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Formação Econômica do Brasil I)Fundamentos econômicos da ocupação territorial A ocupação das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa. Um intenso comércio europeu é observado a partir do século XI e alcança um elevado grau de desenvolvimento no século XV, quando as invasões turcas começam a criar dificuldades às linhas orientais de abastecimento. O restabelecimento dessas linhas, contornando o obstáculo otomano, com a abertura da rota marítima das Índias Orientais, constitui a maior realização dos europeus na segunda metade do século XV. Desenvolvimento econômico de Portugal do século XV: ● Exploração da costa africana; ● Expansão agrícola nas ilhas do Atlântico; ● Abertura da rota marítima das Índias Orientais. O grande feito português, eliminando os intermediários árabes, antecipando-se à ameaça turca, quebrando o monopólio dos venezianos e baixando os preços dos produtos, foi de fundamental importância para o subsequente desenvolvimento comercial da Europa. A imediata consequência da abertura da nova rota foi uma brusca queda dos preços das especiarias: os venezianos passaram a comprar pimenta em Lisboa (Portugal) pela metade do preço que pagavam aos árabes em Alexandria (Egito). ● A descoberta do território americano foi episódio secundário para Portugal durante todo um meio século. À Espanha coube colher o ouro das velhas civilizações da meseta mexicana e do altiplano andino. ● A ideia de riquezas por descobrir corre a Europa e desperta o interesse das demais nações europeias. ● O início da ocupação do território brasileiro é em boa medida uma consequência da pressão exercida pelas nações europeias sobre Portugal e Espanha. Estas nações entendiam que os dois países não teriam direito às terras a menos que as ocupassem. ● Para ocupação do território brasileiro foi necessário que Portugal desviasse recursos de lucrativas empresas do oriente. ● Já a Espanha decide reduzir seu território a fim de melhorar a proteção no eixo produtor de metais preciosos (México – Peru). ● Coube a Portugal encontrar uma forma de utilização econômica das terras americanas a fim de cobrir os gastos de defesa do território. ● América passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu. Fatores do êxito da empresa agrícola Os portugueses já haviam iniciado o cultivo do açúcar, em escala relativamente grande, nas ilhas do Atlântico o que: ● permitiu a solução de problemas técnicos relacionados à produção do açúcar, ● fomentou o desenvolvimento, em Portugal, da indústria de equipamentos para engenhos açucareiros, sem o qual o êxito da empresa brasileira teria sido mais difícil em virtude das proibições à exportação de equipamentos. ● Com a produção portuguesa nas ilhas do Atlântico temos um período de crise de superprodução do açúcar. ● Tudo indica que inicialmente o açúcar português entrou em canais tradicionais controlados por comerciantes das cidades italianas, e que esses canais não se ampliaram na medida requerida pela expansão da produção. O açúcar era absorvido em escala limitada, o que causou superprodução. ● O surgimento de refinarias fora de Veneza na época em que há a expansão da produção portuguesa indica um rompimento do monopólio veneziano. A forte queda dos preços que se observa no último decênio do século talvez seja uma consequência da passagem de um mercado de monopólio para um de concorrência. ● Em 1496 o governo português decide restringir a produção e dividi-la para evitar a superprodução e garantir uma melhor distribuição do açúcar. ● A partir da metade do século XVI a produção portuguesa de açúcar passa a ser cada vez mais uma empresa em comum com os holandeses. Estes recolhiam o produto em Lisboa, refinavam-no e faziam a distribuição por toda a Europa. ● A contribuição holandesa para a grande expansão do mercado do açúcar foi fundamental para o êxito da colonização do Brasil. Especializados no comércio intra europeu, que financiavam em grande parte, eram os únicos capazes de criar um mercado de grandes dimensões para um produto até então pouco conhecido, o açúcar. ● Os capitalistas holandeses financiavam a refinação, a comercialização, as instalações produtivas no Brasil e a importação de mão de obra escrava. O problema da mão de obra: ● Somente pagando salários mais altos que na Europa seria possível atrair mão de obra dessa região, o que tornaria a empresa antieconômica. ● A mão de obra indígena foi utilizada num primeiro momento, onde os núcleos coloniais não encontravam uma base econômica firme para expandir-se. ● A mão de obra africana passou a ser utilizada quando o negócio demonstrou ser altamente rentável. Por esta época os portugueses já tinham todo conhecimento do mercado africano de escravos. ● O êxito da grande empresa agrícola do século XVI, constituiu a razão de ser da continuidade da presença dos portugueses em uma grande extensão das terras americanas. ● No século seguinte, quando se modifica a relação de forças na Europa com o predomínio das nações excluídas da América pelo Tratado de Tordesilhas, Portugal já havia avançado enormemente na ocupação efetiva da parte que lhe coubera. RAZÕES DO MONOPÓLIO ● Os magníficos resultados financeiros da colonização agrícola do Brasil abriram perspectivas atraentes à utilização econômica das novas terras. ● Os espanhóis continuaram concentrados em sua tarefa de extrair metais preciosos. ● A política espanhola estava orientada no sentido de transformar as colônias em sistemas econômicos o quanto possível autossuficientes e produtores de um excedente líquido -na forma de metais preciosos- que se transferia periodicamente para a Metrópole. ● Sendo a Espanha o centro de uma inflação que chegou a propagar-se por toda a Europa, não é de estranhar que o nível geral de preços tenha sido persistentemente mais elevado nesse país que em seus vizinhos, o que necessariamente teria de provocar um aumento de importações e uma diminuição de exportações. Em consequência, os metais preciosos que a Espanha recebia da América sob a forma de transferências unilaterais provocavam um fluxo de importação de efeitos negativos, sobre a produção interna, e altamente estimulante para as demais economias europeias. ● Cabe portanto admitir que um dos fatores do êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa foi a decadência da economia espanhola, a qual se deve principalmente à descoberta precoce dos metais preciosos. ● Caso a colonização espanhola houvesse evoluído para a produção de produtos tropicais, principalmente o açúcar, maiores teriam sido as dificuldades enfrentadas por Portugal. A abundância de terras, a maior proximidade da Europa e o enorme poder financeiro seriam determinantes para que os espanhóis dominassem o mercado de produtos tropicais. DESARTICULAÇÃO DO SISTEMA ● No começo do séc. XVII os holandeses controlavam praticamente todo o comércio dos países europeus realizado por mar. ● A luta pelo controle do açúcar torna-se uma das razões de ser da guerra sem quartel que promovem os holandeses contra a Espanha. E um dos episódios dessa guerra foi a ocupação durante um quarto de século (1624 - 1654), de grande parte da região produtora de açúcar no Brasil. ● Durante a permanência no Brasil, os holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira. Esses conhecimentos vão constituir a base para a implantação e desenvolvimentode uma indústria concorrente, de grande escala, na região do Caribe. ● A partir desse momento, estaria perdido o monopólio, que nos três quartos de século anteriores se assentara na identidade de interesse entre os produtores portugueses e os grupos financeiros holandeses que controlavam o comércio europeu. ● No terceiro quartel do século XVII os preços do açúcar estarão reduzidos à metade e persistirão nesse nível relativamente baixo durante todo o século seguinte. A renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a um quarto do que havia sido em sua melhor época. A depreciação da moeda portuguesa é praticamente das mesmas proporções, o que indica claramente a enorme importância do açúcar brasileiro na balança de pagamentos de Portugal. Essa desvalorização significou uma importante transferência de renda em benefício do núcleo colonial, apesar destas terem se revertido principalmente em benefício dos exportadores metropolitanos portugueses. AS COLÔNIAS DE POVOAMENTO DO HEMISFÉRIO NORTE ● O principal acontecimento da história americana no século XVII foi, para o Brasil, o surgimento de uma poderosa economia concorrente no mercado dos produtos tropicais. Seu surgimento se deve ao debilitamento da potência militar espanhola na primeira metade do século XVII, que foi observado de perto pelas três potências cujo poder crescia na mesma época: Holanda, França e Inglaterra. ● Rivalidades entre França e Inglaterra impediram a maior penetração destas no território espanhol, mas apoderaram-se de ilhas estratégicas do Caribe, para nestas instalar colônias de povoamento com objetivos militares ● O início dessa colonização de povoamento no século XVII marca uma etapa nova na história da América. ● Em seus primeiros tempos essas colônias acarretaram vultuosos prejuízos para as companhias que a organizavam. ● Para estas colônias de povoamento, os colonos eram atraídos com propaganda e engodo, eram recrutados entre criminosos, ou mesmo sequestrados. A cada um era atribuído um pedaço de terra limitado que deveria ser pago com o fruto do seu trabalho futuro ● Por esse e outros métodos a população europeia das Antilhas cresceu intensamente, e só a Ilha de Bordados chegou a ter, em 1634, 37.200 habitantes dessa origem. ● Na medida em que a agricultura tropical - particularmente a do fumo - transformava-se num êxito comercial, cresciam as dificuldades apresentadas pelo abastecimento de mão de obra europeia ● As colônias de povoamento destas regiões, com efeito, resultaram ser simples estações experimentais para a produção de artigos de potencialidade econômica ainda incerta. Superada essa etapa de incerteza, as inversões maciças exigidas pelas grandes plantações escravistas demonstraram ser negócio muito vantajoso. ● A partir desse momento se modifica o curso da colonização antilhana, e essa modificação será de importância fundamental para o Brasil. ● A ideia original de colonização, com base na pequena propriedade, excluída a produção de açúcar. ● A essas diferenças de estrutura econômica teriam necessariamente de corresponder grandes disparidades de comportamento dos grupos sociais dominantes nos dois tipos de colônias. ● Nas Antilhas inglesas os grupos dominantes estavam intimamente ligados a poderosos grupos financeiros da Metrópole e tinham inclusive uma enorme influencia no parlamento britânico. ● As colônias setentrionais, ao contrário, eram dirigidas por grupos ligados uns a interesses comerciais em Boston e Nova York - os quais frequentemente entravam em conflito com os interesses metropolitanos - e outros representativos de populações agrícolas praticamente sem qualquer afinidade de interesses com a Metrópole. ● Essa independência dos grupos dominantes vis-à-vis da Metrópole teria de ser um fator de fundamental importância para o desenvolvimento da colônia, pois significava que nela havia órgãos capazes de interpretar seus verdadeiros interesses e não apenas de refletir as ocorrências do centro econômico dominante. CONSEQUÊNCIAS DA PENETRAÇÃO DO AÇÚCAR NAS ANTILHAS ● Na medida que a agricultura tropical se tornava um sucesso comercial, cresciam as dificuldades apresentadas pelo abastecimento de mão de obra europeia. ● A solução natural do problema estava na introdução da mão de obra escrava africana. ● Onde as terras não estavam todas divididas em mãos de pequenos produtores, a formação de grandes unidades agrícolas se desenvolveu mais rapidamente. ● Observa-se uma intensa concorrência entre regiões que exploram mão de obra escrava em grandes unidades produtivas, e regiões de pequenas propriedades e mão de obra europeia ● As colônias de povoamento destas regiões resultaram ser simples estações experimentais para produção de artigos de potencialidade comercial ainda incerta. Superada essa etapa de incerteza, as inversões maciças exigidas pelas grandes plantações escravistas demonstram ser negocio muito vantajoso. ● Na primeira fase da colonização agrícola ao Brasil cabia o monopólio da produção açucareira. Às colônias antilhanas ficavam reservados os demais produtos tropicais. ● A divisão de tarefas derivava dos próprios objetivos políticos da colonização antilhana, onde franceses e ingleses pretendiam reunir fortes núcleos de população europeia. ● Esses objetivos políticos tiveram de ser abandonados sob a forte pressão de fatores econômicos. A partir deste momento se modifica o curso da colonização antilhana, que será de importância fundamental para o Brasil. ● As colônias do norte dos EUA se desenvolveram, assim, na segunda metade do séc. XVII e primeira do séc XVIII, como parte integrante de um sistema maior dentro do qual o elemento dinâmico são as regiões antilhanas produtoras de artigos tropicais. ● O fato que as duas partes principais do sistema - a região produtora do artigo básico de exportação; e a região que abastecia a primeira - hajam estado separadas é de fundamental importância para explicar o desenvolvimento subsequente de ambas. ENCERRAMENTO DA ETAPA COLONIAL ● A partir da segunda metade do séc. XVII, será profundamente marcada pelo novo rumo que toma Portugal como potência colonial. ● Na época que esteve ligada a Espanha (1580 a 1640), Portugal perdeu o melhor de seus entrepostos orientais, ao mesmo tempo que a melhor parte da colônia americana era ocupada pelos holandeses (1624-1654). ● Ao recuperar a independência Portugal encontrou-se em posição extremamente debilitada. Pesavam a ameaça da Espanha, a perda do comércio oriental e a desorganização do comércio do açúcar. ● Para sobreviver como metrópole colonial deveria se unir a uma grande potência, o que significaria necessariamente alienar parte de sua soberania. Os acordos concluídos com a Inglaterra em 1642-54-61 estruturam essa aliança que marcará profundamente a vida política e econômica de Portugal e do Brasil durante os dois séculos seguintes. Economia escravista de agricultura tropical – séc XVI e XVII 8.Capitalização e nível de renda na colônia açucareira ● Observada de uma perspectiva ampla, a colonização do século XVI surge fundamentalmente ligada à atividade açucareira. ● O rápido desenvolvimento da indústria açucareira, mesmo em meio as dificuldades decorrentes do meio físico, da hostilidade do silvícola e do curto de transporte indica claramente que o esforço português se concentrara neste setor. As maiores dificuldades da etapa inicial vieram da escassez de mão de obra. ● A escravidão demonstrou ser uma condição de sobrevivência para o colono europeu na nova terra. ● Parasubsistir sem trabalho escravo os colonos deveriam se organizar em comunidades dedicadas a produção para autoconsumo, o que só seria possível se a imigração houvesse sido organizada em bases distintas. ● Os grupos de colonos que, em razão da escassez de capital, encontraram maiores dificuldades para consolidar-se economicamente empenharam-se na captura e comércio de indígenas, que serviam principalmente às regiões açucareiras. ● A mão de obra africana é implementada para a expansão do negócio, quando a rentabilidade da empresa açucareira está assegurada e densamente capitalizada. ● Uma vez implementada a mão de obra africana, o principal vínculo entre a economia açucareira e os demais núcleos de povoamento passa a ser a compra de gado e lenha. ● Supõe-se que ao final do século XVI houvesse 120 engenhos num valor de 15.000 libras esterlinas por engenho, o que dá um total de 1,8 milhão de libras esterlinas aplicados na etapa produtiva da indústria. Estima-se o número de escravos em 20.000, ao preço de 25 libras por escravo, o que dá um total de 375.000 libras gasto com a compra da mão de obra. Comparando os dados temos que 20% do capital da empresa era empregado na obtenção de escravos. Sobre o montante de renda gerada podemos fazer algumas suposições. Admitindo que o total exportado num ano favorável tenha alcançado 2,5 milhões de libras e que a renda líquida gerada na colônia corresponda a 60% desse montante, e que essa atividade contribuía com 3/4 da renda total, temos que esta última deveria aproximar-se de 2 milhões de libras. Os gastos monetários deduzidos para obter a renda líquida são estimados em: ● 50.000 libras para reposição de escravos (admitindo uma vida útil média de 8 anos, 15.000 escravos a 25 libras por escravo) - 2,5% da renda total. ● 60.000 libras para equipamentos importados (admitindo que 1/3 do capital fixo fosse constituído de equipamentos importados e que tivessem uma vida útil média de 10 anos) - 3%. ● Na reposição de bois, 25.000 libras - 1,25%. ● Com a compra de lenha para fornalhas, 25.000 libras - 1,25%. ● O trabalho assalariado alcançava 22.500 libras (considerando 1500 trabalhadores) - 1,125%. Tudo indica que cerca de 90% da renda gerada no país Tudo indica que cerca de 90% da renda gerada no país concentrava-se na classe proprietária de engenhos e plantações concentrava-se na classe proprietária de engenhos e plantações de cana-de-açúcar.de cana-de-açúcar. ● Consta que os senhores de engenho não invertiam capitais para outras atividades, nem tinham muitos gastos de consumo. ● Acredita-se que parte substancial dos capitais aplicados na produção de açúcar fosse dos comerciantes. Assim, uma parte da renda gerada que antes atribuímos à classe de proprietários de engenhos e canaviais, permanecia fora do país. ● Explica-se assim a íntima coordenação entre as etapas de produção e comercialização, que preveniu a tendência natural à superprodução. Fluxo de renda e crescimento ● O que mais singulariza a economia escravista é o modo como nela opera o processo de formação de capital. ● O empresário açucareiro teve que operar em escala relativamente grande. ● Os capitais foram importados: primeiramente equipamentos e mão de obra europeia especializada. ● O trabalho indígena deve ter sido usado para alimentar a nova comunidade e nas esferas não especializadas das obras de instalação. ● O trabalho africano vem substituir o indígena. ● Uma vez instalada a indústria, seu processo de expansão seguiu sempre as mesmas linhas: gastos monetários na importação de equipamentos, materiais de construção e mão de obra escrava. ● A etapa subsequente a construção e instalação se realizava sem que houvesse lugar para a formação de um fluxo de renda monetária: ● Parte dos escravos se encarregava da produção de alimentos para o conjunto da população, os outros, da indústria do açúcar. ● Numa economia exportadora escravista parte da inversão transforma-se em pagamentos feitos no exterior: importação (mão de obra, equipamentos e materiais de construção). ● A diferença entre o custo de reposição e manutenção e o valor do produto do trabalho era o lucro do empresário. ● Desta forma, a nova inversão fazia crescer apenas no montante correspondente à criação de lucro para o empresário. ● A mão de obra escrava pode ser comparada às instalações de uma fábrica: a inversão consiste na compra do escravo e sua manutenção representa custos fixos. ● Caso o escravo não pudesse ser usado nas atividades ligadas à exportação, era utilizado em tarefas que aumentavam o ativo do empresário, mas não criavam fluxo de renda monetária (ex: obras de construção, abertura de novas terras...) ● Parte substancial do gastos de consumo era realizado no exterior (importação). Outra parte consistia na utilização da força de trabalho escrava para prestação de serviços pessoais. Neste caso, o escravo se comportava como um bem durável. Comparando o serviço prestado pelo escravo ao prestado por um automóvel, percebemos que da mesma forma que a renda da coletividade não diminui quando o automóvel particular para de funcionar, tampouco se modifica a renda se o escravo deixa de prestar serviços pessoais a seus donos. Resumindo o funcionamento dessa economia: ● Como os fatores de produção pertenciam em sua quase totalidade ao empresário, a renda monetária gerada na produção se revertia, em sua quase totalidade, ao empresário. ● Essa renda expressava-se no valor das exportações, assim como o dispêndio monetário expressava-se na importações. ● O fluxo de renda se estabelecia, portanto, entre a unidade produtiva, considerada em conjunto, e o exterior. Que possibilidades de expansão e evolução estrutural apresentava o sistema econômico escravista? ● Apesar do crescimento observado durante um século, não houve modificações sensíveis na estrutura do sistema econômico. ● O crescimento era dado por extensão: novas terras, aumento do número de engenhos, de escravos, ou seja, pelo aumento da importação. ● O crescimento por extensão possibilitava a ocupação de novas áreas, nas quais ia se concentrando uma população relativamente densa. ● Porém, o mecanismo da economia que não permitia a articulação entre os sistemas de produção e de consumo, anulava as vantagens desse crescimento demográfico como elemento dinâmico do desenvolvimento. ● A economia escravista dependia da procura externa. ● Com o enfraquecimento da demanda, tinha início um processo de decadência. ● Como o custo estava virtualmente constituído de gastos fixos, sempre havia vantagem em utilizar toda a capacidade produtiva, qualquer redução na utilização da capacidade representava perda para o empresário. ● A unidade exportadora estava capacitada para preservar a sua estrutura. Projeção da economia açucareira: a pecuária ● Da mesma forma que a especialização da economia açucareira antilhana, na segunda metade do século XVII, estimulou o desenvolvimento das colônia de povoamento do norte dos EUA, a economia açucareira no Brasil atuou como fator dinâmico do desenvolvimento de outras regiões do país. ● A pecuária surge, primeiramente, para atender a economia açucareira. Formação do complexo econômico nordestino ● As formas que assumem os dois sistemas da economia nordestina (o açucareiro e o criatório) no lento processo de decadência que se inicia na segunda metade do século XVII, constituem elementos fundamentais na formação do que no século XX viria a ser a economia brasileira. ● Os dois sistemas apresentavam caráter puramenteextensivo. ● Com o declínio da economia açucareira do nordeste, no século XVII, houve uma mudança gradual para a criatória. ● Quando a procura por gado caía na região litorânea, o crescimento do sistema pecuário se fazia através do aumento do setor de subsistência. ● A importância relativa da renda monetária ia diminuindo, o que acarretava necessariamente uma redução paralela de sua produtividade econômica. ● Não havendo ocupação adequada para todo o incremento da população livre, parte dela era atraída pela fronteira móvel do interior criatório. ● No nordeste brasileiro, as etapas de prolongada depressão, em que se intensificava a migração do litoral para o interior, teriam de caracterizar-se por uma intensificação do crescimento demográfico. ● O setor de alta produtividade perdia importância e a produtividade do setor pecuário declinava à medida que crescia. Contração econômica e expansão territorial ● O séc. XVII constitui a etapa de maiores dificuldades na vida política da colônia. ● Em sua primeira metade, o desenvolvimento da economia açucareira foi interrompido pelas invasões holandesas. Nessa etapa os prejuízos são bem maiores para Portugal que para o próprio Brasil. ● A administração holandesa se preocupou em reter na colônia parte das rendas fiscais proporcionadas pelo açúcar, o que permitiu um desenvolvimento mais intenso da vida urbana. ● Do ponto de vista do comércio e do fisco portugueses, entretanto, os prejuízos deveriam ser consideráveis. Isso concomitantemente com gastos militares vultosos. ● Encerrada a etapa militar, tem inicio a baixa nos preços do açúcar provocada pela perda do monopólio. ● Na segunda metade do século a rentabilidade da colônia baixou substancialmente, tanto para o comércio como para o erário lusitanos, ao mesmo tempo que cresciam suas próprias dificuldades de administração e defesa. Economia escravista mineira – século XVIII Povoamento e articulação das regiões meridionais ● Com o estado de prostração e pobreza em que se encontravam metrópole e colônia, retrocedia-se à ideia primitiva de que as terras americanas se justificavam pela produção de metais preciosos. ● Assim, os governantes se juntaram aos homens do planalto de Piratininga, que possuíam conhecimento sobre o interior do país e só não haviam encontrado ouro devido à falta de conhecimentos técnicos. A economia do ouro de desenvolveu rapidamente nos primeiros decênios do século XVIII. ● Houve grande mobilização de pessoas: de Piratininga a população emigrou em massa, do Nordeste se deslocaram grandes recursos, e em Portugal se formou pela primeira vez uma grande corrente migratória espontânea com destino ao Brasil. ● A economia mineira, diferente da açucareira, oferecia possibilidades a pessoas com recursos limitados, pois não se exploravam grandes minas, e sim o metal de aluvião que se encontrava depositado no fundo dos rios. Até este momento, a existência da colônia estivera ligada a um negócio que se caracterizava por um pequeno número de grandes empresas – os engenhos de açúcar – sendo a emigração pouco atrativa para o homem comum de escassas posses. Transferir-se de Portugal para o Brasil só tinha sentido para aqueles que dispusessem de meios para financiar uma empresa de dimensão relativamente grande. Na região açucareira, os imigrantes regulares limitavam-se a artesãos e trabalhadores especializados que vinham para trabalhar nos engenhos. No norte e no sul a imigração foi financiada pelo governo português, que pretendia criar colônias de povoamento com objetivos políticos de defesa (como ocorreu no Maranhão). A imigração não alcançou grandes números no século XVII. ● Apesar de o escravo ser a base da economia mineira, em nenhum momento chegam a ser maioria da população. ● A forma como se organizava o trabalho permitia ao escravo maior iniciativa, que circulasse num meio social mais complexo. ● A alguns é permitido trabalhar por conta própria, pagando ao dono, aos poucos,por sua liberdade. ● A economia mineira, diferente da açucareira, oferecia possibilidades a pessoas com recursos limitados, pois não se exploravam grandes minas, e sim o metal de aluvião que se encontrava depositado no fundo dos rios. ● Na economia mineira, as possibilidades que tinha um homem livre com iniciativa eram muito maiores. ● Se dispusesse de recursos podia organizar uma lavra em escala grande, com cem ou mais escravos. Caso contrário, podia trabalhar ele mesmo como faiscador. ● A natureza da empresa mineira não permitia uma ligação a terra, ● estava organizada de forma a poder deslocar- se em tempo relativamente curto. ● O capital fixo era reduzido, pois a vida de uma lavra era sempre algo incerto. ● Por outro lado, a elevada lucratividade do negócio induzia a concentração dos recursos disponíveis na mineração. A economia mineira é marcada por incerteza e mobilidade da empresa, alta lucratividade e especialização. ● A excessiva concentração de recursos na mineração conduzia a grandes dificuldades de abastecimento. ● A elevação dos preços dos alimentos e dos animais de transporte nas regiões vizinhas constitui o mecanismo de irradiação dos benefícios econômicos da mineração. A economia mineira, através de seus efeitos indiretos, permitiu que se articulassem diferentes regiões do país. ● O gado do sul e do nordeste tem seus preços elevados. No nordeste ele se desloca da economia açucareira em crise, impondo maiores dificuldades a esta, razão pela qual provocou fortes reações oficiais e tentativas de interdição. ● Outra característica desta economia foi o uso, em grande escala, de mulas. Criou-se um mercado para animais de carga. Fluxo de renda ● A base geográfica da economia mineira estava situada numa vasta região compreendida entre a serra da Mantiqueira, no atual estado de Minas Gerais, e a região de Cuiabá, no Mato Grosso, passando por Goiás. ● Em algumas regiões a curva de produção subiu e baixou rapidamente, provocando grandes fluxos e refluxos de população. Noutras partes, essa curva foi menos abrupta, tornando-se possível um desenvolvimento demográfico mais regular e a fixação definitiva de núcleos importantes de população. ● A renda média dessa economia, sua produtividade média, é algo que dificilmente se pode definir. Quanto maior fosse num dado período, maior seria a queda no período seguinte. ● A exportação do ouro cresceu em toda a primeira metade do século XVIII e alcançou seu ápice em torno de 1760. O declínio no terceiro quartel do século foi rápido e por volta de 1780 a produção não alcançava 1milhão de libras. ● A renda média era substancialmente inferior a que conhecera a economia açucareira na sua etapa de grande prosperidade. ● Admitindo-se que 4/5 do valor do ouro exportado correspondem a renda criada na região mineira, e que esta se traduzia em igual valor de importações e ainda que o coeficiente de importações fosse 0,5, o total da renda anual mineira não seria superior a 3,6milhões de libras na etapa de grande prosperidade. ● Considerando que a população livre não seria inferior a 300mil pessoas, depreende-se que a renda média era inferior a da economia açucareira em sua etapa de grande prosperidade. ● Apesar disso seu mercado apresentava potencialidades muito maiores, pois as importações representavam menor proporção do dispêndio total. ● Outro aspecto importante é que a renda estava muito menos concentrada (a população livre era muito maior). ● A demanda por bens de consumo corrente era significativa,ocorrendo o contrário aos artigos de luxo. ● A grande distância entre a região mineira e os portos contribuía para encarecer os artigos importados A população apesar de dispersa num território extenso, estava em grande parte reunida em grupos urbanos e semiurbanos. ● Esses fatores contribuíram para o desenvolvimento de atividades ligadas ao mercado interno, o que não ocorreu na economia açucareira. ● Contudo, o desenvolvimento endógeno da economia mineira foi praticamente nulo, uma vez que a mineração absorveu todos os recursos em sua etapa inicial. ● Mesmo nas regiões onde houve a formação de centros urbanos não houve o florescimento de atividades manufatureiras de forma significativa, o que seria de grande valia em períodos de dificuldades de importação. ● Explica-se esse fato na política portuguesa, que visava dificultar o desenvolvimento manufatureiro da colônia, e na própria capacidade técnica dos imigrantes para iniciar atividades manufatureiras numa escala razoável. Regressão econômica e expansão da área de subsistência Poucas décadas foram suficientes para que toda a economia da mineração se desarticulasse, decaindo os núcleos urbanos e dispersando-se grande parte de seus elementos numa economia de subsistência, que virá a constituir um dos principais núcleos demográficos do país. A expansão demográfica se prolongará num processo de atrofiamento da economia monetária: ● uma massa de população totalmente desarticulada, trabalhando com baixíssima produtividade numa agricultura de subsistência. Em nenhuma parte do continente americano houve um caso de involução tão rápida e completa de um sistema econômico constituído por população de origem principalmente europeia. Relembrando - Colonização no Brasil ● Os interesses econômicos orientaram a colonização do Brasil. ● Através do monopólio comercial, as colônias eram mercados fechados à concorrência estrangeira. Só podiam vender às suas metrópoles e só podiam comprar dela ou por seu intermédio. ● Pacto colonial. Por esse pacto a metrópole tinha posse legal e plena jurisdição sobre suas colônias, que passavam a ser extensões da metrópole, constituindo com elas uma unidade políticas e jurídica e adotando seus objetivos e interesses. Caráter geral da colonização do Brasil. Plantation: ● Grande propriedade agrária ● especializada na monocultura tropical ● destinada à exportação (produtos tropicais como cana-de-açúcar, fumo e algodão) ● cultivados com mão de obra escrava. O cultivo da cana-de-açúcar foi feito ao longo da costa, principalmente no nordeste do país. ● A primeira experiência de trabalho escravo no Brasil foi feita com os próprios índios. ● A partir da segunda metade do século XVI, começaram a ser trazidos para a América os escravos africanos em número expressivo. A opção pelo africano se deu por algumas supostas vantagens: maior resistência física às epidemias e maiores conhecimentos em trabalhos artesanais e agrícolas. Principalmente porque o tráfico de escravo era lucrativo. ● Durante o século XVI e o XVII, os escravos eram trazidos principalmente ao Nordeste para a atividade açucareira, sobretudo, para fazendas na Bahia e em Pernambuco. Em menor número eram enviados ao Pará, Maranhão e Rio de Janeiro. ● No final do século XVII, a descoberta do ouro na província de Minas Gerais eleva o volume do tráfico, que passa a levar os cativos para a região das minas. ● No século XVIII, o ouro sucede o açúcar na demanda de escravos, ● o café substitui o ouro e o açúcar no século XIX. A pecuária e o ciclo do ouro ● Ambos são responsáveis pela penetração e ocupação do território. ● A pecuária acontece como extensão da economia canavieira. Com sua decadência, cresce o mercado de subsistência. ● O ciclo do ouro tem início na combinação do conhecimento do território (possível pelas entradas e bandeiras) e os conhecimentos técnicos que dispunha o governo português. ● A pecuária se dá por extensão na fluida fronteira do nordeste, ocupando os sertões. ● Um aumento demográfico é observado nessas regiões. ● A pecuária do nordeste surge como desdobramento da economia açucareira. ● No sul a pecuária é anterior a mineração. ● No nordeste fica reduzida a uma economia de subsistência com o declínio da economia açucareira. O ciclo do ouro, altamente lucrativo, inicia um novo período de prosperidade na colônia. ● A base é o trabalho escravo. ● Há a imigração de população europeia para o Brasil. ● Se caracteriza por fluxo e refluxo de população em virtude da abundância ou não de metais preciosos. ● Exploração se faz em diferentes escalas. ● Integra regiões: o gado do sul e nordeste, mulas para transporte, além dos alimentos das regiões vizinhas. ● Tratado de Methuen (1703) ● A colônia exportava produtos primários da agropecuária e do extrativismo, a metrópole fornecia-lhe produtos manufaturados ou semimanufaturados. ● A sociedade era agrária e escravista, dominada por um grupo de grandes proprietários rurais. ● A transferência da Corte portuguesa, aliada da Inglaterra, em1808, transpôs para a colônia os principais órgãos do Estado português, fazendo do Brasil o centro do império lusitano e o Rio de Janeiro sua capital. Principais medidas do governo de dom João VI no Brasil: ● 1808 – Abertura dos Portos para o livre-comércio entre o Brasil e as demais nações não aliadas da França. ● 1808 – Fábricas e Manufaturas passam a ser permitidas no Brasil. ● 1808 – Banco do Brasil é criado para ser o agente financeiro do governo. ● 1810 – Tratados de aliança e comércio com a Inglaterra – como pagamento pela aliança com a Inglaterra e dos empréstimos, os produtos ingleses teriam impostos de 15%, inferior aos dos portugueses. ● Em 7 de setembro de 1822 foi proclamada a Independência do Brasil. ● O Brasil tornava-se um Império e D. Pedro, seu imperador. - Manutenção da chefia portuguesa. ● Quando foi proibido o tráfico negreiro pela Lei Eusébio de Queiroz (1850), e a mão de obra escrava começou a escassear, substituiu-se o trabalho servil pelo trabalho assalariado de imigrantes estrangeiros. ● Os imigrantes, na maioria, imigravam para o Brasil em famílias inteiras, chamados de colonos. Estes tinham sua viagem financiada, em troca tinham que trabalhar nas fazendas para devolver o valor da passagem paga. Economia de transição para o trabalho assalariado – século XIX O maranhão e a falsa euforia do fim da época colonial ● O ultimo quartel do século XVIII constitui uma nova etapa de dificuldades para a colônia. ● O açúcar enfrenta novas dificuldades e as exportações de ouro, durante esse período, alcançaram pouco mais de meio milhão de libras. ● Enquanto isso a população havia subido a algo mais de três milhões de habitantes. A renda per capita termina o século no nível mais baixo de todo período colonial. O último quartel do século XVIII e os primeiros dois decênios do século XIX estão marcados por uma série de acontecimentos que tiveram grandes repercussões nos mercados mundiais de produtos tropicais: ● a Guerra da Independência dos EUA(1775-1783); ● a Revolução Industrial inglesa; ● a Revolução Francesa (1789) e os subsequentes transtornos de suas colônias produtoras de artigos tropicais; ● as guerras napoleônicas(1799-1815), o bloqueio e o contra bloqueio da Europa, e a desarticulação do vasto império espanhol da América. ● Em 1789 entrou em colapso a grande colônia açucareira francesa, o Haiti. ● O valor das exportações do açúcar mais que duplica na etapa das guerras napoleônicas.● A atividade industrial na Inglaterra é intensa durante os anos de guerra e a procura por algodão se intensifica. ● No norte estavam dois centros autônomos: Maranhão e Pará. Este último vivia exclusivamente da economia extrativa florestal, organizada pelos jesuítas com base na exploração da mão de obra indígena. O Maranhão articulava-se com a região açucareira através da periferia pecuária. ● No Maranhão foi criada, pelo governo, uma companhia de comércio altamente capitalizada para financiar o desenvolvimento da região, tradicionalmente a mais pobre do Brasil. ● A ajuda financeira permitiu a importação em grande escala de mão de obra africana, o que modificou totalmente a fisionomia étnica da região. ● Tão importante quanto a ajuda financeira foi a modificação no mercado mundial de produtos tropicais, provocada pela Guerra da Independência dos EUA e logo em seguida da Revolução Industrial inglesa. Foi percebido pelos dirigentes da companhia maranhense que: ● a demanda por algodão crescia e ● que o arroz consumido no sul da Europa não sofria restrição de nenhum pacto colonial. Assim, os recursos da companhia foram canalizados nesses dois artigos. Seguindo o Maranhão, o nordeste se dedica a produção de algodão. ● A Guerra da Independência dos EUA tirou temporariamente do mercado mundial o maior produtor de arroz, o que deu à produção maranhense condições de desenvolver-se e capitalizar-se adequadamente. ● A pequena colônia conheceu excepcional prosperidade no fim da época colonial, recebendo em seu porto mais de 100 navios por ano e chegando a exportar 1milhão de libras. De forma geral, todos os produtos da colônia se beneficiaram de elevações temporárias de preços, ocorridas em virtude das condições de anormalidade no mercado mundial de produtos tropicais. Superada esta etapa, o Brasil encontraria sérias dificuldades, nos primeiros dois decênios de vida como nação politicamente independente, para defender sua posição nos mercados dos produtos que tradicionalmente exportava. Passivo colonial, crise financeira e instabilidade política A repercussão no Brasil dos acontecimentos políticos da Europa se por um lado acelerou a evolução política do país, por outro contribuiu para prolongar a etapa de dificuldades econômicas que se iniciara com a decadência do ouro. Com a ocupação do reino português pelas tropas francesas, desapareceu o entreposto que representava Lisboa para o comércio da colônia. ● Ocupação do reino português pelas tropas francesas. ● Vinda da família Real portuguesa ao Brasil em 1808 - desaparece o entreposto que representava Lisboa para o comércio da colônia. ● Como consequência da falta do entreposto na Europa temos a “abertura dos portos” (1808). ● Os tratados de 1810 transformaram a Inglaterra em potência privilegiada. ● Estes tratados constituirão, em toda a primeira metade do século, uma séria limitação à autonomia do governo brasileiro no setor econômico. ● A abertura dos portos se refletiu na queda dos preços das importações, maior abundancia de suprimentos, facilidades de crédito, o que agradou aos grandes agricultores. ● Não existia, no Brasil colônia, uma classe comerciante de importância (monopólio metropolitano). A única classe com expressão era a dos grandes senhores agrícolas. ● A independência do Brasil em 1822 foi feita sem grande desgaste (luta armada...). ● Como consequência temos manutenção da unidade territorial. ● Com a independência o Brasil pagou, financiado pela Inglaterra, uma indenização a Portugal. ● O Brasil assumiu a responsabilidade de parte do passivo que contraíra Portugal para sobreviver como potência colonial. ● A separação definitiva de Portugal em 1822 e o acordo pelo qual a Inglaterra consegue consolidar sua posição em 1827 são outros dois marcos fundamentais nessa etapa de grandes acontecimentos políticos. ● Apesar dos privilégios concedidos à Inglaterra, a falta de uma classe comerciante no Brasil contribuiu para sua imobilização. ● Quando acorre a independência, a classe de grandes agricultores impõe sua influência. ● Enfraquecimento de D. Pedro I e fortalecimento político da classe de grandes agricultores, já em 1831. ● Sendo uma grande plantação de produtos tropicais, a colônia era intimamente dependente das economias europeias. ● Era apenas um prolongamento de um sistema maior. Ao contrário do que ocorreu nas Antilhas. ● Os conflitos da primeira metade do século XIX entre dirigentes da grande agricultura e a Inglaterra resultaram da falta de coerência com que os ingleses seguiam a ideologia liberal, aplicada unilateralmente. ● O sistema liberal inglês era um instrumento para criar privilégios. ● Por outro lado, os ingleses não abriam mercado para os produtos brasileiros, que competiam com as Antilhas. ● É nesse ambiente de dificuldades que a Inglaterra pretende impor o fim da importação de escravos. ● Permanece uma tensão entre ingleses e a classe dominante brasileira. ● Os acordos com a Inglaterra só expiram em 1844. ● Se os benefícios concedidos à Inglaterra não foram o principal entrave ao desenvolvimento econômico, causaram sérios problemas num período de dificuldades financeiras. ● Não sendo suficiente o imposto com importações, o governo decide taxar as exportações, o que causa grande descontentamento. ● O governo central enfrenta escassez de recursos financeiros e vê sua autoridade reduzir-se por todo o país. ● As dificuldades econômicas criavam um clima de insatisfação em todas as regiões. ● Caem os preços do açúcar, do algodão e do gado. ● No meio de grandes dificuldades surge o café, que já em 1830 se firma como principal produto de exportação. ● Logo após a independência, o governo brasileiro não consegue arrecadar recursos através de um sistema fiscal que cobrisse sequer metade dos seus gastos. ● O financiamento do déficit se faz com emissão de papel-moeda, mais que duplicando o meio circulante. ● Como consequência temos a elevação dos preços de importados e desvalorização da moeda, baixando o preço das exportações. Confronto com o desenvolvimento dos EUA Por que os EUA se industrializaram no século XIX emparelhando-se com as nações europeias, enquanto o Brasil evoluía no sentido de transformar-se no século XX numa vasta região subdesenvolvida? ● Na primeira metade do século XIX a ação do Estado é fundamental para o desenvolvimento norte-americano. Somente na segunda metade do século – quando cresce amplamente a influência dos grandes negócios – que alcança prevalecer a ideologia da não intromissão do Estado na esfera econômica. À época de sua independência, a população norte- americana era da magnitude da do Brasil. As diferenças sociais, entretanto, eram profundas: enquanto no Brasil a classe dominante era o grupo de grandes agricultores escravistas, nos EUA uma classe de pequenos agricultores e um grupo de grandes comerciantes urbanos dominava o país. As medidas restritivas com respeito à produção de manufaturas que a Inglaterra impunha às suas colônias tiveram que ser de forma diferenciada, uma vez que o sistema de agricultura de exportação não dera o resultado esperado nas colônias do norte. As linhas gerais da política inglesa: ● Fomentar nas colônias do norte aquelas indústrias que não competissem com as da metrópole, permitindo a estas a redução de importações de outros países. ● Não permitir a produção de manufaturas que viessem a concorrer com as da metrópole em outros mercados coloniais. As medidas coercitivas começam a surgir quando ascolônias do norte começam a concorrer com a metrópole nas exportações de manufaturas. ● Por outro lado, as próprias colônias que se defrontaram com dificuldades para efetuar importações de manufaturas, desde cedo criaram a consciência da conivência de fomentar a produção interna. ● Muitas colônias chegaram a proibir a exportação de algumas matérias primas para que fossem manufaturadas localmente. ● Outro aspecto importante foi o avanço da indústria da construção naval. Já antes da independência, ¾ do comércio norte-americano era feito em seus próprios barcos. ● A Guerra da Independência cortou por vários anos o suprimento de manufaturas inglesas, estimulando a produção interna. Apesar das transformações ocorridas, os EUA ainda eram dependentes da exportação de matéria prima, o algodão. Isto colocou o país em situação em situação privilegiada na Revolução Industrial, no último quartel do século XVIII e primeira metade do século XIX, uma vez que se constitui da transformação da indústria têxtil. A primeira fase da Revolução Industrial apresenta duas características básicas: ● A mecanização de processos manufatureiros da indústria têxtil; ● A substituição da lã pelo algodão. A balança comercial dos EUA com a Inglaterra era deficitária nas primeiras décadas do século XIX. Contudo, esse déficit em vez de pesar sobre o câmbio, como ocorreu no Brasil, e provocar um reajustamento em níveis mais baixos de intercâmbio, tendia a transformar- se em dívidas de médio e longo prazos, invertendo-se em bônus dos governos central e estaduais. Formou- se assim uma corrente de capitais que seria de importância fundamental para o desenvolvimento do país. Tudo possível graças à política do Estado na construção de uma infraestrutura econômica e no fomento direto de atividades básicas. Declínio a longo prazo do nível de renda: a primeira metade do séc XIX ● Condição básica para o desenvolvimento da economia brasileira, na primeira metade do século XIX, teria sido a expansão de suas exportações. ● Durante esse período a taxa média anual das exportações não excedeu 0,8%, enquanto a população crescia a uma taxa de 1,3%. ● Todo o aumento das exportações foi devido ao café. ● O pequeno consumo do país estava declínio com a decadência da mineração. ● Fomentar a industrialização nessa época, sem o apoio de uma capacidade para importar em expansão, seria impossível num país carente de base técnica. ● A industrialização teria de começar por produtos que já dispunham de um mercado considerável, como era o caso dos tecidos. ● A instalação de uma industria têxtil moderna encontraria sérias dificuldades: os ingleses impediam a exportação de maquinas. ● Uma forte queda dos preços dos tecidos ingleses tornou muito difícil a defesa da indústria local por meio de tarifas. ● Foi necessário estabelecer cotas de importação. ● A baixa nos preços da exportações brasileiras, entre 1821-30 e 1841-50 foi de cerca de 40%, enquanto o setor praticamente dobrara. ● A renda média per capita da população livre declinou sensivelmente: de 50 para 43 dólares de valor aquisitivo atual. ● Houve um aumento do setor de subsistência. Gestação da economia cafeeira ● As migrações ocorridas no século XVIII implicaram um subsequente crescimento vegetativo. ● As fases de progresso, como no Maranhão, não afetaram o panorama geral. ● As novas técnicas produtivas da Revolução Industrial não chegaram ao Brasil de forma significativa. ● Problemas com a mão de obra com o fim do tráfico de escravos. ● Assim como nos EUA, o dinamismo do setor exportador era fundamental para o desenvolvimento. ● Não era possível contar com capital estrangeiro numa economia estagnada. ● A estagnação das exportações e a impossibilidade de aumentar o imposto sobre importações criaram sérias dificuldades orçamentárias e contribuíram para reduzir o crédito público. ● Que produto exportar: açúcar, algodão ou café? O PROBLEMA DA MÃO-DE-OBRA I – Oferta interna potencial ● Pela metade do séc. XIX, a força de trabalho da economia brasileira estava basicamente constituída por uma massa de escravos. ● O primeiro senso demográfico, realizado em 1872, indica que nesse ano existiam no Brasil aproximadamente 1,5 milhão de escravos. ● A taxa de mortalidade dos escravos era superior à de natalidade, indicando precárias condições de vida. ● Ao crescer a procura por escravos na região cafeicultora, observou-se uma intensificação do tráfico interno, em prejuízo das regiões que operavam com baixa rentabilidade. Por que não utilizar a mão de obra do setor de subsistência? ● O setor caracterizava-se por grande dispersão. ● Pouco capital dos roceiros. ● Ocupação rudimentar das terras. Na área urbana havia um excedente de população, mas dificilmente se adaptaria ao trabalho agrícola. II – A Imigração europeia ● A questão fundamental era aumentar a oferta de força de trabalho disponível para a grande lavoura, ● Como solução alternativa do problema da mão de obra sugeria-se fomentar uma corrente de imigração europeia. ● É sabido que grande parte dos africanos aprendidos nos navios que traficavam para o Brasil eram reexportados para as Antilhas como trabalhadores “livres”. ● A imigração europeia foi subsidiada pelo governo: pagavam-se gastos de transporte e instalação das famílias. ● O colono hipotecava o futuro de sua família, se obrigava a não abandonar a fazenda antes de pagar sua dívida. ● O fazendeiro ficava com as vantagens. ● A partir de 1860, com a melhora dos preços do café e a Guerra de Secessão nos EUA, abrindo espaço para o algodão do norte do Brasil, o problema da mão de obra se agravou. ● O sistema de imigração europeia adotado inicialmente foi o de parceria. ● Depois foi adotado um sistema misto pelo qual o colono tinha garantida a parte principal de sua renda. ● O número de imigrantes europeus em São Paulo subiu de 13 mil em 1870 para 184 mil na década de 80, chegando a 609 mil em 90. ● O total para o último quartel do século XIX foi 803 mil, sendo 577 mil provenientes da Itália. O problema da mão de obra III- Transumância amazônica Além da grande corrente migratória de origem europeia para a região cafeeira, o Brasil conheceu no ultimo quartel do século XIX e primeiro decênio do século XX outro grande movimento de população: da região nordestina para a amazônica. A economia amazônica entrara em decadência desde fins do século XVIII. Com a desorganização do engenhoso sistema de exploração da mão de obra indígena estruturado pelos jesuítas, a imensa região viveu um estado de letargia econômica. ● Em pequena zona do Pará se desenvolveu uma agricultura de exportação que seguiu de perto a evolução da maranhense. O algodão e o arroz aí tiveram sua etapa de prosperidade, durante as guerras napoleônicas, sem, contudo jamais alcançar cifras significativas para conjunto do país. ● A base da economia da bacia amazônica eram sempre as mesmas especiarias extraídas da floresta que havia tornado possível a penetração jesuítica na extensa região. Dentre os produtos estava o cacau. A exportação média por volta de 1840 foi de 2.900 toneladas, no decênio seguinte alcança 3.500 e nos anos 60 baixa para 3.300. O aproveitamento dos demais produtos da floresta deparava-se a dificuldade da quase inexistência de população. Nesse contexto se dá a produção da borracha, cuja exportação se tem registro desde os anos 20, alcançando 460 toneladas por volta de 1840, 1900 toneladas nos anos 50 e 3700 toneladas nos anos 60. Nesta época há o aumento dos preços doproduto. De 45 libras nos anos 40, o preço médio de exportação sobe para 118 libras nos anos 50, 125 libras nos anos 60 e 182 libras nos anos 70. A borracha estava destinada, no final do século XIX e começo do século XX, a transformar-se na matéria-prima de procura em mais rápida expansão no mercado mundial. A indústria de veículos terrestres a motor será o principal fator dinâmico das economias industrializadas durante um largo período, que compreende o último decênio do século XIX e os três primeiros do século XX. Como a borracha era um produto do extrativismo, seu estoque estava limitado ao número de árvores concentradas na bacia amazônica, que não seria capaz de suprir a demanda mundial crescente. O problema de longo prazo estava em implementar a plantação de plantas que produzissem borracha em regiões de clima similar ao da Amazônia, onde existisse mão de obra e recursos para financiar o seu longo período de gestação. A evolução da economia mundial da borracha desdobrou-se em duas etapas: 1ª) Encontrou-se uma solução de emergência para o problema da oferta do produto extrativo. 2ª) Caracteriza-se pela produção organizada em bases racionais, permitindo que a oferta adquira a elasticidade requerida pela rápida expansão da procura mundial. Nos anos 40 do século XX teve início uma terceira etapa, com a substituição progressiva do produto natural pelo sintético. ● A primeira etapa desenvolveu-se na região amazônica. Os preços continuam crescendo, alcançando no triênio 1909-11 a média de 512 libras por tonelada! Essa elevação dos preços indicava que a oferta de borracha era inadequada. Com efeito, ao introduzir-se a borracha oriental de modo regular no mercado, depois da Primeira Guerra Mundial, os preços do produto se reduziram de forma permanente a um nível inferior a cem libras. No Brasil, a expansão da borracha na Amazônia era uma questão de suprimento da mão de obra. Admite-se que a população amazônica não seria inferior a meio milhão de pessoas em 1900. As exportações subiram de 6mil toneladas nos anos 70 do século XIX, para 11mil nos anos 80, 21mil na década de 90 e 35mil no primeiro decênio do século XX. Esse aumento de produção se deve exclusivamente ao influxo de mão de obra. ● O Nordeste: A população do Nordeste esteve sempre ocupada em torno do açúcar e do gado. Com a decadência da economia açucareira, no século XVII, houve a transformação progressiva do sistema pecuário para uma economia de subsistência, onde se observa uma grande expansão vegetativa. Em algumas sub-regiões, na segunda metade do século XIX, tornam-se evidentes os sintomas de pressão demográfica. Com o desenvolvimento da cultura algodoeira, regiões como o Ceará conhecem a primeira etapa de prosperidade. Após a onda de prosperidade a região se voltava novamente à economia de subsistência. O crescimento vegetativo numa região de baixa produtividade assume extrema gravidade por ocasião da seca de 1877-80, durante a qual desapareceu quase todo o rebanho e pereceram de 100 a 200 mil pessoas. A população foi, então, orientada a emigrar para outras regiões do país, particularmente para a região amazônica. Iniciada a corrente transumante, os governos dos estados amazônicos organizaram serviços de propaganda e concederam subsídios para gastos de transporte. ● Nas colônias europeias, localizadas no sul do país, a qualidade e a abundância de terras proporcionaram-lhes um suprimento adequado de alimentos, mesmo com baixo nível de técnica agrícola. Essas colônias apresentaram um crescimento vegetativo altíssimo. ● Na região central, onde floresceu a economia mineira, observou-se uma corrente migratória em direção ao atual estado de São Paulo, bem antes da penetração da lavoura cafeeira. Outra corrente foi em direção ao Mato Grosso, ocupando primeiro as terras bem irrigadas do Triângulo Mineiro. Comparando os dois grandes movimentos de população ocorridos no Brasil, em fins do século XIX e início do século XX: ● O imigrante europeu chegava à plantação de café com todos os gastos pagos. Dispunha de terra para plantar o essencial para alimentação da sua família, o que o defendia da especulação dos comerciantes. ● O nordestino na Amazônia começava a trabalhar endividado. Permanecia em dívida, já que para alimentar-se dependia do suprimento pelo empresário. O isolamento, os perigos da floresta e a insalubridade do meio encurtavam sua vida de trabalho. Ao declinarem-se os preços da borracha, a miséria generalizou-se rapidamente. O grande movimento de população nordestina para a Amazônia constituiu basicamente em um enorme desgaste humano, numa etapa em que o problema fundamental da economia brasileira era aumentar a oferta de mão de obra. O problema da mão de obra IV- Eliminação do trabalho escravo Já observamos que, na segunda metade do século XIX, não obstante a permanente expansão do setor de subsistência, a inadequada oferta de mão de obra constitui o problema central da economia brasileira. Um aspecto desse problema, que aos contemporâneos pareceu ser o mais fundamental foi a chamada “questão do trabalho servil”. A abolição da escravatura, à semelhança de uma “reforma agraria” constitui simplesmente numa redistribuição da propriedade de uma coletividade. A propriedade da força de trabalho, ao passar do senhor de escravos para o indivíduo, deixa de ser um ativo que figura numa contabilidade para constituir-se em simples virtualidade. Do ponto de vista econômico, o aspecto fundamental desse problema está nas de repercussões que a redistribuição da propriedade terá na organização da produção, no aproveitamento dos fatores disponíveis, na distribuição da renda e na utilização final dessa renda. A abolição poderia seguir dois casos extremos: ● Limitar-se-ia a uma transformação formal dos escravos em assalariados, com salário fixado pelo nível de subsistência prevalecente. Isso aconteceu em algumas ilhas das Antilhas inglesas, onde as terras já haviam sido totalmente ocupadas e os ex-escravos não dispunham de nenhuma possibilidade de emigrar. Nesse caso, a redistribuição da riqueza não teria sido acompanhada de quaisquer modificações na organização da produção ou na distribuição da renda. ● O extremo oposto à primeira situação seria aquela em que a oferta de terra fosse totalmente elástica. Assim, os escravos libertos tenderiam a abandonar as antigas plantações e dedicar-se à agricultura de subsistência. Nesse caso, as modificações na organização da produção seriam enormes, baixando o grau de utilização dos fatores de produção e a rentabilidade do sistema. Os empresários, vendo-se privados da mão de obra, tenderiam a oferecer salários elevados, retendo parte dos ex-escravos. A consequência seria uma redistribuição de renda em favor da mão de obra. No Brasil, a região açucareira aproximou-se mais do primeiro caso, enquanto a região cafeeira, do segundo caso. Na região nordestina, as terras de ocupação agrícola mais fácil já estavam ocupadas, os escravos libertados encontravam grandes dificuldades fora dos engenhos. Nas regiões urbanas se concentrava um excedente de população sem ocupação adequada e no interior, nas terras semiáridas do agreste e da caatinga, a pressão demográfica se fazia sentir claramente em torno da economia de subsistência. Essas barreiras limitavam a mobilidade do escravo, os deslocamentos se faziam de engenho para engenho. Nesta região, a abolição da escravatura não chegou a ter consequências graves sobre a utilização dos recursos e muito provavelmente não provocou qualquer modificação na distribuiçãoda renda. Na região cafeeira, as consequências foram diversas. Na região dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e pequena parte de São Paulo, havia sido formado uma importante agricultura cafeeira baseada no trabalho escravo. A rápida infertilidade destas terras e a possibilidade da utilização de terras a maior distância com a introdução da estrada de ferro, haviam colocado essa agricultura em condição desfavorável já na época anterior à abolição. Ao contrário que se esperaria, após a abolição não houve uma corrente migratória em direção às novas regiões em expansão, mas uma mudança para a economia de subsistência. Nessa época tem início grande corrente migratória europeia para São Paulo. O homem escravo: O homem formado dentro da escravidão está desaparelhado para responder aos estímulos econômicos, a ideia de acumulação de riqueza é praticamente estranha. Seu rudimentar desenvolvimento mental limita extremamente suas “necessidades”. Assim, a elevação do seu salário acima de suas necessidades, definidas pelo nível de subsistência de um escravo, determinou de imediato uma forte preferência pelo ócio ao trabalho. Uma das consequências diretas da abolição, nas regiões de mais rápido desenvolvimento, foi reduzir-se o grau de utilização da força de trabalho. Cabe lembrar que o reduzido desenvolvimento mental da população submetida à escravidão provocará uma segregação parcial após a abolição, retardando sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país. Observada de uma perspectiva ampla, a abolição constitui uma medida de caráter mais político que econômico. Não houve modificações de real significação na forma de organização da produção e mesmo na distribuição da renda. Nível de renda e ritmo de crescimento na segunda metade do século XIX Considerada em conjunto, a economia brasileira parece haver alcançado uma taxa relativamente alta de crescimento na segunda metade do século XIX. Sendo o comércio exterior o setor dinâmico do sistema, é no seu comportamento que está a chave do processo de crescimento nessa etapa. Comparando os valores médios correspondentes aos anos 1890 com os relativos ao decênio dos 40, depreende-se que a quantidade das exportações brasileiras aumentou 214%. Esse aumento do volume físico da exportação foi acompanhado de uma elevação dos preços médios dos produtos exportados de aproximadamente 46%. Por outro lado, observa-se uma redução de cerca de 8% no índice de preços dos produtos importados, sendo, portanto, de 58% a melhora na relação de preços de intercâmbio externo. Significa um incremento de 396% na renda real gerada pelo setor exportador. Para fins de análise, convém dividir a economia brasileira em três setores principais: ● Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Constituído pela economia exportadora do açúcar e do algodão e pela vasta zona de economia de subsistência. Segundo o censo de 1872 a população desta região representava 1/3 da população total do país. Acrescentando a população baiana, chega-se quase à metade da população do país. Observa-se um aumento demográfico de 80%, bem superior ao da renda real gerada pelo setor exportador (54%). Nesta época já era notória a pressão demográfica sobre as terras agricultáveis da região. ● Formado na região sul, principalmente na economia de subsistência, que encontrou um mercado interno capaz de absorver seu excedente de produção. Os colonos do litoral beneficiavam-se da expansão do mercado urbano. No Rio Grande do Sul o setor dinâmico foi o da pecuária. O charque chegou a constituir metade das vendas do estado para os mercados interno e externo. Na primeira metade do século XIX, temos um aumento da população em 332%, que acompanha o do setor exportador, que foi de 396%. ● A economia do café na região compreendida entre os estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A população desses quatro estados aumentou entre 1872 e 1900 a uma taxa de 2,2%. Observam-se grandes movimentações demográficas nesta região, com transferência de mão de obra das regiões de mais baixa produtividade para as de maior produtividade. Um processo inverso ao ocorrido no Nordeste. Com a expansão do mercado interno houve uma melhora no setor de subsistência, concentrado em Minas Gerais. O fluxo de renda na economia do trabalho assalariado O fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira no ultimo quartel do século XIX foi o aumento da importância relativa do setor assalariado. A expansão anterior se fizera, seja através do crescimento do setor escravista, seja pela multiplicação dos núcleos de subsistência. Em um e outro caso o fluxo de renda, real ou virtual, circunscrevia-se a unidades relativamente pequenas, cujos contatos externos assumiam caráter internacional no primeiro caso e eram de limitadíssimo alcance no segundo. A nova expansão tem lugar no setor que se baseia no trabalho assalariado. A economia exclusivamente de subsistência caracteriza-se por um elevado grau de estabilidade, mantendo-se imutável sua estrutura tanto nas etapas de crescimento como nas de decadência. A dinâmica do novo sistema é distinta. Convém analisá-la detidamente, para compreender as transformações estruturais que levariam à formação no Brasil de uma economia de mercado interno. A nova economia cafeeira baseada no trabalho assalariado assim como a antiga economia escravista está constituída por uma multiplicidade de unidades produtoras que se ligam intimamente às correntes do comércio exterior. Considerando o processo econômico a partir do momento em que a produção é vendida ao exportador temos que o valor total é a renda bruta da unidade produtiva. Esta renda deverá cobrir a depreciação do capital real utilizado no processo produtivo e remunerar a totalidade dos fatores utilizados na produção, temos a renda dos assalariados e a renda dos proprietários. A utilização da renda por estes dois grupos é distinta: enquanto os assalariados transformam a quase totalidade de sua renda em gastos de consumo, a renda da classe proprietária é em parte retida, apesar do seu elevado nível de consumo, para aumentar seu capital. Assim, o fluxo de renda criado pelas exportações se propaga da seguinte forma: Os gastos de consumo – compra de alimentos, roupas etc. – constituem a renda dos pequenos produtores, comerciantes, etc. Estes também transformam parte de sua renda em gastos de consumo. A soma destes gastos será maior que a renda criada pela atividade exportadora. Ao crescer a massa de salários pagos no setor exportador, cresce automaticamente a procura por artigos de consumo, podendo expandir sua produção com certa facilidade, dada a existência de mão de obra e terras subutilizadas. Este vem a ser o núcleo de uma economia de mercado interno que pode crescer mais intensamente que a economia que lhe deu origem, a de exportação. O impulso externo de crescimento se apresenta, inicialmente, sob a forma de elevação nos preços dos produtos exportados, a qual se transforma em maiores lucros. Os empresários tratam de invertê-los expandindo a produção, ou seja, as plantações. Dada à relativa elasticidade dos fatores, mão de obra e terras, a expansão pode seguir adiante sem encontrar obstáculos por parte dos salários ou da renda da terra. O setor cafeeiro pôde manter seu salário real praticamente estável durante a longa etapa de sua expansão. Bastou que este salário fosse, em termos absolutos, mais elevado que o pago nos demais setores da economia. Ao serem absorvidos fatores do setor de subsistência, eleva-seo salário real médio e ainda mais o salário monetário médio, pois nesse setor o fluxo monetário era relativamente menor. Como a população crescia muito mais intensamente no setor monetário que no conjunto da população, a massa de salários monetários – base do mercado interno- aumentava mais rapidamente que o produto global. Supondo que a elevação de preços do produto exportado se revertesse em aumento dos salários, a consequência prática seria que o volume de inversões teria de ser menor, também a expansão do setor exportador. A absorção do setor de subsistência seria mais lenta. A mão de obra empregada no setor exportador se transformaria progressivamente num grupo privilegiado, tendendo a crescer a diferença entre os salários pagos no setor de exportação e no de subsistência. Os aumentos de produtividade da economia cafeeira eram basicamente um reflexo do aumento dos preços de exportação. A tendência ao desequilíbrio externo Um dos problemas de funcionamento do novo sistema econômico, baseado no trabalho assalariado, consistia na impossibilidade de adaptar-se às regras do padrão ouro, base de toda a economia internacional no período que aqui nos ocupa. O principio fundamental do sistema do padrão ouro radicava em que cada país deveria dispor de uma reserva metálica - ou de divisas conversíveis, na variante mais corrente - suficientemente grande para cobrir os déficits ocasionais de sua balança de pagamentos. A teoria monetária do século XIX se baseava no princípio de que se todos os países seguissem as regras do padrão ouro – isto é, se o meio circulante dos distintos países tivesse como base a mesma moeda-mercadoria- o ouro disponível tenderia a distribuir-se em função das necessidades do comércio interno de cada país e do comércio internacional. Assim, se um país importava mais do que exportava, criando um desequilíbrio em sua balança de pagamentos, seria obrigado a exportar ouro, reduzindo, consequentemente, seu meio circulante. Essa redução, de acordo com a teoria quantitativa, deveria acarretar numa queda dos preços – contrapartida da alta do preço do ouro – criando-se automaticamente um estímulo às exportações e um desestímulo às importações, trazendo a correção do desequilíbrio. Este também se daria através do movimento de capitais: a escassez relativa de ouro acarretaria uma elevação da taxa de juros, o que atrairia capitais estrangeiros - o déficit na balança de pagamentos seria compensado pelo saldo na conta de capital. ● A que preço as regras do padrão ouro poderiam aplicar-se a um sistema especializado na exportação de produtos primários e com elevado coeficiente de importação? Isto não foi um problema para os economistas europeus, que sempre teorizaram em matéria de comércio internacional em termos de economia de graus de desenvolvimento similar, com estruturas de produção não muito distintas e com coeficiente de importação relativamente baixo. O Brasil, um país exportador de produtos primários, tinha uma elevada participação no comércio internacional, seu intercâmbio per capita era relativamente maior que sua renda monetária per capita. Por outro lado, sua economia – pelo fato de depender das exportações- estava sujeita a oscilações agudas. Um brusco desequilíbrio na balança de pagamentos, que refletia uma brusca queda de preços das matérias-primas no mercado mundial, exigia uma redução de grandes proporções do meio circulante. Outro problema estava em que a principal renda do governo central era o imposto de importação. A economia escravista desconheceu qualquer forma de desequilíbrio externo. Sendo a procura monetária igual às exportações, está poderia se transformar em importações sem que por esta razão surgisse qualquer desequilíbrio. É quando a procura monetária começa a crescer mais que as exportações que surge o problema, a possibilidade do desequilíbrio - problema intimamente ligado ao regime de trabalho assalariado. No momento em que se deflagrava uma crise nos centros industriais, os preços dos produtos primários caíam bruscamente, reduzindo-se de imediato a entrada de divisas no país de economia dependente. Apesar disso a procura de importações continuava crescendo durante um período. Nesta etapa que caberia mobilizar as reservas metálicas, que teriam de ser de grandes proporções para que o mecanismo do padrão-ouro funcionasse – não somente porque a participação das importações no dispêndio total da coletividade era muito elevada e as flutuações da capacidade para importar muito grandes, mas porque numa economia desse tipo a conta capital da balança de pagamentos se comportava adversamente nas etapas de depressão. Nas economias industrializadas a crise se caracteriza por uma contração brusca das inversões, contração essa que reduz automaticamente a procura global por matérias primas e a liquidação dos estoques. Numa crise o importador de matérias primas, sabendo que a procura por produtos importados irá diminuir, reduz suas importações, o que acarreta a brusca queda dos preços das matérias primas fornecidas pelas economias dependentes. Por outro lado, a contração dos negócios provocada pela crise reduz a liquidez das empresas, induzindo-as a abrir lançar mão de quaisquer fundos de que disponham, inclusive no exterior. A crise nos países industrializados vem acompanhada de contração das importações, baixa de preços dos artigos importados e entrada de capitais. Por último, como grande parte dos capitais exportados no século XIX eram empréstimos públicos, ou inversões no setor privado com garantia de juros, o serviço dos capitais constituía uma parte relativamente rígida na conta do balanço de pagamentos e contribuía para reforçar a posição internacional dos países exportadores e capital nas etapas de depressão. Nas economias dependentes a crise tem início com uma queda no valor das exportações, seja pela redução do preço unitário como pela redução da quantidade exportada. A redução no preço é observada nos produtos alimentícios, já a redução da quantidade exportada ocorre com as matérias primas industriais. Como é necessário algum tempo para que a contração das exportações exerça seu pleno efeito sobre a demanda por importações, cria-se um desequilíbrio inicial na balança de pagamentos. Por outro lado, a queda nos preços das mercadorias importadas (produtos manufaturados) se faz lentamente e com menor intensidade do que com os produtos primários exportados: tem início uma piora na relação de preços do intercâmbio. A esses fatores acumula-se a rigidez do serviço dos capitais estrangeiros e a redução da entrada desses capitais. A defesa do nível de emprego e a concentração da renda A existência de uma reserva de mão de obra dentro do país, reforçada pelo fluxo imigratório, permitiu que a economia cafeeira se expandisse durante um longo período sem que os salários reais apresentassem tendência para a alta. A elevação do salário médio no país refletia a aumento de produtividade que se ia alcançando através da simples transferência de mão de obra da economia subsistência para a economia exportadora. Era abundante também a quantidade de terras desocupadas ou subocupadas na economia de subsistência, fazendo com que não houvesse pressão sob a renda da terra. Assim, os aumentos de produtividade do setor exportador refletiam apenas modificações nos preços do café. O empresário podia retê-los, pois nenhuma pressão se formava dentro do sistema que o obrigasse a transferi-los total ou parcialmente para os assalariados. Para que houvesse aumento na produtividade física, seja da mão de obra ,seja da terra , era necessário que o empresário aperfeiçoasse
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