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Valorização da metáfora em detrimento do conceito (Nietzsche)

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A valorização da metáfora em detrimento do conceito
Igor Figueredo Urquiza[1: Graduando de Filosofia (licenciatura) pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.]
Introdução;
No Livro “Acerca da verdade e mentira no sentido extra moral”, o autor se lança no turvo terreno das investigações sobre verdade. Como pode ser intuído do próprio título do texto, a investigação será feita por uma via que foge das questões dos juízos morais sobre verdade e mentira, ou seja, neste texto será discutido o caráter estético e, por conseguinte, ontológico das especificidades intituladas de verdade.[2: NIETZSCHE, Friedrich, (1873) O nascimento da tragédia e Acerca da verdade e da mentira, Lisboa, Relógio D'Água, 1997, pp. 213-222]
Desenvolvimento;
No texto, Nietzsche define verdade como “... Um exército móvel de metáforas, de metonímias, de antropomorfismos, numa palavra...” (NIETZSCHE, 1997), esta seria uma definição direta, entretanto, a questão da verdade não se resume apenas a esta definição. Além do que foi dito, no que concerne à verdade, a mesma ainda possui um fator de aceitação, toda verdade origina-se de uma aceitação de um “tribunal” composto pela “tradição”, que visando a autoconservação, por um juízo moral, aceita um conceito. Essa busca pela autoconservação como medida para a aceitação de um conceito pode ser observada no seguinte excerto “Os homens neste caso fogem não tanto de ser enganados, mas mais de ser prejudicados pela fraude.” (NIETZSCHE, 1997). Essas metáforas reduzidas a uma palavra, ou seja, essas verdades perduram nos tempos graças a um esquecimento dos homens. Dadas essas considerações ainda resta certo incomodo que lança um leitor atento à pergunta: Entretanto, de onde se origina tal verdade, ou as condições e pressupostos que tornam a mesma possível?
Para responder a pergunta a que foi proposta anteriormente é necessário que entender que, para Nietzsche, não existe algum determinismo ou necessidade entre o sujeito e o objeto, entretanto, se é possível afirmar a existência de uma ligação entre os dois, a mesma é dada através de uma relação puramente estética, uma questão de perspectiva, um primeiro contato com um objeto, por um “estimulo nervoso que é primeiramente transposto em imagem” (NIETZSCHE, 1997), entretanto, apropria relação entre estimulo nervoso e imagem não é em si necessário, pode-se observar isso no seguinte trecho: 
“A própria relação entre um estímulo nervoso e a imagem produzida não é em si mesma necessária: se, porém, a mesma imagem for milhões de vezes produzida e legada através de várias gerações e que aparece ao conjunto da humanidade sempre na sequência do mesmo motivo, acaba por adquirir para o homem o mesmo significado como se este significado fosse a imagem única e necessária e como se essa relação entre o estímulo nervoso inicial e a imagem produzida fosse uma rigorosa relação de causalidade; tal como um sonho que, eternamente repetido, seria sentido inegavelmente como a realidade em absoluto. Mas o endurecimento e a solidificação de uma metáfora em nada garantem a necessidade e a justificação exclusiva dessa metáfora.” (NIETZSCHE, 1997)
Sendo assim, Nietzsche concebe que a metáfora ocorre em dois momentos, um primeiro momento em que um estímulo nervoso que é transposto em uma imagem e um segundo momento, no qual se transforma a imagem em um som. A transposição dessas metáforas para linguagem cria um conceito, que não expressa conhecimento em si, por exemplo: Quando falamos em Lápis, apenas dispomos de uma metáfora (imagem) dessa figura que não remete a nenhuma “essencialidade primordial”, como é apresentado no seguinte trecho:
“Tão certo como uma folha nunca é completamente igual a uma outra, assim também o conceito de folha foi formado graças ao abandono dessas diferenças individuais por um esquecimento do elemento diferenciador e suscita então a representação, como se existisse na natureza, fora das folhas, algo que fosse «a folha», algo como uma forma originária, segundo a qual todas as folhas seriam tecidas, desenhadas, recortadas, coloridas, frisadas e pintadas mas por mão desajeitada, de tal maneira que nenhum exemplar tivesse sido executado de modo correcto e fiável como a cópia fiel da forma originária.” (NIETZSCHE, 1997)
Desta forma, me atentando a responder a pergunta proposta no primeiro parágrafo: A verdade, como foi visto, tem como origem primaria uma imagem metafórica formada na mente de algum humano, que tem por pressuposto ser ontologicamente criador, um ser-que-cria.
Conclusão;
Portanto, de forma sintética, há certo caminho entre o primeiro estímulo nervoso e as verdades mais absolutas; Primeiramente, por um estimulo nervoso (não necessário e nem fruto de uma causação), uma imagem é formada na mente de um homem (metáfora) essa mesma imagem que pode ser expressa através de um som, e posteriormente através de uma linguagem, tal que irá reduzir todo o ser de algo um conceito, conceito que pode ou não ser aceito, que por atividade retórica de um agente que tende a enganar a tradição, para que a mesma acredite que tal conceito tende à conservação. E assim, passando-se gerações, teremos uma verdade (uma metáfora, que há muito foi esquecida como tal, uma moeda que perdeu seu cunho).
Assim, a valorização da metáfora seria a valorização de uma multiplicidade de perspectivas, seria um desengano; uma forma de escapar da redução das perspectivas a um conceito mentiroso. Além do que foi dito anteriormente, a valorização da metáfora, seria uma ascensão do homem intuitivo, um homem liberto da sua própria aspiração à ausência de dor, como é evidente no trecho: 
“Enquanto o homem dirigido por conceitos e por abstracções apenas se defende da infelicidade por meio deles sem forjar a felicidade a partir das abstracções, aspirando à ausência de dor tanto quanto for possível, o homem intuitivo, estando no seio de uma civilização, colhe já das suas intuições, além da defesa contra o mal, uma iluminação, uma alegria e uma redenção que jorram continuamente.”(NIETZSCHE, 1997).
Bibliografia;
NIETZSCHE, Friedrich, (1873) O nascimento da tragédia e Acerca da verdade e da mentira, Lisboa, Relógio D'Água, 1997, pp. 213-222

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