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2016.1 ADM I Profº. Francisco De Poli de Oliveira UNESA Livro VII– ATOS ADMINISTRATIVOS LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 2 I – INTRODUÇÃO 1.1 Definição e Conceitos Básicos 1. Existem 03 (três) formas de manifestação da vontade da Administração Pública. São elas: 2. O nosso estudo terá início no ATO ADMINISTRATIVO. 3. Infelizmente, a lei não conceitua ato administrativo. Assim, para o conceituarmos, vamos abordar os seus quatro pilares de sustentação: IMPERATIVIDADE, AQUELE QUE FAZ O ATO; RELAÇÕES JURÍDICAS e INTERESSE PÚBLICO. 4. 1º PILAR: O primeiro pilar corresponde à principal característica do ato administrativo que é a IMPERATIVIDADE, ou seja, o poder de império, denominado de característica mãe do ato1. 1Colocação do Profº. José Maria Pinheiro Madeira. 1ª FORMA MANIFESTAÇÃO UNILATERAL: conhecida como ato administrativo 2ª FORMA MANIFESTAÇÃO BILATERAL: conhecida por contrato administrativo, a exemplo das licitações e contratos. 3ª FORMA MANIFESTAÇÃO MULTILATERAL: consórcios e convênios administrativos, por exemplo. 1º Pilar IMPERATIVIDADE LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 3 5. A IMPERATIVIDADE nada mais é que a imposição da vontade da Administração sem que se leve em conta a manifestação do particular, ou seja, sem a sua aquiescência. Se não existisse o poder de impor a vontade da Administração Pública, o poder público estaria falando com paredes! Como seria uma manifestação unilateral de vontade sem o poder de impor? 6. O poder público tem que impor a sua vontade em prol do interesse de todos (INTERESSE PÚBLICO). Ele é dotado, portanto, de uma MANIFESTAÇÃO UNILATERAL, regrada de IMPERATIVIDADE e COERCIBILIDADE, ou seja, os administrados deverão fazer/obedecer, sob pena de multa. 7. A título de ilustração, temos o tombamento. O tombamento pode ser via ato administrativo, ato Legislativo ou ato jurisdicional, porque os três poderes podem impor o tombamento. Entretanto, abordemos o tombamento feito pelo Poder Executivo, que é um ato administrativo. Assim, o tombamento é uma manifestação unilateral da vontade da Administração Pública. 8. A União possui uma autarquia denominada IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Ela expede o ato administrativo de tombamento através dessa autarquia. 9. Ora, se o IPHAN confirma que o bem tem característica de patrimônio histórico e/ou artístico nacional, e o Poder Público, acertadamente, desejar tombá-lo, então o proprietário só terá uma forma de evitar o tombamento, licitamente falando: provar que seu bem não tem característica de patrimônio histórico e/ou artístico nacional; provar que está havendo um engano por parte da Administração Pública. Se conseguirmos provar, então nos livramos do tombamento. Agora, se não provarmos, o bem será tombado, queiramos ou não, em virtude da IMPERATIVIDADE. 10. Há mais: o proprietário é obrigado a conservar o bem tombado sob pena de multa, porque o poder público tem imperatividade para defender o interesse coletivo. Chama-se a atenção que o tombamento é intervenção branda na propriedade, e não drástica, ou seja, o dono da propriedade não a perde. 11. Outro exemplo bastante significativo de ato com imperatividade: a REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA. Frequentemente, nos filmes policiais americanos, o policial para o carro de algum motorista para fazer a requisição desse veículo, objetivando perseguir um bandido. O motorista é obrigado a sair do veículo sob pena de crime de desobediência. E depois? O proprietário do veículo deve ir até a delegacia mais próxima para reaver o seu veículo. Mas, e se ele estiver todo perfurado por tiros? O poder público, nesse caso, deverá indenizar o proprietário, mas somente a posteriori, pois, em face de um iminente perigo público, a Administração Pública o requer autoexecutoriamente, somente indenizando a posteriori, e somente caso tenham ocorrido danos. 12. Agora, perguntamos: existem atos administrativos despidos de imperatividade? Sim, pois não são todos os atos administrativos que tem imperatividade. Vejamos um exemplo: os LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 4 ATOS ENUNCIATIVOS e os ATOS NEGOCIAIS. Entre os atos enunciativos temos, por exemplo, o parecer. E, como termina o parecer? Ele sempre termina assim: 13. Isso significa que não se está se impondo nada a ninguém, ou seja: “se gostou, aprova, se não gostou, reprova! ” Então, o parecer não quer impor nada a ninguém, é uma opinião do servidor público investido de uma determinada função. 14. Agora, cuidado! Vamos imaginar que o Procurador Geral do Estado, ao ler um parecer de alguém, acha que é exatamente o que o governador quer. E o Governador declara que todos os casos sejam resolvidos com base nesse parecer. Aí, o Procurador Geral esclarece para o governador que o parecer é um ato enunciativo, que não tem imperatividade. O que deve fazer o Governador? Para dar imperatividade a esse parecer, o governador terá que baixar um decreto, que é ato administrativo com imperatividade, transformando esse parecer em PARECER NORMATIVO. 15. O que aconteceu? O parecer nasceu sem imperatividade. Contudo, se a Administração necessitar conferir IMPERATIVIDADE a esse parecer então expede o decreto e ele passa a ser parecer normativo. 16. Os atos negociais são atos administrativos? Não! São atos da Administração, porque esses não têm imperatividade. Se não tem imperatividade não é ato administrativo. 17. Imaginemos alguém aprovado em um concurso público no quadragésimo quarto lugar. A parte interessada pode solicitar na repartição Pública uma certidão com a sua colocação, onde estará lavrado, por exemplo, que houve a habilitação com homologação no dia tal, no concurso tal, com fins de servir como título para o próximo concurso. 18. Pergunta-se: essa certidão está impondo alguma coisa a alguém? Não! Trata-se só uma certidão, de um atestado. E como tal não possui imperatividade. “Esse é o meu Parecer, salvo o melhor juízo. ” LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 5 19. 2º PILAR: “quem faz o ato administrativo, ou seja, quem executa essa manifestação unilateral de vontade? ” Maciçamente, é a Administração Pública! Não restam dúvidas sobre isso. Mas, e o Legislativo? O Judiciário? O Legislativo e o Judiciário também fazem atos administrativos. São os atos administrativos atípicos e impróprios. Exemplo: O Legislativo, ao conceder férias a servidor seu, ou quando faz cessão desse servidor, está praticando ato administrativo. O Presidente do TJ, por sua vez, ao licitar uma obra de engenharia para construir um anexo ao Tribunal está praticando um ato administrativo. 20. 3º PILAR: travar relações jurídicas como qualquer outro ato jurídico, ou seja, adquirir, modificar, transferir, resguardar e/ou extinguir direitos. 21. 4º PILAR: o INTERESSE PÚBLICO! Todo ato administrativo visa atender o interesse coletivo, sob pena de o administrador praticar o famoso desvio de finalidade e ser tambémprocessado penalmente até por violação ao princípio da moralidade, improbidade etc. 22. Atenção! O mais importante para se caracterizar um ato como sendo ato administrativo é a função desse ato no caso concreto. Não importa quem editou o ato – se particular ou o Estado –, se este ato foi editado materialmente no exercício de uma função Pública, ele será ato administrativo. Tem-se que se levar em conta a função administrativa exercida. Não importa quem seja. Se estiver exercendo função administrativa, o ato editado neste exercício é ato administrativo. Tal assertiva se confirma pela Súmula nº. 333 do STJ: 2º Pilar AQUELE QUE FAZ O ATO 4º Pilar INTERESSE PÚBLICO 3º Pilar RELAÇÕES JURÍDICAS LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 6 Súmula 333: Cabe Mandado de Segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa Pública. 23. Tem-se um ato administrativo, por exemplo, quando uma estatal pratica atos de direito público; quando realiza concursos públicos ou quando tem normas publicistas (híbridas). Então, um ato praticado por uma estatal é um ato de autoridade porque ela está exercendo uma função Pública. 24. Ainda que, em regra, elas editem atos privados, quando as estatais estiverem no exercício da função pública, esses atos serão equiparados a atos administrativos e serão passíveis dos mesmos controles. E, se assim são, podem ser impugnados pela via adequada, como o Mandado de Segurança. 25. A licitação provém da Administração Pública. É uma exigência para o Poder Público e um procedimento administrativo por excelência. Se a licitação é um procedimento administrativo, se compreende o exercício de uma função Pública, então os atos praticados no processo administrativo público de licitação são atos administrativos, pelo menos materialmente falando, impugnáveis via Mandado de Segurança. 26. Vamos além: a súmula fala só de licitação, mas podemos ter esse raciocínio no concurso público realizado pela estatal e para outras funções públicas ou procedimentos públicos que vão ser promovidos por esta estatal. 27. No nosso conceito inicial, falamos que ato administrativo é a manifestação unilateral de vontade da Administração Pública e de seus delegatários. Eventualmente, um concessionário ou um permissionário de serviço público, quando no exercício da função pública delegada, podem editar também atos administrativos materiais. 28. Se pesquisarmos no STJ “MANDADO DE SEGURANÇA, CONCESSIONÁRIO DE SERVIÇO PÚBLICO E ATO ADMINISTRATIVO”, iremos encontrar mais de 40 (quarenta) acórdãos admitindo Mandado de Segurança, por exemplo, contra o ato da concessionária que suspende o fornecimento do serviço público delegado. 29. Quando o funcionário do serviço público, no exercício da função Pública delegada, edita um “ato de autoridade”, esse ato é equiparado a ato administrativo e enseja Mandado de Segurança. Então, cabe, por exemplo, Mandado de Segurança contra ato da concessionária que suspende o fornecimento de serviço público. Em geral, os atos praticados por ela são privados, mas, em função do caso específico, eles serão equiparados aos atos administrativos materialmente falando. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 7 1.2 Fatos e atos (jurídicos e administrativos) 30. Importante se faz conceituar, preliminarmente ao estudo dos atos administrativos, fato e ato, jurídicos e administrativos, o que faremos através do esquema abaixo: FATO (Qualquer acontecimento que ocorre no mundo em que vivemos) FATO JURÍDICO (São os acontecimentos que importam para o mundo jurídico, ou seja, os acontecimentos a que o Direito imputa efeitos jurídicos) FATO ADMINISTRATIVO (É o fato jurídico que possui especial relevância para o Direito Administrativo. Exemplo: a morte de um servidor que gera a vacância de um cargo público. Os fatos Administrativos não podem ser anulados ou revogados, e não gozam de presunção de legitimidade) ATO JURÍDICO (É todo o ato humano que traz como consequências efeitos jurídicos) ATO ADMINISTRATIVO (É o ato jurídico que possui especial relevância para o Direito Administrativo. Exemplo: aplicação de multa por ultrapassagem proibida. Os atos administrativos podem ser anulados e revogados, e gozam de presunção de legitimidade) ATO (É toda conduta imputável ao homem. O ato decorre de uma manifestação de vontade) LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 8 1.3 Atos Administrativos e Atos da Administração 31. O Ato Administrativo, como já foi conceituado, é todo ato jurídico que possui especial relevância para o Direito Administrativo e que pode ser anulado e revogado, além de gozar de presunção de legitimidade. 32. Ato da Administração, por seu turno, é todo ato praticado pela Administração no exercício da função administrativa, regido pelo Direito Público ou Privado, e abrangendo os atos administrativos, os atos privados da Administração; os atos políticos e os atos materiais. Então, ato da Administração é gênero do qual o ato administrativo é espécie. 33. Assim, conclui-se que existem atos administrativos que não são atos da Administração, e atos da Administração que não são atos administrativos. 1.4 Existência, validade e eficácia dos atos administrativos 34. A exemplo de todo o ato jurídico, o ato administrativo também está sujeito a três planos lógicos distintos. São eles: a) Existência ou perfeição: é a situação do ato cujo processo está concluído. Ato perfeito é o que completou o ciclo necessário à sua formação. Exemplo: decisão administrativa que acaba de ser redigida, datada e assinada pela autoridade competente. b) Validade: é a adequação do ato às exigências legais. Exemplo: decisão acima de acordo com a lei. ATOS DA ADMINISTRAÇÃO QUE NÃO SÃO ATOS ADMINISTRATIVOS a) Atos regidos pelo direito privado: são atos que não possuem os atributos inerentes aos atos administrativos (presunção de legitimidade, imperatividade, autoexecutoriedade e tipicidade). Exemplo: contrato de compra e venda entre o Poder Público e um particular. b) Atos materiais: são os atos em que não existe declaração de vontade do Estado, consistindo apenas em uma execução. Exemplo: serviço de café realizado por um servidor. c) Atos políticos: são os atos de governo, amplamente discricionários e praticados diretamente em obediência à Constituição, no exercício de função pública. Exemplo: indulto, veto. ATOS ADMINISTRATIVOS QUE NÃO SÃO ATOS DA ADMINISTRAÇÃO São todos os atos praticados pelos Poderes Judiciário e Legislativo no exercício de função atípica administrativa. Exemplo: concessão de férias a agente público lotado em uma das varas da Justiça Federal. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 9 c) Eficácia: é a situação em que o ato está disponível para produção de efeitos. Exemplo: ato existente e válido, mas ineficaz em razão de previsão de condição suspensiva. 35. Então, pode ser o ato: OUEXISTENTE VÁLIDO INVÁLIDO EFICAZ INEFICAZ INEFICAZ EFICAZ INEXISTENTE LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 10 II – DESENVOLVIMENTO 2.1 Características ou Atributos dos Atos Administrativos 36. Inicialmente, um detalhe: em São Paulo, os autores não falam características. Aqui, no RJ, os autores falam atributos, que são rigorosamente a mesma coisa. Agora, um alerta: numa prova de concurso federal o examinador irá tratar de ATRIBUTOS. 37. Cada autor traz três, quatro, cinco, até seis atributos, dependendo de cada um. No entanto, três características ou atributos são aceitos e citados por todos. São eles: IMPERATIVIDADE; a característica da PRESUNÇÃO (LEGALIDADE E LEGITIMIDADE), que são duas presunções numa só, e a característica da EXECUTORIEDADE OU AUTOEXECUTORIEDADE (são exatamente a mesma coisa). 38. Os atos Administrativos submetem-se às normas jurídicas de direito público, razão pela qual os atos administrativos apresentam peculiaridades que são inadmissíveis nos atos de direito privado, salvo em algumas situações raríssimas, como por exemplo na retenção da bagagem do hóspede que não satisfaz o custo da hospedagem (art. 1.467, CC2). E essas peculiaridades são os atributos dos atos administrativos. 39. Vejamos, portanto, os atributos, conceitualmente: 40. O ato administrativo é impositivo. O Particular terá que cumprir concorde ou não com os seus termos. Manifestação unilateral de vontade sem poder de império não serve para nada. Teoricamente, o Poder Executivo é o próprio governo; e se é governo o seu ato tem poder de império. É tão importante quanto uma sentença, quanto uma lei. Pode não ser tão charmoso como uma sentença ou uma lei, mas tem um poder de império, isto é, uma manifestação unilateral do poder público que vai poder impor uma decisão, mesmo que não concorramos para a sua feitura. Teremos que acatar, sob pena de sofrermos uma sanção. 41. Não esqueçamos, contudo, que a imperatividade requer expressa previsão em lei. 42. Quando o ato visa conferir direitos solicitados pelos administrados, como nas LICENÇAS, AUTORIZAÇÕES, PERMISSÕES, ATESTADOS, CERTIDÕES, etc., não há imperatividade. 2 Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção: I - os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; 1ºATRIBUTO: IMPERATIVIDADE LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 11 43. Presunção de legalidade significa dizer que os atos administrativos se presumem legais, ou seja, são compatíveis com a lei. Um documento apresentado pelo poder público goza de presunção de legalidade. 44. A presunção de legalidade e veracidade é um voto de confiança em favor da Administração. Esse atributo visa agilizar a operacionalidade das ações administrativas em prol do interesse público. Visa evitar a mera desconfiança de terceiros. 45. Vejamos um exemplo: a demarcação de terrenos públicos. O particular é que terá de provar que o imóvel não se situa em área de terreno de Marinha. Enquanto não reconhecido pela Administração ou anulado pelo Judiciário, os efeitos continuam sendo produzidos. 46. Outro exemplo: um servidor, para anular um ato que o transferiu para outro setor da Administração Pública por necessidade do serviço, terá que provar que essa transferência foi, na verdade, motivada por perseguição, para obter a sua anulação. 47. Presume-se, portanto, que o ato respeitou e foi expedido de acordo com a lei (LEGALIDADE) e visou atender o interesse público (LEGITIMIDADE). 48. Nesse sentido, o art. 19, II, da CRFB3, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios recusar fé aos documentos públicos. É um voto de confiança a favor da Administração Púbica. 49. Vejamos um caso interessante julgado pelo TJ/RJ: Procuradoria do Estado X Tribunal de Contas do Estado. O caso girava em torno do fato de o TCE/RJ ter baixado uma deliberação no sentido de que o Estado do RJ só poderia promover dispensa licitatória se, antes, submetesse esse ato à apreciação do TCE, ou seja, teria que passar pelo seu crivo. Em juízo, a Procuradoria Geral do Estado derrubou essa deliberação pelo fato dela estar ferindo a presunção de legalidade e legitimidade. 50. Atenção! Quando se diz que o ato não pode ser controlado previamente, não quer dizer que estamos fechando as portas para os remédios constitucionais, especialmente o MS. O que estamos querendo dizer é que ele não pode ser questionado previamente em relação à sua existência. 3Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II - recusar fé aos documentos públicos; 2ºATRIBUTO: PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE E LEGITIMIDADE LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 12 51. O exemplo citado acima mostra muito bem a força, no aspecto prático, que essa característica tem para o ato administrativo, qual seja, o fato de ele não pode ser controlado previamente, mas sim somente após a sua expedição. 52. Essa presunção, contudo, é juris tantum4, pois estamos num Estado Democrático de Direito, com jurisdição una ou única. Então, qualquer ato da Administração pode ser apreciado pelo Poder Judiciário. 53. Outra colocação importante diz respeito à inversão do ônus da prova. A inversão do ônus da prova para o administrado significa dizer que é ele quem tem de provar que a Administração está errada (o ônus da prova que cabe a quem alega). Tal conteúdo tem presunção de veracidade, ou seja, até prova em contrário, o ato administrativo é considerado válido, verdadeiro. 54. Assim, ao contrário do que ocorre com os atos jurídicos comuns, (quem ficar na negatividade, não precisa provar a negatividade) sempre que confrontados, a legitimidade dos atos administrativos, instrumento de trabalho da Administração, não necessita ser declarada por autoridade judicial ou administrativa de hierarquia superior. 55. Uma ordem de interdição de um restaurante, por exemplo, sob alegação de insalubridade, tem a seu favor a presunção de legitimidade. O titular do estabelecimento não pode opor resistência privada a tal ordem, como poderia fazer caso se tratasse de um título particular, como um contrato. Se a ordem for ilegítima, deverá o referido titular desconstituí-la na via administrativa, ou, no seu malogro, na via judicial. 56. Mais um exemplo de Presunção da Legalidade e Legitimidade: um cidadão do Rio de Janeiro foi multado dirigindo o seu veículo com o braço do lado de fora. Ele interpôs recurso alegando que seu veículo possui condicionador de ar e ele sempre o utiliza, aliado ao fato de que não abre as janelas do seu veículo para evitar ser assaltado nos sinais de trânsito. Como resultado do recurso, a multa foi mantida, o que está correto, porque foi a palavra da autoridade de trânsito contra a palavra do cidadão. Isso não quer dizer que o cidadão é mentiroso, mas sim que entre a palavra da autoridade administrativa, e a palavra do cidadão, aquela é que possui presunção de legalidade e legitimidade. Além do mais, o cidadão trouxe alguma prova em contrário? Não! 57. Uma consequência interessante da presunção da legalidadeé que o juiz não pode decretar de ofício a ilegalidade dos atos administrativos. 58. Um exemplo cômico: um cidadão estava parado com o veículo no semáforo com o sinal “amarelo”. Como chovia muito, um veículo derrapou e colidiu na traseira do veículo empurrando-o além do semáforo. Como consequência, o cidadão que estava corretamente 4Trata-se de expressão latina cujo significado literal é "apenas de direito". Normalmente a expressão em questão vem associada a palavra presunção, ou seja, presunção "juris tantum", que consiste na presunção relativa, válida até prova em contrário. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 13 parado fui multado por ter ultrapassado a faixa amarela. A presunção de legalidade caiu por terra. 59. A Professora Di Pietro aponta outro efeito da presunção de legitimidade do ato administrativo, afirmando que o Judiciário não pode apreciar ex officio a validade do ato. No direito privado, o art. 168 do CC5 determina que as nulidades absolutas podem ser alegadas por qualquer interessado ou pelo Ministério Público e devem ser pronunciadas pelo Juiz, quando conhecer do ato. 60. O mesmo já não ocorre em relação ao ato administrativo, cuja nulidade só pode ser decretada pelo Judiciário a pedido da pessoa interessada. Assim, se alguém instaura um processo judicial impugnando a validade de uma multa administrativa, fundamentando o pedido somente na falta de proporcionalidade do seu valor, o magistrado não poderá apreciar os demais aspectos relacionados à legalidade da multa. 61. A executoriedade também é conhecida como autoexecutoriedade. É um dever que a Administração Pública tem de levar às últimas consequências o seu ato. No Direito Administrativo francês é denominado privilége d’action d’office6. 62. Esse dever que a Administração tem de materializar os seus atos existe porque a sociedade necessita, em situação de urgência, da executoriedade. E tem mais: a Administração Pública tem o dever de materializar o ato administrativo, independente da manifestação de outro Poder, admitindo-se até o uso de força, se necessário. 63. Os atos requisitando bens durante o estado de calamidade pública seria um caso típico de autoexecutoriedade. No direito privado, raras são as hipóteses que permitem ao particular executar suas próprias decisões sem recorrer ao Judiciário (é o que ocorre com o corte de galhos de árvores que ultrapassarem a extrema do prédio (CC, art. 1.2837), ou atos praticados em legítima defesa ou estado de necessidade). 5Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes. 6O privilège d'action d'office consiste na faculdade que tem a Administração, quando já tomou decisão executória, de realizar diretamente a execução forçada, usando, se for o caso, da força Pública para obrigar o administrado a cumprir a decisão. 7Art. 1.283. As raízes e os ramos de árvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido. 3ºATRIBUTO: EXECUTORIEDADE LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 14 64. Vejamos um exemplo: havia um restaurante famoso no RJ que servia uma feijoada com o que sobrava dos pratos dos fregueses no dia, e que era conservada numa banheira até o momento de ser “servida”. 65. No dia seguinte, abria-se a torneira da banheira e com uma barra de ferro as sobras eram “mexidas”, objetivando fazer “tutu”, que era servido posteriormente aos clientes. O fiscal, sem autorização judicial, ao verificar, de surpresa, a prática, imediatamente interditou o estabelecimento. 66. A autoexecutoriedade tem previsão na lei, ou, em não havendo, pode ser praticada como medida de extrema urgência cuja omissão pode causar transtorno à sociedade. 67. Por exemplo, no caso de uma obra irregular que coloca em risco a integridade física das pessoas. Em cenário como esse, o Poder Público tem o dever de agir com extrema rapidez, demolindo a obra. 68. Outros exemplos: fechamento de casa de rufianismo; a cassação de licença para dirigir; o internamento de pessoa com doença contagiosa; a retirada de pessoas de um prédio que ameaça desabar, etc. 69. A autoexecutoriedade jamais afasta a apreciação judicial do ato. Nada impede que o particular provoque até mesmo o seu controle judicial prévio. Se o particular, com antecedência, souber que a Administração praticará determinado ato autoexecutório, poderá conseguir no Judiciário uma liminar impedindo sua prática. 70. Agora, cuidado! A multa é autoexecutória, mas, quando não quitada espontaneamente pelo particular, no que tange à cobrança, a Administração Pública terá que acionar o Judiciário. A obrigação de dar e pagar não goza de autoexecutoriedade. 71. A autoexecutoriedade é atributo de somente alguns tipos de atos administrativos. Na verdade, apenas duas categorias de atos administrativos são autoexecutáveis: aqueles com tal atributo conferido por lei (por exemplo: o fechamento de restaurante pela vigilância sanitária; guinchamento de carro parado em local proibido; apreensão de mercadorias contrabandeadas; dispersão de passeata imoral; demolição de construção irregular em área de manancial; confisco de medicamentos necessários para a população, em situação de calamidade Pública; destruição de alimentos deteriorados expostos para a venda, etc.) e os atos praticados em situações emergenciais cuja execução imediata é indispensável para a preservação do interesse público (dispersão, pela polícia de manifestação que se converte em onda de vandalismo, por exemplo. Recentemente ocorreu este fato durante a marcha contra a corrupção, em que manifestante quebrou vidraças de prédios comerciais) 8. 8Alexandre Mazza, Manual de Direito Administrativo, p. 182-183. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 15 72. Conhecida pelos franceses como privilége du préalable9, consiste no atributo que permite à Administração aplicar punições aos particulares por violação da ordem jurídica, sem necessidade de ordem judicial. A exigibilidade, portanto, resume-se ao poder de aplicar sanções administrativas, como multas, advertências e interdição de estabelecimentos comerciais. 73. Assim como a imperatividade, a exigibilidade é atributo presente na maioria dos atos administrativos, mas ausente nos atos enunciativos. 74. Quadro comparativo entre exigibilidade e autoexecutoriedade: COMPARAÇÃO PELAS DIFERENÇAS EXIGIBILIDADE AUTOEXECUTORIEDADE privilège du préalable privilége d’action d’office Aplicação de sanções administrativas (multa de trânsito, por exemplo) Execução material do ato administrativo (guinchamento de carro, por exemplo) Dispensa ordem judicial Dispensa ordem judicial Coerção indireta Coerção direta Pune, mas não desfaz a ilegalidade Pune e desconstitui a situação ilegal Não permite uso da força física Permite uso da força física 75. Quadro comparativo dos atributos do ato administrativo10: QUADRO COMPARATIVODOS ATRIBUTOS DO ATO ADMINISTRATIVO ATRIBUTO SÍNTESE ABRANGÊNCIA DICA ESPECIAL Presunção de legitimidade O ato é válido até prova em contrário Todos os atos administrativos + atos da Administração Presunção relativa que inverte o ônus da prova Imperatividade O ato cria Maioria dos atos Deriva do poder 9O privilège du préalable resulta da possibilidade que tem a Administração de tomar decisões executórias, ou seja, decisões que dispensam a Administração de dirigir-se preliminarmente ao juiz para impor a obrigação ao administrador. 10Alexandre Mazza, Manual de Direito Administrativo, p. 184. 4ºATRIBUTO: EXIGIBILIDADE LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 16 unilateralmente obrigações ao particular administrativos extroverso11 Exigibilidade Aplicações de sanções administrativas Maioria dos atos administrativos Pune, mas não desfaz a ilegalidade Autoexecutoriedade Execução material que desconstitui a ilegalidade Alguns atos administrativos Só quando a lei prevê ou em situações emergenciais Tipicidade (*) Respeito às finalidades específicas Todos os atos administrativos Proíbe atos atípicos ou inominados 76. Alguns autores acrescentam a TIPICIDADE no rol dos atributos do ato administrativo. A tipicidade diz respeito à necessidade de respeitar-se a finalidade específica definida na lei para cada espécie de ato administrativo. Dependendo da finalidade que a Administração pretende alcançar, existe um ato definido em lei. 77. Válida para todos os atos administrativos unilaterais, a tipicidade proíbe, por exemplo, que a regulamentação de dispositivo legal seja promovida utilizando-se uma portaria, já que a tarefa cabe legalmente a outra categoria de ato administrativo: O DECRETO. 78. Segundo Di Pietro, “esse atributo representa uma garantia para o administrado, pois impede que a Administração pratique atos dotados de imperatividade e executoriedade, vinculando unilateralmente o particular, sem que haja previsão legal; também fica afastada a possibilidade de ser praticado o ato totalmente discricionário, pois a lei, ao prever o ato, já define os limites em que a discricionariedade poderá ser exercida”. 79. Trata-se, portanto, de uma derivação do princípio da legalidade, impedindo a Administração Pública de praticar atos atípicos ou inominados. 2.2 Elementos (ou requisitos) do Ato Administrativo 80. Na Lei de Ação Popular, Lei nº. 4717/65, art. 2°12, temos os 05 (cinco) requisitos necessários à formação dos atos administrativos: COMPETÊNCIA, FORMA, FINALIDADE, 11O poder extroverso pode der definido como o poder que o Estado tem de constituir, unilateralmente, obrigações para terceiros, com extravasamento dos seus próprios limites. São serviços em que se exerce o poder extroverso do Estado - o poder de regulamentar, fiscalizar, fomentar. Como exemplos é possível destacar: a cobrança e fiscalização dos impostos, a polícia, a previdência social básica, a fiscalização do cumprimento de normas sanitárias, o serviço de trânsito, a compara de serviços de saúde pelo Estado, o controle do meio ambiente, o subsídio à educação básica, o serviço de emissão de passaportes, etc. Poder extroverso é, portanto, o poder de império da Administração Pública, ou seja, aquilo que o particular não tem como deixar de cumprir. É ato imposto, outorgado, mandado. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 17 MOTIVO E OBJETO. Esses requisitos dos atos administrativos correspondem à corrente clássica (Hely Lopes Meirelles). 81. Corrente clássica: CORRENTE CLÁSSICA (Hely Lopes Meirelles) 05 (CINCO) REQUISITOS Competência ou sujeito competente Vinculado Objeto Discricionário Forma Vinculado Motivo Discricionário Finalidade Vinculado 82. Quadro comparativo entre atos vinculados e discricionários13: QUADRO COMPARATIVO ENTRE ATOS VINCULADOS E DISCRICIONÁRIOS ATO VINCULADO ATO DISCRICIONÁRIO Praticado sem margem de liberdade (por exemplo: aposentadoria compulsória, lançamento tributário, etc.) Praticado com margem de liberdade para que o agente público decida, diante do caso concreto, qual a melhor maneira de atingir o interesse público (por exemplo: decreto expropriatório, autorização, permissão). Não tem mérito Tem mérito (possuem um juízo de conveniência e oportunidade no motivo ou no objeto, conhecido por mérito). Pode ser anulado, mas não revogado Pode ser anulado e revogado Sofre controle judicial Sofre controle judicial, exceto quanto ao mérito 12Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou; b) o vício de forma consiste na omissão ou da observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo; d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido; e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. 13Alexandre Mazza, Manual de Direito Administrativo, p. 203. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 18 Não se confunde com ato arbitrário, pois ato arbitrário é aquele praticado fora dos padrões da legalidade. 83. Regra mnemônica para melhor fixação14: 84. Outra regra mnemônica para melhor fixação (requisitos): 14Alexandre Mazza, Manual de Direito Administrativo, p. 193. SEM O FAUSTÃO MORRERIA FELIZ! SUJEITO COMPETENTE = COMPETÊNCIA OBJETO FORMA MOTIVO Motivo é r i t Objeto FINALIDADE LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 19 85. Desses cinco elementos, três são comuns ao ato jurídico: agente capaz, forma prescrita e não defesa em lei e objeto lícito. 86. O Direito Administrativo não fala em “agente capaz”, fala em AGENTE COMPETENTE, porque mais do que capaz ele tem que ter competência. 87. Esses três elementos são encontrados no ato administrativo e no ato jurídico. 88. Quando um cidadão for vender a sua casa, ninguém quer saber o motivo da venda. Isso é um problema pessoal dele. Só interessa saber se ele é capaz para vender; se a forma que ele escolheu é prescrita e não defesa em lei, e se o objeto é lícito. Apenas isso! 89. Agora,quando é a Administração Pública que quer vender um bem, ela está vendendo algo que é nosso, da coletividade, então interessa saber o porquê dessa venda. E nesse momento aparece o MOTIVO e a FINALIDADE. O MOTIVO é o porquê (por que está vendendo); e a FINALIDADE é a consequência (é o para que, qual é a intenção, aonde você quer chegar com essa venda, o que será feito com o valor arrecadado). LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 20 COMPETÊNCIA 2.2.1 Competência – Primeiro elemento do ato administrativo 90. No que tange à competência do ato administrativo, registramos que a Lei da Ação Popular (Lei no 4.717/65, art. 2º15) elenca e conceitua todos os elementos do ato. 91. A competência também é limitada pela lei, porque o agente competente só pode exercer suas atribuições nos limites colocados pela lei. A lei habilita e limita a atuação do administrador. Portanto, a competência está intimamente ligada ao princípio da legalidade. 15Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou; b) o vício de forma consiste na omissão ou da observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo; d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido; e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência. COMPETÊNCIA Art. 2o da Lei 4.717/65 ATRIBUIÇÕES CONFERIDAS PELA LEI ELEMENTO VINCULADO Delegação e avocação de competência Pública Agente de fato Usurpador da função Pública Agente com desequilíbrio psíquico/mental LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 21 92. Por conta disso, a doutrina vai afirmar que, em regra, a competência é indelegável, intransmissível, incomunicável e improrrogável. 93. Quem exerce competência delegada não pode subdelegá-la, salvo se houver previsão legal. Importante registrar que a autoridade delegante continua competente, em conjunto com a autoridade delegada. Assim, pergunta-se: aquele que delegou tem competência junto com a autoridade que recebeu a delegação, para decidir sobre determinada matéria? A resposta é positiva! Isso pode acontecer porque a delegação não afasta a competência da autoridade delegante. Portanto, aquele que delegou continuará competente em relação àquela matéria objeto da delegação, em função do PODER HIERÁRQUICO. 94. Contudo, delegação e avocação são institutos que se entrelaçam com a hierarquia. Não existindo hierarquia, não há que se falar em delegação e avocação. Tanto é assim, que no Poder Judiciário, onde não há hierarquia, não ocorrem delegação nem avocação. 2.2.1.1 Subdelegação 95. Em geral, a pessoa a quem é delegada uma competência não pode delegá-la a outrem (subdelegá-la), o que se traduz na concepção de que o recebimento de uma delegação não implica em que se possa transmiti-la a outra pessoa. 96. A corrente majoritária é no sentido de que subdelegação só poderá acontecer se a própria delegação ou a autoridade delegante permiti-la. 97. O art. 11 da Lei 9.784/9916 traz isso como regra. Diz lá que a competência é irrenunciável e só pode haver delegação e avocação nos casos expressamente admitidos pelo legislador. Então, temos a regra geral consagrada no art. 11. 98. Só pode haver uma transferência de competência, ou seja, alguém pode transferir competência para outrem, ou “pegar” para si a competência transferida a outrem (avocação), se a lei expressamente autorizar. Se a lei não falar nada, é indelegável. O problema é que o art. 12, da Lei nº. 9.784/99 vai inverter essa regra em âmbito federal. 99. Diz o art. 12: Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes. 16Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 22 100. O art. 15, por sua vez, vai trazer uma regra sobre a avocação. Diz o art. 15: Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. 101. Com a avocação, ao ficar o subordinado hierárquico sem a sua competência, ele perde toda e qualquer responsabilidade por aquele ato que foi avocado pelo seu superior. A partir da avocação, apenas a autoridade avocante responde, inclusive em termos de Mandado de Segurança. Desta sorte, o juízo para eventual ação judicial será o desta autoridade. 102. Só que, em âmbito federal, depois que o art. 11 da Lei 9.784/99, disse: “olha, só pode haver delegação e avocação nos casos autorizados pela lei”, houve um choque entre ele e o art. 12. No art. 12 a própria lei já vai autorizar a delegação. E o art. 12 admite a delegação como regra geral, se não houver impedimento legal. Se a lei não fala nada, você pode delegar, diz o art. 12, contrariando o que seria a regra geral na prática. 103. Então, qual o posicionamento do STJ? 104. ENTENDE O STJ QUE SE NÃO HOUVER PREVISÃO EXPRESSA, HÁ IMPOSSIBILIDADE DE DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA. Então, baseando-se na doutrina majoritária, a ideia é que se não há previsão expressa na lei, não poderia haver essa delegação de competência porque tal seria uma burla ao que foi estabelecido na lei. 105. Ainda no campo da competência do Agente, há algumas patologias no que se referem ao vício de competência e que cai muito nas provas de Concursos Públicos. Vejamos alguns casos interessantes: 106. 1ª PATOLOGIA: AGENTE DE FATO 107. Agente de fato é o oposto de agente de direito, ou seja, é aquele que NÃO TEM COMPETÊNCIA LEGAL para a prática de ato administrativo, NEM POSSUI VÍNCULO COM A ADMINISTRAÇÃO. O cidadão quer colaborar com a Administração Pública, porém, não está AGENTE DE FATO LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 23 adequadamente investido. Mesmo sem competêncialegal, ele está imbuído de BOA VONTADE e BOA FÉ. 108. No interior do Pará, por exemplo, quando você chega à delegacia e não tem delegado, quem vai digitar o registro de ocorrência é o próprio preso. O agente de fato é aquele que quer ajudar, que quer colaborar, mas que não tem competência para tal. 109. Outro exemplo típico do agente de fato é o aposentado compulsório, aquele que está com 70 anos de idade. Após a aposentadoria, ele retorna para a repartição Pública, ou porque se ficar em casa vai morrer (síndrome da institucionalização17), ou porque os seus colegas que estão na ativa precisam de sua ajuda para, por exemplo, atender aos cidadãos. Aqui vai surgir a TEORIA DA APARÊNCIA e a também a CULPA IN VIGILANDO. 110. Detalhe importante: internamente, esse ato praticado pelo agente de fato irá exigir a sua CONVALIDAÇÃO. Posteriormente, falaremos mais detalhadamente sobre convalidação do ato. No Rio de Janeiro se chama de SANATÓRIA, que é a convalidação do vício de competência. 111. Vejamos o seguinte caso: um servidor inativo que, mesmo após se aposentar, comparece todos os dias à repartição a qual era vinculado e, ainda que destituído de Função Pública, age como se tivesse praticando atos corriqueiros no âmbito administrativo, tais como assinatura de formulários; atendimento ao público etc. Em síntese, ele está praticando ato administrativo. Ocorre que esse ato, por si só, não pode existir. 112. A indagação que se faz é a seguinte: em regra, esse ato administrativo será nulo, ou seja, não produzirá efeitos? Internamente, desde que RATIFICADO, produzirá efeitos. Isto se dá porque, externamente, a Administração Pública deve adotar a TEORIA DA APARÊNCIA e a culpa in vigilando, pois permitiu que uma pessoa sem a devida competência praticasse ato administrativo, abrindo precedentes à irregularidade. 113. Com isso, somando-se à boa-fé do cidadão, há o entendimento majoritário de que o ato praticado pelo agente de fato é válido perante terceiros de boa-fé, tendo a Administração de arcar com os efeitos deste ato, sendo necessário SANAR, CONVALIDAR, RATIFICAR o ato administrativo. 114. A Administração convocará a autoridade competente para ratificar o ato, retirando-lhe o vício de competência. Após a ratificação, este produzirá efeitos ex tunc. 17Denominamos de “síndrome da institucionalização” aquela patologia que acomete os servidores públicos que, após mais de trinta anos no serviço público, sentem-se num vazio existencial quando passam para a inatividade. Os sintomas mais comuns são a angústia e a depressão, além de um sentimento de abandono e de marginalização social. Essa síndrome é tão devastadora que muitos órgãos criaram projetos de desmobilização exatamente para inserir esses servidores na nova realidade social, tais como o seu aproveitamento em outras atividades laborativas que podem ser, inclusive, na própria instituição. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 24 115. O efeito do ato se dará independente dessa medida sanatória, em função de três argumentos válidos, quais sejam: a) Teoria da aparência; b) Presunção de boa-fé; e c) Culpa in vigilando da Administração. 116. E se o ato praticado pelo agente de fato causar danos a terceiros? Presume-se a boa- fé do cidadão, e com base na Teoria da Aparência os atos são válidos perante terceiros. Neste caso, a Administração responderá pelos atos – responsabilidade objetiva – e, posteriormente, promoverá ação regressiva contra o agente administrativo causador do dano (agente de fato). 117. E se o agente de fato estiver fora da Administração Pública? Estando o Agente de Fato fora da repartição Pública, não se aplica a Teoria da Aparência, a culpa in vigilando, nem haverá responsabilidade do Estado, por se achar o agente fora da estrutura administrativa. 118. 2ª PATOLOGIA: USURPADOR DE FUNÇÃO PÚBLICA 119. A usurpação da função Pública18 ocorre quando um sujeito que não tem vínculo algum com a Administração Pública, nem um título que o legitime a praticar qualquer ato dentro desta, venha a praticar um ato supostamente administrativo. É o caso de um determinado cidadão que, dizendo-se fiscal, multa estabelecimento comercial e desencadeia a prática de uma série de extorsões. 18Importante: O crime de usurpação de função Pública não ocorre quando o ato for praticado por particular enquadrado na condição de gestor de negócios públicos. A gestão de negócios públicos é um instituto pouco conhecido no Brasil, mas tradicional no Direito Europeu. Gestor de negócios é o particular que assume sponte própria à condução de uma tarefa Pública em situações de emergência enquanto o Estado estiver ausente. É o caso do particular que presta socorro a parturiente. Inexistindo agente público competente para atender à gestante, um motorista pode conduzi-la ao hospital, assumindo durante o trajeto o status de gestor de negócio público. Assim, enquanto exerce essa função de interesse público, o particular reveste-se de certas prerrogativas estatais, como a preferência no trânsito típica de viaturas Públicas. A definição do regime jurídico da gestão de negócios públicos ainda carece de maior atenção doutrinária, mas é certo que sua caracterização na prática é causa excludente do crime de usurpação de função Pública. USURPADOR DE FUNÇÃO PÚBLICA LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 25 120. Posteriormente, descobre-se que aquela pessoa não era fiscal, mas usurpador da função Pública19. Aqui, tem-se um caso que difere do agente de fato, visto que O USURPADOR NÃO VISA ATENDER O INTERESSE PÚBLICO, MAS TÃO SOMENTE INTERESSE PESSOAL. Trata-se de crime contra a Administração Pública, e o ato praticado pelo usurpador da função Pública, juridicamente falando, é inexistente, não incidindo qualquer espécie de responsabilidade sobre o Estado. Este ato supostamente administrativo será NULO. 121. 3ª PATOLOGIA: AGENTE ACOMETIDO DE LOUCURA 122. O Ato administrativo editado por agente da Administração acometido de loucura é válido ou inválido? Entende a melhor doutrina que, para gerar validade a seus atos, o agente público não basta ser competente, mas TEM QUE SER CAPAZ. Se este deixou de ser capaz, consequentemente perderá a sua competência. Portanto, se um agente público pratica um ato administrativo acometido de loucura, mas a motivação (vontade, motivo) estiver compatível com a vinculação do ato e em conformidade com o fato que gerou o dever de agir da Administração, o ato será válido. 123. O STJ opina no sentido da validade do ato administrativo vinculado, expedido por agente público que teve perda da capacidade, desde que praticado nos ditames da lei. 124. No entanto, o ato será inválido quando estiverem presentes os elementos da conveniência e oportunidade (discricionariedade), pois a toda evidência, um agente público incapacitado mentalmente não possui condições de vislumbrar, através de seu mérito, dentre as opções legais, um discernimento que melhor atenda ao interesse público. 19A usurpação de função Pública é crime tipificado no art. 328 do Código Penal, constituindo causa de inexistência do ato administrativo. AGENTE ACOMETIDO DE LOUCURA LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira26 125. Então: 126. 4ª PATOLOGIA: EXCESSO DE PODER 127. O excesso de poder ocorre quando a autoridade Pública, embora competente para praticar o ato, ultrapassa os limites de sua competência exagerando na forma de defender o interesse público. Exemplo: destruição, pela fiscalização, de veículo estacionado em local proibido. O excesso de poder enseja a nulidade da atuação administrativa naquilo que ela se exceder. 128. 5ª PATOLOGIA: INCOMPETÊNCIA 129. De acordo com o art. 2º, parágrafo único, “a”, da Lei nº. 4.717/6520, a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou. A incompetência torna anulável o ato, autorizando a sua convalidação. 20Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; (...) Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: ATOS PARATICADOS POR AGENTE ACOMETIDO DE LOUCURA DISCRICIONÁRIOS VINCULADOS OS ATOS NÃO SERÃO INVÁLIDOS OS ATOS SERÃO VÁLIDOS INCOMPE- TÊNCIA EXCESSO DE PODER LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 27 FORMA 2.2.2 Forma - Segundo elemento do ato administrativo 130. Vigora no Direito Administrativo o princípio da solenidade das formas, ao contrário do que acontece Direito Privado. 131. No Direito Privado vigora outro princípio oposto, que é o princípio da liberdade das formas: se a lei não estabeleceu uma forma específica para um ato, então é admissível qualquer forma. 132. A forma escrita facilita o controle da legalidade do ato administrativo porque garante uma possibilidade ao particular de exercer sua ampla defesa e contraditório. Mesmo o particular, caso tenha sido prejudicado por um ato que lhe causou algumas restrições, sendo esse ato escrito, poderá impugná-lo de uma maneira mais ampla caso fosse verbal, pois as palavras se perdem no tempo, mas a escrita permanece. Então, a escrita facilita inclusive a ampla defesa do particular. 133. Voltando à regra geral, a doutrina afirma que a forma do ato é escrita. Agora, é claro que nem todo ato administrativo vai ter a forma escrita. Nem sempre será possível a sua formalização através da escrita. Assim, a doutrina vai admitir, em situações excepcionais, atos administrativos não escritos. a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou; FORMA REGRA: Forma escrita Elemento Vinculado Quanto ao rigor Quanto à concepção Essencial (obrigatória) Não essencial (facultativa) Ampla/Restrita LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 28 134. Voltemos ao exemplo do SINAL DE TRÂNSITO. Quando o sinal fica vermelho, não só mudou a cor, como mudou a ordem que a Administração Pública está dando para você. Quando o sinal de trânsito fica vermelho, existe ali uma manifestação de vontade da Administração Pública. O vermelho significa uma ordem de parar o seu veículo. Não dá para ter um agente público em toda esquina, escrevendo “PARE” em um papel e o entregando para cada veículo. 135. Eventualmente, o ato administrativo vai ser formalizado também por GESTOS. O guarda de trânsito emite um comando de seguir ou parar através de gestos. Com esses gestos, ele está emitindo ordens administrativas, que não podem ser escritas por uma circunstância óbvia: não dá para o guarda de trânsito estar toda hora escrevendo que o veículo pode ou não passar naquele local. Então, os gestos do guarda de trânsito são atos administrativos não escritos. Trata-se de um ATO ADMINISTRATIVO GESTUAL. 136. Existe o ato administrativo sonoro: o mesmo guarda de trânsito munido de um apito. O guarda, quando faz soar o apito, está dando uma ordem. Cada som emitido, em tese, representa uma ordem. 137. A forma, então, é o meio pelo qual a Administração exterioriza a sua vontade e, em princípio, todo ato administrativo é formal. 2.2.2.1 Classificação da Forma 2.2.2.1.1 Quanto ao rigor 138. Quanto ao rigor, questiona-se se a forma seria essencial ou facultativa, ou seja, se incide uma forma rígida para cada forma de agir. 139. Inobstante a liberdade de que dispõe o administrador para a escolha da forma, ressalta-se que este não é um elemento discricionário, mas vinculado, por exigir que seja, como regra, escrito. Mas, qual é a forma escrita? Esta é facultativa, prevalecendo a não essencial. O mais importante é que a forma seja escrita, eis que “a forma” da forma escolhida não afeta o interesse público. 140. Contudo, existem alguns atos administrativos cuja forma será essencial para a sobrevivência do ato. Majoritariamente, a doutrina tem entendido que, quando o direito de terceiros estiver em jogo, a forma passa a ser essencial, rígida. Por exemplo: a desapropriação, por atingir o direito de propriedade. O Decreto-lei no 3365/41, art. 6o, assim reza: “A declaração de utilidade Pública far-se-á por decreto do Presidente da República, 1. ESSENCIAL OU FACULTATIVA LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 29 Governador, Interventor ou Prefeito”. Assim, se a desapropriação por feita por ofício (forma), então gerará a anulação. 141. Outro exemplo: concurso público. Dá-se início ao certame via publicação do EDITAL. Essa é a sua forma essencial e obrigatória, uma vez que estamos diante de direito de terceiros, vigorando o PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE, que reza, no caso específico, que todos têm capacidade de se tornar agentes públicos, bastando para tal realizar o concurso público e se habilitarem dentro do número de vagas (classificação). 142. Importante observar que nessa hipótese (concurso público – EDITAL), a convalidação não é possível, pois a forma é essencial à qualidade do ato, não sendo possível qualquer outra, já que se trata de direito de terceiros. 143. Mais um exemplo: governador, pretendendo realizar concorrência para aquisição de maquinário que se destine à pavimentação de uma estrada, manda publicar aviso do certame aos interessados, quando, na realidade, deveria publicar edital. Examinando a validade do ato, constata-se a existência de um vício insanável da forma essencial. A lei preferiu a maneira de exteriorização do ato, através de edital de licitação Pública. O ato é, pois, inválido, por violar o princípio da impessoalidade e da isonomia, pois todos têm o direito de contratar com a Administração, em igualdade de condições, através da licitação Pública. 2.2.2.1.2 Quanto à concepção 144. Quanto à concepção: questiona-se se esta forma seria ampla ou restrita, o que equivale saber se interessa somente o ato final, ou todo o procedimento realizado até à feitura desse ato. Se apenas a parte final interessa, a forma é RESTRITA. Se interessar tudo o que foi feito até a exteriorização do ato, a forma é AMPLA. 145. Ao se observar o disposto no art.2o, parágrafo único, alínea “b”, da Lei no 4.71721, constata-se que, NO BRASIL, É ADOTADA A FORMA AMPLA, isto é, há uma preocupação 21Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: (...) b) vício de forma; (...) Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: (...) b) o vício de forma consiste na omissão ou da observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; 2. AMPLA OU IRRESTRITA LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 30 com todos os atos preparatórios, até o ato final, a exemplo do procedimento administrativo de licitação, cujos atos são: edital, habilitação, julgamento, homologação e adjudicação. 146. Quando se realiza um procedimento licitatório, o objetivo é atingir a adjudicação e, após, a sua materialização através do contrato administrativo. Então, quando analisarmos a adjudicação, não bastará analisar tão somente essa fase, mas sim todo o procedimento licitatório, já que um vício anterior comprometerá o ato final, que é a adjudicação. Esta é a forma ampla quanto à concepção do ato administrativo, a qual se descortina todos os atos que o integram. 147. Insta aduzir que, antes do edital licitatório, há a fase interna, e que só se poderá abrir licitação se houver dotação orçamentária. Se a Administração Pública realizar licitação sem previsão orçamentária, toda a licitação estará comprometida. 2.2.2.1.3 Silêncio Administrativo22 148. A doutrina discute se o silêncio da Administração Pública pode desencadear alguma consequência jurídica. Em regra, a inércia administrativa não tem importância para o Direito. Pode ocorrer, porém, de a lei atribuir-lhe algum significado específico, ligando efeitos jurídicos à omissão da Administração. 149. Segundo Helly Lopes Meirelles, “a omissão da Administração pode representar aprovação ou rejeição da pretensão do administrado, tudo dependendo do que dispuser a norma competente”. 150. Há situações em que a vontade da Administração Pública se expressa sem a necessidade da emissão de ato administrativo. 151. Se a lei estabelecer que o decurso de prazo sem manifestação da Administração implica aprovação da pretensão, o silêncio administrativo adquire o significado de aceitação tácita. Nessa hipótese, é desnecessária apresentação de motivação. 152. Em outros casos, a legislação pode determinar que a falta de manifestação no prazo estabelecido importe rejeição tácita do requerimento formulado. Nesse caso a Administração pode ser instada, inclusive judicialmente, a apresentar os motivos que conduziram à rejeição da pretensão do administrado (mas jamais exigir a aprovação via judicial). 153. Assim: 22Alexandre Mazza, Manual de Direito Administrativo, p. 178-179. Silêncio representando aprovação Decurso do prazo sem manifestação Aprovação (não precisa motivar) LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 31 154. É certo que o silêncio não é ato administrativo por ausência de exteriorização de comando prescritivo. Trata-se de simples fato administrativo porque o silêncio nada ordena. 155. Diferente é a situação quando a lei não atribuir significado ao silêncio administrativo. O art. 48, da Lei nº. 9.784/9923 determina que a Administração tem o dever de, explicitamente, emitir decisão sobre solicitações ou reclamações em matéria de sua competência. Em princípio, deve-se considerar que, enquanto pendente de decisão administrativa, a pretensão do particular permanece indeferida. 156. Se a lei estabelecer prazo para resposta, o silêncio administrativo, após transcurso do lapso temporal, caracteriza abuso de poder, ensejando a impetração de Mandado de Segurança, Habeas Data, Medida Cautelar, Mandado de Injunção ou Ação Ordinária, com fundamento na ilegalidade da omissão. 157. Entretanto, em não havendo prazo legal para resposta, admite-se também o uso das referidas medidas judiciais com base no dever de observância da duração razoável do processo administrativo (art. 5º, LXXVIII, da CRFB) 24. Para Celso Antônio Bandeira de Mello, na ausência de norma específica, deve-se considerar que a Administração tem o prazo de 30 (trinta) dias para decidir, prorrogáveis motivadamente por igual período. 158. Se a lei nada estabelecer sobre o silêncio administrativo, deve o interessado recorrer ao Judiciário a fim de satisfazer seu direito. Deve, também, apurar esses fatos e responsabilizar quem lhe tiver dado causa, pois o servidor que é negligente ou omisso não está exercendo corretamente suas funções, devendo sofrer punição, se comprovada sua inércia ou descaso, nos termos do art. 37, § 4o, da CRFB25. 23Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou reclamações, em matéria de sua competência. A Administração tem o dever de explicitamente emitir: decisão nos processos administrativos; decisão sobre solicitações em matéria de sua competência; decisão sobre reclamações em matéria de sua competência. No PAD (Processo Administrativo Disciplinar), a Administração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorrogação por igual período expressamente motivada. 24Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 25Art. 37. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) Silêncio representando rejeição Decurso do prazo sem manifestação Rejeição (pode-se exigir motivação) LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 32 159. Bastante controvertida é a questão da natureza da decisão judicial nas ações propostas contra o silêncio administrativo. Assim: a) Concepção clássica mandamental: o juiz ordena ao administrador que decida, sob pena de multa e outras consequências penais resultantes da desobediência à ordem judicial. Cabe também a propositura de posterior ação indenizatória para reparação de eventual dano decorrente da omissão administrativa ilegal. É a posição sustentada por José dos Santos Carvalho Filho. b) Concepção moderna constitutiva: no caso de o requerimento versar sobre a prática de ato vinculado, o juiz, se estiver convencido da procedência da pretensão, pode substituir a vontade da Administração acatando o pedido do administrado (natureza constitutiva ou condenatória para cumprimento de obrigação de fazer). Porém, se a decisão administrativa faltante tiver caráter discricionário, é vedado ao juiz, sob pena de invadir a independência do Poder Executivo, ingressar na análise do mérito administrativo, cabendo-lhe somente ordenar que a Administração decida (natureza mandamental). É a posição defendida por Celso Antônio Bandeira de Mello. 160. Nadaimpede que o particular, prejudicado pelo silêncio, antes de recorrer ao Poder Judiciário, exerça seu direito de petição, reclamando administrativamente a decisão ausente (art. 5º, XXXIV, da CRFB)26. 161. Quanto aos vícios: o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato (art. 2º, parágrafo único, “b”, da Lei nº. 4.717/6527). O DEFEITO NA FORMA TORNA ANULÁVEL O ATO ADMINISTRATIVO, SENDO POSSÍVEL SUA CONVALIDAÇÃO. § 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função Pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. 26Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; b) a obtenção de certidões em repartições Públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; 27Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: (...) b) vício de forma; (...) Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observar-se-ão as seguintes normas: (...) b) o vício de forma consiste na omissão ou da observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 33 162. Por fim, se a omissão administrativa contrariar enunciado de Súmula Vinculante, admite-se a propositura de reclamação constitucional perante o STF (art. 7º, Lei nº. 11.417/2006)28. 28Art. 7o Da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação. § 1o Contra omissão ou ato da Administração Pública, o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias administrativas. § 2o Ao julgar procedente a reclamação, o Supremo Tribunal Federal anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem aplicação da súmula, conforme o caso. ATENÇÃO! É incorreta a seguinte afirmação: a realização do ato administrativo por forma outra que não a escrita leva à sua inexistência. LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 34 MOTIVO 2.2.3 Motivo - 3º elemento do ato administrativo 163. É muito comum em provas e na doutrina encontrarmos motivo ou causa. Motivo é sinônimo de causa; é o que leva à edição do ato. Uma construção irregular, por exemplo, pode ensejar a edição de um ato (embargo), que é o motivo. 164. MOTIVO É A PRÓPRIA CAUSA DO ATO ADMINISTRATIVO, O QUE GERA ESSE ATO ADMINISTRATIVO. 165. Como distinguir a causa de fato, a situação de fato, da causa ou situação de direito? 166. A doutrina diz o seguinte: na situação de fato, o legislador não vai fechar as portas para o administrador. Na situação de fato, o legislador vai conferir uma liberdade para o administrador, para que ele, administrador, escolha, no caso, a causa melhor ou a causa mais adequada, ou a situação mais adequada para editar aquele ato. Assim, é exemplo de motivo de fato: a exoneração de um servidor em cargo comissionado – motivo discricionário. 167. Agora, quando o motivo for fixado em lei, que obriga o administrador a praticar um ato administrativo (vinculado) determinado, será ele motivo de direito. Exemplo: art. 184 da CRFB29. Outro exemplo: art. 40, § 1°, II, CRFB30 (motivo vinculado). 29Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º - As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º - O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º - Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. § 4º - O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. 30Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. § 1º Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata este artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores fixados na forma dos §§ 3º e 17: (...) II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição; “Motivo do ato é a situação de fato ou de direito, que acarreta a edição do ato administrativo. ” LIVRO VIII – ATOS ADMINISTRATIVOS – UNESA – 2016.1 Profº Francisco De Poli de Oliveira 35 168. Quando se fala, portanto, em SITUAÇÃO DE FATO OU MOTIVO DE FATO, está-se falando de uma liberdade que o administrador vai ter para escolher o melhor motivo para o ato. E esse motivo de fato vai ser um elemento discricionário. Por quê? Porque, se o motivo é de fato, o administrador vai ter liberdade de escolher, no caso concreto, a melhor situação, o melhor motivo para aquele ato. 169. Ao contrário da SITUAÇÃO DE DIREITO OU MOTIVO DE DIREITO. Se a situação é de direito ou o motivo é de direito, diz a doutrina que nesse caso o motivo já foi escolhido previamente pelo legislador. E mais: o legislador disse que se esse motivo existir no caso concreto, esse motivo já estiver previsto na lei, isso vai ensejar necessariamente a edição do ato. 170. Significa dizer, portanto, que o próprio legislador já define os motivos possíveis para o ato, e o próprio legislador já diz que, ocorrendo um daqueles motivos, o administrador tem que atuar, vai ter que editar o ato. Não vai ter outra saída. Então, nesse caso, o que você tem? Se o motivo é de direito, o elemento vai ser vinculado. 171. Então, o motivo poder
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