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COLIDÊNCIA DE NORMAS NO TEMPO E A ESTABILIDADE DOS DIREITOS SUBJETIVOS

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	CURSO: Direito	
DISCIPLINA:	introdução ao estudo do direito
PERÍODO MINISTRADO/SEMESTRE/ANO:	2º/2013
PROFESSOR:	Juliano Vieira Alves
COLIDÊNCIA DE NORMAS NO TEMPO E A ESTABILIDADE DOS DIREITOS SUBJETIVOS
“um dos mais graves danos que o Estado pode infligir aos seus cidadãos é submetê-los a vidas de perpétua incerteza”�
Introdução e localização do tema
José Afonso da Silva lê, na Constituição Federal, QUATRO tipos de segurança jurídica:
1) SEGURANÇA COMO GARANTIA
a) inviolabilidade do direito à segurança – art. 5º, caput
b) segurança do domicílio – art. 5º, XI
c) segurança das comunicações pessoais – art. 5º, XII
d) segurança em matéria tributária – art. 150
d.1) legalidade – inciso I
d.2) igualdade entre contribuintes – inciso II
d.3) anterioridade – inciso III, “a” e “b”
d.4.) proibição do confisco – inciso IV
2) SEGURANÇA POR MEIO DO DIREITO
a) segurança do Estado – defesa do Estado
a.1) defesa do território contra invasão estrangeira – art. 34, II e 137, II
a.2) defesa da soberania nacional – 91
a.3) defesa da Pátria – 142
b) segurança pessoal
b.1) técnica de segurança pública – art. 144
b.2) garantias penais – art. 5º, XXXVII e XLVII e LXXV
3) SEGURANÇA COMO DIREITO SOCIAL
a) ações dos Poderes Públicos relativos à saúde, à previdência e à assistência social – art. 194
b) seguro social de filiação obrigatória: previdência – art. 201
4) por último SEGURANÇA COMO PROTEÇÃO AOS DIREITOS SUBJETIVOS
QUE É O TEMA DA AULA
“A segurança jurídica dos direitos subjetivos consiste no ‘conjunto de condições que tornam possível às pessoas o conhecimento antecipado e reflexivo das consequências diretas de seus atos e de seus fatos à luz da liberdade reconhecida’. Uma importante condição da segurança jurídica, neste caso, está na relativa certeza de que as relações realizadas sob o império de uma norma devem perdurar ainda quando tal norma seja substituída” (SILVA, 2004, p. 19).
Relação com o Estado Democrático de Direito:
há de se assegurar a segurança jurídica dos direitos subjetivos, sua proteção diante de mutações formais do direito positivado, proteger a “relativa certeza de que as relações realizadas sob o império de uma norma devem perdurar ainda quando tal norma seja substituída”, sob pena de desrespeito ao princípio da segurança das relações jurídicas.
“A segurança jurídica decorre diretamente do Estado Constitucional de Direito” (TAVARES, 2012, p. 765)
“Sob o fundamento de que a lei nova traduz os novos anseios sociais, é fórmula aperfeiçoada de justiça, alguns já defenderam a tese de que a lei nova deveria ter aplicação retroativa, isto é, não apenas ser aplicada ao presente, mas igualmente aos fatos pretéritos. Quando estudamos os princípios de segurança jurídica, verificamos que a irretroatividade da lei é fator de grande importância na proteção do indivíduo; que é uma garantia contra a arbitrariedade; que é um princípio de natureza moral. Se fosse admitida a retroatividade como princípio absoluto, não haveria Estado de Direito, mas o império da desordem” (NADER, 2009, p, 252).
“Certo é que, havendo, ou não, menção expressa a um direito à segurança jurídica, de há muito, pelo menos no âmbito do pensamento constitucional contemporâneo, se enraizou a idéia de que um autêntico Estado de Direito é sempre também – pelo menos em princípio e num certo sentido – um Estado de segurança jurídica, já que, do contrário, também o ‘governo das leis’ (até pelo fato de serem expressão da vontade política de um grupo poderá resultar em despotismo e toda a sorte de iniqüidades” (SARLET, 2004. p. 90).
Nota 6, do autor: “Não é por nada que o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, em recentíssimo julgado, reiterou o seu já consagrado entendimento sufragando a idéia de que a segurança jurídica constitui um dos elementos nucleares do princípio do Estado de Direito, no sentido de que o particular encontra-se protegido contra leis retroativas, que afetem os seus direitos adquiridos, evitando assim que venha a ter frustrada a sua confiança na ordem jurídica, já que segurança jurídica significa, em primeira linha, proteção de confiança, que, por sua vez, possui hierarquia constitucional (BverfGE = Coletânea Oficial das Decisões do Tribunal Constitucional Federal, v. 105, 2002, p. 57)” (SARLET, 2004. p. 90).
	O direito à segurança jurídica abrange (TAVARES, 2012, p. 766)
	i) a garantia do direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada;
	ii) a garantia contra restrições legislativas dos direitos fundamentais (proporcionalidade) e, em particular, contra a retroatividade de leis punitivas;
	iii) o devido processo legal e o juiz natural;
	iv) a garantia contra a incidência do poder reformador da Constituição em cláusulas essenciais;
	v) o direito contra a violação de direitos;
	vi) o direito à efetividade dos direitos previstos e declarados solenemente;
	vii) o direito contra medidas de cunho retrocessivo (redução ou supressão de posições jurídicas já implementadas);
	viii) a proibição do retrocesso em matéria de implementação de direitos fundamentais;
	ix) o direito à proteção da segurança pessoal, social e coletiva;
	x) o direito à estabilidade máxima da ordem jurídica e da ordem constitucional
	A densificação do princípio (TAVARES, 2012, p. 765)
	A) a necessidade de certeza, de conhecimento do Direito vigente, e de acesso ao conteúdo desse Direito
	B) a calculabilidade, quer dizer, a possibilidade de conhecer, de antemão, as conseqüências pelas atividades e pelos atos adotados
	C) a estabilidade da ordem jurídica: existência de cláusulas de eternidade na Constituição dotadas de supremacia
SEGURANÇA DAS RELAÇÕES JURÍDICAS
	Tema
	Sucessão de leis no tempo
	
	Necessidade de assegurar segurança jurídica
	
	Estabilidade dos direitos subjetivos
	A segurança jurídica
(TAVARES, 2012, p. 765)
	Se projeta para o passado: irretroatividade das leis e das emendas à Constituição
	
	Se lança para o futuro: pretensão de estabilidade mínima do Direito e com seus institutos destinados a alcançar esta finalidade, como cláusulas pétreas, usucapião, etc
	Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
§1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
A regra é: a norma jurídica vige no presente em direção ao futuro: “Uma lei é feita para vigorar e produzir seus efeitos para o futuro” (SILVA, 2008, p. 433).
Entretanto, a eficácia (possibilidade de produção de efeitos) e a incidência (concreta produção de efeitos criados na realidade social) concreta podem voltar para o passado.
	O LIMITE TEMPORAL
	- pode vir demarcado ou não
	- às vezes
	O texto delimita o tempo
	
	É feita para regular situação transitória (decorrida a situação, perde a vigência e, em consequência, a eficácia)
	O mais comum: a lei só perde o vigor quando outra a revogue
	Expressamente
	
	Tacitamente
Não se pode concluir, a partir da leitura do dispositivo constitucional que a Lei somente alcança validamente os fatos que ocorrem posteriormente à data da sua vigência: “...as leis podem em princípio retroagir, deixando resguardadas desta ação todas a realidades mencionadas no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, como também podem em princípio não retroagir, deixando ao abrigo de uma excepcional ação retroativa estas mesmas realidades. Nada predetermina, pois, a nossa Constituição, acerca da matéria” (José EduardoMartins Cardozo, apud TAVARES, 2012, p. 767).
“A Constituição não determina, com efeito, que a lei não deve ser retroativa. O que ela prescreve é que a lei não poderá retroagir em prejuízo de direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada” (Francisco Campos. Direito Administrativo, vol. II, Freitas Bastos S/A, Rio de Janeiro, 1958, p. 12 - citado pelo Ministro Eros Grau na ADI 3105, fl. 254 do acórdão).
A grande questão é, então: sobrevindo lei nova revogando aquela sob cujo império se formara o direito subjetivo, quais os efeitos dessa nova lei sobre o referido direito subjetivo? “Prevalece a situação subjetiva constituída sob o império da lei velha, ou, ao contrário, fica ela subordinada aos ditames da lei nova?” (SILVA, 2008, p. 434)
	Segurança jurídica
	versus
	Possibilidade/necessidade de mudança
PERGUNTA DA AULA: “A norma mais recente só tem vigor para o futuro ou regula situações anteriormente constituídas? A nova norma repercute sobre a antiga atingindo os fatos pretéritos já consumados sob a égide da norma revogada, afetando os efeitos produzidos de situações já passadas ou incidindo sobre efeitos presentes ou futuros de situações pretéritas?” (DINIZ, 2009, p. 36).
POSSÍVEL RESPOSTA: “A novel lei só deverá incidir sobre os fatos que ocorrerem durante sua vigência, pois não haverá como compreender que possa atingir efeitos já produzidos por relações jurídicas resultantes de fatos anteriores à sua entrada em vigor” (DINIZ, 2010, p. 206).
DOIS SÃO OS CRITÉRIOS PARA SOLUCIONAR A QUESTÃO (DINIZ, 2009, pp. 36-37).
A) DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Elaboradas pelo legislador
Concilia a nova norma com as relações jurídicas já estabelecidas
“São disposições que têm vigência temporária, com o objetivo de resolver e evitar os conflitos ou lesões que emergem da nova lei em confronto com a antiga” (DINIZ, 2009, p. 37).
Caso 1: Lei nº 8.245/1991 - Dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a elas pertinentes - Art. 76. Não se aplicam as disposições desta lei aos processos em curso.
Caso 2: Código Civil - art. 2.028 do Código Civil. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
CLÁUSULAS DE TRANSIÇÃO
Em decorrência do princípio da segurança jurídica, Gilmar Mendes defende a adoção de cláusulas de transição nos casos de mudança radical de um dado instituto ou estatuto jurídico. Por várias vezes, ele denunciou “alguma pobreza nesse modelo binário: direito adquirido/expectativa de direito”. Foi o que afirmou no seu pronunciamento na ADI 3104 que recebeu a seguinte ementa:
O CASO DA APOSENTADORIA: CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. ART. 2º E EXPRESSÃO '8º' DO ART. 10, AMBOS DA EMENDA CONSTITUCIONAL N. 41/2003. APOSENTADORIA. TEMPUS REGIT ACTUM. REGIME JURÍDICO. DIREITO ADQUIRIDO: NÃO-OCORRÊNCIA. 1. A aposentadoria é direito constitucional que se adquire e se introduz no patrimônio jurídico do interessado no momento de sua formalização pela entidade competente. 2. Em questões previdenciárias, aplicam-se as normas vigentes ao tempo da reunião dos requisitos de passagem para a inatividade. 3. Somente os servidores públicos que preenchiam os requisitos estabelecidos na Emenda Constitucional 20/1998, durante a vigência das normas por ela fixadas, poderiam reclamar a aplicação das normas nela contida, com fundamento no art. 3º da Emenda Constitucional 41/2003. 4. Os servidores públicos, que não tinham completado os requisitos para a aposentadoria quando do advento das novas normas constitucionais, passaram a ser regidos pelo regime previdenciário estatuído na Emenda Constitucional n. 41/2003, posteriormente alterada pela Emenda Constitucional n. 47/2005. 5. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente – ADI 3104, Relatora: Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 26/09/2007.
Ele acompanhou a Relatora, mas assinalou: “em se tratando da chamada não-existência de direito adquirido a um dado regime jurídico, podemos ter abusos notórios. Em regime de aposentadoria, é muito fácil imaginar. O indivíduo que esteja a inaugurar a sua vida funcional, se se altera o regime jurídico, pouco se lhe dá. Isso não tem nenhum reflexo em nenhum aspecto do seu patrimônio sequer afetivo. Outra é a situação para aquele que está em fim de carreira e, eventualmente, esperando cumprir os últimos dias, quando se dá a mudança do regime, eventualmente, acrescentando dez novos anos”.
Seu posicionamento jurisdicional é coerente com sua doutrina. Gilmar Mendes afirma: “Assim, ainda que se não possa invocar a idéia de direito adquirido para a proteção das chamadas situações estatutárias ou que se não possa reivindicar direito adquirido a um instituto jurídico, não pode o legislador ou o Poder Público em geral, sem ferir o princípio da segurança jurídica, fazer tabula rasa das situações jurídicas consolidadas ao longo do tempo” (MENDES, 2013, pp. 380).
“o evento pode ser doloroso, mas não tem proteção contra a lei nova (é por isso que em casos de alterações de leis desse tipo – aposentadoria adquirida por tempo de serviço – a boa técnica manda que se coloque a lei nova em vigor somente após alguns anos ou que a lei nova assegure certos direitos – proporcionais, por exemplo – para aqueles que ainda estavam na expectativa” (NUNES, 2009, p. 244).
B) PRINCÍPIOS DA RETROATIVIDADE E DA IRRETROATIVIDADE
É o tema da aula
Usado na ausência de norma transitória
	Norma
(DINIZ, 2009, p. 37)
	Retroativa
	Atinge os efeitos de atos jurídicos praticados sob o império da revogada
	
	Irretroativa
	Não se aplica a qualquer situação jurídica constituída anteriormente
“A retroatividade das leis desmente a confiança que se teria de depositar no ordenamento jurídico, sendo causadora direta de grave insegurança jurídica” (TAVARES, 2012, p. 767)
POLÊMICA DO TEMA
A aplicação de leis novas às relações já estabelecidas é um tema polêmico: “É possível que a aplicação da lei no tempo continue a ser um dos temas mais controvertidos do Direito hodierno” (MENDES, 2013, p. 352)
"O Direito Intertemporal é constituído pelo conjunto de normas e princípios jurídicos que têm por finalidade resolver as questões suscitadas pela sucessão de duas leis no tempo, relacionadas com a determinação do regime jurídico aplicável às situações jurídicas que estejam pendentes no momento da substituição de uma lei por outra. São problemas de elevado interesse prático, mas que infelizmente são complexos" (NORONHA, 2005).
	O direito intertemporal trata da situação jurídica intermediária entre (NORONHA, 2005):
	a) fatos passados que estiverem definitivamente extintos, não sendo mais possível alterar sequer as conseqüências jurídicas que tiverem produzido
	b) situações jurídicas e os fatos que surgirem somente após a lei nova, sem nenhum ponto de contato com situações e fatos anteriores.
Duas doutrinas principais sobre o direito transitório
TEORIA SUBJETIVA (direito adquirido)
Idealizada pelo italiano Carla Francesco Gabba, que ganhou a rubrica teoria subjetiva
pretende diferenciar o direito adquirido, as expectativas de direito e as faculdades jurídicas abstratas
usa o direito adquirido para estabelecer os limites para incidência da lei nova
Caio Mário da Silva Pereira: Gabba traça a "a distinção entre o direito adquirido e as meras expectativas de direito, por um lado, e as faculdades jurídicas abstratas, por outro lado", sustentando que as leis novas não podem atingir o direito adquirido, embora, "ao revés, as leis que dizem respeito à existência dos direitos, à sua não existência, ou ao seu modo de ser, têm aplicação retroativa, porque não afetam os direitos adquiridos" (apud AZEVEDO, 2011)
Gabba. Teoria della Retroattività delle Leggi, 1868, p. 191: “É adquirido todo direito que: A) é consequência de um fato idôneo a produzi-lo, em virtude da lei do tempo no qual o fato se realizou, embora a ocasião de fazê-lovaler não se tenha apresentado antes da atuação de uma lei nova a respeito do mesmo, e que B) nos termos da lei sobre o impérito da qual se verificou o fato de onde se origina, passou imediatamente a fazer parte do patrimônio de quem o adquiriu” (apud, BARROSO, 2004, p. 150, nota nº 41).
A orientação de Gabba para os elementos caracterizadores
1) ter sido produzido por um fato idôneo para a sua produção
2) ter se incorporado definitivamente ao patrimônio do titular
TEORIA OBJETIVA (fato passado ou fato realizado)
A segunda teoria (objetiva), de Roubier, opõe-se à teorização em torno do direito adquirido. 
prefere discorrer sobre as situações jurídicas
traça uma distinção entre efeito retroativo e efeito imediato da lei
A lei é retroativa quando tiver que ser aplicada ao passado.
A lei é de efeito imediato quando tiver de ser aplicada ao presente.
Para descobrir qual dos efeitos que uma lei tem em relação a um fato, esse deve ser classificado em:
fato passado (facta praeterita),
fato pendente ou situação em curso (facta pendentia),
ou fato futuro (facta futura).
E ainda, nas situações pendentes, diferencia as partes anteriores e as partes posteriores à nova lei.
com isso, pode a nova lei ser aplicada às situações em curso posteriores a nova lei, o que não seria retroatividade, mas sim aplicação imediata.
A lei seria retroativa se se aplicasse aos fatos passados e, em relação às situações em curso, é necessário distinguir as partes anteriores à lei nova e as posteriores, pois aquelas seriam atingidas com retroatividade e estas apenas com efeito imediato (ROUBIER, Paul. Le droit transitoire. Paris: Dalloz/Sirey, 1960. p. 177). O efeito imediato para Roubier constitui o efeito comum das leis que deveriam apenas se aplicar aos fatos posteriores à sua vigência e o efeito retroativo, excepcional, em virtude da vedação prescrita pelo art. 2.º do Código Civil francês" (BIZARRIA, 2008).
o próprio Roubier propõe uma ressalva à sua teoria no caso dos contratos: eles devem ser regidos pela lei que vigorava quando da sua constituição, salvo se a nova lei afirmar expressamente a sua aplicação, ou quando a nova lei for de ordem pública.
RESUMO: "a doutrina dos direitos adquiridos e doutrina do facto passado. Resumidamente, para a primeira doutrina seria retroactiva toda a lei que violasse direitos já constitutídos (adquiridos); para a segunda seria retroactiva toda lei que se aplicasse a factos passados antes de seu início de vigência. Para a primeira a Lei nova deveria respeitar os direitos adquiridos, sob pena de retroatividade; para a segunda a lei nova não se aplicaria (sob pena de retroatividade) a fatos passados e aos seus efeitos (só se aplicaria a factos futuros)" (Machado, João Baptista. Introdução ao Direito e ao discurso legitimador, Coimbra, 1983, p. 232.
DIVERGENCIA
POSIÇÃO 1: Para o Ministro Moreira Alves, domina, na nossa tradição, a teoria subjetiva do direito adquirido:
“Por fim, há de salientar-se que as nossas Constituições, a partir de 1934, e com exceção de 1937, adotaram desenganadamente, em matéria de direito intertemporal, a teoria subjetiva dos direitos adquiridos e não a teoria objetiva da situação jurídica, que é a teoria de ROUBIER. Por isso mesmo, a Lei de Introdução ao Código Civil, de 1942, tendo em vista que a Constituição de 1937 não continha preceito da vedação da aplicação da lei nova em prejuízo do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada, modificando a anterior promulgada com o Código Civil, seguiu em parte a teoria de ROUBIER, e admitiu que a lei nova, desde que expressa nesse sentido, pudesse retroagir. Com efeito, o artigo 6º rezava: "A lei em vigor terá efeito imediato e geral. Não atingirá, entretanto, salvo disposição expressa em contrário, as situações jurídicas definitivamente constituídas e a execução do ato jurídico perfeito". Com o retorno, na Constituição de 1946, do princípio da irretroatividade no tocante ao direito adquirido, o texto da nova Lei de Introdução se tornou parcialmente incompatível com ela, razão por que a Lei nº 3.238/57 o alterou para reintroduzir nesse artigo 6º a regra tradicional em nosso direi to de que ‘a lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o a to jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada’. Como as soluções, em matéria de direito intertemporal, nem sempre são coincidentes, conforme a teoria adotada, e não sendo, a que ora está vigente em nosso sistema jurídico a teoria objetiva de ROUBIER, é preciso ter cuidado com a utilização indiscriminada dos critérios por estes usados para resolver as diferentes questões de direito intertemporal" (ADI 493, Relator Ministro Moreira Alves, p. 724 (750).
POSIÇÃO 2: Maria Helena Diniz
“A Lei de Introdução adotou o critério de Roubier ao prescrever que a lie em vigor terá efeito imediato geral atingindo os fatos futuros (facta futura), não abrangendo os fatos pretéritos (facta praeterita). Em relação aos facta pendentia, nas partes anteriores à data da mudança da lei não haveria retroatividade; nas posteriores a lei nova, se aplicável, terá efeito imediato. Nos contratos em curso há uma zona intermediária, em que são excluídos os efeitos imediatos e retroativos. Os contratos em curso, como os de execução continuada, apanhados por uma lei nova, são regidos pela lei sob cuja vigência foram estabelecidos (tempus regit actum), embora tenham havido julgados entendendo constitucionais normas de emergência, em matéria de locação, atingindo contratos feitos anteriormente” (DINIZ, 2010, p. 210)
GRAUS DE RETROATIVIDADE
	Exemplo de Fábio de Oliveira Azevedo: Duas pessoas firmam um contrato (ato jurídico perfeito) prevendo multa de 10%. O contrato foi assinado em 1991 com base no CDC (art. 52 §1º). O dispositivo é alterado posteriormente pela Lei nº 9.268/96, sendo o percentual reduzido para 2%. A pergunta de direito intertemporal é: qual a norma que incidirá em um atraso ocorrido hoje? Do contrato? Da lei?
	retroatividade máxima (restitutória)
	quando a lei nova abrange a coisa julgada (sentença irrecorrível) ou os fatos jurídicos consumados.
	alcança o direito adquirido e afeta os negócios jurídicos findos
	A retroatividade operava radicalmente no passado, até a data referida, refazendo mesmo as partilhas definitivamente julgadas.
	alcança os fatos consumados no passado
	O atraso ocorreu em 1995 e a prestação foi paga com a multa prevista no contrato (10%)
	Caso o devedor pretenda receber de volta a diferença de 8% com base na redução promovida pela nova lei, estará buscando uma retroatividade em grau máximo.
	
	retroatividade média
	quando a lei nova atinge os direitos exigíveis, mas não realizados antes da sua vigência
	alcança os direitos já existentes, mas ainda não integrados no patrimônio do titular
	alcançam os fatos consumados no passado nem as prestações anteriormente vencidas e não pagas
	Exemplo: uma lei que diminuísse a taxa de juros e se aplicasse aos já vencidos, mas não pagos.
	Atraso ocorrido em 1995, mas o pagamento ainda não foi feito. Só em 1996, quando já esta em VIgor a lei nova, e que resolve o devedor pagar a sua dívida.
	Como o atraso é fato anterior e o pagamento é evento posterior.
	Aplicar a lei nova (2%) e não a do contrato (10%) implica em retroagir em grau médio
	
	retroatividade mínima (temperada ou mitigada):
	vigência imediata da lei alcançando os efeitos futuros de fatos passados
	a lei nova atinge apenas os efeitos dos fatos anteriores, verificados após a data em que ela entra em vigor
	confunde com o efeito imediato da lei e só implica sujeitar à lei novas consequências a ela posteriores de atos jurídicos praticados na vigência da lei anterior
	em 2008 ocorre o atraso no pagamento.
	Se for aplicado o percentual de 2% para esse atraso posterior à lei nova haverá uma retroatividade em grau mínimo.
Fábio de Oliveira Azevedo explica o seu próprio exemplo
Há um ponto em comum entre osgraus de retroatividade máxima e média: Nos dois casos, a lei nova está sendo aplicada a um fato (atraso ocorrido em 1995) que é anterior à sua vigência, e por isso é incontroversa a impossibilidade de aplicação desses graus de retroatividade.
na retroatividade mínima, a lei nova está sendo aplicada a um fato posterior à sua vigência.
muitos autores não enxergam retroatividade neste último exemplo, mas uma simples aplicação imediata da nova lei.
Sobre a retroatividade mínima, há dois posicionamentos doutrinários
PRIMEIRO
Acompanham a teoria objetiva de Roubier: é o entendimento majoritário entre os civilistas: "afirma que a retroatividade mínima é compatível com o sistema brasileiro, por representar, em sentido técnico, não uma retroatividade, mas uma aplicação imediata da lei nova aos fatos posteriores à sua vigência, só havendo retroatividade quando a aplicação inicidir nos acontecimentos anteriores" (AZEVEDO, 2011, p. 74)
SEGUNDO
compreensão do STF - O Supremo rejeita a retroatividade em grau mínimo se a aplicação da lei nova a fatos posteriores violar a sua causa, isto é: ato jurídico perfeito, direito adquirido ou a coisa julgada anterior.
Para Fábio de Oliveira Azevedo este seria o posicionamento que nos parece compatível com o sistema adotado pelo legislador constituinte originário: "parece falsa a afirmação de que a aplicação da lei nova imediatamente não implica em retroatividade, pois, no exemplo que examinamos, só está o devedor vinculado ao pagamento da sua prestação, com a conseqüente aplicação da "multa", porque o contrato que assinou assim estabelece. Aplicar o percentual da lei nova de 2% ao atraso ocorrido posteriormente à sua vigência, realmente faz incidir a lei nova (eficácia imediata) a um acontecimento posterior a ela (atraso). Mas só até aqui podemos concordar com essa posição dominante. Ao aplicar esse percentual ao atraso futuro, atinge-se indiretamente a causa para esse pagamento, que é um acontecimento ocorrido anteriormente à mora (o contrato e a sua cláusula penal). Daí haver retroatividade" (AZEVEDO, 2011, p, 75)
A ADOÇÃO DO CONCEITO TRÍPLICE
Existem doutrinadores que entendem ser suficiente a referência ao direito adquirido – o ato jurídico perfeito e a coisa julgada estariam inseridas nele. Por exemplo Clóvis BEVILÁQUA, Teoria Geral do Direito Civil, 1976, pp. 26/27: “Em rigor, tudo se reduz ao respeito assegurado aos direitos adquiridos; mas, como no ato jurídico perfeito e na coisa julgada se apresentam momentos distintos, aspectos particulares do direito adquirido, foi de vantagem, para esclarecimento da doutrina, que se destacassem esses casos particulares e deles se desse a justa noção” (apud, BARROSO, 2004, p. 155, nota nº 57 - grifei).
“A coisa julgada é, em certo sentido, um ato jurídico perfeito; assim já estaria contemplada na proteção deste, mas o constituinte a destacou como um instituto de enorme relevância na teoria da segurança jurídica” (SILVA, 2004, p. 22).
Para André Ramos Tavares “o direito adquirido é uma decorrência da preservação do ato jurídico perfeito” (TAVARES, 2012, p. 769)
A tripartição conceitual, entretanto, possui vantagens (MENDES, 2013, p. 355) – a referência tríplice possui objetivo didático e simplificador (BARROSO, 2004, p. 155):
Dadas situações jurídicas que produzem efeitos no futuro, eventualmente no regime de nova lei, a referência ao ato jurídico perfeito permite definir o fato com maior clareza
Exs: capacidade para a prática de ato jurídico – forma adotada para a prática de determinados atos: exigência de escritura pública para elaborar testamento.
IRRELEVÂNCIA DA NOÇÃO DE LEI DE ORDEM PÚBLICA
Considerando a diferença constitucional do direito adquirido, não é possível acionar uma “regra de ordem pública” para excepcionar o instituto
“Qualquer que seja a lei, seja qual for o adjetivo que se lhe vier a agregar, está obrigada a respeitar essas garantias, mesmo porque nenhum sentido haveria em admitir-se que a lei, conferindo a si própria determinada qualificação, pudesse afastar a garantia constitucional” (BARROSO, 2004, p. 147)
“...a lei não deve retroagir, porque a simples invocação de um motivo de ordem pública não basta para justificar a ofensa a direito adquirido cuja inviolabilidade, no dizer de Gabba, é também um forte motivo de interesse público” (Reynaldo Porchat, apud MENDES, 2013, p. 353).
Caio Mário da Silva Pereira: “costuma-se dizer que as leis de ordem pública retroagem. Há uma distorção de princípio nesta afirmativa. Quando a regra da não-retroatividade é de mera política legislativa, sem fundamento constitucional, o legislador, que tem o poder de votar leis retroativas, não encontra limites ultralegais à sua ação, e, portanto, tem a liberdade de estatuir efeito retrooperante para a norma de ordem pública, sob o fundamento de que esta se sobrepõe ao interesse individual, Mas, quando o princípio da não-retroatividade é dirigido ao próprio legislador, marcando os confins da atividade legislativa, é atentatória da Constituição a lei que venha ferir direitos adquiridos, ainda que sob inspiração da ordem pública, A tese contrária encontra-se defendida por escritores franceses ou italianos, precisamente porque, naqueles sistemas jurídicos, o princípio da irretroatividade é dirigido ao juiz e não ao legislador” (apud AZEVEDO, 2011, p. 75).
“O disposto no artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva” – ADI 493, Relator: Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992.
	É certo, outrossim, que a dimensão constitucional que se confere ao princípio do direito adquirido, entre nós, não permite que se excepcionem da aplicação do princípio as chamadas regras de ordem pública.
Como destacado por Moreira Alves, há muito Reynaldo Porchat questionava a correção desse entendimento, conforme se lê nas seguintes passagens de sua obra:
"Uma das doutrinas mais generalizadas e que de longo tempo vem conquistando foros de verdade, é a que sustenta que são retroativas as "leis de ordem pública" ou as "leis de direito público". Esse critério é, porém, inteiramente falso, tendo sido causa das maiores confusões na solução das questões de retroatividade. Antes de tudo, cumpre ponderar que é dificílimo discriminar nitidamente aquilo que é de ordem p6blica e aquilo que é de ordem privada. No parágrafo referente ao estudo do direito público e do direito privado, já salientamos essa dificuldade, recordando o aforisma de Bacon "jus privatum sub tutela juris publici latet". O interesse público e o interesse privado se entrelaçam de tal forma, que as mais das vezes não é possível separá-los. E seria altamente perigoso proclamar como verdade que as leis de ordem pública ou de direito público têm efeito retroativo, porque mesmo diante dessas leis aparecem algumas vezes direitos adquiridos, que a justiça não permite que sejam desconhecidos e apagados. O que convém ao aplicador de uma nova lei de ordem pública ou de direito público, é verificar se, nas relações jurídicas já existentes, há ou não direitos adquiridos. No caso afirmativo a lei não deve retroagir, porque a sinples invocação de um motivo de ordem pública não basta para justificar a ofensa ao direito adquirido, cuja inviolabilidade, no dizer de Gabba, também um forte motivo de interesse público" (Porchat, Reynaldo. Curso Elementar de Di.reito Romano, valo I, 2 a ed., n2 528, São Paulo: Melhoramentos, São Paulo, 1937, págs. 338/339; Cf. também, ADI n. 493, Relator: Ministro Moreira Alves, RTJ 143, p. 724 (747)).
Na mesma linha, é a lição de Pontes de Miranda, ao afirmar:
‘A regra jurídica de garantia é, todavia, comum ao direi to privado e ao direi to público. Quer se trate de direito publico, quer se trate de direito privado, a lei nova não pode ter efeitos retroativos (critério objetivo), nem ferir direitos adquiridos (critériosubjetivo), conforme seja o sistema adotado pelo legislador constituinte. Se não existe regra jurídica constitucional de garantia, e sim, tão-só, regra dirigida aos juízes, só a cláusula de exclusão pode conferir efeitos retroativos, ou ofensivos dos direitos adquiridos, a qualquer lei" (Pontes de Miranda. Comentários à Constituição de 1967 com a Emenda n!? 1 de 1969, Tomo V, 2 a ed., 2ª tiragem, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1974, pág. 99).
Não discrepa dessa orientação Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, ao enfatizar que o problema da irretroatividade é comum ao direito público e ao direito privado (Bandeira de Mello, Oswaldo Aranha. Princípios Gerais de Direito Administrativo, vol. I, 2ª ed., 1979, págs. 333 e segs.).
Daí concluir Moreira Alves que o princípio do direito adquirido ‘se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direi to privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva’ (ADI 493).
Nesse sentido é o voto por ele proferido na Representação de Inconstitucionalidade nº 1.451, verbis:
"Aliás, no Brasil, sendo o princípio do respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada de natureza constitucional, sem qualquer exceção a qualquer espécie de legislação ordinária, não tem sentido a afirmação de mui tos - apegados ao direi to de países em que o preceito é de origem meramente legal – de que as leis de ordem pública se aplicam de imediato alcançando os efeitos futuros do a to jurídico perfeito ou da coisa julgada, e isso porque, se se alteram os efeitos, é óbvio que se está introduzindo modificação na causar O que é vedado constitucionalmente" – voto do Ministro Eros Grau na ADI 3105 – fls. 301/303.
DIREITO ADQUIRIDO
CONCEITO
“A doutrina ainda não fixou com precisão o conceito de direito adquirido” (SILVA, 2008, p. 434);
“É de difícil concretização a noção de direito adquirido” (TAVARES, 2012, p. 769)
“Não obstante as definições legais, os conceitos envolvem dificuldades interpretativas que a dogmática enfrenta em face da decidibilidade de conflitos. Por exemplo (...) se um trabalhador, quite com suas obrigações previdenciárias, solicita sua aposentadoria por tempo de serviço e, nesse interregno entre o ato de concessão e o pedido, sobrevém uma nova lei que altera o tempo de 30 para 35 anos ou que acaba com este tipo de aposentadoria, teria ele já um direito adquirido? Se a resposta for afirmativa no sentido de que ele já tinha preenchido o requisito da lei antiga (30 anos), qual a diferença em face do trabalhador para o qual faltava apenas um dia para cumprir o requisito? Teríamos nesse caso mera expectativa de direito que não estaria protegida pelo princípio do direito adquirido?” (FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio, 2012, p. 217).
“Direito adquirido, como o nome sugere, é o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito de direito. Em outros termos, o direito torna-se adquirido por consequência concreta e direta da norma jurídica ou pela ocorrência, em conexão com a imputação normativa, de fato idôneo, que gera a incorporação ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito” (NUNES, 2009, pp. 242/243)
	Direito adquirido é (RE 226855 – voto em preliminar):
	- o que se adquire em virtude da incidência de normas existentes no tempo em que ocorreu o fato;
	- a norma dá nascimento ao direito adquirido em favor de alguém;
	- só tem relevo quando aplicado em relação jurídica em que se discute direito intertemporal;
	- impede que a lei nova prejudique direito que se conseguiu com base em direito anterior.
o italiano Gabba lança a seguinte definição: "é adquirido todo direito que - a) é conseqüência de um fato idôneo a produzi-lo, em virtude da lei do tempo no qual o fato foi consumado, embora a ocasião de fazê-lo valer não se tenha apresentado antes da atuação de uma lei nova sobre o mesmo; e que - b) nos termos da lei sob cujo império se entabulou o fato do qual se origina, entrou imediatamente a fazer parte do patrimônio de quem o adquiriu" (apud GURGEL DE FARIA, 2006).
R. Limongi França: "é a conseqüência de uma lei, por via direta ou por intermédio de fato idôneo; conseqüência que, tendo passado a integrar o patrimônio material ou moral do sujeito, não se fez valer antes da vigência da lei nova sobre o mesmo objeto" (apud GURGEL DE FARIA, 2006).
José Afonso da Silva: "Para compreendermos melhor o que seja direito adquirido, cumpre relembrar o que se disse acima sobre o direito subjetivo: é um direito exercitável segundo a vontade do titular e exigível na via jurisdicional quando seu exercício é obstado pelo sujeito obrigado à prestação correspondente. Se tal direito é exercido, foi devidamente prestado, tornou-se situação jurídica consumada (direito consumado, direito satisfeito, extinguiu-se a relação jurídica que o fundamentava ... Se o direito subjetivo não foi exercido, vindo a lei nova, transforma-se em direito adquirido, porque era direito exercitável e exigível à vontade de seu titular. Incorporou-se no seu patrimônio, para ser exercido quando lhe conviesse. A lei nova não pode prejudicá-lo, só pelo fato do titular não o ter exercido antes" (apud GURGEL DE FARIA, 2006).
Luiz Alberto Gurgel de Faria: "Em resumo, direito adquirido é aquele que, já integrante do patrimônio de seu titular, pode ser exercido a qualquer momento, não podendo lei posterior, que tenha disciplinado a matéria de modo diferente, causar-lhe prejuízo" (GURGEL DE FARIA, 2006)
Não se pode olvidar que o legislador também cuidou da questão, no § 2.º, art. 6.º, da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro�: "Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem".
PORCHAT, Reynado. Da retroactividade das Leis Civis, 1909�, p. 32: “Direitos adquiridos são conseqüências de factos jurídicos passados, mas consequencias ainda não realisadas, que ainda não se tornaram de todo effectivas. Direito adquirido é, pois, todo o direito fundado sobre um facto juridico que já succedeu, mas que ainda não foi feito valer” (apud, BARROSO, 2004, p. 150, nota nº 41).
Algo que já se incorporou ao patrimônio e/ou à personalidade do sujeito de direitos sob o império de uma lei
Cria-se uma situação jurídica subjetiva – um direito subjetivo.
	DIREITO SUBJETIVO
	“...direito exercitável segundo a vontade de seu titular e exigível na via jurisdicional quando seu exercício é obstado pelo sujeito obrigado à prestação correspondente... Se o direito subjetivo não foi exercido, vindo a lei nova, transforma-se em direito adquirido, porque era direito exercitável e exigível à vontade de seu titular. Incorporou-se no seu patrimônio, para ser exercido quando conviesse ao seu titular. A lei nova (incluindo-se emendas constitucionais) não pode prejudicá-lo, só pelo fato de o titular não o ter exercido antes” (SILVA, 2008, p. 21).
Se a lei revogada produziu efeitos em favor de um sujeito, diz-se que ela criou uma situação jurídica subjetiva
	DIREITO SUBJETIVO
	É garantido jurisdicionalmente
	
	É um direito exigível na via jurisdicional
	
	Recebe proteção direta
	
	O “titular fica dotado do poder de exigir uma prestação positiva ou negativa” (SILVA, 2008, p. 433)
Se o direito subjetivo não foi exercido, ele se transforma em direito adquirido após a lei nova, pois
era direito exercitável e exigido à vontade do titular
incorporou-se ao patrimônio do titular, para ser exercido quando convier
	IMPORTANTE: “...o direito subjetivo vira direito adquirido quando lei nova vem alterar as bases normativas sob as quais foi constituído” (SILVA, 2008, p. 435).
A retroatividade justa e a retroatividade injusta: “Quando, ao executar-se uma lei nova qualquer, depara-se um direito adquirido que possa ser lesado, a lei não tem applicação ao caso, porque a retroactividadeseria injusta. Quando não se encontra direito adquirido, applica-se a lei, mesmo retroactivamente, porque a retroactividade é justa” (REYNALDO PORCHAT. Da retroactividade das leis civis, Duprat & Comp., São Paulo, 1909, p. 8 - citado pelo Ministro Eros Grau na ADI 3105, fl. 255 do acórdão).
Em resumo: uma vez adquirido o direito, não pode ser atingido pela norma nova;
EXEMPLO: Confira o conteúdo do art. 2º da Resolução Administrativa nº 1.046/2005 do Tribunal Superior do Trabalho, que deu nova redação à Resolução Administrativa 907/2000, estabelecendo os critérios definidores da atividade jurídica, a que se refere o art. 93, I, da Carta Magna: "A exigência de 3(três) anos de atividade jurídica para ingresso na magistratura tem aplicação a partir de 31/12/2004, inclusive aos concursos realizados antes dessa data, como também àqueles iniciados anteriormente e ainda não encerrados"�.
Já no caso de expectativa de direitos (mera possibilidade de aquisição de direitos) ainda dependendo da implementação de algumas circunstâncias – não se consumou o direito
Se não for direito subjetivo, a lei nova “corta” a situação jurídica no seu iter (SILVA, 2008, p. 435).
	ESQUEMA (BARROSO, 2004, p. 151)
	A) EXPECTATIVA DE DIREITO: o fato aquisitivo teve início, mas não se completou;
	B) DIREITO ADQUIRIDO: o fato aquisitivo já se completou, mas o efeito jurídico previsto na norma ainda não se produziu;
	C) DIREITO CONSUMADO: o fato aquisitivo já se completou e o efeito previsto na norma já se produziu integralmente.
A boa técnica recomenda que, para os casos de mudanças bruscas, a vacatio legis seja longa.
	Pronunciamentos relevantes sobre direito adquirido
	a) (...) a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal reconhece aos aposentados “direito adquirido aos proventos conforme a lei regente ao tempo da reunião dos requisitos da inatividade, ainda quando só requerida após a lei menos favorável”�;
	b) “Conversão de licença-prêmio não gozada em tempo de serviço. Direito adquirido antes da vigência da emenda constitucional 20/98. Conversão de licença-prêmio em tempo de serviço: direito adquirido na forma da lei vigente ao tempo da reunião dos requisitos necessários para a conversão”�;
	c) igualmente pacífico é o reconhecimento quanto ao direito à irredutibilidade de vencimentos como manifestação de um direito adquirido qualificado. Afirma-se que “dada a garantia de irredutibilidade, da alteração do regime legal de cálculo ou reajuste de vencimentos ou vantagens funcionais jamais poderá ocorrer a diminuição do quanto já percebido conforme o regime anterior, não obstante a ausência de direito adquirido à sua preservação”�;
	d) “não fere direito adquirido decisão que, no curso de processamento de pedido de licença de construção em projeto de loteamento, estabelece novas regras de ocupação do solo”�;
	e) o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, ao contrário do que sucede com as cadernetas de poupança, não tem natureza contratual, mas, sim, estatutária, por decorrer da Lei e por ela ser disciplinado. Assim, é de aplicar-se a ele a firme jurisprudência desta Corte no sentido de que não há direito adquirido a regime jurídico. Quanto à atualização dos saldos do FGTS relativos aos Planos Verão e Collor I (este no que diz respeito ao mês de abril de 1990), não há questão de direito adquirido a ser examinada, situando-se a matéria exclusivamente no terreno legal infraconstitucional”�
	f) "No ordenamento jurídico vigente, não há norma, expressa nem sistemática, que atribua à condição jurídico-subjetiva da aposentadoria de servidor público o efeito de lhe gerar direito subjetivo como poder de subtrair ad aetemum a percepção dos respectivos proventos e pensões à incidência de lei tributária que, anterior ou ulterior, os submeta à incidência de contribuição previdencial. Noutras palavras, não há, em nosso ordenamento, nenhuma norma jurídica válida que, como efeito específico do fato jurídico da aposentadoria, lhe imunize os proventos e as pensões, de modo absoluto, à tributação de ordem constitucional, qualquer que seja a modalidade do tributo eleito, donde não haver, a respeito, direito adquirido com o aposentamento" (ementa da ADI 3105).
"Concluindo pretenderem os autores a imutabilidade de um certo regime jurídico, afirma que a eleição por um novo modelo, implementado por emenda constitucional, implicou na alteração do regime jurídico previdenciário, contra o qual não pode ser invocado direito adquirido, segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal" (voto do Ministro Peluso na ADI 3105 - fl. 128 do acórdão).
	g) “Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 10.826/2003. Estatuto do Desarmamento. O direito do proprietário à percepção de justa e adequada indenização, reconhecida no diploma legal impugnado, afasta a alegada violação ao art. 5º, XXII, da CF, bem como ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido” (ADI 3.112, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2-5-2007, Plenário, DJ de 26-10-2007.)
	Fórmula de composição da remuneração - 
Ministros aposentados do Supremo Tribunal Federal: proventos (subsídios): teto remuneratório: pretensão de imunidade à incidência do teto sobre o adicional por tempo de serviço (ATS), no percentual máximo de 35% e sobre o acréscimo de 20% a que se refere o art. 184, III, da Lei 1711/52, combinado com o art. 250 da L. 8.112/90: mandado de segurança deferido, em parte. (...) 3. No tocante à magistratura - independentemente de cuidar-se de uma emenda constitucional - a extinção da vantagem, decorrente da instituição do subsídio em "parcela única", a nenhum magistrado pode ter acarretado prejuízo financeiro indevido. 4. Por força do art. 65, VIII, da LOMAN (LC 35/79), desde sua edição, o adicional cogitado estava limitado a 35% calculados sobre o vencimento e a representação mensal (LOMAN, Art. 65, §1º), sendo que, em razão do teto constitucional primitivo estabelecido para todos os membros do Judiciário, nenhum deles poderia receber, a título de ATS, montante superior ao que percebido por Ministro do Supremo Tribunal Federal, com o mesmo tempo de serviço (cf. voto do Ministro Néri da Silveira, na ADIn 14, RTJ 130/475,483). 5. Se assim é - e dada a determinação do art. 8º da EC 41/03, de que, na apuração do "valor da maior remuneração atribuída por lei (...) a Ministro do Supremo Tribunal Federal", para fixar o teto conforme o novo art. 37, XI, da Constituição, ao vencimento e à representação do cargo, se somasse a "parcela recebida em razão do tempo de serviço" - é patente que, dessa apuração e da sua aplicação como teto dos subsídios ou proventos de todos os magistrados, não pode ter resultado prejuízo indevido no tocante ao adicional questionado. 6. É da jurisprudência do Supremo Tribunal que não pode o agente público opor, à guisa de direito adquirido, a pretensão de manter determinada fórmula de composição de sua remuneração total, se, da alteração, não decorre a redução dela. 7. Se dessa forma se firmou quanto a normas infraconstitucionais, o mesmo se há de entender, no caso, em relação à emenda constitucional, na qual os preceitos impugnados, se efetivamente aboliram o adicional por tempo de serviço na remuneração dos magistrados e servidores pagos mediante subsídio, é que neste - o subsídio - foi absorvido o valor da vantagem. (...) V. Magistrados: acréscimo de 20% sobre os proventos da aposentadoria (Art. 184, III, da L. 1.711/52, c/c o art. 250 da L. 8.112/90) e o teto constitucional após a EC 41/2003: garantia constitucional de irredutibilidade de vencimentos: intangibilidade. 1. Não obstante cuidar-se de vantagem que não substantiva direito adquirido de estatura constitucional, razão por que, após a EC 41/2003, não seria possível assegurar sua percepção indefinida no tempo, fora ou além do teto a todos submetido, aos impetrantes, porque magistrados, a Constituição assegurou diretamente o direito à irredutibilidade de vencimentos - modalidade qualificada de direito adquirido, oponível às emendas constitucionaismesmas. 2. Ainda que, em tese, se considerasse susceptível de sofrer dispensa específica pelo poder de reforma constitucional, haveria de reclamar para tanto norma expressa e inequívoca, a que não se presta o art. 9º da EC 41/03, pois o art. 17 ADCT, a que se reporta, é norma referida ao momento inicial de vigência da Constituição de 1988, no qual incidiu e, neste momento, pelo fato mesmo de incidir, teve extinta a sua eficácia; de qualquer sorte, é mais que duvidosa a sua compatibilidade com a "cláusula pétrea" de indenidade dos direitos e garantias fundamentais outorgados pela Constituição de 1988, recebida como ato constituinte originário. 3. Os impetrantes - sob o pálio da garantia da irredutibilidade de vencimentos -, têm direito a continuar percebendo o acréscimo de 20% sobre os proventos, até que seu montante seja absorvido pelo subsídio fixado em lei para o Ministro do Supremo Tribunal Federal. (MS 24875, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em 11/05/2006)
	Benefícios da relação previdenciária –"1. No caso concreto, a recorrida é pensionista do INSS desde 04/10/1994, recebendo através do benefício nº 055.419.615-8, aproximadamente o valor de R$ 948,68. Acórdão recorrido que determinou a revisão do benefício de pensão por morte, com efeitos financeiros correspondentes à integralidade do salário de benefícios da previdência geral, a partir da vigência da Lei no 9.032/1995. 2. Concessão do referido benefício ocorrida em momento anterior à edição da Lei no 9.032/1995. No caso concreto, ao momento da concessão, incidia a Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991(...) 8. Levantamento da jurisprudência do STF quanto à aplicação da lei previdenciária no tempo. Consagração da aplicação do princípio tempus regit actum quanto ao momento de referência para a concessão de benefícios nas relações previdenciárias. (...) 9. Na espécie, ao reconhecer a configuração de direito adquirido, o acórdão recorrido violou frontalmente a Constituição, fazendo má aplicação dessa garantia (CF, art. 5º, XXXVI), conforme consolidado por esta Corte em diversos julgados" - RE 415454, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 08/02/2007.
	Transporte gratuito de policiais – Policiais civis do Estado do Espírito Santo alegavam que determinada norma ofendia direito adquirido da categoria, pois, desde 1953, utilizavam gratuitamente os serviços de transporte municipal e intermunicipal. Entretanto, o STF afirmou: "Servidores públicos não têm direito adquirido a regime jurídico" – ADI 2349, Relator: Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 31/08/2005.
	Aposentadoria especial – Comprovado o exercício de atividade considerada insalubre, perigosa ou penosa, pela legislação à época aplicável, o trabalhador possui o direito à contagem especial deste tempo de serviço. Seguindo essa orientação, a Turma negou provimento a recurso extraordinário interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS em que se alegava ofensa ao art. 5º, XXXVI, da CF, ao argumento de inexistência de direito adquirido à conversão do tempo de serviço especial para comum, em face do exercício de atividade insalubre elencada nos Decretos 53.831/64 e 83.080/79. Entendeu-se que o tempo de serviço deveria ser contado de acordo com o art. 57, § 3º, da Lei 8.213/91 (“O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade profissional sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão, seguindo critérios de equivalência estabelecidos pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, para efeito de qualquer beneficio.”), vigente à época da prestação dos serviços, e não pela Lei 9.032/95 que, alterando o citado parágrafo, exigiu, expressamente, a comprovação de efetiva exposição aos agentes nocivos através de laudo técnico. Precedentes citados: RE 367314/SC (DJU de 14.5.2004) e RE 352322/SC (DJU de 19.9.2003)" – RE 392559, Relator: Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 07/02/2006. Informativo 415 (Brasília, 6 a 10 de fevereiro de 2006) - TÍTULO: Direito Adquirido e Aposentadoria Especial
	Benefício previdenciário inconstitucional – RE 436995 Agr
	Norma constitucional originária – AI 159587
	Supremacia de normas constitucionais – ADI 248 / RJ
	Direito adquirido a recurso judicial – 
Tempo da decisão recorrida – RE 78057 – 85815 – ADI 1591
EFEITOS DO RECURSO: LEI VIGENTE NA INTERPOSIÇÃO – RE 82902 ADI 1591
INSUFICIÊNCIA DA DOUTRINA DO DIREITO ADQUIRIDO
“O estudo da doutrina do direito adquirido é também o estudo de suas limitações para atender às diversas demandas concernentes à proteção das situações jurídicas constituídas ou em via de consolidação” (MENDES, 2013, p. 380)
“a história brasileira também ilustra a necessidade de rejeitar-se uma visão absolutista do direito adquirido. Basta recordar a abolição da escravatura, realizada sob a égide da Constituição de 1824, que previa o princípio da irretroatividade da lei. Por mais importante que seja a garantia do direito adquirido, ninguém com um mínimo senso ético defenderia a validade da sua invocação pelos senhores de escravos diante da lei emancipadora!” (Daniel Sarmento, citado pelo Ministro Joaquim Barbosa na ADI 3105 fl. 168 do acórdão).
	A doutrina do direito adquirido não prescreve as posições pessoais contra
	Alterações estatutárias
	
	Revisões/supressão de institutos jurídicos
NORMAS CONSTITUCIONAIS
ENTENDIMENTO ANTIGO: “Não há direito adquirido contra texto constitucional, resulte ele do poder constituinte originário, ou do poder constituinte derivado” - RE 94414, Relator: Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 13/02/1985.
RETROATIVIDADE NÃO É VEDADA À NORMA CONSTITUCIONAL ORIUNDA DO PODER ORIGINÁRIO:
Manoel Gonçalves Ferreira Filho: "... mas a retroatividade não é vedada à norma constitucional oriunda do Poder originário. Com efeito, dada a sua inicialidade, ou melhor, dada a inexistência de limitação jurídica que a proíba, pode ela colher fatos a ela anteriores. Em conseqüência, pode dar-lhes caráter (lícito ou ilícito) diferente do que tinham na ordem jurídica anterior. Igualmente pode pôr termo a direitos adquiridos" (apud GURGEL DE FARIA, 2006)
Ivo Dantas: "Já dissemos que um texto constitucional é resultado de um hiato constitucional, vale dizer, de um processo revolucionário. Não se vincula a nenhum preceito jurídico-positivo que lhe seja anterior, muito embora, também nesta hipótese, os valores sociais e o Direito natural funcionem como limitações ao exercício do Poder Constituinte. Por isto, e em conseqüência, poderia a nova Constituição desconstituir direitos adquiridos tal como aconteceu com a atual Constituição de 1988. Entretanto, neste caso - e já o dissemos -, há um pressuposto de ordem formal: a ressalva do não respeito aos direitos adquiridos com fundamento na Constituição anterior terá que vir expressa, não podendo ser objeto de meras deduções interpretativas" (apud GURGEL DE FARIA, 2006)
Raul Machado Horta: "A Constituição, por decisão soberana do constituinte originário, poderá revogar o direito adquirido, da mesma forma que revoga as leis anteriores incompatíveis. Como a sucessão constitucional do Brasil não se opera por mudanças violentas e se faz acompanhar da continuidade no tempo das leis anteriores, os casos de conflito entre a Constituição e o direito adquirido serão reduzidos, quando não raros. Em nosso sistema, a Constituição é fonte protetora do direito adquirido, sobrepondo-o à lei" (apud GURGEL DE FARIA, 2006)
	No entanto, àquela época, o direito do apelante já estava consolidado em relação à gratificação, passando a integrar o seu patrimônio jurídico, razão pela qual as normas ora introduzidas pela Emenda Constitucional n° 41/03 não os alcançam. Ainda que de outra forma fosse, a despeito da norma do art. 9° da Emenda Constitucional n° 41/03, é cabível a invocação de direito adquirido em face de Emenda Constitucional, garantia individual que nãopode ser ignorada, por compreender cláusula pétrea, insuscetível, por esse aspecto, de novas reformulações.
A propósito, o art. 60, §4°, IV, da Constituição da República, não admite que seja objeto de deliberação proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais.
Nesse sentido, a garantia constitucional impede que o legislador constituinte derivado edite norma desconsiderando o direito adquirido, conforme o magistério do professor Ivo Dantas [nota de rodapé 2 do original: ‘Direito Adquirido, Emendas Constitucionais e Controle da Constitucionalidade - A Intangibilidade do Direito Adquirido face às Emendas Constitucionais, Revista de Direito Administrativo - FGV, out/dez - 1996, n° 206, p. 111], in verbis:
(...) se não nos bastasse a natureza constitucional do instituto a partir da Constituição Federal de 05.10.88, o Direito Adquirido assume novo contorno, tornando-se portador da característica da Imutabilidade, em razão do que prescreve o art. 60 em seu parágrafo 4°, ao fixar os Limites materiais do Poder Constituído de Reforma.
Desta opção no sentido da Intangibilidade do Direito Adquirido decorre a conseqüência de que só um processo revolucionário (no sentido Jurídico-Constitucional) do qual resultasse nova Constituição, poderia restringir ou até mesmo excluir a garantia do Direito Adquirido (entre nós, alçada à mesma categoria do ato jurídico perfeito e da coisa julgada) ou qualquer outro daqueles incisos apontados no referido parágrafo 4° (...)
O ilustre professor, em sua obra, invoca, ainda, o posicionamento do Ministro Néri da Silveira [nota de rodapé 3 do original: “op. cit., p. 121”]:
(...) outra significativa questão poderia se destacar, nesta definição do âmbito das cláusulas pétreas. Refiro-me ao direito adquirido previsto no art. 5°, XXXVI, da Constituição. No dispositivo, estipula-se que a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Decerto, emenda à Constituição não pode excluir de seu texto o inciso XXXVI do seu art. 5°, diante da cláusula posta no art. 60, § 4°, IV, por versar regra de garantia.
(...)
Na mesma linha de raciocínio, é o posicionamento do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Mário da Silva Velloso:
‘Registre-se, a propósito, que as emendas constitucionais, sabemos todos, não são produto do poder constituinte originário. As emendas à constituição são elaboradas pelo constituinte derivado, instituído ou de segundo grau. Esse poder constituinte derivado é limitado pela criatura do poder constituinte originário, assim pela constituição’ - Decisão da Ministra Rosa Weber no Agravo de Instrumento nº 742070, proferida em 18/09/2012.
“Somente pela ação do poder constituinte originário cujo processo não é deflagrado apenas pela eventual vontade de um governante ou de um grupo que chegue ao poder - se podem desfazer situações constituídas, solapar direitos anteriormente aceitos como coerentes com os princípios e valores antes acatados. Somente pela atuação do poder constituinte originário se podem desconstituir o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito, nos termos do sistema constitucional vigente (art. 5º XXXVI, da Lei Fundamental da República). O mais, é fraude à Constituição, é destruição da Constituição em seus esteios-mestres. Quando, por meio de uma reforma constitucional, se investem contra situações firmadas em condições jurídicas pretéritas sobre as quais retroagem as novas normas, não se tem como prejudicado apenas o princípio do direito adquirido, mas também o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (Carmen Lúcia Antunes Rocha, "Princípios Constitucionais dos Servidores Públicos", São Paulo, Saraiva, 1999, p. 109 - citado pela Ministra Ellen Gracie na ADI 3105 fl. 137 do acórdão).
HÁ DIREITO ADQUIRIDO EM RELAÇÃO À EMENDA CONSTITUCIONAL:
Carlos Ayres Britto e Valmir Pontes Filho: "Em síntese, a norma constitucional veiculadora da intocabilidade do direito adquirido é norma de bloqueio de toda função legislativa pós-Constituição. Impõe-se a qualquer dos atos estatais que se integram no 'processo legislativo', sem exclusão das emendas" (apud GURGEL DE FARIA, 2006).
Sobre o veículo normativo LEI: “Quando a Constituição emite o discurso de que ‘a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada’ (art. 5º, XXXVI), ela está dizendo direito/lei, qualquer ato da ordem normativa constante do art. 59 da Constituição. A emenda está ali, prefigurada. Então, entendo que as emendas estão proibidas de ofender as três emblemáticas e estelares figuras: o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (voto do Ministro Carlos Brito na ADI 3105, fl. 184 do acórdão).
Sérgio de Andréa Ferreira: "Foi a própria CF de 1988 que, quando quis excepcionar, teve de fazê-lo expressamente, ao estatuir, no art. 17 do ADCT, que não se admitia, no caso nele previsto, invocação de direito adquirido. Se isso ocorresse, não haveria necessidade de ressalva. Mas essa exclusão, questionável mesmo em uma nova Constituição, é intolerável em se tratando de mera emenda constitucional" (apud GURGEL DE FARIA, 2006)
Manoel Gonçalves Ferreira Filho: "ninguém negará ser a norma constante do art. 5.º, XXXVI, da Constituição uma garantia, garantia essa da segurança das relações jurídicas. Conseqüentemente ela não poderá ser abolida pelo Poder Constituinte Derivado (poder de reforma)" (apud GURGEL DE FARIA, 2006).
Carlos Mário da Silva Velloso: "... um direito adquirido por força da Constituição, obra do Poder Constituinte Originário, há de ser respeitado pela reforma constitucional, produto do Poder Constituinte instituído, ou de 2.º grau, vez que este é limitado, explícita e implicitamente, pela Constituição"(apud GURGEL DE FARIA, 2006).
Raul Machado Horta: "Ao incluir no rol da matéria vedada ao poder constituinte de revisão a emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais, a Constituição transformou o Título II da Constituição, que abrange os direitos e garantias individuais e coletivos (art. 5.º, I a LXXVII) no seu núcleo irreformável e, por isso, inatingível pelo Poder de Emenda. Nessa irreformalidade, encontra-se o princípio de que a lei não prejudicará o direito adquirido (art. 5.º, XXXVI). O Poder Constituinte Originário poderá, em tese, suprimir o direito adquirido, de modo geral, incluindo nessa supressão a regra que veda a lei prejudicial de direito adquirido. No caso do poder constituinte de revisão, será questionável a emenda que propuser a supressão do direito adquirido assegurado pelo Constituinte Originário. A emenda ficará exposta a argüição de inconstitucionalidade"(apud GURGEL DE FARIA, 2006)
Ivo Dantas: "quando se fala em emenda constitucional, esta é manifestação de um Poder Constituído - poder de reforma -, integrando, nos termos do art. 59 (CF/88), o processo legislativo e, como tal, encontra-se obrigada a render homenagens ao texto da Constituição, conclusão a que se chega não por mero exercício exegético, mas, inclusive, por determinação expressa deste mesmo texto (art. 60, §4º)" (apud GURGEL DE FARIA, 2006)
REGIME JURÍDICO
“Situação jurídica, como a toma LAUBADERE (Traité élémentaire de droit administratif, 4éme. ed. LGDJ, Paris, 1967, p. 17) - inspirado em DUGUIT (Traité de droit constitutionnel, 2éme edition, t. l, Ancienne Librairie Fontemoing & Cie., Paris, 1921, p. 254-255) - é o conjunto de direitos e obrigações de que uma pessoa pode ser titular. Elas podem ser de dois tipos:
[i] as situações jurídicas gerais e impessoais por vezes denominadas estatutárias ou objetivas, legais ou regulamentares cujo conteúdo. é necessariamente o mesmo para todos os indivíduos que dela são titulares;
[ii] situações individuais ou subjetivas, cujo conteúdo é individualmente determinado e pode variar de um para outro titular; aí o caso, v.g., de um credor, um devedor, um locatário, em que o conteúdo da situação é específico para cada qual, modelando-se pelo ato individual” - votodo Ministro Eros Grau na ADI 3105, fl. 259 do acórdão).
Com base nessa distinção, Eros Grau defende a tese da imediata alterabilidade das situações gerais e a intangibilidade das situações individuais.
CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO: "Teria sentido alguém pretender se opor à alteração das regras do imposto de renda, argüindo direito adquirido àquelas normas que vigiam à época em que se tornou contribuinte pela primeira vez? Teria sentido invocar direi to adquirido para obstar a aplicação de novas regras concernentes ao serviço militar, argumentando que o regime vigorante era mais suave quando o convocado completou 18 anos? Acaso poderia um funcionário, em nome do direi to adquirido ou do ato jurídico perfeito, garantir para si a sobrevivência das regras funcionais vigentes ao tempo em que ingressou no serviço público, quais as concernentes às licenças, adicionais etc.? Seria viável alguém invocar direito adquirido a divorciar-se, se a legislação posterior a seu casamento viesse a extinguir este instituto jurídico? Ou, reversamente, teria direito adquirido à indissolubilidade de vínculo se lei nova estabelecer o divórcio?. (...) É nítido o discrímen entre ambas as espécies de situações jurídicas e igualmente nítida a imediata aplicação das modificações que incidam sobre as situações gerais, ao contrário do que se passa com as subjetivas"- voto do Ministro Eros Grau na ADI 3105, fls. 261/262 do acórdão).
Por isso que a jurisprudência do STF não reconhece direito adquirido a regime jurídico.
“A construção da ideia de regime jurídico representa, na verdade, um tentativa de delimitar – fora das hipóteses em que se cuide de ato jurídico perfeito e de coisa julgada – as situações que geram direito adquirido e as que não geram. Nada obstante, a definição do que é e do que não é regime jurídico tem sido resolvida casuisticamente pela jurisprudência, e até o momento não se produziram parâmetros claros, capazes de definir esses espaços” (BARROSO, 2004, p. 153).
	Empregam-se duas formulações para identificar o que seria um regime jurídico:
	A) há regime jurídico quando a relação decorre da lei e não de um acordo de vontade das partes
	B) há regime jurídico quando não se trate de uma relação contratual
“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que o servidor público não tem direito adquirido à manutenção de regime de composição de vencimentos ou proventos, pois o que a Constituição lhe assegura é a irredutibilidade de vencimentos” – AI 721110 AgR, Relatora: Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 24/05/2011.
“A jurisprudência desta Corte é no sentido de que não existe direito adquirido à manutenção de regime jurídico de imunidade tributária” - RMS 27977 AgR, Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 10/05/2011.
Dada a insuficiência do princípio do direito adquirido para preservar posições pessoais, a técnica se encaminha para:
- Aciona-se o próprio direito destinado a resguardar a posição afetada – ex: direito de propriedade/liberdade de associação, etc
- parte-se para “uma ideia menos precisa e, por isso mesmo, mais abrangente, que é o princípio da segurança jurídica enquanto postulado do Estado de Direito” (MENDES, 2013, p. 380 – grifei)
Última observação quanto à categoria direito adquirido – DIREITOS ORIGINÁRIOS
	12. DIREITOS "ORIGINÁRIOS". Os direitos dos índios sobre as terras que tradicionalmente ocupam foram constitucionalmente "reconhecidos", e não simplesmente outorgados, com o que o ato de demarcação se orna de natureza declaratória, e não propriamente constitutiva. Ato declaratório de uma situação jurídica ativa preexistente. Essa a razão de a Carta Magna havê-los chamado de "originários". a traduzir um direito mais antigo do que qualquer outro. de maneira a preponderar sobre pretensos direitos adquiridos, mesmo os materializados em escrituras públicas ou títulos de legitimação de posse em favor de não-índios. Atos, estes, que a própria Constituição declarou corno "nulos e extintos" (§6º do art. 231 da CF). página 8 do acórdão na Pet 3388.
"VI - os rizicultores privados, que passaram a explorar as terras indígenas somente a partir de 1992 (após a promulgação da Lei Fundamental de 1988, destarte), não têm qualquer direito adquirido à respectiva posse. Em primeiro lugar, porque as posses antigas, que supostamente lhes serviram de ponto de partida, são, na verdade, o resultado de inescondível esbulho. Como sobejamente demonstrado no laudo e parecer antropológicos, os índios foram de lá empurrados, enxotados, escorraçados. Não sem antes opor notória resistência, fato que perdura até hoje. Em segundo lugar, porque a presença dos arrozeiros subtrai dos índios extensas áreas de solo fértil, imprescindíveis às suas (dos autóctones ) atividades produtivas, impede o acesso das comunidades indígenas aos rios Surumu e Tacutu e degrada os recursos ambientais necessários ao bem-estar de todos eles, nativos da região" (fls. 341/342 do acórdão).
DALMO DE ABREU DALLARI ("O que são Direitos das pessoas", p. 54/55, 1984, Brasiliense): " ( ... ) ninguém pode tornar-se dono de uma terra ocupada por índios. Todas as terras ocupadas por indígenas pertencem à união, mas os índios têm direito à posse permanente dessas terras e a usar e consumir com exclusividade todas as riquezas que existem nelas. Quem tiver adquirido, a qualquer tempo, mediante compra, herança, doação ou algum outro título, uma terra ocupada por índios, na realidade não adquiriu coisa alguma, pois estas terras pertencem à União e não podem ser negociadas. Os títulos antigos perderam todo o valor, dispondo a Constituição que os antigos titulares ou seus sucessores não terão direito a qualquer indenização” (citado pelo Minsitro Celso de Mello na Petição 3388 - fl. 729 do acórdão)
ATO JURÍDICO PREFEITO
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro�, art. 6º, §1º: “Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou”.
Elival da Silva Ramos: “são os negócios jurídicos, vale dizer, atos voluntários, lícitos, que consubstanciam declaração expressa de vontade do agente ou dos agentes, a que o ordenamento atribuiu os efeitos por meio dela pretendidos, que se aperfeiçoaram, isto é, cuja constituição se completou inteiramente, ao tempo da vigência da lei antiga, substituída por um novo diploma que não os pode, todavia, afetar” (apud TAVARES, 2012, p. 769).
Uma questão de lógica em sua justificativa: “Se o simples direito adquirido (isto é, direito que já integra o patrimônio mais ainda não foi exercido) é protegido contra a interferência da lei nova, mais ainda o é o direito adquirido já consumado” (SILVA, 2008, p. 435).
Ato praticado num momento de acordo com as normas jurídicas vigentes
Situação consumada ou direito consumado – direito efetivamente exercido.
É mais do que adquirido – é direito esgotado.
Qual a diferença entre ato jurídico perfeito e direito adquirido? “A diferença entre direito adquirido e ato jurídico perfeito está em que aquele emana da lei em favor de um titular, enquanto o segundo é negócio fundado na lei” (SILVA, 2004, p. 21).
	Pronunciamentos relevantes sobre ato jurídico perfeito
	a) “O princípio constitucional do respeito ao ato jurídico perfeito se aplica também, conforme é o entendimento desta Corte, às leis de ordem pública. Correto, portanto, o acórdão recorrido ao julgar que, no caso, ocorreu afronta ao ato jurídico perfeito, porquanto, com relação à caderneta de poupança, há contrato de adesão entre o poupador e o estabelecimento financeiro, não podendo, portanto, ser aplicada a ele, durante o período para a aquisição da correção monetária mensal já iniciado, legislação que altere, para menor, o índice dessa correção”�;
	b) o caso da TR:“Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado. O dispostono artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do STF. Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se as normas que alteram índice de correção monetária se aplicam imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no artigo 5º, XXXVI, da Carta Magna. Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP)”�;
	c) “Correção das contas vinculadas do FGTS. Desconsideração do acordo firmado pelo trabalhador. Vício de procedimento. Acesso ao colegiado. Superação da preliminar de vício procedimental ante a peculiaridade do caso: matéria de fundo que se reproduz em incontáveis feitos idênticos e que na origem (Turmas Recursais dos Juizados Especiais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro) já se encontra sumulada. Inconstitucionalidade do Enunciado nº 21 das Turmas Recursais da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, que preconiza a desconsideração de acordo firmado pelo trabalhador e previsto na Lei Complementar nº 110/2001. Caracterização de afastamento, de ofício, de ato jurídico perfeito e acabado. Ofensa ao princípio inscrito no art. 5º, XXXVI, do Texto Constitucional”� – vide súmula vinculante nº 1;
	d) “Bem de família: impenhorabilidade legal (L. 8.009/90): aplicação aos processos em curso, desconstituindo penhoras anteriores, sem ofensa de direito adquirido ou ato jurídico perfeito: precedentes”�.
	É POSSÍVEL REVISAR O CONTRATO PARA EVITAR O ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA – AI AGR 580966
	ATO DE APOSENTADORIA – MS 26085
COISA JULGADA
Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro�, art. 6º, §3º “Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso”.
Esta definição encontra-se superada, pois a garantia diz respeito à coisa julgada material. O que prevalece hoje é o art. 467 do CPC: “Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário”.
“A coisa julgada é o corolário do princípio da segurança jurídica e estabilidade das relações sociais transportada para o campo judicial” (TAVARES, 2012, p. 770)
Qualidade atribuída aos efeitos da decisão judicial definitiva – decisão contra a qual não cabe mais recurso: “...o que se protege é a prestação jurisdicional definitivamente outorgada” (SILVA, 2004, p. 22).
Em alguma medida é um caso especial de direito adquirido: “caso coroado pelo exame definitivo efetivado pelo órgão máximo nesse assunto, o Poder Judiciário, em relação a uma controvérsia” (RIZZATO, 2009, p. 246).
A IMUTABILIDADE DA COISA JULGADA (qualidade da sentença) PODE EXISTIR
A) FORA DO PROCESSO:
Impede que a lei prejudique ou que o juiz julgue novamente o feito (coisa julgada material)
B) DENTRO DO PROCESSO
Preclusão máxima: “decisão colocada ao abrigo dos recursos definitivamente preclusos (coisa julgada formal)
Limite subjetivo: alcança somente as partes – não prejudica nem beneficia terceiros
ART. 472 DO CPC
O caso da coisa julgada inconstitucional – ato inexistente – sem efeito – pode ser desconstituído a qualquer tempo – tema polêmico.
	AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE E COISA JULGADA
O STF, no julgamento de mérito do RE 363.889 (rel. min. Dias Toffoli, Plenário, DJe de 16.12.2011), reconheceu a possibilidade de ajuizamento de nova ação de paternidade, com a relativização da coisa julgada, em razão do surgimento de meio de prova mais moderno, como o exame de DNA, em respeito ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana.
INFORMATIVO Nº 629 DO STF - PROCESSO RE - 540829
Em conclusão, o Plenário, por maioria, proveu recurso extraordinário em que discutida a possibilidade, ou não, de superação da coisa julgada em ação de investigação de paternidade cuja sentença tenha decretado a extinção do processo, sem julgamento do mérito, por insuficiência probatória — v. Informativo 622. Decretou-se a extinção do processo original sem julgamento do mérito e permitiu-se o trâmite da atual ação de investigação de paternidade. Prevaleceu o voto proferido pelo Min. Dias Toffoli. Para ele, dever-se-ia ressaltar a evolução dos meios de prova para aferição da paternidade — culminada com o advento do exame de DNA — e a prevalência da busca da verdade real sobre a coisa julgada, visto estar em jogo o direito à personalidade. Ressaltou que este direito teria sido obstaculizado, no caso, pelo fato de o Estado haver faltado com seu dever de assistência jurídica, uma vez que não custeara o exame à época da ação anterior. Os demais Ministros que deram provimento ao recurso ressaltaram que a espécie envolveria o cotejo entre a coisa julgada e o princípio da dignidade da pessoa humana, consubstanciado no direito à informação genética. O Min.Luiz Fux destacou a existência de corrente doutrinária que flexibilizaria o prazo para ajuizamento de ação rescisória nas hipóteses de ação de investigação de paternidade julgada improcedente por ausência de provas, o que corroboraria a superação da coisa julgada. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso, Presidente, que desproviam o recurso. O Min. Marco Aurélio apontou que o réu, na ação em comento, não poderia ser obrigado a fazer o exame de DNA. Isso, entretanto, não implicaria presunção absoluta de paternidade, mas apenas relativa, a ser confrontada com as provas trazidas ao processo. Asseverou que o ordenamento traria exceções à imutabilidade da coisa julgada, a exemplo da ação rescisória, limitada ao prazo de 2 anos após o trânsito em julgado da ação de origem. Como, na situação em tela, haveria lapso de mais de 10 anos, a aludida exceção não seria aplicável. Destacou, ainda, a probabilidade de o interesse do autor ser patrimonial, e não relativo à sua identidade genética. O Presidente, por sua vez, afirmou que o princípio da coisa julgada seria o postulado da certeza, a própria ética do direito. A respeito, assinalou que o direito não estaria na verdade, mas na segurança. Reputou que a relativização desse princípio em face da dignidade da pessoa humana poderia justificar, de igual modo, a prevalência do direito fundamental à liberdade, por exemplo, de maneira que nenhuma sentença penal condenatória seria definitiva. Salientou que, hoje em dia, o Estado seria obrigado a custear o exame de DNA do autor carente, de forma que a decisão da Corte teria pouca aplicabilidade prática. Por fim, frisou que a questão envolveria também a dignidade humana do réu, não apenas do autor, visto que uma nova ação de investigação de paternidade teria profunda repercussão na vida familiar daquele. RE 363889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 2.6.2011. (RE-363889)
	LEI Nº 5.478/1968 - Dispõe sobre ação de alimentos:
art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira dos interessados.
	LEI No 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985 - Disciplina a ação civil pública:
art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
	
a coisa julgada secundum eventum litis
ela depende do resultado do processo
havendo procedência da demanda ou face à improcedência

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