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G. Reale - D. Antiseri HISTORIA DA FILOSOFIA 2 Patristica e Escolistica PAULUS Dados lnternacionais de Catalogapio na Publicapio (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Reale. Giovanni Historia da filosofia : patristica e escolastica, v. 2 1 Giovanni Reale. Dario Antiseri ; [tradupio Ivo Storniolo]. - S i o Paulo : Paulus, 2003. Titulo original: Storia della filosofia. Patristica e Scolastica Bibliografia. ISBN 85-349-2042-7 1. Filosofia - Historia I. Antiseri, Dario. II. Titulo. Ill. Titulo: Patristica e Escolastica indices para catalog0 sistematico: 1. Filosofia : Historia 109 Titulo original Storia della filosofia - Volume 11: Patristica e Scolastica. 0 Editrice LA SCUOLA, Brescia, Italia, 1997 Traduq3o Ivo Storniolo Revis30 Zolferino Tonon lrnpresslo e acabarnento PAULUS 0 PAULUS - 2003 Rua Francisco Cruz, 229 04117-091 S3o Paulo (Brasil) Fax (11) 5579-3627 Tel. (11) 5084-3066 www.paulus.com.br editorial@paulus.com.br ISBN 85-349-2042-7 ISBN 88-350-921 8-3 (ed. original) Existem teorias, argumentacdes e disputas filosoficas pelo fato de existirem pro- blemas filosoficos. Assim como na pesquisa cientifica ideias e teorias cientificas d o res- postas a problemas cientificos, da mesma forma, analogicamente, na pesquisa filoso- fica as teorias filosoficas sdo tentativas de solucdo dos problemas filosoficos. 0s problemas filosoficos, portanto, existem, d o inevita veis e irreprimiveis; en- volvem cada homem particular que ndo renuncie a pensar. A maioria desses pro- blemas nao nos deixa em paz: Deus existe, ou existiriamos apenas nos, perdidos nes- te imenso universo? 0 mundo e um cos- mo ou um caos? A historia humana tem sentido? E se tem, qual e? Ou, entao, tudo - a gloria e a miseria, as grandes conquis- tas e os sofrimentos inocentes, vitimas e carrascos - tudo acabara no absurdo, des- provido de qualquer sentido? E o homem: e livre e responsive1 ou e um simples frag- mento insignificante do universo, determi- nado em suas acdes por rigidas leis natu- rais? A ciencia pode nos dar certezas? 0 que e a verdade? Quais S ~ O as relacdes entre razdo cientifica e fe religiosa? Quan- do podemos dizer que um Estado e demo- cratic~? E quais d o os fundamentos da de- mocracia ? E possivel obter uma justificacdo racional dos valores mais elevados? E quan- do e que somos racionais? Eis, portanto, alguns dos problemas filosoficos de fundo, que dizem respeito as escolhas e ao destino de todo homem, e com os quais se aventuraram as men- tes mais elevadas da humanidade, dei- xando-nos como heranca um verdadeiro patrimdnio de ideias, que constitui a iden- tidade e a grande riqueza do Ocidente. A historia da filosofia e a historia dos problemas filosoficos, das teorias fi- losoficas e das arg u men tacbes filosofi- cas. E a historia das disputas entre fild- sofos e dos erros dos filosofos. E sempre a historia de novas tentativas de versar sobre questdes inevitaveis, na esperanca de conhecer sempre melhor a nos mes- mos e de encontrar orientacdes para nossa vida e motivacdes menos frageis para nossas escolhas. A historia da filosofia ocidental e a historia das ideias que in-formaram, ou seja, que deram forma a historia do Oci- dente. E um patrimdnio para ndo ser dis- sipado, uma riqueza que ndo se deve perder: E exatamente para tal fim os pro- blemas, as teorias, as argumentacdes e as disputas filosoficas sao analiticamente explicados, expostos com a maior clareza possivel. * * * Uma explicacdo que pretenda ser cla- ra e detalhada, a mais compreensivel na medida do possivel, e que ao mesmo tem- po o fereca explica@es exaustivas compor- ta, todavia, um "efeito perverso", pelo fato de que pode ndo raramente constituir um obstaculo a "memoriza@o" do complexo pensamen to dos filoso fos. Esta e a razdo pela qual os autores pensaram, seguindo o paradigma cMssi- co do ijberweg, antepor a exposicdo analitica dos problemas e das ideias dos diferentes filosofos uma sintese de tais problemas e ideias, concebida como ins- trumento didatico e auxiliar para a me- moriza~ao. Afirmou-se com justeza que, em linha geral, um grande fildsofo e o g&io de uma grande ideia: Platdo e o mundo das ideias, Aristoteles e o conceit0 de Ser, Plotino e a concepcdo do Uno, Agostinho e a "tercei- ra navegaqdo " sobre o lenho da cruz, Des- cartes e o "cogito ", Leibniz e as "m6nadas1', Kant e o transcendental, Hegel e a dialetica, Marx e a alienacdo do trabalho, Kierke- gaard e o "singular", Bergson e a "dura- cdo", Wittgenstein e os "jogos de lingua- gem", Popper e a "falsificabilidade" das teorias cientificas, e assim por diante. Pois bem, os dois autores desta obra propdem um lexico filosofico, um diciona- rio dos conceitos fundamentais dos diver- sos filoso fos, apresen tados de maneira di- datica totalmente nova. Se as sinteses iniciais d o o instrumento didatico da me- morizac20, o lexico foi idealizado e cons- truido como instrumento da conceitualiza- ~ 2 o ; e, juntos, uma especie de chave que permita entrar nos escritos dos filosofos e deles apresentar interpreta~des que encon- trem pontos de apoio mais solidos nos pro- * * * Ao executar este complexo tracado, os autores se inspiraram em csnones psico- pedagogicos precisos, a fim de agilizar a memorizagdo das ideias filosoficas, que sdo as mais dificeis de assimilar: seguiram o metodo da repetiqdo de alguns conceitos- chave, assim como em circulos cada vez mais amplos, que vdo justamente da sinte- se a analise e aos textos. Tais repetiqdes, retomadas e amplificadas de mod0 opor- tuno, ajudam, de mod0 extremamente efi- caz, a fixar na atenedo e na memoria os nexos fundantes e as estruturas que sus- tentam o pensamen to ocidental. Buscou-se tambem oferecer ao jovem, atualmente educado para o pensamento visual, tabelas que representam sinotica- mente mapas conceituais. Alem disso, julgou-se oportuno enri- quecer o texto com vasta e seleta serie de imagens, que apresentam, alem do rosto dos fildsofos, textos e momentos tipicos da discussdo filoso fica . prios textos. * * * * * * Apresentamos, portan to, um texto ci- Sinteses, analises, lexico ligam-se, portanto, a ampla e meditada escolha dos textos, pois os dois autores da presente obra estdo profundamente convencidos do fato de que a compreensdo de um fi- losofo se alcanqa de mod0 adequado ndo so recebendo aquilo que o autor diz, mas lanpndo sondas intelectuais tambem nos modos e nos iarqdes especificos dos tex- entifica e didaticamente construido, com a intencdo de oferecer instrumentos ade- quados para introduzir nossos jovens a olhar para a historia dos problemas e das ideias filoso ficas como para a historia gran- de, fascinante e dificil dos esforqos intelec- tuais que os mais elevados intelectos do Ocidente nos deixaram como dom, mas tambem como empenho. tos filosofico~. - GIOVANNI REALE - DARIO ANTISERI [ndice dos nomes, XI11 Indice dos conceitos fundamentais, XVII Primeira parte A REVOLUCAO ESPIRITUAL DA MENSAGEM BIBLICA Capitulo primeiro A Biblia, sua mensagem e suas influincias sobre o pensamento ocidental - 3 I. Estrutura e significado da Biblia 3 1. 0 significado do termo "Biblia", 3; 2 . 0 s escritos que constituem o Antigo Tes- tamento, 3; 3. 0 s vinte e sete livros do No- vo Testamento, 5; 4. 0 conceito de "Tes- tamento", 6; 5. A inspiraqiio divina da Biblia, 8; 6. A importgncia da Biblia em iimbito filosofico, 8. 11. As idiias biblicas que influiram sobre o pensamento ocidental - 10 1. Passagem do politeismo grego ao mono- teismo cristiio, 11; 2. A criaqiio a partir do nada, 12; 3. A concepqiio antropochtricacontida na Biblia, 12; 4. 0 respeito pelos mandamentos divinos: a virtude e o peca- do, 13; 5. 0 conceito de Providtncia na Bi- blia, 14; 6. A desobedicncia a Deus resgata- da pela paixiio de Cristo, 15; 7. 0 valor da f C e a participaqiio no Divino, 17; 8. 0 eros grego, o amor (agape) cristiio e a graqa, 18; 9 . 0 s valores fundamentais do cristianismo: a pureza e a humildade, 20; 10. A ressurrei- $50 dos mortos, 21. III. Para alirn do horizonte cultural grego 22 1. 0 desenvolvimento retilineo da histo- ria que tem como fim o Juizo universal, 22; 2. A nova "medida" do homem no pensa- mento cristiio, 23. Segunda parte A PATRISTICA NA AREA CULTURAL DE LINGUA GREGA Capitulo segundo 0 s problemas filosoficos essenciais que derivam do encontro entre "fi" e "razio". Filon de Alexandria e a Gnose 27 I. Problemas emergentes do impact0 corn a Biblia - 27 1. A quest50 da autenticidade dos textos biblicos, 27; 2. A questiio da conciliabi- lidade do Antigo e do Novo Testamento, 28; 3. A quest50 da identidade do cristiio, 29; 4. 0 s grandes problemas teologicos, 29; 5. 0 grande Pr6logo do Evangelho de Joiio, 30. 11. Urn precursor: Filon de Alexandria 3 1 1. A "filosofia mosaics", 32; 2. Deus, "Lo- gos" e "Poder", 32; 3. A antropologia filo- niana, 33; 4. A nova Ctica, 33. 111. A Gnose 34 1. Significado do termo "gnose", 34; 2. 0 s novos documentos gnosticos descobertos, 35; 3. 0 s traqos essenciais da doutrina da gnose, 35; 4. A "gnose" como express50 da angustia de uma Cpoca, 36. Tmos - Filon de Alexandria: 1. A cria~iio do mundo, 37; 2. A nulidade do homem, 38. Capitulo terceiro 0 s apologistas gregos e a Escola catequitica de Alexandria 39 I. 0 s Apologistas gregos do siculo 11: Aristides, Justino, Taciano - 39 1. Marciiio Aristides, 39; 2. Justino Martir, 39; 2.1. 0 primeiro platanico cristiio, 39; 2.2. A doutrina do Logos, 39; 2.3. A doutrina da alma, 40; 2.4. A condenaqiio de Justino B morte, 40; 3. Taciano, 40; 4. Atenagoras, 41; 5. Teofilo de Antioquia, 41; 6. A Carta a Diogneto, 41. 11. A Escola catequitica de Alexandria: Clemente e Origenes 43 1. Clemente e a verdadeira "gnose", 43; 2. A figura e os fundamentos do pensamento de Origenes, 44; 2.1. Vida e obras filosoficas, 44; 2.2. Doutrina da Trindade e Neoplatonismo, 44; 2.3. Criaqiio, "apocatastase" e encarnaqiio, 45; 2.4. Importiincia de Origenes, 46. Tmos- Justino Martir: 1 . 0 itinerario filosd- fico de Justino, 47; 2. 0 Logos e' Cristo, 48; Carta a Diogneto: 3 . 0 s cristiios siio a alma do mundo, 49; Clemente de Alexandria: 4. A concep~iio plat6nica de Deus, 50; 5. A beleza espiritual, 5 1; Origenes: 6. Sabedoria grega e mensagem crista", 52; 7 . A apocatastase, 53. Capitulo quarto 0 s trss luminares da Capadocia e as grandes figuras do Pseudo-Dionisio Areopagita, Maximo o Confessor e Jo io Damasceno 55 I. A era iurea da Patristica e o Concilio de Niciia 55 1. 0 edito de Miliio e as disputas teologicas, 55; 2. 0 Concilio de NicCia e a fixaqiio do "credo", 56. 11. Gregorio de Nissa e os Padres Capadocios 57 1. A recuperaqiio da cultura cliissica dentro da fC, 57; 2. Realidade inteligivel e mundo sensivel, 58; 3. A doutrina do homem, 58; 4. A ascensiio a Deus, 58. 111.0 Pseudo-Dionisio Areopagita 59 1. Formulaqiio da teologia apofiitica, 59. IV. Maximo o Confessor e a ultima grande batalha cristologica 6 1 1. Afirmaqiio do dogma de Cristo "verda- deiro Deus e verdadeiro homem", 61. V. JoZo Darnasceno 62 1. Recuperaqiio da filosofia aristotklica, 62. TEXTOS- Gregorio de Nissa: 1 .0s dois planos da realidade: sensivel e supra-sensivel, 63; Pseudo-Dionisio Areopagita: 2. A concep~iio de Deus como "acima de tudo ", 65; Maximo o Confessor: 3. As cinco divis6es da natureza, 66; 4 . 0 amor, 66; 5. A "liturgia cdsmicd", 67. Terceira parte A PATRISTICA NA AREA CULTURAL DE LINGUA LATINA Capitulo quinto A Patristica latina antes de santo Agostinho 71 I. Minucio Filix, Tertuliano e os escritores crist5os at6 o siculo IV 71 1. 0 primeiro escrito apologitico cristiio- latino, 71; 2. 0 s fortes ataques de Minucio FClix contra os filosofos gregos, 72; 3. Para Tertuliano, Atenas e JerusalCm nada ttm em comum, 72; 4. 0 fideismo de Tertuliano: "credo quia absurdum", 72; 5. Influxos es- toicos na ontologia de Tertuliano, 73; 6. Es- critores cristiios do stculo 111 e dos inicios do IV, 73; 7 . Tradutores, comentadores e eruditos cristiios do stculo IV, 73. 11. As figuras de Ambrbsio, Jerbnimo e Rufino 74 1. Ambrosio, 74; 2. JerGnimo e Rufino, 74. TEXTOS - Minucio Ftlix: 1. Concordiincia entre fildsofos e cristiios, 76; Tertuliano: 2. A filosofia e o cristianismo estiio em contradi- &io, 77; Ambrosio: 3. 0 s deveres, 80. Capitulo sexto Santo Agostinho e o apogeu da Patristica 8 1 I. A vida, a evolu@o espiritual e as obras de santo Agostinho - 8 1 1. A vida, 81; 2. A evoluq2o espiritual, 82; 3. As obras, 84. 11. Fi, filosofia e vida no pensamento de Agostinho - 86 1. 0 filosofar na fC, 88; 2. A descoberta da pessoa e a metafisica da interioridade, 89; 3. A verdade e a iluminag20, 90; 4. Deus, 91; 5. A Trindade, 93; 6. A doutrina da criaq20, 94; 7. A doutrina das IdCias e das raz6es semi- nais, 95; 8. A eternidade e a estrutura da tempo- ralidade, 97; 9 . 0 ma1 e seu estatuto ontologi- co, 97; 10. A vontade, a liberdade, a gaga, 98; 11. A "Cidade terrena" e a "Cidade divina", 99; 12. A esshcia do homem C o amor, 100. MAPA CONCEITUAL -A centralidade da Trin- 11. As Escolas monacais, episcopais e palatinas 121 1. A Escolastica e os vkios tipos de escola da Idade MCdia, 121; 2. A escola palatina criada por Alcuino, 122. 111. A Universidade 123 1. As Universidades de Bolonha e Paris, 123; 2. Efeitos explosivos da Universidade, 124; 3. Raz2o e fC, 125; 4. Faculdade das artes e Faculdade de teologia, 126; 5. A "Cidade de Deus" de Agostinho, 127. IV. Joaquim de Fiore 128 1. A concepq20 trinitiiria da histbria, 128. Capitulo oitavo 0 surgimento da Escolastica e seus desenvolvimentos de Boicio a Escoto Eriugena 129 I. A obra e o pensamento de Severino Bokcio 129 1. BoCcio: "o ultimo dos romanos e o pri- meiro dos escolasticos", 129; 2. Botcio e a logics, 130; 3 . 0 De consolatione philosophiae: Deus C a propria felicidade, 131; 4. 0 pro- blema do ma1 e a quest20 da liberdade, 132; 5. Raziio e fC em BoCcio. 133: 6. Outros dude divina, 101. autores do sCculo VI ao skculo VIII, 133. TEXTOS - Agostinho: 1. A terceira navega@o, 102; 2. 0 circulo hermeniutico entre raziio e fe', 104; 3. A natureza da Verdade, 106; 4. A ilumina@o, 106; 5. A natureza do Bem, 107; 6. As "1d6iasY' como pensamentos de Deus, 110; 7. A ctia~iio do tempo e sua natureza, 112; 8. 0 "sa'bado" de felicidade eterna na Cidade de Deus e o "oitavo dia ", 114. 11. Jo5o Escoto Eriugena 135 1. A figura e a obra de Escoto Eriugena, 135; 2. Escoto Eriugena e o Pseudo-Dionisio, 136; 3. 0 De divisione naturae, 137; 4. A raz2o em funqiio da fC, 138. TEXTOS - BoCcio: 1. A consola@o da filoso- fia, 139; Escoto Eriugena: 2. A quadrziplice divisiio da natureza, 143. Quarta parte GENESE DA ESCOLASTICA Capitulo sitimo A filosofia na Idade Media: a "Escolastica", as "Escolas", as "Universidades" 119 I. Desenvolvimentos do pensamento medieval - 1 19 1. 0 quadro cronologico, 119. Quinta parte A ESCOLASTICA NOS SECULOS DECIMO PRIMEIRO E DECIMO SEGUNDO Capitulo nono Anselmo de Aosta 147 1. A vida e as obras de Anselmo, 148; 2. Cen- tralidade do problema de Deus em Ansel- mo, 149; 3. As provas a posteriori da existin- cia de Deus, 149; 4. A prova a priori da exis- tincia de Deusou "argumento ontologico", 150; 5. Criticas e consensos ao argumento on- tologico, 150; 6. Deus e o homem, 151; 7. A raz3o dentro do tragado da fe, 153; 8. Carac- teristicas do "realismo" de Anselmo, 153. MAPA CONCH I U A I . - Deus e o homem, 155. T~mm - Anselmo de Aosta: 1.0 argumto on- toldgico, 15 6; 2. A dqbuta com Gaunilon, 15 7; 3. Anselmo respondek objepks de Gmlon, 160. Capitulo dkcimo ~belardo e a grande controvirsia sobre os universais 16 1 I. Pedro Abelardo 161 1. A vida e as obras, 162; 2. A "duvida" e as "regras da pesquisa", 162; 3. A "ratio" e seu papel na teologia, 163; 4. Principios fundamen- tais da itica, 164; 5. "Intelligo ut credam", 164. 11. A grande controvirsia sobre os universais 166 1. 0 s estudos "gramaticais", 166; 2. A ques- t5o da "dialCtica", 167; 3 . 0 problema dos uni- versais, 167; 3.1. A quest50 da relag50 dos nomes e dos conceitos mentais corn a reali- dade, 167; 3.2. A solug30 do realismo exage- rado, 168; 3.3. A solug30 nominalista, 168; 3.4. A solug30 moderada de Abelardo: o uni- versal como "sermo" extraido da "ratio" sobre a base do "status communis" dos indlviduos, 169; 3.5. Implicag6es logicas e metafisicas da posi- qio "conceitualista" de Abelardo, 169; 3.6. A posig5o do "realismo moderado" que sera as- surnida por santo Tomas e se impora como clas- sics, 170; 3.7. Quadro sinotico geral do pro- blema dos universais e das suas solug6es, 170. MAPA CONCEITUAL. - Disputa sobre os uni- versais, 171. Tb.x~os - Abelardo: 1. Confissoes autobio- graficas a um amigo, 172; 2. A logica a ser- vigo da teologia, 174; Porfirio: 3. A ques- tiio dos universais, 175. Capitulo dkcimo primeiro Centros promotores de cultura do seculo decimo segundo. As escolas de Chartres e de SZO Vitor, Pedro Lombardo e JoZo de Salisbury 177 I. As Escolas de Chartres e de Siio Vitor 177 1. Tradiq3o e inovag30, 177; 2. As artes do trivio em perspectiva religiosa, 178; 3. 0 Timeu de Plat30 interpretado B luz do G& nesis, 179; 4. 0 Didascalicon de Hugo de S3o Vitor, 180; 5. A mistica e Ricardo de Siio Vitor, 180. 11. Pedro Lombardo e Jo5o de Salisbury 182 1. 0 s livros das Senten~as de Pedro Lom- bardo, 182; 2. Jo3o de Salisbury: os limites da razso e a autoridade da lei, 183. TEXTOS - Hugo de S3o Vitor: 1. 0 valor dos classicos, 184; Pedro Lombardo: 2. Sen- teqas sobre filosofia e sobre teologia, 185. Sexta parte A ESCOLASTICA NO SECULO DECIMO TERCEIRO Capitulo dkcimo segundo A filosofia arabe e a hebraica, a penetraqiio de Aristoteles no Ocidente e a mediaqao entre aristotelismo e cristianismo 189 I. A s i tua~5o politica e' cultural no siculo XI11 189 1. Situagao politico-social e instituiq6es ecle- siasticas, 189; 2. A situagao cultural, 190. 11. 0 aristotelismo de Avicena - 191 1. A figura e a obra, 191; 2 . 0 ser possivel e o ser necessArio, 192; 3. A "logica da gera- g5o" e a influincia de Avicena, 193. 111. 0 aristotelismo de Averr6is - 194 1. A figura e as obras, 194; 2. Primado da filosofia e eternidade do mundo, 195; 3. Uni- cidade do intelecto humano, 196; 4. Con- seqiiincias da unicidade do intelecto, 197; 5. As primeiras condenaq6es do aristotelis- mo, 197. MAPA CONCEITUAL - Averrois: A teoria do intelecto, 199. IV. A filosofia hebraica 200 1. Influxos hebraicos sobre o Ocidente: Avi- cebron, 200; 2. MoisCs MaimGnides, 200. V. Alberto Magno 202 1.0 programa de pesquisa de Alberto Mag- no, 202; 2. A distin~go entre filosofia e teo- logia, 203; 3. Filosofos gregos e tedogos cristios, 204. TFXTOS - Avicena: 1. A teoria dos intelectos, 205; Alberto Magno: 2. A nuturea do bem, 206. Capitulo dkcimo terceiro A grande sintese de Tomas de Aquino 211 I. A vida e as obras de Tomis 21 1 1. Tomas, um dos maiores pensadores de todos os tempos, 211; 2. Raz3o e ft, filoso- fia e teologia, 212; 3. A teologia n30 substi- tui a filosofia, 213. 11. A ontologia 215 1. 0 conceit0 de ente, 216; 2 . 0 ente logico, 216; 3. 0 ente real e a distinqiio entre essin- cia e existincia, 216; 4. Novidade da pers- pectiva tomista em relaqiio k ontologia grega, 217; 5 . 0 s transcendentais: o ente como uno, verdadeiro, bom, 217; 5.1. A unidade do ente ("omne ens est unum"), 217; 5.2. A verdade do ente ("omne ens est verum"), 218; 5.3. A bondade do ente ("omne ens est bonum" ), 2 19; 6. A analogia do ser, 219; 7. Transcendincia de Deus e teologia negativa, 220. MAPA CONCEITUAI, - A ontologia, 221. 111. A teologia: as cinco vias para provar a existencia de Deus 222 1. Conhecimento "a posteriori" da existin- cia de Deus, 222; 2. A primeira via, ou via do movimento, 223; 3. A segunda via, ou via da causalidade eficiente, 223; 4. A tercei- ra via, ou via da contingincia, 224; 5. A quar- ta via, ou via dos graus de perfei@o, 225; 6. A quinta via, ou via do finalismo, 225. MAPA CONCEITUAL -AS cinco provas da exis- tdncia de Deus, 226. IV. A teoria do direito 22 7 1. 0 livre-arbitrio, 227; 2. "Lex aeterna", "lex naturalis", "lex humana", "lex divi- na", 228. MAPA CONCEI I-UAI. - 0 conhecimento huma- no das leis, 230. V. 0 "filosofar na fk" em Tomis- 23 1 1. A fe, guia da razao, 231. TEXTOS - Tomas: 1. Sobre a "cientificidade " da doutrina sagrada, 233; 2. Ente e essdn- cia, 235; 3. A natureza da alma, 241; 4. As cinco vias para demonstrar a existdncia de Deus, 245; 5. Lei eterna, lei natural, lei hu- mana e lei divina, 248. Capitulo dkcimo quarto 0 movimento franciscano e Boaventura de Bagnoregio -- 253 I. 0 franciscanismo - 253 1. S3o Francisco e o franciscanismo, 253; 2. Alexandre de Hales, 254. 11. SZo Boaventura e os vkrtices da Escola franciscana 255 1. S3o Boaventura: a vida e as obras, 256; 2. A posiqZo de Boaventura contra o aristote- lismo averroista, 256; 3. Na origem dos er- ros do aristotelismo, 257; 4 . 0 exemplarismo, 258; 5. As "rationes seminales", 259; 6. Co- nhecimento humano e iluminaqiio divina, 259; 7. Deus, o homem e a pluralidade das formas, 260; 8. Boaventura e Tomas: "uma" fe e "duas" filosofias, 261. MAPA CONCEITIIAL - Boaventura: A cria@o, 262. TEXTOS - Boaventura: 1. As seis etapas para chegar a Deus, 263. Capitulo decimo quinto Averroismo latino, neo-agostinismo e filosofia experimental no seculo decimo terceiro 269 I. Siger de Brabante e o averroismo latino 269 1.0 averroismo latino, 269; 2. Siger de Bra- bante e a doutrina da dupla verdade, 270; 3. 0 s franciscanos em polemica contra o aristotelismo e o relanqamento do agostinis- mo, 271. 11. A filosofia experimental e as primeiras pesquisas cientificas na era da Escolistica 2 72 1. Roberto Grosseteste, 272; 2. Roger Ba- con, 273; 2.1. A vida e as obras, 273; 2.2. An- tecipaq6es por parte de Roger Bacon de idCias que Francis Bacon tornara famosas no sCc. XVI, 274; 2.3. A experitncia como base de to- do conhecimento, 274; 2.4. Problemas fisi- cos e tkcnicos em Bacon, 274; 2.5. As idCias de Bacon sobre as traduqGes, 275; 3. Pesquisas tecnol6gicas na Idade MCdia, 276. Capitulo dicimo sexto Joiio Duns Escoto 277 I. A vida e a obra 277 1. 0 "Doutor sutil", 277; 2. Distingio en- tre filosofia e teologia, 278. 11. A metafisica 279 1. A univocidade do ente, 280; 2. 0 ente univoco, objeto primeiro do intelecto, 281; 3. A ascensiio a Deus, 282; 4. A insuficitn- cia do conceit0 de ente infinito, 282; 5 . 0 prin- cipio de individuaqiio e a "haecceitas", 283. 111. A concepqiio do direito 285 1. 0 voluntarismo e o direito natural, 285. MAPA CONCEITUAL - A univocidade do ente, 287. Twos - Duns Escoto: 1. A univocidade do ente, 288; 2 . 0 principio de individua@o, 290 - - - Sitima parte A ESCOLASTICA NO SECULO DECIMO QUARTO Capitulo dicimo sitimoGuilherme de Ockham, os Ockhamistas e a crise da Escolastica 295 universal e o nominalismo, 300; 7. A 'ha- valha de Ockharn" e a dissoluqiio da metafisica tradicional, 301; 8. A nova logica, 302; 9 . 0 problema da existtncia de Deus, 303; 10. Con- tra a teocracia, a favor do pluralismo, 304. MAPA CONCEITUAL -A teoria do conhecimen- to, 306. 11. Ockham e a cisncia dos Ockamistas 307 1. 0 novo mCtodo da pesquisa cientifica proposto por Ockham, 30'7; 1.1. Fidelida- de ?i experitncia, 307; 1.2. E precis0 buscar niio a essincia mas a funqiio dos fename- nos, 308; 1.3. Valorizaqio de hipoteses explicativas, 308; 1.4. Para uma concepqiio do universo como homogzneo, 308; 2. 0 s Ockhamistas e a ciincia aristotilica, 308; 2.1. Para um novo paradigma cientifico que ultrapassa o aristotelismo, 308; 2.2. Criti- cas de Buridan a Arist6teles com o mitodo da falsificaqiio empirica, 309; 2.3. Outros contributos significativos, 3 10; 3 . 0 s Ockha- mistas e a citncia de Galileu, 310. Tmos - Guilherme de Ockam: 1. A logica dos termos, 312. Capitulo dicimo oitavo ~ l t i m a s figuras e fim do pensamento medieval - 321 I. 0 problema do "primado" politico 321 1. Egidio Romano e Joiio de Paris: tem pri- mado a Igreja ou o ImpCrio?, 321; 2. 0 De- fensor pacis de Marsilio de PAdua, 322. 11. Dois reformadores pri-luteranos: JoZo Wyclif e Joiio Huss 324 1. Joiio Wyclif, 324; 2. Joiio Huss, 325. 111. Mestre Eckhart e a mistica especulativa alem5 - 326 1. As raz6es da mistica especulativa, 326; 2. Mestre Eckhart: o homem e o mundo sio I. Guilherme de Ockham 295 nada sem Deus, 327; 3. 0 retorno do ho- mem a Deus, 328; 4. OposiqGes suscitadas 1. A situaqiio hist6rico-social do sCc. XIV, Eckhart seus discipulos, 328. 296; 2. Guilherme de Ockham: a figura e as obras, 298; 3. IndependCncia da ft em rela- T m o s - Mestre Eckhart: 1. Ver Deus nus $ao 2 raz50, 299; 4.0 empirismo prima- criaturas e as criaturas em Deus d fonte de do do individuo, 299; 5. Conhecimento in- verdadeira consola@O, 330. tuitivo e conhecimento abstrato, 300; 6. 0 Bibliografia do segundo volume, 333. / Jndice de nomes* ARELARDO P., 119, 120, 122, 146, 161-165, 166,167, 168,169, 170,171, 172-1 75, 178, 182, 183,190 Adeodato, 82 AGOSTINHO nE HIPONA, 30, 44, 69, 70, 71, 73, 75, 81-101, 102- 11 6,119,120,122,126,127, 158,162,175,185,202,203, 204,206,227,228,233,242, 243,248,249,250,251,254, 257,258,271,273,330 ALBERTO MAGNO, 137, 190, 198, 202-204, 206-210,211,212, 270,272,273,276,326,329 ALCUINO DE YORK, 121, 122, 134, 135 ALEXANDRE 111, PAPA, 128 ALEXANDRE DE AFRODISIA, 130 AIEXANDRE DE HALES, 190,198,253, 254,256 Alexandre Magno, 275 Alpago A., 205 " Neste indice: BACON F., 272,274 BACON R., 272,273-276,277 BALTHASAR, H.U. VON, 62 BAS~LIDES, 36 BAsiLlo DE CESAREIA, 56, 57 Beato AngClico, 244 Beatus de Liibana, 9 BECKET, T., 183 BEDA, o VENERAVFI., 122, 134 BERENGARIO DE TOURS, 167 Bergognone, Ambrosia de Fossano dito o, 75 BERNARD~ IIE CHARTRES, 166, 177, 178,179,184 BERNARDO DE CLARAVAL, 254 Berruguete P., 286 BOAVENTURA DF BAGNORFGIO, 11 9, 120, 137, 147, 151, 187, 188, 190, 193, 198, 212, 254,255-262,263-268,271, 277,286 Botcro DF DAt IA, 270 BOECIO S., 119, 120, 122,129-134, 139-143,362,207,212,237, 275 Bonifacio VIII, papa, 271,277,296, 297,322 Botticelli S., 92, 96 BRADWARDINE T., 310,324 BURIDAN J., 305, 307, 309-310 CALC~DIO, 73 Calisto 11, ahtipapa, 128 Carlos IV, irnperador, 297 Carlos Magno, 121, 122, 134 Carlos o Calvo, irnperador, 5, 13.5, 136 CARN~ADES, 72 CARP~CRATES, 36 CARTA A DIOGNETO, 39,41-42,49-50 C~sslonono M.A., 122, 134 Celino de Nese, 126 Chenu M.-D., 233 CICERO, MARCO TULIO, 73, 74, 82, 122,249,250 CINO IIE P I S T ~ ~ A , 126 CIPRIANO DE CARTAGO, 71, 73, 130 CLEANTO DE ASSOS, 76 Clernente IV, papa, 274 -reportam-se em versal-versalete os nomes dos filosofos e dos hornens de cultura ligados ao desenvolvi- rnento do pensamento ocidental,.para os quais indicam-se em negrito as piginas em que o autor C tratado de acordo corn o tema, e em itihco as paginas dos textos; -reportam-se em italic0 os nomes dos criticos; -reportam-se em redondo todos os nomes niio pertencentes aos agrupamentos anteriores. XIV CLEMENTE ROMANO, 29,43 CONSTANTINO, IMPERADOR, 55, 73 COUSIN V., 130 CRISIPO DE SOLI, 12, 76 CRISPO, 73 CROCE B., 8 Ddmaso, papa, 74 DANTE ALIGHIERI, 321, 322 Demktrio (bispo), 44 DE REGINA J., 271 DESCARTES R., 90, 147, 151 DE LA MARE G., 271 DONATO, HF.LIO, 122 DUNSESCOTO J., 119,120,147,151, 190, l92,193,277-287,288- 292,301,303,324 Ecberto, 134 E(;inlo DE LASSINES, 270 Ecinro ROMANO, 269,271,321-322 Elias, 277 E I ~ U R O , 24 EP~FANFS, 36 Esc:oro ERIUGENA J., 61, 66, 117, 118, 119, 122, 135-138, 14.3- 144,148,166,168,190 Es~tvAo DE PROVINS, 198 Eustlrro DE CESAR~IA, 55 Fabro C., 220 FAUSTO, 83 Filipe o Belo, rei da Franp, 277, 297 Filon de Alexandria, 26,28,31-34, 37-38, 39, 74, 91, 110 FIRMI(:O MATERNO, JULIO, 73 Francisco de Assis, 253, 263, 267 Frederico I Barbarroxa, imperador, 123,128 Frederico I1 de Sutvia, imperador, 189,211 Fulberto, 177 Gaddi T., 182 GALILEI G., 310 Galla Placidia, 16 GAUNILON, 147, 151, 157, 160 GelQsio I, papa, 321, 322 GHERARDO DE CREMONA, 192 GILBERTO PORRETANO, 177, 178 GONSAIVO HISPANO, 277 GOTESCALCO, 135 G R E G ~ R I O MAGNO, PAPA, 120, 208 Greg6rio VII, papa, 128,296 Greg6rio IX, papa, 197 Greg6rio X, papa, 212,276 G R E C ~ R I O NAZIANZENO, 56, 57, 66 G R E G ~ R I O DE NISSA, 56 GROUSSET, R., 24 GUALTIER DE BRUGES, 254 GUILHERME 11, o RUIVO, REI DA INGLA- TERRA, 148 GUILE-IERME DE AUXERRE, 198 GUILHERME DE CHAMPEAUX, 162,166, 168,171,172,173,180 GUILHERME DE CONCHES, 177, 179, 180 GUII.HERMF. DE MOERBECKE, 326 GUND~SSAIY~ D., 192, 200 Hayim, 4 HELO~SA, 162, 165 HENRIQUE I, o LEAo, REI IIA INGLA- TF.RRA, 148 HENRIQUF VI DF. SUPVIA, 128 HENRIQUE DE GAND, 271 HENRIQUE SUSO, 328 HERACLIDES P~NTICO, 76 HERACLITO, 48 H~siono, 76 HIIARIO DF. POITIERS, 73 Holder A., 133 HUGO DE SAO V~TOR, 137,177,180, 181, 184-185,235,254 Huss J., 305, 325 InocCncio 111, papa, 189, 190,296, 322 Jaeger W, 57 JERONIMO, 6, 74-75, 120, 234 JERONIMO DE ASCOLI, 274 JoAo CI~MACO, 68 JoAo DAMASCENO, 26, 62, 68, 120, 235,245 JOAO DE JANDUN, 322 JOAO DF. PARIS, 321-322 JOAO DE SALISBURY, 146, 166, 178, 182,183 Jo5o Evangelista, 1, 5, 19, 27, 30, 32,102,103,327 JoAo IBN DAHUT, 200 JoAo XXII, 297,298,324,328 Joaquim De Fiore, 128 JUSTINIANO, IMI'ERADOR, 44, 12 1 JUSTINO MARTIR, 39-40, 47-48, 49, 76 Justo de Gand, 286 KANT I., 147,151 Kilwardby R., 271,297,322 KUHN T., 310 LACTANCIO, L~I(:Io FIRMIANO, 71, 73 Landolfo de Aquino, 21 1 LEIBNIZ G. W., 147, 151 Leso XIII, papa, 261 Lebnidas, pai de Origenes, 44 Lippi F., 167 Lucas Evangelista, 5, 8, 15 Ludovico o Bivaro, imperador, 297, 299 LUTERO M., 304 Macrina, 63, 64 MACROBIO, AMBR0510 TFOII~SIO, 73 MESTRE ECKHART, 293, 326, 327- 328,330-3.31 Magno, 234 MAIMONIDES M., 200-201 MARCIANO ARISTIIIES, 39 MARCIANO CAPELLA, 136, I78 MARCIAO DE SINOPE, gnostico 179 Marcos Evangelista, 5, 19,20 MAnsiLlo DE PADUA, 321,322-323,324 MAXIMO o CONFESSOR, 25, 26, 61- 62, 66-68, 119, 136 MATEUS DE ACQUASPARTA, 269, 271 Mateus Evangelista, 5, 7, 15,20 Melitso G., 256 MINUCIO FFLIX, 71, 72, 76-77 Moeller C., 24 M6nica, 81, 82 NEDELEC H., 271 NEMESIO DE EMESA, 56 N E S T ~ R I O DE ANTIOQUIA, 30 N I C ~ L A U DE AUTR~COURT, 305 NICOLAU DE ORESME, 305,307, 310 NOVACIANO, 71, 73 Pacher M., 85 PANTENO, 43 PARMENIIIES,12, 24 Pascoal 111, antipapa, 128 PATR~CIO, 82 Paulo de Tarso, 3,5,16,17,19,21, 27, 52, 59, 65, 79, 80, 83, 136,183,246,328 Peckham J., 271,277,297 PEIIRO DAMIAO, 166 PEIIRO L O M B A R D ~ , 146, 182-1 83, 185-1 86,202,212,235,277, 278,283,298 PEDRO, PAPA, 8 PEDRO DE JoAo OLIVI, 271 PEL.A(,IO, 84 PEREGRINO P., 273 PFTRARCA F., 89,297 PEI)RO, O VENERAVEI., 162 PII K ~ o ~ , PON(:IO, 48 Pinturicchio, Bernardino de Betto dito o, 94 PIRRO IIF. ELIDA, 72 PITAGORAS, 40, 72, 185 PLATAO, 8, 11, 12, 14, 17, 18, 21, 33,39,40,50,62,72,73,89, 91, 95, 102, 106, 107, 110, 111,112,114,115,120,130, 135,177,179,180,184,185, 231,232,249,257,279,326 PI.OTINO, 11,12,21,35,45,81,84, 88, 89, 91, 92, 95, 96, 112 Pohlenz M., 15, 84 POLICARPO DE ESMIKNA, 29 PORFIRIO LIE TIRO, 81, 84, 89, 129, 130, 162, 175-176,278,289 PRISCIANO DE L~DIA, 122 PROCLO, 327 Pseudo-Dionisio Areopagita, 26, 59-60, 65-66, 135, 136, 137, 143,212,264,327 PTOLOMEU, CLAUDIO, 178 PTOLOMEU FILADELFO, 6 Raffaello Sanzio, 120 Reginaldo de Piperno, 212 Renan E., 269 RICARDO DE MIDDLETOWN, 271 RICARDO DE SAO V ~ O K , 177, 180- 181,254 Roberto de C o u r ~ o n , 190, 197 ROBERT^ LIE MELUN, 235 ROBERTO GROSSETESTF., 272-273, 274,275,276,277 ROGER DE MARSTON, 271 Rosct-.l,r~o DF C~MPIPGNE, 162, 166, 168,169,171 RUFINO, 74-75 Rusticiana, 129 RUYSRROF(:K, J . IIE, 329 Saladino, sultiio, 200 SENKA, LUCIO ANFU, 71, 73 SICER DE BRABANTE, 269,270-271 Simaco, Quinto AurClio MEmio, 130 SIMAO IIF AUTHIE, 198 SINESIO DE CIRENE, 56 S~CRATES, 21,24,48,249 TACIANO, o ASS~RIO, 39,40-41 TAULER J., 328 Tempier E., 269,270,271,297,322 Teodora, 21 1 Teodorico, imperador, 129, 131 TEODORICO DE CHARTRES, 177, 179, 180 T ~ o n o ~ r c o DE FRIBURGO, 276 TEOFILO DE ANTIOQUIA, 39, 41, 58 T E K ~ L I A N O Q. S ~ I M O FLORENTE, 71, 72-73, 77-79 TOMAS DE AQUINO, 62, 119, 120, 137, 147, 151, 166, 167, 170, 171, 188, 190, 192, 193, 198, 201, 203, 204, 211-232,233-252,259,261, 269, 271, 277, 286, 301, 303,322, 326,328 Tomas de Modena, 202 VALENTIM, 36 Valerio (bispo), 82 VANNI ROVILHI S., 182, 216 Vitor IV, antipapa, 128 VITORINO, GAIO MARIO, 71, 73, 84, 130 WITELO, 276 WYCI.IF J., 304, 305, 324-325 Z F N A ~ DE C~CIO, 12 Zbsimo, papa, 84 Zurbaran, Francisco de, 232 agape, 19 Logos, 32 alegoria, 32 analogia, 220 apocatastase, 46 argument0 ontologico, 150 0 monoteismo, 11 conceitualismo, 169 criacionismo, 12 I navalha de Ockham, 302 nominalismo, 169 ente e essincia, 193 realismo exagerado, 168 realismo moderado, 170 fk e raziio, 88 m m haecceitas, 284 teologia apofatica, 59 transcendentais, 21 9 intelectd ~ L ~ o s s i v e l ~ ~ universais, 154 e intelecto "agente", 196 univocidade, 28 1 DA MENSAGEM B~BLICA "Em verdade, em verdade, vos digo: ninguem podera ver o Reino de Deus se niio nascer de novo." Capitulo primeiro A Biblia, sua mensagem e suas influhcias sobre o pensamento ocidental I. E s t v ~ t ~ v a e sigmifirado da Bibl ia Com o nome de Biblia (do grego biblia = "livros") indicam-se 73 livros con- siderados inspirados, distintos em Antigo Testamento (46 livros) e Novo Testamen- to (27 livros). 0 Antigo Testamento divide-re por sua vez em livros his- gue a toricor, livros diditticor e livros profeticos. 0 s primeiros cinco _ livros historicos (Genesis, Exodo, Levitico, Numeros e Deute- roniimio) sao os livros da Lei ou Pentateuco. 0 Novo Testamento e composto pelos quatro Evangelhos, pelas Cartas de Paulo, pelas Cartas dos Apostolos e pelo Apocalipse. "Testamento" traduz o termo grego diatheke e indica o pacto ou aliansa que Deus ofereceu a Israel. A mensagem biblica, mesmo que nao tenha sido inspirada pela raz%o e sim pela fe, teve ta l impact0 historic0 e incidiu de mod0 tao profundo na concep@o do mundo e da natureza do homem, que deve ser considerada tambem do ponto de vista filosofico. A irnportsncia Neste sentido, ela trouxe algumas contribui~des revolu- historico-cultural cionarias para a historia do pensamento. da Biblia -+ 36 0 significado do termo "Biblia" "Biblia", do grego biblia, significa "li- vros". E um plural (de biblion) que, no la- tim e nas linguas modernas, foi transliterado como singular para indicar o "livro" por ex- celhcia. Na realidade, a Biblia n io C um s6 livro, mas coletinea de uma sCrie de livros, cada qua1 apresentando um titulo e peculia- ridades especificas, caracterizado tambCm por extensio diversa e diferentes estilos li- terarios e redacionais. Chegou-se a falar at6 mesmo da Biblia como de uma "coletinea de coletineas" de livros, j i que, por seu tur- no, alguns livros s5o precisamente coleti- neas de viirios livros. 0 s livros da Biblia dividem-se em dois grandes grupos: a ) os do Antigo Testamento (redigidos a partir de aproximadamente 1300 a.C. at6 100 a.C.; entretanto, os primeiros livros ba- seiam-se em uma tradiqio oral antiquissima; 6) os do Novo Testamento, que remon- tam todos ao sCculo I d.C., centrando-se in- teiramente na nova mensagem de Cristo. 0 s escritos qMe constitl~em o Antigo Testamento 0 s livros do Antigo Testamento re- conhecidos como can6nicos pela Igreja ca- t6lica (ou seja, que contim o "c2non" ou Primeira parte - $\ revoluG&o espiri+unl d a mensagem biblica a "regra" em que deve se basear o crente no que se refere a verdade da f C ) siio qua- renta e seis, subdivididos da seguinte ma- neira: Livros hist6ricos: 1. Gtnesis 2. Exodo 3. Levitico 4. Numeros 5. DeuteronBmio (0s livros de MoisCs - 115 - de- nominam-se Pentateuco, que significa, precisamente, "conjunto de cinco livros". TambCm s2o chamados Tora, que quer dizer "Lei", ou seja, os livros que contim a lei.) 6. Josue' 7. Juizes 8. Rute 9. Primeiro Samuel 10. Segundo Samuel 11. Primeiro Reis 12. Segundo Reis (0s livros 9/12 indicam-se tambCm com o titulo geral de Reis I, 11, 111, IV) 13. Primeiro CrBnicas 14. Segundo CrGnicas 15. Esdras 16. Neemias (0s livros 15/16 siio tambCm indicados por Esdras I e 11) 17. Tobias 18. Judite 19. Ester 20. Primeiro livro dos Macabeus 21. Segundo livro dos Macabeus Livros sapienciais ou poCticos: 22. JO 23. Salmos 24. Prove'rbios 25. Eclesiastes 26. Cintico dos C2nticos 27. Sabedoria 28. Eclesiastico Livros profkticos: (este primeiro grupo - 29/34 - de- nomina-se "profetas maiores", por causa da extensgo dos escritos) 29. Isaias 30. Jeremias 3 1. Lamentapies 32. Baruc Rihlia de Schockeli (Jcr~rsaltrn, Institute Schockcn). I l z~~n inura de paginu inteiriz cowz a ~ I U ~ U U I L ~ Bercshith ( " N o principio "), inicio d o lizwo i f i ) Gi.nesis, d e c o n ~ d a corn 45 n z e d a l h k que representatn epistidios bi'l~licos orilenados seqiiencialmente da direitir para a espcrr la e do alto para I~aixo; os primeirus epistidios silo iiedicados a Ad20 e E L M , e o u l t i m ) a Kalaiio r ao m ; o . 0 i l u s t rad~r , chanlado Hilyirn, trabalhozt p o ~ ~ ~ ) l t a de 1.100 n~7 Alrnianha inrr1if!o11a/. 33. Ezequiel 34. Daniel (este segundo grupo - 35/46 - C cha- mado de "profetas menores" por causa da quantidade exigua de seus escritos) 35. Ose'ias 36. Joel 37. Amos 38. Abdias 39. Jonas 40. Mique'ias 41. Naum 42. Habacuc 43. Sofonias 44. Ageu 45. Zacarias 46. Malaquias Esse "c5nonn, que consta ja ter assu- rT 0 s viv\fe e sete (ivros mido consisttncia entre os cristiios desde o sCculo IV. foi sancionado definitivamente do Novo Lstamento pel0 ~onc i l i o de Trento (0s protestantes, porCm, adotaram o c5non hebraico,do qua1 0 s livros do Novo Testamento reco- falaremos logo adiante). nhecidos como canBnicos s ~ o 27, divididos 0 s hebreus adotaram apenas trinta e da seguinte maneira: seis livros (dividindo-os em tor^", "Pro- fetas" e "Livros"), excluindo Tobias, Judite, Primeiro e Segundo Macabeus, Sabedoria, Eclesiastico, Baruc e tambim parte de Daniel, que siio livros redigidos em grego ou que nos siio conhecidos somente no texto gre- go. (Hoje, porCm, estamos em condig6es de estabelecer aue tal restriciio remonta aos fariseus da Palestina, que pensavam que, depois de Esdras, cessara a inspiragiio divi- na, enquanto outras comunidades hebrai- cas incluiam entre os livros sagrados tam- bCm alguns destes livros. Com efeito, nas descobertas ocorridas em 1947 em Qumran, que trouxeram $ luz numerosos livros per- tencentes a uma comunidade hebraica ati- va da ipoca de Cristo, foram achados os livros de Tobias e o Eclesiastico, que, por- tanto, niio estavam excluidos dos livros sa- grados.) Quatro Evangelhos, com os Atos dos Apostolos: 1. Evangelho segundo Mateus 2. Evangelho segundo Marcos 3. Evangelho segundo Lucas 4. Evangelho segundo Joiio 5. Atos dos Apostolos Um corpus de cartas de s io Paulo (ou a ele atribuidas): 6. Carta aos Romanos 7. Primeira carta aos Corintios 8. Segunda carta aos Corintios 9. Carta aos Galatas 10. Carta aos Efe'sios 11. Carta aos Filipenses 12. Carta aos Colossenses 13. Primeira carta aos Tessalonicenses 14. Segunda carta aos Tessalonicenses 15. Primeira carta a Tim6teo 16. Segunda carta a Timdteo 17. Carta a Tito 18. Carta a Filemon 19. Carta aos Hebreus Sete cartas de apostolos ou atribuidas a apostolos: 20. Carta de Tiago 21. Primeira carta de Pedro 22. Segunda carta de Pedro 23. Primeira carta de Joao 24. Segunda carta de Joao 25. Terceira carta de JoZo 26. Carta de Judas Um livro profitico de S. Joiio: 27. Apocalipse Hoje, os estudiosos estiio bastante con- cordes em considerar que a Carta aos He- breus niio foi escrita por Paulo, embora o autor esteja proximo da visiio paulina. 0 s textos da Biblia foram redigidos em trts linguas: - hebraico (a maior parte do Antigo Testamento); - pequena parte em ararnaico (um dia- leto hebraico): , , Uma pugina da preciosa Biblia de Caulos o Cnlvo - e em grego (alguns textos do Antigo COWI ns histijrins de Ad20 (set. I X ) . Testamento e todo o Novo Testamento; ape- Primeira parte - r e v o l ~ 1 ~ 8 0 espiri+ual da mensagem biblica nas o Evangelho de Mateus, ao que parece, foi redigido primeiro em aramaico e depois traduzido em grego). Duas traduqaes basilares tiveram gran- de importiincia historica. Uma, em lingua grega, de todo o Antigo Testamento: a cha- mada traduqao dos "Setenta", iniciada em Alexandria sob o reinado de Ptolomeu Fi- ladelfo (285-246 a.C.), que ficou como pon- to de referhcia na area da cultura grega para os proprios hebreus helenizados, e para os gregos (muitas referincias dos proprios Evan- gelhos baseiam-se nela). A partir do sCculo I1 d.C. a Biblia foi traduzida tambCm para o latim. Entretan- to, a traduq5o feita por s5o Je rh imo entre 390 e 406 foi a que se imp& de mod0 esta- vel, a ponto de ser oficialmente adotada pela Igreja, sendo conhecida com o nome de Vulgata, por ser considerada a traduqzo la- tina por excelincia. Como vimos, as duas partes da Biblia s50 chamadas de Antigo e Novo Testamen- to. 0 que significa "Testamento"? Esse ter- mo traduz o grego diathe'ke, indicando o "pacto" ou "alianqa" que Deus ofereceu a Israel. Nesse pacto (a oferta do pacto e aqui- lo que ele comporta), a iniciativa 6 unilate- ral, ou seja, inteiramente dependente de Deus, que o ofereceu. E Deus o ofereceu por mera benevolincia, vale dizer, como dom gratuito. Eis alguns textos particularmente sig- nificativos nesse sentido. Em Ginesis 9,9ss apos o diluvio, Deus diz a No6 e seus filhos: "Eis que estabeleqo minha alian~a convosco e com os vossos descendentes depois de v6s e com todos os seres animados que est5o convosco. (. . .) Estabeleqo a minha alian~a convosco: tudo o que existe niio sera mais destruido pelas aguas do diluvio; n5o have- :a mais diluvio para devastar a terra". Em Exodo 24,343, podemos ler a passagem mais significativa relativa ao "antigo" testamen- to, ou seja, a alianqa sinaitica entre Deus e Israel, que devia durar at6 Cristo: "Veio, pois, Moisis e referiu ao povo todas as pa- lavras de JavC e todas as leis, e todo o povo respondeu a uma so voz: 'Nos observare- mos todas as palavras ditas por JavC'. MoisCs escreveu todas as palavras de JavC; e, levan- tando-se de manha, construiu um altar ao p i da montanha e doze estelas para as doze tribos de Israel. Depois enviou alguns jo- vens dos filhos de Israel, e ofereceram os seus holocaustos e imolaram a JavC novi- lhos como sacrificios de comunh50. MoisCs tomou a metade do sangue e colocou-a em bacias, e espargiu a outra metade do sangue sobre o altar. Tomou o livro da alian~a e o leu para o povo; e eles disseram: 'Tudo o que JavC falou, nos o faremos e obedecere- mos.' Moisis tomou do sangue e o aspergiu sobre o povo, e disse: 'Este C o sangue da alian~a que Jave fez convosco, por meio de todas estas clausulas' ". E no profeta Jeremias (31,31ss), eis a promessa de uma "nova alianqa" (aquela que seria inaugurada por Cristo): "Eis que dias vir5o - oraculo de JavC - em que se- larei com a casa de Israel (e a casa de Juda) urna alian~a nova. N5o como a alianqa que selei com seus pais, no dia em que os tomei pela m5o para fazi-10s sair da terra do Egi- to - minha alian~a que eles mesmos rom- peram, embora eu fosse o seu Senhor, ori- culo de JavC! Porque esta e a alianqa que selarei com a casa de Israel depois desses dias, oraculo de Javi. Eu porei minha lei no seu seio e a escreverei em seu coraqzo. En- t5o eu serei seu Deus e eles ser5o meu povo. Eles n5o teriio mais de instruir seu proximo ou seu irmiio, dizendo: 'Conhecei a JavC!' Porque todos me conhecer50, dos menores aos maiores - oraculo de JavC -, porque vou perdoar sua culpa e n5o me lembrarei mais de seu pecado". E o autor da Carta aos Hebreus ( 9 , l l - 22) assim explica o sentido do novo "tes- tamento" e da nova "alianqa" que t sancio- nada precisamente com a vinda de Cristo: "Cristo, porCm, veio como sumo sacerdo- te dos hens vindouros. Ele atravessou uma tenda maior e mais perfeita, que n5o C obra de m5os humanas, isto 6, que n5o pertence a esta criaqzo. Ele entrou uma vez por to- das no Santuario, n5o com o sangue de bodes e novilhos, mas com o prdprio sun- gue, obtendo uma reden~iio eterna. De fato, se o sangue de bodes e de novilhos, e se a cinza da novilha, espalhada sobre os seres ritualmente impuros, os santifica purifican- do os seus corpos, quanto mais o sangue de Cristo que, por um espirito eterno, se ofe- receu a si mesmo a Deus como vitima sem mancha, ha de purificar a nossa consciincia das obras mortas para que prestemos um culto ao Deus vivo. Eis por que ele e media- dor de uma nova 'alian~a'. A sua morte aconteceu para o resgate das transgresslies cometidas no regime da primeira alian~a; e, por isso, aqueles que siio chamados re- cebem a heran~a eterna que foi prometida. Com efeito, onde existe testamento, e' ne- cessario que se constate a morte do testa- dor. 0 testamento, de fato, so tem valor no caso de morte. Nada vale enquanto o testador estiver vivo. Ora, nem mesmo a primeira alianqa foi inaugurada sem efusiio de sangue. De fato, depois que MoisCs pro- clamou a todo o povo cada mandamento da Lei, ele tomou o sangue de novilhos e de bodes, juntamente com a agua, a 12 es- carlate e o hissopo, e aspergiu o proprio livro e todo o povo, anunciando:'Este C o sangue da al ian~a que Deus vos ordenou'. Em seguida ele aspergiu com o sangue a tenda e todos os utensilios do culto. Segun- do a Lei, quase todas as coisas se purificam com sangue; e sem efusiio de sangue niio h i remissiio". E, no Evangelho de Mateus (26,27- 28), estas palavras siio postas na boca do proprio Cristo: "Depois. tomou um c a k e e, dando graqas, deu-lho dizendo: 'Be- bei dele todos, pois isto C o meu sangue, o sangue da a l i a n ~ a (diathe'ke), que C der- ramado por muitos para remiss50 dos pe- cados' ". A insyil*aq&o divina da Biblia Numerosas passagens da Biblia fa- zem referencia a "inspiraqio divina" do escrito, quando n i o a ordem @eta do pro- prio Deus para escrever. N o Exodo, le-se: " JavC disse a MoisCs: 'Escreve isso e m u m livro como recorda@o (...)' ". O u entio: " JavC disse a MoisCs: 'Escreve estas pala- vras (...)' ". Em Isaias (30,8) pode-se ler: "Vai agora e escreve-o sobre urna pran- cheta, grava-o em um livro". Joio , no ini- cio do Apocalipse (1,9ss), registra: "Eu, Joio, vosso irmio e companheiro na tribu- laqiio, na realeza e na perseveranqa em Je- sus, encontrava-me na ilha de Patmos, por causa da Palavra de Deus e do Testemu- nho de Jesus. N o dia do Senhor, fui movi- d o pelo Espirito e ouvi a t r i s de mim uma voz forte, como de trombeta, ordenando: 'Escreve o que v2s n u m livro e envia-o as sete Igrejas' (...)". Quanto 21 inspira@o por parte de Deus, podemos ler em Jeremias: "Tu seras como a minha boca". E a segunda carta de Pe- dro (1,20-21) afirma: "Sabei isto: que ne- nhuma profecia da Escritura resulta de urna interpretaqiio particular, pois que a profe- cia jamais veio por vontade humana, mas os homens, impelidos pel0 Espirito Santo, falaram da parte de Deus". Lucas (24,27) escreve em seu Evangelho que o Messias, "comeqando por MoisCs e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Es- crituras o que a ele dizia respeito". E Pau- lo reafirma: "Toda escritura C inspirada por Deus ". 0 s mandamentos, inclusjve, siio escri- tos diretamente por Deus. No Exodo (24,12) It-se: "Sobe a mim na montanha e fica 1i: dar-te-ei tibuas de pedra, a lei e os manda- mentos que escrevi para ensinares a eles". Ou ent io (34,l) : "Lavra duas tibuas de pedra, como as primeiras, sobe a mim na montanha, e eu escreverei as mesmas pala- vras que estavam nas primeiras tibuas, que quebraste". impol*t&ncia da Biblia e m ~ w b i t o filo~6fico A Biblia, portanto, se apresenta como "palavra de Deus". E, como tal, a sua men- sagem 6 objeto de fe'. Quem acredita poder p6r a fC entre parhteses e ler a Biblia como "simples cientista", como se 1: um texto de filosofia de Platso ou de Aristbteles, na rea- lidade esta realizando um tip0 de operaqiio que C contra o espirito desse texto. A Biblia muda completamente de significado a me- dida que C lida acreditando-se ou n i o que se trata de "palavra de Deus". Entretanto, embora niio sendo urna "filosofia" no sen- tido grego do termo, a visiio geral da reali- dade e do homem que a Biblia nos apre- senta, no que se refere a alguns contetidos essenciais dos quais a filosofia tambCm tra- ta, contCm uma sirie de ideias fundamen- tais que tern urna relevincia tambe'm filo- s6fica de primeira ordem. Aliis, trata-se de idtias t i o importantes que, niio so para os crentes, mas tambCm para os incrkdulos, a difusiio da mensagem biblica mudou de mod0 irreversivel a fisionomia espiritual do Ocidente. Em suma, pode-se dizer que a pa- lavra de Cristo contida no Novo Testamen- t o (a qual se apresenta como revelagiio que completa, aperfeiqoa e coroa a revelaqio dos profetas contida no Antigo Testamento) pro- duziu urna revoluqio de tal alcance que mu- dou todos os termos de todos os problemas que o homem se propusera em filosofia no passado e passou a condicionar tambCm os termos nos quais o homem os proporia no futuro. Em outras palavras, a mensagem bi- blica condicionara aqueles que a aceitam, obviamente de mod0 positivo, mas tambCm condicionara aqueles que a rejeitam: em pri- meiro lugar, como termo dialitico de urna antitese (a antitese so tem sentido, sempre, em funqso da tese a qual se contrap6e); e, mais globalmente, como um verdadeiro "ho- rizonte" espiritual que iria impor-se de tal mod0 a ponto de n i o ser mais suscetivel de eliminaqiio. Para se entender o que estamos dizendo, C paradigmatic0 o titulo (que re- presenta todo um programa espiritual) do cClebre ensaio do idealista e niio-crente Be- nedetto Croce, Perche non possiamo non dirci cristiani ("Por que niio podemos dei- xar de nos dizer cristiios"), o que significa precisamente que, urna vez surgido, o cris- tianismo tornou-se um horizonte intrans- ponivel. Capitdo primeiro - $\ Biblia, s m mensagem e sMas influ&ncias ... 9 Depois da difusiio da mensagem bi- blica, portanto, serzo possiveis so estas po- sigoes: a) filosofar na fC, ou seja, crendo; b) filosofar procurando distinguir os sm- bitos da "raziio" e da "fC", embora crendo; C ) filosofar fora da f i e contra a f i , ou seja, niio crendo. Niio sera mais possivel filosofar fora da f i , no sentido de filosofar como se a mensa- gem biblica nunca tivesse feito seu ingress0 na historia. Por essa raziio, o horizonte bibli- co permanece urn horizonte estruturalmente intransponivel, no sentido que esclarecemos, isto 6, no sentido de um horizonte para alCm do qua1 ja niio podemos nos colocar, tanto quem cri como quem niio cr6. Com essas premissas, tratemos de exa- minar as principais idiias biblicas que apre- sentam relevsncia filosofica e colocii-las em confront0 prospectivo e estrutural com a vis5o anterior dos gregos. Duas imagens tiradas d o Comentario do Apocalipse de Beatus de Liehana, executado no sic. X I e m Saint-Sever, na Frun~a (Paris, Rihlmteca National). lo Prilneira pavte - vevoluGiio espiri+unl dn mensagem LiLlicn 11. As idbias biblicas -.-. .- q ~ e infuiram sobre o pensamento ocidental 0 rnonoteisrno As mais significativas contribuiSdes filosoficas da mensa- e o criacionisrno gem biblica sao: a partir do nada 1) o conceit0 de monoteismo que substitui o politeismo + 5 1-2 grego; 2) o criacionismo a partir do nada, que faz o ser depender de um ato de vontade de Deus, e que se contrapde a proibiqao de Parmenides da geraqao do ser a partir do nao ser; o antropocentrismo 3) uma concep~ao do mundo fortemente antropoc@ntrica e a lei posta que nso tem precedentes na filosofia heliinica, que foi mais por Deus cosmoc@ntrica; + § 3 4) uma interpretaqao da lei moral diretamente ligada a vontade de Deus: Deus seria a fonte definitiva da lei moral e o dever do homem estaria em obedecer seus mandamentos. Para o grego, ao con- trario, a lei teria o seu fundamento na natureza e a ela tambem Deus estaria vinculado; 5) uma desobediiincia a lei teria causado a queda do Opecadoeagraqa homem; + § 4 6) o resgate desta situa@o depende nao do homem, mas da iniciativa gratuita de Deus; para os gregos - em particular para os orficos e para os filosofos que neles se inspiraram - dependeria, ao contra- rio, apenas do homem; 7) a Providencia de que fala a Biblia, diversamente da gre- ProvidGncia ga (em particular socratica e estoica), dirige-se ao homem indi- e RedenqSo vidual; a ela esta ligada a Redensso operada por Deus por amor +§ 5-7 da humanidade; 8) esta aten520 de Deus pelo homem revoluciona com- pletamente o conceito do amor em varios sentidos: primeira- Eros grego mente, porque 0 amor cristao (agape) e caracteristica emi- e agdpe crjstao nentemente divina, enquanto para os gregos Deus era amado + § 8 e nao amante; em segundo lugar porque a dimensso do eroshelenico era aquisitiva, enquanto a do agape cristao e dona- tiva; 9) tal inversao nao diz respeito apenas ao tema do amor, mas a toda a serie dos valores dos gregos, que o cristianismo ilumina sobre a base do discurso das bem-aventuran~as, em que se privilegia a dimensao da humil- dade e da mansidao; AS bern- 10) igualmente importante e a mudanga de perspectiva aventuranqas na escatologia - que nao esta mais ancorada apenas no dog- + § 9 ma da imortalidade da alma, mas tambem no da ressurrei@o dos corpos -; 11) e significativo, por fim, o novo sentido da historia, como progress0 para a salva@o e para a realizaqao do reino de Deus: o desenvolvimento da historia se- gundo os gregos tem um andamento circular (a historia nao Escatologia tem inicio nem fim, mas retorna sempre idGntica), enquanto o e historia biblico-cristao acontece segundo um trajeto retilineo, que tem - 3 70 um fim e uma consumaqao (o Juizo universal). A filosofia grega chegara a conceber a unidade do divino como unidade de urna esfera que admitia essencialmente em seu proprio iimbito urna pluralidade de entida- des, forqas e manifestaqljes em diferentes graus e niveis hierarquicos. Portanto, niio chegara a conceber a unicidade de Deus e, conseqiientemente, nunca havia sentido co- mo um dilema a quest50 de se Deus era uno ou multiplo. Desse modo, permaneceu sem- pre aqukm de urna concep@o monoteista. Somente com a difusio da mensagem bibli- ca no Ocidente k que se imp& a concepqio do Deus uno e unico. E a dificuldade do homem em chegar a essa concepqio demons- tra-se yelo proprio mandamento divino "niio ter5s outro Deus alCm de mim" (o que significa que o monoteismo n i o 6, em abso- lute, urna concepqiio espontiinea), e pelas con- tinuas recaidas na idolatria (o que implica sempre urna concepqiio politeista) por par- te do proprio povo hebreu, atravCs do qua1 foi transmitida essa mensagem. E, com essa concepqiio do Deus unico, infinito em po- tcncia, radicalmente diverso de todo o res- to, nasce urna nova e radical concepqiio da transcendcncia, derrubando qualquer pos- sibilidade de considerar qualquer outra coi- sa como "divino" no sentido forte do termo. 0 s maiores pensadores da GrCcia, Platiio e Aristoteles, haviam considerado como "di- vines" (ou at6 mesmo como deuses) os as- tros, e Platiio chegara a chamar o cosmo de "Deus visivel" e os astros de "deuses cria- dos"; em As Leis, inclusive, ele deu a parti- da para a religigo chamada "astral", preci- samente com base em tais pressupostos. A Biblia corta pela base toda forma de poli- teismo e idolatria, mas tambkm qualquer compromisso desse tipo. No Deuteronbmio, podemos ler: "E quando ergueres os olhos para o cCu e vires o sol, a h a , as estrelas, Monoteismo. A doutrina da unici- dade de Deus e especificamente judai- co-crista, enquanto todo o mundo helCnico e condicionado pelo poli- teismo. No Bmbito do pensamento grego, todavia, Platso, Aristoteles, e sobretudo Plotino, haviam antecipa- do alguns aspectos com orientasao monoteista. Platso, com efeito, no Timeu fala da unicidade do divino Demiurgo orde- nador do cosmo e, nas doutrinas nao escritas, p6e o Uno no vertice do mun- do supra-sensivel (mesmo admitindo urna serie de divindades criadas pelo Demiurgo). . . . . Aristoteles, embora admitindo urna multiplicidade de intelighcias moto- ras divinas, colocava um primeiro Motor imovel unico, que pensa a si mesmo. Plotino faz toda a realidade derivar do absoluto e transcendente princi- pio da Uno. Em todo caso, o Ocidente ganhou o conceit0 de monoteismo apenas da mensagem biblica. l2 Primeira parte - A ri.volu+~ espiri+ual dn mcnsuyrw LiLlicn isto C, todo o extrcito do cCu, niio te deixes arrastar, niio te prostres diante deles e niio lhes prestes culto ". A unicidade do Deus bi- blico comporta transcendincia absoluta, que coloca Deus como totalmente outro em re- laqiio a todas as coisas, de um mod0 intei- ramente impensave1 no contexto dos filoso- fos gregos. A c r i a~ i io a partir do nada JA vimos quais e quantos foram os va- rios tipos de soluqio propostos pelos gre- gos no que se refere ao problema da "ori- gem dos seres": de ParmCnides, que resolvia o proprio problema com a negaqio de qual- quer forma de devir, aos pluralistas, que fa- lavam de "reuniiio" ou "combinaqiio" de elementos eternos; de Platiio, que falava de um demiurgo e de urna atividade demiur- gica, a Aristoteles, que falava da atraqiio de um Motor imovel; dos estoicos, que propu- nham urna forma de monismo panteista, a Plotino, que falava de urna "processiio" me- tafisica. E vimos tambem as diferentes aDo- rias que se aninhavam nessas soluq6es. A mensagem biblica, ao contrario, fala de "criaqiio", precisamente in limine: "No principio, Deus criou o cCu e a terra". E os criou pela sua "palavra": Deus "disse" e as coisas "existiram". E, como todas as coisas do mundo. Deus criou diretamente tambCm o homem: "Deus disse: 'Facarnos o ho- mem.. .' " E Deus n io usou nada de preexis- tente, como o demiurgo plat6nic0, nem se valeu de "intermCdios" na criaqio: ele pro- duziu tudo do nada. Com essa concepqio de criaqiio a par- tir "do nada", cortava-se pela base a maior parte das aporias que, desde ParmCnides, haviam afligido a ontologia grega. Todas as coisas tim origem do "nada", sem distin- qio. Deus cria livremente, ou seja, com urn ato de vontade, por causa do bem. Ele pro- duz as coisas como "dom" gratuito. 0 cria- do, portanto, C positivo. Falando da cria- $50, a Biblia ressalta insistentemente: "E Deus viu que era bom". A concepqiio plat8- nica do Timeu, que tambCm sustenta que o demiurgo plasmou o mundo por causa do bem, 6 apresentada aqui sob um novo en- foque e num contexto bem mais coerente. 0 criacionismo impor-se-a como a so- luqio por excelincia do antigo problema de como e por que os multiplos derivam do Uno e o finito deriva do infinito. A propria cono- taqiio que Deus da de si mesmo a MoisCs, "Eu sou Aquele-que-C", sera interpretada, em certo sentido, como a chave para se en- tender ontologicamente a doutrina da cria- $20: Deus C o Ser por sua propria essCncia e a criaqio C urna participaqiio no ser, ou seja, Deus C o ser e as coisas criadas n io s io ser, mas tbm o ser (que receberam por partici- paqio). & &A concep&o I antropoci5ntrica contida nu Biblia Entre os filosofos gregos, a concepqiio antropocbntrica teve urna dimensiio apenas um tanto limitada. Podemos encontrar tra- qos dela nos Memorabilia de Xenofonte, que, naturalmente, siio eco de idCias socraticas. Posteriormente, encontramos interessantes desdobramentos nesse terreno na Estoa de Zen50 e Crisipo. Mas, como foi demons- trado recentemente, Zeniio e Crisipo eram de origem semitica, de forma que levantou- se a hipotese de que o antropocentrismo por eles professado poderia ser um eco de idCias biblicas, proveniente de seu patrimcinio cul- tural Ctnico. Contudo, o antropocentrismo niio foi marca do pensamento grego, que, ao contrario, apresentou-se sempre como fortemente cosmocbntrico. Homem e cos- mo apresentam-se estreitamente conjugados e nunca radicalmente contrapostos, at6 por- que. no mais das vezes, o cosmo i concebi- como sendo dotado de alma e de vida Criacionismo. A doutrina da cria- @o do mundo a partir do nada e de origem biblica. No iimbito do pensamento grego, em particular no que se refere a Platao, pode-se falar de "semicriacionismo": segundo Platgo, com efeito, o Demiur- go n%o cria do nada, mas plasma e ordena urna materia caotica e infor- me preexistente. Capitdo primeiro - $\ Biblia, sua mensagem r S U ~ S iufluGuc~as ... 13 como o homem. E, por maiores que possam ter sido os reconhecimentosda dignidade e da grandeza do homem pelos gregos, eles se inscrevem sempre em um horizonte cosmo- chtrico global. Na visiio helenica, o homem nao C a realidade mais elevada do cosmo, como revela este exemplar texto aristotklico: "Ha muitas outras coisas que, por nature- za, sao mais divinas (= perfeitas) do que o homem, corno, para ficar apenas nas mais visiveis, os astros de que se compoe o uni- verso ". Na Biblia, ao contrario, mais do que como um momento do cosmo, ou seja, como uma coisa entre as coisas do cosmo, o ho- mem C visto como criatura privilegiada de Deus, feita "a imagem" do proprio Deus e, portanto, dono e senhor de todas as outras coisas criadas por ele. No Genesis esta es- crito: "Deus disse: 'Fagamos o homem a nossa imagem, como nossa semelhan~a, e que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do ciu, os animais domisticos, todas as feras e todos os rCpteis que rastejam so- bre a terra". E ainda: "Entiio JavC Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um halito de vida e o homem se tornou um ser vivente". E o Salmo 8 diz ainda, de mod0 paradigmatico: "Quando vejo o cCu, obra dos teus dedos, a h a e as estrelas que fixaste, o que C um mortal, para dele [te lembrares, e um filho de Adiio, que venhas [visita-lo? E o fizeste pouco menos do gue u m Ideus. coroando-o de doria e beleza. Para que domi ie as obras [de tuas miios, sob seus pes tudo colocaste: ovelhas e bois, todos eles, e as feras do campo tambCm; as aves do cCu e os peixes do oceano que percorrem as sendas dos mares". E, sendo feito a imagem e semelhanqa de Deus, o homem deve se esforgar por to- dos os modos para "assemelhar-se a ele". 0 Levitico ja afirmava: "NZo deveis vos contaminar. Porque o vosso Deus sou eu, JavC, que vos fez sair da terra do Egito para ser o vosso Deus: vos, pois, sereis santos como eu sou santo". 0 s gregos ja falavam de "assimilaciio a Deus", mas acreditavam conhecimento. A Biblia, porCm, atribui a vontade o instrumento da assimilaqiio: as- semelhar-se a Deus e santificar-se significa fazer a vontade de Deus, ou seja, querer o querer de Deus. E C exatamente essa capa- cidade de fazer livremente a vontade de Deus que p6e o homem acima de todas as coisas. 4 O respeito pelos wandamentos divinos: a virtude e o pecado 0 s gregos entenderam a lei moral como lei da physis, a lei da propria natureza: uma lei aue se imtGe a Deus e ao homem ao mesmo tempo, visto que niio foi feita por Deus e que a ela o proprio Deus esta vincu- lado. 0 conceit0 de u m Deus que da a lei moral (um Deus "nomoteta") C estranho a todos os filosofos gregos. 0 Deus biblico, ao contrario, da a lei ao homem como "mandamento". Primei- ro, ele a da diretamente a Ad50 e Eva: "E Javi Deus deu ao homem este mandamen- to: 'Podes comer de todas as arvores do jar- dim. Mas da arvore do conhecimento do bem e do ma1 niio comeras, porque no dia em que dela comeres teras de morrer' ". Posteriormente. como ia dissemos. Deus "escreve" diretamente os mandamentos. A virtude ( o bem moral supremo) tor- na-se obedigncia aos mandamentos de Deus, coincidindo com a "santidade", virtude que, na visiio "naturalista" dos gregos, ficava em segundo plano. 0 pecado (o ma1 moral su- premo), ao contrario, torna-se desobedi8n- cia a Deus, dirigindo-se portanto contra Deus, a medida que vai contra os seus man- damentos. Diz o Salmo 11 9: "Indica-me, JavC, o caminho dos teus [estatutos, eu quero guarda-lo como recompensa. Faze-me entender e guardar tua lei, para observa-la de todo o coraqiio. Guia-me no caminho dos teus [mandamentos, pois nele esta meu prazer". E no Salmo 51 podemos ler: "Pequei contra ti, contra ti somente, hratiauei o aue i mau aos teus olhos". poder alcanti-la com o intelecto, com o C I 14 Primeira parte - A revoluG6o espiritual d a mensagem Lfblica A vida, a paix2o e a morte de Cristo desenvolvem-se inteiramente sob o signo do fazer a vontade do Pai que o enviou. 0 No- vo Testamento tambCm faz com que o obje- tivo supremo da vida, o amor de Deus, co- incida com o fazer a vontade de Deus, com o seguir a Cristo, que concretizou corn per- fei@o aquela uontade. Desse modo, o antigo "intelectualis- mo" grego 6 inteiramente subvertido pel0 "voluntarismo": o "querer de Deus" 6 a lei moral e o "querer o querer de Deus" C a vir- tude do homem. A boa uontade (o cora@o puro) torna-se a nova marca do homem moral. 5 0 conceito d e Providgncia n a Bibl ia Socrates e Plat50 ja haviam falado do Deus-Providhcia: o primeiro no plano in- tuitivo, o segundo com referincia ao demiur- go que constroi e governa o mundo. Mas Aristoteles ignorou esse conceito, como o ig- norou tambern a maior parte dos filosofos gregos, exceto os estoicos. Mas os estoicos podem ter extraido tal concepq20, mais uma vez, de sua bagagem cultural originaria, que tinha suas raizes na origem semitica dos fun- dadores do Portico, como sustenta a hipo- 0 "Crrsto Pantocrator" (aqul reproduzldo do mosurco normando du ahhlde da Catedral de Montreal), representando bem a centralrdade do mrsterro da reden~i io dentro da hrstorra da saluu(ao. Capi'tulo pyimeiro - A Biblia, sua m e n s a g e m e sinas influPncias ... 15 tese de Pohlenz. 0 certo C que a Providtn- cia dos gregos nunca diz respeito ao homem individual, e a Providtncia est6ica chega at6 a coincidir com o Destino, nada mais sendo do que o aspect0 racional da Necessidade com que o logos produz e governa todas as coisas. Ja a Providtncia biblica n io apenas C pr6pria de um Deus que C pessoal em alto grau, mas tambCm, alCm de se dirigir para o criado em geral, dirige-se ainda e particu- larmente para os homens individuais, espe- cialmente para os mais humildes e necessi- tados e para os pr6prios pecadores (basta recordar as parabolas do "filho prodigo" e da "ovelha perdida"). Eis uma das passa- gens mais famosas e significativas a esse res- peito, registrada no Evangelho de Mateus: "Por isso vos digo: niio vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que haveis de co- mer, nem com o vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Niio C a vida mais do que o aliment0 e o corpo mais do que a roupa? Olhai as aves do ciu: n io semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no en- tanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, nio valeis vos mais do que elas? Quem dentre vos, com as suas preocupaqijes, pode pro- longar, por pouco que seja, a duraqiio da sua vida? E com a roupa, por que andais preo- cupados? Aprendei dos lirios do campo, co- mo crescem, e n io trabalham e nem fiam. El no entanto, eu vos asseguro que nem Salo- mio, em todo o seu esplendor, se vestiu co- mo um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que existe hoje e amanhii se- ra ianqada ao forno, nio far6 ele muito mais por v6s, homens fracos na fC? Por isso, n io andeis preocupados, dizendo: 'Que iremos comer?' Ou: 'Que iremos beber?' Ou: 'Que iremos vestir?' De fato, s io os gentios que estio a procura de tudo isso: o vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de to- das estas coisas. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiqa, e todas es- tas coisas vos serio acrescentadas. Niio vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhi, pois o dia de amanhii se preocupara consi- go mesmo. A cada dia basta o seu mal". E com a mesma eficacia escreve Lucas em seu Evangelho: "Quem dentre v6s, se tiver um amigo e for procura-lo no meio da noite, dizendo: 'Meu amigo, empresta- me trts piies, porque chegou de viagem um dos meus amigos e nada tenho para lhe ofe- recer.' E ele responder de dentro: 'Nao me importunes; a porta ja esta fechada e meus filhos e eu estamos na cama; n io posso melevantar para da-10s a ti.' Digo-vos, mes- mo que niio se levante para da-10s por ser amigo, levantar-se-a ao menos por causa da sua insistincia e lhe dar i tudo aquilo de que precisa. TambCm eu vos digo: pedi e vos sera dado; buscai e achareis; batei e vos sera aberto. Pois todo o que pede, re- cebe; o que busca, acha; e a0 que bate, se abrira ". Mas esse sentido de confianqa total na Providtncia divina tambCm esti presente no Antigo Testamento, na mesma dimensiio e com o mesmo alcance, como se pode de- preender, por exemplo, do belissimo Salmo 91: Tu, que dizes " JavC 6 o meu abrigo" e fazes do Altissimo o teu refugio. A desgraqa jamais te atingira e praga nenhuma chegara i tua tenda: pois em teu favor ele ordenou aos seus [anjos que te guardem em teus caminhos todos. Eles te levario em suas miios, para que teus pis niio tropecem numa [pedra; poderas caminhar sobre o leio [e a vibora, pisaras o leiozinho e o dragio. Porque a mim se apegou, eu o livrarei, eu o protegerei, pois conhece o meu [nome. Ele me invocari e eu responderei: "Na angustia estarei com ele, eu o livrarei e o glorificarei; vou sacia-lo com longos dias e lhe mostrarei a minha salvaq50". Essa C uma mensagem de seguranqa total, que estava destinada a subverter as frageis seguranqas humanas que os sistemas da Cpoca helenistica haviam construido, pois nenhuma seguranqa pode ser absolu- ta se n io tiver uma vincula@o precisa com urn Absoluto. E, precisamente, o homem sente necessidade desse tip0 de seguranqa total. resgatada pels paixao de Cristo Com base no que dissemos, tambem fica claro o sentido do "pecado original". Como todo pecado, ele C desobediincia, mais precisamente desobedihcia ao man- damento original de n5o comer do fruto "da arvore do conhecimento do bem e do mal". A raiz dessa desobedihcia foi a soberba do homem, que n5o queria tolerar limita@o nenhuma, que nao queria ter os vinculos do bem e do ma1 (dos mandamentos) e, por- tanto, que queria ser como Deus. Jave ha- via dito: "Da Arvore do conhecimento do bem e do ma1 niio comereis, porque no dia em que dela comerdes tereis de morrer". Mas a tentas50 do malign0 insinua: " N ~ o , n5o morrereis! Mas Deus sabe que, no dia em que dela comerdes, vossos olhos se abri- r5o e vos sereis como deuses, versados no bem e no mal". A culpa de Ad50 e Eva, que cedem A tentaq50, transgredindo o manda- mento divino, segue-se, como puni@o divi- na, a expuls5o do paraiso terrestre, com to- das as suas conseqiiihcias. E assim fazem seu ingress0 no mundo o mal, a dor e a morte, o afastamento de Deus. Em Ad50, toda a humanidade pecou; com Ad50, o pecado ingressou nu historia dos homens - e, com o pecado, todas as suas conse- qiiincias. Como escreve Paulo: ". . .por obra de um s6 homem o pecado entrou no mun- do e, pelo pecado, a morte; assim, a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram.. . " Por si so, o homem niio teria podido salvar-se do pecado original e de todas as suas conseqiihcias. Assim como a criag5o foi um dom e assim como a antiga "alian- $a", sancionada e muitas vezes traida pel0 homem, foi um dom, da mesma forma o resgate tambkm foi um dom, o maior dos dons: Deus se fez homem e, com sua paix5o e morte, resgatou a humanidade do peca- do. E, com sua ressurreiqao, derrotou a pro- pria morte, conseqiihcia do pecado. Como escreve Paulo na Carta aos Romanos: "N5o Este e o celebre arco d o " B o m Pastor" no Mausoleu de Galla Placidia e m Ravena (stc. V): o " R o m Pastor" exprime de modo emblematico a nova imagem de Deus, prcipria do cristianismo. Capitdo primeiro - f\ BiLlic~, sua mensagem e suas infIu&?n~ias ... 17 sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, 6 na sua morte que fomos batizados? Pois pelo batismo nos fomos se- pultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela gloria do Pai, assim tambim nos vivamos vida nova. Porque se nos tornamos urna coisa so com ele por morte semelhante a sua, assim seremos igualmente semelhantes na sua ressurrei@o, sabendo que nosso velho homem foi crucificado com ele para que fosse destruido este corpo de pecado, e as- sim n i o sirvamos mais ao pecado. Com efei- to, quem morreu ficou livre do pecado. Mas, se morremos com Cristo, temos fe que tam- bCm viveremos com ele, sabendo que Cris- to, urna vez ressuscitado dentre os mortos, ja niio morre, a morte n i o tem mais do- minio sobre ele. Porque, morrendo, ele mor- reu para o pecado urna vez por todas; vi- vendo, ele vive para Deus. Assim tambim vos considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, que o pecado niio impere mais em vosso corpo mortal, sujeitando-vos as suas pai- x6es; nem entregueis vossos membros, co- mo armas de injustiga, ao pecado; pelo con- trario, oferecei-vos a Deus como vivos provindos dos mortos e oferecei vossos mem- bros como armas de justiga a servigo de Deus. E o pecado n5o vos dominara, por- que n i o estais debaixo da Lei, mas sob a graga". A encarnaqao de Cristo, sua paix5o ex- piadora do antigo pecado, que fez seu in- gresso no mundo com Adio, e sua ressur- reiqiio resumem o sentido da mensagem cristi - e essa mensagem subverte inteira- mente os quadros do pensamento grego. 0 s filosofos gregos haviam falado de urna cul- pa original, extraindo o conceit0 dos mistt- rios orficos. E, de certa forma, haviam vin- culado a essa culpa o ma1 que o homem sofre em si. Mas, em primeiro lugar, ficaram muito longe da explicaq50 da natureza dessa cul- pa (basta ler, por exemplo, o mito p la th i - co do Fedro). Em segundo lugar, estavam convencidos de que: a) "naturalmente", o ciclo dos nasci- mentos (a metempsicose) teria cancelado a culpa nos homens comuns; b) os filosofos podiam libertar-se das conseqii6ncias daquela culpa em virtude do conhecimento e, portanto, pela forga huma- na, ou seja, de mod0 aut6nomo. Todavia, alCm de mostrar a realidade bem mais inquietante da culpa original, que i urna rebeli5o contra Deus, a nova mensa- gem revela que nenhuma forqa da natureza ou do intelecto humano podia resgatar o homem. Para tanto, eram necess5rias a obra do proprio Deus feito homem e a participa- $50 do homem na paixiio de Cristo em urna dimens50 que permanecera quase inteira- mente desconhecida para os gregos: a dimen- s i o da "fen. A filosofia grega subestimara a f k ou crenga (pistis) do ponto de vista cognosciti- vo, pois dizia respeito as coisas sensiveis, mutiveis, sendo portanto urna forma de opi- niiio (d6xa). Em verdade, Plat50 a valori- zou como componente do mito, mas, em seu conjunto, o ideal da filosofia grega era a episte'me, o conhecimento. E, como vimos, todos os pensadores gregos viam no conhe- cimento a virtude por excelhcia do homem e a realizagiio da esscncia do proprio homem. Pois a nova mensagem exige do homem pre- cisamente urna superag50 dessa dimens50, invertendo os termos do problema e pondo a fe acima da citncia. Isso n i o significa que a fe n i o tem um valor cognoscitivo proprio: entretanto, tra- ta-se de um valor cognoscitivo de natureza inteiramente diferente, em cornparag50 com o conhecimento da raziio e do intelecto; de todo modo, trata-se de um valor cognos- citivo que so se imp6e a quem possui aque- la f i . Como tal, ela constitui verdadeira "provocaqio" em relaqiio ao intelecto e a raz5o. Adiante, falaremos sobre as conseqiih- cias dessa provocaqio. Antes, C necessario captar o seu sentido geral. E 6 ainda Paulo quem o revela do mod0 mais sugestivo, em sua primeira carta aos Corintios: "A lingua- gem da cruz C loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para
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