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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA DO SUL BACHARELADO EM PSICOLOGIA DISCIPLINA DE PSICOLOGIA DA INFÂNCIA Prof. João Fernando de Morais Trois Aluna: Vanessa Branco Cardoso Resenha de COHN, Clarisse – Antropologia da Criança. Rio de Janeiro, 2005. Ed. Zahar. 2ª Edição. Há varias teorias sobre o que é ser a criança. A maioria tem a noção de que se trata de um ser passível de domesticação. Cria-se uma cisão muito bem definida entre o mundo da criança e o mundo do adulto. Essas imagens pré-concebidas do que seria uma criança não consideram o seu ponto de vista. Tratarei nessa resenha as concepções diversas do que é ser criança, desde a concepção de ser um adulto em miniatura, a invenção da infância e os estudos da nova antropologia da criança. Segundo a antropologia moderna, não podemos falar de criança sem contextualiza-la na historia, na cultura e na sociedade em que está inserida. Estudos pioneiros em antropologia, realizados em especial por pesquisadores americanos utilizavam-se da teoria culturalista para explicar o que significa ser criança nas diferentes realidades culturais. Procuravam diferenciar os conceitos de do que é cultural (e, portanto adquirido) do que é natural (inato). A pesquisadora Margareth Mead, através da técnica de observação participante, concluiu que a rebeldia juvenil que ocorria nos Estados Unidos não acontecia em Samoa, dando como motivo o a cultura homogênea e menos conflituosa na escolhas. Essa corrente antropológica defende que o interesse sobre a criança é na formação da personalidade ideal do adulto, e que somente este era um sujeito ativo na cultura. A criança estava lá para ser condicionada. A primeira infância servia para: “disciplinar os comportamentos definidores de padrões culturais, como determinantes da formação da personalidade ideal, adulta, de suas sociedades” (COHEN, 2005, p. 9). Nesse contexto, a cultura é transmitida, e sendo assim deve servir de base para a formação de personalidades esperadas para aquele contexto. Há uma supervalorização do individuo adulto. A escola estruturalista-funcional se contrapõe as ideias americanas, não se ocupando da formação de personalidade, mas sim do entendimento da “prática e processos de socialização de indivíduos) (COHEN, 2005, p. 9-10). Ou seja, dos papeis e relações sociais assumidos pelos indivíduos na sociedade. As crianças não possuem papel ativo nesse processo e são vistas como receptores de papeis sociais conforme as ocasiões. A antropóloga Barbara Ward em seus estudos em Hong Kong observou que o choro por birra da criança era esvaziado, não chamando a atenção ou sugerindo cuidados, pois nesse contexto cultural a agressividade e falta de controle são vistos com maus olhos. Apesar de não ser um conformador de personalidade, atuava como um determinante para o papel social da criança. No Brasil também passamos por estudos dessas duas correntes antropológicas, com maior ênfase para o culturalismo. Egon Schaden e Florestan Fernandes observaram que havia a perseguição dessa personalidade ideal, através da repetição, da homogeneização cultural e a certeza do papel social das crianças como seres imaturos. Forte tendência a reprodução e transmissão cultural. Pensou-se uma nova antropologia da criança, somente a partir da década de 60. Passou a pensar que as crianças possuem um sistema simbólico próprio no entendimento da cultura e de suas relações sociais. Ela é um ator social dando sentido das suas experiências. Conforme Clarisse Cohen, viver em sociedade é compartilhar sentidos, não como uma totalidade, mas como constante produção destes. Os indivíduos produzem constantemente a sociedade, não são meros receptores de papeis sociais. Nessa época foi realizada uma revisão dos conceitos antropológicos e foi possível pensar-se em uma concepção diferente do que é ser criança. A criança não seria mais vista como um ser incompleto, que precisa ser treinado para a vida adulta, adquirindo competências e formando a personalidade ideal. Ela tem papel ativo, são seres sociais plenos, sujeitos legítimos, produtores de cultura. Precisamos pensar em no conceito de infância, como um modo particular de pensar a criança de acordo com o contexto social que esta inserida. Segundo Philippe Ariès, a infância como entendemos hoje é uma concepção social e historia ocidental elaborada na Europa com a reformulação da família, maternidade, paternidade e com a institucionalização do ensino através da escola. A criação do “sentimento de infância" (AIRES apud COHEN, 2005, p. 14) terá a ver com a cisão entre o que é ser criança e o que é ser adulto na sociedade. Atualmente a infância é entendida em conjunto com a concepção do que é ser pessoa a sua concepção em cada contexto cultural. A autora, fala sobre seus estudos com os Xikrin e a sua concepção de criança. A formação da pessoa começa na gestação, mas não como um momento único, mas sim como um processo continuo de relações sexuais com um ou mais parceiros. O bebe não é formado apenas por aqueles que contribuem com a concepção do seu corpo, mas também com aqueles que zelam por sua karon (alma). Após seu nascimento nomes são dados ao seu corpo e sua karon por pessoas que não seus parentes, formando novos laços sociais. Se a criança falece antes de receber esse nome, não possui os mesmos rituais que os adultos, e já o recebeu sim. Os Xikrin acreditam que a criança não deve se aborrecer, pois seu corpo ainda é vulnerável e não tem condições adequadas para manter sua karon. Todos cuidam para que ela não se aborreça. Um xikrin só deixa de ser criança quando tem as suas próprias crianças, tornando-se um adulto, e só entra na velhice quando tem netos. Esse é um exemplo que criança atuante, não um adulto em miniatura como nas concepções anteriores. No caso dos Xikrin, elas não apenas aprendem relações sociais, mas a configuram. A família xikrin não é formada apenas por pais e mães, e sim por seus irmãos que também serão chamados assim, bem como todos seus primos e irmãos serão tratados como irmãos. Alguns terão mais importância na vida da criança, então não é apenas as relações dadas pelos laços familiares que determinará a configuração, mas sim as relações. Outro caso citado, são os meninos de rua de São Paulo que mantém uma relação fraterna entre si, possui papel ativo na construção desses laços sociais e na própria elaboração da própria identidade e da do grupo. Precisamos pensar como a criança elabora sentidos para o mundo em que vive. E pensar que em relação aos adultos “ela não sabe menos, sabe outra coisa” (COHEN, 2005, p. 20). Elas possuem um sistema simbólico próprio, não apenas produzidas pela cultura, mas sim a produzem. Um bom exemplo disso são as brincadeiras, que são aprendidas entre elas. São evidencias de que existe uma “cultura infantil”, não no sentido de universalização ou de cisão com a “cultura adulta”, mas no sentido de autonomia na produção de sentidos, apesar de compartilhar símbolos com os adultos. A concepção de criança contemporânea ira diversificar as experiências de ensino e aprendizagem. Concepções mais formais ou informais, orais ou escritas, que estimulem a reprodução ou a criatividade produzirão crianças diferentes, em contextos socioculturais diferentes. É preciso pensar o que fazem e o que pensam essas crianças e suas relações com os atores da educação. Da mesma maneira que precisamos problematizar a respeito dos diagnósticos e tratamento das doenças da infância, e aqui coloco uma situação dos transtornos que são identificados na escola por profissionais de ensino. É necessário pensar sobre que concepção de infância, de criança, de corpo, de corporalidade, de relações e comportamentos de tem nessas escolas e também na sua concepção de família. Concluo que varias concepções modalizadoras de infância ainda permeiam nosso cotidiano, em especial a pratica escolar, onde se fomenta a idéia de formação de um cidadão ideal. Muitos professores e assistentes se sentem habilitados a produzirem diagnósticos para as crianças a fim de queessa visão seja levada adiante. A visão da criança como sujeito pleno e atuante, que se expressa através de um conjunto de símbolos próprio e que produz cultura através de suas brincadeiras ainda é desvalorizado na relação de aprendizagem.