero feminino, ob-
servando a Constituição.8
a solução preconizada pelo autor acima citado é elevar a pena comina-
da para o crime de lesão corporal e transformá-la em reclusão, com o que 
passaria a caber a prisão preventiva como regra geral, excluindo também 
tal crime do âmbito de competência dos Jecrims.9a par disso, é imperioso observar que a prisão preventiva é sempre 
medida de exceção e se transmuda em odioso cumprimento de pena an-
tecipada se destituída de seu aspecto de cautelaridade. isto significa que 
mesmo diante da nova hipótese autorizadora da prisão preventiva, esta 
medida só poderá ser decretada se presentes os fundamentos e pres-
supostos exigidos por lei para tal espécie de prisão provisória: o fumus 
comissis delicti e o periculum in libertatis.
neste sentido decidiu o tJPr:
(…) a prisão preventiva, em hipóteses de descumprimento de 
medidas de proteção não pode deixar de considerar em relação ao 
descumprimento propriamente dito e a necessidade de proteção 
8 idem, p. 109.
9 idem, p. 116.
15
PROgRAMA DE FORMAÇãO 
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E SERVIDORES
da vítima a materialização concreta de situação cautelanda a par-
tir das hipóteses legais de garantia da ordem pública, da instrução 
do processo criminal e de aplicação da lei penal; ou seja, a manu-
tenção da prisão preventiva, nessas situações, deve considerar a 
circunstância da necessidade de manutenção do encarceramento 
nas situações em que de modo efetivo e concreto o descumpri-
mento das medidas de proteção possa representar risco para a 
garantia da ordem pública, a instrução do processo criminal e para 
a aplicação da lei penal; (…)10
assim, não basta que a execução da medida protetiva tenha sido frus-
trada para se decretar a prisão preventiva com base na Lei Maria da 
Penha. Faz-se necessário a presença dos demais pressupostos que auto-
rizam a imposição da prisão cautelar.
Mas, por outro lado, a imposição da prisão preventiva com base na Lei 
Maria da Penha só cabe se e enquanto subsistir a medida protetiva de 
urgência. se esta não tiver sido imposta, ou tiver sido revogada, descabe 
a custódia cautelar.
neste sentido concluem rogério sanches Cunha e ronaldo Batista Pinto:
(…) a prisão preventiva somente é cabível, nos termos do art. 42 
da lei, para garantir a execução das medidas protetivas. Pressupõe 
assim, necessariamente, que medidas protetivas à vítima já tenham 
sido deferidas e, posteriormente, descumpridas pelo agressor.11
Com o advento da Lei nº 12.403/2011, alterou-se a disciplina geral da 
prisão preventiva, mas manteve-se o cabimento da medida, independen-
temente da pena cominada ao crime, no caso de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, “para garantir a execução das medidas proteti-
vas de urgência”.12
10 hC 0454394-6, rel. Francisco Cardoso oliveira, j. 20.12.2007.
11 op. cit., p. 123.
12 artigo 313, inciso iii do Código de Processo Penal, com redação determinada pela Lei 
nº 12.403, de 04 de maio de 2011.
16
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1.7 Disposições penais e processuais penais na Lei Maria da 
Penha: o afastamento das medidas descarcerizadoras da Lei nº 
9.099/1995.
Como se sabe, a Lei nº 9.099/1995, na esteira de política criminal de 
apoio à ideia de direito penal mínimo, adotou algumas medidas descarce-
rizadoras. são elas:
1. a impossibilidade relativa da imposição de prisão em fla-
grante para os crimes considerados de menor potencial 
ofensivo (art. 69, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995).
2. a possibilidade de composição civil extintiva da punibili-
dade nos crimes de menor potencial ofensivo cuja ação 
penal seja privada ou condicionada à representação do 
ofendido (art. 74, parágrafo único, da Lei nº 9.099/1995).
3. a possibilidade de transação penal nas infrações consi-
deradas de menor potencial ofensivo (art. 76 da Lei nº 
9.099/1995).
4. a transformação da ação penal nos crimes de lesão cor-
poral simples ou lesão corporal culposa de pública incon-
dicionada para pública condicionada à representação do 
ofendido (art. 88 da Lei nº 9.099/1995).
5. a possibilidade da suspensão condicional do processo 
para os crimes cuja pena mínima não for superior a um 
ano de privação de liberdade (art. 89 da Lei nº 9.099/1995).
Pois bem, a Lei Maria da Penha, em seu artigo 41, na contramão dos 
movimentos descriminalizantes e descarcerizantes, optou por afastar 
a incidência de todas essas medidas favoráveis ao autor do fato ou acu-
sado de crime que implique em violência doméstica ou familiar contra 
a mulher. tal providência legislativa deu ensejo a debates acalorados. 
sem pretensão de exaurir o tema, vamos reproduzir aqui alguns destes 
debates.
17
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1.8 Disposições penais e processuais penais na Lei Maria da 
Penha: a(in)constitucionalidade do afastamento das medidas 
descarcerizadoras preconizadas pela Lei nº 9.099/1995.
a respeito deste tema, formaram-se duas correntes:
1. É inconstitucional afastar a incidência de tais medidas e 
da própria competência dos Jecrims, porque a Constitui-
ção Federal impõe a igualdade de direitos entre os sexos 
(art. 5º, i) e prevê a competência dos Jecrims para as in-
frações consideradas pela Lei como de menor potencial 
ofensivo.
É ilustrativa neste sentido a posição de rômulo de andrade Moreira:
Se a própria Constituição estabeleceu a competência dos Jui-
zados Especiais Criminais para o processo, julgamento e execução 
das infrações penais de menor potencial ofensivo, é induvidoso 
não ser possível a exclusão desta competência em razão do sujei-
to passivo atingido (mulher) e pela circunstância de se tratar de 
violência doméstica e familiar. (…) Destarte, subtraindo a compe-
tência dos Juizados Especiais Criminais, a referida lei incidiu em 
flagrante inconstitucionalidade, pois a competência determinada 
expressamente pela Constituição Federal não poderia ter sido re-
duzida por Lei infraconstitucional.13
Já sob o aspecto da violação ao princípio da isonomia penal, 
L.g.grandinetti Casanho de Carvalho também corrobora a tese da incons-
titucionalidade do art. 41 da Lei Maria da Penha:
Não se concebe que uma ameaça praticada por uma mulher em 
relação a um homem, em ambiente doméstico e familiar, permita 
a transação penal e a suspensão condicional do processo, e, na 
hipótese inversa, a inadmita pela só circunstância da diferença de 
gênero. O mesmo sucede com outros crimes: injúria, difamação, 
13 apud CUnha, rogério sanches. Pinto, ronaldo Batista. idem, pp. 211/212.
18
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calúnia, lesão corporal leve (em que é cabível a suspensão condi-
cional do processo) etc.
O princípio da isonomia restaria, assim, seriamente ofendido e 
a inconstitucionalidade seria gritante.14
de acordo com este posicionamento, os institutos despenalizadores 
da Lei nº 9.099/1995 são normalmente aplicáveis aos crimes que impli-
quem em violência doméstica ou familiar contra a mulher, nos termos 
regulamentados naquele diploma legal.
1. Para a segunda corrente, não há que se falar em inconsti-
tucionalidade, pois a Lei Maria da Penha contempla a dife-
renciação de gênero precisamente em razão da situação 
de inferioridade à que a mulher é socialmente submetida, 
além do que a Constituição remete à lei ordinária a atri-
buição para definir quais são os crimes considerados de 
menor potencial ofensivo (art. 98, i). nada impediria que 
lei posterior (Lei Maria da Penha) revogasse a lei anterior 
(nº 9.099/1995) para modificar o critério de menor poten-
cial ofensivo.
este entendimento é esposado pelo tJBa ao julgar conflito de com-
petência entre o Juizado de Violência Familiar e o JeCriM, conforme se 
segue:
Processual penal. Conflito negativo de competência. Crime de 
ameaça com violência doméstica ocorrido após o início da vigên-
cia da lei 11.340/2006. Suscitante alega a inconstitucionalidade 
dos artigos 14 e 41 da LeiMaria da Penha (Lei n° 11340/2006), 
que ofenderiam os princípios da igualdade e da proporcionali-
dade. Exame. Lei Maria da Penha. Previsão legal de competência 
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher 
(artigo 14, caput, Lei 11.340/2006). Inconstitucionalidade não 
14 in Comentários à Lei de Violência doméstica e domiciliar contra a Mulher. org. 
adriana ramos de Mello. 2ª ed. rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, pp. 175.
19
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evidenciada. Apesar do art. 98, I, da Carta Magna ter previsto a 
competência dos juizados especiais para o julgamento das infra-
ções penais de menor poder ofensivo, a Constituição Federal não 
definiu o que seriam tais infrações delegando à lei infraconstitu-
cional tal tarefa. Inexistência de ofensa aos princípios da igual-
dade e da proporcionalidade. Não havendo inconstitucionalidade 
no fato de a Lei Maria da Penha remeter a juízo especial a com-
petência para o processo, o julgamento e a execução das causas 
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra 
a mulher e considerando que já foi criada e instalada na comarca 
de Salvador a 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a 
Mulher, o conflito de competência deve ser resolvido para deter-
minar a remessa dos autos a este Juízo.15
de acordo com este entendimento, é constitucional a vedação do arti-
go 41 da Lei Maria da Penha quanto à aplicação dos institutos despenali-
zadores da Lei nº 9.099/1995 aos casos de violência doméstica e familiar 
contra a mulher.
esta foi a posição adotada pelo supremo tribunal Federal, em decisão 
unânime de sua composição plena, com efeito erga omnes, cujo relator 
foi o Ministro Marco aurélio:
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06 – AL-
CANCE. O preceito do artigo 41 da Lei nº 11.340/06 alcança toda 
e qualquer prática delituosa contra a mulher, até mesmo quan-
do consubstancia contravenção penal, como é a relativa a vias de 
fato. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – ARTIGO 41 DA LEI Nº 11.340/06 – 
AFASTAMENTO DA LEI Nº 9.099/95 – CONSTITUCIONALIDADE. 
Ante a opção político-normativa prevista no artigo 98, inciso I, e a 
proteção versada no artigo 226, § 8º, ambos da Constituição Fede-
ral, surge harmônico com esta última o afastamento peremptório 
da Lei nº 9.099/95 – mediante o artigo 41 da Lei nº 11.340/06 – no 
processo-crime a revelar violência contra a mulher.16
15 Petição nº35456-3/2008.
16 Pub. dJe 13/06/2011.
20
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a orientação foi confirmada pelo supremo tribunal Federal em 
09/02/2012, ocasião em que a Corte, por unanimidade de votos, declarou 
a constitucionalidade dos artigos 1º, 33 e 41 da Lei nº 11340/2006, ao julgar 
procedente a adC 19/dF.17
1.9 Disposições penais e processuais penais na Lei Maria da 
Penha: a natureza condicionada ou não da ação penal por crime de 
lesão corporal simples praticado contra a mulher em situação de 
violência doméstica ou familiar.
também se discute se o artigo 41 da Lei Maria da Penha tornou incon-
dicionada a ação penal por o crime de lesão corporal simples, praticado 
contra a mulher em situação de violência doméstica ou familiar.
a questão possui muita importância prática, já que implica em con-
dicionar ou não a persecução penal, com todos os rigores previstos na 
Lei Maria da Penha, à vontade da mulher ofendida. Vislumbram-se duas 
correntes:
1ª – a ação penal nos crimes de lesão corporal simples 
continua a ser condicionada à representação da ofendi-
da, já que a própria Lei Maria da Penha prevê o instituto 
da renúncia – na verdade retratação – da representação 
em seu artigo 16, somente revestido ato de maior for-
malidade. além disso, a Lei expressamente prevê, em 
seu art. 4º, que a interpretação deve levar em conside-
ração a situação peculiar da mulher ofendida, que terá 
muito mais interesse em que se respeite sua vontade, 
como é lógico.
trata-se de decidir quem será o titular do conflito: a vítima ou o esta-
do. na verdade, o poder punitivo estatal é historicamente alicerçado na 
expropriação dos direitos da vítima, como ensina Michel Foucault.18
17 informativo do stF nº654.
18 Cf. a verdade e as formas jurídicas. trad, roberto Cabral de Melo Machado e eduardo 
Jardim Moraes. rio de Janeiro: nau editora, 1999.
21
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Maria Lúcia Karam, com a lucidez que lhe peculiar, faz a crítica à expro-
priação do conflito, posicionando-se a favor do entendimento que man-
tém a ação pública condicionada à representação da mulher:
Quando se insiste em acusar da prática de um crime e ameaçar 
com uma pena o parceiro da mulher, contra a sua vontade, está se 
subtraindo dela, formalmente dita ofendida, seu direito e seu an-
seio a livremente se relacionar com aquele parceiro por ela esco-
lhido. Isto significa negar-lhe o direito à liberdade, de que é titular, 
para tratá-la como se coisa fosse, submetida à vontade de agentes 
do Estado que, inferiorizando-a e vitimizando-a, pretendem sa-
ber o que seria melhor para ela, pretendendo punir o homem com 
quem ela quer se relacionar – e sua escolha há de ser respeitada, 
pouco importando se o escolhido é ou não um ‘agressor’ – ou que, 
pelo menos, não deseja que seja punido.19
2ª – a posição oposta sustenta que a ação deverá ser 
considerada pública incondicionada, pois o dispositivo 
legal que exige a representação do ofendido no crime 
de lesão corporal simples é previsto na Lei nº 9.099/1995 
(art. 88), explicitamente inaplicável aos casos de violên-
cia doméstica e familiar contra a mulher, pelo art. 41 da 
Lei Maria da Penha. e também não haveria nenhuma in-
constitucionalidade no tratamento desigual dado pela 
Lei ao indivíduo de cada sexo, inscrito como ação afir-
mativa de conteúdo positivo.
neste sentido, posicionou-se o tJBa:
(…) a Lei Maria da Penha tem, como fito, elidir a resposta esta-
tal, mais branda, conferida pela Lei 9.099/95, a casos de violên-
cia de gênero, de modo que a ação penal, em hipóteses de lesão 
corporal leve ou culposa, volta a ser pública incondicionada. VII. 
19 apud CUnha, rogério sanches. Pinto, ronaldo Batista. op. cit., p.p . 202/203.
22
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Pronunciamento da Procuradoria de Justiça pelo improvimento 
da insurgência. VIII. Recurso conhecido e provido.20
este é também o entendimento do supremo tribunal Federal, que, ao 
julgar a adi nº 4424/dF, cujo relator foi o Ministro Marco aurélio, alterou a 
orientação dominante até então, no sentido de exigir a representação da 
ofendida para a propositura da ação penal por lesão corporal simples nos 
casos de violência doméstica e familiar contra a mulher:
(…) Não seria razoável ou proporcional, assim, deixar a atuação 
estatal a critério da vítima. A proteção à mulher esvaziar-se-ia, 
portanto, no que admitido que, verificada a agressão com lesão 
corporal leve, pudesse ela, depois de acionada a autoridade poli-
cial, recuar e retratar-se em audiência especificamente designa-
da com essa finalidade, fazendo-o antes de recebida a denúncia. 
Dessumiu-se que deixar a mulher — autora da representação — de-
cidir sobre o início da persecução penal significaria desconsiderar 
a assimetria de poder decorrente de relações histórico-culturais, 
bem como outros fatores, tudo a contribuir para a diminuição de 
sua proteção e a prorrogar o quadro de violência, discriminação e 
ofensa à dignidade humana. Implicaria relevar os graves impactos 
emocionais impostos à vítima, impedindo-a de romper com o es-
tado de submissão.21
refletindo a controvérsia em torno da discussão, o Ministro Cézar Pe-
luso prolatou votovencido, por entender que a ação penal nestes casos 
deveria ser condicionada:
Vencido o Min. Cezar Peluso, Presidente. Aduzia que o legislador 
não poderia ter sido leviano ao estabelecer o caráter condicionado 
da ação penal. Afirmava que eventual existência de vício de vonta-
de da mulher ofendida, ao proceder à retratação, não poderia ser 
tida como regra. Alertava para a possibilidade de intimidação da 
20 Primeira Câmara Criminal, recurso em sentido estrito nº0000186-6/2008. rel. 
Lourival almeida trindade, j. 16/09/2010.
21 informativo do stF nº654.
23
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mulher em levar a notícia-crime, por saber que não poderia influir 
no andamento da ação penal, assim como para a excepcionalida-
de de os crimes serem noticiados por terceiros. Assinalava que 
a mera incondicionalidade da ação penal não constituiria impe-
dimento à violência familiar, entretanto acirraria a possibilidade 
dessa violência, por meio de atitudes de represália contra a mu-
lher. Asseverava, por fim, que a decisão do Tribunal estaria con-
centrada na situação da mulher — merecedora de proteção por 
parte do ordenamento jurídico —, mas se deveria compatibilizar 
esse valor com a manutenção da situação familiar, a envolver ou-
tros entes.22
Por sua vez, o superior tribunal de Justiça que, inicialmente, adotava o 
entendimento em favor da ação incondicionada,23 passou a adotar a tese 
da ação condicionada,24 mas terminou por se perfilhar ao supremo tribu-
nal Federal, como vemos na seguinte decisão:
HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI MARIA DA PE-
NHA. NATUREZA DA AÇÃO PENAL. REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. 
DESNECESSIDADE. AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA.
1. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 4.424/DF, de re-
latoria do Ministro Marco Aurélio, modificou entendimento majo-
ritário do STJ, reconhecendo a natureza incondicionada da ação 
penal em caso de crime de lesão corporal, praticado mediante
violência doméstica e familiar contra a mulher.
2. Na hipótese, condenado o paciente nas sanções o art. 129, § 
9º, do Código Penal, defendia-se que a representação da ofendida 
é condição de procedibilidade para a ação penal. Diante do aco-
lhimento da orientação da Suprema Corte, o pedido não prospera.
3. Ordem denegada.25
22 idem.
23 hC 106.805/Ms e resP 10.050.276/dF.
24 hC 113.608/Mg, rel. p. acórdão des. Convocado do tJ/sP Celso Limongi, j. 05/03/2009.
25 sexta turma, hC 222528/se, rel. Min. og Fernandes, unanimidade de votos, j. 
22/03/2012, pub. dJe 11/04/2012.
24
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 resgatando a discussão... 
glossário
Ação penal – é o direito de pedir a tutela jurisdicional do estado. Cor-
responde a uma iniciativa no sentido de formular um pedido ao estado-
-juiz, manifestada através da denúncia, nos casos de ação penal pública, e 
da queixa, nos casos em que se procede por iniciativa privada.
Ação penal pública – é a ação penal cuja legitimidade ativa é do estado, 
que a exerce através do Ministério Público. seu instrumento é a denúncia. 
Pode ser incondicionada, quando não depende de representação, ou condi-
cionada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça.
Ação penal de iniciativa privada – é a ação penal cuja iniciativa é 
transferida para o particular ofendido pelo crime. seu instrumento é a 
queixa-crime.
Ações afirmativas – são conceituadas por serge athabaian como 
“medidas privadas ou políticas públicas objetivando beneficiar determi-
nados segmentos da sociedade, sob o fundamento de lhes falecerem as 
mesmas condições de competição em virtude de terem sofrido discrimi-
nações ou injustiças históricas.”1
gênero – segundo o dicionário de direitos humanos, a palavra “gêne-
ro” começa a ser utilizada nos anos 80 do século xx, pelas feministas ame-
ricanas e inglesas, para explicar a desigualdade entre homens e mulheres 
concretizada em discriminação e opressão das mulheres. nessa época, 
as investigações sobre a condição social das mulheres já apontavam uma 
forte desigualdade entre homens e mulheres, que tendia a aumentar 
conforme a classe social, raça, etnia e outras condições de vida. a desi-
gualdade abarcava a esfera pública e privada. na primeira, era visível nos 
salários menores do que o dos homens em serviços iguais e na pequena 
participação política. na esfera privada, se evidenciava pela dupla moral 
sexual e na delegação de papéis domésticos. a desigualdade era e ainda é 
justificada, por setores conservadores religiosos, científicos e políticos, 
pela diferença biológica entre homens e mulheres. Muitos creem que as 
diferenças sociais são essenciais, naturais e inevitáveis. o sexo é uma 
categoria biológica insuficiente para explicar os papéis sociais atribuídos 
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ao homem e à mulher. “gênero” veio como uma categoria de análise das 
ciências sociais para questionar a suposta essencialidade da diferença 
dos sexos, a ideia de que mulheres são passivas, emocionais e frágeis; 
homens são ativos, racionais e fortes. na perspectiva de gênero, essas 
características são produto de uma situação histórico-cultural e política; 
as diferenças são produto de uma construção social. Portanto, não existe 
naturalmente o gênero masculino e feminino.”26
Prisão em flagrante – é modalidade de prisão processual, que não 
tem a finalidade de punir, mas sim de “assegurar os meios e os fins 
do processo.” Como espécie de medida cautelar, sua adoção depen-
de da existência dos requisitos do fumus boni juris, que corresponde 
à aparência do bom direito alegado por quem requer a medida, e do 
periculum in mora, consistente na probabilidade de que a demora na 
prestação da jurisdição implicará em perecimento ou extinção do di-
reito veiculado no pedido.
Filme
“Silêncio das inocentes” (Brasil, 2010), argumento de Naura 
Schneider e direção de Ique Gazola.
OCWC
Notícias
Violência contra mulher: Marias ainda sofrem Publicada na Tribuna 
da Bahia no dia 07/07/2010.
Cristiane Flores
Às vésperas de completar quatro anos, no dia 7 de agosto de 2006, a 
lei Maria da Penha está longe de inibir a prática de violência contra mu-
lher. no Brasil, cerca de 70% dos crimes contra as mulheres acontecem 
no âmbito doméstico e os agressores são os maridos ou companheiros. 
a cada quinze segundos uma mulher é espancada por um homem com 
quem mantém ou manteve uma relação afetiva.
26 apud CUnha, rogério sanches. Pinto, ronaldo Batista. idem, p. 42.
26
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dois casos de grande repercussão, o assassinato da advogada Mércia 
nakashima, 28 anos, que teve o veículo jogado na represa de nazaré Pau-
lista (64 km de são Paulo), e o desaparecimento da modelo eliza samudio, 
25 anos, que tentava comprovar a paternidade do goleiro do Flamengo, 
Bruno Fernandes, de quem teria sofrido ameaças de morte, representam 
esse alto índice de crimes contra a mulher no país.
em salvador, os índices de violência contra as mulheres são alarman-
tes. no ano passado, foram registradas 8.581 ocorrências policiais na 
deam – delegacia especial de atendimento à Mulher – que abrange amea-
ças, agressões morais, lesões corporais, espancamentos, estupros, den-
tre outras formas de violência.
a delegada da deam de Periperi, olveranda oliveira, afirma que a lei 
Maria da Penha foi fundamental para coibir a violência e incentivar mu-
lheres a denunciarem, entretanto ainda é grande o número de ocorrên-
cias. “desde que foi sancionada, se fala muito na lei Maria da Penha, essa 
divulgação é fundamental para coibir a prática, hoje asmulheres estão 
mais corajosas, denunciando cada vez mais. Já os homens estão cientes 
da lei”, explica.
Poucas mulheres sabem, mas ameaça também deve ser denunciada. 
“a simples ameaça constitui um crime, portanto a mulher que estiver 
sendo ameaçada deve prestar uma queixa, para que seja instaurado um 
inquérito e que as devidas providências sejam tomadas a fim de preser-
var a vítima”, orienta.
“a modelo eliza, por exemplo, tomou as providências legais, em rela-
ção ao possível agressor, no entanto, quando se está sob ameaça o ideal 
é evitar o encontro, se fazer acompanhar, para evitar mal maior”.
Lei Maria da Penha
a delegada ressalta também que “por menor e menos ofensivo que 
pareça qualquer tipo de agressão deve ser levada ao conhecimento da 
delegacia, porque toda agressão tende a se agravar”, conclui.
a Lei Maria da Penha foi sancionada pelo presidente Luiz inácio Lula da 
silva com objetivo de criar mecanismos para coibir a violência domésti-
ca e familiar contra as mulheres. esta lei também conceitua e define as 
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formas de violência vividas pelas mulheres cotidianamente: física, psi-
cológica, moral, patrimonial e sexual. além disso, determina a criação de 
juizados especializados, com competência cível e criminal para abranger 
as questões de família decorrentes da violência contra as mulheres, e 
proíbe a aplicação de penas pecuniárias (pagamento de cestas básicas ou 
multas) aos agressores.
geisa santos, coordenadora da superintendência de Políticas para as 
Mulheres da secretaria de Promoção da igualdade do estado da Bahia 
(sepromi), afirma que, em 2007, foi elaborado um documento para auxi-
liar na execução de ações de política voltadas para as mulheres. dentre 
essas ações estão o enfrentamento a todas as formas de violência contra 
as mulheres.
“Para auxiliar a prática da Lei Maria da Penha, além das delegacias de 
atendimento as Mulheres, foram implantados na Bahia, quatro Centros 
de referência (nos municípios de salvador, Lauro de Freitas, Juazeiro e 
Vitória da Conquista) e de apenas uma Casa-abrigo.
as Casas-abrigo são equipamentos públicos para onde vão as mulhe-
res – e seus filhos e filhas – que correm risco de morte. É uma moradia 
temporária para famílias que já não podem mais voltar para suas casas, 
nem têm a quem recorrer”.
Metas e Recomendações do CNJ
Normas
Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2011. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 
1995. arts. 312 e 313 do Código de Processo Penal. Convenção sobre a eli-
minação de todas as Formas de discriminação Contra a Mulher, aprovada 
pelo decreto Legislativo 26/1994 e promulgada pelo presidente da re-
pública pelo decreto 26/1994. Convenção interamericana para prevenir, 
punir e erradicar a Violência Contra a Mulher, aprovada pelo Congresso 
nacional por meio do decreto Legislativo nº 107/1995 e promulgada pelo 
presidente da república pelo decreto nº 1.973/1996.
28
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Documentos e relatórios
Veja decisão do juiz Mário roberto Kono de oliveira, do Juizado Cri-
minal especial Unificado de Cuiabá, que deferiu medidas protetivas em 
favor de um homem em face de agressão de uma mulher, com base na 
Lei Maria da Penha:
“decisão interlocutória própria padronizável proferida fora de audi-
ência. autos de 1074 /2008 Vistos, etc. trata-se de pedido de medidas 
protetivas de urgência formulada por C. B., contra M. C. F. d., em autos 
de crime de ameaça, onde o requerente figura como vítima e a requerida 
como autora do fato.
o pedido tem por fundamento fático, as várias agressões físicas, psi-
cológicas e financeiras perpetradas pela autora dos fatos e sofridas pela 
vítima e, para tanto, instrui o pedido com vários documentos como: regis-
tro de ocorrência, pedido de exame de corpo de delito, nota fiscal de con-
serto de veículo avariado pela vítima, e inúmeros e-mails difamatórios e 
intimidatórios enviados pela autora dos fatos à vítima. Por fundamento 
de direito requer a aplicação da Lei de nº 11.340, denominada “Lei Maria 
da Penha”, por analogia, já que inexiste lei similar a ser aplicada quando 
o homem é vítima de violência doméstica. resumidamente, é o relatório.
deCido: a inovadora Lei 11.340 veio por uma necessidade premente e 
incontestável que consiste em trazer uma segurança à mulher vítima de 
violência doméstica e familiar, já que por séculos era subjugada pelo ho-
mem que, devido a sua maior compleição física e cultura machista, com-
pelia a “fêmea” a seus caprichos, à sua vilania e tirania.
houve por bem a lei, atendendo a súplica mundial, consignada em tra-
tados internacionais e firmados pelo Brasil, trazer um pouco de igualdade 
e proteção à mulher, sob o manto da Justiça. esta lei que já mostrou o seu 
valor e sua eficácia, trouxeram inovações que visam assegurar a prote-
ção da mulher, criando normas impeditivas aos agressores de manterem 
a vítima sob seu julgo enquanto a morosa justiça não prolatasse a decisão 
final, confirmada pelo seu trânsito em julgado. entre elas a proteção à 
vida, a incolumidade física, ao patrimônio, etc.
embora em número consideravelmente menor, existem casos em que 
o homem é quem vem a ser vítima da mulher tomada por sentimentos de 
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PROgRAMA DE FORMAÇãO 
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posse e de fúria que levam a todos os tipos de violência, diga-se: física, 
psicológica, moral e financeira. no entanto, como bem destacado pelo 
douto causídico, para estes casos não existe previsão legal de prevenção 
à violência, pelo que requer a aplicação da lei em comento por analogia. 
tal aplicação é possível?
a resposta me parece positiva. Vejamos: É certo que não podemos 
aplicar a lei penal por analogia quando se trata de norma incriminadora, 
porquanto fere o princípio da reserva legal, firmemente encabeçando os 
artigos de nosso Código Penal : “art. 1º. não há crime sem lei anterior que o 
defina. não há pena sem prévia cominação legal.”
se não podemos aplicar a analogia in malam partem, não quer di-
zer que não podemos aplicá-la in bonam partem, ou seja, em favor do 
réu quando não se trata de norma incriminadora, como prega a boa 
doutrina: “entre nós, são favoráveis ao emprego da analogia in bonam 
partem: José Frederico Marques, Magalhães noronha, aníbal Bruno, 
Basileu garcia, Costa e silva, oscar stevenson e narcélio de Queiróz” 
(daMÁsio de JesUs -direito Penal – Parte geral -10ª ed. pag. 48) ora, 
se podemos aplicar a analogia para favorecer o réu, é óbvio que tal apli-
cação é perfeitamente válida quando o favorecido é a própria vítima de 
um crime. Por algumas vezes me deparei com casos em que o homem 
era vítima do descontrole emocional de uma mulher que não media es-
forços em praticar todo o tipo de agressão possível contra o homem. 
Já fui obrigado a decretar a custódia preventiva de mulheres “à beira 
de um ataque de nervos”, que chegaram a tentar contra a vida de seu 
ex-consorte, por pura e simplesmente não concordar com o fim de um 
relacionamento amoroso.
não é vergonha nenhuma o homem se socorrer ao Pode Judiciário para 
fazer cessar as agressões da qual vem sendo vítima. também não é ato de 
covardia. È sim, ato de sensatez, já que não procura o homem/vítima se 
utilizar de atos também violentos como demonstração de força ou de vin-
gança. e compete à Justiça fazer o seu papel de envidar todos os esforços 
em busca de uma solução de conflitos, em busca de uma paz social.
no presente caso, há elementos probantes mais do que suficientes 
para demonstrar a necessidade de se deferir a medidas protetivas de 
30PROgRAMA DE FORMAÇãO 
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urgência requeridas, pelo que defiro o pedido e determino à autora do 
fato o seguinte: 1. que se abstenha de se aproximar da vítima, a uma dis-
tância inferior a 500 metros, incluindo sua moradia e local de trabalho; 
2. que se abstenha de manter qualquer contato com a vítima, seja por 
telefonema, e-mail, ou qualquer outro meio direto ou indireto. expeça-se 
o competente mandado e consigne-se no mesmo a advertência de que o 
descumprimento desta decisão poderá importar em crime de desobedi-
ência e até em prisão. i.C.”
(http://www.jusbrasil.com.br/noticias/157860/
lei-maria-da-penha-e-aplicada-para-proteger-homem).
Veja também decisão do tJBa sobre a desnecessidade de representa-
ção da mulher para a persecução penal no crime de lesão corporal:
direito ProCessUaL PenaL. reCUrso, eM sentido estrito. reJei-
ção da denÚnCia, no PriMeiro graU de JUrisdição. inConForMis-
Mo MinisteriaL. Lesão CorPoraL LeVe, PratiCada no Contexto 
de VioLÊnCia doMÉstiCa e FaMiLiar. retratação da rePresenta-
ção. desCaBiMento. ação PenaL inCondiCionada. i. o rePresen-
tante do MinistÉrio PÚBLiCo estadUaL, eM LaBoriosa Peça 
reCUrsaL, Pretende seJa reCeBida a denÚnCia, eM desFaVor do 
reCorrido, ao argUMento de QUe a ação PenaL, eM Casos de Le-
são CorPoraL LeVe oU CULPosa, seria PÚBLiCa inCondiCionada, 
LeVando-se, eM Linha de Conta, QUe a Lei Maria da Penha ProÍBe, 
exPressaMente, a aPLiCação da Lei 9.099/95, a QUaL deterMina, 
ao seU tUrno, ser a Predita ação PenaL CondiCionada À rePre-
sentação da VÍtiMa. no Caso soLVendo, a VÍtiMa, agredida Por 
seU CoMPanheiro, CoM PanCadas de Pedra, na região da CaBeça 
e do PesCoço, retratoU-se da rePresentação, adredeMente, 
oFereCida, eM aUdiÊnCia, designada Para este FiM esPeCÍFiCo, 
CoMo deterMina a Lei Maria da Penha, eM seU art. 16 – eM Casos 
de açÕes Penais CondiCionadas À rePresentação. ii. de Logo, so-
BreLeVe-se QUe o Ponto FULCraL do Presente reCUrso enVoLVe 
Verdadeira Vexata QUaestio, tanto assiM QUe o ProCUrador 
geraL da rePÚBLiCa, roBerto gUgeL, ProPÔs ação direta de 
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PROgRAMA DE FORMAÇãO 
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inConstitUCionaLidade (adi 4424), a QUaL enContra-se Pendente, 
no stF, soB a reLatoria do Ministro MarCo aUrÉLio, CoM o desi-
derato de aFastar a aPLiCaBiLidade da Lei dos JUiZados esPe-
Ciais (9.099/95) aos CriMes, CoMetidos no ÂMBito da Lei Maria da 
Penha (11.340/2006), BeM CoMo Para deterMinar QUe o CriMe de 
Lesão CorPoraL, de natUreZa LeVe, CoMetido Contra MULher 
seJa ProCessado, Mediante ação PenaL PÚBLiCa inCondiCionada. 
todaVia, não hÁ, ainda, PreVisão do JULgaMento. iii. BeM É de Ver 
QUe o artigo 16, da Lei 11340/06, segUndo o QUaL “nas açÕes Pe-
nais PÚBLiCas CondiCionadas À rePresentação da oFendida de 
QUe trata esta Lei, só serÁ adMitida a renÚnCia À rePresenta-
ção Perante o JUiZ, eM aUdiÊnCia esPeCiaLMente designada CoM 
taL FinaLidade, antes do reCeBiMento da denÚnCia e oUVido o 
MinistÉrio PÚBLiCo”, destina-se-ia ÀQUeLoUtros deLitos, tais 
CoMo aMeaça, CriMes Contra a honra, VioLação de CorresPon-
dÊnCia, etC, não se estendendo Às hiPóteses de Lesão CorPoraL 
LeVe oU CULPosa, exPressaMente, estaMPadas na Lei 9.099/95. É o 
QUe asseVeraM aLiCe BianChini e LUiZ FLÁVio goMes1. nessa Mes-
MÍssiMa aLheta, o ProMotor FaUsto rodrigUes de LiMa, eM arti-
go intitULado “a renÚnCia das VÍtiMas e os Fatores de risCo À 
VioLÊnCia doMÉstiCa: da ConstrUção 1 Lei da VioLÊnCia Contra a 
MULher – renÚnCia e rePresentação da VÍtiMa. disPonÍVeL eM 
WWW.JUsnaVigandi.CoM.Br À aPLiCação do art. 16 da Lei Maria 
da Penha”2, PontUa, PerCUCienteMente: “o artigo 16 É exPresso: a 
renÚnCia soMente Pode oCorrer nos CriMes de ação PenaL PÚ-
BLiCa CondiCionada À rePresentação. estes são FaCiLMente 
identiFiCÁVeis na LegisLação PenaL, Mediante a exPressão: ‘(…) 
soMente se ProCede Mediante rePresentação’ (art. 100, do Códi-
go PenaL). os deMais são de ação PenaL PÚBLiCa inCondiCionada 
(ressaLVando-se os Casos de ação PenaL PriVada). não existeM 
oUtras hiPóteses. (…) o CriMe dePendente de rePresentação 
Mais CoMUMente denUnCiado É o de aMeaça (art. 147). no entan-
to, Poderão oCorrer aLgUns oUtros Mais raros (Menos regis-
trados), CoMo o de Perigo VenÉreo (art. 130, CP), VioLação da 
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PROgRAMA DE FORMAÇãO 
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CorresPondÊnCia (art. 151, CP), diVULgação de segredo (art. 153, 
CP), FUrto de Coisa CoMUM (art. 156, CP) oU QUaLQUer CriMe Con-
tra o PatriMÔnio PreVisto no tÍtULo ii do Código PenaL, CoMeti-
do seM VioLÊnCia oU graVe aMeaça (art. 182, inCs. i, ii e iii, C/C art. 
183, inC. i, CP) (…)”. e, adiante, diLUCida: “segUndo o Código PenaL, 
essa ‘LeVeZa’ [da Lesão CorPoraL] É CaraCteriZada nos Casos 
eM QUe as VÍtiMas soBreViVeM e se reCUPeraM atÉ o 30º dia da 
agressão, seM aPresentar seQÜeLas. nesse Contexto, MUitas 
VÍtiMas ProCUraM JUstiFiCar a PróPria agressão soFrida e isen-
tar o agressor de CULPa, aLegando QUe as diVersas LesÕes so-
Fridas resULtaM de sUa ‘PeLe MUito BranQUinha, Basta enCostar 
QUe FiCa VerMeLho!’ aConteCe QUe este siMPLes ‘enCostar’ signi-
FiCa, na PrÁtiCa, horas segUidas de ChUtes, soCos, taPas e esga-
nadUras, QUe as VÍtiMas, eM seU Medo e FragiLidade, tentaM 
atenUar Para eVitar noVas agressÕes. no entanto, CoM a Lei 
Maria da Penha, o CriMe de Lesão não É Mais Considerado de ‘Me-
nor PotenCiaL LesiVo’, PorQUe PreVÊ Pena de 3 anos de Prisão. a 
ação PenaL VoLtoU a ser inCondiCionada, oU seJa, não Mais de-
Pende de rePresentação das VÍtiMas. o MinistÉrio PÚBLiCo deVe 
agir de oFÍCio. o aCoMPanhaMento MULtidisCiPLinar, se neCessÁ-
rio, deVe aConteCer siMULtaneaMente ao ProCesso CriMinaL”. 
(ideM, Pag. 107) este reLator aLBerga taL interPretação, no QUe 
tangenCia a MatÉria deCidenda. iV. da siMPLes LeitUra do roL de 
CriMes QUe exigeM rePresentação Para a deFLagração da ação 
PenaL, É PossÍVeL ConCLUir QUe taL QUaLidade de deLitos reVes-
te-se de LesiVidade diMinUta, se CoMParada ÀQUeLes QUe desÁ-
gUaM eM açÕes PÚBLiCas inCondiCionadas. a Lesão CorPoraL 
Contra CÔnJUge oU CoMPanheiro do agressor, oU CoM QUeM 
este ConViVa oU tenha ConViVido, oU, ainda, PreVaLeCendo-se o 
agente das reLaçÕes doMÉstiCas, de CoaBitação oU de hosPita-
Lidade, CoMo estaMPado, no texto do art. 129, §9º, do CPB, PreVÊ 
Pena MÁxiMa de 03 anos de detenção, o QUe FaZ CoM QUe esCa-
PeM, Mais UMa VeZ, do aLCanCe da Lei 9.099/95, a QUaL aBrange os 
CriMes CUJa Pena MÁxiMa não ULtraPasse 02 anos e exige 
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rePresentação da VÍtiMa, Para a ProPositUra da ação PenaL. V. 
no Caso soLVendo, a VÍtiMa, JÁ seParada do denUnCiado, hÁ aL-
gUns dias, teria reCUsado o ConVite de CoM este ConVersar, 
desPertando-Lhe inConForMisMo, a Ponto de, eM rePresÁLia, 
haVer-se aProxiMado da VÍtiMa, taPando-Lhe a BoCa, arras-
tando-a PeLo Chão e Passando a agredi-La, CoM Pedradas, na 
região da CaBeça e do PesCoço. esCUsado exPLiCitar QUe se tra-
ta de regiÕes, extreMaMente, sensÍVeis do CorPo hUMano. to-
daVia, CoMo o LaUdo não ConCLUiU PeLa inCaPaCitação da 
VÍtiMa, Por Mais de 30 dias, a Lesão Foi CLassiFiCada CoMo “LeVe”. 
saLta aos oLhos, ContUdo, QUe essa LeVeZa não se ConFUnde 
CoM aQUeLa 2 in VioLÊnCia doMÉstiCa – VULneraBiLidades e desa-
Fios na interVenção CriMinaL e MULtidisCiPLinar. rio de Janeiro: 
LUMen JUris, 2009, P. 82. deCantada Por CeCÍLia MeireLes, eM Poe-
Ma hoMÔniMo, QUe diZ: “LeVe É o PÁssaro: e a sUa soMBra Voan-
te, Mais LeVe (…)”. não e não! a agressão, a Pedradas, LeMBra 
MesMo o aPedreJaMento, soFrido Por Maria MadaLena, eM Cena 
BÍBLiCa, de singULarBarBÁrie, QUe Vergasta a Mais singeLa no-
ção de dignidade hUMana. aLiÁs, oUtro Ponto de interCessão, 
entre os dois trÁgiCos eVentos, Consiste no Fato de QUe a Per-
sonageM BÍBLiCa teria sido agredida, eM PLena Praça PÚBLiCa, 
enQUanto, no Caso, soB exaMe, a VioLÊnCia, Posta, eM deBate, 
neste LoCUs JUdiCiaL, não Pode PerManeCer, soB o oLhar de es-
gUeLha, Por Parte do estado-JUiZ, Pretendendo, Contradito-
riaMente, LaVar as Mãos, À seMeLhança de PiLatos, de noVo a 
reFerÊnCia eVoCatória das esCritUras sagradas, QUase QUe 
nUM ato de CoMiseração Para CoM aQUeLe QUe ergUeU a Pedra 
e FeriU a MULher QUe UM dia ChaMoU de aMor… Passando-se, ao 
Largo, de exCogitaçÕes LaBoriosas, eM derredor do CaMPo so-
CioLógiCo da VioLÊnCia Contra as MULheres, saBe-se e ressaBe-
-se QUe taL teMa enVoLVe os ChaMados deLitos de Poder, Poder 
este CUJas raÍZes etioLógiCas deitaM sUas Vertentes eM anCes-
traL PatriarCaLisMo. eM oUtro giro de argUMentação VerBaL, 
soBreLeVe-se QUe, Via de regra, sói oCorrer QUe o ProCesso, 
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enVoLVendo a FaMÍLia, transMUde-se no PaLCo das desaVenças 
e ConFLitos ConJUgais. CarneLUtti, UM dos Poetas do ProCes-
so, deCLaroU, Certa VeZ, QUe o ProCesso existe, PorQUe os ho-
Mens não saBeM aMar. “o ProCesso É, Portanto, o desgraçado 
sUCedÂneo do aMor QUe os hoMens não soUBeraM CULtiVar”. 
Vai, daÍ, QUe os hoMens PassaM a ser Partes oU sUJeitos Pro-
CessUais. de oUtro ÂngULo de anÁLise, dir-se-Á QUe neM seMPre 
o aMor É essa Coisa sUBLiMe e PUra da Poesia e dos Contos de 
Fada. hÁ aMores iMPUros, esQUiZóides, hiPoManÍaCos (estes, de 
Vida BreVe, CoMo UM Fogo-FÁtUo, CoMo se Fora “FLor de UM dia”) 
e Paranóides, estes ÚLtiMos, extreMaMente, egoCÊntriCos, iM-
PeriaListas, sUPerexigentes, enChendo-se, de rePente, de CiÚ-
Mes, QUe tortUraM o ParCeiro, aLÉM de disCUssÕes FreQÜentes, 
de VioLÊnCias e Cenas inJUstiFiCadas (eMÍLio Mira Y LoPeZ. QUa-
tro gigantes da aLMa: trad. Ver. e PreFaCiada Por CLÁUdio de 
araÚJo Lins. – 14 ed. – rio de Janeiro: JosÉ oLYMPio, 1991, P. 147 e ss.). 
JÁ disse aLgUÉM QUe QUeM resistir a eLe, taLVeZ, ganhe o reino 
dos CÉUs, PorÉM, seM dÚVida, Perde o da terra. CoMo CoroLÁ-
rio, Mais QUe ineLUtÁVeL, É deVeras LaMentÁVeL Pretenda o es-
tado PÔr, soB os hoLoFotes, a QUestão da VioLÊnCia doMÉstiCa, 
Para dePois, aFirMar QUe eLa deVa PerManeCer, entre QUatro 
Paredes. sUPreMo disLate… sUPreMo Paradoxo, inFirMando nÉL-
son hUngria QUe aFirMoU, saLVo erro de MeMória, ser “o direito 
PenaL UM ConJUnto harMÔniCo de norMas JUrÍdiCas e não a 
Banda do rei de tÚnis CoM as sUas dissonÂnCias odiosas”. e, Por 
seM dÚVida, seria dar raZão a Kant de LiMa3, QUando aFirMa 
QUe o sisteMa JUdiCiaL BrasiLeiro reFLete UMa esQUiZoFrenia, 
resULtante das ConseQÜÊnCias, eM nossa identidade CULtUraL, 
de UMa PartiCULar reLação QUe desenVoLVeMos CoM nossa he-
rança CoLoniaL PortUgUesa e, Mais reCenteMente, CoM o iMPe-
riaLisMo eConÔMiCo e CULtUraL da eUroPa e dos estados Unidos 
da aMÉriCa. inFeLiZMente, diante da ProLiFeração exagerada de 
Leis, nosso ordenaMento JUrÍdiCo 3 roBerto Kant de LiMa. sin-
CretisMo JUrÍdiCo oU Mera esQUiZoFrenia? a LógiCa JUdiCiaL da 
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exCLUdÊnCia e a organiZação JUdiCiÁria BrasiLeira. in horÁCio 
WanderLeY rodrigUes (organiZador. LiçÕes aLternatiVas de di-
reito ProCessUaL. são PaULo: editora aCadÊMiCa, 1995, P. 159) não 
É UnÍVoCo, Mas PLUrÍVoCo, a eMitir dissonÂnCias interPretati-
Vas. daÍ, o CUidado do oPerador JUrÍdiCo, ao BUsCar interPre-
tÁ-Lo, sisteMatiCaMente, e, não, de ForMa, MeraMente, tóPiCa. 
Vi. soBre a ineFiCiÊnCia dos JUiZados esPeCiais CriMinais, eM Ca-
sos QUe tais, diria o geniaL LÊnio LUiZ streCK4, CoM o aLÍneo QUe 
Lhe É PeCULiar, QUe “CoM o JUiZado esPeCiaL CriMinaL, o estado 
sai Cada VeZ Mais das reLaçÕes soCiais. no FUndo, institUCiona-
LiZoU a ‘sUrra doMÉstiCa’ CoM a transForMação dos deLitos de 
LesÕes CorPorais de ação PÚBLiCa inCondiCionada Para ação 
PÚBLiCa CondiCionada. Mais do QUe isso, a noVa Lei dos JUiZados 
PerMite, agora, o ‘dUeLo dos LiMites das LesÕes’, eis QUe não in-
terFere na CondUta entre as Pessoas, desde QUe os FeriMentos 
não ULtraPasseM as LesÕes LeVes (QUe, CoMo se saBe, PeLas exi-
gÊnCias do art. 129 e seUs ParÁgraFos, PodeM não ser tão LeVes 
assiM). o estado assiste de CaMarote e diZ: BataM-se QUe eU não 
tenho nada CoM isso! É o neoLiBeraLisMo no direito, agraVan-
do a PróPria Crise da denoMinada ‘teoria do BeM JUrÍdiCo’, Pró-
Pria do ModeLo LiBeraL-indiVidUaLista de direito’”. na MesMÍssiMa 
aLheta, FLÁVia PioVesan5 PontiFiCa QUe “o graU de ineFiCÁCia da 
reFerida Lei [9.099/95] reVeLa o Paradoxo do estado: roMPer 
CoM a CLÁssiCa diCotoMia PÚBLiCo-PriVado, de ForMa a dar Visi-
BiLidade a VioLaçÕes QUe oCorreM no doMÍnio PriVado, Para, 
então, deVoLVÊ-Las a este MesMo doMÍnio, soB o Manto da Ba-
naLiZação, eM QUe o agressor É Condenado a Pagar À VÍtiMa 
UMa Cesta BÁsiCa oU Meio Fogão oU Meia geLadeira…” neste Pas-
so, CoM a MÁxiMa Venia e CoM todo o resPeito aos QUe CoMUn-
gaM oPinião diVersa, esta reLatoria FiLia-se À tese de QUe a Lei 
Maria da Penha teM, CoMo Fito, eLidir a resPosta estataL, Mais 
Branda, ConFerida PeLa Lei 9.099/95, a Casos de VioLÊnCia de gÊ-
nero, de Modo QUe a ação PenaL, eM hiPóteses de Lesão CorPo-
raL LeVe oU CULPosa, VoLta a ser PÚBLiCa inCondiCionada. Vii. 
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PronUnCiaMento da ProCUradoria de JUstiça PeLo iMProViMen-
to da insUrgÊnCia. Viii. reCUrso ConheCido e ProVido.
Classe: RECuRSO EM SENTIDO ESTRITO
Número do Processo: 0000186-6/2008
Órgão Julgador: PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL
Relator: LOuRIVAL ALMEIDA TRINDADE
Data do julgamento 16/10/2010.
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Exercício
1ª Questão para debate:
Recentes notícias publicadas em jornais de grande circulação infor-
mam que Vereadora X, musa e líder do movimento funk, está sendo 
investigada por suspeita de sequestrar e espancar o marido W.
Seria possível a W obter a proteção da Lei Maria da Penha, benefician-
do-se ele, na qualidade de vítima, de todas as medidas ali previstas?
Emita um parecer fundamentado e conclusivo sobre a indagação.
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2ª Questão para debate:
A Senhora Z, empregada doméstica na casa da atriz B, é pela mesma 
agredida com uso de uma tesoura, vindo a sofrer lesões corporais le-
ves. Considerando que Z não possui local seguro para ficar até a deci-
são da causa, seria possível que ela pleiteasse em seu favor a medida 
protetiva de urgência prevista no art. 22, II, da Lei Maria da Penha?
Emita um parecer fundamentado e conclusivo sobre a indagação.
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2. unidade 2 – a reforma ProcedimentaL no Processo 
PenaL BrasiLeiro.
a reboque de pontuais reformas observadas no ano de 2008, o reve-
lho Código de Processo Penal brasileiro, decreto-Lei nº. 3.689, de 3 de 
outubro de 1941, viu-se reformulado em vários de seus dispositivos, seja 
no aditamento de normas já vigentes, seja na inserção de novas regras 
oumesmo na inversão da ordem de determinados atos procedimentais.
inobstante os avanços das alterações tópicas, materializadas na edi-
ção das Leis números 11.689 (que trata da reforma do Júri); 11.690 (que 
deu nova disciplina à prova) e 11.719 (aborda a emendatio libelli, a mutatio 
libelli e procedimentos), melhor expediente seria a promulgação de um 
novo Código, providência mais afinada com a necessidade de coesão e 
harmonia entre seus diversos institutos. É bem verdade, porém, que a 
aprovação de um novo diploma dessa natureza comumente esbarra em 
enormes entraves no Congresso nacional.
Com efeito, a promulgação da Constituição Federal já reclamava de per 
si modificações da legislação infraconstitucional, mormente do processo 
penal, intimamente entrosado com o fundamental direito de liberdade. 
decerto que não há mais espaço para um conjunto de normas pensadas 
para épocas totalitárias, e cuja recepção pela Carta Magna sempre foi 
apontada como duvidosa. novos ventos sopram na república desde o so-
erguimento do estado democrático de direito.
É, portanto, traço comum das citadas alterações aproximarem-se das 
ideias de modernização, efetividade e de celeridade que já vinham sendo 
levadas a efeito pela doutrina e pela jurisprudência, sempre em cotejo 
com os valores constitucionais. É bem verdade que os operadores do di-
reito por vezes mirando no melhor dever ser normativo, vinham incidin-
do em inovações contra legem, ao “argumento cheio” de que se tratavam 
de conformações constitucionais. de sorte que as reformas também são 
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relevantes para consolidarem ou rechaçarem de vez interpretações e 
tendências que se cristalizaram em tribunais e meios acadêmicos.
no que se refere à reformulação procedimental do Código de Proces-
so Penal, matéria de investigação do presente capítulo, é possível afirmar 
que as modificações aprovadas foram profundas e devem ser bem rece-
bidas, não só pelo mero sabor de novidade, mas porque, de fato, alinham-
-se com o ambiente democrático em que felizmente vivemos nas últimas 
duas décadas.
de saída, impende distinguir processo de procedimento. a palavra 
processo deriva de pro cedere – andar para frente, ao passo que proce-
dimento remete à ideia de coordenação e ordem dos atos processuais.
Nesse sentido, esclarece TOURINHO27 em suas sempre oportu-
nas lições que “(…) Enquanto o processo representa a atividade do 
Juiz na sua função de aplicar a lei ao caso concreto, o procedimen-
to é o modus faciendi, a maneira como essa atividade se desenvol-
ve e se realiza”.
em linhas gerais, a reforma procedimental alcançou os seguintes aspec-
tos do processo penal: a) a atuação de assistentes técnicos indicados pelas 
partes passa a ser admitida; b) o juiz poderá absolver sumariamente o acu-
sado, após a apresentação da resposta preliminar; c) instituiu-se o princípio 
da identidade física do juiz no processo penal; d) o art. 594 do CPP, que pre-
via o recolhimento do acusado à prisão como condição para que pudesse 
apelar, foi finalmente revogado; e) a citação por hora certa passa a ser ad-
mitida em determinada hipótese; f) o interrogatório do acusado é transfe-
rido para depois da oitiva das testemunhas; g) o juiz poderá determinar, na 
sentença, o valor da indenização à vítima, sem necessidade de liquidação, 
quando for de fácil constatação o quantum do prejuízo sofrido pelo ofendi-
do; h) a testemunha ou o ofendido que tiver temor de depor na presença do 
acusado será inquirida mediante videoconferência e, somente na impossi-
bilidade dessa forma, o acusado será retirado da sala de audiência.
27 FiLho. Fernando da Costa tourinho. Código de processo penal comentado: vol. 2 – 12ª 
ed. ver. e atual. – são Paulo: saraiva, 2009, p. 6.
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E APERFEIÇOAMENTO 
DE MAgISTRADOS 
E SERVIDORES
isso posto, convém enquadrar o panorama das apontadas inovações 
procedimentais, introduzidas com o advento da Lei nº. 11.719, de 20 de 
junho de 2008.
da leitura do renovado art. 394 do CPP ressalta que o procedimento 
pode ser comum ou especial, nesse último caso sempre que houver pre-
visão específica (parágrafo 2º). isso porque o procedimento comum é de 
aplicação residual. em outras palavras, se a lei não dispuser de forma 
expressa, como o faz, por exemplo, para os crimes contra a propriedade 
imaterial no próprio Código (artigos 524 e seguintes) ou para os ilícitos 
da Lei antidrogas em legislação extravagante (Lei nº. 11.343/2006), o feito 
deverá ser processado conforme a disciplina do procedimento comum.
ainda na esteira do renovado art. 394 do CPP, depreende-se que o pro-
cedimento comum organiza-se em três diferentes ritos, vale dizer, ordi-
nário, sumário e sumaríssimo. o critério de distinção é um só: o quantum 
de sanção máxima cominada a cada delito. assim é que o rito ordinário 
será aplicado aos crimes cuja pena máxima é igual ou superior a quatro 
anos; o rito sumário é cabível quando tiver por objeto crime cuja san-
ção máxima cominada seja inferior a quatro anos de pena privativa de 
liberdade; o rito sumaríssimo, a seu turno, deverá ser observado para 
os crimes de menor potencial ofensivo (aqueles cuja pena máxima não é 
superior a dois anos), na forma da lei28.
sendo assim, quão mais complexo seja o fato, mais extenso será o pro-
cedimento. o propósito dessa fórmula é, basicamente, o de garantir ao réu 
maior tempo para a efetivação de sua defesa quando estiver diante de uma 
acusação que possa restringir mais gravemente seu direito de liberdade.
É de se anotar, ademais, que o regramento adotado para os crimes de 
menor potencial ofensivo (Leis números 9.099/95 e 10.259/01) compõe o 
procedimento comum, malgrado sua localização em lei esparsa. ainda de 
acordo com o § 4º, os artigos 395 a 397 do CPP (veja-se que o art. 398 foi 
revogado) aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, 
28 necessário lembrar que a dicção do art. 61 da Lei nº. 9.099/95 não retira dos ilícitos 
que contam com procedimento especial os benefícios previstos para os crimes de 
menor potencial ofensivo. 
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E SERVIDORES
sem exceção. relevante o § 5º do art. 394 do CPP que estende, de forma 
subsidiária, aos procedimentos especial, sumário e sumaríssimo as dis-
posições próprias do rito ordinário.
em síntese, o rito ordinário, a par de servir àqueles crimes especifi-
cados como mais graves, também deve ser aceito como um conjunto de 
regras gerais que deve orientar o processo penal sempre que não houver 
disposição em contrário.
na mesma esteira, é de se esclarecer que sempre que num só proces-
so o agente responder a dois ou mais delitos (concurso de crimes) cujas 
penas máximas somadas igualem ou ultrapassem o patamar mínimo de 
quatro anos, será aplicado o rito ordinário, mais benéfico ao acusado.
toUrinho29 organiza o procedimento, qualquer que seja ele, em três 
etapas, a postulatória, que se verifica com o oferecimento de denúncia 
ou queixa e se encerra com a resposta do réu; a fase instrutória, que se 
subdividiria em fase probatória e alegações finais; e a fase decisória.
Vê-se que os artigos 395 a 397 do Código cuidam do recebimento da 
inicial e da defesa prévia. de sorte que, acaso se presentifique qualquer 
um dos motivos elencados no art. 395, a inicial acusatória (denúncia mi-
nisterial ou queixa-crime do particular) poderá ser rejeitada liminarmen-
te. a boa nova é a possibilidade de o juiz antecipar o julgamento da lide, 
após a defesa prévia (art. 397).
É importante remarcar que os artigos 395 a 397 são aplicáveis para 
todo e qualquer procedimento. Portanto

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