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Resenha: Desenvolvimento e Subdesenvolvimento - Celso Furtado

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FURTADO, Celso. Resenha do Cap. 2 ao Cap. 4 do livro: Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. Editora Contraponto. 2009.
Wendell da Costa Magalhães*[2: 	Graduando do curso de Economia da Universidade Federal do Pará]
A preocupação com o desenvolvimento econômico – primeiro, derivada dos clássicos, que o tinham como subproduto do mecanismo de preços e da iniciativa individual aguçada pelo dinamismo da sociedade liberal – veio se estabelecer novamente como produto das teorias cíclicas do capitalismo, prognosticando intervenções de organismos centrais na economia como forma de manutenção da demanda efetiva. Dessa forma, Celso Furtado diz:
(...) a política anticíclica evolui de medidas elementares de caráter monetário para uma ação coordenada sobre as variáveis estratégicas do sistema econômico. Assim, uma das modalidades mais recentes da política anticíclica consiste na determinação de objetivos a serem alcançados em função do tempo, aos quais se atribui um papel estratégico.
Furtado deixa claro, dado isso, que uma política anticíclica se confunde com uma de desenvolvimento, sempre que inversões planejadas podem ser criadas sem grandes pressões inflacionárias, destacando que isso só é possível em economias altamente diversificadas (desenvolvidas) ou nas etapas de expansão das exportações das economias subdesenvolvidas.
Vê-se que a problemática da análise econômica – ao deixar de se restringir a simples análise de mecanismo de ajustes de preços e passar a preocupar-se com inversões planejadas – se vê na necessidade de identificar outras variáveis que dizem respeito ao desenvolvimento econômico e não só com o crescimento da economia e seu respectivo equilíbrio; variáveis essas como acumulação de capital, eficácia das inversões (relação entre o montante destas e a renda nacional) e o tamanho da riqueza nacional.
As primeiras teorias que dão conta dessas formulações partem de Harrod e Domar, com seus esforços de dinamização do modelo Keynesiano. Tal modelo é apontado como não dando conta da análise do desenvolvimento por atribuir principal significância ao fator investimento na economia, não levando em conta que o mesmo somente pode ser concebido concomitante a outras variáveis já aqui apontadas, para assim se estabelecer o equilíbrio dinâmico na economia por meio de inversões planejadas.
Apesar de tudo, Furtado deixa claro que a análise econômica, apesar de necessária, não é suficiente para explicar a dinâmica das transformações sociais. No entanto, ela pode identificar alguns mecanismos do processo de desenvolvimento econômico e são, justamente, esses mecanismos que o autor se propõe a descrever.
Pontuando duas alternativas para o processo do desenvolvimento, fica estabelecido que o mesmo pode se dar pela combinação de novos fatores existentes no nível da técnica conhecida ou através da introdução de novas técnicas. A primeira alternativa diz respeito à adotada pelos países subdesenvolvidos, enquanto a segunda pelos países desenvolvidos. No entanto, as inovações técnicas providas por estes últimos são voltadas especificamente pra se adaptar ao nível de fatores de produção disponíveis pelos mesmos, fazendo com que a importação das técnicas produtivas por parte dos subdesenvolvidos se dê com desperdícios de fatores, dado que, por definição, os países subdesenvolvidos dispõem de mais fatores subutilizados que os mais desenvolvidos. Essa situação constitui uma das maiores problemáticas no alcance do desenvolvimento por parte das nações subdesenvolvidas.
 Mas, a parte disso, à medida que o desenvolvimento promove um aumento na produtividade física na economia através de novas combinações de fatores de produção, seja ao nível da técnica já estabelecida, seja com inovações dessas técnicas, obtém-se o aumento na renda real da população. Esta, por sua vez, ao aumentar impacta o consumo transformando sua estrutura. Espera-se daí, com essa mudança na estrutura da procura, que a economia, através de uma série de mecanismos, provoque a mudança na estrutura das inversões e, consequentemente, na produção destinada a atender essa nova procura.
Em tese, era para o movimento da economia seguir como o descrito acima, entretanto há problemas quando essa economia apresenta um baixo nível de produtividade. Furtado exemplifica tal situação supondo uma economia em que 80% de sua população ativa trabalha, unicamente, pra suprir as necessidades básicas da população. Nesse contexto, há uma estreita margem de produtividade destinada a alterar a faceta do consumo no sentido de promover investimentos que o atendam, trazendo como benefício à acumulação de capital. Além da realidade de uma alta concentração de renda nessa economia, em que os gastos dos setores privilegiados, dependendo de como forem efetivados, são capazes de incentivar inversões que conduzam a significativas acumulações de capital, o único estímulo possível nesse sentido seria o provindo do setor externo. Este, inicialmente, promove concentração de renda nos setores que lidam, direta ou indiretamente, com o mercado internacional. Caso essa renda seja gasta e reinvestida no sentido de se manter a estrutura desigual originária do impulso externo, o desenvolvimento se interromperá. Porém, é possível que o capital acumulado com a atividade externa seja reinvestido no sentido de aprofundar as inovações técnicas e o aproveitamento dos fatores, gerando um aumento de produtividade e renda na economia que provoque a transformação na estrutura do consumo, incentivando a transformação na estrutura da oferta, a diversificando. Nisso se caracterizaria o desenvolvimento. 
Quanto ao ritmo desse desenvolvimento, Furtado o condiciona a duas relações: (a) inversões – renda territorial e (b) riqueza reproduzível aplicada no processo produtivo – renda territorial. No que diz respeito à segunda, ela se refere justamente a produtividade do capital. Capital reproduzível para Furtado nada mais é do equivalente à parte do capital constante intitulada capital fixo por Marx. Dado isso, no que diz respeito à produtividade desse capital, são traçados diferentes fatores que a fazem diferente nos diferentes países, seja pela disponibilidade de outros fatores de produção, seja pela relação com o setor externo ou mesmo pelo grau de concentração de renda de uma economia.
A primeira relação destacada como responsável pelo ritmo do desenvolvimento coloca em questão quais fatores condicionam o investimento na economia. Questão essa tão focada por Keynes, mas que Furtado condena as generalizações teóricas obtidas por meio desse enfoque destinadas a tentarem explicar todas as situações, independentemente do contexto histórico de cada país. Coloca, dessa forma, a pesquisa a respeito das causas do não investimento e, consequentemente, da baixa capitalização de uma economia, como problemas que não podem se restringir ao terreno da discussão econômica e sim descer ao terreno da pesquisa histórica de cada situação. 
Celso Furtado, ao descrever o caso brasileiro na época da publicação do livro aqui resenhado, chama a atenção para o fato da taxa de inversões ter aumentado no Brasil em comparação, por exemplo, com os melhores anos da década 1920 e 1930. Um dos motivos disso foi a situação do comércio exterior da época e das medidas políticas que encareceram o câmbio, fazendo com que grande parte do que era transferido para o exterior fosse reinvestido no Brasil por ser uma promessa menos custosa e mais lucrativa.
 Partindo pra análise histórica do desenvolvimento, Furtado irá fazer o percurso que Marx também faz na análise das sucessões dos modos de produção, passando pelo Antigo, Feudal e Burguês. A diferença é que Furtado não se deterá em explicar os mecanismos de funcionamento e de apropriação do excedente em cada modo de produção, como Marx faz questão de fazer, e sim explicá-los na medida em que conduzem ao desenvolvimento das sociedades envolvidas por eles, sendo o conceito de desenvolvimento tomado, primeiramente, como aumento do fluxo de renda, isto é, incremento da quantidade de bense serviços, por unidade de tempo, à disposição de determinada coletividade. A preocupação, portanto, do autor será a identificação dos fatores que condicionam o aumento da capacidade produtiva e os efeitos desse aumento sobre o fluxo de renda.
Dentre os fatores principais no processo de desenvolvimento, encontra-se o excedente de produção. Os economistas clássicos, por vezes, trataram desse elemento, entabulando a discussão de quem produzia esse excedente, quem se apropriava dele e de que forma deveria ser mais bem distribuído. Marx, particularmente, colocará o excedente como ponto central de sua análise do capitalismo como teoria da exploração. Autores conhecidos por neoclássicos, por sua vez, tiraram o excedente de sua análise e o produto social passou a ser visto, predominantemente, em termos de “custo de fatores”. Furtado crê que é necessário recuperar o elemento “excedente de produção”, porém despido do que ele acredita ser de conotação valorativa em Marx, que é o fato de enxergar o excedente como fruto da exploração. Nesse ponto, creio que Marx não pretendia que a denominação “exploração” fosse um conceito valorativo para essa extração e apropriação do excedente, mas sim uma descrição precisa do funcionamento da sociedade capitalista.
Para Furtado, a importância do excedente está no destino que ele toma, destacando que o desenvolvimento só se sucede quando o mesmo se transforma em capacidade produtiva. A sociedade capitalista, nesse sentido, constitui-se grandemente favorável ao desenvolvimento na medida que ela se centra e se estrutura com base na produção e apropriação do excedente, sendo este o fim e ao mesmo tempo o início de um ciclo de um novo processo produtivo que se dá ad infinitum. 
No que tange ao processo do desenvolvimento em si, destaca-se a enorme importância da escravidão que nada mais era do que a imposição de um grupo sobre o outro no intuito de que este produza enquanto aquele se apropria do excedente. Esse mecanismo foi fundamental para o crescimento da economia. Posteriormente, dada a desigualdade na disponibilidade de fatores nas diversas regiões, a atividade impulsionadora do desenvolvimento será aquela responsável por transferir o excedente de um canto a outro. Aí se tem a fase do capitalismo comercial que promove a dinâmica no sistema produtivo, beneficiando-se com isso, significativamente o setor comercial. Logo é dado que o desenvolvimento necessita se generalizar primeiramente, fazendo-se presente nos mais variados cantos, para que assim, a sua continuidade em algumas localidades só possa se dar através da inovação tecnológica.
Por fim, cabe pontuar o caminho que Furtado indica para as nações que se formaram muito depois de outras atingirem determinado patamar civilizacional, chamadas de subdesenvolvidas. Furtado não concebe o subdesenvolvimento como etapa para o desenvolvimento, necessariamente. Na verdade, o subdesenvolvimento seria resultado estrutural dos fatores que permitem se ter algumas nações desenvolvidas. Nesse sentido, recomenda-se que as nações em estado de subdesenvolvimento criem mecanismos próprios, de acordo com sua realidade peculiar, que rompam com os fatores que as relegam a esse estado. Talvez esta seja a maior contribuição que Furtado nos dá: as possibilidades de pensar a superação do subdesenvolvimento a partir do entendimento da realidade que estrutura o mesmo.

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