Buscar

Apostila Ética e Sociedade 2012 2 - ALTERADA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 82 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 82 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 82 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Ancelmo Pereira de Oliveira 
Ardinete Rover 
Cláudio Luiz Orço 
Evandro Ricardo Guindani 
Idovino Baldissera 
Rejane Ramborger 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Joaçaba 
 
 
 
2º semestre de 2012 
© 2010 Unoesc Virtual 
Direitos desta edição reservados à Unoesc Virtual 
 
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte. O material apostilado desta disciplina é para uso 
exclusivamente didático, sem intenção comercial. 
 
 
 
E84 Ética e sociedade : educação a distância / (coord.) Ardinete 
Rover. – Joaçaba : UNOESC, 2009. 
80 p. : il. ; 23 cm. – (Material didático) 
 
Modo de acesso: Portal de ensino. 
Também disponível para reprografia. 
Inclui bibliografia 
 
1. Ética. I. Unoesc Virtual II. Rover, Ardinete, (coord.) 
CDD 170 
Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) 
Reitor 
Aristides Cimadon 
 
Vice-reitor Acadêmico 
Luiz Carlos Lückmann 
 
Vice-reitores de Campus 
Campus de São Miguel do Oeste 
Vitor Carlos D‟ Agostini 
 
Campus de Videira 
Antonio Carlos de Souza 
 
Campus de Xanxerê 
Genesio Téo 
 
 
Coordenação geral da Unoesc Virtual 
Ardinete Rover 
 
Coordenações locais da Unoesc Virtual 
Roseli Rocha Moterle – Joaçaba 
Aníbal Lopes Guedes – São Miguel do Oeste 
Rosa Maria Pascoali – Videira 
Cristiane Sbruzzi Berté – Xanxerê 
Professores conteudistas da disciplina 
Ancelmo Pereira de Oliveira Ardinete Rover 
Cláudio Luiz Orço 
Evandro Ricardo Guindani 
Idovino Baldissera Rejane 
Ramborger 
 
 
 
Elaboração e produção gráfica: Roseli Rocha Moterle 
Copidesque: Marisa Vargas Revisão 
eletrônica: Carolina Nodari Capa: 
Elediana Fátima de Quadros 
SUMÁRIO 
 
 
APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 7 
 
PROGRAMA DE APRENDIZAGEM .......................................................................... 9 
 
Unidade 1 A importância da ética na sociedade.................................................. 11 
 
SEÇÃO 1 A importância do outro .............................................................................. 12 
 
SEÇÃO 2 A ética e a vida social ................................................................................ 16 
 
SEÇÃO 3 Ética e sociedade na universidade ............................................................. 18 
 
Unidade 2 Ética, moral e cultura ............................................................................ 21 
 
SEÇÃO 1 Ética e moral.............................................................................................. 22 
 
SEÇÃO 2 A cultura, a moral e a violência.................................................................. 25 
 
SEÇÃO 3 Preconceito e discriminação: violência contra o outro diferente ................. 30 
 
SEÇÃO 4 Os valores morais e a liberdade de consciência.......................................... 32 
 
Unidade 3 O pensamento filosófico e a ética ....................................................... 35 
 
SEÇÃO 1 A filosofia e a ética ..................................................................................... 36 
 
SEÇÃO 2 O surgimento da ética na filosofia .............................................................. 39 
 
SEÇÃO 3 O pensamento de Aristóteles e Marx .......................................................... 43 
 
SEÇÃO 4 Reflexão sobre a construção da moral ....................................................... 44 
 
Unidade 4 A globalização e a ética ........................................................................ 51 
 
SEÇÃO 1 “Querer é poder”: as conseqüências éticas desse modelo de sociedade ..... 52 
 
SEÇÃO 2 O fenômeno da globalização ..................................................................... 53 
 
SEÇÃO 3 O fundamentalismo da globalização econômica ........................................ 55 
 
SEÇÃO 4 O avanço tecnológico e a ética .................................................................. 57 
 
Unidade 5 Os conflitos éticos da sociedade atual............................................... 63 
 
SEÇÃO 1 Grandes questões éticas da contemporaneidade........................................ 64 
 
SEÇÃO 2 A construção de valores morais na sociedade brasileira ............................. 69 
 
SEÇÃO 3 Características da sociedade brasileira capitalista ....................................... 71 
 
SEÇÃO 4 A legitimação da concentração de renda e da corrupção no Brasil ............ 72 
 
SEÇÃO 5 Esperança ética.......................................................................................... 75 
 
Referências ................................................................................................................. 79 
 
Gabarito ...................................................................................................................... 81 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
 
 
Apresentamos a você, aluno da Unoesc na modalidade a distância, o 
material didático da disciplina Ética e Sociedade. Ele foi elaborado 
visando a uma aprendizagem autônoma; os conteúdos foram 
cuidadosamente selecionados e a linguagem utilizada facilitará seus 
estudos a distância. 
 
A disciplina Ética e Sociedade tem fundamental importância para a 
reflexão acerca do significado de nossa ação no mundo. Na perspectiva 
de construir nosso “ser ético”, precisamos refletir teoricamente sobre os 
valores que norteiam nossas ações. Nessa disciplina, procuramos lançar 
um olhar acadêmico sobre o tema da ética, revelando sua real importância 
para o desenvolvimento das atividades cotidianas em sociedade e, 
também, no desempenho das atividades profissionais. Com isso, buscamos 
reconhecer, nas contradições sociais, a carência de uma discussão sobre a 
ética em suas instâncias normativas e prescritivas do agir humano. 
 
 
 
Desejamos que você tenha muito sucesso nessa disciplina e em todo o 
curso. 
 
 
 
Bons estudos! 
 
 
 
Equipe Unoesc Virtual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ementário 
 
 
 
PROGRAMA DE APRENDIZAGEM 
 
Conceituação (ética x moral). Fundamentos históricos e filosóficos. Os conflitos 
éticos da sociedade atual (doutrinas éticas). A ética e o processo de globalização. 
Arquegenealogia da ética brasileira. Desafios éticos do cotidiano. 
 
 
 
 
 
Objetivo geral 
 
 
Compreender e analisar a ética dentro do contexto sócio-histórico, considerando 
suas diferentes concepções. 
 
 
 
Objetivos específicos 
 
 
 Perceber as implicações da reflexão ética no conjunto das ações sociais do 
homem. 
 
 Conhecer o processo de construção histórico-social da moral. 
 
 Compreender a complexidade das questões éticas na sociedade. 
 
 
 
 Carga horária 
 
 
A duração da disciplina seguirá um cronograma de atividades para orientar o seu 
estudo, conforme a carga horária proposta na matriz curricular. 
 
 
 
Formas e momento de avaliação 
 
 As atividades avaliativas, descritas no Guia do Aluno, serão realizadas a 
distância; compreendem a avaliação G1, com peso 4. 
 
 A avaliação final, que compreende a avaliação G2, é presencial; consiste em 
uma prova sobre todo o conteúdo, com peso 6. 
Cronograma de estudo 
 
Utilize o cronograma a seguir para organizar seus estudos de acordo com as 
datas de realização das atividades. É obrigatório obedecer ao cronograma 
previsto para a entrega das atividades avaliativas. 
 
 
ATIVIDADES DATAS 
Primeira aula presencial 
 
Apresentação e orientações sobre o funcionamento dadisciplina; 
oficina de utilização do Portal de Ensino Unoesc 
 
 
 / 
A
ti
v
id
a
d
e
s 
a
 d
is
tâ
n
c
ia
 –
 G
1
 
Primeira temática: Homem, meio ambiente e 
sociedade 
 
Leitura das unidades: 
 
 1 A importância da ética na sociedade 
 2 Ética, moral e cultura 
 
 
 
 
Fórum de 
discussão 
 
 
 
 / 
a 
/ 
 
Leitura das unidades: 
 
 1 A importância da ética na sociedade 
 2 Ética, moral e cultura 
 3 O pensamento filosófico e a ética 
 
Avaliação 
on-line 
 
/ 
a 
/ 
Segunda temática: Mídia e ética 
 
 
 
Leitura das unidades: 
 
 4 A globalização e a ética 
 5 Os conflitos éticos na sociedade atual 
 
 
 
Fórum de 
discussão 
 
 
 / 
a 
/ 
 / 
 Encontros presenciais 
 
Datas agendadas conforme orientação da Coordenação do Curso 
 
/ 
 
 / 
 
 
Avaliação G2 / 
 
 
Avaliação G2 fora de prazo 
 
/ 
 
Avaliação G3 / 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
U
n
id
a
d
e
 1
 
 
 
Unidade 1 
A importância da ética na sociedade 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao final desta unidade, você terá condições de: 
 
compreender a importância da ética na sociedade; 
 
identificar os elementos que unificam as categorias ética, o outro e a 
sociedade; 
 
refletir sobre as implicações éticas na vida cotidiana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: A importância do outro 
 
Seção 2: A ética e a vida social 
 
Seção 3: Ética e sociedade na universidade 
Ética e Sociedade 
12 
 
 
 
PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
Uma das capacidades mais requeridas pela sociedade atual é a de conviver com as 
diferenças, sejam elas de idéias, comportamento, atitudes, raça, cultura. 
 
A vida em sociedade exige que reconheçamos a importância do outro, sejamos 
compreensivos, tolerantes e sensíveis aos desafios que nos rodeiam! 
 
Como nossa cultura ainda é muito individualista, precisamos de um longo caminho 
para nos tornar mais éticos. É esse caminho que o convidamos a trilhar na disciplina 
de Ética e Sociedade . 
 
Então, vamos iniciar nossos estudos de Ética e Sociedade? Para isso, precisamos 
entender por que se estuda a ética e em que momento surge a preocupação ética na 
sociedade. Inicialmente, vamos falar daquilo que é o eixo central da ética: o 
reconhecimento do outro. 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
A importância do outro 
 
Com a correria do dia-a-dia, somos levados a nos preocupar bastante com nós 
mesmos. Nesta seção, vamos pensar sobre o papel que o outro ocupa na nossa 
vida? 
 
Quais os motivos de sua alegria ou tristeza? Procure fazer uma retrospectiva em sua 
memória emocional e destaque seus principais motivos de alegria e tristeza, no dia- 
a-dia. 
 
Reflita sobre sua família, amigos, universidade. O que, em sua família, afeta os seus 
sentimentos? Se as condições financeiras são as melhores possíveis, você já se sente 
plenamente feliz? Vivemos grande parte da vida em função de nossas necessidades e 
desejos, mas por que será que existe o ditado popular de que “dinheiro não traz 
felicidade”? 
 
Vamos auxiliar essas reflexões com uma dinâmica? Escolha, para cada item, o que 
for solicitado. 
 
Um bem material muito importante para você: 
 
 
 
Um sonho que almeja: 
 
 
 
Um local para onde gostaria de viajar: 
 
 
 
Uma pessoa ou grupo de pessoas muito importantes na sua vida: 
 A importância da ética na sociedade 
13 
 
 
 
 
 
Se você precisar se desfazer de uma dessas coisas, qual será? Elimine uma de suas 
escolhas. 
 
E se você precisar abrir mão de mais duas coisas? Elimine outras duas respostas. 
Enfim, o que restou? 
Essa dinâmica nos ajuda a perceber o papel que o outro ocupa na nossa vida. 
Praticamente, ninguém se desfaz das pessoas, nesse exercício. Geralmente, os 
grandes responsáveis pelos nossos sentimentos de alegria ou tristeza provêm das 
relações que temos com as pessoas. 
 
Quantas vezes perdemos o sono ou não acordamos bem porque temos algum 
problema de relacionamento interpessoal? 
 
Você já se sentiu assim? 
 
Você imaginaria a sua vida isolada dos outros? 
 
Enfim, o outro é a causa de nossa alegria e de nossa tristeza, contribui e prejudica 
em nossa busca pelo sentido da vida. É importante percebermos que nossa condição 
humana é marcada pela incompletude e inacabamento; a todo momento buscamos 
o outro, ou para partilhar, ou para nos completar como indivíduos. 
 
Quantas vezes você está desanimado, chateado e ao conversar com outra pessoa 
parece ficar mais leve e tranqüilo? 
 
Isso tudo nos ajuda a entender que o outro nos completa em nossos pensamentos e 
ações. 
 
Mas, quem é o outro? 
 
O outro pode ser a pessoa que está à sua frente, um familiar, um amigo, ou qualquer 
ser humano de qualquer raça e cultura, uma criança, um trabalhador, um portador de 
HIV. Podemos, também, compreender o outro como os animais e a natureza; as 
idéias de outras culturas, de outras religiões, de outros partidos políticos; o mundo 
exterior que se apresenta a nós a todo momento. O outro também pode 
ser a nossa própria capacidade de reflexão, quando se volta sobre si mesma, analisa 
a consciência, capta os apelos que nela se manifestam (ódio, compaixão, 
solidariedade, vontade de dominação ou de cooperação, sentido de 
responsabilidade), percebe os seus atos e as conseqüências que deles derivam; 
quando analisamos nossas próprias idéias (BOFF, 2003a). 
 
Com relação ao reconhecimento do “outro”, Boff (2003a) também se refere ao meio 
ambiente, ao planeta Terra, a tudo o que sai da nossa esfera individual. Reconhecer 
o outro-animal, o outro-natureza, na sua dignidade, é reorganizar toda uma forma 
de ver o mundo, é, como sugere o autor, produzir uma nova ótica: “A tese de base 
desta ótica afirma que a lei suprema do universo é a da inter-dependência de todos 
com todos. Tudo está relacionado com tudo em todos os pontos e em todos 
momentos. Ninguém vive fora da relação.” (BOFF, 2003a). 
 
Percebemos, assim, que o outro faz parte de nossa vida. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
14 
 
 
 
A necessidade que temos de nos comunicar também evidencia a importância do 
outro. Observe, atualmente, os sites de relacionamento e os programas de 
comunicação instantânea. Por que as pessoas buscam, de forma obsessiva, outros 
colegas, outras comunidades? Será que isso não revela uma constante busca pelo 
outro, às vezes ofuscada pela ideologia do individualismo competitivo da nossa 
sociedade? 
 
 
 
Por que precisamos tanto falar da importância do outro para falarmos de ética? 
 
A base de toda a construção ética fundamenta-se nesta pressuposição: a ética surge 
quando o outro emerge diante de nós. 
 
 
 
Boff (2003a) leva-nos a perceber que sempre temos uma postura diante do outro: 
ou nos distanciamos, ou nos aproximamos, ou ignoramos. É nessa relação que 
somos considerados éticos ou não. 
 
 
A ética surge a partir do modo como se estabelece a relação com 
esses diferentes tipos de outro. Pode fechar-se ou abrir-se ao 
outro, pode querer dominar o outro, pode entrar numa aliança 
com ele, pode negar o outro como alteridade, não respeitando-o, 
mas incorporando-o, submetendo-o ou, simplesmente, 
destruindo-o. (BOFF, 2003a). 
 
 
A todo momento, estamos em relação com o outro, e isso nos caracteriza como seres 
morais – moralmente bons ou ruins; não há como negar essa condiçãohumana, 
temos nossa dimensão moral. 
 
O que é essa dimensão moral? 
 
É nossa dimensão relacional, o nosso ser social. Somos seres morais à medida que 
vivemos em sociedade, que buscamos adaptar nossas ações ao meio em que 
vivemos, aos outros que nos circundam. 
 
Cada cultura, cada código moral vai determinando um tipo de relação com o 
outro. Na antiga Palestina, os leprosos eram considerados impuros, por isso as 
pessoas deveriam ignorá-los e romper relações com eles. Isso fazia parte de uma 
regra moral aceita por todos. 
 
Na caça às bruxas, durante a Idade Média, as mulheres eram consideradas 
demoníacas, portanto podiam ser destruídas, mortas. 
 
As tribos maias, incas e astecas, na América, também foram praticamente 
extinguidas pelos espanhóis porque eram consideradas pagãs e inferiores. 
 
No início da colonização brasileira, negros e índios podiam ser escravizados, eram 
considerados inferiores aos brancos. A relação do branco (proprietário) com o 
negro e o índio era de dominação e submissão. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
 A importância da ética na sociedade 
15 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Observe como a cultura e a moral de cada tempo determinam a forma como nos 
relacionamos com os outros. 
 
 
 
 
 
Como é a sua relação com o outro? Com o outro diferente de 
você, com o outro de outras raças, culturas, classes sociais? Como 
a sua cultura familiar o educou a se relacionar com o outro? 
 
 
 
Boff (2003a) nos alerta: “O outro é determinante. Sem passar pelo outro (que posso 
ser eu mesmo), toda ética é antiética.” 
 
As considerações de Boff (2003a) nos levam a perceber que não podemos falar de 
ética sem, antes, resgatar o reconhecimento do outro em nossa vida pessoal. 
 
Hoje, isso se torna muito necessário; nossa sociedade está marcada por um modelo 
de relações predatórias, no qual o outro é importante até o momento em que tem 
utilidade. Boff (2003a) afirma que nossa sociedade “[...] magnifica o indivíduo que 
constrói sozinho sua vida.” O que isso quer dizer? Que se costuma admirar, 
magnificar as pessoas que têm sucesso individualmente, por intermédio da fama e 
da riqueza, mesmo que, para isso, acreditem que não precisam ser éticas, que há 
sempre um jeito para tudo, que podem usar a sua influência para conseguir o que 
querem, que devem ser egoístas! 
 
 
 
 
 
Se você quiser aprofundar suas percepções sobre a 
importância do outro na vida de cada um, assista ao filme Shyrlei 
Valentine. 
 
 
 
O filme narra a história de uma mulher que durante, praticamente, toda sua vida 
cuidou da casa e dos filhos, passa o dia só e tem uma relação muito diferente e 
peculiar com as paredes de sua casa. 
 
 
 
 
 
Antes de tentar entender o que seja a ética, devemos estar 
conscientes de que ela surge no momento em que aparece o outro, 
no momento em que reconhecemos nossa dimensão de vida social. 
É o que veremos na próxima seção. Precisamos discutir a ética num 
âmbito social; do contrário, acreditaríamos que cada um deve ter 
sua ética e não haveria sociedade, mas um conjunto de indivíduos 
lutando por interesses particulares. 
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
16 
 
 
 
 
 
SEÇÃO 2 
A ética e a vida social 
 
 
 
 
 
Consigo compreender que minha vida pessoal está vinculada à 
sociedade? Tenho consciência de que minhas ações individuais têm 
conseqüências sobre o meio que habito? Por que nossa disciplina 
se chama Ética e Sociedade, e não apenas Ética? 
 
 
 
Precisamos discutir a ética dentro da sociedade em que vivemos, na qual buscamos 
concretizar nossas aspirações individuais. Sociedade e indivíduo formam um todo 
inseparável. Não há como negarmos essa relação entre ações individuais e 
sociedade. Esta possui uma lógica de funcionamento que acaba determinando 
grande parte de nossas ações individuais. 
 
Mas, o que isso tem a ver com a ética? 
 
Basicamente, a relação que a sociedade tem com a ética é que o meio social 
(econômico, político, cultural, educacional) determina e condiciona em grande parte 
o comportamento das pessoas. Para analisarmos eticamente o comportamento dos 
indivíduos, precisamos, antes de tudo, analisar a relação entre as atitudes individuais 
e o meio onde estão inseridos. 
 
Como isso se percebe concretamente? 
 
Procure analisar a nossa sociedade capitalista: as idéias presentes no mundo 
publicitário, no cinema, na televisão estão centradas na busca pelo sucesso. 
 
Você se lembra do desenho do Pica-pau? Que idéias esse personagem transmite? 
Que devemos obter sucesso a qualquer custo. E o Tio Patinhas? Para ele, ganhar 
dinheiro é o mais importante. 
 
 
 
Fonte: Um Mundo Mágico (2005). 
 
 
A lógica da sociedade capitalista assenta-se sobre a busca ilimitada pelo dinheiro e 
pelo sucesso. Se você tem uma casa, vai querer melhorá-la, ampliá-la; depois vai 
querer comprar mais uma. Você acha que em nossa sociedade alguém diria que já 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
 A importância da ética na sociedade 
17 
 
 
 
 
 
tem dinheiro suficiente para viver? Dificilmente. As pessoas sempre se consideram 
insatisfeitas e canalizam seus desejos para acumular e consumir, independentemente 
de a sociedade estar com altos índices de miséria e de pobreza. 
 
A sociedade constrói modelos de relações entre as pessoas, estabelece normas de 
convivência. Nas grandes capitais, não se vê nada de anormal em tropeçar em 
alguém dormindo nas calçadas, faz parte do cotidiano da cidade haver crianças 
pedindo dinheiro nas ruas; essa indiferença começa a fazer parte do costume, da 
vida cotidiana. 
 
 
Fonte: Rulli (2005). 
 
 
Por esses e outros motivos, não podemos discutir ética sem antes 
entender a lógica de funcionamento da sociedade em que vivemos. 
 
Estudamos ética e sociedade, justamente, porque a sociedade determina valores, 
princípios, normas e regras de sobrevivência e convivência. 
 
Uma reflexão ética precisa entender as concepções de homem e de sociedade; em 
cada período histórico, há uma ideologia vigente que norteia o comportamento dos 
indivíduos, por isso a ética fundamenta-se em uma análise filosófica e sociológica. 
 
Na sociedade medieval, o comportamento das pessoas estava pautado em bases 
religiosas. O medo e a concepção de pecado eram fundamentados na idéia de que 
Deus estava sempre vigiando as atitudes humanas. As pessoas temiam ir além dos 
limites impostos pelas regras sociais. O bem e o mal, Deus e o demônio estavam 
sempre presentes no imaginário das pessoas. 
 
Outra importante característica da sociedade medieval era a ligação entre poder 
terreno e divino. As pessoas acreditavam que o Rei ou Imperador possuíam ligação 
direta com Deus, por isso o respeito e a obediência aos governantes eram algo 
incontestável. 
Você percebeu que o limite e a obediência foram fatores que marcaram a sociedade 
medieval? Isso acabava determinando comportamentos e atitudes das pessoas. 
 
 
 
 
 
E a sociedade moderna, que tipo de transformação ela traz? 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
18 
 
 
 
A primeira grande transformação é que a religião perde espaço e o homem passa, 
lentamente, a assumir o lugar de Deus. No período medieval, as pessoas 
acreditavam que o Paraíso, a plenitude da felicidade, viria após a morte e que nesta 
vida deveriam suportar as privações e o sacrifício. O advento da modernidade faz 
com que a razãohumana passe a ocupar o lugar da fé e da crença em Deus. Outra 
grande transformação da sociedade moderna é a perda do limite e a busca pelo 
infinito, tanto do conhecimento quanto do lucro. A Igreja, que no período medieval 
atuava como inibidora de atitudes, vai perdendo espaço na sociedade moderna. 
 
Enfim, como percebemos, a sociedade está em constante transformação, alterando 
seus valores, crenças, concepções de certo e errado e, conseqüentemente, a moral e 
a ética. 
 
A universidade busca formar pessoas e está inserida em uma sociedade, por isso 
surge o desafio: que modelos de ser humano e de profissional estão presentes em 
nossa sociedade? Quais os valores morais e éticos de nossa sociedade? Quais atitudes 
são fundamentais em um profissional que atua na sociedade do século XXI? 
 
Essa é a razão (e, como você percebeu, são muitas) de estudarmos ética e sociedade 
na universidade. 
 
 
 
 
 
SEÇÃO 3 
Ética e sociedade na universidade 
 
Na seção anterior, procuramos esclarecer que não é possível estudar a ética 
desvinculada da sociedade. 
 
Por que estudar ética e sociedade na universidade? O que isso 
tem a ver com minha profissão? 
 
 
 
Muitos cientistas do século XIX acreditavam que a ciência deveria aprimorar seus 
inventos e descobertas, apenas debruçar-se sobre seu campo específico do saber 
para evoluir a partir de suas próprias pesquisas. 
 
Sabe qual foi o resultado disso? 
 
O lançamento da bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, a morte de milhares de 
judeus em campos de concentração, a dizimação de tribos africanas e indígenas, a 
degradação ambiental quase irreversível, a desigualdade de renda, a exclusão social. 
 
O conhecimento científico que não traz a ética para dentro de sua área específica 
corre o risco de desenvolver sérios prejuízos à sociedade e a todo o planeta Terra. 
Os acontecimentos citados tiveram como causa principal a crença de que a ciência 
possui poderes absolutos e é sempre fonte de verdade e certeza. 
cliente
Realce
 A importância da ética na sociedade 
19 
 
 
 
A produção do conhecimento, em qualquer área, precisa discutir e refletir sobre a 
relação do conhecimento com a realidade, com a sociedade. O profissional, 
professor ou aluno, deve sempre levantar questões sobre a sua área de 
conhecimento: para quem se destina esse conhecimento? Qual a sua finalidade? 
Quem pode ser beneficiado ou prejudicado com a sua aplicação? Por que estamos 
realizando pesquisas e descobertas nessa área? 
 
Essas questões são necessárias, pois discutem a finalidade do conhecimento e sua 
relação com a sociedade, com as pessoas, com o presente e o futuro da sociedade. 
 
 O conhecimento pode ser utilizado tanto para o benefício 
quanto para o malefício da sociedade. De acordo com a forma com 
que empregarmos o conhecimento aprendido na universidade, 
poderemos ser ótimos ou péssimos profissionais. O que nos 
conferirá excelência profissional na nossa área, além dos 
conhecimentos técnicos, é o modo como utilizaremos esses 
conhecimentos. 
 
 
 
A universidade precisa buscar respostas para os desafios do século XXI, tão 
complexos que um campo do conhecimento não pode alcançá-los sozinho, por isso 
da necessidade de abertura e diálogo, de rever posturas profissionais e acadêmicas 
que no século XX eram tidas como verdadeiras. 
 
Mas quais são os desafios? 
 
A fome, a miséria, novas doenças... 
 
Esses desafios globais que afetam nossa realidade local não podem ser enfrentados e 
resolvidos por uma única ciência, possuem grande dimensão socioeconômica, 
ambiental, política; portanto o profissional do século XXI precisa dialogar com outras 
áreas do conhecimento. Precisa, assim, reconhecer a importância do outro, do 
outro-profissional, do outro-ciência. 
 
Os desafios do terceiro milênio possuem alto grau de complexidade, de inter- 
relações e interdependências. O profissional da Economia não consegue, sozinho, 
resolver o problema da fome; o profissional da Educação não consegue educar 
sozinho; o profissional da Saúde não consegue, sozinho, garantir saúde a todos; o 
profissional do Direito não consegue, somente por meio da lei, criar uma sociedade 
justa e organizada; o profissional de Engenharia precisa discutir as finalidades de 
sua técnica numa perspectiva humana e social. Nenhum desses profissionais 
consegue, sozinho, resolver todos esses problemas. 
 
Em razão de um período acentuado de especialização, a ciência acabou se fechando 
no seu objeto de conhecimento e perdendo um pouco a relação com a sociedade e 
com outras áreas do saber. É muito comum encontrarmos algumas ciências 
considerando-se superiores a outras, ou profissionais que se fecham ao diálogo com 
outros profissionais por considerá-los inferiores ou pouco relevantes. 
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
20 
 
 
 
 
 
Assim, a ética nos convida a reconhecer a importância do diálogo e da consciência 
do inacabamento, porque nunca estamos prontos, sempre precisamos aprender com 
o outro diferente. 
 
Auto-avaliação 1 
 
1 Qual a importância da ética no meio em que você vive? Como a ética pode 
contribuir para a melhoria desse lugar, desse ambiente? 
 
 
 
 
 
 
 
2 A ética surge no momento em que aparece o outro. Por que o outro é o centro da 
ética? Assinale V para as alternativas corretas e F para as incorretas: 
 
( ) Porque o outro é aquele que nos julga se agimos corretamente ou não. 
 
( ) Porque é somente quando estamos diante do outro que podemos ser ou não 
considerados éticos. 
 
( ) Porque o outro sempre é nossa referência de certo ou errado. 
 
( ) Porque diante do outro sempre precisamos tomar uma atitude, podemos nos 
fechar a ele, abrir-nos ou negá-lo, ou seja, essa relação é que será ou não 
ética. 
 
RESUMINDO 
 
 
Nesta unidade, refletimos sobre a dimensão social de nossa vida. Em uma sociedade 
marcada pelo individualismo, antes de definir o que é ética e moral, precisamos 
reconhecer a importância e a presença do outro na nossa vida, precisamos 
reconhecer nossa interdependência. Nessa interdependência, vamos construindo e 
definindo nosso ser moral, nossa forma de nos relacionar com o outro. De acordo 
com nossas preferências, vamos incluindo e excluindo pessoas de nosso convívio. 
Definimos nosso círculo de amigos e pessoas indesejáveis a partir de nossos critérios 
do que seja uma pessoa boa e ruim, assim determinamos nossos valores morais. 
Cada sociedade define e determina alguns valores e crenças, e isso influencia muito 
a forma como as pessoas vivem em sociedade. 
 
Na universidade, precisamos incluir a ética na produção e construção do 
conhecimento. Um conhecimento sem ética pode tornar-se prejudicial à sociedade, 
assim como um profissional sem ética pode não ser considerado bom, por mais 
conhecimento técnico que possua. 
 
A próxima unidade nos ajudará a compreender melhor a relação entre a ética e a 
sociedade e como ocorre a construção dos valores morais. 
cliente
Realce
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
U
n
id
a
d
e
 2
 
Unidade 2 
Ética, moral e cultura 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao final desta unidade, você terá condições de: 
 
compreender o que é ética e o que é moral; 
 
diferenciar ética e moral; 
 
identificar os elementos que unificam as categorias ética, moral e cultura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: Ética e moral 
 
Seção 2: A cultura, a moral e a violência 
 
Seção 3: Preconceito e discriminação:violência contra o outro diferente 
 
Seção 4: Os valores morais e a liberdade de consciência 
Ética e Sociedade 
22 
 
 
 
 
 
PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
 
 
Nesta unidade, você vai saber como a nossa educação cultural contribui ou não para 
sermos mais éticos, como somos educados na relação com o outro, principalmente 
com o outro de cultura diferente. 
 
Para compreender a importância do outro e o modo como a cultura determina essa 
relação, vamos fazer uma reflexão sobre a moral, a forma de os indivíduos 
conceberem o certo e o errado numa determinada cultura e num determinado 
tempo, e sobre a filosofia, que é o berço da ética. 
 
Vamos lá?! 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
Ética e moral 
 
Quando nos deparamos com as palavras ética e moral, o que nos vem à mente são 
questões relativas ao comportamento humano: é certo ou errado fazer isso? 
 
Dizemos que uma pessoa é ética porque ela agiu com respeito ao outro ou a algo 
além de si mesma. Se uma pessoa faz uma boa refeição e sente-se satisfeita, você 
não dirá que foi ou não ética, mas se comeu de forma abusiva, deixando quem 
estava ao seu lado com fome, então poderíamos dizer que ela não foi ética. Por isso, 
iniciamos nossa apostila sobre ética falando da presença do outro em nossa vida, 
assim vamos compreendendo o que estuda a ética e qual sua importância para a 
nossa vida e a nossa comunidade. 
 
Os seres humanos não nascem geneticamente pré-programados; diferentes de outros 
animais, os seres humanos são inacabados e não-determinados pela natureza, 
tampouco delimitados pelo destino ou por Deus(es). Se fosse assim, agiriam por 
instinto e não refletiriam sobre suas ações. Por isso, cada um, ou cada grupo social, 
cria respostas e soluções diferentes para perguntas e problemas semelhantes. O ser 
humano deve, portanto, construir ou conquistar o seu ser; ele não nasce pronto, ele 
se faz ser humano, torna-se pessoa. 
 
 
 
 
 
Mas, por que devemos compreender a ética na relação com a 
moral e a cultura? 
 
 
 
Porque, geralmente, o que direciona as ações e comportamentos individuais, ou 
seja, o que condiciona as decisões do indivíduo provém da cultura e da moral. Há 
uma forte influência da cultura nas nossas escolhas e decisões. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
 Ética, moral e cultura 
23 
 
 
 
 
 
Quando nós, brasileiros, estamos com fome, podemos pensar na possibilidade de 
matar um boi e fazer um bife suculento. Já os indianos (hindus) jamais pensarão 
nessa possibilidade para saciar a sua fome, pois, em sua grande maioria, são 
vegetarianos. 
 
Esse exemplo nos ajuda a entender que as nossas escolhas e decisões são 
determinadas pela cultura em que vivemos, que estabelece normas, regras e valores 
morais. 
 
A ética é o estudo e a reflexão sobre os valores morais, que se modificam em cada 
cultura e em cada época. As noções de certo e errado, o que devemos ou não fazer, 
são construídas na cultura em que nascemos. Você pode perceber que as questões 
culturais influenciam o modo como as pessoas organizam sua vida, e a cultura é o 
ponto de partida para o estudo da ética. 
 
 
 
 
 
Mas, afinal, o que é ética? 
 
Podemos considerar a ética como a ciência do comportamento moral dos homens 
na sociedade; ainda que o objeto da ética é a moral, e a moral é um dos aspectos 
do comportamento humano. No nosso dia-a-dia, não fazemos distinção entre ética e 
moral, usamos as duas palavras como sinônimos, mas, ao contrário do que pensa o 
senso comum, ética e moral não são a mesma coisa; é o que veremos agora. 
 
A ética busca analisar o conjunto de práticas morais ligadas ao costume e à cultura, 
em um determinado tempo e espaço. De acordo com Leonardo Boff (2003b), a 
ética é parte da filosofia; estuda as concepções de mundo, os princípios e valores 
que orientam pessoas e sociedades. 
 
A moral é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, 
valores que norteiam o comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é 
normativa (relativo a normas); é parte da vida concreta, da prática real das pessoas, 
que se expressam por costumes, hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é moral 
quando age em conformidade com os costumes e valores estabelecidos, que podem 
ser, eventualmente, questionados pela ética. 
 
Uma pessoa pode ser moral, mas não ser ética? 
 
Segundo Boff (2003b), a moral refere-se aos costumes, à educação que recebemos 
da família, aos valores da religião, da tradição. Esses valores forma o caráter e 
molda a dimensão ética do indivíduo, que passa a acreditar que são valores 
universais (éticos) os valores que ele aprendeu em casa, que está acostumado a 
praticar (morais). 
 
Se um filho é tratado em casa como o centro da família, nunca recebe um “não”, 
nunca é repreendido, os pais fazem tudo o que ele quer, compram o que pede, ele 
vai formando seu caráter e seus valores de acordo com essa relação. Como a família 
é o primeiro espaço de socialização, o filho vai aprender a se relacionar com os 
outros da escola como se comportava em casa. Ele vai acreditar que tudo o que 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
24 
 
 
 
 
 
quer tem direito a receber, que onde estiver deve ser tratado como o mais 
importante; provavelmente terá dificuldade de aceitar uma idéia contrária à sua. 
 
Para Boff (2003b), as pessoas serão éticas se tiverem adquirido uma boa moral, ou 
seja, terão um caráter ético se no seu ambiente cultural, familiar mais próximo, 
tiverem aprendido valores universais, de respeito ao outro, de diálogo. De acordo 
com o exemplo, o filho aprendeu que pode impor sua vontade aos outros, pode 
pedir, fazer o que quiser, e isso não será errado. Assim, ele terá um caráter ético 
próprio que não estará de acordo com uma ética universal. 
 
Na sociedade atual, as pessoas estão acostumadas com a desigualdade, com a 
pobreza e com a miséria, mas isso é ético? A palavra ethos, da qual se originou a 
palavra ética, precisa ser entendida como o lugar onde vivemos, que é o planeta 
Terra, e não apenas nossa casa, nossos amigos, nosso trabalho, nossos ideais. 
Pensar eticamente nos coloca além de nossa realidade particular, que tem sua moral, 
seus costumes, por isso a ética exige uma atitude reflexiva, profunda, investigativa e 
interligada. 
 
Segundo Boff (2003b), a ética e a moral vigente hoje é a capitalista, cuja ética diz: 
bom é o que permite acumular mais com menos investimento e em menos tempo 
possível; e cuja moral concreta reza: empregar menos gente possível, pagar menos 
salários e impostos e explorar melhor a natureza. Eis a razão da grave crise atual. 
 
 
 
 
A moral é particularista, identificada e vinculada com grupos 
religiosos, nacionalistas, políticos, classistas; com normas e 
sanções que mudam de acordo com as transformações da 
sociedade. A ética tem conteúdo universal, parte do princípio da 
igualdade dos seres humanos e de seus direitos à paz, ao bem- 
estar, à felicidade individual e coletiva; relaciona-se com os valores 
reais da existência humana. 
 
 
Salientamos essa diferença com a citação de Rodrigues e Souza (1994, p. 13): "A 
ética é muito mais ampla, geral e universal do que a moral. A ética tem a ver com 
princípios mais abrangentes, enquanto a moral se refere mais a determinados 
campos da conduta humana." Entre moral e ética há uma tensão permanente: a 
ação moral busca justificar seus valores em fundamentos ligados à naturezahumana, 
à ciência e à religião, enquanto a ética exerce vigilância crítica sobre os fundamentos 
da moral para transformar a vida cotidiana. 
 
Você já consegue entender a relação entre ética e moral? 
Na próxima seção, vamos compreender como os costumes, os 
valores, as tradições e o cotidiano podem legitimar ações 
antiéticas. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
 Ética, moral e cultura 
25 
 
 
 
 
 
 
 
 
SEÇÃO 2 
A cultura, a moral e a violência 
 
Você deve estar se perguntando: por que a cultura seria o ponto 
de partida para estudar ética? 
 
 
 
Há duas razões fundamentais para essa argumentação: 
 
 a cultura é um produto da história coletiva dos diferentes grupos sociais; 
 
 a cultura contém componentes simbólicos que contemplam formas de agir, 
pensar, sentir e reagir em um determinado espaço, onde cada um desses 
elementos traz em si um apelo especial pela realidade ética. 
 
 
 
A cultura é o espaço em que se formam nossas concepções de certo e errado, ou 
seja, nossos valores morais. Se observarmos a história da humanidade, desde que o 
homem de vivia em conjunto com outros homens, as normas de comportamento 
moral têm sido necessárias para o bem-estar do grupo. Percebemos que cultura e 
moral são inseparáveis. 
Um dos objetivos de falarmos sobre cultura é porque ela conserva e legitima padrões 
de comportamento que são questionados e estudados pela ética. 
 
 
 
 
 
Será que determinadas culturas e costumes não contribuem 
para que os seres humanos sejam violentados? Por que algumas 
pessoas aceitam ser inferiorizadas, exploradas e outras acreditam 
que isso é normal? Que reflexões éticas podemos fazer sobre a 
aceitação da violência? 
 
 
 
Em nossa cultura, a violência é entendida como o uso da força física e do 
constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua 
natureza e ao seu ser. Então nos perguntamos: que relação existe entre cultura e 
violência? Costumes e violência? 
 
O termo violência nos remete a algo que foge à normalidade, ao eventual, a um 
acidente, enfim, a algo que não estamos acostumados a ver. Esta seção convida 
você a perceber com mais atenção o cotidiano. Como a palavra moral também 
significa costume, muitas vezes estamos tão acostumados com essa realidade que 
nem mais percebemos se há algo de errado com ela. Você já deve ter ouvido a 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
26 
 
 
 
 
 
expressão “águas calmas não representam ausência de perigo.” Com o cotidiano é a 
mesma coisa; superficialmente, tudo parece estar dentro da normalidade, mas se 
analisamos com mais profundidade, percebemos que existem turbulências 
profundas. 
 
A ética surge na história com a preocupação de conter a violência entre as 
pessoas; cabe a nós, ao falarmos em ética, aprofundar o conceito de violência e 
percebê-la no cotidiano dos nossos costumes e da nossa cultura. 
 
Há situações nas quais não existe violência física, mas outro tipo de violência, de 
natureza psicológica. Quando, mesmo sem usar o chicote ou a palmatória, o pai ou 
o professor exigem o comportamento desejado, doutrinando as crianças, impondo 
valores e dobrando-as para a obediência cega e aceitação passiva da autoridade, 
existe violência simbólica, já que a força que exercem é de natureza psicológica e 
atua sobre a consciência, exigindo a adesão irrefletida que só aparentemente é 
voluntária (ARANHA, 1992, p. 171-172). 
 
Como seres sociais, vivenciamos e buscamos a felicidade em grupo. Para atingir 
determinados objetivos, agrupamo-nos em instituições. Para sobreviver e buscar 
proteção, vivemos em um grupo, a família. Preparando-nos para a vida adulta, 
entramos na escola, participamos de um grupo religioso, uma Igreja. Como vivemos 
em uma sociedade organizada com um Estado de direito, pagamos impostos para 
usufruir de serviços públicos, de saúde, por exemplo. Quem de nós nunca precisou 
ou precisará de um hospital? Quando nos profissionalizamos, entramos no mundo 
do trabalho, que também ocorre, na maior parte das vezes, de forma 
institucionalizada. A empresa, uma organização, as leis trabalhistas, a relação patrão- 
empregado-economia constituem o cotidiano do trabalho. 
 
 
 
 
 
Como essas diferentes organizações que compõem nosso 
cotidiano se tornam antiéticas? Como as diferentes instituições 
transformam o ser humano de sujeito em objeto? Que tipo de 
violação pode acontecer contra o ser humano nessas instituições? 
 
 
 
A ética faz parte do nosso cotidiano, nossa vida familiar, educacional, profissional, 
etc. Vamos refletir sobre a presença da violência na nossa sociedade em alguns 
espaços do nosso cotidiano: família, educação, trabalho, saúde pública. 
 
 
 
FAMÍLIA 
 
Se você já precisou sair de casa, está estudando fora ou morando distante da 
família, deve sentir muita saudade e falta de um aconchego; a família é vista como 
um lugar e espaço do bem, mas você sabe que não precisamos ir muito longe para 
nos defrontar com problemas de violência familiar: pais que espancam filhos e, 
ainda mais grave, cometem abusos sexuais contra eles, problemas de alcoolismo, 
cliente
Realce
cliente
Realce
 Ética, moral e cultura 
27 
 
 
 
 
 
drogas, desemprego, todos esses fatores desencadeiam processos de violência. A 
reflexão sobre a violência traz consigo a necessidade de discutirmos as relações de 
poder. Há abuso de poder quando uma pessoa reduz a outra à condição de objeto – 
assim se concretiza a violência. 
 
Além dessas formas de violência explícita, procure refletir sobre a violência velada, 
como as relações de poder entre os membros da família que, aparentemente 
consideramos dentro da normalidade, próprias do cotidiano, entretanto são formas 
de violência. 
 
Uma mulher, dona-de-casa, acorda cedo, limpa a casa, leva os filhos à escola, lava a 
roupa de todos (filhos, marido), prepara o almoço. À tarde, costura, lava e passa. À 
noite, o esposo chega em casa, tira o sapato, deita no sofá, solicita o jantar e ainda 
reclama do atraso e do barulho. Os filhos chegam da rua, jogam a roupa e os 
calçados pelo chão, sujam a cozinha. A mulher prepara o jantar, lava a louça, ajuda 
o filho a fazer a lição de casa, leva roupa e toalha de banho ao marido que, depois, 
descansado, prepara-se para deitar. Quando ele deita, a mulher ainda prepara os 
alimentos para o almoço do outro dia, sem ter sentado um minuto sequer. Contudo, 
se perguntassem aos filhos e ao marido se ela trabalha, eles certamente poderiam 
dizer que não, entendendo que o trabalho de casa não pode ser considerado como 
tal. 
 
 
 
 
 
Quais questionamentos éticos poderíamos fazer sobre essa 
família? Quem é tratado como objeto? Quem exerce poder sobre o 
outro? Como a violência faz parte do cotidiano, da normalidade e 
do costume? 
 
 
 
Você lembra que iniciamos nossos estudos falando sobre a reflexão ética? Pois bem, 
ela surge para questionarmos a moral, os costumes, mas estes estão no nosso dia-a- 
dia, e o que é considerado normal pela tradição e pela cultura pode ser fonte de 
violência contra as pessoas, ações antiéticas presentes na moral familiar. A família, 
no mundo ocidental, é essencialmente patriarcal e, por conseguinte, essa estrutura 
tem grande possibilidade de se tornar machista. Os papéis sociais, definidos desde 
cedo, contribuem para que algumas pessoas se tornem submissas às outras na 
estrutura familiar, como acontece com a menina que faz os serviçosdomésticos em 
relação ao menino que tem mais liberdade para buscar uma profissão; assim, as 
relações de poder têm continuidade. 
 
 
 
Vamos, agora, a outro cotidiano no qual passamos grande parte de 
nossa vida: a escola, a universidade. 
Na cultura 
ocidental 
patriarcal, o 
pai é o chefe 
de família. 
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
28 
 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO 
 
No Brasil, no início do século XX, era considerado normal professores baterem em 
alunos, aplicarem castigos, enfim, a violência na escola era explícita; uma ação que 
também refletia a moral familiar da época. Para as provas, o aluno precisava decorar 
todo o conteúdo e responder de forma idêntica ao professor. Essa metodologia 
expressava que o mais importante era o conteúdo. Se o aluno interpretasse, 
traduzisse o conteúdo com suas palavras, a resposta era considerada errada. O 
aluno não podia fazer perguntas, era um meio de passagem entre a lousa e a folha 
da prova, era um objeto. 
 
Precisamos, portanto, entender as formas de violência na transmissão do 
conhecimento. Quantas vezes o conhecimento científico e a figura do professor são 
colocados pela escola como algo superior ao aluno? 
 
Outra forma de violência existente na escola é a reprodução da exclusão. Filhos de 
famílias ricas têm maiores chances de prosperar na vida acadêmica do que os de 
classe menos favorecida. Muitas crianças, para ajudar a sustentar a casa, acabam 
deixando a escola, enquanto muitas outras, além de freqüentar a escola regular, têm 
condições de fazer cursos paralelos. 
 
Essa forma de violência, sofrida no âmbito educacional, muitas vezes é obscurecida 
pelo simples argumento de que alguns aproveitaram as oportunidades e outros não; 
uma lógica de pensamento que busca naturalizar o processo de exclusão social. 
 
 
 
 
 
Para enriquecer essa discussão, assista ao filme Sociedade 
dos Poetas Mortos. 
 
 
 
O filme aborda o conflito entre a postura do professor e a escola. 
Um carismático professor de literatura chega a um colégio muito conservador, 
onde revoluciona os métodos de ensino ao propor que seus alunos aprendam 
a pensar por si mesmos. 
 
 Fique atento, estamos construindo nossas reflexões dentro de 
uma relação entre a violência e o cotidiano. 
 
Outro espaço de convivência é o local onde exercemos nossa 
profissão, em que as relações interpessoais se tornam mais 
intensas e competitivas. 
cliente
Realce
 Ética, moral e cultura 
29 
 
 
 
 
 
TRABALHO 
 
Vamos analisar como as relações de poder se transformam em relações de violência 
no trabalho. É necessário situar o trabalho dentro de uma sociedade e de um 
determinado tempo, por isso nos deteremos à sociedade capitalista do século XX. Já 
que estamos falando do cotidiano, vamos partir de expressões do senso comum que 
expressam de que maneira o ser humano é tratado como objeto no mundo do 
trabalho. 
 
Já ouvimos que “algumas pessoas nasceram para mandar e outras, para obedecer.” 
Essa afirmação é muito reproduzida; foi feita, inicialmente, pelo filósofo Aristóteles. 
Segundo ele, “[...] uns homens são livres e outros, escravos por natureza, e que esta 
distinção é justa por natureza.” (VASQUEZ, 1990, p. 31). Na época de Aristóteles, 
ninguém julgava antiético uma pessoa escravizar a outra; hoje, esse pensamento não 
é diferente. Se uma pessoa precisa se submeter a horas de trabalho sem um salário 
digno, muitos poderiam afirmar que foi predestinada e que é uma realidade social à 
qual precisa se submeter. 
 
Outra realidade do mundo do trabalho é a “ditadura do desemprego”; muitas vezes, 
quando um colaborador procura por melhorias salariais, tem como resposta que 
precisa aceitar essa realidade, pois há uma fila de pessoas esperando por sua vaga. 
À medida que vamos considerando isso algo normal, aceitamos uma forma de 
violência contra o ser humano. Muitos direitos trabalhistas são cortados em função 
de uma realidade maior e global, que se impõe sobre as pessoas. 
 
Outra forma de violação à liberdade do ser humano é a escolha da profissão: muitos 
submetem o seu desejo, sua empatia por alguma área à realidade do mercado de 
trabalho e, assim, tornam-se objetos de um sistema maior. 
 
Também é muito comum o conflito entre colegas de trabalho na busca pela 
promoção profissional, no qual os interesses particulares se chocam com o outro. 
 
 
 
É impossível responsabilizar uma única pessoa por essa realidade, nosso objetivo é 
evidenciar as formas de violência, muitas vezes tidas como algo normal do cotidiano. 
 
 
 
 
 
Vamos, agora, a outro cotidiano, a instituição que cuida de 
nossa saúde. 
 
 
SAÚDE PÚBLICA 
 
Quem já esteve doente sabe que é um momento em que nos sentimos fragilizados e 
carentes de atenção e cuidado. Por outro lado, é uma situação em que, com muita 
freqüência, somos tratados como objetos. A falência do sistema público, aliada às 
relações de poder, provoca um descaso contra o ser humano. As pessoas se 
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
30 
 
 
 
 
 
 
 
acostumam a essa realidade e não percebem mais como são violentadas nessas 
instituições. 
 
Há algum tempo, uma reportagem comprovou o fato de que as pessoas não 
percebem mais determinadas ações como uma forma de violência: após 
permanecer das 4h às 9h da manhã em uma fila para ser atendido em um hospital, 
um indivíduo, não tendo conseguido a sua vaga, declarou que estava acostumado 
com isso e que voltaria no dia seguinte. Esses fatos vão se cristalizando como uma 
cultura do descaso público, tornam-se costume e não são mais questionados. Aqui 
reside o papel da ética: identificar e perceber a violência velada nos costumes e na 
moral das instituições, nesse caso, a saúde pública. 
 
Todas as instituições exercem, de uma forma ou de outra, violência contra o 
indivíduo; cabe a você considerar e perceber a importância dessas reflexões em 
qualquer projeto profissional. 
 
 
 
 
 
 
Você percebeu que estamos trabalhando com vários 
conceitos? Se você não conseguiu compreender a relação entre 
ética, moral e cultura, retome seus estudos nas seções anteriores 
ou procure seu professor tutor. 
 
 
 
 
SEÇÃO 3 
Preconceito e discriminação: violência contra o outro 
diferente 
 
Nossa formação cultural acontece a partir de modelos, de princípios certos e errados, 
comportamentos morais e imorais. Vamos nos deter, especificamente, ao fato de 
considerarmos o outro errado, imoral, por ser diferente, por fugir aos nossos 
padrões culturais. Isso está relacionado à ética por dois motivos: primeiro, por não 
considerarmos o outro diferente em sua especificidade; segundo, como 
conseqüência, por não refletirmos sobre o que pensamos a respeito do outro. 
 
 
 
 
 
A ética é uma reflexão crítica sobre nossas formas de 
perceber o outro e agir sobre ele. Assim, fechamo-nos à ética 
quando nos fechamos à autocrítica sobre o que e como pensamos a 
respeito do outro. 
31 
 
 
 Ética, moral e cultura 
 
Para Aranha (1992, p. 181), preconceito (pré-conceito) significa conceito (ou 
opinião) formado antecipadamente, sem adequado conhecimento dos fatos. O 
perigo do preconceito está na recusa em reexaminarmos as convicções quando se 
tornam dogmáticas. Nesse ponto, o preconceito é fonte de intolerância e, 
portanto, de violência. O preconceito leva à discriminação, quando o diferente é 
considerado inferior, excluído dos privilégios de que os melhores desfrutam. 
 
Os antropólogos nos alertam que,ao analisarmos os costumes de outros povos, 
convém não os avaliar a partir de nossos valores culturais, o que significaria uma 
atitude etnocêntrica. Quando isso acontece, corremos o risco de procurar neles o 
que lhes falta e esquecer de ver com clareza o que são de fato. 
 
Da mesma forma, dentro de cada cultura, há preconceitos que levam à 
discriminação dos pobres, negros, homossexuais, mulheres, idosos e tantos outros. 
 
 Um exemplo de preconceito cultural é o dos colonizadores 
europeus, que consideravam os povos tribais inferiores não como 
uma cultura diferente, mas sim de menor importância. Aqui, surge 
a legitimidade de muitos atos violentos contra povos indefesos. 
Sabemos que a população indígena brasileira foi praticamente 
exterminada pelos brancos. 
 
 
 
Conforme Aranha (1992, p. 182), a origem da discriminação, de raça ou de sexo, 
geralmente é conseqüência da desigualdade social. Desde a antiguidade grega, em 
toda a história do mundo ocidental, o poder é branco, masculino e adulto. 
 
O Brasil tem uma longa tradição histórica de rígidas hierarquias sociais – uma 
sociedade marcada pelo poder de elites (senhores de engenho, barões do café, 
coronéis-fazendeiros). Apesar de a sociedade brasileira apresentar grandes 
desigualdades sociais, há uma camuflagem do preconceito por meio do mito da 
democracia racial; uma idéia de que todos são iguais e que no Brasil as pessoas 
sabem conviver entre negros e brancos e entre ricos e pobres. Quando 
aprofundamos o assunto, percebemos que isso não é verdade, que existe 
preconceito e discriminação, principalmente com negros, índios e migrantes. 
 
 
 
O ÍNDIO, O NEGRO E O MIGRANTE 
 
Quando os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil, o processo de cristianização dos 
índios por eles empreendido facilitou a política de dominação de Portugal. Mesmo 
não sendo essa a intenção dos religiosos, imbuídos de ardor religioso, eles estavam 
convencidos da superioridade de sua cultura e religião. Ao docilizarem os índios, 
adequando-os a padrões estranhos, deram início à desintegração da cultura 
indígena. 
 
Dogmática: 
que se 
apresenta com 
caráter de 
certeza 
absoluta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Etnocêntrica: que 
tem a tendência 
de considerar a 
cultura de seu 
próprio povo a 
medida para 
todas as demais. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
32 
Ética e Sociedade 
 
 
 
 
Assim como a inferiorização do índio, a origem do preconceito contra o negro 
encontra-se na tradição da escravidão. Os senhores acalmaram a consciência com a 
convicção de que o negro era semi-animal, bruto e rebelde, e exigia pulso forte por 
parte do dominador. Por resistir ao trabalho escravo, o negro passa a ser avaliado 
por meio de estereótipos: é indolente, malandro, cachaceiro. A dominação é 
justificada por considerar o negro inferior. 
 
Estereótipos: 
que são vistos 
todos de um 
mesmo modo 
de ser. 
 
 
 
 
 
Sabemos que o racismo é muito presente em nossa cultura. A 
reflexão ética nos convida a analisar como o racismo está 
fundamentado na ignorância e na falta de racionalidade crítica. 
 
 
 
O preconceito e a discriminação não atingem apenas o índio e o negro, vítimas do 
estigma da escravidão. Em um país como o Brasil, com irregular desenvolvimento 
nas diversas regiões, o Sul e o Sudeste constituem o espaço do progresso e da 
riqueza, onde se instalam as indústrias. Por motivos histórico-sociais, amplas regiões 
permanecem empobrecidas, além de serem assoladas pela seca. Essa situação 
obriga as pessoas a migrarem; com a esperança de dias melhores, vêm para os 
grandes centros, ocupam funções subalternas, enfrentam o desemprego e outras 
dificuldades, sofrendo preconceitos. As regiões mais ricas acabam aproveitando a 
mão-de-obra barata e discriminando essas pessoas. 
 
 Ainda é vigente no Brasil a mentalidade de que existem 
estados e culturas mais importantes do que outras. Esse 
pensamento é mais uma forma de exercer violência sobre o outro; 
confunde o diferente com o errado ou inferior. 
 
Na próxima seção, vamos compreender como a cultura e a moral 
nos impedem de ser éticos. 
 
 
 
 
SEÇÃO 4 
Os valores morais e a liberdade de consciência 
 
Estamos falando de cultura; sabemos que os valores morais são construídos e 
legitimados nela, na relação que temos com a nossa família e com a comunidade 
desde que nascemos. 
 
Por que falarmos em liberdade? Porque a liberdade de consciência é elemento 
fundamental para o agir ético; somente quando tomamos consciência de nossas 
ações é que podemos refletir sobre elas. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
33 
 
 
 Ética, moral e cultura 
 
Ainda podemos nos perguntar: o que têm a ver os valores 
morais com a liberdade? 
 
 
 
Acreditamos que os valores (concepções de certo e errado) que aprendemos em 
casa são as melhores coisas que trazemos conosco, são os pilares de nossa conduta e 
de nossas ações. Chauí (2003, p. 311) afirma que nossos sentimentos, nossas 
condutas, nossas ações e nossos comportamentos são modelados pelas condições 
em que vivemos (família, classe e grupo social, escola, religião, trabalho, 
circunstâncias políticas, etc.). Somos formados pelos costumes de nossa sociedade, 
que nos educam para respeitar e reproduzir os valores propostos por ela como bons 
e, portanto, com obrigações e deveres. Desse modo, valores e maneiras parecem 
existir por si e em si mesmos, parecem ser naturais e atemporais, fatos ou dados com 
os quais nos relacionamos desde o nosso nascimento: somos recompensados 
quando os seguimos, punidos quando os transgredimos. 
 
Sócrates, filósofo grego de Atenas, levava os jovens a questionar aquilo em que 
acreditavam e que repetiam, a questionar os próprios valores. Foi um dos primeiros 
filósofos a estimular o questionamento ético, porque provocava uma reflexão 
profunda sobre os valores. A grande contribuição do pensamento e da ação 
socrática foi no sentido de demonstrar que o que entendemos como valores (certo, 
errado, bonito, feio) é construído dentro de um contexto cultural, geográfico e num 
determinado tempo. Sócrates fazia as pessoas indagarem sobre a origem e a 
essência das virtudes (valores e obrigações) que julgavam praticar ao seguir os seus 
costumes. 
 
Portanto, não podemos afirmar que nossos valores sejam válidos para todos. 
Quando você não consegue perceber a particularidade dos seus valores, não 
conseguirá pensar além da sua cultura e da sua moral. Assim, seus valores morais 
limitam a sua liberdade de pensamento e reflexão. Muitas vezes, ouvimos a 
expressão: “a minha opinião é esta e não abro mão porque é a verdade!”; uma 
afirmação como essa demonstra que o sujeito não consegue refletir além de seus 
princípios morais, tirando-lhe a liberdade de reflexão. É o chamado 
fundamentalismo ou fanatismo: o indivíduo fica preso aos seus referenciais 
culturais de mundo. 
 
Em nossa vida, quando seguimos o que é dito como correto pela cultura da 
sociedade em que vivemos, achamos que estamos no caminho certo. Sócrates nos 
perguntaria: 
 
Você está seguindo esses valores conscientemente ou apenas 
para atender a um costume, para não sair da moda? 
 
Por que e como a moral, os costumes podem exercer algum tipo de 
violência contra o ser humano? 
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
34 
 
 
 
 
 
Como vimos, a moral e os costumes exercem algum tipo de violência quando surge 
oracismo e o preconceito, mas também quando impedem e dificultam o indivíduo 
de refletir racionalmente, ou seja, ser de fato livre nos seus pensamentos. 
 
De acordo com Aranha (1992, p. 113), desde que nascemos enfrentamos o 
problema do determinismo cultural: ao nascer, o homem já se encontra em um 
mundo constituído, recebe como herança a moral, a religião, a organização social e 
política, a língua, enfim, os costumes, que não escolheu e que, de certa forma, 
determinam sua maneira de sentir e pensar. 
 
Quando não conseguimos perceber que muitos de nossos valores são válidos 
somente para nossa cultura e para nossa profissão, não estamos fazendo uso 
adequado de nossa liberdade. 
 
Auto-avaliação 2 
 
1 A partir de seu cotidiano cultural e social, cite outros exemplos de práticas 
silenciosas de violência praticadas e obscurecidas pelo costume e pela tradição. 
 
 
 
 
 
 
 
2 Como a cultura pode dificultar o processo de liberdade de pensamento, ou seja, 
como ela pode permitir o surgimento de um pensamento fundamentalista? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMINDO 
 
 
Nesta unidade, percebemos a importância da cultura para o estudo da ética, como 
nossos valores e visões de mundo são construídos no ambiente familiar e como o 
costume e a tradição podem abrigar formas de violência contra o indivíduo. A 
reflexão ética exige um constante processo de autocrítica, de revisão de concepções 
e dos valores morais. Essa reflexão torna-se fundamental para o crescimento ético; 
do contrário, caímos no fundamentalismo, escravizamos nossa capacidade de pensar 
livremente, nossas idéias ficam enquadradas em sistemas de pensamento 
construídos em uma cultura. 
 
Para a ética, é essencial de um olhar crítico sobre a realidade, por isso, na próxima 
unidade, buscaremos compreender a relação entre a filosofia e a ética, já que a 
filosofia tem como princípio a dúvida e a reflexão. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
U
n
id
a
d
e
 3
 
Unidade 3 
O pensamento filosófico e a ética 
 
 
 
 
 
 
 
 
Objetivos de aprendizagem 
 
 
Ao concluir a leitura desta unidade, você terá condições de: 
 
identificar os principais fundamentos teóricos da ética; 
 
compreender a ética como um ramo da filosofia; 
 
perceber a ética inserida na história da sociedade e do conhecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Roteiro de estudo 
 
 
Seção 1: A filosofia e a ética 
 
Seção 2: O surgimento da ética na filosofia 
Seção 3: O pensamento de Aristóteles e Marx 
Seção 4: Reflexão sobre a construção da moral 
Ética e Sociedade 
36 
 
 
 
 
 
PARA INÍCIO DE ESTUDOS 
 
 
 
Nas unidades anteriores, percebemos a necessidade de refletir sobre nossas ações, 
pois nascemos em uma sociedade, estamos no mundo com outras pessoas, nossas 
ações ou omissões interferem no contexto social em que vivemos. Sempre que 
falamos: “estive refletindo sobre...”, “pensei muito sobre...”, “freqüentemente me 
pergunto se é correto...”, as pessoas ao nosso redor nos dizem: “já está 
filosofando...”. Precisamos, então, quando falamos em ética, andar pelo caminho da 
filosofia ou da reflexão do homem sobre seus atos, seu contexto, seu mundo e seus 
iguais. É por isso que, nesta unidade, falaremos da importância de compreender a 
ética a partir da filosofia. 
 
 
 
 
SEÇÃO 1 
A filosofia e a ética 
 
O que vem à sua mente quando você ouve a palavra filosofia? Por que falarmos de 
filosofia? Muitas vezes, o professor de filosofia é aquela pessoa que sempre faz 
reflexões profundas sobre um tema aparentemente simples. Por essa razão, numa 
sociedade marcada pelo utilitarismo e pela praticidade, a primeira acusação sobre a 
filosofia é de que ela é inútil. Entretanto, veremos adiante que, para 
compreendermos a ética, é fundamental refletirmos sobre a filosofia. 
 
Mas, por quê? 
 
A filosofia nasce na história trazendo a dúvida para o centro das discussões sobre a 
vida. A ética nada mais é do que a sistematização de grandes questionamentos sobre 
o agir humano e a relação entre os indivíduos. 
 
 
 
 
 
É correto fazer isso? Por que devo agir assim? Que lugar o 
outro ocupa nas minhas escolhas e decisões? Existe uma 
consciência ética que nasce conosco? Sabemos agir de forma ética 
naturalmente ou precisamos aprender? 
 
 
 
As questões éticas são, acima de tudo, questões filosóficas. Daí que, para 
construirmos uma reflexão ética, precisamos, antes de tudo, resgatar o papel e o 
conceito de filosofia. 
 
Chauí (2003, p. 23) discute a idéia de filosofia como a “[...] fundamentação teórica 
e crítica dos conhecimentos e das práticas.” 
 
Com isso, percebemos que a filosofia busca problematizar as práticas e os 
conhecimentos já estabelecidos. Em nossa educação, o conhecimento é transmitido 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
 O pensamento filosófico e a ética 
37 
 
 
 
 
 
 
 
por intermédio dos costumes e, por isso, não buscamos levantar dúvidas sobre ele, 
até porque todo mundo pensa igual, então acabamos nos acostumando com certas 
idéias e práticas. Para progredirmos eticamente, contudo, precisamos colocar em 
dúvida e em questão os nossos próprios costumes . 
 
Tendo como premissa a idéia da filosofia como base racional de análise do real, a 
definição de Chauí (2003) leva-nos a um caminho parecido com o que sugeriu 
Marx, ao afirmar que a filosofia ficou muito tempo refletindo e que deveria agir. 
Portanto, ela deve nos conduzir a uma ação que tenha reflexos imediatos na 
sociedade, interferindo diretamente nas ações dos seres humanos e nas suas relações 
com o mundo, com os outros e consigo mesmos. 
 
Assim, precisamos compreender que o conhecimento filosófico deve proporcionar 
uma reflexão sobre a vida concreta que nos leve a transformá-la para melhor. Essa 
foi a busca de muitos filósofos. Marx pode ser exemplo desse papel da filosofia na 
história. Ele questionava filosoficamente a desigualdade de classes, a dominação de 
umas pessoas por outras: é natural que existam ricos e pobres? Como superar o 
abismo existente entre patrões e empregados? Perceba, aqui, que a filosofia surge 
como um pensamento que provoca questionamento e problematização para uma 
transformação social. 
 
Dessa maneira, a importância do conhecimento filosófico é evidente para comprovar 
que a filosofia não é somente abstrata, como afirmam algumas teorias, mas possui 
interferência prática. Alguns teóricos ajudam a reforçar a idéia de que o 
conhecimento filosófico não é mera abstração. Platão concebia a filosofia como um 
saber a ser usado em benefício do homem; Descartes via na filosofia a possibilidade 
de se conhecer, conservar e inovar, quer nas artes, quer no mundo das técnicas. 
 
 
 
 
 
 
 
Platão. 
Para saber mais sobre o assunto, leia A República, de 
 
 
 
 
 
A filosofia assume, na história, uma função investigativa, crítica 
e problematizadora. 
 
 
 
Mas, o que isso tem a ver com a ética? 
 
Como já vimos, nem sempre costumamos refletir e buscar os porquês de nossas 
escolhas, comportamentos, valores; agimos por força do hábito, dos costumes e da 
tradição, tendendo a naturalizar nossa realidade social, política, econômica e 
cultural. 
 
É muito comum ouvirmos as expressões: “as coisas não mudam, sempre foi assim e 
sempre será”; “eu sou assim mesmo, é de minha natureza agir dessa forma.” Essas 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
Ética e Sociedade38 
 
 
 
 
 
 
 
expressões refletem a naturalização da realidade humana e social, que acarreta uma 
considerável perda da capacidade de auto-reflexão e de problematização da 
sociedade e de nossos próprios pensamentos; perdemos nossa capacidade crítica 
diante da realidade. 
 
Você percebe como isso é muito grave? 
 
Em outras palavras, não costumamos fazer ética porque não fazemos crítica, nem 
buscamos compreender e problematizar a nossa realidade moral. Com isso, 
podemos compreender a íntima relação entre o descaso pela filosofia e, como 
conseqüência, o abandono da ética. Não é possível ser ético sem, antes de 
tudo, ser reflexivo e crítico. 
 
 
 
 
 
Temos uma experiência ética quando conseguimos perceber 
a diferença entre aquilo que é e o que poderia ser melhor. 
 
 
 
Quando percebemos que as coisas podem mudar, estamos vivendo uma experiência 
ética. 
 
Essa capacidade de questionar é a característica principal do pensamento filosófico. 
A filosofia, historicamente, fez forte oposição ao pensamento mítico e ao senso 
comum. 
 
Mas, em que se baseia o pensamento mítico? Nas crenças, na aceitação da realidade 
como algo definitivo e acabado. O senso comum também se caracteriza por essa 
adaptação do pensamento à realidade e a uma idéia comum. Podemos perceber 
que a vida em grupo e em comunidade influencia as ações, as atitudes e o 
pensamento das pessoas; a maioria dos indivíduos pensa e age de forma semelhante 
e até mecânica. Nesse agir e pensar é que se manifesta o senso comum, dificultando 
o pensamento crítico e investigativo. Em nossa cultura, de forte descendência 
européia, o racismo é muito comum, presente no cotidiano das pessoas, nas piadas, 
brincadeiras, de forma tão mecânica e consensuada (em que todos concordam) que 
dificilmente abre espaço para um “por quê?”. 
 
 
 
 
 
O que você pensa a respeito desse assunto? Você questiona 
sobre por que, para que e como tem determinadas atitudes, falas ou 
pensamentos? Quando conseguimos fazer isso, estamos refletindo 
sobre nossas ações e, conseqüentemente, preparando-nos para 
mudar nosso modo de agir. 
cliente
Realce
cliente
Realce
cliente
Realce
 O pensamento filosófico e a ética 
39 
 
 
 
Dessa forma, percebemos que, para fazer uma reflexão ética, precisamos exercitar o 
pensamento filosófico, que nada mais é do que o pensamento crítico diante das 
idéias e costumes aceitos em nossa cultura. Na próxima seção, vamos compreender 
como acontece a relação entre ética e filosofia. 
 
 
 
 
SEÇÃO 2 
O surgimento da ética na filosofia 
 
Vários foram os filósofos que se preocuparam em entender e analisar as questões 
éticas. 
 
Sócrates foi um deles, conforme já mencionamos; foi um dos primeiros a fazer uma 
reflexão ética sobre os valores e as crenças das pessoas. Propôs a busca dos valores 
universais pela razão e a idéia de que já nascemos com o conhecimento dentro de 
nós. Quando sugeria: “conhece-te a ti mesmo”, Sócrates convidava os seus 
concidadãos a voltarem-se para dentro de si, ignorar os mitos e as determinações 
das verdades impostas pelas autoridades; ao afirmar “só sei que nada sei”, 
convocava os seus companheiros à reflexão constante sobre os acontecimentos do 
mundo à sua volta – é preciso educar-se para não se deixar manipular pelos outros; 
para isso, a educação deve cuidar da alma, ou seja, cultivar a razão. 
 
Perceba como é relevante o pensamento de Sócrates para a ética e, em especial, 
para a nossa atualidade. Sócrates acreditava que o conhecimento deveria, 
automaticamente, provocar o auto-conhecimento, ou seja, deveria levar o indivíduo 
a refletir e questionar suas certezas e idéias. Seu pensamento é uma defesa do 
diálogo e da compreensão ao outro e ao novo. 
 
 
[...] ao indagar o que são a virtude e o bem, Sócrates realiza na 
verdade duas interrogações. Por um lado, interroga a sociedade 
para saber se o que ela costuma considerar virtuoso e bom 
corresponde efetivamente à virtude e ao bem; e, por outro lado, 
interroga os indivíduos para saber se, ao agir, possuem 
efetivamente consciência do significado e da finalidade de suas 
ações, se seu caráter ou sua índole são realmente virtuosos e 
bons. A indagação ética socrática dirige-se, portanto, à sociedade 
e ao indivíduo. (CHAUI, 2003, p. 311). 
 
 
Vemos, aqui, a manifestação de um vínculo indissociável entre reflexão filosófica e 
ética. Observe que Sócrates levava as pessoas a questionarem suas próprias 
compreensões e idéias sobre o bem, o mal, o certo e o errado. 
 
A questão da ética assume uma primeira sistematização, um pensamento mais 
elaborado teoricamente com Aristóteles. Teria sido ele o primeiro filósofo a pesquisar 
os princípios da ação humana por meio de uma reflexão acerca da diferença entre 
conhecimento teórico e prático, pela constatação de que o saber relacionado às coisas 
humanas não poderia ser demonstrado teoricamente, como na física ou na 
matemática. 
cliente
Realce
Ética e Sociedade 
40 
 
 
 
 
 
Aristóteles percebeu que seria necessário pensar em uma nova ciência que se 
aprofundasse sobre as ações e intenções do homem. 
 
 
 
 
 
O comportamento humano é, muitas vezes, inexplicável pela 
ciência e não podemos subordiná-lo ao conhecimento científico. O 
ser humano é um ser com muitas dimensões, imaginação, sonhos, 
ilusões, que fogem à exatidão da ciência. 
 
 
 
Sabemos que em cada ambiente cultural e social e em distintos momentos da 
história humana podemos perceber uma gama de valores voltados a discutir os 
procedimentos do homem sob o ponto de vista do certo e do errado, do justo e do 
injusto. A especificidade da reflexão filosófica sobre a ética está no fato de que os 
princípios éticos não podem partir de princípios exatos, como em outras áreas do 
conhecimento. As ações do homem podem ser consideradas boas em um momento 
e ruins em outro; em cada período historico, elabora-se uma determinada reflexão 
sobre a ética. 
 
Essas reflexões vão construindo o campo específico da ética e nos ajudando a 
entender que a ética não pode se preocupar em definir de forma exata e definitiva 
os modelos de ações e comportamentos humanos; precisa se fundamentar numa 
análise sociológica e antropológica, identificando as características de cada período 
histórico e de cada modelo de sociedade. 
 
Na Idade Média, por exemplo, a sociedade organizava-se em torno da Igreja, a 
grande detentora do poder político, social e religioso. Os princípios éticos da época, 
alicerçados na ótica cristã, enfatizavam a revelação dos Livros Sagrados; o Pai, o 
Filho e o Espírito Santo determinavam as normas de conduta. Jesus torna-se o 
grande mensageiro de uma nova ética, a ética do amor ao próximo, porém essa 
ética foi conspurcada pelos juízos de valores de seus representantes, que 
distorceram a pureza do cristianismo primitivo: o amor ao próximo presente nos 
discursos de Cristo foi sufocado pela ganância, pelo poder que a manipulação da fé 
proporcionava aos ocupantes dos altos cargos religiosos. O século XVI sofre a 
pressão do protestantismo, em que alguns católicos reagem às determinações da 
Igreja de Roma. Foram chamados de “protestantes” por questionarem alguns 
procedimentos, decisões e determinações da Igreja Romana. Para os protestantes, a 
ética é baseada nos valores éticos; a base para o agir ético está nas relações com o 
mundo e com as pessoas que nele estão, e não na relação com o divino ou o 
sagrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conspurcada:

Outros materiais