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A ADOÇÃO DE METODOLOGIAS EFICIENTES NA PREVENÇÃO DE FISSURAS EM EDIFICAÇÕES DE CONCRETO ARMADO Andréia Fátima Trichês 1 Giovane Carniel 2 RESUMO Com o desenvolvimento da construção civil diversas falhas construtivas surgiram em consequência de erros de projeto, de execução e de posterior uso inadequado de muitas edificações. Um dos defeitos mais notórios da atualidade são as fissuras, as quais se caracterizam como sendo aberturas de profundidade variável em uma determinada superfície, que podem ou não, simbolizar dano à estrutura de forma total ou parcial, e originar patologias na edificação, se não tratadas a tempo. Neste contexto, este artigo apresenta alguns métodos, tanto teóricos como práticos, úteis na prevenção do fenômeno de fissuração em edificações de concreto armado, abordando suas principais causas, bem como formas de diagnosticá-las e algumas técnicas de recuperação. PALAVRAS-CHAVE: Fissuras. Concreto armado. Patologias. Edificações. 1. INTRODUÇÃO Este artigo é baseado em pesquisas bibliográficas, as quais foram coletadas de monografias, sites confiáveis da internet e livros, configurado em um estudo de caso que tem por base o aprofundamento do tema, pela utilização do método de pesquisa indutivo. Direciona-se para todos os profissionais ligados à construção civil e para conhecimento da sociedade em geral. Objetiva-se por este, apontar metodologias para prevenir a ocorrência de fissuras em edificações de concreto armado, visto que muitas construções apresentam fissuras que afetam sua vida útil, sendo assim necessário um estudo para prevenir essas ocorrências em construções futuras e contribuir numa análise para não agravar o estado de edificações já existentes e que apresentam tal problema. Conforme Menegatti (2008) com o grande crescimento populacional novas edificações precisaram ser construídas num ritmo muito acelerado para assim atender a demanda populacional. Com isso, o número de reclamações pós-obra sobre fissuras aumentou consideravelmente. Da mesma forma HAAS 2010 cita que, são inúmeros fatores que contribuem para este problema, desde a falta de controle dos materiais, de especificações nos projetos, de acompanhamento na execução da obra, até a diminuição do custo da edificação. 1 Acadêmica do 8º período de Engenharia Civil da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. 2 Acadêmica do 8º período de Engenharia Civil da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. 2 Ainda segundo Menegatti (2008) as fissuras comprometem a estética, o conforto e a segurança do usuário, configurando dessa forma uma desvalorização no valor do imóvel. 2. O ESTUDO DAS FISSURAS COMO PATOLOGIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL A ascendência da construção civil pelo uso do concreto armado ocasionou nas ultimas décadas a realização de novos estudos voltados aos canteiros de obras, visando conceder análises técnicas sobre o aparecimento de patologias existentes em edificações. A partir de então, muitos estudiosos iniciaram suas pesquisas em torno da ocorrência de aberturas superficiais presentes em diversas estruturas, as quais na atualidade denominam-se fissuras, generalizadamente. 2.1 Denominação técnica e classificação das fissuras Para fins técnicos, as fissuras são classificadas conforme sua espessura, podendo o vocabulário variar entre autores. No entanto, convém adotar a nomenclatura 3 abaixo: Fissura capilar - abertura inferior a 0,2 mm; Fissura - abertura de 0,2 mm a 0,5 mm; Trinca - abertura de 0,5 mm a 1,5 mm; Rachadura - abertura de 1,5 mm a 5,0 mm; Fenda - abertura de 5,0 mm a 10,0 mm; Brecha- abertura superior a 10,0 mm. Há ainda quem as classifique em ativas e passivas, de acordo com as variações de abertura que surgem ao longo do tempo, sendo que as primeiras podem ocasionar problemas estruturais, enquanto que as últimas não afetam o comportamento da estrutura e, portanto, são consideradas estáveis. Num ponto de vista comum, compreende-se que quanto maior for a ruptura maior será o dano à edificação, uma vez que aberturas excessivas podem prejudicar a vida útil da estrutura ao permitir o contato de agentes ofensivos aos materiais utilizados em sua construção, a exemplo das fissuras que ocorrem nas peças de concreto armado e que admitem 3 Nomenclatura citada pela Escola de Minas – DECIV da Universidade Federal de Ouro Preto. 3 a passagem de partículas de água e sais minerais que corroem as armaduras responsáveis por suportarem os esforços atuantes. 2.2 Origem do fenômeno de fissuração em edificações de concreto armado Muitas podem ser as causas de origem das fissuras, no entanto, todas ocorrem por conta da atuação de tensões nos materiais da estrutura a que pertencem. De acordo com Renato Sahade, diretor técnico da ATS Engenharia e Consultoria, a formação das fissuras está relacionada com a ocorrência de fatores tanto internos (retração dos produtos à base de cimento, alterações químicas dos materiais de construção e diferença entre seus coeficientes de dilatação) como externos, sendo estes as movimentações térmicas e higroscópicas, as sobrecargas, as deformações de elementos de concreto armado e principalmente, os recalques diferenciais. Edificações em concreto armado também podem apresentar fissuras com origem na natureza, em virtude da incidência de sismos, ventos e enchentes, bem como em obras vizinhas, pelo rebaixamento do lençol freático, trepidações causadas por cravação de estacas e escavações com ruídos excessivos. 2.3 Diagnóstico do fissuramento nas edificações O diagnóstico de uma fissura manifestada em determinada edificação, seja ela na alvenaria ou em peças estruturais, deve ser realizado com base em conhecimentos técnicos. Para diagnosticar uma fissura através de uma inspeção visual, por exemplo, é necessário que se tenha treinamento e certa experiência profissional para se chegar à causa, afirma Ercio Thomaz, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, salientando que também é possível fazer análises com o auxílio de instrumentação. Paulo Helene, Engenheiro Civil e Professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), adverte que do ponto de vista estrutural, 99% das fissuras não causam qualquer redução da capacidade resistente das estruturas, ou seja, poderiam ser desprezadas. No entanto, se não tratadas, em longo prazo podem originar patologias. Helene também alerta que nenhuma obra, por melhor construída que seja, está livre de, ao longo de sua vida útil, apresentar fissuras. 2.4 Procedimentos para prevenção de fissuras em edificações 4 Para prevenir o surgimento de fissuras em edificações de concreto armado algumas metodologias devem ser adotadas ante a realização dos projetos, durante a execução da obra e após sua conclusão, visando a preservação da estrutura e o prolongamento de sua vida útil. Ainda nos escritórios de engenharia, quando das fases anteriores ao canteiro de obras, a concepção estrutural deve prever nos cálculos os carregamentos totais presentes na edificação - a adoção desse método prevenirá fissuras por excesso de carga - bem como o uso de armadura em quantidade suficiente para resistir aos esforços atuantes. Não o bastante, peças em concreto armado devem ser dimensionadas e confeccionadas com cobrimento mínimo de acordo com a classe de agressividade do ambiente, conforme especificações da NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. A desobediência aessas disposições estruturais pode implicar no surgimento de fissuras. No entanto, os métodos mais eficazes na prevenção de fissuras aplicam-se aos canteiros de obras, quando da construção da edificação. Algumas técnicas construtivas, se executadas de maneira correta, são altamente eficientes no combate à ocorrência do fenômeno de fissuração. Por exemplo, a confecção de vergas e contra vergas em aberturas e esquadrias impede que fissuras se formem em suas extremidades pelo carregamento oriundo das paredes; a prática do encunhamento evita a fissuração por dilatação térmica de diferentes estruturas (vigas de concreto armado e alvenaria de blocos cerâmicos); de maneira semelhante, o feitio de juntas de dilatação previne que fissuras se formem em decorrência da variação térmica de grandes áreas concretadas. Na fase pós-obra, o cuidado com o uso da estrutura também torna-se um meio de prevenção de fissuras, pois, sua finalidade deve ser aquela para o qual efetivamente o projeto foi concebido, como forma de não carregar as estruturas com forças não características ao tipo de uso da edificação. Por exemplo, uma obra destinada a construção de uma sala comercial não deve ser usada como biblioteca ou garagem, pois a função desses dois tipos de estruturas, assim como os carregamentos, são muito diferentes, e quando ocupados para fins não planejados, podem ocasionar fissuração. Também os materiais empregados na construção de uma edificação necessitam ser de boa qualidade e não defeituosos, assim como o concreto utilizado deve atingir a resistência adequada para cada caso e ser curado em condições e tempo ideais, segundo as normativas a ele correspondente. 5 Outro fator importante nesse contexto é a cultura dos construtores, visto que a preocupação da compatibilidade entre o projetado e o executado varia muito de empresa para empresa, e esse cuidado deve permanecer ativo em qualquer que seja a ocasião construtiva. 2.5 Técnicas de recuperação de fissuras De acordo com o Engenheiro Civil Renato Sahade, referenciado em uma dissertação de mestrado apresentada ao IPT, o primeiro passo para recuperar uma fissura é chegar à definição precisa da sua causa. "Quando a fissura é de origem estrutural, sua recuperação é mais complicada. Uma fissura mais superficial, mapeada, tem recuperação mais simples. Independentemente disso, é preciso ter um treinamento da mão de obra", alerta Sahade. As fissuras, no geral, são recuperadas com a aplicação de produtos flexíveis, como selantes elásticos. "Alguns procedimentos demoram a ser feitos, porque é preciso abrir a fissura, fazer a limpeza, aplicar os produtos e esperar secar. Mas há outros mais simples, que em dois dias o trabalho já está concluído", ratifica. Entre os produtos, há, inclusive, tintas especiais para fachadas, com maior capacidade de tolerar deformações sem fissurar. Marlon D. Matiello afirma em sua monografia de graduação que para cada tipo de patologia existe uma restauração diferente e comenta sobre tratamentos aplicados a patologias, como a injeção de resinas epóxi e reforço estrutural com novas armaduras e posterior reconcretagem. Sahade é referenciado em diversas monografias e trabalhos de conclusão de curso. O engenheiro salienta ainda que, independente do sistema utilizado, a solução deve ser compatível com a construção, para alterar o mínimo possível as suas características. Também deve ter durabilidade e, ainda, ser passível de remoção sem que danifique os materiais originais da edificação. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Salienta-se com base no que já descrito, que nenhuma obra por melhor construída que seja estará livre de ao longo de sua vida útil, apresentar fissuras, sejam elas em peças estruturais (lajes, vigas e pilares), nas alvenarias ou em fachadas. Verifica-se também o quanto é importante o acompanhamento de todas as etapas da construção, evitando-se assim problemas futuros, pois além de uma boa técnica é necessário um entendimento dos materiais que nela estão sendo empregados, tendo em vista a grande variabilidade do mercado. 6 Portanto, diversas podem ser as causas para o seu surgimento, às vezes até mesmo a combinação de mais de um fator, para prevenir a ocorrência das fissuras é de extrema importância que prevaleça o cuidado no desenvolvimento de todas as fases relacionadas à construção, isto é, na fase de projeto, na de execução e na de pós-obra. Para isso, no desenvolvimento do projeto estrutural é necessário que sejam previstos os verdadeiros carregamentos que atuarão na estrutura, que durante a execução da obra os serviços sejam feitos com qualidade e, não menos importante, que após a entrega, a construção seja usada para o fim a qual foi projetada. Quanto ao diagnóstico, deve ser feito por profissional capacitado - o perito deve fazer sua avaliação com base em conhecimentos teóricos e se, a análise for visual, deve ser experiente o suficiente para reconhecer a real causa sem o uso de instrumentação. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HASS, D. Contribuições à prevenção de fissuras de origem térmica na alvenaria estrutural. 2010. 63 f. Trabalho de Diplomação (Graduação em Engenharia Civil) – Departamento de Engenharia Civil, Escola de Engenharia. Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. LUCCA, P.R. Recuperação de fissuras na alvenaria de vedação. Trabalho de Conclusão (Monografia II) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Comunitária Regional de Chapecó, UNOCHAPECO, Chapecó 2010. MATTIELLO, M.D. Restauração de trincas e fissuras em estruturas de concreto armado na cidade de Chapecó-SC. 2007. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) – Curso de Graduação em Engenharia Civil, Unochapecó, Chapecó, 2007. MENEGATTI, J.B. Fissuras em fachadas: análise e incidência em edifícios na cidade de Chapecó-SC. 2008. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) – Curso de Graduação em Engenharia Civil, Unochapecó, Chapecó, 2008. SAMPAIO, M.B. Fissuras em Edifícios Residenciais em Alvenaria Estrutural. 2010. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. SANTOS, Altair. Trincas, fissuras, fendas e rachaduras exigem cuidado. Disponível em: <http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=17&Cod=1579>. Acesso em: 06 abr. 2016. TÉCHNE. São Paulo: Pini, 2010. Disponível em: <http://techne.pini.com.br/engenharia- civil/160/trinca-ou-fissura-como-se-originam-quais-os-tipos-285488-1.aspx>. Acesso em: 06 abr. 2016.
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