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CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 1 Aula 04 Olá, Concurseiros! Estamos na quarta aula do curso de Administração Pública para Tribunais, na qual vamos ver os seguintes itens. Aula 04 – 22/04: Convergências e diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. Empreendedorismo governamental e novas lideranças no setor público. Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais. Caso vocês tenham alguma dúvida ou crítica, utilizem o fórum, pois ele é um instrumento importante no estudo de vocês. Lembro que não há limite de tempo para postar as dúvidas. Assim, se vocês tiverem alguma dúvida em relação às primeiras aulas, fiquem a vontade para perguntar. Boa Aula! Sumário 1 EMPREENDEDORISMO GOVERNAMENTAL.................................................................................................... 2 2 CONVERGÊNCIAS E DIFERENÇAS ENTRE A GESTÃO PÚBLICA E A GESTÃO PRIVADA...................................... 11 2.1 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS ................................................................................................................................ 14 3 NOVAS LIDERANÇAS NO SETOR PÚBLICO.................................................................................................... 26 4 COMUNICAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA......................................................................................................... 39 5 GESTÃO DE REDES ORGANIZACIONAIS........................................................................................................ 48 5.1 ORGANIZAÇÕES EM REDE....................................................................................................................................... 50 5.2 REDES DE POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................................................ 53 6 EXERCÍCIOS ................................................................................................................................................ 58 6.1 QUESTÕES COMENTADAS....................................................................................................................................... 68 6.2 GABARITO........................................................................................................................................................... 88 CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 2 1 Empreendedorismo Governamental Nesse tópico, são normalmente cobrados conteúdos relacionados com o livro “Reinventando o Governo: Como o espírito empreendedor está transformando o setor público”, de David Osborne e Ted Gaebler. Lançado no início da década de 1990, nele os autores analisam diversas iniciativas de administrações públicas, principalmente municipais, que demonstram que o Estado poderia eliminar a burocracia, superando a crise que se instalara em todo o mundo. Podemos dizer que o empreendedorismo é uma escola que se insere dentro da administração gerencial, vocês vão ver que muitos de seus princípios são bastante semelhantes ao que já estudamos na aula demonstrativa. Segundo os autores, transformar burocracias públicas em governos empreendedores, produtivos e eficientes, tem uma relação estreita com um recente fenômeno mundial: o ceticismo do cidadão sobre a capacidade do Estado em administrar a sociedade e satisfazer suas crescentes e complexas necessidades sociais. Em todas as partes do mundo verifica-se essa crise de governabilidade, um contexto de deterioração e descrédito geral na administração pública. O problema foi que, ao buscar controlar ao máximo os desvios do patrimonialismo, a burocracia acabou criando uma série de outros problemas. Ao dificultar o desvio de dinheiro público, tornou virtualmente impossível administrá-lo bem. O governo tornou-se ineficiente, lento e impessoal, no sentido ruim da palavra, auto-referido. Uma coisa importante em relação ao conceito de governo empreendedor é não confundir com governo empresário. O verdadeiro significado da palavra empreendedor é bem mais amplo. Segundo os autores, ela foi usada inicialmente por volta do ano 1800, para se referir àquele que “movimenta recursos econômicos de um setor de menor produtividade para um outro de maior produtividade e melhor rendimento”. Em outras palavras, o empreendedor emprega recursos de novas formas, para maximizar a produtividade e a eficiência. Esta definição se aplica igualmente ao setor privado, ao setor público e ao setor voluntário. Superintendentes e diretores escolares dinâmicos usam recursos de novas formas para maximizar a produtividade e a eficiência das escolas. Os gerentes de aeroportos inventivos fazem o mesmo. Quando queremos identificar instituições do setor público que sejam empreendedoras, olhamos para as que usam constantemente seus recursos de novos modos, para aumentar sua eficiência e sua efetividade. A partir desta noção de que empreendedor não é a mesma coisa que empresário, os autores defendem que não se pode “governar como quem administra uma empresa”. Os autores afirmam que o governo é uma instituição fundamentalmente diferente da empresa. Os empresários são motivados pela busca do lucro; as autoridades CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 3 governamentais se orientam pelo desejo de serem reeleitas. As empresas recebem dos clientes a maior parte dos seus recursos; os governos são custeados pelos contribuintes. As empresas trabalham em regime de competição; os governos usam habitualmente o sistema de monopólio. Vamos ver melhor essas diferenças mais adiante, no tópico “convergências e diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. Analisando diversas iniciativas inovadoras de administrações públicas americanas, os autores identificaram alguns traços comuns a todos esses esforços. A partir deles, enumeraram os 10 princípios do governo empreendedor. Vamos dar uma olhada neles. I . Governo catalisador: navegando em vez de remar Segundo o Dicionário Houaiss, catalisar significa: Desencadear pela própria presença ou existência (um processo); estimular, incentivar; Diz-se de ou o que estimula ou dinamiza. Portanto, cabe ao governo modelar a sociedade, dar o rumo a ela, definir a política a ser seguida, manejar, o máximo que puder, instituições econômicas e sociais, enfim, regular e cumprir a função regulatória. Catalisando a sociedade, o governo amplia sua ação. Isso não significa que ele executa mais, mas que ele consegue chegar onde ele estava ausente quando queria fazer tudo sozinho. No entanto, é importante fazer uma observação. O fato dos autores defenderem que o Estado não deve remar, isso não quer dizer que eles se enquadrem no managerialism. A discussão de Osborne e Gaebler começa subvertendo o ideal que impulsionou o gerencialismo na Grã-Bretanha no início da década. Em vez de propor o “rolling back the state” thatcheriano, os autores propõem uma redefinição da atividade governamental. Nosso problema fundamental é o fato de termos o tipo inadequado de governo. Não necessitamos de mais ou menos governo: precisamos de melhor governo. Para sermos mais precisos, precisamos de uma melhor atividade governamental. O intuito da noção de navegar ao invés de remar não é tornar o Estado mínimo, mas redirecionar a atividade governamental. Inclusive, os autores renegam o conceitual privatista, típico do neoliberalismo. “A privatização é uma resposta, não a resposta”, afirmam Osborne e Gaebler. O CESPE cobrou uma questão um pouco polêmica a respeito disso: CURSO ON-LINE– ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 4 1. (CESPE/TRE-MA/2005) Um governo empreendedor caracteriza-se por ser catalisador, ou seja, um governo que se limita a decidir e dirigir. A execução é geralmente feita por outrem por meio da mobilização de iniciativas e recursos. A questão foi dada como certa no gabarito preliminar, mas foi anulada com a seguinte justificativa: Anulada pelo fato de a redação dada à opção C possibilitar mais de uma interpretação, podendo a assertiva ser considerada correta ou incorreta. Assim, haveria mais de uma resposta possível para a questão. Se pensarmos que navegar ao invés de remar se refere justamente a dirigir e decidir, a questão deveria ser realmente considerada correta. No entanto, os autores não são defensores do Estado mínimo. Os autores identificaram alguns traços comuns a todos esses esforços. Com base nisso, enumeraram os dez princípios do governo empreendedor. II . O governo pertence à comunidade: dando responsabilidade ao cidadão, em vez de servi-lo Segundo os autores: A transferência de responsabilidades da burocracia para as comunidades deve ser incentivada, pois estas são mais flexíveis e estão mais próximas dos problemas. A reforma do sistema significa, ao mesmo tempo, a introdução de métodos voltados para a produção qualitativa de serviços públicos com a prioridade dada aos clientes e cidadãos como razões últimas do setor público, o que quer dizer não só que eles devem ser bem atendidos, mas que devem ser também chamados a participar do governo, definindo os destinos de suas comunidades. A maioria dos exemplos do livro de Osborne e Gaebler mostra que a melhor resposta para tornar melhor um serviço público é chamar a comunidade a participar de sua gestão, seja fiscalizando, seja trabalhando voluntariamente na prestação de serviços — constituindo-se numa resposta adequada tanto para a questão da eficiência como para o problema da transparência. Portanto, a modernização do setor público deve caminhar pari passu com o aumento da accountability. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 5 Quando a reciclagem de materiais se tornou uma prioridade, Seattle, a cidade com a melhor experiência nessa atividade, creditava parte de seu sucesso ao trabalho de voluntários de quarteirão, que ajudavam os vizinhos a ver como essa tarefa podia ser melhor executada. A maior parte das iniciativas no campo da habitação popular recorria a companhias de desenvolvimento comunitário, cooperativas de moradores, etc. No campo da educação, os pais começaram a afirmar seu controle sobre as escolas. Vamos ver uma questão do CESPE: 2. (CESPE/CENSIPAM/2006) No modelo gerencial, a participação da população no governo se dá pela transferência do poder decisório da burocracia para as comunidades, que controlam os serviços públicos, sem a responsabilidade final de garantir que os serviços sejam prestados, uma vez que os objetivos da participação popular são remover os obstáculos existentes ao controle social, encorajar as comunidades organizadas a dirigirem os serviços que lhes são prestados, oferecer estímulos necessários e transferir os recursos requeridos para enfrentar os problemas em nível de cada comunidade. Esta questão é certa. O CESPE gosta de cobrar esta questão em concursos. Ele pega três itens e fica invertendo eles. Os três itens são: Transferência do poder decisório Transferência do controle sobre os serviços públicos Permanência da garantia final de que os serviços sejam prestados. O Estado transfere o poder decisório para a sociedade, é o caso dos conselhos gestores, que possuem caráter deliberativo, ou seja, poder de decidir sobre as políticas públicas. Transfere-se também o controle sobre os serviços públicos, deve haver maior transparência para que a sociedade controle não só os gastos como também os resultados. No entanto, o Estado permanece com a garantia final de que os serviços sejam prestados, isso não deve ser transferido para a sociedade, quem tem este poder de garantir é o Estado. III . Governo Competitivo: introduzindo a competição na prestação de serviços Outro traço dos governos empreendedores é a promoção da competição. A competição seria uma forma de melhorar a qualidade do governo, uma vez que garante o controle CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 6 dos serviços públicos pela população. Competição, para os autores, não é um conceito que só tem validade no contexto do setor privado. O ambiente competitivo, na verdade, serve para acabar com o monopólio — que tanto pode reinar no setor público como no privado — e encorajar a inovação organizacional. No livro de Osborne e Gaebler, segundo pesquisa feita nos Estados Unidos, os serviços realizados diretamente pelo setor público são de 30 a 95% mais caros do que os terceirizados. Isso não acontece por que o governo seja pior do que a iniciativa privada, acontece porque a iniciativa privada trabalha sob o regime da competição. O princípio da competição nos serviços públicos tem como meta a competição não apenas entre os setores público e privado, como, por exemplo, entre uma empresa estatal e uma concessionária na área de limpeza pública, mas dentro de cada um desses dois setores que operam na jurisdição de um dado governo. A questão não é público versus privado, mas competição versus monopólio. Assim, podemos ter os seguintes tipos de competição: Público versus privado; Privado versus privado; Público versus público. Os autores afirmam que não defendem a promoção da competição entre indivíduos. Os prêmios em salário concedidos a professores a título de mérito, por exemplo, não fazem outra coisa senão jogar professores contra professores, além de minar o espírito de corpo da classe. Porém, prêmios por mérito para uma determinada escola pode ser algo diferente. A competição entre equipes, entre organizações, é construtiva e encoraja a criatividade. IV . Governo orientado por missões: transformando órgãos burocratizados Segundo Osborne e Gaebler: Nunca diga as pessoas como fazer as coisas. Diga-lhes apenas o que elas façam e ficará surpreso com sua engenhosidade. A maioria das organizações públicas é orientada não por suas missões, mas por suas regras e sua previsão orçamentária. Estabelecem uma regra para tudo que eventualmente possa sair errado, com uma linha adicional para cada subcategoria de gastos em cada unidade, de cada departamento. Em outras palavras, é como se uma cola poderosa unisse todas as burocracias públicas. É como uma supercola: vem em CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 7 duas bisnagas diferentes. Em uma bisnaga, as regras; na outra, as contas separadas. Misture tudo e o resultado será cimento. O que acontece no setor público é um esforço concentrado no sentido de desmotivar o funcionário, impedindo-o de usar seu intelecto e dizendo-lhe exatamente o que fazer, quando fazer e como fazer. Governos de mentalidade empreendedora dispensam as duas bisnagas. Livram-se do velho livro de regulamentos e abandonam as contas. Definem as missões fundamentais e, só então, estabelecem um orçamento e um conjunto de critérios que deixem os funcionários à vontade para perseguir as missões propostas. V . Governo de Resultados: financiando resultados, e não recursos Governos tradicionalmente burocráticos concentram-se excessivamente sobre as entradas, os recursos, e não sobre as saídas, os resultados. Continuam financiando escolas com base no númerode alunos matriculados; a assistência social em função do número de atendimentos; e os departamentos de polícia com base nas estimativas próprias de pessoal necessário para combater o crime. Presta-se muito pouca atenção aos resultados. Pouco importa como as crianças se saem nas escolas, ou quantas pessoas finalmente conseguem se empregar e deixar de receber o seguro-desemprego, ou em quanto tenham baixado os índices de criminalidade. Na realidade, escolas, instituições de assistência social e departamentos de polícia ganham mais dinheiro à medida que fracassam, ou seja, quando as crianças vão mal, o desemprego aumenta e a taxa de criminalidade sobe. Por não mensurar os resultados, os governos burocráticos raramente logram grandes conquistas. Com tão pouca informação sobre os resultados, recompensam seus funcionários com base em outros critérios: o tempo de serviço, o volume de recursos e de pessoal que administram, além de sua hierarquia. Sendo assim, esses funcionários tratam de manter seus empregados de qualquer maneira, construindo, assim, seus impérios, tentando conseguir orçamentos maiores, supervisionar mais funcionários e ter mais autoridade. A discussão em torno da avaliação de resultados na obra de Osborne e Gaebler toma um rumo diferenciado daquele proposto pelo gerencialismo puro. Para os dois autores, a avaliação da eficiência não pode ser dissociada da avaliação da efetividade. Pois, se a eficiência mede o custo do que foi produzido, a efetividade mede a qualidade dos resultados. Desta maneira, CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 8 Quando medimos a eficiência, podemos saber quanto nos custa alcançar uma produção determinada; ao medir a efetividade, sabemos se nosso investimento valeu a pena. Nada mais tolo do que fazer com eficiência o que não deveria continuar a ser feito. Osborne e Gaebler tentam definir a relação entre eficiência e efetividade a partir dos objetivos do governo. E concluem: Não há dúvida de que o público quer um governo mais eficiente, mas ele deseja ainda mais um governo efetivo. VI . Governos e seus clientes: atendendo às necessidades do cliente e não da burocracia Segundo os autores: A qualidade é determinada, exclusivamente, pelos clientes. Pouca gente no governo usa o termo cliente. A maioria das organizações públicas nem mesmo sabe quem são seus clientes. Governos democráticos existem para servir aos cidadãos. As empresas existem para gerar lucro. No entanto, quem mais se empenha para servir ao povo, de maneira até obsessiva, são as empresas. A maioria dos governos é absolutamente cega aos clientes, ao passo que o McDonald's está totalmente voltado para eles. Por que é assim? Para os autores é por que os órgãos públicos, via de regra, não obtêm seus recursos diretamente dos clientes; as empresas sim. Se uma empresa satisfaz seus clientes, as vendas aumentam. Os órgãos públicos recebem a maior parte dos seus recursos do Legislativo e a maioria de seus “clientes” é cativa e tem poucas alternativas para os serviços oferecidos por seus governos. Assim, os administradores públicos passam a ignorá-los. Os clientes-alvo, a quem o administrador público tenta satisfazer, são o Legislativo e o Executivo, pois são eles que fornecem os recursos. Como os ocupantes de cargos eletivos são governados por seu eleitorado – na maioria das vezes grupos de interesse, financiadores de campanhas – os órgãos do governo fazem o possível para agradar os grupos de interesse. Os verdadeiros clientes do Ministério dos Transportes não têm sido os motoristas nem a massa de usuários de transporte público, mas sim os construtores, as empreiteiras. Segundo os autores, a única e melhor maneira de fazer com que os prestadores de serviços públicos respondam às necessidades de seus clientes é colocar os recursos nas mãos dos clientes e deixá-los escolher. Se não for dada aos clientes a oportunidade CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 9 de escolher entre diferentes prestadores de serviços – escolas, programas de treinamento, concessionárias de veículos – permanecerão eternamente dependentes da boa-vontade de terceiros. VII . Governo empreendedor: gerando receitas ao invés de despesas Segundo os autores: A crise dos impostos chegou para ficar. Para garantir receitas futuras, precisamos criar novas fontes de receitas. Nos governos burocráticos, os sistemas orçamentários levam as pessoas a gastar dinheiro, sem qualquer preocupação de produzi-lo. Na maioria dos governos, poucas pessoas fora dos departamentos financeiros sequer pensam sobre receitas. Ninguém se preocupa com o lucro. A palavra lucro é vista pelos governos tradicionais como um verdadeiro pecado. Os governos empreendedores, terrivelmente pressionados pela crise fiscal da década de 1980, concentram-se na busca de receitas não tributárias. Passaram a mensurar o nível de retorno de cada investimento. Não se quer dizer, com isso, que a maioria dos serviços públicos deva ser vendida visando ao lucro. Ao contrário! Mas muitos serviços beneficiam indivíduos isolados. Talvez a forma mais segura de se arrecadar recursos sem cobrar impostos seja simplesmente cobrar taxas daqueles que se utilizam de serviços públicos. As taxas sobre a utilização de serviços nem sempre são apropriadas, logicamente. Para funcionarem, são necessárias três condições: o serviço deve ser, fundamentalmente, “um bem privado”, prestando benefício individual a seus beneficiários; deve ser possível excluir dos beneficiários aqueles que não pagam pelos serviços; e deve ser possível recolher as taxas de maneira eficiente. Os bens coletivos que beneficiam a sociedade de maneira geral não podem ter seus custos totalmente repassados aos seus beneficiários. O transporte público, por exemplo, beneficia todos os usuários e não-usuários, pois reduz os congestionamentos e a poluição. Uma outra característica reconhecida nos governos empreendedores é uma certa perspectiva de investimento, ou seja, o hábito de mensurar os retornos dos gastos como se fossem investimentos. A estratégia não visa ganhar dinheiro, mas poupá-lo. Através da avaliação de retorno de seus investimentos, é possível entender quando um gasto lhes permitirá poupar dinheiro. As empresas prestam bastante atenção às duas colunas do balancete: receitas e despesas; créditos e débitos. Não se importam, em demasia, com cada coluna CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 10 isoladamente. Gastarão o que for necessário para maximizar seu retorno. Os governos, entretanto, olham apenas para a coluna dos gastos. Ao ignorar o retorno, concentram-se pura e tão-somente na minimização dos custos. Com frequência, deixam de dar a devida atenção a investimentos vultosos que poderiam gerar um retorno significativo. Ignoram o investimento mínimo exigido na assistência médica às gestantes, para depois gastar somas absurdas com bebês prematuros. VIII . Governo preventivo: a prevenção em lugar da cura Os governos burocráticos tradicionais se concentram na prestação de serviços destinados a enfrentar problemas. Contra a doença, custeiam serviços médicos; e para combater o crime, aumentam o aparato policial; para lutar contra os incêndios, adquirem mais carros de bombeiros. O modelo burocrático trouxe consigo uma preocupação com a prestação do serviço – a preocupação em remar. Gastam somas consideráveis tratando os sintomas, atuando apenas quando os problemas se transformam em crises, enquanto faltam estratégias para a prevenção desses problemas. A burocracia é cega no que serefere ao futuro. Numa era em que as mudanças ocorrem com assustadora rapidez, a cegueira com relação ao futuro é uma falha mortal. Os governos empreendedores passaram a atuar de forma completamente diferente, fazendo da prevenção um tema central de sua administração. Alguns governos estão tentando não apenas prevenir problemas, como também tentar antecipar o futuro. Diz-se que há três tipos de pessoas: as que fazem as coisas acontecerem, as que observam as coisas acontecerem e as que não sabem o que está acontecendo. O mesmo se pode dizer dos governos; infelizmente a maioria está na terceira categoria. IX . Governo descentralizado: da hierarquia à participação e ao trabalho de equipe Há 50 anos, as organizações centralizadas eram indispensáveis. As tecnologias de informação eram primitivas, a comunicação entre localidades diferentes difícil e a mão- de-obra disponível relativamente pouco instruída. Não havia outra alternativa, senão a de juntar todos os profissionais em uma mesma organização. Havia tempo de sobra para que a informação subisse lentamente toda a cadeia de comando e depois descesse, pelo mesmo percurso, sob a forma de decisões. Hoje em dia, entretanto, a informação é praticamente sem limites. A comunicação entre as mais recônditas localidades é instantânea. Muitos funcionários públicos têm boa CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 11 formação acadêmica, e as condições mudam à velocidade da luz. Não se pode desperdiçar tempo com o lento fluxo de informações hierarquia acima, ou de ordens hierárquicas abaixo. X . Governo orientado para o mercado: induzindo mudanças através do mercado Nos Estados Unidos, os governos sempre usaram, em algumas medidas, os mecanismos do mercado para alcançar seus objetivos, como, por exemplo, facilitando determinados empréstimos pelos bancos, isentando de impostos determinados setores, etc. Mas, ao serem confrontados com um problema, os funcionários governamentais reagem, instintivamente, procurando um programa administrativo. Acreditam que sua função é administrar e não estruturar o mercado. Os governos precisam aprender a navegar, e estruturar o mercado talvez seja o melhor método de navegação, criando incentivos para que, com suas próprias decisões, as pessoas se movimentem na direção escolhida pela comunidade. Os governos não têm a capacidade de resolver todos os problemas sozinhos, nem mesmo uma significativa parcela deles. Por isso, devem utilizar as decisões dos agentes privados como uma forma de alavancagem na prestação de serviços, de modo a alcançar metas coletivas. Trata-se de um método clássico de atividade governamental empreendedora: implica um governo ativo, mas não burocrático. Não querem dizer que os mecanismos de mercado sempre funcionem. Muitos bens coletivos fornecidos pelo governo – de parques à segurança pública – não são negociados no mercado. E há muitos mercados com falhas fundamentais. No entanto, os mecanismos de mercado têm muitas vantagens com relação aos sistemas administrativos: os mercados são descentralizados, normalmente competitivos, delegam a escolha aos interessados, e vinculam os recursos diretamente aos resultados. Os mercados também reagem com velocidade às mudanças rápidas e sua reestruturação permite aos governos alcançar a escala necessária para resolver os problemas mais sérios. 2 Convergências e Diferenças entre a Gestão Pública e a Gestão Privada Quando falamos das semelhanças e diferenças entre a gestão pública e a gestão privada, podemos citar inúmeras características que aproximam ou distanciam estes CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 12 dois tipos de gestão. As questões, então abordam uma gama enorme de aspectos. Podemos dizer que praticamente toda a matéria que estamos estudando pode ser cobrada de forma a se comparar a administração privada. Vou tentar ver aqui os pontos mais importantes. Vimos acima que empreendedor não é a mesma coisa que empresário. Na visão de Osborne e Gaebler, empreendedor é aquele que emprega recursos de novas formas, para maximizar a produtividade e a eficiência. Assim, quando os autores defendem um governo empreendedor, não estão dizendo que o Estado deve ser administrado como uma empresa. Eles afirmam que: O governo é uma instituição fundamentalmente diferente da empresa. Os empresários são movidos pela busca do lucro; as autoridades governamentais se orientam pelo desejo de serem reeleitas. As empresas recebem dos clientes a maior parte dos seus recursos; os governos são custeados pelos contribuintes. As empresas normalmente trabalham em regime de competição; os governos usam habitualmente o sistema do monopólio. Aqui já podemos enumerar algumas diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. A primeira delas é a motivação daqueles que definem as diretrizes. A motivação das autoridades públicas é a reeleição, dos empresários é o lucro. Contudo, quando comparamos a motivação da Administração Pública como figura abstrata, a que tem por dever gerir a res pública, com as empresas, temos entender que a motivação não é a reeleição: Enquanto as empresas se motivam pelo lucro, a gestão pública tem como motivação a consecução do interesse público. Isto faz com que os “investimentos” da gestão pública sigam uma lógica diferente da gestão privada, inclusive no que se refere ao risco. Outra diferença entre a gestão pública e a privada citada pelos autores é que: As empresas recebem seus recursos dos clientes, enquanto o governo recebe por meio de impostos. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 13 Assim, enquanto nas empresas os clientes têm a possibilidade de se retirarem no momento que quiserem, os contribuintes continuam pagando impostos mesmo que insatisfeitos. Vimos que os governos são pouco orientados pelos seus “clientes”, enquanto as empresas focam suas energias em tentar satisfazê-los. Veremos na próxima aula a Gestão da Qualidade Total. Uma das suas maiores inovações foi a mudança no conceito de qualidade, que deixou de ser a conformidade com o projeto, o produto sem defeitos, para ser considerada como aquilo que o cliente enxerga no produto, se ele fica satisfeito ou não. Assim, um produto sem defeitos não significa que será um produto de qualidade. A razão pela qual os órgãos públicos não são orientados pelos “clientes” está justamente no fato de não receberem seus recursos diretamente dos clientes, mas sim do Executivo e do Legislativo. A consequência é que os gestores públicos se preocupam em agradar mais a estes entes do que aos seus verdadeiros clientes, a população. Soma-se a isso o fato de não haver alternativas a que a sociedade possa recorrer quando estiver insatisfeita com determinado serviço. Se alguém não gostar do serviço do DETRAN, não há nenhum outro órgão ou empresa que emite carteiras de motoristas. Esta é outra diferença colocada pelos autores: As empresas normalmente trabalham em regime de competição; os governos usam habitualmente o sistema do monopólio. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado também traça algumas diferenças entre a administração gerencial e a administração de empresas: A administração pública gerencial inspira-se na administração de empresas, mas não pode ser confundida com esta última. Enquanto a receita das empresas depende dos pagamentos que os clientes fazem livremente na compra de seus produtos e serviços, a receita do Estado deriva de impostos, ou seja, de contribuições obrigatórias, sem contrapartida direta. Enquanto o mercadocontrola a administração das empresas, a sociedade - por meio de políticos eleitos - controla a administração pública. Enquanto a administração de empresas está voltada para o lucro privado, para a maximização dos interesses dos acionistas, esperando-se que, através do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administração pública gerencial está explícita e diretamente voltada para o interesse público. A primeira diferença a que o PDRAE se refere é a mesma que vimos acima: as empresas recebem seus recursos dos clientes e os governos dos impostos. A terceira CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 14 diferença também já foi vista, que é o fato de a motivação das empresas ser o lucro e da administração pública o interesse público. Há uma diferença que não foi falada antes: O controle das empresas é feito pelo mercado; o da administração pública é feito pela sociedade mediante políticos eleitos; Podemos dizer até que o controle da administração pública não passa necessariamente pelos políticos. O controle social é uma das bandeiras da administração gerencial. Atualmente existem diversos instrumentos que permitem que a sociedade realize o controle social da administração pública, como os conselhos gestores, as ações judiciais como a ação popular e o mandado de segurança coletivo, as ouvidorias, etc. Esta necessidade de controle implica em outra diferença, que é o rigor com que se devem tratar questões como a transparência na administração pública. A administração privada, fora as sociedades anônimas e outros tipos de sociedades que devem obedecer a regras de governança corporativa, não precisar motivar nem divulgar que medidas adota para atingir seus objetivos. Veremos melhor esta questão da transparência abaixo, no princípio da publicidade. Os princípios constitucionais da administração pública, assim como outros princípios administrativos, são bastante cobrados quando falamos em diferenças entre a gestão pública e a gestão privada, já que eles determinam limites para a atuação dos gestores públicos. Veremos agora estes princípios. 2.1 PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS Princípios administrativos são os valores, as diretrizes, os mandamentos mais gerais que orientam a elaboração das leis administrativas, direcionam a atuação da Administração Pública e condicionam a validade de todos os atos por ela praticados. Segundo a CF/88: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: Temos aqui os cinco princípios constitucionais da Administração Pública, o famoso LIMPE: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O princípio da eficiência não estava na redação original do art. 37, ele foi incluído pela Emenda Constitucional 19/98, a que resultou do Plano Diretor. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 15 2.1 Princípio da Legalidade Segundo o princípio da legalidade, a Administração só pode fazer o que a lei permite. Este conceito diverge da aplicação do princípio da legalidade na relação entre particulares (princípio da autonomia das vontades), que podem fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, segundo o inciso II do art. 5º da CF: II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; Aqui temos uma das diferenças mais importantes da gestão pública para a gestão privada. Segundo Hely Lopes Meirelles: A eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao atendimento da lei. Na Administração Pública não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza. Assim, para os administrados, o princípio da legalidade possui uma conotação negativa, já que os particulares são autorizados desempenhar todos os comportamentos para os quais não exista expressa proibição em lei. No caso da Administração Pública, o princípio tem uma conotação positiva, pois a ausência de norma proibitiva não é suficiente para que determinados comportamentos possam ser exercidos, é preciso que haja uma lei que a autorize a agir (nas competências discricionárias) ou que determine que o faça (nas competências vinculadas). Toda ação administrativa apresenta-se como exercício de um poder atribuído previamente pela lei e por ela é construído e delimitado. O que legitima a ação administrativa é retirar seu fundamento de uma lei anterior. O pessoal do Direito gosta muito dos termos em latim. Michel Stassinopoulos afirma que: A lei não é apenas o limite do ato administrativo, mas a sua condição e a sua base. Em um Estado de Direito, a Administração não se encontra apenas impossibilitada de agir contra legem ou praeter legem, mas é obrigada a agir sempre secundum legem. O que ele quis dizer é que não basta que a atividade administrativa não seja contra a lei (contra legem) ou além da lei (praeter legem), é preciso que ela seja segundo a lei (secundum legem). Vimos acima que pode haver competências discricionárias. É praticamente impossível que a lei atinja todos os vários aspectos de uma atividade administrativa. Quando ela faz isso, dizemos que o poder da Administração é vinculado, porque a lei não deixa opções. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 16 A lei estabelece que, diante de determinados requisitos, a Administração deve agir de tal ou qual forma. Nos casos em que a lei não atinge todos os aspectos da atuação administrativa, quando ela deixa certa margem de liberdade de decisão para autoridade no caso concreto, dizemos que o poder da Administração é discricionário. Diante de uma situação, a Administração poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis, todas válidas perante o direito. José dos Santos Carvalho Filho, o poder discricionário como A prerrogativa concedida aos agentes administrativos de eleger, entre várias condutas possíveis, a que traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse público. Quando falamos em conveniência e oportunidade, estamos nos referindo onde que é possível a discricionariedade. A discricionariedade pode ainda residir no conteúdo do ato. Um primeiro aspecto ao qual concerne a discricionariedade é o momento da prática do ato. Se a lei nada estabelece, a Administração escolhe o momento que lhe pareça mais adequado para atingir a consecução de determinado fim. Aqui temos a oportunidade. A discricionariedade ainda pode dizer respeito a uma escolha entre o agir e o não agir. Quando há um ilícito administrativo, a Administração atua de forma vinculada, é obrigada a agir, a apurar o ilícito. No entanto, depois de realizada a licitação, a Administração pode ou não celebrar o contrato, ou revogar a licitação, segundo razões de interesse público devidamente demonstradas. Aqui temos a discricionariedade sob a forma da conveniência. Com relação ao conteúdo, ou objeto, o ato será vinculado quando a lei estabelecer apenas um objeto possível para atingir determinado fim. Por exemplo, quando a lei prevê uma única penalidade possível para punir uma infração. Será discricionário quando houver vários objetos possíveis. É o que ocorre quando a lei diz que, para uma determinada infração, a Administração pode punir com as penas de suspensão ou multa. Nos casos de discricionariedade, o Judiciário não pode atuar sobre o mérito, ou seja, sobre o tripé vistoacima: conveniência, oportunidade e conteúdo. No entanto, o Judiciário poderá fazer o controle da discricionariedade, é aqui que entram os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. O princípio da razoabilidade aplica-se na aferição da legitimidade de atos discricionários, em especial daqueles que estabelecem limitações ou condicionamentos ao exercício de direitos ou atividades individuais, impõem obrigações ou aplicam sanções. Ele acabou dividido em três subprincípios: a adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 17 A adequação traduz uma exigência de compatibilidade entre o fim pretendido pela norma e os meios por ela enunciados para sua consecução. A necessidade diz respeito ao fato de a medida restritiva de direitos ser indispensável à preservação do próprio direito por ela restringido ou a outro em igual ou superior patamar de importância, isto é, o ato que restringe direito só deve ser edita se for indispensável. Por último, o subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito diz respeito à valoração entre o direito que está sendo protegido em comparação com o que está sendo restringido. O juízo de proporcionalidade permite um equilíbrio entre o fim almejado e o meio empregado, ou seja, o resultado obtido com a intervenção na esfera de direitos do particular deve ser proporcional à carga coativa da mesma. Vamos ver um exemplo. Para acabar com os congestionamentos em uma via, a prefeitura decide alargá-la. Mas, para isso, terá que utilizar parte dos terrenos que estão ao longo da via, desapropriando-os. O ato será adequado se está medida for realmente a melhor solução para o trânsito, se ela realmente vai reduzir os congestionamentos. Talvez a solução fosse retirar os semáforos. O ato é necessário se há realmente congestionamentos e isso prejudica a qualidade de vida da população. Por fim, será proporcional se a parcela dos terrenos não exceder ao necessário. Assim, se uma desapropriação de um metro é suficiente, será desproporcional uma desapropriação de três metros. 2.2 Princípio da Impessoalidade O princípio da impessoalidade é outro que gera diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. Duas dessas diferenças mais importantes estão diretamente relacionadas com a agilidade e flexibilidade da gestão: o concurso público e as licitações. Este princípio pode ser entendido em três sentidos: finalidade, isonomia e promoção pessoal. Pelo primeiro sentido, o princípio da impessoalidade relaciona-se com a finalidade pública. Toda a atividade administrativa deve ser desenvolvida sempre visando à finalidade pública, o interesse público. Assim, quando os juízes viajam para um Congresso na Costa do Sauípe com diárias pagas pela Administração, tal viagem tem como objetivo aprimorar o conhecimento dos magistrados, e não proporcionar férias pagas. Pelo segundo sentido, a Administração deve tratar isonomicamente todos os administrados. Aqui que entra o concurso e a licitação. A administração deve proporcionar as mesmas condições e oportunidades para aqueles que desejem ter CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 18 algum tipo de relação com ela. Nem sempre se deve considerar que todos são iguais. A equidade prevê tratamento igual para os iguais e desigual para os desiguais. E isso não fere o princípio da isonomia. A CF/88 afirma que: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Contudo, quando ela diz que “todos são iguais perante a lei”, não está dizendo que não poderá haver tratamentos diferenciados. Aqui a Constituição quer dizer que a lei não será aplicada de forma diferenciada, que, na sua aplicação, não haverá tratamento desigual. É o universalismo de procedimentos. Mas a própria Constituição prevê tratamento desigual em determinados casos, como na aposentadoria para homens e mulheres, vantagens para as microempresas, entre outros. O princípio da igualdade é entendido aqui como equidade: significa tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual. O terceiro sentido do princípio da impessoalidade está relacionado com a publicidade dos atos administrativos, sendo vedada a promoção pessoal dos agentes públicos em relação a atos da administração, como determina o §1º do art. 37 da CF: § 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Os atos e provimentos da administração são imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade da Administração Pública. Uma aplicação prática disso ocorre quando se reconhece validade aos atos praticados por funcionário irregularmente investido no cargo ou função, sob o fundamento de que os atos são do órgão e não do agente público. 2.3 Princípio da Moralidade A administração deve saber decidir não somente entre o bem e o mal, entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o conveniente, mas também entre o honesto e o desonesto. Muitos autores consideram que a imoralidade se reduz a uma das hipóteses de ilegalidade, uma ilegalidade quanto aos fins, já que a moralidade se desenvolveu ligada CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 19 a ideia de desvio de poder. No entanto, não podemos considerar que imoralidade e ilegalidade sejam a mesma coisa. Um ato pode ser legal e ao mesmo tempo imoral. Um exemplo é o caso do prefeito em fim de mandato que congela o IPTU com o objetivo de prejudicar financeiramente a próxima administração. Apesar de legal, esta atitude fere o princípio da moralidade. O princípio da moralidade também possui três aspectos. No primeiro, o servidor público deve atuar de forma ética. Ele não pode, por exemplo, fornecer informações incompletas para os administrados, levando-os a se equivocar perante uma situação com a Administração. No segundo, cria-se para o agente a obrigação de não limitar sua atuação a uma mera aplicação formal da lei, mas respeitando os valores que a norteiam. Assim, o agente público deve agir não só dentro da lei, mas também de forma a efetivar os valores nela consagrados. Por fim, no terceiro sentido, a moralidade relaciona-se com os costumes administrativos. O princípio vincula a validade da conduta administrativa à observância dos costumes administrativos, ou seja, das regras que surgem informalmente no quotidiano administrativo, a partir da adoção reiterada de determinadas condutas pela administração. Assim, segundo a doutrina, mesmo que determinada conduta da Administração vá contra a lei, se ela for praticada de forma repetida e constante, passa a se tornar um direito do administrado. O princípio deve ser observado não apenas pelo administrador, mas também pelo particular que se relaciona com a Administração, como nas licitações, quando ocorrem conluios entre licitantes. 2.4 Princípio da Publicidade Esse princípio exige a ampla divulgação dos atos praticados pela Administração Pública, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em lei. Os atos administrativos devem ser divulgados para o público. A publicidade não é elemento formativo do ato administrativo, portanto não determina sua validade, mas é requisitode eficácia e moralidade. A partir deste princípio exige-se da Administração Pública que preste contas de todos os seus atos, contratos e procedimentos. Deve manter plena transparência de seus comportamentos, exceto nas hipóteses em que o impedir o interesse público, nos casos extremos de segurança nacional ou em situações em que a divulgação prévia possa eliminar a viabilização de medidas justificáveis. A CF/88 traz este princípio em alguns dispositivos, além do caput do art. 37. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 20 CF, art. 37, § 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Art. 5º, LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; A publicação não é obrigatória para todos os atos administrativos, somente para os aos gerais de efeitos externos. Ato geral é o que tem destinatários indeterminados, ou seja, o ato não visa gerar efeitos sobre apenas uma pessoa determinada ou um grupo de pessoas específico. Que gera efeitos externos é o ato que tem por destinatários os administrados. Existem atos não-gerais e não-externos que também devem ser publicados, como a nomeação de vocês para um cargo público. Podemos ver, portanto, que o princípio da publicidade está intimamente ligado com a transparência. A gestão da coisa pública não é atividade sigilosa, que deve ser feita às ocultas. Ao contrário, é atividade que a todos interessa. Logo, ao administrado deve ser propiciado o conhecimento dos atos produzidos pela Administração, sendo de seu próprio interesse individual, sejam de interesse geral, coletivo. 2.5 Princípio da Eficiência O princípio da eficiência não estava na redação original do art. 37, ele foi incluído pela Emenda Constitucional 19/98, a que resultou do Plano Diretor. Hely Lopes Meireles fala na eficiência como um dos deveres da Administração Pública, definindo-o como: O que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros. O princípio da eficiência pode ser considerado em dois sentidos diversos: pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 21 em relação ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público. No primeiro sentido, o princípio impõe aos agentes públicos uma atuação célere e tecnicamente adequada, sempre objetivando um melhor desempenho das suas atribuições. As principais aplicações do princípio são: a avaliação especial de desempenho do servidor ocupante de cargo efetivo, requisito para a aquisição da estabilidade; a avaliação periódica de desempenho, nova hipótese de perda do cargo para o servidor estável; e o concurso público, procedimento de adoção obrigatória para o preenchimento de cargos efetivos e empregos públicos. Ainda num terceiro possível sentido, o princípio da eficiência consagra o princípio da economicidade, impondo à Administração uma atuação sob uma adequada relação custo/benefício, visando sempre à obtenção de um máximo de benefícios com um mínimo de despesas. Com o menor gasto possível os melhores resultados possíveis, tanto em termos quantitativos como qualitativos. Vamos ver uma questão do CESPE. 3. (CESPE/AGU/2004) A transparência e a desburocratização são, entre outras, obrigações do Estado decorrentes do princípio da eficiência. Esta questão foi dada como CERTE. Neste concurso o CESPE fez algo que deveria fazer em todos os demais: explicou não só porque alterou ou anulou questões, mas também porque manteve o gabarito de algumas que foram alvo de recursos. A justificativa para a manutenção deste gabarito foi: As características citadas na assertiva são do princípio da eficiência, apontadas por Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, 15.ed. São Paulo: Atlas, 2004, pp. 321-322. O fato de a transparência ser também característica do princípio da publicidade não invalida a veracidade da assertiva, como também a existência de outras características do princípio da eficiência não a invalida, uma vez que esta traz a expressão “entre outras”. Segundo Alexandre de Moraes, o princípio da eficiência é aquele que impõe à Administração Pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 22 eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-se uma maior rentabilidade social. Portanto, devemos entender que a transparência é decorrência também do princípio da eficiência. Isso deveria ser estendido então a tudo que o Alexandre de Moraes falou em relação ao princípio da eficiência: imparcial, neutra, participativa, eficaz, sem burocracia e sempre em busca da qualidade. Mas nem sempre é assim. Vejamos a próxima questão: 4. (CESPE/MPE-AM/2007) Fere o princípio da eficiência a atitude praticada pelo prefeito de uma cidade do interior que, com o objetivo de valorizar sua propriedade, abre processo de licitação para asfaltar a estrada que liga a cidade à sua fazenda. Esta questão foi dada como ERRADA. Contudo, se formos seguir a lógica do Alexandre de Moraes, esta atitude seria sim contrária ao princípio da eficiência, já que não é imparcial. Para Paulo Modesto: Eficiência, para fins jurídicos, não é apenas o razoável ou correto aproveitamento dos recursos e meios disponíveis em função dos fins prezados. A eficiência, para os administradores, é um simples problema de otimização de meios; para o jurista, diz respeito tanto à otimização dos meios quanto à qualidade do agir final. Outro ponto importante é que o princípio da eficiência não pode sobrepor-se aos demais, especialmente ao da legalidade, sob pena de sérios riscos à segurança jurídica e ao próprio Estado de Direito. Dessa forma, não se pode identificar a eficiência como algo fora da legalidade, mas sim como uma nova versão, que enfatiza o elemento discricionário, conferindo ao administrador a utilização de critérios subjetivos de apreciação baseados em conveniência e oportunidade. Modesto acredita que o princípio da eficiência pode ser percebido como componente da própria legalidade, percebida sob ângulo material e não formal. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 23 2.6 Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado Este é um princípio implícito, que não é objeto de qualquer norma expressade caráter geral (ele atualmente é citado no art. 2º da Lei 9.784/99, aplicável na esfera federal). A própria razão de existir da Administração é a busca dos interesses públicos, e para cumprir a contento sua missão é necessário assegurar que esses interesses, porque pertinentes a toda a coletividade, prevaleçam sobre os interesses privados de seus membros. É o princípio que distingue o Direito Administrativo dos demais ramos, no disciplinamento das relações jurídicas. É justamente essa a essência do princípio: a Administração atua voltada aos interesses da coletividade, aos interesses mais básicos e relevantes do corpo social. Logo, deve gozar de superioridade perante os administrados, como medida indispensável para assegurar a prevalência desses interesses, os interesses públicos, sobre os interesses privados dos membros da coletividade. Tais considerações fazem com que nossa doutrina amplamente majoritária este princípio como o princípio fundamental do regime jurídico-administrativo. Este princípio serve de fundamento para todas as prerrogativas administrativas, os poderes conferidos por lei à Administração que lhe asseguram uma posição de superioridade perante o administrado, quando e enquanto age na busca do interesse público. Entre as principais prerrogativas administrativas, podemos citar: Os atributos dos atos administrativos, a exemplo da presunção de legitimidade e veracidade, da auto-executoriedade e da imperatividade; As cláusulas exorbitantes dos contratos administrativos, a exemplo dos poderes de alteração unilateral do contrato e de rescisão unilateral do contrato; As diversas formas de intervenção do Estado na propriedade privada, dentre as quais podemos citar a desapropriação, a servidão administrativa, o tombamento, a requisição administrativa, a ocupação temporária e as limitações administrativas. 2.7 Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público Para Celso Antonio Bandeira de Mello, este é um dos dois princípios basilares do Direito Administrativo, juntamente com a Supremacia do Interesse Público. Enquanto este princípio está ligado às prerrogativas da Administração que fazem com que ela seja preponderante numa relação com os administrados, o princípio da indisponibilidade do CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 24 interesse público está ligado às sujeições da Administração. É mais um princípio implícito. A Administração tem o dever de defender o interesse público. Não é uma faculdade sua escolher se irá praticar um ato ou não que tenha como objetivo a satisfação do interesse público. O que nós denominamos como poderes da Administração (hierárquico, de polícia, etc.) são na realidade poderes-deveres. Sempre que a finalidade, o interesse público previsto em lei o requerer, são eles de utilização obrigatória para o agente. Esta é a aplicação mais importante do princípio da indisponibilidade do interesse público: sempre que a ordem jurídica confere a um agente público um poder, o faz tendo em vista dada finalidade; presente esta, tal poder é de exercício obrigatório para o agente. As questões, além de poder-dever, chamam isto de caráter instrumental dos poderes administrativos e aspecto dúplice dos poderes administrativos. A segunda aplicação deste princípio é a indisponibilidade dos bens públicos. Qualquer aplicação dos recursos financeiros, qualquer utilização dos bens públicos, deve-se voltar para o interesse previsto em lei. Destinação contrária à lei, desvirtuada de qualquer interesse legítimo, caracteriza ato ilícito. O princípio é a justificativa para todas as sujeições administrativas, as limitações e restrições impostas por lei à Administração com o intuito de evitar que ela atue de forma lesiva aos interesses públicos ou de modo ofensivo aos direitos fundamentais dos administrados. Sempre que estivermos perante uma regra imposta à Administração e que limita seu comportamento, comparativamente ao dos particulares, estaremos perante uma sujeição administrativa, a qual tem seu fundamento o princípio da indisponibilidade do interesse público. Exemplos de sujeições é a necessidade de concurso público para contratação de pessoal, as licitações, entre outros. Uma quarta interpretação do princípio é o impedimento imposto à Administração de transferir aos particulares os direitos relacionados aos interesses públicos que a lei lhe encarregou de defender (Bandeira de Mello inclusive trata a matéria como um princípio à parte, o princípio da inalienabilidade dos direitos concernentes a interesses públicos). A inalienabilidade dos bens públicos, enquanto utilizados para a satisfação de certo interesse coletivo, também pode aqui ser lembrada. Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos Denominado também de princípio da permanência, defende que o serviço público não pode ser interrompido, já que está ligado à dignidade da pessoa humana. Os serviços CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 25 públicos têm um caráter de indispensabilidade, de essencialidade à vida em sociedade. Deste modo, sua prestação, em regra, não pode ser paralisada. Em importante posicionamento, O Superior Tribunal de Justiça admite a suspensão do serviço, por inadimplemento, mesmo em se tratando de pessoas políticas. Entende a Corte que a inadimplência do ente público autoriza o delegatário a paralisar a prestação até a regularização dos pagamentos, ressalvadas as atividades essenciais que poderão sofrer dano irreparável com a medida. Por este princípio entende-se que o serviço público, sendo a forma pela qual o Estado desempenha funções essenciais ou necessárias à coletividade, não pode parar. Dele decorrem consequências importantes. A primeira delas é a proibição de greve nos serviços públicos. Apesar de a CF de 88 conceder o direito a greve aos servidores públicos, ela o condiciona a legislação específica, ou seja, é uma norma de eficácia contida: VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica A segunda delas é a impossibilidade de quem contrata com a administração de invocar a exceptio non adimpleti nos contratos que tenham por objeto a execução de serviço público. Assim, O princípio da continuidade dos serviços públicos também abrange os particulares que prestam serviços públicos mediante vínculo contratual, os concessionários e permissionários de serviços públicos, os quais, ao lado dos autorizatários, compõem o grupo dos delegatários de serviços públicos. A fim de fazer valer o princípio da continuidade, a lei não lhes confere a possibilidade de paralisarem a prestação do serviço delegado em virtude de eventual inadimplemento da Administração, sendo tal impedimento a eles imposto denominado inoponibilidade da exceção do contrato não cumprido. Aos particulares que firmam os demais tipos de contratos administrativos é facultada, após um atraso de mais de 90 dias dos pagamentos devidos pela Administração (salvo em caso de guerra, comoção interna ou calamidade pública), a possibilidade de decidirem pela suspensão do cumprimento das obrigações pactuadas. Num contrato para construção de uma obra pública, por exemplo, a construção pode ter seu curso interrompido pelo particular contratado, até a regularização dos pagamentos atrasados pela Administração. No caso dos prestadores de serviços públicos a disciplina nesta situação é diferente: o inadimplemento da Administração, por si só, não lhes autoriza suspender o desempenho de suas atividades, o que só podem fazer por decisão judicial transitada em julgado reconhecendo a falta da Administração. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃOPÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 26 Também é aplicação do princípio o instituto da reversão, pelo qual, uma vez extinto o contrato de concessão ou permissão de serviços públicos, os bens diretamente utilizados na prestação do serviço passam para o patrimônio público, mediante o pagamento de justa indenização aos seus proprietários. Também se pode citar a prerrogativa que possui a Administração de ocupar os bens, pessoal, instalações e equipamentos dos concessionários e permissionários de serviços públicos, durante o prazo de vigência do contrato, quando tal medida for necessária para se assegurar a continuidade da prestação do serviço. A regra geral é a impossibilidade da suspensão do serviço. A Lei, todavia, admite a paralisação em três hipóteses que elenca, sem que reste configurada violação ao requisito da continuidade. Tais hipóteses constam do § 3º do art. 6º, e são as seguintes: Em situações de emergência, independentemente de aviso-prévio (a imprevisibilidade da situação impede esta medida); Devido a razões de ordem técnica ou de segurança das instalações, após aviso-prévio ao usuário; Em função do inadimplemento do usuário, também após aviso prévio. 3 Novas Lideranças no Setor Público Vamos ver o conceito de liderança numa questão do CESPE: 5. (CESPE/GESTOR-AC/2008) Pode-se definir liderança como a habilidade de influenciar pessoas no sentido da realização das metas organizacionais. Este é um conceito defendido por muitos autores. Esta questão foi tirada da definição de Richard Daft, como podemos ver abaixo. Muitos alunos pedem sugestão de bibliografia para estudar para concursos. Este autor é usado pelo CESPE em algumas questões. Ele tem o livro “Administração”, que é bem geral e aborda diversos assuntos. Para quem quer estudar administração geral ele é uma indicação. Vamos ver alguns autores que defendem a definição da questão: CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 27 Richard Daft: Liderança é a habilidade de influenciar pessoas no sentido da realização das metas organizacionais. Chiavenatto: Afirma que liderança não é sinônimo de administração. Define-a como uma influência interpessoal exercida em uma dada situação e dirigida através do processo de comunicação humana para a consecução de um ou mais objetivos específicos. Hersey e Blanchhard: definem liderança como “o processo de influenciar as atividades de um individuo ou de um grupo para a consecução de um objetivo numa dada situação”. Stephen Robbins: Define liderança como a capacidade de influenciar um grupo para alcançar metas. Richard Daft explica esta definição dizendo que, dentre todas as ideias e escritos sobre liderança, três aspectos sobressaem: pessoas, influências e metas. A liderança ocorre entre pessoas, envolve o uso da influência e é usada para alcançar as metas. Influência significa que o relacionamento entre as pessoas não é passivo. Além disso, é elaborada para alcançar algum fim ou meta. A liderança é recíproca, ocorrendo entre pessoas. Liderança é uma atividade das “pessoas”, distinta das atividades com a papelada administrativa ou da resolução de problemas. A liderança é dinâmica e envolve o uso de poder, que é definido como a habilidade potencial de influenciar o comportamento dos outros. Na definição de Chiavenatto, temos que liderança não é a mesma coisa que administração. Administração e liderança refletem dois conjuntos diferentes de qualidades e habilidades que frequentemente sobrepõem-se em um único indivíduo. - Administração diz respeito ao enfrentamento da complexidade. A boa administração ordem e consistência por meio da elaboração de planos formais, estruturação organizacional e monitoração de resultados. - Liderança diz respeito ao enfrentamento da mudança. Os líderes estabelecem direções através do desenvolvimento de uma visão do futuro; depois, engajam as pessoas comunicando-lhes essa visão e inspirando-as a superar os obstáculos. Esta ideia de visão está inserida nas discussões atuais sobre o conceito de liderança. Segundo Peter Druker: “Liderança é uma visão”, diz, lembrando do que está expresso nos Provérbios 29:18, "Onde não houver visão, as pessoas sucumbirão". Vamos ver as concepções básicas de liderança. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 28 3.1 Teoria do Grande Homem e Teoria dos Traços Os esforços iniciais para entender o sucesso da liderança focaram nas características ou traços pessoais do líder. Traços são as características pessoais distintas de um líder, como inteligência, valores e aparência. As pesquisas iniciais focaram nos líderes que haviam alcançado um nível de grandeza e, consequentemente, são conhecidas como a abordagem de um grande homem. A Teoria do Grande Homem aceita a ideia de líderes natos. Supunha-se que de tempos em tempos apareceriam homens geniais destinados a exercer profunda influência na sociedade. A Teoria dos Traços é semelhante à do Grande Homem, ela parte do pressuposto de que alguns indivíduos possuem uma combinação especial de traços de personalidade que podem ser definidos e utilizados para identificar futuros líderes potenciais. Assim o líder possui traços específicos de personalidade que o distinguem das demais pessoas. O que interessava aos pesquisadores da época era poder eleger dentre certos atributos quais os que melhor definiriam a personalidade do líder. A ideia era relativamente simples: descobrir o que fazia com que as pessoas fossem grandes, e selecionar líderes futuros que já exibiam os mesmos traços ou poderiam ser treinados para desenvolvê- los. No geral, a pesquisa descobriu apenas um relacionamento fraco entre os traços pessoais e os líderes de sucesso. Muitas das pesquisas para identificar os traços responsáveis pela capacidade de liderança deram em nada. Uma revisão de 20 trabalhos nessa linha, feita no final dos anos 1960, identificou quase 80 traços de liderança, mas apenas cinco eram comuns a quatro ou mais estudos. Por volta dos anos 1990, depois de muitos estudos e análises, o máximo que se poderia dizer é que os sete traços seguintes pareciam diferenciar os líderes dos não-líderes: ambição e energia, desejo de liderar, honestidade e integridade, autoconfiança, inteligência, elevado automonitoramento, e conhecimentos relevantes para o trabalho. Mas a capacidade de prever a liderança através destes traços continua modesta. 3.2 Teorias Comportamentais As falhas dos primeiros estudos sobre os traços levaram os pesquisadores a seguir por outra direção do final dos anos 1940 até a década de 1960. Eles começaram a analisar o comportamento exibido por certos líderes e procuraram descobrir se havia alguma coisa específica na maneira de se comportarem. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 29 As teorias sobre a liderança evoluíram então para a noção de que é o “comportamento” do líder, e não suas características de personalidade, que determina a eficácia da liderança. Uma das maiores diferenças entre a teoria dos traços e as do comportamento é que, na primeira, pressupõe-se que os líderes nascem com suas características de liderança, e não que eles se formam líderes; já nas últimas, se existissem comportamentos específicos que identificassem os líderes, a liderança poderia ser ensinada. As teorias comportamentais tiveram um resultado modesto na identificação de relações consistentes entre o comportamento de liderança e o desempenho do grupo. O que parece estar faltando é a consideração dos fatores situacionais queinfluenciam o sucesso ou o fracasso. Por um longo período pensou-se que os traços não teriam influência na liderança, mas hoje se entende que os traços podem indicar liderança, mas que eles funcionam melhor para prever o surgimento da liderança do que para distinguir entre líderes eficazes e ineficazes. O fato de um indivíduo apresentar determinados traços e ser considerado um líder pelos demais não significa, necessariamente, que ele será bem-sucedido em liderar seu grupo para o alcance dos objetivos. 3.3 Teorias das Contingências Já vimos na aula passada que a Teoria da Contingência tem como ideia principal a de que tudo depende, não existe um tipo de estratégia, de estrutura, de liderança, etc., que seja adequado para todas as situações. Foram desenvolvidos vários modelos de liderança que explicam o relacionamento entre os estilos de liderança e as situações específicas. A relação entre estilo de liderança e eficácia sugere que, sob uma condição a, o estilo x pode ser adequado, enquanto o estilo y é mais indicado para uma situação b, e o estilo z mais apropriado para a situação c. Vamos ver algumas abordagens que buscaram identificar variáveis situacionais básicas. O modelo de Fiedler O primeiro modelo contingencial abrangente de liderança foi desenvolvido por Fred Fiedler. Seu modelo propõe que a eficácia do desempenho do grupo depende da adequação entre o estilo do líder e o grau de controle que a situação lhe proporciona. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 30 A pedra principal da teoria de contingência de Fiedler é até que ponto o estilo de cada líder é voltado para o relacionamento ou para a tarefa. Um líder voltado para o relacionamento considera as pessoas. Um líder voltado para a tarefa é primariamente motivado pela realização da tarefa. As situações de liderança podem ser analisadas em termos de três elementos: a qualidade dos relacionamentos líder-membro, a estrutura da tarefa, e o poder da posição. Cada um desses elementos pode ser descrito como sendo favorável ou desfavorável ao líder. As relações líder-membro se referem à atmosfera do grupo e às atitudes dos membros para com a aceitação do líder. Quando os subordinados confiam no líder e o respeitam, as relações líder-membro são consideradas boas. Estrutura da tarefa se refere até que ponto as tarefas desempenhadas pelo grupo são definidas, envolvem procedimentos específicos e têm metas claras e explícitas. As tarefas rotineiras, bem definidas, como aquelas dos trabalhadores da linha de montagem, têm um grau de estrutura alto. Já as tarefas criativas, não claras, como a pesquisa e desenvolvimento, têm um grau baixo de estrutura da tarefa. Quando a estrutura da tarefa é alta, como nas rotineiras, a situação é considerada favorável ao líder; quando é baixa, é desfavorável. Poder da posição é até que ponto líder tem autoridade formal sobre os subordinados. Quando o líder tem o poder de planejar e dirigir o trabalho dos subordinados, avaliá-los e recompensá-los, o poder da posição é alto e a situação é favorável. Quando o poder for baixo, a situação será desfavorável. Os líderes voltados para a tarefa são mais eficazes quando a situação é altamente favorável ou altamente desfavorável. O líder voltado para a tarefa sai-se melhor na situação favorável porque todos se dão bem, a tarefa é clara e o líder tem poder; tudo que é preciso é alguém que assuma o comando e forneça direções. Do mesmo modo, se a situação for muito desfavorável ao líder é necessária muita estrutura e direção da tarefa. Um líder forte define a estrutura da tarefa e consegue estabelecer autoridade sobre os subordinados. Os líderes voltados para o relacionamento são mais eficazes nas situações de favorecimento moderado porque as habilidades de relações humanas são importantes para alcançar o alto desempenho do grupo. Nessas situações, o líder é moderadamente benquisto, tem certo poder e supervisiona os serviços que contêm alguma ambiguidade. Um líder com boas habilidades interpessoais consegue criar uma atmosfera positiva no grupo que melhora os relacionamentos, esclarecerá a estrutura da tarefa e estabelecerá um poder da posição. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 31 Visão Bidimensional A liderança orientada para a tarefa (trabalho) e a liderança orientada para as pessoas, a princípio, foram consideradas estilos em oposição, mutuamente excludentes. Todavia, à medida que a pesquisa sobre a liderança avançou, verificou-se que a tarefa e as pessoas não são pólos opostos da mesma dimensão, mas limites do mesmo território. Essa é a visão bidimensional da liderança, segundo a qual o líder pode combinar os dois estilos em seu comportamento, ou enfatizá-los simultaneamente. Essa ideia proporcionou grande avanço para o estudo da liderança. Liderança orientada para a tarefa é o estilo de liderança em que se concentra a atenção no desempenho do funcionário, cobra-se e avalia-se o desempenho dos subordinados, insiste-se no cumprimento de prazos estabelecidos e estabelecem-se claramente as responsabilidades dos membros da equipe. Teoria Situacional Criada por Hersey e Blanchard, é uma extensão das teorias comportamentais. Mais do que as teorias anteriores, a abordagem situacional foca bastante atenção nas características dos funcionários em determinar o comportamento da liderança apropriado. O ponto importante é que os subordinados variam no nível de prontidão. As pessoas com baixa prontidão para a tarefa, por causa da pouca habilidade, ou treinamento, ou insegurança, precisam de um estilo de liderança diferente daquelas que são altas na prontidão e têm boas habilidades, talentos, confiança e disposição para o trabalho. A abordagem situacional sugere que não existe um melhor estilo de liderança, nem um estilo permanente, e sim o mais eficaz para uma dada situação. Um líder pode adotar um entre quatro estilos de liderança, baseado em uma combinação do comportamento de relacionamento (consideração pelas pessoas) e de tarefa (consideração pela tarefa). - Determinador: reflete uma alta consideração pela produção e uma baixa consideração pelas pessoas. É um estilo bastante diretivo e envolve dar instruções explícitas sobre como as tarefas deveriam ser realizadas. - Persuasivo: é baseado na alta consideração pelas pessoas e pela produção. Com esta abordagem, o líder explica as decisões e dá aos subordinados a chance de fazer perguntas e obter esclarecimentos sobre as tarefas de trabalho. CURSO ON-LINE – ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA TRIBUNAIS PROFESSOR: RAFAEL ENCINAS www.pontodosconcursos.com.br 32 - Compartilhador: é baseado em uma combinação de alta consideração pelas pessoas e baixa consideração pela produção. O líder compartilha as ideias com os subordinados, lhes dá a chance de participarem e facilita a tomada de decisão. - Delegador: reflete uma baixa consideração pelas pessoas e pela produção. O estilo do líder proporciona pouca direção e pouco apoio porque o líder transfere a responsabilidade pelas decisões e suas implementações para os subordinados. A essência da teoria situacional é selecionar um estilo de líder que seja apropriado para o nível de prontidão dos subordinados – seus graus de educação e habilidades, experiência, autoconfiança e atitudes trabalhistas. No nível baixo de prontidão, o estilo determinador é apropriado, já que os seguidores têm pouca habilidade, experiência, são inseguros ou indispostos para assumir responsabilidades, necessitando então de um líder que diga exatamente o que fazer, como fazer e quando fazer. Um estilo persuasivo funciona melhor para os seguidores
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