Buscar

Historia da Filosofia 2 Patristica e Escolastica

Prévia do material em texto

G. Reale - D. Antiseri 
HISTORIA 
DA FILOSOFIA 
2 Patristica e Escolistica 
PAULUS 
Dados lnternacionais de Catalogapio na Publicapio (CIP) 
(Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Reale. Giovanni 
Historia da filosofia : patristica e escolastica, v. 2 1 Giovanni Reale. Dario Antiseri ; 
[tradupio Ivo Storniolo]. - S i o Paulo : Paulus, 2003. 
Titulo original: Storia della filosofia. Patristica e Scolastica 
Bibliografia. 
ISBN 85-349-2042-7 
1. Filosofia - Historia I. Antiseri, Dario. II. Titulo. Ill. Titulo: Patristica e Escolastica 
indices para catalog0 sistematico: 
1. Filosofia : Historia 109 
Titulo original 
Storia della filosofia - Volume 11: Patristica e Scolastica. 
0 Editrice LA SCUOLA, Brescia, Italia, 1997 
Traduq3o 
Ivo Storniolo 
Revis30 
Zolferino Tonon 
lrnpresslo e acabarnento 
PAULUS 
0 PAULUS - 2003 
Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 S3o Paulo (Brasil) 
Fax (11) 5579-3627 Tel. (11) 5084-3066 
www.paulus.com.br editorial@paulus.com.br 
ISBN 85-349-2042-7 
ISBN 88-350-921 8-3 (ed. original) 
Existem teorias, argumentacdes e 
disputas filosoficas pelo fato de existirem pro- 
blemas filosoficos. Assim como na pesquisa 
cientifica ideias e teorias cientificas d o res- 
postas a problemas cientificos, da mesma 
forma, analogicamente, na pesquisa filoso- 
fica as teorias filosoficas sdo tentativas de 
solucdo dos problemas filosoficos. 
0s problemas filosoficos, portanto, 
existem, d o inevita veis e irreprimiveis; en- 
volvem cada homem particular que ndo 
renuncie a pensar. A maioria desses pro- 
blemas nao nos deixa em paz: Deus existe, 
ou existiriamos apenas nos, perdidos nes- 
te imenso universo? 0 mundo e um cos- 
mo ou um caos? A historia humana tem 
sentido? E se tem, qual e? Ou, entao, tudo 
- a gloria e a miseria, as grandes conquis- 
tas e os sofrimentos inocentes, vitimas e 
carrascos - tudo acabara no absurdo, des- 
provido de qualquer sentido? E o homem: 
e livre e responsive1 ou e um simples frag- 
mento insignificante do universo, determi- 
nado em suas acdes por rigidas leis natu- 
rais? A ciencia pode nos dar certezas? 0 
que e a verdade? Quais S ~ O as relacdes 
entre razdo cientifica e fe religiosa? Quan- 
do podemos dizer que um Estado e demo- 
cratic~? E quais d o os fundamentos da de- 
mocracia ? E possivel obter uma justificacdo 
racional dos valores mais elevados? E quan- 
do e que somos racionais? 
Eis, portanto, alguns dos problemas 
filosoficos de fundo, que dizem respeito 
as escolhas e ao destino de todo homem, 
e com os quais se aventuraram as men- 
tes mais elevadas da humanidade, dei- 
xando-nos como heranca um verdadeiro 
patrimdnio de ideias, que constitui a iden- 
tidade e a grande riqueza do Ocidente. 
A historia da filosofia e a historia 
dos problemas filosoficos, das teorias fi- 
losoficas e das arg u men tacbes filosofi- 
cas. E a historia das disputas entre fild- 
sofos e dos erros dos filosofos. E sempre 
a historia de novas tentativas de versar 
sobre questdes inevitaveis, na esperanca 
de conhecer sempre melhor a nos mes- 
mos e de encontrar orientacdes para 
nossa vida e motivacdes menos frageis 
para nossas escolhas. 
A historia da filosofia ocidental e a 
historia das ideias que in-formaram, ou 
seja, que deram forma a historia do Oci- 
dente. E um patrimdnio para ndo ser dis- 
sipado, uma riqueza que ndo se deve 
perder: E exatamente para tal fim os pro- 
blemas, as teorias, as argumentacdes e 
as disputas filosoficas sao analiticamente 
explicados, expostos com a maior clareza 
possivel. 
* * * 
Uma explicacdo que pretenda ser cla- 
ra e detalhada, a mais compreensivel na 
medida do possivel, e que ao mesmo tem- 
po o fereca explica@es exaustivas compor- 
ta, todavia, um "efeito perverso", pelo fato 
de que pode ndo raramente constituir um 
obstaculo a "memoriza@o" do complexo 
pensamen to dos filoso fos. 
Esta e a razdo pela qual os autores 
pensaram, seguindo o paradigma cMssi- 
co do ijberweg, antepor a exposicdo 
analitica dos problemas e das ideias dos 
diferentes filosofos uma sintese de tais 
problemas e ideias, concebida como ins- 
trumento didatico e auxiliar para a me- 
moriza~ao. 
Afirmou-se com justeza que, em linha 
geral, um grande fildsofo e o g&io de uma 
grande ideia: Platdo e o mundo das ideias, 
Aristoteles e o conceit0 de Ser, Plotino e a 
concepcdo do Uno, Agostinho e a "tercei- 
ra navegaqdo " sobre o lenho da cruz, Des- 
cartes e o "cogito ", Leibniz e as "m6nadas1', 
Kant e o transcendental, Hegel e a dialetica, 
Marx e a alienacdo do trabalho, Kierke- 
gaard e o "singular", Bergson e a "dura- 
cdo", Wittgenstein e os "jogos de lingua- 
gem", Popper e a "falsificabilidade" das 
teorias cientificas, e assim por diante. 
Pois bem, os dois autores desta obra 
propdem um lexico filosofico, um diciona- 
rio dos conceitos fundamentais dos diver- 
sos filoso fos, apresen tados de maneira di- 
datica totalmente nova. Se as sinteses 
iniciais d o o instrumento didatico da me- 
morizac20, o lexico foi idealizado e cons- 
truido como instrumento da conceitualiza- 
~ 2 o ; e, juntos, uma especie de chave que 
permita entrar nos escritos dos filosofos e 
deles apresentar interpreta~des que encon- 
trem pontos de apoio mais solidos nos pro- 
* * * 
Ao executar este complexo tracado, 
os autores se inspiraram em csnones psico- 
pedagogicos precisos, a fim de agilizar a 
memorizagdo das ideias filosoficas, que sdo 
as mais dificeis de assimilar: seguiram o 
metodo da repetiqdo de alguns conceitos- 
chave, assim como em circulos cada vez 
mais amplos, que vdo justamente da sinte- 
se a analise e aos textos. Tais repetiqdes, 
retomadas e amplificadas de mod0 opor- 
tuno, ajudam, de mod0 extremamente efi- 
caz, a fixar na atenedo e na memoria os 
nexos fundantes e as estruturas que sus- 
tentam o pensamen to ocidental. 
Buscou-se tambem oferecer ao jovem, 
atualmente educado para o pensamento 
visual, tabelas que representam sinotica- 
mente mapas conceituais. 
Alem disso, julgou-se oportuno enri- 
quecer o texto com vasta e seleta serie de 
imagens, que apresentam, alem do rosto 
dos fildsofos, textos e momentos tipicos da 
discussdo filoso fica . 
prios textos. * * * 
* * * Apresentamos, portan to, um texto ci- 
Sinteses, analises, lexico ligam-se, 
portanto, a ampla e meditada escolha dos 
textos, pois os dois autores da presente 
obra estdo profundamente convencidos 
do fato de que a compreensdo de um fi- 
losofo se alcanqa de mod0 adequado ndo 
so recebendo aquilo que o autor diz, mas 
lanpndo sondas intelectuais tambem nos 
modos e nos iarqdes especificos dos tex- 
entifica e didaticamente construido, com 
a intencdo de oferecer instrumentos ade- 
quados para introduzir nossos jovens a 
olhar para a historia dos problemas e das 
ideias filoso ficas como para a historia gran- 
de, fascinante e dificil dos esforqos intelec- 
tuais que os mais elevados intelectos do 
Ocidente nos deixaram como dom, mas 
tambem como empenho. 
tos filosofico~. - GIOVANNI REALE - DARIO ANTISERI 
[ndice dos nomes, XI11 
Indice dos conceitos fundamentais, XVII 
Primeira parte 
A REVOLUCAO 
ESPIRITUAL 
DA MENSAGEM 
BIBLICA 
Capitulo primeiro 
A Biblia, sua mensagem 
e suas influincias 
sobre o pensamento ocidental - 3 
I. Estrutura e significado 
da Biblia 3 
1. 0 significado do termo "Biblia", 3; 
2 . 0 s escritos que constituem o Antigo Tes- 
tamento, 3; 3. 0 s vinte e sete livros do No- 
vo Testamento, 5; 4. 0 conceito de "Tes- 
tamento", 6; 5. A inspiraqiio divina da 
Biblia, 8; 6. A importgncia da Biblia em 
iimbito filosofico, 8. 
11. As idiias biblicas 
que influiram 
sobre o pensamento ocidental - 10 
1. Passagem do politeismo grego ao mono- 
teismo cristiio, 11; 2. A criaqiio a partir do 
nada, 12; 3. A concepqiio antropochtricacontida na Biblia, 12; 4. 0 respeito pelos 
mandamentos divinos: a virtude e o peca- 
do, 13; 5. 0 conceito de Providtncia na Bi- 
blia, 14; 6. A desobedicncia a Deus resgata- 
da pela paixiio de Cristo, 15; 7. 0 valor da 
f C e a participaqiio no Divino, 17; 8. 0 eros 
grego, o amor (agape) cristiio e a graqa, 18; 
9 . 0 s valores fundamentais do cristianismo: 
a pureza e a humildade, 20; 10. A ressurrei- 
$50 dos mortos, 21. 
III. Para alirn do horizonte 
cultural grego 22 
1. 0 desenvolvimento retilineo da histo- 
ria que tem como fim o Juizo universal, 22; 
2. A nova "medida" do homem no pensa- 
mento cristiio, 23. 
Segunda parte 
A PATRISTICA 
NA AREA CULTURAL 
DE LINGUA GREGA 
Capitulo segundo 
0 s problemas filosoficos essenciais 
que derivam do encontro 
entre "fi" e "razio". 
Filon de Alexandria 
e a Gnose 27 
I. Problemas emergentes 
do impact0 corn a Biblia - 27 
1. A quest50 da autenticidade dos textos 
biblicos, 27; 2. A questiio da conciliabi- 
lidade do Antigo e do Novo Testamento, 
28; 3. A quest50 da identidade do cristiio, 
29; 4. 0 s grandes problemas teologicos, 
29; 5. 0 grande Pr6logo do Evangelho de 
Joiio, 30. 
11. Urn precursor: 
Filon de Alexandria 3 1 
1. A "filosofia mosaics", 32; 2. Deus, "Lo- 
gos" e "Poder", 32; 3. A antropologia filo- 
niana, 33; 4. A nova Ctica, 33. 
111. A Gnose 34 
1. Significado do termo "gnose", 34; 2. 0 s 
novos documentos gnosticos descobertos, 
35; 3. 0 s traqos essenciais da doutrina da 
gnose, 35; 4. A "gnose" como express50 da 
angustia de uma Cpoca, 36. 
Tmos - Filon de Alexandria: 1. A cria~iio 
do mundo, 37; 2. A nulidade do homem, 38. 
Capitulo terceiro 
0 s apologistas gregos 
e a Escola catequitica 
de Alexandria 39 
I. 0 s Apologistas gregos 
do siculo 11: 
Aristides, Justino, Taciano - 39 
1. Marciiio Aristides, 39; 2. Justino Martir, 39; 
2.1. 0 primeiro platanico cristiio, 39; 2.2. A 
doutrina do Logos, 39; 2.3. A doutrina da alma, 
40; 2.4. A condenaqiio de Justino B morte, 40; 
3. Taciano, 40; 4. Atenagoras, 41; 5. Teofilo 
de Antioquia, 41; 6. A Carta a Diogneto, 41. 
11. A Escola catequitica 
de Alexandria: 
Clemente e Origenes 43 
1. Clemente e a verdadeira "gnose", 43; 2. A 
figura e os fundamentos do pensamento de 
Origenes, 44; 2.1. Vida e obras filosoficas, 44; 
2.2. Doutrina da Trindade e Neoplatonismo, 
44; 2.3. Criaqiio, "apocatastase" e encarnaqiio, 
45; 2.4. Importiincia de Origenes, 46. 
Tmos- Justino Martir: 1 . 0 itinerario filosd- 
fico de Justino, 47; 2. 0 Logos e' Cristo, 48; 
Carta a Diogneto: 3 . 0 s cristiios siio a alma do 
mundo, 49; Clemente de Alexandria: 4. A 
concep~iio plat6nica de Deus, 50; 5. A beleza 
espiritual, 5 1; Origenes: 6. Sabedoria grega e 
mensagem crista", 52; 7 . A apocatastase, 53. 
Capitulo quarto 
0 s trss luminares da Capadocia 
e as grandes figuras 
do Pseudo-Dionisio Areopagita, 
Maximo o Confessor 
e Jo io Damasceno 55 
I. A era iurea da Patristica 
e o Concilio de Niciia 55 
1. 0 edito de Miliio e as disputas teologicas, 
55; 2. 0 Concilio de NicCia e a fixaqiio do 
"credo", 56. 
11. Gregorio de Nissa 
e os Padres Capadocios 57 
1. A recuperaqiio da cultura cliissica dentro 
da fC, 57; 2. Realidade inteligivel e mundo 
sensivel, 58; 3. A doutrina do homem, 58; 
4. A ascensiio a Deus, 58. 
111.0 Pseudo-Dionisio 
Areopagita 59 
1. Formulaqiio da teologia apofiitica, 59. 
IV. Maximo o Confessor 
e a ultima grande batalha 
cristologica 6 1 
1. Afirmaqiio do dogma de Cristo "verda- 
deiro Deus e verdadeiro homem", 61. 
V. JoZo Darnasceno 62 
1. Recuperaqiio da filosofia aristotklica, 62. 
TEXTOS- Gregorio de Nissa: 1 .0s dois planos 
da realidade: sensivel e supra-sensivel, 63; 
Pseudo-Dionisio Areopagita: 2. A concep~iio 
de Deus como "acima de tudo ", 65; Maximo 
o Confessor: 3. As cinco divis6es da natureza, 
66; 4 . 0 amor, 66; 5. A "liturgia cdsmicd", 67. 
Terceira parte 
A PATRISTICA 
NA AREA CULTURAL 
DE LINGUA LATINA 
Capitulo quinto 
A Patristica latina 
antes de santo Agostinho 71 
I. Minucio Filix, Tertuliano 
e os escritores crist5os 
at6 o siculo IV 71 
1. 0 primeiro escrito apologitico cristiio- 
latino, 71; 2. 0 s fortes ataques de Minucio 
FClix contra os filosofos gregos, 72; 3. Para 
Tertuliano, Atenas e JerusalCm nada ttm em 
comum, 72; 4. 0 fideismo de Tertuliano: 
"credo quia absurdum", 72; 5. Influxos es- 
toicos na ontologia de Tertuliano, 73; 6. Es- 
critores cristiios do stculo 111 e dos inicios 
do IV, 73; 7 . Tradutores, comentadores e 
eruditos cristiios do stculo IV, 73. 
11. As figuras de Ambrbsio, 
Jerbnimo e Rufino 74 
1. Ambrosio, 74; 2. JerGnimo e Rufino, 74. 
TEXTOS - Minucio Ftlix: 1. Concordiincia 
entre fildsofos e cristiios, 76; Tertuliano: 2. A 
filosofia e o cristianismo estiio em contradi- 
&io, 77; Ambrosio: 3. 0 s deveres, 80. 
Capitulo sexto 
Santo Agostinho 
e o apogeu da Patristica 8 1 
I. A vida, a evolu@o espiritual 
e as obras de santo Agostinho - 8 1 
1. A vida, 81; 2. A evoluq2o espiritual, 82; 
3. As obras, 84. 
11. Fi, filosofia e vida 
no pensamento de Agostinho - 86 
1. 0 filosofar na fC, 88; 2. A descoberta da 
pessoa e a metafisica da interioridade, 89; 
3. A verdade e a iluminag20, 90; 4. Deus, 91; 
5. A Trindade, 93; 6. A doutrina da criaq20, 
94; 7. A doutrina das IdCias e das raz6es semi- 
nais, 95; 8. A eternidade e a estrutura da tempo- 
ralidade, 97; 9 . 0 ma1 e seu estatuto ontologi- 
co, 97; 10. A vontade, a liberdade, a gaga, 98; 
11. A "Cidade terrena" e a "Cidade divina", 
99; 12. A esshcia do homem C o amor, 100. 
MAPA CONCEITUAL -A centralidade da Trin- 
11. As Escolas monacais, 
episcopais e palatinas 121 
1. A Escolastica e os vkios tipos de escola 
da Idade MCdia, 121; 2. A escola palatina 
criada por Alcuino, 122. 
111. A Universidade 123 
1. As Universidades de Bolonha e Paris, 123; 
2. Efeitos explosivos da Universidade, 124; 
3. Raz2o e fC, 125; 4. Faculdade das artes e 
Faculdade de teologia, 126; 5. A "Cidade 
de Deus" de Agostinho, 127. 
IV. Joaquim de Fiore 128 
1. A concepq20 trinitiiria da histbria, 128. 
Capitulo oitavo 
0 surgimento da Escolastica 
e seus desenvolvimentos 
de Boicio a Escoto Eriugena 129 
I. A obra e o pensamento 
de Severino Bokcio 129 
1. BoCcio: "o ultimo dos romanos e o pri- 
meiro dos escolasticos", 129; 2. Botcio e a 
logics, 130; 3 . 0 De consolatione philosophiae: 
Deus C a propria felicidade, 131; 4. 0 pro- 
blema do ma1 e a quest20 da liberdade, 132; 
5. Raziio e fC em BoCcio. 133: 6. Outros 
dude divina, 101. autores do sCculo VI ao skculo VIII, 133. 
TEXTOS - Agostinho: 1. A terceira navega@o, 
102; 2. 0 circulo hermeniutico entre raziio 
e fe', 104; 3. A natureza da Verdade, 106; 4. A 
ilumina@o, 106; 5. A natureza do Bem, 107; 
6. As "1d6iasY' como pensamentos de Deus, 
110; 7. A ctia~iio do tempo e sua natureza, 
112; 8. 0 "sa'bado" de felicidade eterna na 
Cidade de Deus e o "oitavo dia ", 114. 
11. Jo5o Escoto Eriugena 135 
1. A figura e a obra de Escoto Eriugena, 135; 
2. Escoto Eriugena e o Pseudo-Dionisio, 
136; 3. 0 De divisione naturae, 137; 4. A 
raz2o em funqiio da fC, 138. 
TEXTOS - BoCcio: 1. A consola@o da filoso- 
fia, 139; Escoto Eriugena: 2. A quadrziplice 
divisiio da natureza, 143. 
Quarta parte 
GENESE 
DA ESCOLASTICA 
Capitulo sitimo 
A filosofia na Idade Media: 
a "Escolastica", as "Escolas", 
as "Universidades" 119 
I. Desenvolvimentos 
do pensamento medieval - 1 19 
1. 0 quadro cronologico, 119. 
Quinta parte 
A ESCOLASTICA 
NOS SECULOS 
DECIMO PRIMEIRO 
E DECIMO SEGUNDO 
Capitulo nono 
Anselmo de Aosta 147 
1. A vida e as obras de Anselmo, 148; 2. Cen- 
tralidade do problema de Deus em Ansel- 
mo, 149; 3. As provas a posteriori da existin- 
cia de Deus, 149; 4. A prova a priori da exis- 
tincia de Deusou "argumento ontologico", 
150; 5. Criticas e consensos ao argumento on- 
tologico, 150; 6. Deus e o homem, 151; 7. A 
raz3o dentro do tragado da fe, 153; 8. Carac- 
teristicas do "realismo" de Anselmo, 153. 
MAPA CONCH I U A I . - Deus e o homem, 155. 
T~mm - Anselmo de Aosta: 1.0 argumto on- 
toldgico, 15 6; 2. A dqbuta com Gaunilon, 15 7; 
3. Anselmo respondek objepks de Gmlon, 160. 
Capitulo dkcimo 
~belardo e a grande controvirsia 
sobre os universais 16 1 
I. Pedro Abelardo 161 
1. A vida e as obras, 162; 2. A "duvida" e as 
"regras da pesquisa", 162; 3. A "ratio" e seu 
papel na teologia, 163; 4. Principios fundamen- 
tais da itica, 164; 5. "Intelligo ut credam", 164. 
11. A grande controvirsia 
sobre os universais 166 
1. 0 s estudos "gramaticais", 166; 2. A ques- 
t5o da "dialCtica", 167; 3 . 0 problema dos uni- 
versais, 167; 3.1. A quest50 da relag50 dos 
nomes e dos conceitos mentais corn a reali- 
dade, 167; 3.2. A solug30 do realismo exage- 
rado, 168; 3.3. A solug30 nominalista, 168; 
3.4. A solug30 moderada de Abelardo: o uni- 
versal como "sermo" extraido da "ratio" sobre 
a base do "status communis" dos indlviduos, 169; 
3.5. Implicag6es logicas e metafisicas da posi- 
qio "conceitualista" de Abelardo, 169; 3.6. A 
posig5o do "realismo moderado" que sera as- 
surnida por santo Tomas e se impora como clas- 
sics, 170; 3.7. Quadro sinotico geral do pro- 
blema dos universais e das suas solug6es, 170. 
MAPA CONCEITUAL. - Disputa sobre os uni- 
versais, 171. 
Tb.x~os - Abelardo: 1. Confissoes autobio- 
graficas a um amigo, 172; 2. A logica a ser- 
vigo da teologia, 174; Porfirio: 3. A ques- 
tiio dos universais, 175. 
Capitulo dkcimo primeiro 
Centros promotores de cultura 
do seculo decimo segundo. 
As escolas de Chartres 
e de SZO Vitor, Pedro Lombardo 
e JoZo de Salisbury 177 
I. As Escolas de Chartres 
e de Siio Vitor 177 
1. Tradiq3o e inovag30, 177; 2. As artes do 
trivio em perspectiva religiosa, 178; 3. 0 
Timeu de Plat30 interpretado B luz do G& 
nesis, 179; 4. 0 Didascalicon de Hugo de 
S3o Vitor, 180; 5. A mistica e Ricardo de 
Siio Vitor, 180. 
11. Pedro Lombardo 
e Jo5o de Salisbury 182 
1. 0 s livros das Senten~as de Pedro Lom- 
bardo, 182; 2. Jo3o de Salisbury: os limites 
da razso e a autoridade da lei, 183. 
TEXTOS - Hugo de S3o Vitor: 1. 0 valor 
dos classicos, 184; Pedro Lombardo: 2. Sen- 
teqas sobre filosofia e sobre teologia, 185. 
Sexta parte 
A ESCOLASTICA 
NO SECULO 
DECIMO TERCEIRO 
Capitulo dkcimo segundo 
A filosofia arabe e a hebraica, 
a penetraqiio de Aristoteles 
no Ocidente 
e a mediaqao 
entre aristotelismo 
e cristianismo 189 
I. A s i tua~5o politica e' cultural 
no siculo XI11 189 
1. Situagao politico-social e instituiq6es ecle- 
siasticas, 189; 2. A situagao cultural, 190. 
11. 0 aristotelismo de Avicena - 191 
1. A figura e a obra, 191; 2 . 0 ser possivel e 
o ser necessArio, 192; 3. A "logica da gera- 
g5o" e a influincia de Avicena, 193. 
111. 0 aristotelismo de Averr6is - 194 
1. A figura e as obras, 194; 2. Primado da 
filosofia e eternidade do mundo, 195; 3. Uni- 
cidade do intelecto humano, 196; 4. Con- 
seqiiincias da unicidade do intelecto, 197; 
5. As primeiras condenaq6es do aristotelis- 
mo, 197. 
MAPA CONCEITUAL - Averrois: A teoria do 
intelecto, 199. 
IV. A filosofia hebraica 200 
1. Influxos hebraicos sobre o Ocidente: Avi- 
cebron, 200; 2. MoisCs MaimGnides, 200. 
V. Alberto Magno 202 
1.0 programa de pesquisa de Alberto Mag- 
no, 202; 2. A distin~go entre filosofia e teo- 
logia, 203; 3. Filosofos gregos e tedogos 
cristios, 204. 
TFXTOS - Avicena: 1. A teoria dos intelectos, 
205; Alberto Magno: 2. A nuturea do bem, 206. 
Capitulo dkcimo terceiro 
A grande sintese 
de Tomas de Aquino 211 
I. A vida e as obras de Tomis 21 1 
1. Tomas, um dos maiores pensadores de 
todos os tempos, 211; 2. Raz3o e ft, filoso- 
fia e teologia, 212; 3. A teologia n30 substi- 
tui a filosofia, 213. 
11. A ontologia 215 
1. 0 conceit0 de ente, 216; 2 . 0 ente logico, 
216; 3. 0 ente real e a distinqiio entre essin- 
cia e existincia, 216; 4. Novidade da pers- 
pectiva tomista em relaqiio k ontologia grega, 
217; 5 . 0 s transcendentais: o ente como uno, 
verdadeiro, bom, 217; 5.1. A unidade do ente 
("omne ens est unum"), 217; 5.2. A verdade 
do ente ("omne ens est verum"), 218; 5.3. A 
bondade do ente ("omne ens est bonum" ), 2 19; 
6. A analogia do ser, 219; 7. Transcendincia 
de Deus e teologia negativa, 220. 
MAPA CONCEITUAI, - A ontologia, 221. 
111. A teologia: 
as cinco vias para provar 
a existencia de Deus 222 
1. Conhecimento "a posteriori" da existin- 
cia de Deus, 222; 2. A primeira via, ou via 
do movimento, 223; 3. A segunda via, ou 
via da causalidade eficiente, 223; 4. A tercei- 
ra via, ou via da contingincia, 224; 5. A quar- 
ta via, ou via dos graus de perfei@o, 225; 
6. A quinta via, ou via do finalismo, 225. 
MAPA CONCEITUAL -AS cinco provas da exis- 
tdncia de Deus, 226. 
IV. A teoria do direito 22 7 
1. 0 livre-arbitrio, 227; 2. "Lex aeterna", 
"lex naturalis", "lex humana", "lex divi- 
na", 228. 
MAPA CONCEI I-UAI. - 0 conhecimento huma- 
no das leis, 230. 
V. 0 "filosofar na fk" em Tomis- 23 1 
1. A fe, guia da razao, 231. 
TEXTOS - Tomas: 1. Sobre a "cientificidade " 
da doutrina sagrada, 233; 2. Ente e essdn- 
cia, 235; 3. A natureza da alma, 241; 4. As 
cinco vias para demonstrar a existdncia de 
Deus, 245; 5. Lei eterna, lei natural, lei hu- 
mana e lei divina, 248. 
Capitulo dkcimo quarto 
0 movimento franciscano 
e Boaventura de Bagnoregio -- 253 
I. 0 franciscanismo - 253 
1. S3o Francisco e o franciscanismo, 253; 
2. Alexandre de Hales, 254. 
11. SZo Boaventura e os vkrtices 
da Escola franciscana 255 
1. S3o Boaventura: a vida e as obras, 256; 
2. A posiqZo de Boaventura contra o aristote- 
lismo averroista, 256; 3. Na origem dos er- 
ros do aristotelismo, 257; 4 . 0 exemplarismo, 
258; 5. As "rationes seminales", 259; 6. Co- 
nhecimento humano e iluminaqiio divina, 
259; 7. Deus, o homem e a pluralidade das 
formas, 260; 8. Boaventura e Tomas: "uma" 
fe e "duas" filosofias, 261. 
MAPA CONCEITIIAL - Boaventura: A cria@o, 
262. 
TEXTOS - Boaventura: 1. As seis etapas para 
chegar a Deus, 263. 
Capitulo decimo quinto 
Averroismo latino, 
neo-agostinismo 
e filosofia experimental 
no seculo decimo terceiro 269 
I. Siger de Brabante 
e o averroismo latino 269 
1.0 averroismo latino, 269; 2. Siger de Bra- 
bante e a doutrina da dupla verdade, 270; 
3. 0 s franciscanos em polemica contra o 
aristotelismo e o relanqamento do agostinis- 
mo, 271. 
11. A filosofia experimental 
e as primeiras pesquisas cientificas 
na era da Escolistica 2 72 
1. Roberto Grosseteste, 272; 2. Roger Ba- 
con, 273; 2.1. A vida e as obras, 273; 2.2. An- 
tecipaq6es por parte de Roger Bacon de idCias 
que Francis Bacon tornara famosas no sCc. 
XVI, 274; 2.3. A experitncia como base de to- 
do conhecimento, 274; 2.4. Problemas fisi- 
cos e tkcnicos em Bacon, 274; 2.5. As idCias de 
Bacon sobre as traduqGes, 275; 3. Pesquisas 
tecnol6gicas na Idade MCdia, 276. 
Capitulo dicimo sexto 
Joiio Duns Escoto 277 
I. A vida e a obra 277 
1. 0 "Doutor sutil", 277; 2. Distingio en- 
tre filosofia e teologia, 278. 
11. A metafisica 279 
1. A univocidade do ente, 280; 2. 0 ente 
univoco, objeto primeiro do intelecto, 281; 
3. A ascensiio a Deus, 282; 4. A insuficitn- 
cia do conceit0 de ente infinito, 282; 5 . 0 prin- 
cipio de individuaqiio e a "haecceitas", 283. 
111. A concepqiio do direito 285 
1. 0 voluntarismo e o direito natural, 285. 
MAPA CONCEITUAL - A univocidade do ente, 
287. 
Twos - Duns Escoto: 1. A univocidade do 
ente, 288; 2 . 0 principio de individua@o, 290 
- - - 
Sitima parte 
A ESCOLASTICA 
NO SECULO 
DECIMO QUARTO 
Capitulo dicimo sitimoGuilherme de Ockham, 
os Ockhamistas 
e a crise da Escolastica 295 
universal e o nominalismo, 300; 7. A 'ha- 
valha de Ockharn" e a dissoluqiio da metafisica 
tradicional, 301; 8. A nova logica, 302; 9 . 0 
problema da existtncia de Deus, 303; 10. Con- 
tra a teocracia, a favor do pluralismo, 304. 
MAPA CONCEITUAL -A teoria do conhecimen- 
to, 306. 
11. Ockham 
e a cisncia dos Ockamistas 307 
1. 0 novo mCtodo da pesquisa cientifica 
proposto por Ockham, 30'7; 1.1. Fidelida- 
de ?i experitncia, 307; 1.2. E precis0 buscar 
niio a essincia mas a funqiio dos fename- 
nos, 308; 1.3. Valorizaqio de hipoteses 
explicativas, 308; 1.4. Para uma concepqiio 
do universo como homogzneo, 308; 2. 0 s 
Ockhamistas e a ciincia aristotilica, 308; 
2.1. Para um novo paradigma cientifico que 
ultrapassa o aristotelismo, 308; 2.2. Criti- 
cas de Buridan a Arist6teles com o mitodo 
da falsificaqiio empirica, 309; 2.3. Outros 
contributos significativos, 3 10; 3 . 0 s Ockha- 
mistas e a citncia de Galileu, 310. 
Tmos - Guilherme de Ockam: 1. A logica 
dos termos, 312. 
Capitulo dicimo oitavo 
~ l t i m a s figuras 
e fim do pensamento medieval - 321 
I. 0 problema 
do "primado" politico 321 
1. Egidio Romano e Joiio de Paris: tem pri- 
mado a Igreja ou o ImpCrio?, 321; 2. 0 De- 
fensor pacis de Marsilio de PAdua, 322. 
11. Dois reformadores pri-luteranos: 
JoZo Wyclif e Joiio Huss 324 
1. Joiio Wyclif, 324; 2. Joiio Huss, 325. 
111. Mestre Eckhart 
e a mistica especulativa alem5 - 326 
1. As raz6es da mistica especulativa, 326; 
2. Mestre Eckhart: o homem e o mundo sio 
I. Guilherme de Ockham 295 nada sem Deus, 327; 3. 0 retorno do ho- 
mem a Deus, 328; 4. OposiqGes suscitadas 1. A situaqiio hist6rico-social do sCc. XIV, Eckhart seus discipulos, 328. 296; 2. Guilherme de Ockham: a figura e as 
obras, 298; 3. IndependCncia da ft em rela- T m o s - Mestre Eckhart: 1. Ver Deus nus 
$ao 2 raz50, 299; 4.0 empirismo prima- criaturas e as criaturas em Deus d fonte de 
do do individuo, 299; 5. Conhecimento in- verdadeira consola@O, 330. 
tuitivo e conhecimento abstrato, 300; 6. 0 Bibliografia do segundo volume, 333. 
/ 
Jndice de nomes* 
ARELARDO P., 119, 120, 122, 146, 
161-165, 166,167, 168,169, 
170,171, 172-1 75, 178, 182, 
183,190 
Adeodato, 82 
AGOSTINHO nE HIPONA, 30, 44, 69, 
70, 71, 73, 75, 81-101, 102- 
11 6,119,120,122,126,127, 
158,162,175,185,202,203, 
204,206,227,228,233,242, 
243,248,249,250,251,254, 
257,258,271,273,330 
ALBERTO MAGNO, 137, 190, 198, 
202-204, 206-210,211,212, 
270,272,273,276,326,329 
ALCUINO DE YORK, 121, 122, 134, 
135 
ALEXANDRE 111, PAPA, 128 
ALEXANDRE DE AFRODISIA, 130 
AIEXANDRE DE HALES, 190,198,253, 
254,256 
Alexandre Magno, 275 
Alpago A., 205 
" Neste indice: 
BACON F., 272,274 
BACON R., 272,273-276,277 
BALTHASAR, H.U. VON, 62 
BAS~LIDES, 36 
BAsiLlo DE CESAREIA, 56, 57 
Beato AngClico, 244 
Beatus de Liibana, 9 
BECKET, T., 183 
BEDA, o VENERAVFI., 122, 134 
BERENGARIO DE TOURS, 167 
Bergognone, Ambrosia 
de Fossano dito o, 75 
BERNARD~ IIE CHARTRES, 166, 177, 
178,179,184 
BERNARDO DE CLARAVAL, 254 
Berruguete P., 286 
BOAVENTURA DF BAGNORFGIO, 11 9, 
120, 137, 147, 151, 187, 
188, 190, 193, 198, 212, 
254,255-262,263-268,271, 
277,286 
Botcro DF DAt IA, 270 
BOECIO S., 119, 120, 122,129-134, 
139-143,362,207,212,237, 
275 
Bonifacio VIII, papa, 271,277,296, 
297,322 
Botticelli S., 92, 96 
BRADWARDINE T., 310,324 
BURIDAN J., 305, 307, 309-310 
CALC~DIO, 73 
Calisto 11, ahtipapa, 128 
Carlos IV, irnperador, 297 
Carlos Magno, 121, 122, 134 
Carlos o Calvo, irnperador, 5, 13.5, 
136 
CARN~ADES, 72 
CARP~CRATES, 36 
CARTA A DIOGNETO, 39,41-42,49-50 
C~sslonono M.A., 122, 134 
Celino de Nese, 126 
Chenu M.-D., 233 
CICERO, MARCO TULIO, 73, 74, 82, 
122,249,250 
CINO IIE P I S T ~ ~ A , 126 
CIPRIANO DE CARTAGO, 71, 73, 130 
CLEANTO DE ASSOS, 76 
Clernente IV, papa, 274 
-reportam-se em versal-versalete os nomes dos filosofos e dos hornens de cultura ligados ao desenvolvi- 
rnento do pensamento ocidental,.para os quais indicam-se em negrito as piginas em que o autor C tratado 
de acordo corn o tema, e em itihco as paginas dos textos; 
-reportam-se em italic0 os nomes dos criticos; 
-reportam-se em redondo todos os nomes niio pertencentes aos agrupamentos anteriores. 
XIV 
CLEMENTE ROMANO, 29,43 
CONSTANTINO, IMPERADOR, 55, 73 
COUSIN V., 130 
CRISIPO DE SOLI, 12, 76 
CRISPO, 73 
CROCE B., 8 
Ddmaso, papa, 74 
DANTE ALIGHIERI, 321, 322 
Demktrio (bispo), 44 
DE REGINA J., 271 
DESCARTES R., 90, 147, 151 
DE LA MARE G., 271 
DONATO, HF.LIO, 122 
DUNSESCOTO J., 119,120,147,151, 
190, l92,193,277-287,288- 
292,301,303,324 
Ecberto, 134 
E(;inlo DE LASSINES, 270 
Ecinro ROMANO, 269,271,321-322 
Elias, 277 
E I ~ U R O , 24 
EP~FANFS, 36 
Esc:oro ERIUGENA J., 61, 66, 117, 
118, 119, 122, 135-138, 14.3- 
144,148,166,168,190 
Es~tvAo DE PROVINS, 198 
Eustlrro DE CESAR~IA, 55 
Fabro C., 220 
FAUSTO, 83 
Filipe o Belo, rei da Franp, 277, 
297 
Filon de Alexandria, 26,28,31-34, 
37-38, 39, 74, 91, 110 
FIRMI(:O MATERNO, JULIO, 73 
Francisco de Assis, 253, 263, 267 
Frederico I Barbarroxa, imperador, 
123,128 
Frederico I1 de Sutvia, imperador, 
189,211 
Fulberto, 177 
Gaddi T., 182 
GALILEI G., 310 
Galla Placidia, 16 
GAUNILON, 147, 151, 157, 160 
GelQsio I, papa, 321, 322 
GHERARDO DE CREMONA, 192 
GILBERTO PORRETANO, 177, 178 
GONSAIVO HISPANO, 277 
GOTESCALCO, 135 
G R E G ~ R I O MAGNO, PAPA, 120, 208 
Greg6rio VII, papa, 128,296 
Greg6rio IX, papa, 197 
Greg6rio X, papa, 212,276 
G R E C ~ R I O NAZIANZENO, 56, 57, 66 
G R E G ~ R I O DE NISSA, 56 
GROUSSET, R., 24 
GUALTIER DE BRUGES, 254 
GUILHERME 11, o RUIVO, REI DA INGLA- 
TERRA, 148 
GUILE-IERME DE AUXERRE, 198 
GUILHERME DE CHAMPEAUX, 162,166, 
168,171,172,173,180 
GUILHERME DE CONCHES, 177, 179, 
180 
GUII.HERMF. DE MOERBECKE, 326 
GUND~SSAIY~ D., 192, 200 
Hayim, 4 
HELO~SA, 162, 165 
HENRIQUE I, o LEAo, REI IIA INGLA- 
TF.RRA, 148 
HENRIQUF VI DF. SUPVIA, 128 
HENRIQUE DE GAND, 271 
HENRIQUE SUSO, 328 
HERACLIDES P~NTICO, 76 
HERACLITO, 48 
H~siono, 76 
HIIARIO DF. POITIERS, 73 
Holder A., 133 
HUGO DE SAO V~TOR, 137,177,180, 
181, 184-185,235,254 
Huss J., 305, 325 
InocCncio 111, papa, 189, 190,296, 
322 
Jaeger W, 57 
JERONIMO, 6, 74-75, 120, 234 
JERONIMO DE ASCOLI, 274 
JoAo CI~MACO, 68 
JoAo DAMASCENO, 26, 62, 68, 120, 
235,245 
JOAO DE JANDUN, 322 
JOAO DF. PARIS, 321-322 
JOAO DE SALISBURY, 146, 166, 178, 
182,183 
Jo5o Evangelista, 1, 5, 19, 27, 30, 
32,102,103,327 
JoAo IBN DAHUT, 200 
JoAo XXII, 297,298,324,328 
Joaquim De Fiore, 128 
JUSTINIANO, IMI'ERADOR, 44, 12 1 
JUSTINO MARTIR, 39-40, 47-48, 49, 
76 
Justo de Gand, 286 
KANT I., 147,151 
Kilwardby R., 271,297,322 
KUHN T., 310 
LACTANCIO, L~I(:Io FIRMIANO, 71, 73 
Landolfo de Aquino, 21 1 
LEIBNIZ G. W., 147, 151 
Leso XIII, papa, 261 
Lebnidas, pai de Origenes, 44 
Lippi F., 167 
Lucas Evangelista, 5, 8, 15 
Ludovico o Bivaro, imperador, 297, 
299 
LUTERO M., 304 
Macrina, 63, 64 
MACROBIO, AMBR0510 TFOII~SIO, 73 
MESTRE ECKHART, 293, 326, 327- 
328,330-3.31 
Magno, 234 
MAIMONIDES M., 200-201 
MARCIANO ARISTIIIES, 39 
MARCIANO CAPELLA, 136, I78 
MARCIAO DE SINOPE, gnostico 179 
Marcos Evangelista, 5, 19,20 
MAnsiLlo DE PADUA, 321,322-323,324 
MAXIMO o CONFESSOR, 25, 26, 61- 
62, 66-68, 119, 136 
MATEUS DE ACQUASPARTA, 269, 271 
Mateus Evangelista, 5, 7, 15,20 
Melitso G., 256 
MINUCIO FFLIX, 71, 72, 76-77 
Moeller C., 24 
M6nica, 81, 82 
NEDELEC H., 271 
NEMESIO DE EMESA, 56 
N E S T ~ R I O DE ANTIOQUIA, 30 
N I C ~ L A U DE AUTR~COURT, 305 
NICOLAU DE ORESME, 305,307, 310 
NOVACIANO, 71, 73 
Pacher M., 85 
PANTENO, 43 
PARMENIIIES,12, 24 
Pascoal 111, antipapa, 128 
PATR~CIO, 82 
Paulo de Tarso, 3,5,16,17,19,21, 
27, 52, 59, 65, 79, 80, 83, 
136,183,246,328 
Peckham J., 271,277,297 
PEIIRO DAMIAO, 166 
PEIIRO L O M B A R D ~ , 146, 182-1 83, 
185-1 86,202,212,235,277, 
278,283,298 
PEDRO, PAPA, 8 
PEDRO DE JoAo OLIVI, 271 
PEL.A(,IO, 84 
PEREGRINO P., 273 
PFTRARCA F., 89,297 
PEI)RO, O VENERAVEI., 162 
PII K ~ o ~ , PON(:IO, 48 
Pinturicchio, Bernardino de Betto 
dito o, 94 
PIRRO IIF. ELIDA, 72 
PITAGORAS, 40, 72, 185 
PLATAO, 8, 11, 12, 14, 17, 18, 21, 
33,39,40,50,62,72,73,89, 
91, 95, 102, 106, 107, 110, 
111,112,114,115,120,130, 
135,177,179,180,184,185, 
231,232,249,257,279,326 
PI.OTINO, 11,12,21,35,45,81,84, 
88, 89, 91, 92, 95, 96, 112 
Pohlenz M., 15, 84 
POLICARPO DE ESMIKNA, 29 
PORFIRIO LIE TIRO, 81, 84, 89, 129, 
130, 162, 175-176,278,289 
PRISCIANO DE L~DIA, 122 
PROCLO, 327 
Pseudo-Dionisio Areopagita, 26, 
59-60, 65-66, 135, 136, 137, 
143,212,264,327 
PTOLOMEU, CLAUDIO, 178 
PTOLOMEU FILADELFO, 6 
Raffaello Sanzio, 120 
Reginaldo de Piperno, 212 
Renan E., 269 
RICARDO DE MIDDLETOWN, 271 
RICARDO DE SAO V ~ O K , 177, 180- 
181,254 
Roberto de C o u r ~ o n , 190, 197 
 ROBERT^ LIE MELUN, 235 
ROBERTO GROSSETESTF., 272-273, 
274,275,276,277 
ROGER DE MARSTON, 271 
Rosct-.l,r~o DF C~MPIPGNE, 162, 166, 
168,169,171 
RUFINO, 74-75 
Rusticiana, 129 
RUYSRROF(:K, J . IIE, 329 
Saladino, sultiio, 200 
SENKA, LUCIO ANFU, 71, 73 
SICER DE BRABANTE, 269,270-271 
Simaco, Quinto AurClio MEmio, 
130 
SIMAO IIF AUTHIE, 198 
SINESIO DE CIRENE, 56 
S~CRATES, 21,24,48,249 
TACIANO, o ASS~RIO, 39,40-41 
TAULER J., 328 
Tempier E., 269,270,271,297,322 
Teodora, 21 1 
Teodorico, imperador, 129, 131 
TEODORICO DE CHARTRES, 177, 179, 
180 
T ~ o n o ~ r c o DE FRIBURGO, 276 
TEOFILO DE ANTIOQUIA, 39, 41, 58 
T E K ~ L I A N O Q. S ~ I M O FLORENTE, 71, 
72-73, 77-79 
TOMAS DE AQUINO, 62, 119, 120, 
137, 147, 151, 166, 167, 
170, 171, 188, 190, 192, 
193, 198, 201, 203, 204, 
211-232,233-252,259,261, 
269, 271, 277, 286, 301, 
303,322, 326,328 
Tomas de Modena, 202 
VALENTIM, 36 
Valerio (bispo), 82 
VANNI ROVILHI S., 182, 216 
Vitor IV, antipapa, 128 
VITORINO, GAIO MARIO, 71, 73, 84, 
130 
WITELO, 276 
WYCI.IF J., 304, 305, 324-325 
Z F N A ~ DE C~CIO, 12 
Zbsimo, papa, 84 
Zurbaran, Francisco de, 232 
agape, 19 Logos, 32 
alegoria, 32 
analogia, 220 
apocatastase, 46 
argument0 ontologico, 150 0 
monoteismo, 11 
conceitualismo, 169 
criacionismo, 12 I 
navalha de Ockham, 302 
nominalismo, 169 
ente e essincia, 193 
realismo exagerado, 168 
realismo moderado, 170 
fk e raziio, 88 
m 
m 
haecceitas, 284 teologia apofatica, 59 
transcendentais, 21 9 
intelectd ~ L ~ o s s i v e l ~ ~ universais, 154 
e intelecto "agente", 196 univocidade, 28 1 
DA MENSAGEM B~BLICA 
"Em verdade, em verdade, vos digo: 
ninguem podera ver o Reino de Deus 
se niio nascer de novo." 
Capitulo primeiro 
A Biblia, sua mensagem e suas influhcias 
sobre o pensamento ocidental 
I. E s t v ~ t ~ v a e sigmifirado da Bibl ia 
Com o nome de Biblia (do grego biblia = "livros") indicam-se 73 livros con- 
siderados inspirados, distintos em Antigo Testamento (46 livros) e Novo Testamen- 
to (27 livros). 
0 Antigo Testamento divide-re por sua vez em livros his- gue a toricor, livros diditticor e livros profeticos. 0 s primeiros cinco 
_ livros historicos (Genesis, Exodo, Levitico, Numeros e Deute- 
roniimio) sao os livros da Lei ou Pentateuco. 
0 Novo Testamento e composto pelos quatro Evangelhos, pelas Cartas de 
Paulo, pelas Cartas dos Apostolos e pelo Apocalipse. 
"Testamento" traduz o termo grego diatheke e indica o pacto ou aliansa que 
Deus ofereceu a Israel. 
A mensagem biblica, mesmo que nao tenha sido inspirada pela raz%o e sim 
pela fe, teve ta l impact0 historic0 e incidiu de mod0 tao profundo na concep@o 
do mundo e da natureza do homem, que deve ser considerada 
tambem do ponto de vista filosofico. A irnportsncia 
Neste sentido, ela trouxe algumas contribui~des revolu- historico-cultural 
cionarias para a historia do pensamento. da Biblia 
-+ 36 
0 significado 
do termo "Biblia" 
"Biblia", do grego biblia, significa "li- 
vros". E um plural (de biblion) que, no la- 
tim e nas linguas modernas, foi transliterado 
como singular para indicar o "livro" por ex- 
celhcia. Na realidade, a Biblia n io C um s6 
livro, mas coletinea de uma sCrie de livros, 
cada qua1 apresentando um titulo e peculia- 
ridades especificas, caracterizado tambCm 
por extensio diversa e diferentes estilos li- 
terarios e redacionais. Chegou-se a falar at6 
mesmo da Biblia como de uma "coletinea 
de coletineas" de livros, j i que, por seu tur- 
no, alguns livros s5o precisamente coleti- 
neas de viirios livros. 
0 s livros da Biblia dividem-se em dois 
grandes grupos: 
a ) os do Antigo Testamento (redigidos 
a partir de aproximadamente 1300 a.C. at6 
100 a.C.; entretanto, os primeiros livros ba- 
seiam-se em uma tradiqio oral antiquissima; 
6) os do Novo Testamento, que remon- 
tam todos ao sCculo I d.C., centrando-se in- 
teiramente na nova mensagem de Cristo. 
0 s escritos qMe constitl~em 
o Antigo Testamento 
0 s livros do Antigo Testamento re- 
conhecidos como can6nicos pela Igreja ca- 
t6lica (ou seja, que contim o "c2non" ou 
Primeira parte - $\ revoluG&o espiri+unl d a mensagem biblica 
a "regra" em que deve se basear o crente 
no que se refere a verdade da f C ) siio qua- 
renta e seis, subdivididos da seguinte ma- 
neira: 
Livros hist6ricos: 
1. Gtnesis 
2. Exodo 
3. Levitico 
4. Numeros 
5. DeuteronBmio 
(0s livros de MoisCs - 115 - de- 
nominam-se Pentateuco, que significa, 
precisamente, "conjunto de cinco livros". 
TambCm s2o chamados Tora, que quer 
dizer "Lei", ou seja, os livros que contim 
a lei.) 
6. Josue' 
7. Juizes 
8. Rute 
9. Primeiro Samuel 
10. Segundo Samuel 
11. Primeiro Reis 
12. Segundo Reis 
(0s livros 9/12 indicam-se tambCm com 
o titulo geral de Reis I, 11, 111, IV) 
13. Primeiro CrBnicas 
14. Segundo CrGnicas 
15. Esdras 
16. Neemias 
(0s livros 15/16 siio tambCm indicados 
por Esdras I e 11) 
17. Tobias 
18. Judite 
19. Ester 
20. Primeiro livro dos Macabeus 
21. Segundo livro dos Macabeus 
Livros sapienciais ou poCticos: 
22. JO 
23. Salmos 
24. Prove'rbios 
25. Eclesiastes 
26. Cintico dos C2nticos 
27. Sabedoria 
28. Eclesiastico 
Livros profkticos: 
(este primeiro grupo - 29/34 - de- 
nomina-se "profetas maiores", por causa da 
extensgo dos escritos) 
29. Isaias 
30. Jeremias 
3 1. Lamentapies 
32. Baruc 
Rihlia de Schockeli (Jcr~rsaltrn, Institute Schockcn). 
I l z~~n inura de paginu inteiriz 
cowz a ~ I U ~ U U I L ~ Bercshith 
( " N o principio "), inicio d o lizwo i f i ) Gi.nesis, 
d e c o n ~ d a corn 45 n z e d a l h k 
que representatn epistidios bi'l~licos orilenados 
seqiiencialmente da direitir para a espcrr la 
e do alto para I~aixo; 
os primeirus epistidios silo iiedicados 
a Ad20 e E L M , e o u l t i m ) a Kalaiio r ao m ; o . 
0 i l u s t rad~r , chanlado Hilyirn, 
trabalhozt p o ~ ~ ~ ) l t a de 1.100 
n~7 Alrnianha inrr1if!o11a/. 
33. Ezequiel 
34. Daniel 
(este segundo grupo - 35/46 - C cha- 
mado de "profetas menores" por causa da 
quantidade exigua de seus escritos) 
35. Ose'ias 
36. Joel 
37. Amos 
38. Abdias 
39. Jonas 
40. Mique'ias 
41. Naum 
42. Habacuc 
43. Sofonias 
44. Ageu 
45. Zacarias 
46. Malaquias 
Esse "c5nonn, que consta ja ter assu- rT 0 s viv\fe e sete (ivros 
mido consisttncia entre os cristiios desde o 
sCculo IV. foi sancionado definitivamente do Novo Lstamento 
pel0 ~onc i l i o de Trento (0s protestantes, 
porCm, adotaram o c5non hebraico,do qua1 0 s livros do Novo Testamento reco- 
falaremos logo adiante). nhecidos como canBnicos s ~ o 27, divididos 
0 s hebreus adotaram apenas trinta e da seguinte maneira: 
seis livros (dividindo-os em tor^", "Pro- 
fetas" e "Livros"), excluindo Tobias, Judite, 
Primeiro e Segundo Macabeus, Sabedoria, 
Eclesiastico, Baruc e tambim parte de Daniel, 
que siio livros redigidos em grego ou que 
nos siio conhecidos somente no texto gre- 
go. (Hoje, porCm, estamos em condig6es de 
estabelecer aue tal restriciio remonta aos 
fariseus da Palestina, que pensavam que, 
depois de Esdras, cessara a inspiragiio divi- 
na, enquanto outras comunidades hebrai- 
cas incluiam entre os livros sagrados tam- 
bCm alguns destes livros. Com efeito, nas 
descobertas ocorridas em 1947 em Qumran, 
que trouxeram $ luz numerosos livros per- 
tencentes a uma comunidade hebraica ati- 
va da ipoca de Cristo, foram achados os 
livros de Tobias e o Eclesiastico, que, por- 
tanto, niio estavam excluidos dos livros sa- 
grados.) 
Quatro Evangelhos, com os Atos dos 
Apostolos: 
1. Evangelho segundo Mateus 
2. Evangelho segundo Marcos 
3. Evangelho segundo Lucas 
4. Evangelho segundo Joiio 
5. Atos dos Apostolos 
Um corpus de cartas de s io Paulo (ou 
a ele atribuidas): 
6. Carta aos Romanos 
7. Primeira carta aos Corintios 
8. Segunda carta aos Corintios 
9. Carta aos Galatas 
10. Carta aos Efe'sios 
11. Carta aos Filipenses 
12. Carta aos Colossenses 
13. Primeira carta aos Tessalonicenses 
14. Segunda carta aos Tessalonicenses 
15. Primeira carta a Tim6teo 
16. Segunda carta a Timdteo 
17. Carta a Tito 
18. Carta a Filemon 
19. Carta aos Hebreus 
Sete cartas de apostolos ou atribuidas 
a apostolos: 
20. Carta de Tiago 
21. Primeira carta de Pedro 
22. Segunda carta de Pedro 
23. Primeira carta de Joao 
24. Segunda carta de Joao 
25. Terceira carta de JoZo 
26. Carta de Judas 
Um livro profitico de S. Joiio: 
27. Apocalipse 
Hoje, os estudiosos estiio bastante con- 
cordes em considerar que a Carta aos He- 
breus niio foi escrita por Paulo, embora o 
autor esteja proximo da visiio paulina. 
0 s textos da Biblia foram redigidos em 
trts linguas: 
- hebraico (a maior parte do Antigo 
Testamento); 
- pequena parte em ararnaico (um dia- 
leto hebraico): , , 
Uma pugina da preciosa Biblia de Caulos o Cnlvo - e em grego (alguns textos do Antigo 
COWI ns histijrins de Ad20 (set. I X ) . Testamento e todo o Novo Testamento; ape- 
Primeira parte - r e v o l ~ 1 ~ 8 0 espiri+ual da mensagem biblica 
nas o Evangelho de Mateus, ao que parece, 
foi redigido primeiro em aramaico e depois 
traduzido em grego). 
Duas traduqaes basilares tiveram gran- 
de importiincia historica. Uma, em lingua 
grega, de todo o Antigo Testamento: a cha- 
mada traduqao dos "Setenta", iniciada em 
Alexandria sob o reinado de Ptolomeu Fi- 
ladelfo (285-246 a.C.), que ficou como pon- 
to de referhcia na area da cultura grega para 
os proprios hebreus helenizados, e para os 
gregos (muitas referincias dos proprios Evan- 
gelhos baseiam-se nela). 
A partir do sCculo I1 d.C. a Biblia foi 
traduzida tambCm para o latim. Entretan- 
to, a traduq5o feita por s5o Je rh imo entre 
390 e 406 foi a que se imp& de mod0 esta- 
vel, a ponto de ser oficialmente adotada pela 
Igreja, sendo conhecida com o nome de 
Vulgata, por ser considerada a traduqzo la- 
tina por excelincia. 
Como vimos, as duas partes da Biblia 
s50 chamadas de Antigo e Novo Testamen- 
to. 0 que significa "Testamento"? Esse ter- 
mo traduz o grego diathe'ke, indicando o 
"pacto" ou "alianqa" que Deus ofereceu a 
Israel. Nesse pacto (a oferta do pacto e aqui- 
lo que ele comporta), a iniciativa 6 unilate- 
ral, ou seja, inteiramente dependente de 
Deus, que o ofereceu. E Deus o ofereceu por 
mera benevolincia, vale dizer, como dom 
gratuito. 
Eis alguns textos particularmente sig- 
nificativos nesse sentido. Em Ginesis 9,9ss 
apos o diluvio, Deus diz a No6 e seus filhos: 
"Eis que estabeleqo minha alian~a convosco 
e com os vossos descendentes depois de v6s 
e com todos os seres animados que est5o 
convosco. (. . .) Estabeleqo a minha alian~a 
convosco: tudo o que existe niio sera mais 
destruido pelas aguas do diluvio; n5o have- 
:a mais diluvio para devastar a terra". Em 
Exodo 24,343, podemos ler a passagem mais 
significativa relativa ao "antigo" testamen- 
to, ou seja, a alianqa sinaitica entre Deus e 
Israel, que devia durar at6 Cristo: "Veio, 
pois, Moisis e referiu ao povo todas as pa- 
lavras de JavC e todas as leis, e todo o povo 
respondeu a uma so voz: 'Nos observare- 
mos todas as palavras ditas por JavC'. MoisCs 
escreveu todas as palavras de JavC; e, levan- 
tando-se de manha, construiu um altar ao 
p i da montanha e doze estelas para as doze 
tribos de Israel. Depois enviou alguns jo- 
vens dos filhos de Israel, e ofereceram os 
seus holocaustos e imolaram a JavC novi- 
lhos como sacrificios de comunh50. MoisCs 
tomou a metade do sangue e colocou-a em 
bacias, e espargiu a outra metade do sangue 
sobre o altar. Tomou o livro da alian~a e o 
leu para o povo; e eles disseram: 'Tudo o 
que JavC falou, nos o faremos e obedecere- 
mos.' Moisis tomou do sangue e o aspergiu 
sobre o povo, e disse: 'Este C o sangue da 
alian~a que Jave fez convosco, por meio de 
todas estas clausulas' ". 
E no profeta Jeremias (31,31ss), eis a 
promessa de uma "nova alianqa" (aquela 
que seria inaugurada por Cristo): "Eis que 
dias vir5o - oraculo de JavC - em que se- 
larei com a casa de Israel (e a casa de Juda) 
urna alian~a nova. N5o como a alianqa que 
selei com seus pais, no dia em que os tomei 
pela m5o para fazi-10s sair da terra do Egi- 
to - minha alian~a que eles mesmos rom- 
peram, embora eu fosse o seu Senhor, ori- 
culo de JavC! Porque esta e a alianqa que 
selarei com a casa de Israel depois desses 
dias, oraculo de Javi. Eu porei minha lei no 
seu seio e a escreverei em seu coraqzo. En- 
t5o eu serei seu Deus e eles ser5o meu povo. 
Eles n5o teriio mais de instruir seu proximo 
ou seu irmiio, dizendo: 'Conhecei a JavC!' 
Porque todos me conhecer50, dos menores 
aos maiores - oraculo de JavC -, porque 
vou perdoar sua culpa e n5o me lembrarei 
mais de seu pecado". 
E o autor da Carta aos Hebreus ( 9 , l l - 
22) assim explica o sentido do novo "tes- 
tamento" e da nova "alianqa" que t sancio- 
nada precisamente com a vinda de Cristo: 
"Cristo, porCm, veio como sumo sacerdo- 
te dos hens vindouros. Ele atravessou uma 
tenda maior e mais perfeita, que n5o C obra 
de m5os humanas, isto 6, que n5o pertence 
a esta criaqzo. Ele entrou uma vez por to- 
das no Santuario, n5o com o sangue de 
bodes e novilhos, mas com o prdprio sun- 
gue, obtendo uma reden~iio eterna. De fato, 
se o sangue de bodes e de novilhos, e se a 
cinza da novilha, espalhada sobre os seres 
ritualmente impuros, os santifica purifican- 
do os seus corpos, quanto mais o sangue de 
Cristo que, por um espirito eterno, se ofe- 
receu a si mesmo a Deus como vitima sem 
mancha, ha de purificar a nossa consciincia 
das obras mortas para que prestemos um 
culto ao Deus vivo. Eis por que ele e media- 
dor de uma nova 'alian~a'. A sua morte 
aconteceu para o resgate das transgresslies 
cometidas no regime da primeira alian~a; 
e, por isso, aqueles que siio chamados re- 
cebem a heran~a eterna que foi prometida. 
Com efeito, onde existe testamento, e' ne- 
cessario que se constate a morte do testa- 
dor. 0 testamento, de fato, so tem valor 
no caso de morte. Nada vale enquanto o 
testador estiver vivo. Ora, nem mesmo a 
primeira alianqa foi inaugurada sem efusiio 
de sangue. De fato, depois que MoisCs pro- 
clamou a todo o povo cada mandamento 
da Lei, ele tomou o sangue de novilhos e 
de bodes, juntamente com a agua, a 12 es- 
carlate e o hissopo, e aspergiu o proprio 
livro e todo o povo, anunciando:'Este C o 
sangue da al ian~a que Deus vos ordenou'. 
Em seguida ele aspergiu com o sangue a 
tenda e todos os utensilios do culto. Segun- 
do a Lei, quase todas as coisas se purificam 
com sangue; e sem efusiio de sangue niio 
h i remissiio". 
E, no Evangelho de Mateus (26,27- 
28), estas palavras siio postas na boca do 
proprio Cristo: "Depois. tomou um c a k e 
e, dando graqas, deu-lho dizendo: 'Be- 
bei dele todos, pois isto C o meu sangue, 
o sangue da a l i a n ~ a (diathe'ke), que C der- 
ramado por muitos para remiss50 dos pe- 
cados' ". 
A insyil*aq&o divina 
da Biblia 
Numerosas passagens da Biblia fa- 
zem referencia a "inspiraqio divina" do 
escrito, quando n i o a ordem @eta do pro- 
prio Deus para escrever. N o Exodo, le-se: 
" JavC disse a MoisCs: 'Escreve isso e m u m 
livro como recorda@o (...)' ". O u entio: 
" JavC disse a MoisCs: 'Escreve estas pala- 
vras (...)' ". Em Isaias (30,8) pode-se ler: 
"Vai agora e escreve-o sobre urna pran- 
cheta, grava-o em um livro". Joio , no ini- 
cio do Apocalipse (1,9ss), registra: "Eu, 
Joio, vosso irmio e companheiro na tribu- 
laqiio, na realeza e na perseveranqa em Je- 
sus, encontrava-me na ilha de Patmos, por 
causa da Palavra de Deus e do Testemu- 
nho de Jesus. N o dia do Senhor, fui movi- 
d o pelo Espirito e ouvi a t r i s de mim uma 
voz forte, como de trombeta, ordenando: 
'Escreve o que v2s n u m livro e envia-o as 
sete Igrejas' (...)". 
Quanto 21 inspira@o por parte de Deus, 
podemos ler em Jeremias: "Tu seras como 
a minha boca". E a segunda carta de Pe- 
dro (1,20-21) afirma: "Sabei isto: que ne- 
nhuma profecia da Escritura resulta de urna 
interpretaqiio particular, pois que a profe- 
cia jamais veio por vontade humana, mas 
os homens, impelidos pel0 Espirito Santo, 
falaram da parte de Deus". Lucas (24,27) 
escreve em seu Evangelho que o Messias, 
"comeqando por MoisCs e por todos os 
Profetas, interpretou-lhes em todas as Es- 
crituras o que a ele dizia respeito". E Pau- 
lo reafirma: "Toda escritura C inspirada por 
Deus ". 
0 s mandamentos, inclusjve, siio escri- 
tos diretamente por Deus. No Exodo (24,12) 
It-se: "Sobe a mim na montanha e fica 1i: 
dar-te-ei tibuas de pedra, a lei e os manda- 
mentos que escrevi para ensinares a eles". 
Ou ent io (34,l) : "Lavra duas tibuas de 
pedra, como as primeiras, sobe a mim na 
montanha, e eu escreverei as mesmas pala- 
vras que estavam nas primeiras tibuas, que 
quebraste". 
impol*t&ncia da Biblia 
e m ~ w b i t o filo~6fico 
A Biblia, portanto, se apresenta como 
"palavra de Deus". E, como tal, a sua men- 
sagem 6 objeto de fe'. Quem acredita poder 
p6r a fC entre parhteses e ler a Biblia como 
"simples cientista", como se 1: um texto de 
filosofia de Platso ou de Aristbteles, na rea- 
lidade esta realizando um tip0 de operaqiio 
que C contra o espirito desse texto. A Biblia 
muda completamente de significado a me- 
dida que C lida acreditando-se ou n i o que 
se trata de "palavra de Deus". Entretanto, 
embora niio sendo urna "filosofia" no sen- 
tido grego do termo, a visiio geral da reali- 
dade e do homem que a Biblia nos apre- 
senta, no que se refere a alguns contetidos 
essenciais dos quais a filosofia tambCm tra- 
ta, contCm uma sirie de ideias fundamen- 
tais que tern urna relevincia tambe'm filo- 
s6fica de primeira ordem. Aliis, trata-se de 
idtias t i o importantes que, niio so para os 
crentes, mas tambCm para os incrkdulos, a 
difusiio da mensagem biblica mudou de 
mod0 irreversivel a fisionomia espiritual do 
Ocidente. Em suma, pode-se dizer que a pa- 
lavra de Cristo contida no Novo Testamen- 
t o (a qual se apresenta como revelagiio que 
completa, aperfeiqoa e coroa a revelaqio dos 
profetas contida no Antigo Testamento) pro- 
duziu urna revoluqio de tal alcance que mu- 
dou todos os termos de todos os problemas 
que o homem se propusera em filosofia no 
passado e passou a condicionar tambCm os 
termos nos quais o homem os proporia no 
futuro. Em outras palavras, a mensagem bi- 
blica condicionara aqueles que a aceitam, 
obviamente de mod0 positivo, mas tambCm 
condicionara aqueles que a rejeitam: em pri- 
meiro lugar, como termo dialitico de urna 
antitese (a antitese so tem sentido, sempre, 
em funqso da tese a qual se contrap6e); e, 
mais globalmente, como um verdadeiro "ho- 
rizonte" espiritual que iria impor-se de tal 
mod0 a ponto de n i o ser mais suscetivel de 
eliminaqiio. Para se entender o que estamos 
dizendo, C paradigmatic0 o titulo (que re- 
presenta todo um programa espiritual) do 
cClebre ensaio do idealista e niio-crente Be- 
nedetto Croce, Perche non possiamo non 
dirci cristiani ("Por que niio podemos dei- 
xar de nos dizer cristiios"), o que significa 
precisamente que, urna vez surgido, o cris- 
tianismo tornou-se um horizonte intrans- 
ponivel. 
Capitdo primeiro - $\ Biblia, s m mensagem e sMas influ&ncias ... 9 
Depois da difusiio da mensagem bi- 
blica, portanto, serzo possiveis so estas po- 
sigoes: 
a) filosofar na fC, ou seja, crendo; 
b) filosofar procurando distinguir os sm- 
bitos da "raziio" e da "fC", embora crendo; 
C ) filosofar fora da f i e contra a f i , ou 
seja, niio crendo. 
Niio sera mais possivel filosofar fora da 
f i , no sentido de filosofar como se a mensa- 
gem biblica nunca tivesse feito seu ingress0 
na historia. Por essa raziio, o horizonte bibli- 
co permanece urn horizonte estruturalmente 
intransponivel, no sentido que esclarecemos, 
isto 6, no sentido de um horizonte para alCm 
do qua1 ja niio podemos nos colocar, tanto 
quem cri como quem niio cr6. 
Com essas premissas, tratemos de exa- 
minar as principais idiias biblicas que apre- 
sentam relevsncia filosofica e colocii-las em 
confront0 prospectivo e estrutural com a 
vis5o anterior dos gregos. 
Duas imagens tiradas 
d o Comentario do Apocalipse 
de Beatus de Liehana, 
executado no sic. X I e m Saint-Sever, na Frun~a 
(Paris, Rihlmteca National). 
lo Prilneira pavte - vevoluGiio espiri+unl dn mensagem LiLlicn 
11. As idbias biblicas -.-. .- 
q ~ e infuiram 
sobre o pensamento ocidental 
0 rnonoteisrno As mais significativas contribuiSdes filosoficas da mensa- 
e o criacionisrno gem biblica sao: 
a partir do nada 1) o conceit0 de monoteismo que substitui o politeismo 
+ 5 1-2 grego; 
2) o criacionismo a partir do nada, que faz o ser depender 
de um ato de vontade de Deus, e que se contrapde a proibiqao 
de Parmenides da geraqao do ser a partir do nao ser; 
o antropocentrismo 3) uma concep~ao do mundo fortemente antropoc@ntrica 
e a lei posta que nso tem precedentes na filosofia heliinica, que foi mais 
por Deus cosmoc@ntrica; 
+ § 3 4) uma interpretaqao da lei moral diretamente ligada a 
vontade de Deus: Deus seria a fonte definitiva da lei moral e o 
dever do homem estaria em obedecer seus mandamentos. Para o grego, ao con- 
trario, a lei teria o seu fundamento na natureza e a ela tambem Deus estaria 
vinculado; 
5) uma desobediiincia a lei teria causado a queda do 
Opecadoeagraqa homem; 
+ § 4 6) o resgate desta situa@o depende nao do homem, mas 
da iniciativa gratuita de Deus; para os gregos - em particular 
para os orficos e para os filosofos que neles se inspiraram - dependeria, ao contra- 
rio, apenas do homem; 
7) a Providencia de que fala a Biblia, diversamente da gre- 
ProvidGncia ga (em particular socratica e estoica), dirige-se ao homem indi- 
e RedenqSo vidual; a ela esta ligada a Redensso operada por Deus por amor 
+§ 5-7 da humanidade; 
8) esta aten520 de Deus pelo homem revoluciona com- 
pletamente o conceito do amor em varios sentidos: primeira- 
Eros grego mente, porque 0 amor cristao (agape) e caracteristica emi- 
e agdpe crjstao nentemente divina, enquanto para os gregos Deus era amado 
+ § 8 e nao amante; em segundo lugar porque a dimensso do eroshelenico era aquisitiva, enquanto a do agape cristao e dona- 
tiva; 
9) tal inversao nao diz respeito apenas ao tema do amor, mas a toda a serie 
dos valores dos gregos, que o cristianismo ilumina sobre a base do discurso das 
bem-aventuran~as, em que se privilegia a dimensao da humil- 
dade e da mansidao; 
AS bern- 10) igualmente importante e a mudanga de perspectiva 
aventuranqas na escatologia - que nao esta mais ancorada apenas no dog- 
+ § 9 ma da imortalidade da alma, mas tambem no da ressurrei@o 
dos corpos -; 
11) e significativo, por fim, o novo sentido da historia, como progress0 para a 
salva@o e para a realizaqao do reino de Deus: o desenvolvimento da historia se- 
gundo os gregos tem um andamento circular (a historia nao 
Escatologia tem inicio nem fim, mas retorna sempre idGntica), enquanto o 
e historia biblico-cristao acontece segundo um trajeto retilineo, que tem 
- 3 70 um fim e uma consumaqao (o Juizo universal). 
A filosofia grega chegara a conceber a 
unidade do divino como unidade de urna 
esfera que admitia essencialmente em seu 
proprio iimbito urna pluralidade de entida- 
des, forqas e manifestaqljes em diferentes 
graus e niveis hierarquicos. Portanto, niio 
chegara a conceber a unicidade de Deus e, 
conseqiientemente, nunca havia sentido co- 
mo um dilema a quest50 de se Deus era uno 
ou multiplo. Desse modo, permaneceu sem- 
pre aqukm de urna concep@o monoteista. 
Somente com a difusio da mensagem bibli- 
ca no Ocidente k que se imp& a concepqio 
do Deus uno e unico. E a dificuldade do 
homem em chegar a essa concepqio demons- 
tra-se yelo proprio mandamento divino 
"niio ter5s outro Deus alCm de mim" (o que 
significa que o monoteismo n i o 6, em abso- 
lute, urna concepqiio espontiinea), e pelas con- 
tinuas recaidas na idolatria (o que implica 
sempre urna concepqiio politeista) por par- 
te do proprio povo hebreu, atravCs do qua1 
foi transmitida essa mensagem. E, com essa 
concepqiio do Deus unico, infinito em po- 
tcncia, radicalmente diverso de todo o res- 
to, nasce urna nova e radical concepqiio da 
transcendcncia, derrubando qualquer pos- 
sibilidade de considerar qualquer outra coi- 
sa como "divino" no sentido forte do termo. 
0 s maiores pensadores da GrCcia, Platiio e 
Aristoteles, haviam considerado como "di- 
vines" (ou at6 mesmo como deuses) os as- 
tros, e Platiio chegara a chamar o cosmo de 
"Deus visivel" e os astros de "deuses cria- 
dos"; em As Leis, inclusive, ele deu a parti- 
da para a religigo chamada "astral", preci- 
samente com base em tais pressupostos. A 
Biblia corta pela base toda forma de poli- 
teismo e idolatria, mas tambkm qualquer 
compromisso desse tipo. No Deuteronbmio, 
podemos ler: "E quando ergueres os olhos 
para o cCu e vires o sol, a h a , as estrelas, 
Monoteismo. A doutrina da unici- 
dade de Deus e especificamente judai- 
co-crista, enquanto todo o mundo 
helCnico e condicionado pelo poli- 
teismo. No Bmbito do pensamento 
grego, todavia, Platso, Aristoteles, e 
sobretudo Plotino, haviam antecipa- 
do alguns aspectos com orientasao 
monoteista. 
Platso, com efeito, no Timeu fala da 
unicidade do divino Demiurgo orde- 
nador do cosmo e, nas doutrinas nao 
escritas, p6e o Uno no vertice do mun- 
do supra-sensivel (mesmo admitindo 
urna serie de divindades criadas pelo 
Demiurgo). . . . . 
Aristoteles, embora admitindo urna 
multiplicidade de intelighcias moto- 
ras divinas, colocava um primeiro 
Motor imovel unico, que pensa a si 
mesmo. 
Plotino faz toda a realidade derivar 
do absoluto e transcendente princi- 
pio da Uno. 
Em todo caso, o Ocidente ganhou o 
conceit0 de monoteismo apenas da 
mensagem biblica. 
l2 Primeira parte - A ri.volu+~ espiri+ual dn mcnsuyrw LiLlicn 
isto C, todo o extrcito do cCu, niio te deixes 
arrastar, niio te prostres diante deles e niio 
lhes prestes culto ". A unicidade do Deus bi- 
blico comporta transcendincia absoluta, que 
coloca Deus como totalmente outro em re- 
laqiio a todas as coisas, de um mod0 intei- 
ramente impensave1 no contexto dos filoso- 
fos gregos. 
A c r i a~ i io a partir do nada 
JA vimos quais e quantos foram os va- 
rios tipos de soluqio propostos pelos gre- 
gos no que se refere ao problema da "ori- 
gem dos seres": de ParmCnides, que resolvia 
o proprio problema com a negaqio de qual- 
quer forma de devir, aos pluralistas, que fa- 
lavam de "reuniiio" ou "combinaqiio" de 
elementos eternos; de Platiio, que falava de 
um demiurgo e de urna atividade demiur- 
gica, a Aristoteles, que falava da atraqiio de 
um Motor imovel; dos estoicos, que propu- 
nham urna forma de monismo panteista, a 
Plotino, que falava de urna "processiio" me- 
tafisica. E vimos tambem as diferentes aDo- 
rias que se aninhavam nessas soluq6es. 
A mensagem biblica, ao contrario, fala 
de "criaqiio", precisamente in limine: "No 
principio, Deus criou o cCu e a terra". E os 
criou pela sua "palavra": Deus "disse" e as 
coisas "existiram". E, como todas as coisas 
do mundo. Deus criou diretamente tambCm 
o homem: "Deus disse: 'Facarnos o ho- 
mem.. .' " E Deus n io usou nada de preexis- 
tente, como o demiurgo plat6nic0, nem se 
valeu de "intermCdios" na criaqio: ele pro- 
duziu tudo do nada. 
Com essa concepqio de criaqiio a par- 
tir "do nada", cortava-se pela base a maior 
parte das aporias que, desde ParmCnides, 
haviam afligido a ontologia grega. Todas as 
coisas tim origem do "nada", sem distin- 
qio. Deus cria livremente, ou seja, com urn 
ato de vontade, por causa do bem. Ele pro- 
duz as coisas como "dom" gratuito. 0 cria- 
do, portanto, C positivo. Falando da cria- 
$50, a Biblia ressalta insistentemente: "E 
Deus viu que era bom". A concepqiio plat8- 
nica do Timeu, que tambCm sustenta que o 
demiurgo plasmou o mundo por causa do 
bem, 6 apresentada aqui sob um novo en- 
foque e num contexto bem mais coerente. 
0 criacionismo impor-se-a como a so- 
luqio por excelincia do antigo problema de 
como e por que os multiplos derivam do Uno 
e o finito deriva do infinito. A propria cono- 
taqiio que Deus da de si mesmo a MoisCs, 
"Eu sou Aquele-que-C", sera interpretada, 
em certo sentido, como a chave para se en- 
tender ontologicamente a doutrina da cria- 
$20: Deus C o Ser por sua propria essCncia e 
a criaqio C urna participaqiio no ser, ou seja, 
Deus C o ser e as coisas criadas n io s io ser, 
mas tbm o ser (que receberam por partici- 
paqio). 
& &A concep&o I 
antropoci5ntrica 
contida nu Biblia 
Entre os filosofos gregos, a concepqiio 
antropocbntrica teve urna dimensiio apenas 
um tanto limitada. Podemos encontrar tra- 
qos dela nos Memorabilia de Xenofonte, que, 
naturalmente, siio eco de idCias socraticas. 
Posteriormente, encontramos interessantes 
desdobramentos nesse terreno na Estoa de 
Zen50 e Crisipo. Mas, como foi demons- 
trado recentemente, Zeniio e Crisipo eram 
de origem semitica, de forma que levantou- 
se a hipotese de que o antropocentrismo por 
eles professado poderia ser um eco de idCias 
biblicas, proveniente de seu patrimcinio cul- 
tural Ctnico. Contudo, o antropocentrismo 
niio foi marca do pensamento grego, que, 
ao contrario, apresentou-se sempre como 
fortemente cosmocbntrico. Homem e cos- 
mo apresentam-se estreitamente conjugados 
e nunca radicalmente contrapostos, at6 por- 
que. no mais das vezes, o cosmo i concebi- 
como sendo dotado de alma e de vida 
Criacionismo. A doutrina da cria- 
@o do mundo a partir do nada e de 
origem biblica. 
No iimbito do pensamento grego, em 
particular no que se refere a Platao, 
pode-se falar de "semicriacionismo": 
segundo Platgo, com efeito, o Demiur- 
go n%o cria do nada, mas plasma e 
ordena urna materia caotica e infor- 
me preexistente. 
Capitdo primeiro - $\ Biblia, sua mensagem r S U ~ S iufluGuc~as ... 13 
como o homem. E, por maiores que possam 
ter sido os reconhecimentosda dignidade e 
da grandeza do homem pelos gregos, eles se 
inscrevem sempre em um horizonte cosmo- 
chtrico global. Na visiio helenica, o homem 
nao C a realidade mais elevada do cosmo, 
como revela este exemplar texto aristotklico: 
"Ha muitas outras coisas que, por nature- 
za, sao mais divinas (= perfeitas) do que o 
homem, corno, para ficar apenas nas mais 
visiveis, os astros de que se compoe o uni- 
verso ". 
Na Biblia, ao contrario, mais do que 
como um momento do cosmo, ou seja, como 
uma coisa entre as coisas do cosmo, o ho- 
mem C visto como criatura privilegiada de 
Deus, feita "a imagem" do proprio Deus e, 
portanto, dono e senhor de todas as outras 
coisas criadas por ele. No Genesis esta es- 
crito: "Deus disse: 'Fagamos o homem a 
nossa imagem, como nossa semelhan~a, e 
que ele domine sobre os peixes do mar, as 
aves do ciu, os animais domisticos, todas 
as feras e todos os rCpteis que rastejam so- 
bre a terra". E ainda: "Entiio JavC Deus 
modelou o homem com a argila do solo, 
insuflou em suas narinas um halito de vida 
e o homem se tornou um ser vivente". E o 
Salmo 8 diz ainda, de mod0 paradigmatico: 
"Quando vejo o cCu, obra dos teus dedos, 
a h a e as estrelas que fixaste, 
o que C um mortal, para dele 
[te lembrares, 
e um filho de Adiio, que venhas 
[visita-lo? 
E o fizeste pouco menos do gue u m 
Ideus. 
coroando-o de doria e beleza. 
Para que domi ie as obras 
[de tuas miios, 
sob seus pes tudo colocaste: 
ovelhas e bois, todos eles, 
e as feras do campo tambCm; 
as aves do cCu e os peixes do oceano 
que percorrem as sendas dos mares". 
E, sendo feito a imagem e semelhanqa 
de Deus, o homem deve se esforgar por to- 
dos os modos para "assemelhar-se a ele". 
0 Levitico ja afirmava: "NZo deveis vos 
contaminar. Porque o vosso Deus sou eu, 
JavC, que vos fez sair da terra do Egito para 
ser o vosso Deus: vos, pois, sereis santos 
como eu sou santo". 0 s gregos ja falavam 
de "assimilaciio a Deus", mas acreditavam 
conhecimento. A Biblia, porCm, atribui a 
vontade o instrumento da assimilaqiio: as- 
semelhar-se a Deus e santificar-se significa 
fazer a vontade de Deus, ou seja, querer o 
querer de Deus. E C exatamente essa capa- 
cidade de fazer livremente a vontade de 
Deus que p6e o homem acima de todas as 
coisas. 
4 O respeito 
pelos wandamentos divinos: 
a virtude e o pecado 
0 s gregos entenderam a lei moral como 
lei da physis, a lei da propria natureza: uma 
lei aue se imtGe a Deus e ao homem ao 
mesmo tempo, visto que niio foi feita por 
Deus e que a ela o proprio Deus esta vincu- 
lado. 0 conceit0 de u m Deus que da a lei 
moral (um Deus "nomoteta") C estranho a 
todos os filosofos gregos. 
0 Deus biblico, ao contrario, da a lei 
ao homem como "mandamento". Primei- 
ro, ele a da diretamente a Ad50 e Eva: "E 
Javi Deus deu ao homem este mandamen- 
to: 'Podes comer de todas as arvores do jar- 
dim. Mas da arvore do conhecimento do 
bem e do ma1 niio comeras, porque no dia 
em que dela comeres teras de morrer' ". 
Posteriormente. como ia dissemos. Deus 
"escreve" diretamente os mandamentos. 
A virtude ( o bem moral supremo) tor- 
na-se obedigncia aos mandamentos de Deus, 
coincidindo com a "santidade", virtude que, 
na visiio "naturalista" dos gregos, ficava em 
segundo plano. 0 pecado (o ma1 moral su- 
premo), ao contrario, torna-se desobedi8n- 
cia a Deus, dirigindo-se portanto contra 
Deus, a medida que vai contra os seus man- 
damentos. 
Diz o Salmo 11 9: 
"Indica-me, JavC, o caminho dos teus 
[estatutos, 
eu quero guarda-lo como recompensa. 
Faze-me entender e guardar tua lei, 
para observa-la de todo o coraqiio. 
Guia-me no caminho dos teus 
[mandamentos, 
pois nele esta meu prazer". 
E no Salmo 51 podemos ler: 
"Pequei contra ti, contra ti somente, 
hratiauei o aue i mau aos teus olhos". poder alcanti-la com o intelecto, com o C I 
14 Primeira parte - A revoluG6o espiritual d a mensagem Lfblica 
A vida, a paix2o e a morte de Cristo 
desenvolvem-se inteiramente sob o signo do 
fazer a vontade do Pai que o enviou. 0 No- 
vo Testamento tambCm faz com que o obje- 
tivo supremo da vida, o amor de Deus, co- 
incida com o fazer a vontade de Deus, com 
o seguir a Cristo, que concretizou corn per- 
fei@o aquela uontade. 
Desse modo, o antigo "intelectualis- 
mo" grego 6 inteiramente subvertido pel0 
"voluntarismo": o "querer de Deus" 6 a lei 
moral e o "querer o querer de Deus" C a vir- 
tude do homem. A boa uontade (o cora@o 
puro) torna-se a nova marca do homem 
moral. 
5 0 conceito 
d e Providgncia n a Bibl ia 
Socrates e Plat50 ja haviam falado do 
Deus-Providhcia: o primeiro no plano in- 
tuitivo, o segundo com referincia ao demiur- 
go que constroi e governa o mundo. Mas 
Aristoteles ignorou esse conceito, como o ig- 
norou tambern a maior parte dos filosofos 
gregos, exceto os estoicos. Mas os estoicos 
podem ter extraido tal concepq20, mais uma 
vez, de sua bagagem cultural originaria, que 
tinha suas raizes na origem semitica dos fun- 
dadores do Portico, como sustenta a hipo- 
0 "Crrsto Pantocrator" (aqul reproduzldo do mosurco normando du ahhlde da Catedral de Montreal), 
representando bem a centralrdade do mrsterro da reden~i io dentro da hrstorra da saluu(ao. 
Capi'tulo pyimeiro - A Biblia, sua m e n s a g e m e sinas influPncias ... 15 
tese de Pohlenz. 0 certo C que a Providtn- 
cia dos gregos nunca diz respeito ao homem 
individual, e a Providtncia est6ica chega at6 
a coincidir com o Destino, nada mais sendo 
do que o aspect0 racional da Necessidade 
com que o logos produz e governa todas as 
coisas. Ja a Providtncia biblica n io apenas 
C pr6pria de um Deus que C pessoal em alto 
grau, mas tambCm, alCm de se dirigir para o 
criado em geral, dirige-se ainda e particu- 
larmente para os homens individuais, espe- 
cialmente para os mais humildes e necessi- 
tados e para os pr6prios pecadores (basta 
recordar as parabolas do "filho prodigo" e 
da "ovelha perdida"). Eis uma das passa- 
gens mais famosas e significativas a esse res- 
peito, registrada no Evangelho de Mateus: 
"Por isso vos digo: niio vos preocupeis com 
a vossa vida, quanto ao que haveis de co- 
mer, nem com o vosso corpo, quanto ao que 
haveis de vestir. Niio C a vida mais do que o 
aliment0 e o corpo mais do que a roupa? 
Olhai as aves do ciu: n io semeiam, nem 
colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no en- 
tanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, nio 
valeis vos mais do que elas? Quem dentre 
vos, com as suas preocupaqijes, pode pro- 
longar, por pouco que seja, a duraqiio da sua 
vida? E com a roupa, por que andais preo- 
cupados? Aprendei dos lirios do campo, co- 
mo crescem, e n io trabalham e nem fiam. 
El no entanto, eu vos asseguro que nem Salo- 
mio, em todo o seu esplendor, se vestiu co- 
mo um deles. Ora, se Deus veste assim a 
erva do campo, que existe hoje e amanhii se- 
ra ianqada ao forno, nio far6 ele muito mais 
por v6s, homens fracos na fC? Por isso, n io 
andeis preocupados, dizendo: 'Que iremos 
comer?' Ou: 'Que iremos beber?' Ou: 'Que 
iremos vestir?' De fato, s io os gentios que 
estio a procura de tudo isso: o vosso Pai 
celeste sabe que tendes necessidade de to- 
das estas coisas. Buscai, em primeiro lugar, 
o Reino de Deus e a sua justiqa, e todas es- 
tas coisas vos serio acrescentadas. Niio vos 
preocupeis, portanto, com o dia de amanhi, 
pois o dia de amanhii se preocupara consi- 
go mesmo. A cada dia basta o seu mal". 
E com a mesma eficacia escreve Lucas 
em seu Evangelho: "Quem dentre v6s, se 
tiver um amigo e for procura-lo no meio 
da noite, dizendo: 'Meu amigo, empresta- 
me trts piies, porque chegou de viagem um 
dos meus amigos e nada tenho para lhe ofe- 
recer.' E ele responder de dentro: 'Nao me 
importunes; a porta ja esta fechada e meus 
filhos e eu estamos na cama; n io posso melevantar para da-10s a ti.' Digo-vos, mes- 
mo que niio se levante para da-10s por ser 
amigo, levantar-se-a ao menos por causa 
da sua insistincia e lhe dar i tudo aquilo de 
que precisa. TambCm eu vos digo: pedi e 
vos sera dado; buscai e achareis; batei e 
vos sera aberto. Pois todo o que pede, re- 
cebe; o que busca, acha; e a0 que bate, se 
abrira ". 
Mas esse sentido de confianqa total na 
Providtncia divina tambCm esti presente no 
Antigo Testamento, na mesma dimensiio e 
com o mesmo alcance, como se pode de- 
preender, por exemplo, do belissimo Salmo 
91: 
Tu, que dizes " JavC 6 o meu abrigo" 
e fazes do Altissimo o teu refugio. 
A desgraqa jamais te atingira 
e praga nenhuma chegara i tua tenda: 
pois em teu favor ele ordenou aos seus 
[anjos 
que te guardem em teus caminhos todos. 
Eles te levario em suas miios, 
para que teus pis niio tropecem numa 
[pedra; 
poderas caminhar sobre o leio 
[e a vibora, 
pisaras o leiozinho e o dragio. 
Porque a mim se apegou, eu o livrarei, 
eu o protegerei, pois conhece o meu 
[nome. 
Ele me invocari e eu responderei: 
"Na angustia estarei com ele, 
eu o livrarei e o glorificarei; 
vou sacia-lo com longos dias 
e lhe mostrarei a minha salvaq50". 
Essa C uma mensagem de seguranqa 
total, que estava destinada a subverter as 
frageis seguranqas humanas que os sistemas 
da Cpoca helenistica haviam construido, 
pois nenhuma seguranqa pode ser absolu- 
ta se n io tiver uma vincula@o precisa com 
urn Absoluto. E, precisamente, o homem 
sente necessidade desse tip0 de seguranqa 
total. 
resgatada 
pels paixao de Cristo 
Com base no que dissemos, tambem 
fica claro o sentido do "pecado original". 
Como todo pecado, ele C desobediincia, 
mais precisamente desobedihcia ao man- 
damento original de n5o comer do fruto "da 
arvore do conhecimento do bem e do mal". 
A raiz dessa desobedihcia foi a soberba do 
homem, que n5o queria tolerar limita@o 
nenhuma, que nao queria ter os vinculos do 
bem e do ma1 (dos mandamentos) e, por- 
tanto, que queria ser como Deus. Jave ha- 
via dito: "Da Arvore do conhecimento do 
bem e do ma1 niio comereis, porque no dia 
em que dela comerdes tereis de morrer". 
Mas a tentas50 do malign0 insinua: " N ~ o , 
n5o morrereis! Mas Deus sabe que, no dia 
em que dela comerdes, vossos olhos se abri- 
r5o e vos sereis como deuses, versados no 
bem e no mal". A culpa de Ad50 e Eva, que 
cedem A tentaq50, transgredindo o manda- 
mento divino, segue-se, como puni@o divi- 
na, a expuls5o do paraiso terrestre, com to- 
das as suas conseqiiihcias. E assim fazem 
seu ingress0 no mundo o mal, a dor e a 
morte, o afastamento de Deus. Em Ad50, 
toda a humanidade pecou; com Ad50, o 
pecado ingressou nu historia dos homens 
- e, com o pecado, todas as suas conse- 
qiiincias. Como escreve Paulo: ". . .por obra 
de um s6 homem o pecado entrou no mun- 
do e, pelo pecado, a morte; assim, a morte 
passou para todos os homens, porque todos 
pecaram.. . " 
Por si so, o homem niio teria podido 
salvar-se do pecado original e de todas as 
suas conseqiihcias. Assim como a criag5o 
foi um dom e assim como a antiga "alian- 
$a", sancionada e muitas vezes traida pel0 
homem, foi um dom, da mesma forma o 
resgate tambkm foi um dom, o maior dos 
dons: Deus se fez homem e, com sua paix5o 
e morte, resgatou a humanidade do peca- 
do. E, com sua ressurreiqao, derrotou a pro- 
pria morte, conseqiihcia do pecado. Como 
escreve Paulo na Carta aos Romanos: "N5o 
Este e o celebre arco d o " B o m Pastor" no Mausoleu de Galla Placidia e m Ravena (stc. V): 
o " R o m Pastor" exprime de modo emblematico a nova imagem de Deus, prcipria do cristianismo. 
Capitdo primeiro - f\ BiLlic~, sua mensagem e suas infIu&?n~ias ... 17 
sabeis que todos os que fomos batizados em 
Cristo Jesus, 6 na sua morte que fomos 
batizados? Pois pelo batismo nos fomos se- 
pultados com ele na morte para que, como 
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela 
gloria do Pai, assim tambim nos vivamos 
vida nova. Porque se nos tornamos urna 
coisa so com ele por morte semelhante a sua, 
assim seremos igualmente semelhantes na 
sua ressurrei@o, sabendo que nosso velho 
homem foi crucificado com ele para que 
fosse destruido este corpo de pecado, e as- 
sim n i o sirvamos mais ao pecado. Com efei- 
to, quem morreu ficou livre do pecado. Mas, 
se morremos com Cristo, temos fe que tam- 
bCm viveremos com ele, sabendo que Cris- 
to, urna vez ressuscitado dentre os mortos, 
ja niio morre, a morte n i o tem mais do- 
minio sobre ele. Porque, morrendo, ele mor- 
reu para o pecado urna vez por todas; vi- 
vendo, ele vive para Deus. Assim tambim 
vos considerai-vos mortos para o pecado e 
vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, 
que o pecado niio impere mais em vosso 
corpo mortal, sujeitando-vos as suas pai- 
x6es; nem entregueis vossos membros, co- 
mo armas de injustiga, ao pecado; pelo con- 
trario, oferecei-vos a Deus como vivos 
provindos dos mortos e oferecei vossos mem- 
bros como armas de justiga a servigo de 
Deus. E o pecado n5o vos dominara, por- 
que n i o estais debaixo da Lei, mas sob a 
graga". 
A encarnaqao de Cristo, sua paix5o ex- 
piadora do antigo pecado, que fez seu in- 
gresso no mundo com Adio, e sua ressur- 
reiqiio resumem o sentido da mensagem 
cristi - e essa mensagem subverte inteira- 
mente os quadros do pensamento grego. 0 s 
filosofos gregos haviam falado de urna cul- 
pa original, extraindo o conceit0 dos mistt- 
rios orficos. E, de certa forma, haviam vin- 
culado a essa culpa o ma1 que o homem sofre 
em si. Mas, em primeiro lugar, ficaram muito 
longe da explicaq50 da natureza dessa cul- 
pa (basta ler, por exemplo, o mito p la th i - 
co do Fedro). Em segundo lugar, estavam 
convencidos de que: 
a) "naturalmente", o ciclo dos nasci- 
mentos (a metempsicose) teria cancelado a 
culpa nos homens comuns; 
b) os filosofos podiam libertar-se das 
conseqii6ncias daquela culpa em virtude do 
conhecimento e, portanto, pela forga huma- 
na, ou seja, de mod0 aut6nomo. 
Todavia, alCm de mostrar a realidade 
bem mais inquietante da culpa original, que 
i urna rebeli5o contra Deus, a nova mensa- 
gem revela que nenhuma forqa da natureza 
ou do intelecto humano podia resgatar o 
homem. Para tanto, eram necess5rias a obra 
do proprio Deus feito homem e a participa- 
$50 do homem na paixiio de Cristo em urna 
dimens50 que permanecera quase inteira- 
mente desconhecida para os gregos: a dimen- 
s i o da "fen. 
A filosofia grega subestimara a f k ou 
crenga (pistis) do ponto de vista cognosciti- 
vo, pois dizia respeito as coisas sensiveis, 
mutiveis, sendo portanto urna forma de opi- 
niiio (d6xa). Em verdade, Plat50 a valori- 
zou como componente do mito, mas, em seu 
conjunto, o ideal da filosofia grega era a 
episte'me, o conhecimento. E, como vimos, 
todos os pensadores gregos viam no conhe- 
cimento a virtude por excelhcia do homem 
e a realizagiio da esscncia do proprio homem. 
Pois a nova mensagem exige do homem pre- 
cisamente urna superag50 dessa dimens50, 
invertendo os termos do problema e pondo 
a fe acima da citncia. 
Isso n i o significa que a fe n i o tem um 
valor cognoscitivo proprio: entretanto, tra- 
ta-se de um valor cognoscitivo de natureza 
inteiramente diferente, em cornparag50 com 
o conhecimento da raziio e do intelecto; de 
todo modo, trata-se de um valor cognos- 
citivo que so se imp6e a quem possui aque- 
la f i . Como tal, ela constitui verdadeira 
"provocaqio" em relaqiio ao intelecto e 
a raz5o. 
Adiante, falaremos sobre as conseqiih- 
cias dessa provocaqio. Antes, C necessario 
captar o seu sentido geral. E 6 ainda Paulo 
quem o revela do mod0 mais sugestivo, em 
sua primeira carta aos Corintios: "A lingua- 
gem da cruz C loucura para aqueles que se 
perdem, mas para aqueles que se salvam, 
para

Outros materiais

Perguntas Recentes