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Apostila COMPLETA de Nutrição

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FESO
Medicina Veterinária
Nutrição Animal
Giselle Keller El Kareh de Souza
(2005)
Índice
Introdução										pág. 03
Alimentos: nutrientes e absorção						pág. 03
Digestão no ruminante								pág. 08
Observações sobre produção animal						pág. 10
Estudo da água									pág. 12
Estudo da energia									pág. 17
Fisiologia digestiva comparada							pág. 21
Metabolismo dos carboidratos							pág. 27
Compostos nitrogenados								pág. 32
Teste das substâncias								pág. 35
Metabolismo de proteínas								pág. 42
Metabolismo de lipídios								pág. 47
Nutrientes: vitaminas								pág. 49
Alimentação animal								pág. 52
Alimentos										pág. 55
Questionário									pág. 62
Introdução
Nutrição é a ciência que estuda os alimentos e a forma que eles atuam no organismo.
Atualmente a nutrição tem alcançado cada vez maior importância na produção animal, juntamente com o melhoramento genético e manejo adequado. Enquanto a genética confere ao indivíduo seu potencial de desempenho, é a nutrição adequada que fará com que o animal atinja esse potencial.
Cada espécie possui necessidades nutritivas específicas, de acordo com sua raça, função, idade, época do ano e com o meio ambiente em que vive. Para desenvolver uma nutrição adequada ao animal, todas estas características e detalhes devem ser analisados. Também se deve levar em conta a condição econômica do proprietário e facilidade em se obter a matéria-prima para produzir a ração diária dos animais (disponibilidade e logística).
Portanto, a alimentação diária dos animais deve traduzir as necessidades nutritivas teóricas em necessidades alimentares reais, levando em conta todos os detalhes acima citados.
Alimentos: Nutrientes e Absorção
Absorção e energia
A energia ingerida (bruta) é todo o alimento ingerido. Retira-se a energia fecal, que é composta pelos alimentos não absorvidos e pelos metabólitos eliminados. Ficamos com a energia digestível aparente. Desta, perdemos a energia dos gases (principalmente em ruminantes, que fazem muita fermentação) e a energia da urina (aumentada com a ingestão de muita proteína, que libera nitrogênio - que é eliminado pela urina). A energia da urina se divide em endógena (metabólitos) e a de alimentos (derivada da energia bruta). Com isso chegamos a energia metabolizada aparente, que é a importante, pois é a que será aproveitada pelo animal. Incluindo a energia da urina endógena e a energia fecal metabolizada, chegamos a energia metabolizada verdadeira, pois não foi produzida pela ingestão do alimento. Associa-se a esta EMV o incremento calórico, calor de fermentação, calor de digestão e absorção, calor de formação do produto, calor de formação e excreção de fezes, chegamos a energia líquida, que se divide em de mantença e para produção. A energia líquida de mantença é usada em: metabolismo basal, calor de atividade, calor de regulação térmica, energia metabólica fecal e energia metabólica urinária. A energia líquida de produção é usada em: crescimento, acréscimo de gordura, armazenamento de carboidratos, produção de ovos, produção de sêmem.
O incremento calórico (IC) é produzido pelo animal durante a fermentação (trato gastrintestinal), processamento e uso dos nutrientes pelo organismo. A variação no IC é alta, pois é afetado por diversos fatores (consumo, estado fisiológico e composição da dieta).
O calor (IC) pode vir por mastigação, processamento, digestão, ingestão, absorção, formação e excreção de uréia, transformação de nutrientes, etc.
A gordura é o alimento que menos produz IC. A proteína é a que mais produz. Por isso que, em monogástricos, acrescenta-se óleo a ração (no calor), para adensá-la. Faz com que o animal coma mais sem que aumente seu IC. Como no inverno é necessário aumentar o IC (ajuda a manter a homeotermia), acrescenta-se fibras a dieta, pois o monogástrico não digere fibras, o que produz alto IC.
Obs: Gaiola metabólica: para testar o aproveitamento de um alimento, alimenta-se um animal com este produto por 10 dias, mantendo-o em observação para que não coma nada além deste alimento em questão. Os 5 primeiros dias são apenas de observação, mas nos demais 5 dias testa-se a digestibilidade, analisando as perdas pela urina e fezes. O restante é o que foi absorvido pelo animal.
Nutrientes do alimento
O alimento se divide em água e matéria seca (MS), esta se dividindo em matéria orgânica (MO) e mineral (MM).
Para avaliar o alimento, coloca-o em uma estufa a 105ºC por 48h (alimentos verdes a 68ºC – pois possuem maior teor de água). Após a perda da água, o que resta é matéria seca. MS é avaliada sendo incinerada. Com a incineração a matéria orgânica é destruída restando as cinzas, que são a matéria mineral.
Obs: queimadas para produzir pasto são ruins, pois eliminam a MO do solo.
Em MO encontramos PB (proteína bruta); EE (estrato etéreo – estraído do éter – que são as gorduras, lipídeos); FB (fibra bruta) e ENN (estrativos não nitrogenados – carboidratos).
Para calcular EE, ferve-se MS em éter, leva-se novamente a estufa e pesa-se. A perda é a gordura.
A FB encontrada nos vegetais está localizada na parede celular. As fibras são (principalmente) celulose, hemicelulose, lignina, sílica e pectinas (que unem uma célula vegetal a outra). A pectina é extremamente digestível e muito importante para proteção do epitélio gastrintestinal. Formam ácidos graxos voláteis (AGVs). As células do epitélio gastrintestinal se renovam a cada 24h e os AGVs fornecem energia para essa renovação. Cenoura e beterraba são ricas em pectina.
Para calcular a fibra bruta, ferve-se o alimento em detergente neutro. O detergente rompe a parede celular vegetal e o conteúdo celular é destruído, restando FDN (fibra e detergente neutro). Diminui-se o detergente que foi administrado e temos a quantidade de fibras.
Obs: Conteúdo celular vegetal: proteínas, vitaminas, minerais, gorduras. Estes elementos dependem dos nutrientes encontrados no solo. Quanto mais verde escuro o capim, mais rico em nutrientes.
ENN são os açúcares do alimento. É obtido por diferença através do cálculo do Método de Weende: ENN = 100 – (PB + EE + FB). Este é o método usado para monogástricos. Há também o Método de Van Soest, para ruminantes, pois este método fraciona a FB, o que é importante para estes animais, já que são capazes de utilizar celulose. Quanto mais rico em celulose, melhor para o ruminante. A celulose é um conjunto de moléculas de glicose unidas por ligações β. Amidos são glicoses unidas por ligações α. Os monogástricos não são capazes de quebrar as ligações beta, só os ruminantes são (estas ligações são quebradas pela celulase, enzima produzida pelas bactérias do rumem – as ligações alfa são quebradas pela α-amilase). A glicose é um carboidrato e a celulose é um polímero de glicose.
A celulose sendo quebrada pela celulase libera glicose, que por sua vez libera AGVs (principalmente ácido acético, ácido propiônico e ácido butírico, que são importantes fontes de energia para o ruminante). Os eqüinos também degradam a celulose (no cólon - ceco), sendo capazes de aproveitar os AGVs.
Obs: todos os nutrientes possuem C, H e O, mas apenas a proteína possui N. Em média toda proteína tem 16% de N. Alguns compostos (nitratos, nitritos, amônia) também possuem nitrogênio, portanto nem todo nitrogênio é proveniente de proteína.
Obs: Uréia no rumem: as bactérias ruminais quebram a molécula de uréia, usando o nitrogênio para produzir proteínas (para si mesmas), se multiplicando. O ruminante se alimenta destas proteínas com a morte das bactérias. Essa é uma importante fonte de proteína na alimentação dos ruminantes.
A lignina é 100% indigerível. Sua função é fornecer rigidez a planta (é seu esqueleto), sendo depositada na parede celular. Quanto mais velho o capim, mais rico em lignina.
Quando o capim é rico em lignina o animal leva muito tempo digerindo,dando sensação de saciedade ao animal, mas é pobre em nutrientes, levando a carência alimentar. Capim velho leva até 72h sendo digerido, fazendo com que o animal se alimente menos. O ideal é que o capim seja digerido em até 48h.
Obs: entre o retículo e o omaso existe o orifício retículo omasal, por onde passam apenas partículas de 1 a 2mm. As partículas são quebradas pelas bactérias e pela ruminação.
Obs: a pele que envolve a cana é de difícil digestão. O ideal para aumentar a digestibilidade da cana seria remover essa pele, o que levaria a um aumento da mão de obra – acaba sendo inviável. A cana é rica em energia e por isso geralmente é usada juntamente com a uréia, em bovinos, pois as bactérias ruminais precisam de energia para usar a uréia e produzir proteína. A uréia degrada em 20 minutos no rumem, por isso necessita ser administrada junto com um alimento energético de degradação de igual rapidez para ser aproveitada. Outro alimento muito utilizado com essa finalidade é o melaço.
Os alimentos são compostos basicamente por aminoácidos, vitaminas, minerais, ácidos graxos, glicídios e fibras. Estes nutrientes devem ser administrados em proporções adequadas as necessidades do animal. Deve-se preocupar também com a possível presença de substâncias nocivas ao animal.
Algumas substâncias são alimentos para determinadas espécies, mas não para outras. Da mesma forma, algumas são tóxicas para uns e para outros não. Por exemplo, no Brasil a armazenagem do amendoim é muito ruim, desenvolvendo fungos que produzem aflatoxina (liberada pelo Aspergillus flavus). Os bovinos não são intoxicados por essa toxina, pois as bactérias do rumem a eliminam, mas os animais monogástricos sim. Outro exemplo é a soja. Soja crua possui o fator anti-tripsina, que não permite que a tripsina (enzima) atue nas proteínas (em monogástricos – no ruminante não), levando a hipoproteinemia e doenças relacionadas a falta de proteína (carência alimentar).
Grande parte dos alimentos utilizados na ração animal é proveniente da produção agrícola (milho, soja, aveia), mas muitos também são subprodutos (farinha de carne, de sangue) e produtos sintetizados (aminoácidos, vitaminas, minerais).
Ao administrar os alimentos aos animais, deve-se levar em conta dois aspectos importantes, que são a digestibilidade e a palatabilidade. De nada adianta um alimento conter alta proteína, se o animal não consegue digerir essa proteína adequadamente. Da mesma forma, se o alimento não for palatável, o animal não irá consumir a quantidade diária necessária, ou mesmo poderá refugar o alimento.
Obs: a digestibilidade da farinha de sangue é bem mais baixa que a de carne.
Outro aspecto importante é que não existe alimento natural completo por si só. É necessária a associação de vários alimentos em uma ração para torná-la completa as necessidades diárias do animal.
Classificação dos alimentos
Os alimentos são classificados em volumosos e concentrados.
Volumosos: são os alimentos com mais de 18% de fibra bruta. Ex: pastos, fenos, cascas, silagem (capim ou cana fermentados – tritura-se e armazena-se em silos; sofrem fermentação bacteriana neste período).
Concentrados: alimentos com menos de 18% de fibras. Se subdividem em:
Protéicos – alimentos com mais de 18% de proteína bruta. Ex: soja, amendoim, girassol, algodão, farinha de carne, de peixe, de vísceras, de penas, de sangue.
Energéticos – alimentos com menos de 18% de PB. Ex: milho, sorgo, arroz, aveia, cevada (que é tanto protéica quanto energética).
Obs: farinha de penas: deve sofrer hidrólise para aumentar a digestibilidade.
Obs: Coeficiente de digestibilidade: é mais importante que o teor de proteína ou de energia do alimento.
Importante: Deve-se adequar a ração a categoria animal (idade), pois cada categoria animal possui necessidades diferentes.
Obs: em torno de 70% do custo de uma propriedade corresponde a ração.
Digestão no Ruminante
O rumem é um ecossistema, onde vivem várias bactérias, fungos e protozoários. As bactérias que vão morrendo também sofrem digestão servindo como importante fonte de proteínas para os ruminantes.
Quando os alimentos chegam ao rumem, são metabolizados pela flora ruminal. As bactérias se aderem à partícula de alimento através de uma substância que ela mesma secreta. Depois de aderida, a bactéria libera enzimas que irão digerir aquele alimento.
O rumem é cheio de papilas ruminais, mas nele só são absorvidos água, ácidos graxos e sódio. Todo carboidrato ingerido se transforma em AGVs no rumem, sendo absorvido pelas papilas. Essas papilas são irrigadas, então o que é absorvido segue direto para o sangue.
Obs: 70% da glicose do ruminante vêm através do ácido propiônico. Para produção é interessante aumentar a produção de ácido propiônico no rumem.
Carboidratos solúveis
	As bactérias são muito sensíveis à alteração de pH. A saliva do ruminante tem a função de tamponar o pH ruminal (contem bicarbonato). A alimentação do ruminante deve ser equilibrada para não desequilibrar o ecossistema ruminal.
Uma alimentação mais gordurosa mata os protozoários do rumem.
Mudanças na alimentação devem ser feitas de forma lenta para que a flora microbiana se adapte.
Os fungos são encontrados em rumem de animais que comem capim velho e silagem mal feita (mofada). O pH alto (alcalino) favorece a multiplicação destes microrganismos. Com o excesso de mastigação, por conta das fibras presentes no capim velho, uma quantidade grande de bicarbonato chega ao rumem, alcalinizando o pH.
No rumem também encontramos bactérias metanogênicas. O ruminante perde 8% de energia na produção de metanos por estas bactérias. Quanto melhor a qualidade de alimento dos animais, menos metano eles irão produzir. Se aumentar a gordura na alimentação, os protozoários irão morrer e junto com eles morrem as bactérias metanogênicas (pois ficam aderidas a ele).
O ruminante pode ingerir até 8% da sua alimentação com gordura, que pode ser sebo bovino, grão de soja, amendoim, etc. Para o ruminante, as gorduras saturadas são mais indicadas do que a gordura animal. A gordura insaturada é tóxica para as bactérias.
Classificação dos ruminantes
Os ruminantes são classificados em seletivos, não-seletivos e intermediários.
 Seletivos: Girafa, camelo, alce e alguns cervídeos (se alimentam de flores, vagens e brotos - são alimentos muito digeríveis).
 Não-seletivos: Bovinos, bubalinos (se alimentam de capins, fenos e silagens).
 Intermediários: A maioria dos cervídeos, a cabra, a ovelha	.
Os seletivos têm o rumem e o omaso menores. 
Os não-seletivos têm esses compartimentos bem maiores. 
Os intermediários têm o rumem bem adaptáveis. (na época em que estão se alimentando de forma seletiva, o rumem está menor. Em períodos de não-seletividade ficam maiores).
O seletivo tem a glândula salivar maior do que a do não-seletivo. A população microbiana do seletivo tem muito mais bactérias amilolíticas do que celulíticas, porque produzem muitos AGVs e mais rápido, por isso precisam produzir mais saliva para tamponar o pH ruminal.
Os seletivos também têm o fígado maior, pois eles comem muitas flores e as flores são cheias de toxinas (e o fígado é detoxificante).
O Omaso regula a taxa de passagem. No seletivo o omaso é menor e com menor número de folhas omasais. O orifício retículo-omasal e o omaso-abomasal são maiores, permitindo a passagem de partículas de maior diâmetro.
Quanto mais seletivo for o ruminante, menor será o omaso. O camelo não tem omaso, porque é extremamente seletivo.
Nos não-seletivos a taxa de passagem é mais lenta.
O formato da cabeça dos seletivos é piramidal e a língua e os lábios são mais móveis.
Observações sobre produção animal
A avicultura e a pecuária são os grandes filões do agronegócio, que fazem a balança comercial fechar o ano com superávit. Para um frango de 2kg ao abate, gasta-se 4kg. Além da avicultura e da pecuária, outro grande filão do agronegócio é a suinocultura.
A vaca ciclao ano inteiro, podendo ser coberta em qualquer época, com possibilidade de parição em qualquer mês do ano, facilitando a criação. Cabras e ovelhas não possuem essa característica.
Para inseminar também é muito mais fácil nos bovinos, pois o braço esquerdo do técnico funciona como cabo guia no reto da vaca, chegando a cérvix. Com isso a inseminação em vacas é extremamente desenvolvida, dando 98% de aproveitamento. Essa facilidade anatômica faz dos bovinos um melhor negócio que a criação de cabras ou ovelhas.
Uma fêmea que não prenha na primeira nem na segunda tentativas é passível de descarte – trazem prejuízo (uma vaca 21 dias vazia já é prejuízo, pois está comendo sem produzir). Não compensa gastar com veterinário e ultra-som com uma vaca problema – além do prejuízo com o custo médico, ela pode passar essa má qualidade a sua prole.
Existem 5 vertentes na produção animal (manejo): nutrição, genética, reprodução, sanidade, instalações. Se todas estiverem funcionando a contento, não há como cair a produção. Se há algum problema na produção, é em alguma destas vertentes. Deve-se procurar sempre observar a propriedade “de cima”, como um todo, analisando cada um destes itens.
Pode-se procurar auxílio profissional na EMATER, pois possui bons técnicos. Mas a maioria dos serviços de extensão rural não é eficaz.
O boi orgânico é muito difícil de se produzir, pois se adubar o capim apenas com esterco não se consegue bons resultados. É necessário calcário calcítico, nitrogênio, ou seja, produtos químicos.
Em propriedades de pecuária de corte (Nelore) com bom aproveitamento, abate-se o boi de 18 meses com 450kg. Mas a carne vendida no mercado interno brasileiro é de má qualidade. Geralmente provêm de animais mais velhos, com carne mais dura e mais depósito de gordura.
Obs: a carne de caprinos é a mais magra e a de ovelhas a mais gorda.
O Nelore é o animal de produção ideal para nosso clima: couro preto, pêlos brancos, extensa área de superfície (troca de calor com o ambiente).
Os cascos dos animais também devem ser pretos, pois são mais resistentes. Defeitos ou problemas de aprumos fazem com que o animal tenha dificuldade de andar para procurar alimentos e também causa problemas na cópula (na fêmea para suportar o peso do macho, e no macho para montar a fêmea).
Ovelhas européias são poliéstricas de dias curtos: para o Brasil são ruins, pois passam por períodos sem ciclar. Ovelhas Santa Inês (produto de cruzamento industrial no Brasil) são as ideais.
O Rio de Janeiro incentiva a piscicultura e a caprinocultura pelo perfil do estado.
Obs: em abatedouros, antes de sacrificar os animais, deve-se molhá-los com água fria (aspersão) para causar vasoconstrição periférica e com isso melhorar a qualidade do couro, que fica sem sangue algum.
Obs: O eixo central (cumeeira) da construção (seja ela qual for) deve estar no sentido leste-oeste. A luz solar é mais bem aproveitada sem ter radiação solar excessiva nos animais, facilitando a termorregulação. Em climas temperados deve ser no sentido norte-sul.
Estudo da Água
O Brasil possui 80% de seu território em zona de clima tropical. Uma criação no Brasil deve visar animais adaptados a este clima.
Água
A água corresponde a mais 50% da composição do corpo animal, participa nos produtos que os animais fornecem (ex: leite). Alguns tecidos apresentam de 70 a 90% de água. A água é um nutriente essencial por natureza.
	Concentração de água nos tecidos
	Sangue
	90 a 92%
	Músculo
	72 a 78%
	Ossos
	45%
	Esmalte dos dentes
	5%
Funções vitais da água:
Ativa: Funciona como solvente (tem baixa viscosidade), substrato, transporte (aminoácidos, glicose, vitaminas hidrossolúveis, íons, produtos do metabolismo), termorregulação (calor específico alto), excretora, processo da visão (constituinte do meio transparente dos olhos), transporte de som (constituinte dos líquidos do ouvido interno), lubrificação (liquido sinovial), proteção mecânica (centros nervosos, olhos, feto).
Estrutural: faz parte de todas as células, sendo o principal nutriente quantitativo do organismo.
Obs: 	Bebedouro: deve ser sempre em local alto, com água corrente.
Comedouro: deve ser arredondado para evitar acúmulo de alimento nos cantos (fermenta e pode dar cólica em eqüinos).
Composição do corpo animal (%):
	Espécie
	Água
	Proteína
	Gordura
	Minerais
	Novilho
	54
	15
	26
	4,6
	Suíno
	58
	15
	24
	2,8
	Ovelha
	60
	16
	20
	3,4
	Galinha
	56
	21
	19
	3,2
	Égua
	60
	17
	17
	4,5
	Homem
	58
	18
	18
	4,3
	Valores gerais
	75
	20
	variável
	5,0
Matéria mineral: depende do tamanho relativo do esqueleto.
Gordura: depende do nível de ingestão de alimento. A porcentagem de gordura corporal aumenta com a idade. Também sofre influência da condição nutricional e do aspecto individual. Rações ricas em energia levam a maior depósito de gordura.
	Bovinos
	Idade
	Hidroconteúdo
	Feto
	95%
	Ao nascer
	75 a 80%
	5 meses
	66 a 72%
	Adulto
	50 a 60%
Novilho magro: 57% de água e 18% de gordura.
Novilho gordo: 42% de água e 41% de gordura.
O corpo pode perder praticamente toda a gordura, mais da metade da proteína, mas se perder 10% de água morre.
“O calor produzido em um esforço muscular máximo e continuado por 20 minutos é tão intenso que, se não for imediatamente dissipado, faz com que as substâncias albuminosas do corpo tornem-se rijas como um ovo cozido”.
Uma ração básica pode ser feita com 75% de milho e 25% de soja. Em rações ricas em energia, o excesso vira depósito de gordura, enquanto rações ricas em proteína levam a formação de compostos nitrogenados (uréia ou ácido úrico) que são tóxicos ao organismo, levando o animal a direcionar energia para eliminar estes compostos, resultando em queda na produção.
Fontes de água
As três fontes de água do organismo são:
Água de beber.
Água dos alimentos.
Água metabólica: produto do metabolismo dos nutrientes:
Metabolismo da glicose: rende 60% de seu peso em água (carboidratos 45g/100g).
Metabolismo da proteína: rende 42% de seu peso em água (56g/100g).
Metabolismo da gordura: rende acima de 100% (119g/100g).
Animais hibernadores: metabolizam suas reservas de carboidratos e gorduras transformando-os em energia para seus processos vitais, e esse metabolismo produz água bastante para compensar a perda na respiração e evaporação.
Em uma anamnese de uma propriedade, a primeira coisa a se analisar é a qualidade da água. Em 90% do país não há tratamento de água nem esgoto sanitário. Se achar necessário, enviar a água para ser analisada na FEEMA.
A necessidade de água corresponde à composição do corpo (quantidade de água que o compõe) e a sua participação nos produtos finais do organismo:
Crescimento: 75% do tecido formado durante o crescimento é composto de água.
Adulto: a água é usada proporcionalmente para produção de leite, ovos, lã, carne, de acordo com a necessidade e disponibilidade.
A água ingerida (ou produzida) é usada para: compensação das excreções + formação de tecidos e produtos.
Excreções de água
Intestino.
Rins.
Pulmões.
Pele.
Perdas de água pelo intestino:
As perdas de água são variáveis de acordo com a natureza da dieta, aumentando a perda com:
Alta ingestão de fibras.
Alta porcentagem de material ingerido.
Ingestão de alimentos laxantes.
Para um animal perder peso, o ideal é alimentá-lo com fibras.
Existem diferenças na absorção de água entre as espécies. Por exemplo, os ovinos absorvem mais água que bovinos. Com a ingestão de uma mesma ração, os ovinos têm fezes mais sólidas, revelando menor perda de água que os bovinos, que tem fezes mais aquosas.
Em condições normais, esta perda de água nas fezes é insignificante. Mas em caso de diarréia, a perda de água é alta e pode levar a desidratação.
Perdas de água pelos rins:
Os rins regulam o volume e a composição dos fluidos orgânicos. O aumento de minerais e proteínasna dieta leva a maior perda de água e diminuição na produção de água metabólica, o que aumenta a necessidade de ingestão de água.
Em mamíferos, o principal produto final do metabolismo da proteína é a uréia. A uréia é solúvel em água, é tóxica para os tecidos em solução concentrada e precisa de muita água para conservá-la em concentração baixa, removê-la dos tecidos e eliminá-la do organismo.
Em aves, o principal produto final do metabolismo da proteína é o ácido úrico, que é excretado em forma quase sólida, com ínfima perda de água.
Sob as mesmas condições, as aves requerem menos água que os mamíferos e são menos sensíveis a sua falta temporária.
Mamíferos com alimentação rica em proteína e falta de água leva ao acúmulo de produtos tóxicos no organismo, culminando na morte do animal. Já aves, ofídios e insetos sobrevivem muito mais nestas condições.
Perdas de água pelos pulmões:
Através da respiração o animal dissipa calor (principalmente o cão), pois o ar expirado é saturado em água (mesmo para um animal em repouso e à sombra). Com o aumento da atividade física, aumenta a perda de água.
Perdas de água pela pele:
Através da transpiração (evaporação de água) o animal também dissipa calor, auxiliando a termorregulação. Com aumento da atividade muscular ou da temperatura ambiente, aumenta a perda de água.
A maioria dos animais possui poucas glândulas sudoríparas, ou nenhuma (suínos, aves). Os bovinos possuem muito mais glândulas sudoríparas por cm³ que os búfalos (que acabam tendo maiores problemas com sua termorregulação). Resolvido o problema de termorregulação dos búfalos, eles serão muito mais produtivos que os bovinos.
Os suínos, por não terem glândulas sudoríparas, à partir de 22ºC têm problema de termorregulação.
As cabras conseguem ficar até 4 dias sem ingerir água.
A lã facilita a termorregulação, pois funciona como isolante térmico, mas perde a qualidade (da lã) em função da umidade.
O camelo tem capacidade de realizar longas jornadas com pouca água, porque nutre-se normalmente de alimentos ricos em carboidratos, produzindo pouca uréia para ser eliminada. Além disso, depende para suas necessidades energéticas apenas da gordura acumulada em sua giba, e o metabolismo desta gordura gera uma quantidade máxima de água metabólica. A evaporação de sua pele é reduzida por uma grossa camada de lã. Suas fezes são sólidas, o que diminui a perda de água. Todas estas características o fazem um animal extremamente resistente.
Fornecimento de água
Deve ser fornecida através da água de beber (de boa qualidade, na temperatura ambiente e corrente) e em alimentos suculentos. Animais jovens têm maior necessidade de água por unidade de peso.
Com menor ingestão de alimentos sólidos, diminui a necessidade de ingestão de água.
Pode-se umedecer a ração para alguns animais:
Bovinos: não faz diferença molhar a ração.
Suínos: evita desperdícios, evita renite.
Eqüinos: evita transtornos respiratórios (podem inalar a poeira de rações fareladas).
Se houver restrição de água, o efeito imediato é a diminuição do consumo de alimentos. Com isso há queda no crescimento do animal e queda na conversão alimentar.
A água deve ser oferecida à vontade, ser limpa (de procedência conhecida, renovada e em bebedouros limpos) e o animal deve ter livre acesso a ela.
“Não existe nenhum efeito nocivo do consumo excessivo de água, exceto em condições patológicas”. (principalmente deficiência renal).
Estudo da Energia
Energia é a capacidade de produzir trabalho.
É a energia que mantêm o organismo (mantença e produtividade), pois apenas proteína leva a deficiência de glicose (hipoglicemia) e, a partir de certo ponto, a gliconeogênese deixa de ser suficiente para suprir a necessidade de energia do organismo.
A toxemia da prenhez acontece porque é no terço final da gestação que ocorre 85% do crescimento do feto, levando a compressão do aparelho digestivo da mãe, levando-a a absorver menos nutrientes. Além disso, o feto retira glicose da mãe, independente de ela estar ingerindo ou não. O aporte do feto é mais importante que o da mãe. Tendo aporte menor e com o feto crescendo, aumenta a necessidade da mãe. Por isso as fêmeas gestantes necessitam de uma dieta diferenciada neste período, sendo rica em energia (glicose). Caso não ingiram alimentação adequada, podem entrar em toxemia pela falta de glicose e excesso de compostos nitrogenados (produzidos pela gliconeogênese sobre a proteína). Com a formação destes compostos, aumenta ainda mais a necessidade de energia para poder eliminá-los do organismo e também a necessidade de água.
O valor energético de um alimento é medido em calorias e determinado por calorímetro ou bomba calorimétrica (é o aparelho que mede o teor de energia do alimento).
Relação encontrada na rotina:
Cal = caloria
Kcal = 1.000 cal
Mcal = 1.000 Kcal = 1 termia (essa relação não é muito usada na rotina).
Cal = quantidade de calor necessária para aumentar de 1ºC, a temperatura de 1 grama de água.
O animal precisa de energia para o metabolismo basal, manutenção e produção. Só consegue produzir se ingerir acima da quantidade diária necessária para sua mantença (o que restar após saciadas as necessidades de mantença será destinado a produção).
As necessidades de energia relativas ao metabolismo e a manutenção, por unidade de peso vivo, são proporcionais a superfície relativa do corpo do animal. Assim, um indivíduo pequeno, em confronto com outro maior, por unidade de peso, para manutenção, apresenta necessidades relativamente maiores.
As necessidades de produção independem do tamanho animal, mas dependem de sua superfície corporal, da natureza e volume de sua produção, assim como do aproveitamento dos nutrientes digeridos.
Obs: Digestibilidade: É o que realmente importa na dieta. Por exemplo, o leite de cabra é mais digestível que o de vaca, por isso é mais indicado para crianças e idosos (pois aproveitam mais proteínas), já que necessitam de maior aporte nutricional.
Obs: Brevilíneos – taurinos (europeus); Longilíneos – zebuínos.
Obs: Laboratório de bromatologia: analisa os componentes e nutrientes de alimentos. Existe um na Rural:
Laboratório de bromatologia (Nutrição Animal) – DNAP
UFRRJ – Instituto de Zootecnia
Estrada Rio x São Paulo km 47 – Seropédica - RJ
Divisão da energia da dieta
Energia líquida (ELm e ELp)
A energia líquida tem seu valor variando em função da natureza da produção, das quantidades de forragens consumidas e da individualidade dos animais.
ELm corresponde ao metabolismo basal, atividades voluntárias (mexer a cauda, orelha, deitar, levantar, andar) e energia usada para termorregulação (fundamental em países tropicais).
ELp é a energia usada para gravidez, lactação, ganho de peso, trabalho, leite, ovos e lã.
O metabolismo basal é o metabolismo básico da vida, a energia gasta em atividades necessárias para manter o organismo vivo, ou seja, o que os órgão gastam para trabalharem em temperatura ideal. Corresponde a energia que o animal gasta quando está deitado, sem movimentos e em jejum.
A energia usada na termorregulação corresponde a termogênese e a termólise. São usadas para regular a temperatura corporal. Pode ser usada para manter o corpo quente ou para resfriá-lo, conforme a temperatura ambiente.
A perda de calor ocorre através do metabolismo basal, do incremento calórico e de atividades voluntárias.
Obs: Equações sobre energia:
ED = energia digestível
EB = energia bruta
EF = energia fecal
EM = energia metabolizável
EU = energia da urina
EG = energia dos gases
EL = energia líquida
PC = perda de calor
IC = incremento calórico
AV = atividades voluntárias
PC = IC + MB + AV
ED = EB – EF
EM = ED – (EU + EG)
EL = EM – IC
ELp = EM – PC
Energia bruta: É a energia determinada no alimento e formada pela soma das parcelas referentes aos nutrientes orgânicos principais (estrato etéreo, proteínas, carboidratos = ENN).Energia digestível: é a energia bruta ingerida subtraída da excretada nas fezes. É a que realmente utilizamos. ED = EB – EF. A partir da energia digestível vem a metabolizável.
Energia metabolizável: é a energia bruta do alimento descontadas as perdas de energia na forma de fezes, urina e gases (CH4). É a energia que sobrou do alimento para aproveitamento pelo animal (é seu lucro). É o que o organismo metaboliza (glicose e gliconeogênese). EM = ED – (EU + EG).
A energia metabolizável segue dois caminhos:
Uma parte é gasta no trabalho de digestão ou incremento de calor, que envolve a mastigação, digestão e assimilação dos alimentos, com aumento das atividades do coração, pulmões, secreções dos sucos digestivos e ação bacteriana.
A outra é a energia líquida, utilizada preferencialmente para a manutenção do organismo, sendo a fração excedente usada para fins de produção, crescimento, carne, gordura, leite e trabalho.
Fêmeas em gestação e lactação
Se não receberem alimentação adequada na gestação, ocorrerá aumento na porcentagem de abortamentos e natimortos, queda na produção de leite e os filhotes que nascerem serão pequenos e desnutridos.
ECC = escore de condição corporal. Depende da energia líquida. É utilizado para fêmeas leiteiras, de acordo com o estágio da produção leiteira. A este escore são atribuídos valores de 1 a 5, onde 1 é excessivamente magra e 5 extremamente gorda. As fêmeas leiteiras são angulosas (seu aporte é direcionado quase todo para o leite). O escore é dado por análise do trem posterior.
Na parição seu ECC deve ser 4, nem muito magra nem muito gorda. Está em BE- (balanço energético negativo).
No pico de lactação atinge 2,5, passando para BE+.
A vaca deve ser coberta 60 dias após a parição (é o período ideal). 60 dias antes do parto é o período de seca. O período de lactação corresponde, portanto, a aproximadamente 305 dias.
IEP = intervalo entre partos. Quanto menor o intervalo, maior a produção.
No pico de lactação e no pré-parto (secagem) são os períodos de maior necessidade nutricional.
O ECC avalia, na verdade, o manejo do técnico e do veterinário, pois a fêmea precisa parir com escore 4, e ela só atinge esse ECC de acordo com o manejo nutricional.
Fisiologia Digestiva Comparada
Monogástricos
Introdução
Os nutrientes dos alimentos se dividem em: proteínas, carboidratos, lipídeos, minerais e vitaminas.
As proteínas são compostas por ligações de aminoácidos. Os lipídeos são as gorduras, que liberam AGVs. Os carboidratos podem ser solúveis ou fibrosos. Os solúveis dividem-se em amido (polímero de glicose) ou açúcares simples (monossacarídeos e dissacarídeos). Os monossacarídeos são a glicose, galactose e frutose. Os dissacarídeos são maltose (glicose + glicose), sacarose (glicose + frutose) e lactose (glicose + galactose).
Enzimas
Para a digestão dos alimentos, são necessárias enzimas que quebrem os nutrientes em partículas menores, para que possam ser absorvidas pela mucosa intestinal. Existem enzimas especializadas para quebrar proteínas, outras para quebrar amido.
As enzimas proteolíticas rompem as ligações peptídicas das proteínas, liberando os aminoácidos. São secretadas pelo estômago, pâncreas e intestino. Podem ser Exopeptidases (atacam as ligações peptídicas terminais, liberando aminoácidos), Endopeptidases (atacam ligações peptídicas internas das proteínas, liberando peptídeos menores, mas não aminoácidos livres), Dipeptidases (rompem ligações do terceiro aminoácido com o segundo, liberando dipeptídeos).
	Essas peptidases são armazenadas na célula na forma inativa de zimogênios (ou pró-enzimas). O zimogênio é a junção do peptídeo com um peptídeo inibidor. Ao serem liberadas, perdem o peptídeo inibidor e passam a forma ativa.
As enzimas que digerem carboidratos são liberadas pelo pâncreas e intestino: α-amilase – quebra o amido em polímeros menores, que são quebradas em moléculas de maltose (várias maltoses formam o amido) que é um dissacarídeo (dois açúcares – duas glicoses). Dissacaridases – fazem maltase (hidrólise da maltose), lactase (hidrólise da lactose) e sacarase (hidrólise da sacarose). Os monossacarídeos formados serão absorvidos pela mucosa intestinal.
A digestão de lipídios ocorre pela ação de Lipases Pancreáticas e do Suco Biliar. O conteúdo gástrico não tem grande atuação sobre as gorduras. Quem realmente irá emulsionar as gorduras, quebrando-as em pequenas partículas, é o suco biliar, pois a bile tem uma ação detergente sobre as gorduras.
O intestino (as células intestinais) usam os ácidos graxos liberados para constituir novas moléculas de gordura, novos lipídios (reagrupamento que se dá de acordo com as necessidades do organismo), que serão transportados pelos vasos linfáticos.
Mastigação e saliva
O processo de digestão se inicia pela mastigação. A saliva tem a função de umedecer o alimento, além de alguns possuírem ptialina (mais importante em humanos, apesar de estar presente também em carnívoros e onívoros), iniciando o processo de quebra do amido. Nos ruminantes tem função tamponante para o pH ruminal, favorecendo a ação das bactérias da flora ruminal. Também tem ação anti-espumante, evitando a formação de espuma pelo processo de fermentação.
A saliva mantém um fluido ambiental para sobrevivência da flora ruminal (bactérias, fungos e protozoários vivem submersos no liquido ruminal, que é formado pela saliva e água ingerida).
Suco gástrico
A mastigação promove estímulo para liberação de gastrina, que por sua vez estimula as células parietais a produzir HCl.
O HCl é a secreção gástrica mais importante. Tem várias funções: promove a destruição da flora microbiana; inicia o processo de ativação do pepsinogênio (pois o meio ácido faz com que libere o peptídeo inibidor); proporciona um pH ótimo para a atuação da pepsina; faz a desnaturação protéica das proteínas (rompe a estrutura terciária, desfazendo as pontes de hidrogênio, facilitando a atuação das peptidases). É produzido pelas células parietais, que ao mesmo tempo em que produzem HCl, liberam bicarbonato para o sangue (daí a maré alcalina após a alimentação, causando preguiça e moleza no animal).
Obs: O pH do conteúdo gástrico é mantido pelo HCl em torno de 1,5 e 2. Para proteger a mucosa, as células epiteliais superficiais secretam bicarbonato de sódio junto com o muco, criando uma camada de proteção contra a acidez do suco gástrico, mantendo o pH deste muco em torno de 7.
Intestinos, pâncreas e fígado
Chegando (o bolo alimentar) ao intestino delgado, ocorre a liberação das enzimas pancreáticas, que só atuam em pH alcalino. Como a digesta está ácida, o pâncreas primeiro libera bicarbonato para alcalinizar o bolo alimentar, para só então liberar suas enzimas.
As enzimas liberadas pelo pâncreas são:
Proteases:
Tripsinogênio – forma a tripsina, que quebra as cadeias já quebradas pela pepsina em cadeias ainda menores, liberando aminoácidos.
Quimotripsinogênio – forma a quimotripsina, que também é uma endopeptidase. Sua principal função é coagular o leite, para que ele desça devagar e possa ser digerido, evitando uma diarréia.
Procarboxipeptidase – forma a carboxipeptidase, que é uma exopeptidase que atua na extremidade terminal da carboxila livre, liberando aminoácidos terminais da cadeia.
α-amilase: digere amido (carboidratos).
Lipase: digere a gordura, quebrando-a em AGVs.
O fígado libera a bile, que irá emulsificar as gorduras, facilitando a ação das lipases. As células do intestino delgado produzem maltase, sacarase e lactase, que quebram os dissacarídeos em monossacarídeos.
Filhotes que nascem com deficiência destas enzimas não conseguem quebrar os dissacarídeos (não sendo absorvidos por serem moléculas grandes), que por sua vez promovem desequilíbrio osmótico no lúmem intestinal (atraindo água), causando diarréia. Não é alergia ao leite, como muitos pensam, mas sim deficiência de maltase, sacarase e lactase.
O intestino grosso de monogástricos possui uma flora microbianaque aproveita o nitrogênio liberado pela quebra de proteínas em aminoácidos. Elas usam o N para produzir proteína microbiana e a carboxila para produzir AGVs, restando a amônia.
Obs: O excesso de alimentação protéica gera muita amônia no intestino grosso, levando a formação de câncer de cólon, pois a amônia altera a DNApolimerase, que é a responsável pela multiplicação do DNA da célula, gerando células exóticas (com defeito) cancerígenas. Para evitar o câncer de cólon deve-se ingerir muita fibra, pois elas absorvem a amônia e a eliminam, além de também absorverem o colesterol.
Os principais AGVs formados são ácido acético, butírico e propiônico. O butírico é fundamental para fornecer energia para as células do intestino. As bactérias produzem estes AGVs e liberam para o meio (lúmem), pois é uma forma de neutralizarem seu pH interno, já que com a quebra das proteínas liberam muito hidrogênio em seu interior, acidificando seu meio interno. Formando os AGVs elas usam este hidrogênio e equilibram seu pH.
Pré-estômagos dos poligástricos
Os poligástricos possuem 3 pré-estômagos: Rumem, retículo e omaso.
No rumem, as proteínas sofrem desaminação pelas bactérias, liberando amônia (processo semelhante ao que ocorre no intestino grosso dos monogástricos). Como os ruminantes usam a proteína microbiana como fonte de alimento protéico, é muito mais barato fornecer uréia para que as bactérias produzam sua proteína, do que fornecer proteína na ração. Deve-se proteger (da ação das bactérias) as proteínas utilizadas na ração, permitindo que elas cheguem ao intestino para sofrerem absorção. Para isso existem produtos químicos (tanino – extraído de plantas) ou então deve-se fornecer a proteína em caroços (caroço de algodão, de soja, de girassol), pois o caroço tem muita gordura, o que dificulta a aderência das bactérias e elas não conseguem digerir a proteína.
Como a proteína microbiana é uma importante fonte protéica para os ruminantes, deve-se maximizar a população de bactérias, pois barateia-se muito o custo da ração.
Para os ruminantes, os carboidratos podem ser fibrosos ou não, pois digerem os dois. 70% da energia dos ruminantes provem do ácido propiônico. O ácido acético gera mais gordura no leite e o butírico fornece energia para as células do intestino.
Poligástricos
Obs: na verdade, o omaso se localiza por trás do retículo.
Todo animal precisa de glicose, que também é fornecida por gliconeogênese no fígado. Os ruminantes fazem gliconeogênese principalmente através dos AGVs (especialmente o ácido propiônico).
Após a digestão no rumem e retículo, o que sobra segue para o omaso, que tem a função de selecionar e regular a passagem de partículas para o abomaso. No omaso, essas partículas sofrem novas quebras por bactérias, sendo reduzidas entre 1 e 2mm, pois é o tamanho do óstio omaso-abomasal. Partículas com mais de 1 a 2mm não passam para o abomaso. Quanto mais fibroso for o alimento (ex: lignina), mais difícil de quebrar. Quanto menor a partícula, mais rápida a taxa de passagem (pois as partículas pequenas passam para o omaso). Partículas maiores estimulam a ruminação e diminuem a taxa de passagem.
Do abomaso (estômago verdadeiro) em diante, o processo é o mesmo que nos monogástricos, ocorrendo digestão dos nutrientes e da proteína microbiana.
Os ruminantes não têm sacarase, pois toda glicose é digerida pelas bactérias no rumem.
Obs: um alimento de boa qualidade é digerido em no máximo 48h.
Particularidades das espécies
O trato gastrintestinal mais simples é o dos carnívoros (marta, felinos): estômago grande (para digestão de proteínas) e intestino grosso pequeno (pouca ingestão de fibras, população bacteriana pequena).
O cão não é estritamente carnívoro, portanto tem ceco e intestino grosso um pouco mais desenvolvidos, com pequena flora microbiana para produção de AGVs para as células intestinais.
O suíno é onívoro e possui maior desenvolvimento do intestino grosso (com saculações – para reter por mais tempo as fibras).
Os cavalos possuem estômago pequeno e retêm o alimento nele por pouco tempo (taxa de passagem rápida). Seu pâncreas produz pouca α-amilase (tem pouca atividade, digerindo pouco amido). Se ingerir muito carboidrato solúvel irá gerar fermentação no ceco com alta produção de AGVs e gases. Origina cólica e em casos mais graves laminite. Possuem ceco e cólon muito desenvolvidos.
O coelho possui ceco muito desenvolvido, mais ainda que o do cavalo. Seu cólon também é desenvolvido, mas nem tanto quanto o do cavalo.
Os bovinos possuem rumem muito desenvolvido. Não são seletivos e comem de tudo, ingerindo alimentos de pior qualidade, precisando do rumem para quebrar estes alimentos.
A girafa é muito seletiva, possuindo um rumem menor, pois seu alimento sofre digestão rápida, não necessitando ser muito quebrado. Se alimenta de brotos, flores e leguminosas. Sua taxa de passagem é rápida. Possui intestino grosso mais desenvolvido que dos bovinos (todo ruminante mais seletivo tem o intestino grosso desenvolvido).
Alimentos muito fibrosos (ruminantes) levam a mais mastigação, o gera maior tamponamento do rumem, favorecendo a proliferação de fungos. A concentração de lignina é muito grande nos talos de capim velho. Se for administrar esse tipo de capim na alimentação, procurar utilizar apenas as pontas e desperdiçar os talos.
Bactérias metanogênicas (encontradas em locais anaeróbicos – rumem) produzem metano, que é um gás tóxico. No rumem ficam associadas a protozoários. Para evitar sua proliferação, faz-se a defaunação de protozoários (com alimentos ricos em gordura) – usa-se apenas em animais de alto valor zootécnico, como vacas leiteiras. De 8 a 12% da energia dos alimentos é desviada para a produção de metano.
Obs: existem bactérias aminolíticas (muito grandes) e celulolíticas (pequenas). Seu número varia de acordo com o tipo de alimentação do animal.
Metabolismo de Carboidratos
(em ruminantes e não-ruminantes)
Frações dos carboidratos (mais importante para os ruminantes – digestão microbiana)
A – Sacarose (td = 250%/h)
B1 – Amido e pectina (td = 50%/h)
B2 – FDN: fibra em detergente neutro = celulose e hemicelulose (td = 2 a 5%/h)
C – Lignina (td = 0%/h)
Obs: td – taxa de digestão (em quanto tempo ocorre a digestão da fração).
A hemicelulose está presente na parede celular. A lignina também se localiza na parede celular, mas é classificada a parte, pois não possui digestibilidade.
Ruminantes
Ao formular uma ração, deve-se combinar a fração do carboidrato com a mesma fração dos nitrogenados, pois ambos terão a mesma velocidade de degradação. Ex: proteína microbiana: combina a energia do carboidrato (ATP) com o nitrogênio do composto nitrogenado = uréia + melaço, ambos fração A.
A fração A é digerida rapidamente ao chegar ao rumem, sendo consumida em apenas 20 minutos (250%/h). Não chega até o intestino delgado.
Não importa se o carboidrato é ou não estrutural. Todo ele é transformado em glicose no rumem, exceto a lignina. A glicose é posteriormente convertida em AGVs. Estes AGVs (principalmente o ácido propiônico) irão sofrer gliconeogênese no fígado, conforme necessidade de energia do organismo, liberando glicose. O ácido butírico é o principal fornecedor de energia para renovação do epitélio ruminal (reepitelização) e o ácido acético o que mais fornece gordura para o leite.
O pH ideal para a flora microbiana é de 6,8/7,0, próximo do neutro. Quanto mais formar AGVs, mais ácido, favorecendo as bactérias que produzem ácido láctico, diminuindo ainda mais o pH.
Quanto mais mastigar, mais produzirá saliva (bicarbonato), alcalinizando o pH. Quando ocorrer o risco de acidificação do pH, fornecer volumoso para que o animal mastigue e mantenha o pH ruminal próximo da neutralidade.
No esôfago encontramos os pressorreceptores e os mecanorreceptores. Conforme ocorre a dilatação do rumem, os pressorreceptores são sensibilizados e promovem a eructação para expelir os gases. Esses gases (metano, CO2 e H2) devemser expelidos para não causar timpanismo.
Para o animal ruminar, é necessária a ativação dos mecanorreceptores, o que ocorre através das partículas sólidas dos alimentos volumosos que o animal ingere. Quanto mais ruminação, mais salivação, produzindo bicarbonato e fosfato. A ingestão do volumoso é necessária para estimular a ruminação e regular o pH do rumem. Acima de 40% (do total da ração diária) de ingestão de concentrado na dieta abaixa muito o pH.
Obs: macete de exposição ou concurso leiteiro: alimenta-se o animal com muito concentrado e ponta de capim, e estimula-se os mecanorreceptores do esôfago, introduzindo a ponta do capim e retirando. O animal irá regurgitar o concentrado, mastigar novamente e reengolir, evitando a acidificação. Também administra-se bicarbonato na ração (pH alto leva a mais formação de ácido acético, favorecendo a produção de gordura no leite).
As bactérias que produzem ácido acético gostam de pH alto (alcalino), portanto quanto mais fibra, mais mastigação, mais saliva, mais alto o pH, mais ácido acético.
Acidose ruminal
Animais de alta produção possuem uma necessidade muito maior de energia que só é produzida em quantidade suficiente se administrar o concentrado à ração. Deve-se tomar cuidado para não acidificar o pH ruminal e o animal entrar em acidose.
70% de volumoso / 30% de concentrado: aumenta a produção, diminui a salivação. pH = 6,5/6,6.
60% de volumoso / 40% concentrado: aumenta ainda mais a produção, mas diminui mais a salivação. pH = 6,0/6,2. Até então o animal suporta muito bem. É a relação ideal para animais de produção.
50% de volumoso / 50% de concentrado: aumenta muito a produção, mas diminui muito a salivação. pH = 5,5/5,8. Leva a morte das bactérias fibrolíticas e dos protozoários. Aumentam as bactérias amilolíticas. Os ruminantes seletivos (cabras e ovelhas) suportam bem essa situação. Os bovinos já estão em acidose. As papilas ruminais entram em paraqueratose (feridas no epitélio levam a ulceração e queratinização das papilas), prejudicando a absorção, causando acúmulo de AGVs no rumem. Os lactobacilos já começam a produzir ácido láctico, mas ainda há presença da bactéria Megasphera elsdenii, que consome o ácido láctico, equilibrando-o. Quadro de acidose subclínica.
40% de volumoso / 60% de concentrado: pH = 5,0/5,2. É uma das relações usadas em concurso leiteiro, associada aos macetes já descritos. Ocorre morte das bactérias amilolíticas e aumento dos lactobacilos, proliferando a produção de ácido láctico. Aumenta a paraqueratose e as ulcerações das papilas ruminais, favorecendo a entrada de bactérias patogênicas, que vão ao fígado e promovem abscessos.
30% de volumoso / 70% de concentrado: pH = 4,5/5,0. Também usada em concurso leiteiro. O conteúdo ruminal vira uma pasta, não possui mais as três camadas (líquido, sólido, gás). Morte de toda flora bacteriana, restando apenas os lactobacilos.
Em casos de acidose, remove-se o conteúdo ruminal (com sonda – sucção) – injeta-se soro morno no rumem para ajudar a dissolver o conteúdo e removê-lo. Injeta-se bicarbonato (com hidróxido de magnésio), líquido ruminal de outra vaca sadia, fluidoterapia e dieta a base de volumoso (gradualmente para adaptação da nova flora).
Obs: 0,25% bicarbonato e 0,75% de hidróxido de magnésio = 1% da ração deve conter essa mistura em concurso leiteiro. Levedo de cerveja (1% da ração) também ajuda a segurar a acidose.
Pectinas
As pectinas são encontradas no nabo, rabanete, beterraba, alfafa, cenoura e polpa cítrica.
Reduz a acidose ruminal, pois possui muitas oses (açúcares) em sua molécula, tendo digestão um pouco mais lenta que a glicose.
Além disso, possui ligações metil-éster e os H (ácidos) se fixam a estas ligações.
A polpa cítrica é um resíduo de indústrias de suco de laranja e tangerina, sendo muito usada como alimentos para bovinos. Deve-se fornecer no máximo 6kg por dia, em substituição ao milho (máximo de 50% de substituição, pois mais do que isso dará gosto de polpa cítrica no leite).
Não-ruminantes
Fontes de glicose: Os animais podem promover glicolise, glicogênese, glicogenólise e gliconeogênese.
Glicolise – é a principal via de utilização da glicose e ocorre no citossol de todas as células, mesmo na ausência de oxigênio. É a quebra da glicose (metabolização) e esse processo produz ATP. Uma molécula de glicose fornece 38 ATPs (adenosina trifosfato). A α-amilase quebra a glicose (glicolise).
Glicogênio – é a principal forma de armazenamento de carboidratos em mamíferos. Ocorre principalmente no fígado e nos músculos, sendo que nos músculos funciona como fonte emergencial de energia para o próprio músculo e no fígado sua função é servir a outros tecidos, por sua transformação em glicose sangüínea.
Glicogênese – é a formação de glicogênio a partir da glicose. A glicogênese estoca glicogênio no fígado e nos músculos, mas a capacidade de estoque é limitada. No músculo, o estoque é para fornecer energia para si mesmo, não liberando para o sangue. No fígado e para manter a glicemia.
Glicogenólise – é a quebra do glicogênio, liberando glicose.
Gliconeogênese – é o mecanismo de conversão de não carboidratos (lipídeos e aminoácidos) em glicose ou em glicogênio. Dessa forma, fornece glicose ao organismo quando não há carboidratos na dieta. Ocorre principalmente no fígado e no rim, pois são onde se encontram as enzimas responsáveis pelo processo. Em ruminantes é de extrema importância, pois toda glicose é quebrada no rumem.
Importância da fibra bruta para os monogástricos:
Reduz os níveis de colesterol – a lignina se agarra ao colesterol e o elimina nas fezes.
A fibra traz sensação de saciedade e o animal come menos.
No intestino delgado ela aumenta a produção de muco, que funciona como um gel em torno do alimento e impede o ataque enzimático – o animal aproveita menos nutrientes e emagrece (bom para animais obesos e diabéticos).
Aumenta a taxa de passagem.
Dificulta a ação da α-amilase, fornecendo menos glicose para ser quebrada (bom para animais diabéticos).
Aumenta a imunidade, pois as pectinas favorecem o crescimento de bactérias benéficas.
Produção de AGVs (no ceco), fornecendo energia para o epitélio do trato gastrintestinal.
Mantêm a saúde da flora microbiana (a fibra sofre digestão no ceco).
Eqüinos
Os cavalos possuem estômagos muito pequenos (média 18l) com taxa de passagem rápida (quanto menor a partícula, maior a absorção – aproveitamento melhor). Além disso possuem baixa atividade de α-amilase pelo pâncreas, o que leva boa parte da digestão do amido para o ceco, onde são produzidos os AGVs e gases.
Com fermentação excessiva, dilata-se o ceco, aumenta a pressão osmótica, atraindo água do organismo para a luz do intestino, aumentando a desidratação do animal e a dilatação do ceco e do intestino. Ocorre o mesmo processo de acidose láctica que nos ruminantes, sendo que causa muita dor (cólica) no animal.
Milho e aveia são os carboidratos solúveis mais ingeridos por estes animais. A fermentação do milho é mais alta que a da aveia e esta deve ser deixada de molho da noite para o dia, para hidratá-la e “inchá-la” (expondo o amido), evitando que a aveia inche dentro do trato gastrintestinal e cause impactação.
Cavalos de enduro (árabes) possuem fibras musculares mais irrigadas (sangue), oxigenando com mais facilidade as gorduras (óleo) e transformando-as em energia. Fornecer 1l de óleo um dia antes da prova é de grande ajuda para estes animais.
O cálculo da ração diária de um eqüino é basicamente: 2,5 a 3% do peso vivo, sendo 70% de volumoso + 30% de concentrado, ou 100% de volumoso (cavalos sadios). Para cavalos atletas: 60% de volumoso + 40% de concentrado.
Cães e gatos
Cães possuem estômago muito evoluído e intestino grosso pequeno, com ceco pouco desenvolvido, mas com desenvolvimento de flora microbiana (pouca atividade, mas grande importância).
A ração de cães deve conter de 4 (mínimo) a 8% (máximo) de fibras, sendo que animaisobesos deve ingerir o nível máximo de fibras (8%).
Os gatos se alimentam basicamente de proteína, ingerindo pouquíssimos carboidratos.
Existem duas enzimas que metabolizam a glicose no fígado:
Glicoquinase: promove glicogenólise e glicogênese. Os gatos não possuem.
Hexoquinase: promove gliconeogênese a partir da proteína. Os gatos possuem muita.
Os cães possuem ambas as enzimas.
Por esse motivo, a ração de gatos deve ser a base de proteína animal.
Para cães, a melhor fonte de fibras é o arroz cozido. Em gatos, a importância de fibras é ainda menor que para os cães, pois são essencialmente carnívoros (já os cães são onívoros).
A lactose (açúcar do leite) só é importante em cães e gatos jovens, pois os adultos já não possuem mais quantidades suficientes de lactase para digerir essa lactose, não sendo indicada a administração de leite para estes animais.
Compostos Nitrogenados
Frações
A – NNP (nitrogênio não protéico): td = 300%/h
B1 – Proteína solúvel: td = 50 a 200%/h
B2 – Proteína de intermediária degradação ruminal: td = 8 a 30%/h
B3 – Proteína de lenta degradação ruminal: td = 2 a 8%/h
C – Proteína ligada a lignina: td = 0%/h
Metabolismo de proteínas em ruminantes
O ruminante absorve dois tipos de proteínas: as provenientes dos alimentos e a proteína bacteriana.
Carboidrato no rumem: AGV, ATP, gases
Proteínas no rumem: NH3 (2NH2 + 2H2O = 2NH3 + gases)
Resultado: ATP + 3C + NH3 = proteína microbiana.
Quanto mais bactérias no rumem, mais proteína microbiana para o ruminante. Mas para isso as bactérias precisam receber carboidratos e nitrogênio ao mesmo tempo. Deve-se combinar as frações A, B1, B2, B3 e C dos carboidratos com a dos compostos nitrogenados. A uréia é um composto não protéico (fração A) que possui nitrogênio. Isso barateia a ração do animal, pois a uréia é barata e fornece o N que as bactérias precisam para formar suas proteínas, diminuindo a necessidade de administrar proteínas caras à ração do animal (o que encarece o custo). Ao mesmo tempo em que fornecemos a uréia, é necessário administrar um carboidrato que tenha a mesma velocidade de degradação, pois caso contrário pode-se intoxicar o animal com o excesso de nitrogênio (já que sem o carboidrato, as bactérias não conseguem formar a proteína, portanto não conseguem utilizar o nitrogênio).
A uréia alcaliniza o meio e aumenta sua absorção pelo epitélio ruminal, intoxicando o animal, levando a alcalose sangüínea e pode matar. Se isso ocorrer, fornecer vinagre (10l) ao animal, para acidificar o meio.
É necessário ter sempre ao menos um pouco de uréia na ração diária do animal, para que as bactérias cresçam (se desenvolvam). Principalmente no inverno, em que o capim fica mais fibroso.
Exemplos de frações:
B1: peptídeos e proteínas de fácil degradação. Farelo de soja e farelo de algodão possuem muitas. Todos os alimentos protéicos possuem vários destes peptídeos.
B2: farelo de soja e de algodão.
B3: proteína dos volumosos e de origem animal (estas estão proibidas, pois originaram a vaca louca). As de origem animal eram muito utilizadas, pois as bactérias não as reconheciam e elas passavam direto pelo rumem, sendo absorvidas no intestino, que é o que se deseja ao optar por fornecer proteína dos alimentos aos ruminantes.
O farelo de soja e de algodão acabam sendo degradados no rumem, pelas bactérias, o que não compensa, pois são mais caros que a uréia. Deve-se proteger as proteínas (da ração) da ação das bactérias. As sementes oleosas não devem ser trituradas em farelo, pois o óleo da semente as protege da ação microbiana, evitando sua degradação no rumem, permitindo que seus aminoácidos sejam absorvidos no intestino. A gordura tem ação refratária sobre as bactérias, impedindo que elas se fixem ao caroço para degradá-lo.
Outra forma de proteger a proteína da ração é o tanino. O tanino é extraído de plantas e o alimento fornecido com ele não sofre degradação pelas bactérias. O tanino tem um sabor amargo que evita que o animal ingira a planta que o contem, mas a quantidade usada na ração não deixa este gosto amargo.
Ionóforos (rumensin e bovitec) são a terceira forma de proteger as proteínas no rumem. Agem sobre a Peptostreptococcus (que degrada a proteína) e outras similares, aumentando a absorção dos aminoácidos no intestino.
Associações de compostos nitrogenados com carboidratos de mesma degradação: melaço + uréia; milho + soja. A polpa cítrica também é muito boa para baratear a ração e tem a mesma taxa de degradação do milho (podendo substituí-lo em até 50%).
Obs: O sal proteinado é muito interessante para gado de corte, e é muito mais barato que a ração, devendo ser usado no inverno. É composto por NaCl (em concentração muito acima: 20 a 30%), sal mineral, soja e milho. A concentração alta de NaCl faz com que o animal controle a ingestão do sal proteinado e aumente a ingestão de água, que promove uma lavagem destes nutrientes do rumem, favorecendo a passagem destes (e das bactérias – proteína microbiana) para o intestino, sendo absorvidos. Como o coxo de sal fica do lado oposto ao da água, no pasto (manejo ideal) e nunca ao lado, ao caminhar do sal à água, o bovino vai pastando, o que aumenta o consumo de capim, favorecendo o desenvolvimento constante das bactérias (pela oferta de nutrientes).
Obs: Cobalto: entra na formação da vitamina B12 e é encontrado no sal mineral.
Suplementação com N no inverno
No inverno o pasto fica muito pobre em nitrogênio, que deve ser suplementado.
Fontes de N: uréia, sal proteinado, leguminosas (principalmente feijão).
As folhas da leguminosas é que contém proteínas e nutrientes. O talo é basicamente lignina. Em fenos, verificar se há bastante folhas.
Uréia: 40g/100kg/PV ou 1% do peso na cana.
Para evitar casos de intoxicação, deve-se primeiro adaptar o animal a nova alimentação (10g/100kg/PV). Não administrar uréia para o animal em jejum. É comum o animal se intoxicar por beberragem, por erro na diluição. Deve ser diluída em água na quantidade de 1kg para cada 100l de água, pois se diluir errado o animal irá ingerir uréia mais concentrada, se intoxicando.
Na intoxicação por uréia a sintomatologia é nervosa: ataxia, incoordenação. Fornecer vinagre (reduz o pH e a amônia pára de ser absorvida pelo epitélio ruminal).
A uréia deve ser administrada associada a sulfato de amônia (9:1) para formar aminoácidos sulfurados (fornece S – forma metionina e cistina, aminoácidos essenciais para proteína microbiana).
Pastagens consorciadas: são as que dividem o pasto com gramíneas e leguminosas, plantadas juntas. A gramínea possui raiz fasciculada e a leguminosa raiz bivotante (uma central e pequenas raízes que saem da principal).
Na raiz das leguminosas se desenvolve uma bactéria (Rhizobium) que fixa nitrogênio, mantendo o nível de N no inverno (nas pastagens que têm leguminosas).
Teste das Substâncias
Para utilizar algum tipo de produto ou subproduto na ração dos animais, com a intenção de baratear a ração, deve-se conhecer quatro fatores sobre este alimento:
Palatabilidade.
Digestibilidade.
Coeficiente de digestibilidade.
Valor biológico (em relação à absorção de nitrogênio):
Balanço positivo – animal em crescimento (absorção maior que a perda).
Balanço negativo – animal doente (perda maior que absorção).
Balanço equilibrado – animal adulto.
De posse deste conhecimento sobre o produto, pode-se formular uma ração que o aproveite, com equilíbrio dos nutrientes.
O primeiro passo é encaminhar uma amostra do alimento à um laboratório de bromatologia, para analisar os nutrientes deste alimento.
Teste de palatabilidade
A palatabilidade é analisada em campo, fornecendo o alimento ao animal e verificando sua aceitação pelos animais. Introduz-se o alimento paulatinamente e segue-se analisando o que ocorre com a produção dos animais, após alguns dias de alimentação com o produto.
Análise de verificação de combinação da substância (se possui qualidadecomo alimento)
Consiste na verificação do aproveitamento dos nutrientes do alimento. Por exemplo, um alimento com 45% de proteína (como o farelo de soja) promete ser uma boa fonte de proteína na ração, mas não se pode afirmar sem antes testar o aproveitamento desta proteína pelo animal, pois pode ser que ele não absorva toda essa porcentagem de proteína deste alimento. Para verificar o aproveitamento, faz-se o teste de digestibilidade.
Teste de digestibilidade
Divide-se em duas fases: Fase experimental e Fase de análise.
Se um alimento possui 45% de proteína, supõe-se que se o animal ingere 1000g deste alimento, está ingerindo 450g de proteína. Se essa ingestão de 1kg é diária, ao final de 6 dias terá ingerido 2.700g de proteína (450g x 6). Para conferir o aproveitamento dessa proteína, são feitas as seguintes análises:
Fase pré-experimental: é a fase de adaptação. São 6 dias alimentando o animal apenas com o produto que se quer testar. Durante esta fase não se analisam as fezes, pois é o período de limpeza do tubo digestivo, removendo resíduos de alimentos ingeridos anteriormente.
Fase experimental: são mais 6 dias. Durante essa fase continua-se alimentando o animal apenas com o produto em teste, mas dessa vez se analisam as fezes.
Ex: ingeriu 2.700g de proteína em 6 dias ...........	PI = proteína ingerida.
Eliminou nas fezes 675g da proteína (25%) ......	PF = proteína fecal.
Absorveu 2.025g da proteína ingerida ................	PA = proteína absorvida.
PI _______ PA
2700 _______ 2025
100 _______ x .
x = digestibilidade = 75%
D% = PA/PI x 100 = 2025/2700 x 100 = 75%
D = 75% da digestibilidade da proteína.
Uma boa digestibilidade de proteína deve estar acima de 80% (proteína de boa qualidade).
Em torno de 80% corresponde a proteína de boa qualidade, então 75% de digestibilidade está dentro do aceitável.
A digestibilidade se divide em verdadeira e aparente:
Pode ser medida através de coleta total, com o uso de indicadores, por diferença ou por análise in vitro.
Um indicador (corante) muito usado é o óxido crômico. Impregna-se o alimento com o corante. Usa-se quando se quer analisar apenas um componente de determinada ração. Dessa forma, o que sair impregnado pelo corante nas fezes corresponde a este componente da ração.
A análise in vitro é feita apenas quando há equipamento laboratorial disponível. Um exemplo é a análise do suco ruminal.
Composição das fezes
Ao analisar as fezes, deve-se levar em conta tudo o que a compõe:
Substâncias indigestíveis – ex: lignina.
Substâncias digestíveis não digeridas – ex: celulose.
Substâncias digeridas e não absorvidas.
Outras substâncias que saem nas fezes, mas não foram ingeridas (provenientes do metabolismo do animal – proteína fecal metabólica).
A proteína fecal metabólica (nitrogênio fecal metabólico) corresponde a: enzimas, bile, células epiteliais descamativas, micróbios e muco.
Dessa forma, o nitrogênio fecal se divide em:
	NF indigestível: alimentos ingeridos não digeridos.
Nitrogênio Fecal
NF metabólico: substâncias nitrogenadas não ingeridas (não provenientes de alimentos)
Coeficiente de digestibilidade da proteína
O coeficiente de digestibilidade aparente é medido pela equação:
Mas o coeficiente de digestibilidade real (verdadeiro) deve incluir o nitrogênio metabólico (NM), pois nem todo o nitrogênio encontrado nas fezes é proveniente da alimentação. Sendo assim, a equação que mede o coeficiente de digestibilidade real seria:
O grande problema é conseguir mensurar o nitrogênio metabólico.
Conforme demonstra o exemplo, a digestibilidade aparente subestima a digestibilidade real, pois exclui o nitrogênio metabólico. Se considerarmos o nitrogênio metabólico, a digestibilidade verdadeira do alimento passa de 75% para 85%, ficando dentro da faixa ideal de digestibilidade.
Recursos para medir o nitrogênio metabólico
Dieta sem proteína: dieta aprotéica. Cinco dias de fase pré-experimental contendo proteína apenas para o desgaste corporal. Após o período experimental mede-se o NF, que equivalerá ao NM.
Dieta em que a energia seja suficiente para as perdas energéticas do animal com caseína, que é 100% digestível: todo o N que sair nas fezes, na fase experimental, será metabólico.
Coeficiente de digestibilidade da fibra
O organismo não fabrica fibra, portanto toda fibra encontrada nas fezes é proveniente do alimento. Há uma perda do aproveitamento com a formação de gases, mas o resultado encontrado é mais próximo da realidade do que o encontrado pelo coeficiente de digestibilidade aparente da proteína.
No rumem, parte da fibra é absorvida e parte é perdida com a formação de gases. Sendo assim, os 75% de fibra absorvida não são reais, mas são mais próximos da realidade do que o nitrogênio do CDA.
Teste de valor biológico (VB)
É medido através do nitrogênio:
NI = 100g (nitrogênio ingerido)
NA = 80g (nitrogênio aparente: NI - NF)
NF = 20g (nitrogênio fecal)	São as
NU = 10g (nitrogênio urinário)	Perdas
As proteínas ingeridas são degradadas por enzimas (no estômago e intestino), sendo quebradas em aminoácidos. Estes aminoácidos são absorvidos, chegam a corrente circulatória e serão aproveitados para formar proteínas para os tecidos do próprio animal. Por isso, há necessidade de se ingerir proteínas que contenham aminoácidos que compõem as moléculas destes tecidos, para que sejam melhor aproveitadas.
Balanços
Balanço positivo – absorção de nitrogênio maior que a perda. Necessário para animal em crescimento (jovem).
Balanço negativo – perda maior que a absorção. Comum em animais doentes, que diminuem a ingestão e aumentam o gasto (reações metabólicas).
Balanço equilibrado – animal adulto. Sua absorção costuma ser equivalente a seu gasto.
Ex: NI = 100; NA = 80; NF + NU = 80.
Nitrogênio urinário (NU)
NEn – nitrogênio endógeno (que está no organismo) = ácido úrico e creatinina.
NEx – nitrogênio exógeno (ingeriu, absorveu, mas não reteve).
 NA = NI – NF
VB = valor biológico
VBR = valor biológico real (inclui a perda urinária)
NR = nitrogênio retido
NA = nitrogênio absorvido
Obs: Exigências nutricionais:
Peixes – precisam de dietas riquíssimas em proteínas: 40 a 45%.
Animais em mantença: 16 a 18%.
Vacas leiteiras em produção: 22%.
Granulometria: em picadeiras, pica-se o capim do tamanho adequado para a taxa de passagem de cada espécie animal:
Coelhos – 5 a 6cm.
Cabras e ovelhas – 4 a 5cm.
Bovinos – 2 a 3cm.
Metabolismo de Proteínas
Em monogástricos ou do abomaso em diante
Proteínas do organismo
Plasma – albuminas (100% de digestibilidade – clara do ovo), globulinas, fibrinogênio.
Tecidos musculares – extracelulares (mioglobina, tecidos conectivos), intracelulares (miosina, miogênio, globulina).
Tecidos funcionais – enzimas, hormônios (ex: insulina), anticorpos e antitoxinas.
Aminoácidos – essenciais, não essenciais (o organismo forma à partir de outros alimentos – carboidratos e gorduras).
Digestão e absorção – Kp e Kd.
- Formas de evitar o escape de proteínas para o intestino grosso: diminuir o consumo, aumentar a fibra da dieta (aumenta o peristaltismo e a taxa de passagem), proteína ideal.
* Proteína Ideal: é uma expressão que tem sido muito usada em suinocultura. O balanceamento da ração feito para suínos atualmente é feito em cima dos aminoácidos essenciais.
* Aminoácidos essenciais: são os que o organismo não produz, precisam ser ingeridos na alimentação. São eles:
Arginina
Fenilalanina
Histidina
Isoleucina
Leucina
Metionina
Treonina
Triptofano
Valina
Lisina
Obs: Lisina, metionina e treonina são aminoácidos limitantes em rações à base de milho e soja (não são encontrados em quantidades suficientes para as necessidades diárias, devendo ser suplementados).
Qualquer proteína que falte na dieta desbalanceia o equilíbrio do organismo. O animal deixa de fabricar alguns tecidos,enzimas e/ou hormônios, podendo levar ao estabelecimento de doenças.
Deve-se ingerir proteínas todos os dias, pois não estocamos proteínas como estocamos energia. A proteína animal é mais completa, pois a soja é limitante, não possuindo todos os aminoácidos essenciais nas quantidades necessárias.
Digestão da proteína
Animais em geral: se ingerem menos proteína, a atividade das enzimas responsáveis pelo catabolismo e pela gliconeogênese diminui. É uma forma de conservar o nitrogênio no organismo. Se ingerem mais proteína, a atividade aumenta para excretar o excesso de nitrogênio.
Felinos: isso não ocorre: a atividade das enzimas não muda, é sempre alta, logo, seus requerimentos em proteína são maiores, pois ele não conserva nitrogênio no organismo.
Aves e répteis: excretam ácido úrico.
Peixes: excretam amônia (pelas guelras).
Mamíferos: excretam uréia.
A uréia é solúvel em água, é tóxica para os tecidos em solução concentrada e precisa de muita água para conservá-la em concentração baixa, removê-la dos tecidos e eliminá-la do organismo.
O ácido úrico é excretado em forma quase sólida, com ínfima perda de água.
Sendo assim, sob as mesmas condições, as aves requerem menos água que os mamíferos e são menos sensíveis a sua falta temporária.
Mamíferos com alimentação rica em proteína e falta de água sofrem acúmulo de produtos tóxicos no organismo, culminando na morte do animal. Já aves, ofídios e insetos sobrevivem muito mais nestas condições.
Quando há muita proteína no intestino grosso, forma-se muita uréia, que gera câncer de cólon. A ingestão de fibras aumenta a taxa de passagem, reduzindo este risco.
Em porcos não se pode reduzir o consumo de proteínas, pois necessitam de muito nitrogênio para crescerem (crescem muito rápido). Não se pode administrar fibras, pois diminuiria a absorção. Por isso se administra aminoácidos sintéticos, mas na proporção necessária (proteína ideal). Se administrar em excesso, leva a hiperamonemia.
Fatores que modificam a digestibilidade das proteínas
Idade: animais mais velhos precisam de proteína mais digestível (carne, principalmente de frango).
Obs: rações geriátricas são vendidas em valores mais altos, pois usam proteína mais cara (proteína animal – mais digestível).
Inibidores da tripsina: soja crua para monogástricos.
Reação de Maillard: forma ligações muito fortes entre o aminoácido e o açúcar, o que faz com que as enzimas proteolíticas não consigam quebrar a proteína e o animal não consegue absorver os aminoácidos. Leva a hipertrofia do pâncreas (por excesso de secreção de enzimas) e à morte. Quando o farelo de soja está escuro (passou por processo de alta temperatura) é porque sofreu reação de Maillard.
Metabolismo
Com o processo digestivo da proteína, são liberados os aminoácidos. Os aminoácidos absorvidos são levados às células onde sofrem ativação enzimática 
(associada a energia – ATP) e seguem para os ribossomos, onde serão utilizados na formação de novas proteínas de acordo com a necessidade do organismo, ditada pelo código genético da célula, via RNA transportador.
Obs: (não é para decorar isso, é só para entender como funciona). Através do código genético são formadas proteínas, ou seja, combinações de aminoácidos. Para formar a seqüência de aminoácidos, o DNA separa seus dois filamentos e um deles serve como molde para a formação de um RNA, transcrevendo sua seqüência de bases para este RNA. A este processo dá-se o nome de transcrição e a este RNA de RNAm (mensageiro). O RNAm segue para os ribossomos, onde sua seqüência de bases irá levar a informação para a formação dos polipeptídios correspondentes. Suas trincas são chamadas de códons. Para formar o polipeptídio, entra em ação outro RNA, o RNAt (transportador). O RNAt também possui uma trinca de nucleotídeos, chamada de anticódon, que se liga ao códon correspondente no RNAm. Para cada códon existe um anticódon específico, e o RNAt transporta o aminoácido correto para sua posição na cadeia polipeptídica transcrita pelo RNAm. A este processo dá-se o nome de tradução, pois a seqüência de bases foi traduzida para uma seqüência de aminoácidos.
- Excesso de proteína
O excesso de proteína segue para o ciclo da uréia (para ser excretada) ou para o ciclo de Krebs (alguns aminoácidos formam intermediários do ciclo de Krebs, gerando energia).
Alguns aminoácidos são glicogênicos, sofrendo gliconeogênese no fígado e nos rins, para formar glicose (manter a glicemia).
- Considerações especiais sobre os gatos
Os gatos são carnívoros estritos. As enzimas envolvidas no catabolismo de proteínas e na gliconeogênese nestes animais têm alta atividade (não sofrem mudanças em sua atividade, independente de alterações na dieta do gato). Por esse motivo, ingerindo pouca ou muita proteína, estas enzimas continuam em atividade alta, o que faz com que os gatos tenham baixa capacidade de retenção de nitrogênio.
Arginina e taurina são aminoácidos essenciais para gatos.
*Arginina: A arginina é formada a partir da ornitina. O gato possui baixa atividade das enzimas responsáveis pela conversão do glutamato e da prolina em ornitina na mucosa intestinal. Isso leva a pouca formação de arginina. Estas enzimas são: Prolina-S-carboxilato sintetase e Ornitina aminotransferase.
Dietas deficientes em arginina geram hiperamonemia, pois sem a arginina ocorre deficiência na excreção da uréia (ciclo da uréia). Para o ciclo da uréia funcionar é necessária a arginina, pois sem ela não se forma a arginase, não excretando uréia.
Os sintomas da hiperamonemia são: vômitos, espasmos musculares, ataxia, hiperestesia (sensibilidade ao toque), podendo levar ao como e a morte.
*Taurina: A taurina (ácido-beta-amino sulfônico) é derivada da metionina e cisteína (aminoácidos sulfurados – contêm enxofre), ou seja, na verdade não é um aminoácido e sim um derivado de um.
A taurina é de grande importância para os felinos:
É componente dos sais biliares: vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) estão presentes nas gorduras e sem os sais biliares não são absorvidas.
Importante para o funcionamento da retina: pode levar a cegueira.
Função normal do miocárdio.
Reprodução.
Proteínas de origem vegetal não são bem digeridas pelos felinos, precisam de proteína animal.
As enzimas responsáveis pela obtenção de taurina são: ácido cisteino sulfínico e decarboxilase. A decarboxilase tem baixa atividade no gato, por isso não conseguem usar com eficiência a proteína vegetal.
Os sintomas de deficiência de taurina são:
Degeneração da retina: fica para sempre, mesmo que restabeleça a taurina na dieta.
Cardiomiopatia: diminuição da contratilidade do miocárdio (falência cardíaca). Com suplementação a melhora ocorre em 2 a 3 semanas.
Deficiência na digestão das gorduras.
Fontes de taurina: carne, frango e peixe cru. Alimentar gatos com ração de cães leva a deficiência de taurina.
Aminoácidos sulfurados: também são importante para produção de felinina, uma substância eliminada pelos gatos para marcar território.
Observações importantes
Cães e gatos com problemas renais – deve-se diminuir a porcentagem de proteína da dieta para não sobrecarregar os rins. Usar proteína animal (mais digestível).
Deficiência de proteína – letargia, baixa resistência a doenças (diminui a produção de anticorpos: são formados à partir de aminoácidos).
Deficiência de aminoácidos essenciais – leva à:
Diminuição no crescimento.
Aumento da conversão alimentar (quantidade de alimento que o animal precisa ingerir para formar 1kg de peso) – terá que ingerir mais ração para atingir 1kg de peso. Esse aumento é causado por ração desbalanceada.
Diminuição na produção de leite.
Empenamento deficiente (frangos).
Piora o rendimento de carcaça – piora na formação de carne (massa muscular).
Regulação hormonal:
Tiroxina – mantém o equilíbrio entre o anabolismo (construção) e o catabolismo (quebra) protéico.
Insulina – inibe a gliconeogênese.

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