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GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas Orgs: Maria Lília Imbiriba Sousa Colares Solange Helena Ximenes-Rocha Anselmo Alencar Colares 2012 GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas Orgs: Maria Lília Imbiriba Sousa Colares Solange Helena Ximenes-Rocha Anselmo Alencar Colares 2012 Gestão educacional: práticas flexíveis e proposições para as escolas púbicas / organizadoras, Maria Lília Imbiriba Sousa Colares, Solange Helena Ximenes-Rocha, Anselmo Alencar Colares. ─ Belém: GTR, 2012. 160 p.: il.; 23 cm. ISBN 978-85-79881-34-3 1. Gestão escolar. 2. Escola pública. I. Colares, Maria Lília Imbiriba Sousa. II. Ximenes-Rocha, Solange Helena. III. Colares, Anselmo Alencar. CDU: 37.018.591 SUMÁRIO CAPÍTULOS AUTOR (AS) 1. Formação Continuada e Gestão Democrática na Educação Básica Pública Maria Lília Imbiriba Sousa Colares Solange Helena Ximenes-Rocha Anselmo Alencar Colares 13 2. Sala Ambiente Projeto Vivencial: um espaço de reflexão sobre a gestão escolar. Eleny Brandão Cavalcante 22 3. Gestão escolar inclusiva na perspectiva dialógica e coletiva Carlos José de Melo Moreira 34 4. A elaboração do projeto Político-Pedagógico com base na gestão democrática: Os entraves na participação coletiva Cleoneide Lobato Nahum Haroldo Cesar Souza de Andrade 49 5. Projeto Político-Pedagógico como prática da gestão democrática Silvia Carvalho de Sousa Luís Alípio Gomes 59 6. Projeto Político-Pedagógico: construir para democratizar a gestão da Escola Princesa Izabel1 Naracy Maria de Souza Pereira Jane Isabel Oliveira Fernandes 69 7. A construção do projeto Político-Pedagógico na formação da cidadania Ana Figueira Lopes Silvana Pacheco 79 8. Escola e Família: O sucesso na educação do aluno Bruna Roberta Feleol Marques Márcia Miranda Nunes 91 9. Participação dos pais na escola pública, um elemento essencial para garantir o sucesso na aprendizagem escolar – um estudo na escola professor Orlando Costa Eliane Gracy Lemos Barreto Marinelza Figueira 102 10. A importância da participação dos pais no processo de elaboração do projeto Político- Pedagógico Ivanilson Porto Silva Risalva dos Santos Branches 115 11. Discutindo aspectos avaliativos da aprendizagem a partir da efetivação do projeto Político-Pedagógico da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Anselmo Pietrulla Rosilda Perpétua Lima de Andrade Adailson Viana 125 12. Projeto Político-Pedagógico: construção numa perspectiva democrática Raimunda dos Santos Mamede Elenise Pinto de Arruda 135 13. Evasão Escolar: Uma questão a ser superada na escola? Darlene Andrade de Sousa Maria do Desterro Lima 147 GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 7 APRESENTAÇÃO Gestão Educacional: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas reúne textos oriundos de aprendizagens adquiridas no Curso de Especialização em Gestão Escolar, modalidade EAD, vinculada ao Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica Pública MEC/SEB, parceria com a SEDUC/PA e UNDIME/PA. Os capítulos contemplam textos originalmente apresentados como Trabalhos de Conclusão do Curso, além de reflexões de pesquisadores que ministraram disciplinas no referido curso. Em 2010 a Universidade Federal do Oeste do Pará/UFOPA assinou um termo de adesão com o Ministério de Educação e posteriormente firmou convênio com a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa/ FADESP para a execução do Curso de Especialização em Gestão Escolar, Pós- Graduação Lato Sensu, voltado para a formação continuada de dirigentes da educação básica. Objetivou contribuir com a qualificação do gestor escolar na perspectiva da gestão democrática e da efetivação do direito à educação escolar básica com qualidade social. O curso foi executado no período de março de 2011 a maio de 2012, tendo sido estruturado com carga horária de 400 (quatrocentas) horas, incluindo elaboração e apresentação de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Essa carga horária foi assim distribuída: a) Introdução ao Ambiente Moodle e ao Curso (40h), e; b) Salas Ambientes e TCC (360h), sendo seis salas: I - Fundamentos do Direito à Educação (60h); II - Políticas e Gestão na Educação (60h); III - Planejamento e Práticas da Gestão Escolar (60h); IV - Tópicos Especiais/Conselhos Escolares (30h); V - Oficinas Tecnológicas (30h), e; VI - Projeto Vivencial (80h) e TCC (40). As disciplinas foram oferecidas de tal forma que permitissem a dedicação e a apropriação dos conteúdos curriculares por parte dos cursistas bem como o acompanhamento e a realização de atividades didático- pedagógicas e de avaliação por parte dos professores. Além dos estudos por meio das Salas Ambientes, foram realizados encontros presenciais visando integrar cursistas/docentes e orientar as atividades propostas nas várias disciplinas e no Projeto de Intervenção que foi realizado em estreita relação com o Projeto Político-Pedagógico das escolas. O curso proporcionou importantes reflexões e debates em torno da gestão escolar, gerando aprendizagens significativas que foram consolidadas nos projetos de intervenção. Ao organizarmos este livro estamos oportunizando a pesquisadores e educadores, professores e estudantes, o GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 8 acesso aos trabalhos desenvolvidos pelos gestores escolares e, desta forma, ampliando a compreensão em torno de uma temática tão relevante. O livro é aberto pelo texto “Formação continuada e gestão democrática na educação básica pública” de Maria Lília Imbiriba Sousa Colares, Solange Helena Ximenes-Rocha e Anselmo Alencar Colares. Os autores apontam a formação continuada como fator importante na efetivação da gestão democrática. Fundamentam-se em leituras e vivências enquanto docentes da área de formação de professores tanto na graduação quanto em programas de pós-graduação, e na implantação do curso de especialização em gestão escolar na Universidade Federal do Oeste do Pará/UFOPA. A análise prende- se as reais possibilidades de formação continuada de gestores de escolas públicas do interior da Amazônia, na perspectiva de uma gestão democrática. Eleny Brandão Cavalcante, autora do segundo capítulo “Sala Ambiente Projeto Vivencial: um espaço de reflexão sobre a gestão escolar” apresenta o resultado da experiência obtida como coordenadora da Sala Ambiente Projeto Vivencial do curso de especialização em gestão escolar da UFOPA. Reflete sobre a educação a distância como importante ferramenta para a formação continuada, aliada a proposta da disciplina de construção de uma gestão democrática, por meio da formação dos gestores das escolas públicas da educação básica. Destaca que foi possível interagir, discutir, refletir sobre a realidade educacional, fundamentando-se na gestão democrática e oportunizando um ambiente de trocas e análises críticas da escola e da gestão, visando a melhoria da educação pública da Região Oeste do Pará. No terceiro capítulo “Gestão Escolar Inclusiva na perspectiva dialógica e coletiva”, Carlos José de Melo Moreira, destaca que a inclusão é um dos desafios colocados à gestão escolar e à formação docente, em face da construção do projeto de uma escola fundamentada no direito. Aprofunda o sentido da gestão na perspectiva da inclusão, no contexto sistêmico e na prática do exercício do diálogo como ferramenta pedagógica coletiva. Ressalta a importância do diálogo na perspectiva de David Bohm, na interface com as ideias Freireanas. No capítulo 4, denominado “A elaboração do projeto político-pedagógico com base na gestão democrática: Os entraves na participaçãocoletiva” Cleoneide Lobato Nahum e Cézar Andrade, tecem considerações referentes ao processo de elaboração do Projeto Político-Pedagógico (PPP) e sua importância na gestão democrática. Abordam a importância da elaboração do Projeto Político- Pedagógico com a participação de todos os envolvidos no processo educacional, destacando que a gestão democrática deve permear o processo educacional. Evidenciam alguns entraves que dificultam a participação da comunidade GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 9 escolar, comprometendo o êxito dos resultados. O quinto capítulo tem como autores Silvia Carvalho de Sousa e Luís Alípio Gomes. Intitula-se “Projeto Político-Pedagógico como prática da gestão democrática”. Faz uma reflexão do contexto da gestão democrática e do planejamento das ações, tanto institucional quanto pedagógico. Destaca a figura do gestor escolar como líder coletivo nas atividades de elaboração do Projeto Político-Pedagógico (PPP). Relata a experiência da aplicação do Projeto de Intervenção realizado em uma escola localizada na parte urbana do Município de Santarém, e que já possui o Projeto Político-Pedagógico. O texto aponta ainda que a execução do PPP faz com que a comunidade escolar não apenas conheça, mas participe efetivamente de sua implementação visando uma melhor qualidade de ensino aprendizagem. Naracy Maria de Souza Pereira e Jane Isabel Oliveira Fernandes, no capítulo seis, denominado “Projeto Político-Pedagógico: construir para democratizar a gestão da Escola Princesa Izabel” apresentam alguns dos elementos básicos para a elaboração e a gestão do PPP, estabelecendo premissas para a construção de um projeto consistente no alcance de seus objetivos. Defendem que o PPP passe a ser uma direção, um norte para a execução das ações da escola, e incluem o conselho escolar como condição de êxito na execução do projeto e na democratização da gestão. O capítulo sete, denominado “A construção do projeto Político-Pedagógico na formação da cidadania” de Ana Figueira Lopes e Silvana Pacheco, faz uma reflexão sobre a construção do Projeto Político-Pedagógico na Formação da Cidadania objetivando oportunizar a comunidade escolar e extraescolar, momentos de estudo, debates e reflexão. Destaca que é preciso entender o projeto Político-Pedagógico da escola em um horizonte de possibilidades na caminhada cotidiana, imprimindo uma direção que se deriva de respostas a um leque de indagações quanto a organização da escola. O texto apresenta os resultados do projeto de intervenção realizado como pesquisa de campo de abordagem qualitativa, envolvendo professores e membros do conselho escolar de uma unidade de ensino da rede municipal de educação. Bruna Roberta Feleol Marques e Márcia Miranda Nunes, no Capítulo “Escola e Família: o sucesso na educação do aluno” discutem a importância da família e da comunidade na busca por uma educação de qualidade. Enfatizam que o sucesso da relação entre escola, família e comunidade é de extrema importância na construção da identidade e autonomia do aluno. O acompanhamento da família, durante o processo educacional, leva a aquisição de segurança por parte dos filhos que se sentem duplamente amparados, ora pelo professor, ora pelos pais, o que irá incorrer em melhorias dos processos GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 10 tanto de ensino quanto de aprendizagem. O capítulo nove “Participação dos Pais na Escola Pública, um elemento essencial para garantir o sucesso na aprendizagem escolar: um estudo na escola professor Orlando Costa”, tem como autores Eliane Gracy Lemos Barreto e Marinelza Figueira. Aborda a importância da interação família- escola para o sucesso do processo ensino-aprendizagem. Destaca a necessidade da escola trabalhar de forma coletiva. Demonstra ainda como inadiável uma atitude da escola na revisão de seus métodos para a promoção de tal interação, e, por conseguinte, do sucesso na qualidade do ensino. No capítulo dez, Ivanilson Porto Silva e Risalva dos Santos Branches, abordam sobre a importância da participação dos pais no processo de elaboração do Projeto Político-Pedagógico. Apresentam as bases legais, a identidade no contexto escolar, e a ação participativa dos pais na elaboração do PPP. Destacam que o projeto precisa ser elaborado de modo que atenda às necessidades de alunos, professores, pais e funcionários, norteando assim as práticas do cotidiano escolar. “Discutindo aspectos avaliativos da aprendizagem a partir da efetivação do projeto Político-Pedagógico da escola municipal de ensino fundamental Dom Anselmo Pietrulla” é o título do capítulo que tem como autores Rosilda Perpétua Lima de Andrade e Adailson Viana. Relata a experiência do projeto de intervenção cujo objetivo foi esclarecer sobre os aspectos avaliativos na perspectiva da aprendizagem. Apresenta a diferença entre: avaliação e verificação; instrumentos avaliativos; critérios avaliativos. O texto também destaca a importância da escola refletir sobre suas problemáticas no contexto da avaliação. No capítulo 12, “Projeto Político-Pedagógico: construção numa perspectiva democrática” Raimunda dos Santos Mamede e Elenise Pinto de Arruda apresentam o projeto de intervenção cujos objetivos foram verificar se houve a participação democrática na sua construção e contribuir para o conhecimento e o reconhecimento da importância do PPP. Destacam que 95% dos pesquisados não participaram da construção do Projeto Político- Pedagógico da escola e 94 % não participam das ações pedagógicas. Contudo, 98% reconhecem a importância do PPP. Constatou-se ainda que há interesse dos membros da comunidade em fazer parte das decisões da escola, mas para isto se faz necessário uma articulação efetiva promovendo a execução de atividades conjuntas. No Capítulo 13, Darlene Andrade de Sousa Maria do Desterro Lima questionam: “Evasão Escolar: Uma questão a ser superada na escola? Em busca da resposta discutem a problemática da evasão escolar, tema que preocupado não apenas os educadores que lidam diretamente com essa GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 11 situação, mas também os diversos responsáveis pelas políticas públicas. Conforme já destacado, a maioria dos capítulos que compõem este livro, resulta de relatos dos projetos de intervenção desenvolvidos ao longo do curso de especialização em gestão escolar. Portanto, são elucidativos da aprendizagem continuada de gestores escolares que atuam em escolas públicas do interior da Amazônia brasileira. Somadas às reflexões realizadas pelos docentes que ministraram disciplinas ou atuaram na coordenação do Curso de Especialização em Gestão Escolar, pretendem estimular o debate e oferecer contribuições para a melhoria da compreensão e para o aperfeiçoamento das ações com vistas a consolidação da gestão democrática nas escolas públicas. Maria Lília Imbiriba Sousa Colares Solange Helena Ximenes-Rocha Anselmo Alencar Colares GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 13 CAPÍTULO 1 FORMAÇÃO CONTINUADA E GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA Maria Lília Imbiriba Sousa Colares Solange Helena Ximenes-Rocha Anselmo Alencar Colares INTRODUÇÃO Indiscutivelmente, ampliaram-se os debates na educação básica, em termos de diretrizes para a melhoria da qualidade, devido às novas exigências do sistema produtivo e de uma formação que contemple uma cidadania mais ampla. É dentro deste contexto que apresentam-se novas tendências e ações inovadoras na esfera da gestão escolar. Destaca-se, neste aspecto, a utilização da Educação a Distância (EAD), como estratégia de formação continuada dos profissionais que atuam na educação, em seus diferentes níveis e modalidades.É o caso, por exemplo, do Curso de Especialização em Gestão Escolar, do Programa Nacional Escola de Gestores. Instituído no âmbito do Instituto Nacional de estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), na gestão do ministro da educação Tarso Genro (2003-2004), o projeto piloto Escola de Gestores visava a formação dos diretores das escolas, dado que o ministério da educação (MEC) via na gestão o caminho primordial para a elevação da qualidade do ensino fundamental das escolas públicas. A justificativa apresentada para a instituição deste projeto, decorria em parte, da análise feita pelo MEC a respeito do baixo desempenho dos estudantes no senso escolar de 2004, bem como dos resultados do Sistema de Avaliação Básica (SAEB). Segundo setores do governo federal, como a secretaria de educação básica, a melhoria da qualidade da educação nas escolas publicas estaria relacionada ao fortalecimento de uma gestão escolar democrática, participativa e que garantisse mudanças. (AGUIAR, 2011, p. 68-69). O acelerado desenvolvimento tecnológico no setor de comunicações, nas últimas décadas, abriu novas perspectivas para a democratização e a melhoria do padrão de qualidade da educação, na medida em que possibilita o aumento do número de pessoas atendidas, maior abrangência geográfica, bem como a troca de informações e experiências de forma mais rápida e com custos mais baixos, se comparados com as formas tradicionais. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 14 A EAD tem avançado de forma acelerada com o desenvolvimento tecnológico e a redução dos preconceitos anteriormente associados a esta modalidade. Hoje há maior entendimento de que o fato de ser a distância não implica em ausência de contato entre professor e aluno. Pelo contrário, pode haver até mais interatividade do que no sistema presencial, graças ao aperfeiçoamento dos mecanismos técnicos e dos procedimentos docentes que disponibilizam ferramentas apropriadas, de tal modo que a comunicação entre o professor e o aluno possa se realizar de diferentes formas, incluindo as tradicionais, tais como os impressos, até os mais sofisticados, que permitem o contato em tempo real. Na esfera federal, a EAD recebeu uma atenção especial no âmbito do Ministério da Educação através da criação da Secretaria de Educação a Distância, encarregada de investir nesta modalidade e nas novas tecnologias como uma das estratégias para democratizar e elevar o padrão de qualidade da educação brasileira e, em especial, na concretização da gestão democrática. Este artigo enfatiza a importância da formação continuada para que se obtenha as mudanças desejadas, compreendendo-se que elas passam pela construção e reconstrução do conhecimento. Está fundamentado em uma situação concreta – o curso de especialização em Gestão escolar, implementado na Universidade Federal do Oeste do Pará/UFOPA - a partir da análise quanto as reais possibilidades de formação de gestores de escolas públicas. Buscamos apresentar os propósitos do curso e como estão sendo efetivados, uma vez que a política de formação do programa nacional escola de gestores objetiva que os gestores possuam o aporte teórico para ajudar na implementação da efetiva gestão democrática. DEMOCRACIA E GESTÃO ESCOLAR Compreendemos que a qualidade da educação está relacionada à democratização do ensino público. Não pode ser confundida com a qualidade voltada aos interesses do capital, nem meramente a elevação de índices estatísticos com relação à repetência. Mas este entendimento passa pela formação dos sujeitos que atuam em diferentes espaços escolares e, fundamentalmente, dos gestores públicos. Daí porque consideramos relevante e pertinente empreendermos uma reflexão avaliativa de uma ação concreta que está sendo realizada nesta perspectiva, que é o curso de Especialização em Gestão Escolar, modalidade EAD, na Universidade Federal do Oeste do Pará. Considerando que o referido curso é o primeiro GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 15 a ser implantado pela Escola de Gestores na Ufopa, a análise será focada na estruturação pedagógica do curso e nos processos relacionados a sua implantação. A gestão democrática da educação está relacionada a mais do que uma simples mudança nas estruturas organizacionais e requer mudanças de paradigmas que fundamentem a construção de uma nova proposta educacional e o desenvolvimento de uma gestão onde haja participação dos envolvidos no processo educativo, ou seja, uma gestão efetivamente democrática. Nesta perspectiva, tomamos a posição de Cury (2002) quando afirma: A gestão implica um ou mais interlocutores com os quais se dialoga pela arte de interrogar e pela paciência em buscar respostas que possam auxiliar no governo da educação segundo a justiça. Nesta perspectiva a, a gestão implica o diálogo como forma superior de encontro das pessoas e solução dos conflitos. (p. 165) A gestão democrática da escola e dos sistemas é um dos princípios constitucionais do ensino público, segundo o art. 206 da Constituição Federal de 1988. O pleno desenvolvimento da pessoa, marca da educação como dever de Estado e direito do cidadão, conforme o art. 205 da mesma Constituição, ficaria incompleto se tal princípio não se efetivar em práticas concretas no chão da escola. Tais observações correspondem a uma clara compreensão da relação central entre a formação continuada de gestores escolares e o avanço da qualidade do ensino, da realização e do fortalecimento da gestão democrática da educação pública. Entendemos, por conseguinte, que a escola tem um papel fundamental para que possamos avançar na efetiva gestão democrática, em todos os espaços coletivos. PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES (PNEG): a imPlaNtação Na UFoPa O PNEG surgiu da necessidade de se construir um processo de formação de gestores escolares, que contemplasse a concepção do caráter público da educação e da busca de sua qualidade social, baseada nos princípios da gestão democrática, e considerando a escola na perspectiva da inclusão social e da emancipação humana. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 16 A formação continuada de gestores da educação básica, no Brasil, teve um grande impulso no âmbito das políticas do governo federal a partir de 2003 com o desenvolvimento de ações direcionadas à formação de profissionais da educação. Se, de um lado, pode- se atribuir este interesse a influência decorrente de acordos internacionais firmados entre o Brasil e os organismos multilaterais que reiteradamente apontam a gestão eficiente e eficaz como o elemento chave para assegurar a boa qualidade do sistema de ensino e das escolas, de outro lado não se pode subestimar a importância da movimentação da sociedade civil organizada, que conseguiu inscrever a gestão democrática da educação como princípio constitucional, além de sua contribuição ao debate sobre as políticas na área. Lançado em 2004 pelo ministro Tarso Genro com o nome Escola de Gestores, o Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica se propunha a contemplar a formação de professores-gestores da educação básica. (AGUIAR, 2011, p. 68) O Programa tem por objetivo contribuir com a formação efetiva de gestores educacionais da escola pública, de modo que passem a dispor de elementos teórico-práticos que viabilizem a educação escolar básica com qualidade social. Esse Programa é componente do Compromisso Todos pela Educação, plano de metas no âmbito do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e diz respeito à mobilização em torno da melhoria da educação básica no Brasil, contribuindo para a melhoria do IDEB das escolas e dos sistemas de ensino. As políticas voltadas para a articulação, o desenvolvimentoe o fortalecimento dos sistemas de ensino e das escolas vêm sendo produzidas e implementadas com a participação de várias instituições, destacando-se a interlocução com entidades e organizações como ANDIFES, ANPED, ANPAE, FORUMDIR, UNDIME e CONSED. Além disso, sustenta-se no princípio da descentralização e parceria na sua formulação e realização, considerando a realidade multifacetada que define a educação em nosso país. Ressalte- se, ainda, como um dos pilares dessas políticas, a afirmação do princípio da gratuidade do ensino, também no âmbito da formação continuada dos profissionais da educação. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 17 Para efetivar o programa, foram firmadas diversas parcerias, incluindo as universidades públicas federais, pela compreensão e reconhecimento de que elas constituem lócus privilegiado de formação e produção de conhecimento, o que inclui a formação de gestores educacionais para atuar na perspectiva da gestão democrática e da educação inclusiva. O curso de especialização envolve quatro agências: o MEC, que propõe, coordena e financia; os estados e municípios, que participam do comitê interinstitucional implantado em cada estado da federação e autorizam e facilitam para que os gestores das respectivas escolas façam o curso; e as universidades federais, como estruturas descentralizadas que implantam e coordenam o curso. (GOMES; SANTOS; MELO, 2009, p. 268). Tratava-se de uma proposta pedagógica, inovadora, tendo em vista dois aspectos que se destacava no currículo desenvolvido. Buscava-se romper com a lógica disciplinar comum (modulação, por exemplo) nos cursos de especialização na área, ao conferir centralidade à sala-ambiente Projeto Vivencial que se constituía em componente articulador do curso. (AGUIAR, 2011, p. 75) Havia a compreensão de que somente com o suporte das universidades, presentes em todas as unidades da federação, seria possível modificar a realidade dos indicadores estatísticos que demonstravam um quadro deficitário no que se refere à formação e qualificação dos gestores escolares e também muitas desigualdades regionais. De acordo com as Diretrizes da Escola de Gestores (2007), nas regiões norte, nordeste e centro-oeste apenas cerca de 70% dos dirigentes escolares possuíam formação em nível superior, e destes, pouco mais de 20% havia cursado pós-graduação lato sensu/especialização. Tais indicadores justificaram a oferta do Curso de Especialização em Gestão Escolar na modalidade EAD. O projeto piloto aconteceu em 2006/2007, envolvendo dez universidades federais1 e atendendo aproximadamente quatro mil cursistas. Na região Norte, as primeiras turmas foram ofertadas na segunda edição do programa, 2008/2009, por intermédio das Universidades Federais 1 UFRN, UFPE, UFMT, UFES, UFPI, UFT, UFC, UFBA, UFRGS e UFSC. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 18 do Pará/UFPA, do Amazonas/UFAM, de Rondônia/UNIR, do Amapá e de Roraima/UFRR. O estado do Acre não aderiu ao Programa pelo fato de já oferecer especialização aos seus gestores. No caso específico do Estado do Pará, a criação de uma nova universidade federal em novembro de 2009, já se mostra reveladora da necessidade de maior atenção no que diz respeito a formação inicial e continuada da população de sua área de abrangência, o Oeste do Pará. Embora a primeira turma do curso de Gestão Escolar, não contemple alunos de todos os municípios da Região, está prevista a expansão gradativa uma vez que a carência de qualificação dos gestores é muito alta, e o curso de especialização em gestão escolar do programa nacional escola de gestores representa praticamente a única oportunidade para que possam ter acesso à formação continuada em uma instituição pública. A implementação da Escola de Gestores na Universidade Federal do Oeste do Pará iniciou com a discussão e aprovação, em 02 de setembro de 2010, do projeto do curso de Especialização em Gestão Escolar, no âmbito do Programa de Pedagogia do Instituto de Ciências da Educação/ ICED. Posteriormente a Resolução Nº 01, de 29 de setembro de 2010, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e Inovação Tecnológica/ PROPPIT, autorizou a oferta do curso em parceria com a Secretaria de Educação Básica/MEC, e a União dos Dirigentes Municipais da Educação (UNDIME) por meio do acordo firmado entre as secretarias municipais de educação dos municípios de Santarém e Belterra, além da secretaria estadual de educação (SEDUC), por intermédio da 5ª Unidade Regional de Ensino. Nesta primeira turma foram matriculados 411 gestores dos seguintes municípios: Alenquer; Aveiro; Juruti; Itaituba; Monte Alegre; Óbidos; Oriximiná; Belterra e Curuá. As vagas ofertadas foram distribuídas para as redes estaduais e municipais de ensino de acordo com a demanda de cada uma. Os estudantes são diretores e vice diretores, em exercício, de escolas públicas municipais e/ ou estaduais de educação básica, incluído aqueles de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de Educação Profissional. O curso foi ofertado na modalidade de educação a distância (EAD), com um total de 400 (quatrocentas) horas e apresentação ao final de trabalho de conclusão de curso (TCC) em forma de artigo. A estrutura curricular foi composta de oito disciplinas, sendo três disciplinas com 60 h/a cada, uma disciplina de 40 h/a, duas disciplinas de 30 h/a, uma de 80h/a e o TCC de 40h, totalizando 400 h/a, com 24 créditos. As disciplinas foram oferecidas ao longo de 13 meses, distribuídas GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 19 de forma que permitissem a dedicação e apropriação dos conteúdos curriculares por parte dos cursistas e o acompanhamento e a realização de atividades didático-pedagógicas e de avaliação por parte dos professores. O curso foi organizado em dez turmas, cada uma com quarenta alunos, as quais dispuseram de um professor para o atendimento da parte de conteúdos e avaliação, além de dois professores assistentes para o acompanhamento das tarefas e a verificação do efetivo uso da plataforma. A sistemática de avaliação de aprendizagem do aluno no curso se deu por intermédio de atividades executadas no ambiente virtual de aprendizagem moodle (com a postagem de textos e/ou participação nos fóruns de debates) e também através de atividades presenciais, assim como a Auto-avaliação, a participação no projeto vivencial e o trabalho de conclusão de curso em formato de artigo. Os professores e os cursistas foram devidamente qualificados para interagir no Ambiente Virtual de Aprendizagem. Para isto, a coordenação geral viabilizou aos professores um curso de introdução ao ambiente moodle. Já os estudantes cursaram a primeira disciplina com esta finalidade. O ambiente moodle foi administrado numa base da Secretaria de Educação Básica do MEC, com um administrador local. Quanto ao apoio técnico às atividades dos docentes e discentes do curso ofertado pela UFOPA, há dois técnicos em sistemas de informação contratados especificamente para este fim. O curso busca favorecer melhorias e incentivar inovações na prática cotidiana da gestão escolar que concorram para a elevação qualitativa do padrão de escolaridade da educação básica. Deste modo, estruturou-se em três eixos vinculados entre si: O direito à educação e a função social da escola básica; Políticas de educação e a gestão democrática da escola; Projeto Político-Pedagógico e Práticas Democráticas na Gestão Escolar. Considerando os pressupostos, os objetivos, a natureza e a dinamicidade da proposta pedagógica do curso, as atividades desenvolvidas pelos cursistas foram acompanhadas e avaliadas de modo continuo pelos professores orientadores, professores assistentes e coordenações das diversassalas ambientes. Essa equipe manteve-se em constante interação visando a troca de informações, a apreciação conjunta das dificuldades e a busca de soluções relacionadas às dificuldades de cada componente curricular. De um modo geral, a avaliação deu ênfase ao processo de aprendizagem, assumindo a ótica da investigação. Neste sentido, avaliação desenvolveu- se de forma compartilhada: professor/professor assistente/coordenador de sala e cursista, procurando compreender o processo de construção do GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 20 conhecimento na prática docente. Devido a natureza interativa desse processo, o diálogo constituiu base principal da avaliação, cabendo aos docentes/professores assistentes a iniciativa de proporcionar os estímulos e incentivos necessários ao desenvolvimento dessa prática pedagógica respeitando e estimulando o cursista parceiro ativo nessa interação. Todavia, compreendemos que não basta que ocorra a preocupação e o acompanhamento quanto a utilização dos recursos tecnológicos. É preciso atentar para o processo pedagógico, se desejarmos, de fato, alcançar transformações substanciais, e para que não retornemos ao velho modelo tecnicista, somente com nova roupagem. Mesmo porque, [...] estas novas tecnologias de comunicação e informação podem vir a se constituir em um importante elemento destas transformações se pudermos vê-las em outra perspectiva que não a de simples instrumentos metodológicos mais modernos que podem ser implantados de forma isolada e desarticulada, mantendo crianças, jovens, adolescentes e professores como meros consumidores de um conhecimento pronto que passa agora a circular e ser entregue via as ditas novas tecnologias. Em oposição a isso, se pensamos nas tecnologias a serviço da produção de conhecimento e de cultura, podemos pensar na inserção do país no mercado mundial dito globalizado, numa outra perspectiva. Uma perspectiva de efetiva cidadania. (PRETTO, 1999, p. 84). Assim, o curso de especialização em gestão escolar foi desenvolvido por meio da EAD, mas, integrado a um conjunto de ações formativas presenciais, e sempre buscando democratizar ainda mais o acesso a novos espaços e ações formativas com vistas ao fortalecimento da escola pública como direito social básico, uma vez que essa modalidade de educação possibilita, dentre outras: maior flexibilidade na organização e desenvolvimento dos estudos; fortalecimento da autonomia intelectual no processo formativo; acesso às novas tecnologias da informação e comunicação. Na perspectiva da gestão democrática da educação, GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 21 orienta-se, pois, pela afirmação do direito à educação escolar básica com qualidade social. Assim, os componentes curriculares e a abordagem teórico-metodológica deverão considerar os fatores externos e internos associados à produção e gestão da escola. CONSIDERAÇõES FINAIS O espaço da escola deve ser pautado nos princípios democráticos, de modo que educadores, profissionais, alunos, pais, e demais cidadãos estejam bem informados e possam ter efetiva participação crítica no desenvolvimento das ações cotidianas. Somente assim a escola pode contribuir concretamente para ampliar a compreensão de todos quanto às políticas educacionais emanadas do Estado. Neste capítulo, buscamos evidenciar que a democracia é um aprendizado que se faz ao caminharmos com fundamentação, e isto requer formação inicial e continuada, para a qual a EAD tem se apresentado como recurso estratégico indispensável, especialmente nos locais onde a presença do Estado ainda é mínima, no que diz respeito a oferta de curso voltados para a qualificação de gestores escolares. A escola tem um papel fundamental no processo de transformação da sociedade, rumo a construção de espaços coletivos, apesar da ênfase que é dada a ideia de que o indivíduo, sozinho, é capaz de “vencer e alcançar sucesso”, desde que tenha competência suficiente para vencer os demais “concorrentes”. Neste sentido, faz-se necessário o preparo dos gestores a fim de que possa propor alternativas que resultem efetivamente na participação, fator primordial para que a gestão democrática se concretize. REFERÊNCIAS AGUIAR, Marcia Angelo da S. Formação em gestão escolar no Brasil nos anos 2000: políticas e práticas. In: Revista Brasileira de Política e administração da Educação (RBPAE)/Associação Nacional de Política e Administração da Educação; Editora: Maria Beatriz Luci. Porto Alegre: ANPAE. v. 27. n. 1, p. 1-152. jan/abr 2011. CURY, Carlos Roberto Jamil. Gestão democrática da educação: exigências e desafios. In: Revista Brasileira de Política e administração da Educação. Associação Nacional de Política e Administração da educação. V.18, n 2 (jul/ dez). São Bernardo do Campo, SP: ANPAE, 2002. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 22 GOMES, A. M.; SANTOS, A. L. F. dos; MELO, D. B. Escola de gestores: política de formação em gestão escolar. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação. Associação Nacional de Política e Administração da educação. v25 n. 2 p. 263-281. Mai/ago. Porto Alegre: ANPAE, 2009. MEC. SECRETARIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA. Diretrizes Nacionais do Curso de Pós Graduação em Gestão Escolar. Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica. Brasília, 2007. PRETTO, N. Educação e inovação tecnológica. Um olhar sobre as políticas públicas brasileiras. In: Revista Brasileira de Educação. ANPED. São Paulo: Nº 11, Mai/Jun/Jul/Ago/1999. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 23 CAPÍTULO 2 SALA AMBIENTE PROJETO VIVENCIAL: UM ESPAÇO DE REFLEXÃO SOBRE A GESTÃO ESCOLAR. Eleny Brandão Cavalcante INTRODUÇÃO O presente capítulo descreve a experiência obtida como coordenadora da Sala Ambiente Projeto Vivencial/TCC, no Curso de Especialização em Gestão Escolar, realizado pela Universidade Federal do Oeste do Pará, UFOPA em parceria com o Programa Nacional da Escola de Gestores da Educação Básica MEC/SEB, com a SEDUC – 5ª URE – e UNDIME, através das Secretarias Municipais de Educação e Belterra. A experiência obtida nos permitiu refletir sobre a educação a distância como importante ferramenta para formação continuada, aliada a proposta da disciplina de construção de uma gestão democrática, por meio da formação dos gestores das escolas públicas do Município de Santarém e Belterra. Destacamos nesse capítulo, a sala ambiente Projeto Vivencial que acompanhou os cursistas durante todo o curso e oportunizou a relação entre teoria e prática, além de propor uma reflexão dos cursistas gestores acerca de sua realidade, por meio da construção de um Projeto de Intervenção, a partir de uma situação problema e posterior construção de um artigo, com o relato das experiências, que serviu como Trabalho de Conclusão de Curso. Devido a especificidades de nossa região, as principais dificuldades encontradas, de modo geral, foram com relação ao acesso a internet e plataforma de cursistas que moravam em regiões de difícil acesso, acarretando em problemas de comunicação dos professores com esses cursistas e em problemas com o cumprimento dos prazos de postagem das atividades. Apesar disso, foi possível interagir, discutir, refletir sobre a realidade educacional, fundamentado na gestão democrática e oportunizar um ambiente de trocas e análise crítica da escola e da gestão, visando a melhoria da educação pública de Santarém-PA. A EDUCAÇÃO A DISTâNCIA COMO UM NOVO RECURSO EDUCACIONAL O uso de novas tecnologias tem expandido significativamente nos últimos anos, configurando o que autores como Gadotti (2000) chamam de nova época, a era do conhecimento e da informação. O processode GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 24 globalização, o crescimento assustador das telecomunicações no mundo, as novas tecnologias, tem nos conduzido a delinear novos rumos e possibilidades para o campo educacional. A educação a distância é um desses caminhos. O acesso à informação está cada vez mais acessível e instantâneo, de modo que um acontecimento ocorrido no Brasil, por exemplo, em milésimos de segundos fica conhecido no mundo inteiro. Há tempo atrás isso poderia parecer assustador, mas, hoje, faz parte de nosso cotidiano e de nossa realidade. Gadotti (2000) refletindo sobre os dizeres de Silva (1996) aponta que estamos em uma verdadeira Revolução da Informação: A informação deixou de ser uma área ou especificidade para tornar-se uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como ocorreram, no passado, a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. (GADOTTI, 2000, p.249). Com todas essas transformações e essa Revolução da Informação, surgem novas formas de aprender e de ensinar, pois o campo educacional e a sociedade como um todo sofre influência dessas revoluções. As novas tecnologias criam novos espaços de conhecimentos, através de novas metodologias, estratégias de ensino e novas relações e interações educacionais. A escola lança mão dessas novas ferramentas em favor de sua finalidade maior que é a construção do conhecimento. Para Gadotti (2000) a escola precisa organizar-se por meio de projeto e aprender a conduzir suas transformações internas, visando à construção de escola e de uma educação de qualidade. Esses projetos devem pensar como agir frente a essa nova realidade e como utilizá-la para usufruir de seus benefícios em favor da educação: A escola precisa ter projeto, como já se inseriu em outras oportunidades, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio e a longo prazos, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus parâmetros curriculares, enfim, ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua prática/experiência dependerá o seu futuro. (GADOTTI, 2000, p.252). GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 25 O curso de especialização em Gestão Escolar e particularmente a Sala Ambiente Projeto Vivencial, enquadra-se justamente nesse ponto, na medida em que utiliza-se das novas tecnologias, através da educação a distância, para oportunizar o acesso igualitário a formação continuada e possibilitar que a escola através do gestor exerça sua autonomia. Para Eliasquevici e Fonseca (2004) a educação a distância tem como principal objetivo atender as novas modificações sociais e tecnológicas, primando pela inclusão educacional através desses recursos tecnológicos. As autoras afirmam que mesmo não tendo uma única conceituação de EAD, algumas características comuns podem ser destacadas nessa modalidade de ensino: separação professor-aluno, utilização de multimeios, respeito ao ritmo de aprendizagem, organização de apoio-tutorial, aprendizagem independente ou flexível, comunicação bidirecional, procedimentos industriais, etc. A EAD segundo as autoras configura-se como uma alternativa pedagógica, que tem como principal foco a desconstrução de uma educação tradicional e a exclusão, na medida em que cria: novas metodologias e formas de ensino-aprendizagem, diferentes instrumentos avaliativos, incentiva a autônoma do aluno e estabelece novas relações educacionais. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e os ciberespaços são os novos ambientes e os novos recursos de ensino-aprendizagem, que pode oportunizar a interação entre alunos e professores, ao mesmo tempo, em diferentes localidades do Brasil e do mundo. Esses novos espaços de aprendizagem, os chamados Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), apresentam diferentes funções como destaca Pereira Junior (2010): Os Ambientes Virtuais de Aprendizagens permitem a postagem de textos, desenhos, esquemas, fotos, animações, sons e vídeos. Os alunos podem salvar os arquivos disponíveis ou imprimi-los para posterior utilização. Nos AVAs, os alunos podem interagir com os professores e com os colegas em chats e fóruns de discussão. Podem ainda desenvolver as suas atividades, quer sejam apresentações, testes ou exercícios individuais ou em grupo, com a possibilidade de serem enviadas imediatamente para o professor ou para os participantes do curso. Os alunos podem fazer comentários sobre as atividades e as contribuições dos colegas, criando um clima de troca de experiências, concorrendo para a cooperação GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 26 e para a aprendizagem. Os professores podem fazer os comentários sobre as atividades entregues, assim como retornar comentários e solicitações. (PARREIRA JUNIOR, 2010, p. 82 e 83). Percebemos as muitas possibilidades dos AVAs, na educação a distância, oferendo diversos recursos pedagógicos similares aos utilizados nas aulas presenciais, porém com mais possibilidades de utilização simultânea de imagens, links, cores, sons, etc. No curso de especialização em Gestão Escolar, o ambiente virtual de aprendizagem utilizado foi a plataforma moodle. O Moodle (Modular Object Oriented Dynamic Learning Environment) é um ambiente de aprendizagem à distância que foi desenvolvido pelo australiano Martin Dougiamas em 1999. A plataforma moodle oportunizou a disponibilização para os alunos- cursistas todos os textos e atividades, assim como os links, referências, fóruns, chats etc para o desenvolvimento do curso, dando o suporte teórico através dos textos e o pedagógico, por meio da presença dos professores e coordenadores, através dos fóruns de interação. Dentro desse contexto, o curso de Gestão Escolar, por meio da EAD teve como objetivo auxiliar na construção de escolas na perspectiva da gestão democrática, a partir da formação dos gestores em exercício, visando trazer gestores e professores e toda a comunidade escolar, para o campo da educação como atores de sua realidade. Paulo Freire (1975) afirma que a escola deve ser um espaço de libertação, onde o conhecimento seja compartilhado e construído coletivamente. Assim, tanto educadores quanto educandos são sujeitos do processo educativo, pois ambos aprendem e ensinam uns aos outros. Assim, os gestores terão oportunidade de aprender com sua prática e ser o agente fomentador de debates, discussões, trocas, oficinas, que conduzam a construção de uma gestão democrática, tornando a escola um espaço de reflexão e libertação. A sala ambiente projeto vivencial oportunizou esse pensar a educação, através da problematização da realidade educacional e posterior ação sobre essa realidade, quando possibilitou aos seus gestores-cursistas o pensar sobre o seu fazer educacional. Nos próximos itens, deste capítulo, apresentamos a organização dessa sala ambiente Projeto Vivencial e TCC, seus objetivos, assim como o desenvolvimento do trabalho ao longo do curso, apontando seus aspectos positivos, os avanços, além de apontar lacunas e sugestões de melhoria. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 27 SALA AMBIENTE PROJETO VIVENCIAL: PRIMEIRAS DESCRIÇõES O curso de Especialização em Gestão Escolar foi realizado pela Universidade Federal do Oeste do Pará/UFOPA, em parceria com o Programa Nacional da Escola de Gestores da Educação Básica MEC/SEB, SEDUC, através da 5ª Unidade Regional de Ensino e UNDIME, por meio das Secretarias Municipais de Educação de Santarém e Belterra. A especialização contou com 10 pólos,sendo 9 pólos no município de Santarém e um pólo no Município de Belterra, município localizado à 48 Km de Santarém. Os pólos foram instalados no Núcleo Tecnológico da 5ª URE de Santarém, bem como em escolas Municipais de Ensino Público de Santarém e Belterra, que tinham laboratórios de informática, para a realização dos encontros presenciais e para os plantões, realizados todos os sábados para auxilio aos cursistas. A Sala Ambiente intitulada Projeto Vivencial (PV) teve como objetivos principais: a) ser um espaço de articulação entre e com as demais salas e componentes curriculares do curso; b) propiciar um movimento de reflexão teórico- prático entre os conteúdos e atividades propostos nos demais ambientes do curso, com a realidade cotidiana da escola. A disciplina teve a importante função de oportunizar a interligação entre as demais salas e a relação entre teoria e prática. Desse modo, os textos, as atividades e os fóruns de discussão conduziram o desenrolar da disciplina nesse sentido, de modo que o aluno pudesse refletir sobre sua realidade enquanto gestor, a partir das bases de uma gestão democrática. A sala ambiente também teve como responsabilidade trazer a prática para os cursistas, visando a realização do Trabalho de Conclusão de Curso. A disciplina acompanhou os alunos durante todo o curso, período no qual eles desenvolveram leituras relativas às seguintes temáticas: Projeto de Intervenção; o Trabalho do Gestor na Escola e o Projeto Político-Pedagógico. A sala ambiente de PV contou com a participação de 10 professores, sendo cada um responsável por um pólo, uma turma, com em média 35 a 40 alunos. O professor de pólo ou de turma era responsável pela condução da disciplina, nos aspectos relativos ao conteúdo, discussão das temáticas, correção das atividades, sanando as dúvidas dos alunos. Outro profissional muito importante também para o andamento da disciplina foram os professores assistentes, que foram ao todo 20, sendo 2 responsáveis por pólo. Os professores assistentes foram os que realizaram o acompanhamento dos alunos mais próximos, sanando suas dúvidas em relação ao manuseio da plataforma, assim como prestava auxilio presencial aos sábados no pólo, com o objetivo de atender as necessidades dos alunos presencialmente. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 28 Além, dos professores, tivemos 2 coordenadoras gerais do curso, que ficaram responsáveis pelos aspectos burocráticos e funcionais do curso como um todo, estando presentes nos pólos, visitando atender aos alunos e professores nos encontros presenciais e ouvindo as dúvidas e dificuldades, com o objetivo de encaminhá-las e resolvê-las para um melhor andamento do curso. Tivemos ainda o trabalho desenvolvido por duas coordenadoras de assistência que acompanhavam e reuniam mensalmente com os professores assistes, visando o melhor andamento do curso. Diretamente com a disciplina de PV trabalhando com os professores, tivemos uma coordenadora de sala, que articulava as reuniões, revisão dos materiais, adequação das atividades e assuntos relativos ao andamento da disciplina, assim como acompanhando as dificuldades dos professores e alunos. O contato entre a coordenação geral, a coordenação de sala e os professores realizaram-se por meio de reuniões de planejamento e avaliação, assim como, através da plataforma, por meio dos fóruns de interação, chats e e-mails. Foram realizados 2 chats gerais da disciplina de PV, envolvendo coordenação, professores e alunos e 1 chat entre professores e alunos. A ferramenta do chat foi muito importante para estabelecer uma maior e melhor relação entre a coordenação e os professores com os alunos, facilitando a comunicação direta e simultânea, tão necessária no processo de ensino-aprendizagem, mesmo no curso à distância. Os chats de modo geral foram avaliados como positivos, para quem teve a oportunidade de participar, inclusive entusiasmando e motivando os alunos para o estudo e realização do curso. Por outro lado, as dificuldades de acesso à internet de alguns cursistas que moram em regiões de várzea, muito comum em nossa região de rios, formam apontadas também pelos professores como empecilho para o não aproveitamento dessas ferramentas por parte desses alunos. A CONSTRUÇÃO DO TRABALhO DE CONCLUSÃO DE CURSO A produção do trabalho de Conclusão de Curso iniciou desde a primeira atividade da disciplina que propunha a construção do Projeto de Intervenção, que deveria ser elaborado a partir de uma avaliação diagnóstica da realidade da escola, e em seguida com a proposição de intervenção em uma situação “problema”. A atividade tinha como objeto central o Projeto Político-Pedagógico da escola, podendo o projeto de intervenção tem 3 focos: 1) a escola tem PPP, trabalhar como foi o processo de construção desse PPP e apontar algo que GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 29 precisa ser melhorado; 2) a escola não tem projeto, elaborar uma proposta para a implementação do PPP na escola e 3) outra temática relevante para escola que esteja relacionada com o PPP. Na sala ambiente PV, os alunos buscaram utilizar as leituras, atividades e discussões realizadas ao longo das disciplinas do curso, para refletirem sobre sua prática enquanto gestores, com o objetivo de repensá-las pautados nas bases de uma gestão democrática. Para alcançar esse objetivo os alunos realizaram uma análise na sua escola de atuação, a fim de perceber uma situação conflituosa, dentro do Projeto Político-Pedagógico, que lhe chamasse atenção para a partir dessa análise desenvolver um Projeto de Intervenção, visando modificar essa realidade. O projeto de Intervenção está baseado na pesquisa ação, na qual o pesquisador analisa a realidade, faz um levantamento, um diagnóstico de uma necessidade, uma situação problema, para construir uma ação de intervenção com o objetivo de modificar essa realidade. Pesquisa-ação segundo Thiollent (2005) é: Pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estrita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (TRIOLLENT, 2005, p.16). Baseado nessa concepção de pesquisa-ação, de intervenção na realidade de modo cooperativo e participativo, que foi proposto aos cursistas a elaboração do Projeto de Intervenção, que deveria ser construído e aplicado em sua própria escola de atuação. A DISCIPLINA DE PROJETO VIVENCIAL: ASPECTOS PEDAGóGICOS E METODOLóGICOS A organização da Sala Ambiente de Projeto Vivencial, assim como as demais salas tem suas leituras, atividades, além da realização do trabalho final que foi o artigo científico, relatando as experiências obtidas a partir da aplicação do Projeto de Intervenção. A disciplina foi composta de 3 unidades temáticas. A Unidade II tem como tema o trabalho do gestor na escola: dimensões, relações, conflitos, formas de GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 30 atuação, na qual os objetivos principais são: discutir a natureza do trabalho do gestor escolar, na perspectiva da gestão democrática das unidades escolares e dos sistemas de ensino e analisar a atuação do gestor escolar, considerando-a em suas várias dimensões – relacionais, conflitivas, relativas à gestão e pedagógicas. A Unidade II teve como tema o trabalho do gestor na escola: dimensões, relações, conflitos, formas de atuação, na qual os objetivos principais são: discutir a natureza do trabalho do gestor escolar, na perspectiva da gestão democrática das unidades escolares e dos sistemas de ensino e analisar a atuação do gestor escolar,considerando-a em suas várias dimensões – relacionais, conflitivas, relativas à gestão pedagógicas. A unidade III tem teve como tema “o Projeto Político-Pedagógico da escola: dimensões conceituais e metodológicas”. Nesta unidade discutimos o Projeto Político-Pedagógico, abordando-o a partir de duas dimensões: a conceitual e a metodológica. Na dimensão conceitual, procuramos fornecer conceitos e apresentar concepções que possam orientar a construção do PPP. Já na dimensão metodológica, nosso objetivo é fornecer informações, sugestões e indicadores para o desenvolvimento efetivo do PPP. A disciplina teve um total de 4 atividades, com prazos pré-estabelecidos para abertura e fechamento na plataforma, havendo uma tolerância de 5 dias para postagem após o prazo final de entrega, para os alunos que se atrasassem ou tivessem dificuldade com a conexão da internet. As notas de cada atividade valiam de 0 a 100, sendo que a nota mínima para a provação deveria ser 70. O professor ao final das atividades soma as notas e divide por 4 para dar a avaliação final da disciplina. Além das atividades, teve o artigo, que é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com nota independente das atividades, valendo isoladamente 100 pontos. O artigo teve 6 critérios básicos que foram considerados na correção, decididos em reunião com os professores de turma. Os critérios foram: 1) fundamentação teórica; 2) relevância do tema para a escola; 3)normas da ABNT e estrutura do artigo; 4) reflexão crítica acerca do resultado do projeto; 5) coerência, coesão e correção ortográfica e 6) apresentação. Todos esses itens somaram 100 pontos, totalizando a nota do Trabalho de Conclusão de Curso do aluno. A apresentação final do trabalho foi realizada individual e em forma de banner de modo que os alunos puderam expor seus relatos, experiências, dificuldades e resultados alcançados com a aplicação do projeto de intervenção em sua escola de atuação. O aluno teve ao longo da disciplina suas oportunidades para correção, avaliação e orientação de sua produção escrita, que chamamos de prévias do artigo. Então o aluno teve duas prévias, para poder escrever e o professor GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 31 avaliar, dar o retorno e orientar, antes da entrega da versão final do artigo. Pensamos nessas prévias, com o objetivo de acompanhar a escrita e a construção do artigo dos alunos, trazendo o professor-orientador mais próximo do aluno e amenizando os problemas na versão final do artigo. As prévias tiveram uma pontuação de 10 pontos extras para os cursistas, como forma de incentivá-los na construção gradativa de seu trabalho, facilitando a orientação e correção por parte dos professores e conduzindo a escrita do aluno. O professor também teve autonomia para avaliar os alunos qualitativamente, por meio de sua participação nos fóruns de interação, os chats etc, auxiliando no estreitamento da relação entre o professor e o cursistas. O TRABALhO DOS PROFESSORES DA SALA AMBIENTE PROJETO VIVENCIAL Os professores de turma e os professores assistentes foram muito importantes para desenvolvimento e concretização das atividades da Sala Ambiente de PV, oportunizando aos alunos a discussão das temáticas, o auxiliar nas atividades e a compreensão da linguagem de links e janelas, presentes na plataforma moodle. Por outro lado, também tiveram dificuldades provenientes das barreiras em relação a comunicação via plataforma e aos prazos de entrega das atividades. A equipe de professores de turma foi composta por professores mestres ou especialistas, resultando em uma equipe qualificada e preparada para o trabalho com uma especialização latu senso. Através das reuniões e contínuo contato pelos fóruns e e-mails visualizamos o trabalho, os avanços e as dificuldades vivenciadas pelos professores de turma. Os professores de modo geral, eram assíduos na plataforma, fomentando o uso dos fóruns, principalmente no início da disciplina. Identificamos que ao final do curso, professores e alunos poucos buscavam a plataforma, comunicando-se por e-mails e telefones, devido a intensificação da produção do artigo. Como em qualquer curso, seja ele presencial ou a distância, os alunos tendem a ficar desmotivados do meio para o final do curso, atrasando as atividades, deixando de frequentar os fóruns. Os professores de turma souberam utilizar as ferramentas disponíveis na plataforma, principalmente os que já tinham trabalhado com EAD ou que tinham formação na área de tecnologia. Assim, mensagens, figuras, poemas, lembretes etc foram utilizados na plataforma, como meio de estimular, motivar e demonstrar proximidade, indicando que as dificuldades são inevitáveis, mas que os professores estavam acompanhando o trabalho dos alunos e dispostos a ajudar. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 32 Os fóruns de interação foram explorados em muitos pólos também, seja, para o contato e para dirimir dúvidas, ou seja para discussão de tópicos temáticos, na qual os alunos participaram com suas experiências e leituras, tendo em vista que eram gestores e tinham muito a colaborar e refletir com suas experiências. Outro recurso utilizado pelos professores de turma foram os plantões de orientação. A disciplina de PV, diferente das demais que tiveram apenas um encontro presencial, contou com a realização de 3 encontros presenciais, devido a sua especificidade. Além desses encontros presenciais, todos os professores realizaram o que chamaram de “plantões”. Os alunos foram avisados previamente pelos professores assistentes e o professor de turma deslocava-se ao polo, no sábado marcado, e realizava o acompanhamento mais próximo dos alunos que tinham disponibilidade de ir ao pólo. Essa foi uma necessidade sentida pelos próprios professores de turma, a partir da observância da realidade de dificuldades dos alunos, tanto de acesso à internet quanto de compreensão dos conteúdos e dificuldades na escrita, no sentido de expor as ideias. Assim, mesmo sendo um curso á distância e não sendo nas aulas previamente agendadas, pois eram encontros extras, além dos encontros presenciais, já agendados, foram realizados plantões nos pólos, principalmente no final do curso, para orientação dos artigos. Todos os professores avaliaram essa prática como satisfatória e perceberam uma melhoria no rendimento e na qualidade das atividades e na produção escrita dos artigos. Essa avaliação nos faz perceber, que ainda estamos muito ligados as aula presenciais e ao contato professor-aluno, na relação interpessoal estabelecida no encontro presencial e no contato olho no olho. O TRABALhO DOS PROFESSORES ASSISTENTES NA SALA DE PROJETO VIVENCIAL Os professores assistentes ou assistentes foram os personagens que mais interagiram com os alunos, pois tinham contato direto com os cursistas nos pólos e foram preponderantes para o estabelecimento da ponte entre alunos e professores e alunos e coordenação. Os assistentes estavam nos pólos todos os sábados e tinham como principal função auxiliar os alunos no manuseio da plataforma de modo geral, na preparação dos encontros presenciais e no acompanhamento de perto dos alunos. Percebemos pelos relatos em nossas reuniões que os assistentes desempenharam muito bem suas funções e foram além, organizando lanches, GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 33 entrando em contato com os alunos diretamente, fazendo visitas e intermediando os interesses dos alunos com os professores e com a coordenação. Cada pólo teve dois assistentes responsáveis que acompanhavam os alunos, atentando para os prazos de entrega das atividades, assim os assistentes postavam na plataforma, via e-mail e em muitos casos por telefone (com os alunosque não tinham acesso à internet constantemente) para avisar da data de postagem, para cobrar participação nos fóruns, para saber o porquê o aluno não tinha feito a atividade ou não ter participado do encontro presencial. Percebemos a importância e o trabalho dos assistentes. Nos encontros presenciais, eles preparavam todo o ambiente para a ocasião, organizando o espaço, reservando os materiais, verificando se o acesso à internet estava disponível e se os computadores estavam funcionando. Além disso, toda a comunicação entre coordenação e alunos e professores e alunos era feita através dos professores assistentes, que mandavam mensagem na plataforma, lembrete individual e até mesmo mensagem por telefone. Outra atividade muito interessante realizada pelos assistentes foi a criação de planilhas de acompanhamento dos cursistas, onde constava o número das atividades, a data de postagem por aluno, a nota e o indicativo dos alunos que estavam com atividade pendente. Essa planilha auxiliou tanto aos assistentes quanto aos professores para fazer o acompanhamento dos alunos. Mas, a atividade dos assistentes também teve alguns obstáculos. Alguns apontaram a dificuldade de contactarem os professores de turma, ou de falar com alunos que não estavam participando das atividades e não frequentava a plataforma, devido morar em localidades de difícil acesso. Algumas vezes, tiveram dificuldades de fazer os alunos buscarem os pólos aos sábados para terem orientações fora dos encontros presenciais. Esses dois professores auxiliaram na concretização de todas as disciplinas do curso, mas nessa – PV/TCC- em especial porque precisavam constantemente estar acompanhando o desempenho dos alunos e estimulando sua permanêcia, incentivando-os a produzir seu artigo e realizar as atividades da disciplina. CONSIDERAÇõES FINAIS O curso de Especialização em Gestão Escolar configurou-se como marco importante na formação continuada de nossos gestores, na medida em que ofertou uma formação de qualidade, gratuita e a distância com momentos presenciais, beneficiando os gestores de localidades de difícil acesso. A sala ambiente Projeto Vivencial foi o elo entre a teoria e prática, articulando experiências, diferentes realidades, dialogando simultaneamente GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 34 com os referenciais teóricos trabalhados ao longo do curso. Nesta sala, o cursista- gestor teve a oportunidade de refletir sobre sua prática, visualizando-a com um olhar crítico e construtivo, que lhe permitiu elaborar um projeto de intervenção e realizar uma ação diretamente em sua realidade de atuação. O objetivo inicial proposto pela disciplina foi de fundamentar os gestores nas bases da concepção da gestão democrática, que é um grande desafio para nossa formação e prática educacional, na medida em que problematiza os pilares da educação tradicional e resgata a importância de todos da comunidade escolar como atores do fazer educacional. A conclusão de uma primeira turma de gestores que estarão trabalhando em suas escolas, em seus municípios com esse novo olhar sob a educação é muito significativo para a região oeste do Pará. Apesar das dificuldades de acesso à internet, as dificuldades de acesso, frequência no pólos, podemos deixar a “sementinha da inquietação”, pois cada cursista irá refletir sobre sua prática em busca de uma educação pública de qualidade e mais democrática para todos. REFERÊNCIAS ELIASQUEVICI, Marianne; FONSECA, Nazaré Araújo da. Educação a Distância: orientações para o início de um percurso. Belém: Editora Universitária UFPA, 2004. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 2ed. Afrontamento, 1975. GADOTTI, Moacir et all. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. NOVAIS, Gercina Santana; CICILINI, Graça Aparecida (orgs). Formação docente e práticas pedagógicas: olhares que se entrelaçam. Araraquara-SP: Junqueira & Marin: Belo Horizonte-MG: FAPEMIG, 2010. PARREIRA JUNIOR, Walteno Martins. O docente e a educação a distância. In: THIOLLENT, M. metodologia da Pesquisa-ação. 14ed. Sâo Paulo: Cortez, 2005. TORRES, Aline Albuquerque; SILVIA, Maria Luiza Rocha da. o ambiente moodle como apoio a educação a distância. Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2008. 2º Simpósio: Hipertexto e Tecnologias na educação. Anais eletrônicos. Disponível em: http://www.ufpe.br/nehte/simposio2008/ anais/Aline-Albuquerque-Torres-e-Maria-Luzia-Rocha.pdf Acesso em 01/03/2012. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 35 CAPÍTULO 3 GESTÃO ESCOLAR INCLUSIVA NA PERSPECTIVA DIALóGICA E COLETIVA Carlos José de Melo Moreira INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea vem vivenciando, ao longo do último século, uma crise caracterizada pelo resultado da contradição cada vez maior entre a tecnologia, a ciência e o próprio homem, tornando- se urgente a necessidade de tomada de consciência dessa situação, na tentativa de se buscar alternativas para solucioná-las. Ante essa crise social, teóricos e pesquisadores como Fritjof Capra (2001), Humberto Maturana (1998), Francisco Varela (2003), Ilya Prigogine (2009), David Bohm (2005), Edgar Morin (1998), entre tantos outros, tentam apontar caminhos de saída, propondo uma reformulação não só no paradigma da ciência, como também para todas as áreas de atuação do homem, principalmente na política, no intuito de que os líderes atuais percebam que as possíveis soluções por eles sugeridas afetam as gerações futuras. Esses autores sugerem que os problemas os quais enfrentamos, são de tão grandes proporções e, consequentemente, os seus prejuízos à biosfera e à vida humana tão alarmantes, que as soluções propostas precisam ser pensadas dentro de uma abordagem sistêmica, em que tudo seja considerado de forma interconectada e interdependente. Essa visão de mundo sistêmica tem fornecido as bases para um modelo de explicação das crises em que vive a sociedade contemporânea, e vem indicando formas alternativas para superá-las, as quais apontam para a necessidade de um novo olhar e de uma nova metodologia para conceber o mundo, cujos problemas não se encontram isolados, mas, ao contrário, interconectados e interdependentes como um sistema complexo (OLIVEIRA, 2009). Tomando como referência essa abordagem sistêmica de explicação das crises vividas pela sociedade atual, observa-se que são as relações sociais as mais afetadas, e suas consequências são sentidas em todas as áreas: econômica, política, social, cultural, moral etc. Trata-se de uma crise de todo o conjunto da sociedade, das relações sociais refletidas nos comportamentos e ações dos homens, como aponta Navarro (2000). Nesse sentido, a escola, como uma instituição social, vivencia essa crise, buscando superá-la através de alternativas que possibilitem o GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 36 cumprimento de seu papel social, qual seja o de ensinar a suas crianças e jovens os conhecimentos acumulados pelas gerações passadas, além de instigar a produção de novos conhecimentos. No entanto, observamos que, apesar dos esforços e dos recursos empregados em alternativas inovadoras no âmbito ideológico, tecnológico e de formação dos educadores, as dificuldades pelas quais passa a escola contemporânea permanecem e, muitas vezes, têm se agravado, posto que a sociedade tem lhe imputado maiores responsabilidades e cobranças. Para tanto, há que se pensar a escola também como um sistema, como aponta Alarcão (2001), um “sistema vivo” em que seus membros se encontrem articulados em um processo coletivo de trocas e interações, bem como com as demais instituições sociais, numa rede interconectada, permanente. Assim pensando, as alternativas propostas para a tentativa de superaçãodas crises no sistema educacional escolar deverão ter como pressuposto uma visão sistêmica de mundo, em que as relações sociais ali vivenciadas busquem a conscientização dos problemas em sua totalidade e, consequentemente, se organizem para resolvê-los. A partir desta concepção de escola, ou seja, como um sistema vivo, o objetivo principal deste artigo é refletir sobre a gestão na perspectiva da inclusão, no contexto sistêmico, a partir da legislação vigente, tendo como método a prática do exercício do diálogo, fundamentado no pensamento de Bohm e Freire. Assim, apresentamos este trabalho organizado em duas partes, sendo: 1. A formação de gestores e professores na perspectiva legal da inclusão. 2. O diálogo como ferramenta possível para gestão inclusiva. A FORMAÇÃO DE GESTORES E PROFESSORES NA PERSPECTIVA LEGAL DA INCLUSÃO Nas últimas décadas, o sistema educacional brasileiro vem se organizando no sentido de atender às recomendações das duas grandes Conferências Mundiais sobre Educação, quais sejam: 1. Conferência Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, Tailândia (1990), em que se assume o compromisso mundial da garantia a todos do acesso aos conhecimentos básicos necessários a uma vida digna. 2. Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade, em Salamanca, Espanha (1994), em que se reafirma o compromisso de acesso educacional a todos, e destaca a importância da inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais, dentre elas, as que apresentam deficiências. GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 37 Observa-se que a garantia de acesso escolar, independentemente de sexo, raça, idade, condição sociocultural, referendados nos documentos anteriormente citados, tem se mostrado de forma mais efetiva nos últimos anos, na realidade educacional brasileira. No entanto, apesar do acesso escolar mais democrático, observa-se poucas reformulações na organização da escola para atender a essa diversidade de alunos que a ela acorre, principalmente no tocante à formação continuada de gestores e professores. Em virtude da diversidade dos alunos, incluindo aqueles que apresentam necessidades educacionais especiais, os gestores e professores são chamados a rever suas práticas educativas, para gerir e ensinar um coletivo de sujeitos, cujas características se apresentam mais heterogêneas que antes, necessitando urgentemente rever toda a prática pedagógica da escola e sua forma de organização política. Discutir a formação profissional do gestor e do professor para ensinar-educar na diversidade, respeitando e atendendo às necessidades individuais de todos os alunos, implica resgatar alguns pressupostos legais e teóricos do movimento pela inclusão social e educacional dos alunos com necessidades educacionais especiais, como, por exemplo, a Constituição Federal de 1988, que garante, em seu Art. 208, III, de forma abrangente, o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988, p. 138); a Lei 9.394/1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional no Capítulo V, destinado à educação especial, menciona no Art. 59, Inciso III, que: Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: (...) professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns (BRASIL, 1996, p. 19). O Decreto 3.298/1999, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, no Capítulo VIII, que trata da Política de Capacitação de Profissionais Especializados, no Art. 49, menciona que são os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal, direta e indireta, os responsáveis pela formação de recursos GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 38 humanos para o atendimento educacional dos alunos com necessidades especiais e que devem garantir: Formação e qualificação de professores de nível médio e superior para a educação especial de técnicos de nível médio e superior especializados na habilitação e reabilitação, e de instrutores e professores para a formação profissional (BRASIL, 1999, p. 14). A Resolução CNE/CEB No. 17/2001, que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, no que concerne à formação do professor que leciona para alunos com necessidades educacionais especiais, Art. 18, afirma que estes devem ser capacitados e especializados com base, [...] nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena (BRASIL, 2001, p. 77). O mesmo Art. 18 distingue duas classes de professores: “os capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais” (p. 77), caracterizando-os como aqueles que receberam, em sua formação, conhecimentos acerca da educação especial, capazes de atuar na educação inclusiva. A segunda classe é constituída pelos professores especializados em educação especial, que receberam formação em cursos de licenciatura em educação especial ou em nível de pós-graduação em áreas específicas da educação especial. É recomendado que esses professores trabalhem em equipe, “assistindo o professor de classe comum nas práticas que são necessárias para promover a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais” (BRASIL, 2001, p.78). O documento anteriormente citado menciona, também, que as instâncias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios GESTÃO EDUCACIONAL: Práticas reflexivas e proposições para escolas públicas 39 devem oferecer formação continuada aos professores em exercício do magistério, inclusive em nível de especialização. Com breve análise desses documentos citados, e tomando como parâmetro os cursos destinados a gestores e a professores em formação ou em exercício da profissão oferecidos pelos governos federal, estadual, municipal e instâncias de formação superior, pode-se constatar que essa formação geral e específica, em educação especial, como definem os referidos documentos oficiais, tem sido oferecida às escolas e aos professores que têm, em suas salas de aula, alunos com necessidades educacionais especiais. No entanto, o processo efetivo da inclusão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais ainda encontra-se muito distante do esperado, no que diz respeito à aprendizagem desses alunos, além de apresentarem registros de conflitos profissionais entre os educadores, gerados pela proposta de uma educação inclusiva que divide a escola em duas, regular e especial, modelo educacional não mais aceito no contexto da gestão atual. Quanto aos pressupostos teóricos da educação inclusiva, a partir do movimento internacional de luta pela inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais e da legislação parcialmente exposta acima, autores como Ainscow (1997; 2001), Arnais Sánchez (2003), Carvalho (2000), Mantoan (2001), Santos (1997), Cury (2002; 2005), Stainback (1999), apontam que a educação inclusiva sustenta-se em uma filosofia baseada na igualdade, na solidariedade e nos princípios democráticos, defendendo que todos os membros que compõem a escola sejam aceitos de forma natural e, ao mesmo tempo, indicam que sejam respeitadas e atendidas as necessidades educacionais específicas, tratando unicamente da conquista e garantia do direito de todo
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