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05/08/2015 Minha Biblioteca | Curso de Direito Processual Civil data:text/html;charset=utf8,%3Ch2%20class%3D%22h2t%22%20style%3D%22lineheight%3A%201.3%3B%20fontfamily%3A%20LatoRegular%2C%… 1/5 841. Capítulo XXX CUMPRIMENTO DA SENTENÇA § 105. DISPOSIÇÕES GERAIS Sumário: 841. Introdução. 842. Custas e encargos do cumprimento de sentença. 843. Regras gerais disciplinadoras do cumprimento das sentenças. Introdução O sistema clássico herdado do direito romano e revigorado pelo direito moderno (pós Revolução Francesa), a que aderiu o processo civil brasileiro tradicional era o da duplicidade de processos e ações para o acertamento do direito controvertido e para o cumprimento forçado da sentença, quando este não se desse voluntariamente pelo devedor. Havia, portanto, um processo de conhecimento condenatório, a que correspondia uma ação, e um outro processo de execução, com a respectiva ação, que se denominava executória. O credor se via forçado a ingressar duas vezes em juízo, com duas ações diferentes, para afinal conseguir o seu único objetivo prático, que era o de satisfazer o seu direito de crédito. Entretanto, desde as Leis 8.952, de 13.12.1994; 10.444, de 07.05.2002; e 11.232, de 22.12.2005, houve uma remodelação do sistema executivo, para abolir a dualidade de procedimentos, unificando o processo de conhecimento e o executivo, no tocante aos títulos judiciais. Assim, com uma única ação, o autor passou a conseguir a certificação de seu direito e a satisfação do seu crédito. Esse foi o modelo também seguido pelo novo Código de 2015. O NCPC, dentro de tal sistemática, prevê duas vias de execução forçada singular: (a) o cumprimento forçado das sentenças condenatórias, e outras a que a lei atribui igual força (arts. 513 e 515);1 (b) o processo de execução dos títulos extrajudiciais enumerados no art. 784,2 que se sujeita aos diversos procedimentos do Livro II da Parte Especial do NCPC. A unificação dos processos de conhecimento e execução traz como benefícios a economia processual, de custo, de tempo e de formalidade. Embora seja desnecessário o ajuizamento pelo credor de nova ação para satisfazer o crédito reconhecido na fase de conhecimento, deve haver um requerimento de sua parte para o início da fase executiva, em razão do princípio do dispositivo (art. 513, § 1º).3 Uma vez, porém, requerido o cumprimento da sentença, pode essa atividade satisfativa prosseguir até as últimas consequências por impulso oficial. A interferência do credor pode, no entanto, fazer cessar ou suspender essa atividade, já que toda execução se desenvolve no seu exclusivo interesse (arts. 775 e 797).4 O art. 775, repetindo norma que já constava do art. 569 do Código de 1973, proclama que “o exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva”. Nisso consiste o clássico princípio da livre disponibilidade da execução pelo credor, que se aplica, também, ao cumprimento da sentença. Além disso, a fase executiva deve respeitar sempre e integralmente o contraditório. Ao devedor deve ser garantido o amplo direito de defesa, para apresentar impugnação a qualquer desvio de procedimento eventualmente perpetrado pelo credor. Entretanto, não será necessário o ajuizamento de uma nova ação de embargos à execução. Tudo se processará por meio de mero incidente, nos próprios autos (art. 518).5 Por fim, o procedimento do cumprimento de sentença deverá respeitar o tipo de obrigação a ser cumprida pelo devedor (pagar quantia certa – arts. 523 e segs. –; fazer e não fazer – arts. 536 e segs. –; e entregar coisa – 05/08/2015 Minha Biblioteca | Curso de Direito Processual Civil data:text/html;charset=utf8,%3Ch2%20class%3D%22h2t%22%20style%3D%22lineheight%3A%201.3%3B%20fontfamily%3A%20LatoRegular%2C%… 2/5 842. 843. arts. 538 e segs.), adequandose às peculiaridades de cada caso. Custas e encargos do cumprimento de sentença O cumprimento da sentença, a exemplo da execução de título extrajudicial, corre a expensas do devedor, que deverá suportar as custas e despesas processuais, inclusive novos honorários do advogado do credor (NCPC, arts. 85, § 1º, e 523, § 1º). Há medidas de apoio e sanção que se aplicam ao devedor recalcitrante no descumprimento da condenação. No cumprimento de sentença por quantia certa, incide o executado na multa legal de dez por cento sobre o valor da condenação caso não efetue o pagamento em quinze dias (art. 523, § 1º). No cumprimento das sentenças relativas a obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa, o retardamento da prestação enseja multa periódica progressiva (astreintes) e provoca medidas coercitivas como a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, etc. (arts. 536, § 1º, 538, § 3º). A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário pelo devedor (art. 517).6 Regras gerais disciplinadoras do cumprimento das sentenças I – Generalidades: Há sentenças que trazem em si toda a carga de eficácia esperada do provimento jurisdicional. Dispensam, portanto, atos ulteriores para satisfazer a pretensão deduzida pela parte em juízo. É o que se passa, em regra, com as sentenças declaratórias e constitutivas. Há, contudo, aquelas que, diante da violação de direito cometida por uma parte contra a outra, não se limitam a definir a situação jurídica existente entre elas, e determinam também a prestação ou prestações a serem cumpridas em favor do titular do direito subjetivo ofendido. Estas últimas são as sentenças que se qualificam comocondenatórias. II – Atos executivos: Para o cumprimento das sentenças condenatórias, dispõe o art. 5137 do NCPC que se deverá proceder, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial do Código, vale dizer, as regras da execução de título extrajudicial. O fato de as sentenças declaratórias e as constitutivas não dependerem de atos executivos para realizar o provimento jurisdicional a que correspondem, não afasta a hipótese de ser tomada alguma providência ulterior, no terreno, principalmente, da documentação e publicidade. Assim, em muitas ações de rescisão ou anulação de negócios jurídicos (sentenças constitutivas), de nulidade de contratos, ou de reconhecimento de estado de filiação (sentenças declaratórias), há necessidade de expedirse mandado para anotações em registros públicos (efeitos mandamentais complementares aos efeitos substanciais da sentença). Além do efeito principal, todas essas sentenças contêm, necessariamente, uma condenação secundária, que diz respeito aos encargos da sucumbência (custas e honorários advocatícios). Dessa maneira, não há sentença que fique realmente fora do alcance das providências executivas, ou seja, do cumprimento da condenação. III – Certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação: Para passar à execução do comando sentencial é indispensável que a condenação corresponda a uma obrigação certa, líquida e exigível. Por isso, se a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, terseá de complementála por meio do procedimento de liquidação (arts. 509 a 512), antes de dar andamento aos atos destinados a efetivar o seu cumprimento forçado. Eis aí um tipo de sentença condenatória que não se apresenta, desde logo, como título executivo, dando razão a Proto Pisani8 e Barbosa Moreira9 quando advertem que muitas sentenças condenatórias não correspondem a título executivo(v. vol. III), pelo menos quanto ao seu objeto principal. Como toda execução pressupõe obrigação certa, líquida e exigível, se a relação jurídica acertada judicialmente for sujeita a termo ou condição, o cumprimento da sentença dependerá da demonstração de que se realizou a condição ou de que ocorreu o termo (art. 514).10 IV – Iniciativa do credor: 05/08/2015 Minha Biblioteca | Curso de Direito Processual Civil data:text/html;charset=utf8,%3Ch2%20class%3D%22h2t%22%20style%3D%22lineheight%3A%201.3%3B%20fontfamily%3A%20LatoRegular%2C%… 3/5 O cumprimento de sentença deve ser requerido pelo exequente (art. 513, § 1º). Uma vez que a atividade executiva é mero prosseguimento da cognitiva, as partes serão as mesmas. Assim, o cumprimento não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento (art. 513, § 5º).11 V – Intimação do devedor: Iniciada a fase executiva, o devedor será intimado para cumprir a sentença (art. 513, §§ 2º, 3º e 4º).12 Não há uma nova citação, pois o cumprimento da condenação não passa de um incidente do processo em que esta foi pronunciada. A intimação do devedor, por outro lado, se dá, em regra, na pessoa de seu advogado constituído nos autos, mediante publicação no Diário da Justiça. As intimações somente serão pessoais quando não for possível fazêlas na pessoa do representante processual, quando o devedor estiver representado pela Defensoria Pública ou quando tiver sido revel na fase de conhecimento. Nesses casos, se lançará mão da intimação postal, eletrônica ou por edital. VI – Títulos executivos judiciais: O art. 51513 enumera o rol de títulos executivos judiciais, hábeis a autorizar o procedimento do cumprimento de sentença, que não são apenas as sentenças tipicamente condenatórias. São eles: (a) as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa (inciso I); (b) a decisão homologatória de autocomposição judicial (inciso II);14 (c) a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza (inciso III); (d) o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal (inciso IV); (e) o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial (inciso V); (f) a sentença penal condenatória transitada em julgado (inciso VI); (g) a sentença arbitral (inciso VII); (h) a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (inciso VIII); (i) a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça (inciso IX); VII – Competência para o cumprimento da sentença: O exequente poderá requerer o início do procedimento perante: (i) os tribunais, nas causas de sua competência originária; (ii) o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; e (iii) o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo (art. 516).15 Nas hipóteses dos itens ii e iii, o exequente poderá optar pelo cumprimento no juízo do atual domicílio do executado, no juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou no juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer (art. 516, parágrafo único). VIII – Impugnação ao procedimento: As questões relativas à validade do procedimento e dos atos executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e neste serão decididas pelo juiz (art. 518).16 Ou seja, não é necessário o ajuizamento de ação nova (embargos à execução). IX – Cumprimento provisório: O Código autoriza que o exequente realize o cumprimento provisório, mesmo antes de transitada em julgado a decisão condenatória, prescrevendo procedimento próprio (arts. 520 a 522). X – Cumprimento definitivo: Estabelece o NCPC regras próprias para cada tipo de obrigação a ser cumprida: de pagar quantia certa, de fazer, de não fazer, de entregar coisa, com especialização para a obrigação de prestar alimentos e de pagar quantia certa pela Fazenda Pública. XI – Tutela provisória: 05/08/2015 Minha Biblioteca | Curso de Direito Processual Civil data:text/html;charset=utf8,%3Ch2%20class%3D%22h2t%22%20style%3D%22lineheight%3A%201.3%3B%20fontfamily%3A%20LatoRegular%2C%… 4/5 Por fim, as regras relativas ao cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, e à liquidação de sentença, aplicamse, no que couber, às decisões que concederem tutela provisória (art. 519).17 XII – Observação: O tema de cumprimento de sentença será mais amplamente tratado no vol. III deste Curso. Fluxograma nº 23 05/08/2015 Minha Biblioteca | Curso de Direito Processual Civil data:text/html;charset=utf8,%3Ch2%20class%3D%22h2t%22%20style%3D%22lineheight%3A%201.3%3B%20fontfamily%3A%20LatoRegular%2C%… 5/5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 (*) _________ CPC/1973, arts. 475I e 475N. CPC/1973, art. 585. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, art. 612. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, art. 475I Numa exata compreensão da tutela condenatória, Proto Pisani divisa nela uma duplicidade de funções – repressiva e preventiva. Daí que a atuação dos efeitos da condenação tanto pode transitar pela execução forçada como pelas medidas coercitivas (PISANI, Andréa Proto. Lezioni cit., p. 161). Também Barbosa Moreira aponta vários exemplos de sentença condenatória que não correspondem a título executivo e, portanto, não desencadeiam o processo de execução, como a que condena à perda do sinal pago, a relativa à prestação futura de alimentos a serem descontados em folha de pagamento, as referentes a prestações de obrigações de fazer infungíveis; em todas elas o credor poderá apenas utilizar medidas coercitivas em face do obrigado, mas nunca terá como realizar a execução forçada para obter a prestação objeto da condenação (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de direito processual: oitava série. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 135). CPC/1973, art. 572. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, art. 475N. Para efeito do cumprimento de sentença, a autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo (NCPC, art. 515, § 2º). CPC/1973, art. 475P. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, sem correspondência. A petição do credor é obrigatória nos casos de condenação do cumprimento de obrigação de quantia certa (art. 513, § 1º). Nos casos de obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisas, em regra, não há necessidade de requerimento da parte. A própria sentença emite a ordem e determina a forma de cumprimento da condenação. Haverá, contudo, em todas as modalidades obrigacionais, a prévia intimação do devedor a cumprir voluntariamente o comando sentencial em prazo determinado. Só após escoado dito prazo é que a execução forçada terá início e os efeitos do descumprimento se tornarão aplicáveis ao inadimplente.
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