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China e Inglaterra no contexto da Revolução Industrial

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Por que a Revolução Industrial iniciou na Inglaterra e não na China? Compare a 
situação socioeconômica desses dois países nesse contexto. 
 Para responder essa questão, é de extrema importância desmistificar a situação 
socioeconômica chinesa nos séculos XVI e XVII. O senso comum implica que a conjuntura do 
país, na época, era de uma região pobre, subdesenvolvida, de agricultura familiar e 
tecnologicamente atrasada, enquanto a Inglaterra vinha numa ascendente tecnológica. No 
entanto, economistas e historiadores alegam que a sociedade chinesa já vinha desenvolvendo 
formas econômicas tão sofisticadas – ou mais – que a europeia. 
 Desde 300 a.c., os chineses já moldavam uma certa forma de economia de mercado, 
direitos de propriedade, alto grau de divisão social de trabalho e trabalho livre, ou seja, tiveram, 
sem dúvidas, uma economia emparelhada com a europeia até o século XVI. Dito isso, Kenneth 
Pomeranz, no livro “The Great Divergence: China, Europe, and the Making of the Modern World 
Economy” afirma que, nos anos subsequentes da Revolução Industrial, a China e Europa - 
principalmente a Inglaterra - eram basicamente similares em quase todos os índices 
econômicos, incluindo padrão de vida, desenvolvimento do mercado, produtividade agrária e 
outras estruturas institucionais que afetavam o crescimento. 
Segundo Justin Yifu Lin, no artigo “The Needham Puzzle: Why the Industrial Revolution 
Did Not Originate in China”, muitas das mudanças realizadas na Inglaterra pela Revolução 
Agrícola, no século XVIII, já vinham sendo implementadas na China desde o século IX. Tais 
melhorias na produtividade da agricultura chinesa se deram, principalmente, com o 
deslocamento da população do Norte para as áreas de cultivo de arroz do Sul do rio Yangtze. Lá, 
por fim, foi introduzida uma outra variedade do grão ainda mais resistente, o que permitiu aos 
agricultores estenderem sua fronteira para as mais diversas estruturas geológicas. Esse fator foi 
primordial para a inclusão de implementos agrícolas, como arados, os quais reduziam a força de 
tração. Inovações como essa, só foram implementadas na Europa muitos séculos depois. 
Além do desenvolvimento agrícola nos anos anteriores à Revolução, os chineses 
também tiveram um desenvolvimento notório na indústria. No século XI, a produção per-capita 
de ferro na China era equivalente a seis vezes o produto de toda a Europa. Ademais, a produção 
têxtil chinesa foi impulsionada pela invenção de novas tecnologias no século XIII, as quais foram 
mais avançadas que qualquer coisa vista no Velho Mundo até 1700. 
Em resultado disso, a alta produtividade agrícola e a indústria relativamente avançada 
facilitaram o desenvolvimento do comércio e da urbanização chinesa. Na época, a alocação do 
capital, do trabalho e das terras por mercados competitivos eram substancialmente mais livres 
quando comparados à Europa. O trabalhador chinês era livre, havia migrações substanciais, 
além de frequentes vendas de terras e direitos de propriedade, permitindo o uso eficiente dos 
recursos. Enquanto isso, na grande maioria da Europa moderna, incluindo a Inglaterra, o que se 
viam eram restrições em diversas esferas econômicas, tal como no comércio de terras (uma vez 
que as terras eram hereditárias). Além disso, via-se uma grande desigualdade urbano-rural no 
resto europeu, onde predominavam regimes de servidão. Pomeranz afirma que, por esse 
motivo, não se pode inferir que a desigualdade de renda chinesa era maior que a europeia. 
O autor argumenta também que, apesar do liberalismo presente na economia inglesa, 
eles foram beneficiados majoritariamente pelas restrições citadas. Em vista disso, a existência 
de uma grande quantidade de comerciantes monopolistas e o consumo exacerbado de produtos 
luxuosos pelas elites aristocráticas poderiam ter impulsionado a industrialização. Um exemplo 
dessa alta sociedade era Nathan Rothschild, considerado, na época, como homem mais rico do 
mundo. Porém, a China não era muito distinta: eles também possuíam muitos comerciantes e 
aristocratas maníacos por produtos de moda. Em contraste, Wu Bingjian, o mais importante 
mercador chinês da época tinha uma riqueza maior que todo o patrimônio da família Rothschild. 
Ademais, conseguimos quebrar mais uma hipótese da “singularidade europeia”: a do 
seu sistema demográfico. É inegável que o sistema demográfico predominante na Europa 
mantinha sua população a um nível baixo, seja por meio do casamento tardio, seja pelo baixo 
percentual de casamentos (porém com fertilidade irrestrita dentro deles). Entretanto, os 
asiáticos, que eram vistos como reprodutores imprudentes por causa dos casamentos 
prematuros e universais, conseguiam manter a sua população abaixo do máximo, uma vez que, 
diferente da Europa, haviam políticas de controle de fertilidade dentro do casamento. Esse 
controle permitiu com que a população chinesa mantivesse padrões de vida e expectativas de 
vida equivalentes aos dos considerados “role models”. Dito isso, a estrutura demográfica 
imposta na Europa não era economicamente significante. 
Em linhas gerais, as regiões mais avançadas da China se equivaleram ou foram melhores 
que a Europa em padrão de vida e longevidade; no consumo de calorias provenientes dos grãos 
cultivados e pelo açúcar, além de bens de consumo e produtos têxteis; no transporte de longa 
distância de produtos; na produção têxtil e o aumento da renda que ela gerou; na 
comercialização agrícola, de terras, de trabalho, produtos e de crédito. O autor Andre Gunder 
Frank, em “The Journal of Asian Studies”, afirma que toda a Europa de poucos séculos anteriores 
à Revolução poderia ser comparada somente à uma região chinesa: o vale do Yangze. Mas se o 
país foi, por tanto tempo, superior ou equivalente à Inglaterra em diversas esferas da sociedade, 
por que a China não iniciou a Revolução Industrial? Para responder essa outra questão é 
imprescindível ressaltar três principais fatores: a situação dos recursos produtivos, estratégias 
geopolíticas e as influências geológicas. 
Nos anos 1800, tanto a Europa quanto a China sofriam gravemente com os danos 
ecológicos que eles próprios geraram. Contrário ao senso comum, a China não declinou mais 
quanto à limitação dos recursos produtivos que a Europa, apesar de ambos estarem 
praticamente fatigados. Enquanto os chineses eram consumidos pela deterioração ambiental, 
os europeus foram capazes de encontrar alternativas que os permitissem fugir da crise. 
A fim de resolver a crise ambiental na Inglaterra, a colonização do Novo Mundo se deu 
como primordial. Foram criadas trading companies privadas com o intuito de conquistar e, 
tendo conhecimento no potencial chinês, eram engajadas no comércio necessário para competir 
com os grandes mercadores asiáticos. Essas entidades criaram uma rivalidade no exterior e 
acabaram conectando o sistema estatal europeu à dominação econômica global. 
Consequentemente, eles tomaram posse das plantações do Caribe e tiveram influência nas 
produções brasileiras de açúcar, além da produção de tabaco e algodão sul-americana. Essas 
estratégias geopolíticas supriram a Europa com recursos necessários para a futura 
industrialização. Em contrapartida, o Estado chinês não foi capaz de proteger seus próprios 
comerciantes, uma vez que as dinastias chinesas, a partir do século XV, focavam sua atenção 
militar na Eurásia central, onde julgavam que os guerreiros nômades eram sua principal ameaça. 
Segundo Andre Frank, essas regiões ultramarinas ingleses foram essencial para reverter suas 
limitações ecológicas e malthusianas, enquanto a periferia chinesa e outras regiões asiáticas 
nunca foram capazes. 
Por fim, o principal fator que destingiu o futuro da China e da Europa foram as 
influênciasgeológicas. Segundo o autor Justin Wifu Lin, essa diferença baseou-se na falha de 
suprimento tecnológico. A Inglaterra foi beneficiada, além das riquezas das Américas, pela sua 
proximidade às poderosas reservas de carvão mineral. Os depósitos carvoeiros britânicos eram 
localizados perto dos potenciais industriais. Inda, o país era rodeado por mares e tinha 
acessibilidade de portos, o que tornou a importante máquina a vapor factível. Todavia, os 
chineses não eram providos desses benefícios: seus depósitos de carvão do Nordeste eram 
muito longe da população costeira, dos polos industriais e dos manufatureiros têxteis, o que 
tornava extremamente caro o transporte e a inviabilidade da máquina a vapor. 
Logo, apesar do desempenho excepcional chinês nos séculos que antecederam a 
Revolução Industrial, é fácil ver que, principalmente, os fatores não intencionais direcionaram o 
rumo da história mundial, fazendo com que a China não originasse o movimento. Além disso, os 
tratados ingleses contemporâneos levaram a uma significativa dominação econômica global, 
resultando em estagnação da economia chinesa e crescimento econômico europeu.

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