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Componentes do Estado

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Componentes do Estado 
9.1. ANÁLISE DA DEFINIÇÃO DE ESTADO 
Por Estado, como j á acentuado no capítulo anterior, entende-se 
a sociedade política necessária, dotada de um governo soberano, a 
exercer seu poder sobre uma população, dentro de um territóriq bem 
definido, onde cria, executa e aplica seu ordenamento jurídico, visando 
ao bem comum. 
Com a dissecação da referida definição, então teríamos: 
Elementos Materiais 
População 
Território 
Elementos Formais • 
Governo Soberano (Poder) 
Ordenamento Jurídico 
Elemento Final • Bem Comum 
Vejamos, a seguir, o que significa cada um dos mencionados ele-
mentos que constituem a estrutura do Estado, e suas particularidades. 
9.2. ELEMENTOS MATERIAIS: POPULAÇÃO E TERRITÓRIO 
9.2.1. População 
É mister, primeiramente, que se faça a distinção de população, de 
um lado, e povo, de outro. 
102 MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLITICA - José Geraldo Brito Filomeno 
Enquanto a população do Estado consiste no conjunto de todos os 
habitantes do seu território, quer com ele mantenham ou não vínculos 
políticos, além dos necessários vínculos jurídicos, povo, em última 
análise, é o conjunto de cidadãos. 
Ou seja, povo é a parcela da população de determinado Estado que 
com ele mantém vínculos de natureza política, além dos de natureza 
jurídica. 
A questão da nacionalidade, e, consequentemente, da cidadania, que 
é sua resultante mais eloquente, mesmo porque tem a ver diretamente 
com a chamada liherdade-participação (possibilidade de escolher e ser 
escolhido como governante), sempre foi questão das mais polémicas 
e delicadas. 
Em Roma, por exemplo, o critério definidor da cidadania dependia 
do status civitatis, ou seja, tinham a mencionada liberdade-participação, 
certamente limitadora dos poderes dos reis, cônsules e imperadores, nos 
três grandes períodos de sua história antiga, tão somente os patrícios e 
homens livres, excluindo-se os plebeus, inicialmente, e totalmente os 
estrangeiros e escravos. 
A liberdade-participação, outrossim, nada tinha a ver com a 
liberdade-autonomia, que pode ser conceituada como o direito de 
cada ser humano autodeterminar-se no que concerne à sua locomoção 
(ir, vir e pennanecer), manifestação do pensamento, credo, escolha de 
uma atividade ou profissão, enfim, ser sujeito de direitos individuais, 
inalienáveis e imprescritíveis, e que são pressupostos de sua própria 
sobrevivência e dignidade. 
Desse segundo tipo de liberdade decorre ainda o chamado direito 
público subjetivo, ou seja, a faculdade de agir em face do próprio 
Estado, quando houver ameaça ou prejuízo a uma das liberdades retros-
sintetizadas e que serão objeto de análise mais aprofundada em ponto 
adequado. Referido insurgimento consiste num instrumental apropriado, 
que se denomina garantia individual, como, por exemplo, o habeas 
corpus, contra medida atentatória à liberdade de locomoção de certo 
individuo por ato ilegal ou abusivo de certa autoridade, o mandado de 
segurança, contra ato também prejudicial a direito líquido e certo, não 
amparado pelo primeiro remédio etc. 
De qualquer forma, e retomando a questão da definição dos critérios 
caracterizadores da nacionalidade, Roma curvou-se paulatinamente à 
necessidade de estender sua cidadania aos povos conquistados por suas 
poderosas legiões, mesmo porque não apenas necessitava do apazigua-
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO 103 
mento de antigos inimigos, como também de seu concurso material 
(coleta de impostos) e de apoio estratégico (com a arregimentação de 
novos centuriões dentre os jovens dos povos outrora derrotados). 
Assim, Júlio César acabou por estender desde logo a cidadania 
romana aos povos das Gálias Cisalpinas (regiões que hoje constituem 
a França, Bélgica e Suíça), e Caracala fê-lo ainda mais amplamente, 
ou seja, a todos os povos até então conquistados. 
Resta evidenciado que a tónica, em princípio, era puramente política, 
já que Roma necessitava de tropas e tributos dos povos conquistados 
para a manutenção de sua pax romana, além de neutralizar a aliança 
deles com vizinhos também a serem subjugados. 
Com a instituição do chamado Sacro Império Romano-Germânico, 
notadamente com Carlos Magno, e conforme acentuado por Bums,' "a 
grandeza de Roma deveria ser ressuscitada; estaria mais em harmonia 
com a verdade quem interpretasse o fato como uma expressão do 
despertar cultural e político do Ocidente... o estabelecimento de um 
império no Ocidente simbolizava a existência de um abismo cada vez 
maior entre os cristianismos latino e Bizâncio; finalmente, o fato de 
Carlos Magno ter sido coroado por Leão I I I deu aos papas do segundo 
período medieval um baluarte para as suas pretensões de supremacia; 
podiam alegar terem sido eles, na realidade, os fidndadores do império, 
agindo, é claro, como representantes de Deus'". 
Desta forma, tinha a cidadania do referido império carolíngio 
quem jurasse fidelidade irrestrita e absoluta à fé cristã-católica, e, em 
consequência, ao Papa, sua expressão máxima. 
Ao invés dos patrícios romanos, que detinham o status civitatis, 
em contraposição a estrangeiros ou escravos, tinham-se então os fiéis 
contrapondo-se aos infiiéis ou hereges. 
Finalmente, ao término da cruenta Guerra dos Trinta Anos,^ e com 
a elaboração do famoso Tratado de Vestfália, de 1648, é que foram 
definidos os critérios de conferição de nacionalidade, que são conhecidos 
por Jus soli e Jus sanguinis. 
In ob. cit., p. 272. 
Idem, ps. 537-538: "A causa inicial da guerra foi a ambição dos Habsburgos, que 
desejavam utilizar-se dos triunfos da Reforma Católica como meio de ampliar o seu 
próprio poder na Europa Central. Isso despertou a oposição dos nobres protestantes 
da Alemanha, ao mesmo tempo que na Boémia, onde muitos habitantes se haviam 
convertido ao calvinismo, declarava-se uma revolta aberta." 
104 MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLÍTICA - José Geraldo Brito Filomeno 
Por Jus soli entende-se o critério definido da nacionalidade de 
alguém de acordo com o local de seu nascimento. 
E o critério, por exemplo, de modo geral adotado por todos os 
países e pelo Brasil: são brasileiros natos, em primeiro lugar, "os nas-
cidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, 
desde que estes não estejam a serviço de seu país" (Constituição de 
1988, art. 12, I , a). 
Excetuam-se, como se verifica, os filhos de diplomatas estrangeiros, 
por razões evidentes. 
Por outro lado, de salientar-se que os países mais novos, de fortes 
correntes imigratórias (Brasil, Estados Unidos, Argentina, Austrália etc), 
sempre adotaram esse critério, sobretudo para estimular o ingresso de 
colonizadores que certamente se sentirão mais apegados à pátria de 
adoção, se sua prole tiver garantido o seu direito de nacionalidade dela, 
e que os acolhe incondicionalmente. 
Entende-se, por outro lado, por Jus sanguinis, o critério pelo qual se 
define a nacionalidade de alguém de acordo com a de seus pais. 
Ou seja, em última análise, adquirirá a nacionalidade dos pais a 
pessoa que vier a nascer em outro país, independentemente do critério 
de nacionalidade por esse último adotado. 
Nosso país sempre adotou referido critério, em conjunto com o 
primeiro. 
Na atual Constituição, com efeito, rezava o já mencionado art. 12 
que são brasileiros: 
- os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, 
desde que qualquer deles esteja a serviço da República Fede-
rativa do Brasil; 
- os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, 
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, 
ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da 
maioridade e, alcançada esta, optem em qualquer tempo pela 
nacionalidade brasileira. Esse dispositivo (z. e.,alínea c, inc. I , 
do mencionado art. 12), por força da Emenda Constitucional 
de Revisão no 3, de 1994, passou a ter a seguinte redação: 
[são brasileiros] "os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro 
ou de mãe brasileira, desde que venham a residir na República 
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacio-
nalidade brasileira". 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO 105 
Diante de várias dúvidas suscitadas desde então, todavia, ou seja, 
notadamente acerca de crianças filhas de brasileiro ou brasileira nascidas 
no exterior, mas cujos registros vinham sendo negados por autoridades 
consulares brasileiras, porquanto deveriam fixar residência no Brasil, o 
Congresso Nacional, em 20 de setembro de 2007, promulgou a Emen-
da Constitucional n° 54, que deu nova redação à mesma alínea c do 
inc. I do art. 12 da Constituição da República, bem como acrescentou 
um art. 95 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, de 
seguintes teores: 
"Art. 12 - São brasileiros: 
I - natos (...) 
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, 
desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou 
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em 
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade 
brasileira; 
(...) 
Art. 95 - Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e 
a data da promulgação desta Emenda Constitucional, filhos de pai 
brasileiro ou de mãe brasileira, poderão ser registrados em repartição 
diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de registro, 
se vierem a residir na República Federativa do Brasil." 
Duas questões se apresentam desde logo em decorrência dos men-
cionados critérios definidores de nacionalidade: a da dupla cidadania 
e a dos apátridas. 
Suponha-se, por exemplo, que determinado país no qual se refu-
giam determinadas pessoas de outro adote apenas, e restritivamente, 
o Jus sanguinis, enquanto o originário, ao contrário, restringe-se ao 
Jus soli. 
Ora, nascida uma criança, filha dos refugiados em solo adotivo, 
não terá, a rigor, nem a nacionalidade desse, nem a do país de origem 
dos pais, tomando-se apátrida. Nesse caso, a solução encontrada será 
apenas a da naturalização, se admitida. 
A Organização das Nações Unidas, exatamente em decorrência 
dessa problemática, mantém um comissariado específico para refu-
giados e apátridas, permitindo-lhes a obtenção de passaporte especial 
para deslocamentos, e exortando os países de asilo a permitirem a 
naturalização, por exemplo. 
106 MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLÍTICA - José Geraldo Brito Filomeno 
Em 1982, tínhamos uma aluna de Direito que, nascida no Egito, 
de pais judeus, mas antes da institucionalização do Estado de Israel, 
viu-se na incómoda situação retroapontada, visto que o país de nasci-
mento não a acolhera, porque exigia a nacionalidade respectiva, e não 
existia ainda o Estado de Israel. 
Não lhe restou alternativa que não a de pleitear o passaporte da 
ONU, com o qual veio para o Brasil, ainda bastante jovem, e natura-
lizou-se brasileira.-* 
A naturalização é uma outra forma de adquirir-se a nacionalidade 
de um detenninado Estado, de uma maneira mais ou menos limitada, 
de acordo com sua Constituição. 
Conforme disposto pelo art. 12, I I , ainda da Constituição de 1988, 
entre nós, são considerados naturalizados os que, "na forma da lei, 
adquiram a nacionalidade brasileira, exigida aos originários de países 
de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e ido-
neidade moral" {a), e ainda "os estrangeiros de qualquer nacionalidade, 
residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos 
ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacio-
nalidade brasileira" (è). 
Quanto aos portugueses, é facultada situação especial para natu-
ralização, desde que haja reciprocidade aos brasileiros com relação ao 
Estado português, ou seja, outorgando-se-lhes os direitos inerentes ao 
brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição. No caso nem há, 
a rigor, necessidade de uma naturalização efetiva, mas sim de regula-
rização e opção por tal regime especial, inclusive para fms políticos 
(§ 1°, art. 12, CF). 
Embora o § 2° do mencionado art. 12 da Constituição Federal do 
Brasil, de 1988, reze que "a lei não poderá estabelecer distinção entre 
Esse tipo de odioso preconceito ainda existe, todavia, dependendo do humor daqueles 
que detêm o poder político aliado ao teocrático, em graus máximos de fundamenta-
lismo, a ponto, até mesmo, de se suprir a nacionalidade de alguém em decorrência 
do casamento de pessoa de nacionalidade e, principalmente, religião diversa. É o 
que se depreende, por exemplo, de notícia estampada no jornal O Estado de São 
Paulo, edição de 06.06.2010, p. A-17, de seguinte teor: "Egípcios não podem 
se casar com israelenses - O Supremo Tribunal Administrativo do Egito emitiu 
ontem um veredicto que tira a nacionalidade egípcia de todas as pessoas casadas 
com israelenses. A sentença foi dada pelo juiz Mohamed al-Husseini, que julgou 
que o Ministério do Interior deve pedir ao governo que retire a nacionalidade 
não só do cônjuge como também de seus filíios. O veredicto do Supremo Tribunal 
Administrativo é inapelável. " 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO 107 
brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos", o § 3° 
esclarece serem privativos de brasileiro nato os cargos de presidente e 
vice-presidente da República, de presidente da Câmara dos Deputados, 
de presidente do Senado Federal, de ministro do Supremo Tribunal 
Federal, da carreira diplomática e de oficial das forças armadas. 
Com relação à dupla nacionalidade retroaventada, tem-se que, a 
rigor, é inadmissível. 
E, com efeito, afora ser preceito sábio e inscrito na Bíblia, a cir-
cunstância de não se poder servir a dois senhores ao mesmo tempo, 
ficaria extremamente difícil cumprir todos os preceitos estabelecidos 
por um e outro Estado conferidor de nacionalidade a alguém. 
Do ponto de vista fático, porém, a questão não é impossível, ao 
contrário, é até bastante frequente. 
Recentemente, por exemplo, nosso País foi varrido por uma onda 
de "aquisição" de nacionalidade italiana, uma vez que a Constimição 
italiana é extremamente generosa com seus filhos, o que, de resto, a 
categoriza como de manifesto bom-senso e sensível sentido cultural-
-humanístico. De nossa parte, aliás, orgulhamo-nos de compartilhar 
dessa honrosa descendência pelo lado paterno. 
Quanto à portuguesa, entretanto, que também compartilhamos 
pela ascendência materna, apenas lamentamos que a circunstância de 
participação na importante, mas arrogante e fria, comunidade econó-
mica europeia tenha subido à cabeça das autoridades administrativas, 
levando-as a protagonizarem deprimentes cenas de expulsão de brasi-
leiros, temendo eventual disputa por mercado de trabalho ou ocupação 
de espaços na sociedade portuguesa.'' 
De qualquer forma, o § 4°, ainda do art. 12 da Constimição brasi-
leira de 1988, estabelece que será declarada a perda da nacionalidade 
do brasileiro que tiver cancelada sua naturalização por sentença judicial, 
em virtude de atividade nociva ao interesse nacional (I) , ou então que 
adquirir nacionalidade por naturalização voluntária ( I I ) . 
Na semana de 14 a 21 de abril de 1996, em visita oficial ao Brasil, o primeiro-
-ministro de Portugal, engo António Guterres, reconheceu expressamente aquela 
circunstância, dizendo aos meios de comunicação de massa que, ao se inserir na 
Comunidade Económica Europeia há 10 anos, seu país, infelizmente, voltou as 
costas para outros povos, notadamente o Brasil, com quem reafinnou os laços 
tradicionais de amizade e identidade cultural. Além disso, anunciou a aprovação 
pela Assembleia Nacional de Portugalde projeto de lei que regulariza a situação 
de imigrantes brasileiros e de outras pessoas lusófonas naquele país. 
108 MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLÍTICA - José Geraldo Brito Filomeno 
Ora, quer-nos parecer, por conseguinte, que, no caso da questão 
dos descendentes de italianos que venham a cadastrar-se junto às 
respectivas representações diplomáticas para o reconhecimento de sua 
nacionalidade, não vemos como esse ato possa ser caracterizado como 
"naturalização". 
E, com efeito, na hipótese em testilha, o que haveria seria ape-
nas, e tão somente, a declaração formal de algo que já existe (laços 
de nacionalidade pela ascendência), e não um ato constitutivo, como 
ocorre na aquisição formal e voluntária da naturalização, com perda, 
aí sim, consequente, da outra nacionalidade. 
A prática do registro de crianças americanas, francesas, espanholas 
etc, tanto no âmbito dos cartórios brasileiros, como nos respectivos 
consulados, tem sido frequente e em nosso entender salutar, uma vez 
que serão elas, no flituro, que irão definitivamente optar por uma das 
nacionalidades. 
Essa pendência foi definitivamente encerrada pela j á referida Emenda 
Constitucional de Revisão no 3, de 1994, à medida que deu nova redação 
ao inc. I I , § 4°, do art. 12, da Constituição de 1988, a saber: 
[§ 4° — Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:] 
"11 - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: 
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estran-
geira; 
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro 
residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência 
em seu território ou para o exercício de direitos civis." 
A advogada Mirto Fraga^ entende que as hipóteses retrorreferidas 
nas alíneas a e b, do inc. I I , do § 4°, do art. 12, da nossa Constitui-
ção Federal, respectivamente, seriam desnecessárias e aplicadas com 
extrema cautela. 
Com efeito, pondera o seguinte, ao comentar o dispositivo segundo 
o qual não perde a nacionalidade brasileira quem obtém o reconheci-
mento de nacionalidade originária peia lei estrangeira: "...nos princípios 
que regem a nacionalidade, o verbo adquirir se refere à nacionalidade 
In " A Dupla Nacionalidade no Direito Brasileiro, de Acordo com a Emenda 
Constitucional de Revisão no 3, de 1994, Revista Justitia, São Paulo, vol. 171, ps. 
53-59. 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO 109 
derivada, secundária, à naturalização, à nacionalidade que o indivíduo 
adquire ao longo de sua vida, por manifestação de sua vontade; já o 
verbo atribuir e o adjetivo atribuída dizem respeito à nacionalidade 
originária, àquela que o indivíduo recebe, àquela que o Estado lhe 
atribui no momento de seu nascimento; vimos, também, que, como 
nacionalidade é questão de soberania, os Estados têm liberdade para 
discipliná-la como melhor lhes convier; finalmente, vimos que, em 
consequência disso, um indivíduo, ao nascer, pode ter mais de uma 
ou pode não ter qualquer nacionalidade". 
E acrescenta, centrando enfoque na mencionada alínea a, do inc. I I , 
§ 4°, do art. 12, da Constituição Federal: "se é nacionalidade originária, 
não é adquirida; só se reconhece o que j á existe; é, por exemplo, o caso 
de filho de italianos nascido no Brasil; é brasileiro pela Constituição 
brasileira; é italiano pela legislação italiana; o fato de ter que providen-
ciar a documentação é matéria secundária, tal qual a do brasileiro que 
tira seus documentos (registro civi l de nascimento, identidade, título 
de eleitor, passaporte etc); não significa que o brasileiro/italiano esteja 
requerendo a nacionalidade italiana, que esteja se naturalizando italiano, 
mas, tão somente, que, sendo italiano, tem, apenas, que provar que .é 
italiano e documentar-se como tal; da mesma fornia que o brasileiro 
não registrado até a idade adulta". 
No que concerne à outra hipótese da alínea b, do inc. I I , § 4°, 
art. 12, da Constituição Federal, o fato de o brasileiro "adquirir" outra 
nacionalidade por imposição de norma estrangeira, pondera que "não 
está, também implícita, a vontade de adquirir a outra nacionalidade, mas 
de exercer determinados direitos privativos de nacional desse Estado; é 
necessário, porém, que haja a perspectiva do exercício desses direitos; 
é imprescindível que ao brasileiro tenha sido negado o direito pelo fato 
de ser estrangeiro; aí, sim, para exercer tal direito que lhe foi negado 
ou que vem sendo negado aos estrangeiros em geral, o brasileiro pode 
naturalizar-se; mas deve exercer o direito que pretendia". 
9.2.2. O Território do Estado 
Conforme j á deixamos claro ao estudarmos a nação, enquanto o 
território, embora desejável que exista, não é elemento essencial para 
sua caracterização como tal, para a do Estado, ele é. Com efeito, não se 
pode falar na existência de uma dada sociedade política independente e 
autodetenninante, sem que soberanamente disponha de uma dada porção 
tio MANUAL DE TEORIA GERAL DO-ESTADO E CIÊNCIA POLITICA - José Geraldo Brito Filomeno 
de terra para o (desenvolvimento de suas atividades e consecução do 
bem comum de sua população. 
Para Donato Donati,* o território não seria um elemento cons-
titutivo essencial do Estado, mas condição de sua existência. E dá 
como exemplo do que procura transmitir a questão das demoradas 
guerras entre gregos e persas, quando, não obstante esses últi-
mos houvessem tomado de assalto o território propriamente dito 
daqueles, refúgiaram-se em sua enorme frota de barcos, mantendo 
íntegra sua soberania; ou, então, a questão da invasão da França pela 
Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, com subsistência do 
Estado francês no exílio. 
Já para Alessandro Groppali,' somente a perda total, ou de grande 
parte do território de um determinado Estado, acarretaria seu desapare-
cimento, ou então a tomada prolongada do mesmo território. 
De nossa parte, entendemos ser o território parte imprescindível 
para. a existência do próprio Estado. Senão por razões de lógica evi-
dente, pela simples circunstância de que sempre haverá a nação, com 
seus vínculos sociológicos e jurídicos, mas não o Estado, com seus 
vínculos marcadamente políticos (além de jurídicos). 
Desta forma, podemos dizer que, como elemento material e es-
sencial para a própria existência do Estado, o território compõe-se das 
seguintes partes: (a) solo, (b) subsolo, (c) espaço aéreo, (d) embaixadas, 
(e) navios e aviões militares em qualquer parte que se encontrem, (f) 
navios e aviões de uso comercial ou civil em sobrevoo ou navegação 
de território não pertencente a outros Estados e, finalmente, (g) o mar 
territorial, ao qual se reservará item destacado, dada a sua manifesta 
importância no contexto do território do Estado. 
Vejamos, então, de que maneira se pode conceituar as diversas 
parcelas que constituem o território de determinado Estado. 
(a) Solo é a porção de terras visíveis e delimitadas pelas fronteiras 
internacionais e pelo mar. 
Qõ) Subsolo, como evidente, é a porção de terras que, subjacente 
ao solo, tem a mesma configuração do solo. 
Apud Salvetti NeUo, in ob. cit., p. 47. 
Idem, ibidem. 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO BO 
No caso do Brasil, por exemplo, ocupa, em relação aos 
148.905.400 km2 que constituem a parte da terra firme do 
globo, mais de 8.500.000 km2, sendo ainda certo que os rios 
e mares constimem 361.044.600 km2 da Terra. 
(c) O espaço aéreo de um determinado Estado é a coluna de ar 
imaginária que acompanha o contorno do território propriamente 
terrestre, acrescido do mar territorial. 
Referida configuração do espaço aéreo tem importância evidente 
em termo de soberania do Estado respectivo, uma vez que é inviolável 
em relação ao sobrevoo de aeronaves estrangeiras, que somente poderão 
fazê-lo mediante expressaautorização das autoridades que controlam 
o tráfego aéreo. 
Em 1982, por exemplo, a Inglaterra, que estava em conflito com a 
Argentina com relação à soberania sobre as ilhas Malvinas ou Falklands, no 
extremo sul da América do Sul, teve autorização para pousar um avião 
bombardeiro Volcan, armado, para reabastecimento, mas foi obrigada 
a desarmá-lo para seguir viagem. 
(d) As embaixadas, como se sabe, são as sedes de representação 
diplomática dos diversos Estados com relação a outros e, 
portanto, são consideradas como pequena parcela daqueles em 
território estrangeiro e, por conseguinte, invioláveis. 
Tanto isso é verdade que, no caso de graves conturbações no 
Estado em que se acham instaladas embaixadas de outros países, es-
sas merecem proteção especial contra possíveis violações, e não raro 
hospedam asilados políticos. 
Com relação aos consulados, a doutrina do Direito Internacional 
Público não é unânime: boa parte dela entende que também constituem 
parte integrante do Estado representado, enquanto outra os considera 
meros escritórios de representação, sobretudo de cunho económico e 
cultural apenas. Tanto assim que, argumenta-se, muitos Estados sequer 
enviam cônsules de carreira diplomática, mas economistas, funcionários 
graduados, ou mesmo nomeiam cônsules honorários para representá-los, 
mesmo entre nacionais do Estado anfitrião. 
(e) Navios e aviões militares em qualquer parte que se encontrem 
igualmente são considerados parte integrante do Estado sob 
112 MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLITICA - José Geraldo Brito Filomeno 
cuja bandeira transitem. Aqui, como no item seguinte, referidas 
circunstâncias serão importantes para o estudo da extraterrito-
rialidade da lei penal. 
Assim, consoante dispõe o art. 7°, I I , c, do Código Penal, "ficam 
sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes 
praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de 
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam 
julgados". 
(f) Isto quer dizer, então, que, quanto aos navios e aviões de uso 
comercial ou civil em navegação ou sobrevoo, respectivamente, 
de mar internacional, também são considerados parte integrante 
do território do Estado cuja bandeira ostentem. 
O que se quer dizer é o seguinte: quando se trata de aeronaves 
militares ou belonaves, sempre serão consideradas partes integrantes do 
território do Estado cuja bandeira ostentem; do que se pode extrair que 
um crime praticado a bordo de um dos referidos veículos, em qualquer 
parte do globo terrestre, ainda que flindeado o navio em certo porto es-
trangeiro, ou o avião estacionado em aeroporto também de outro Estado, 
será apreciado de acordo com as leis do país proprietário dos mesmos. 
Isto porque, como já asseverado, a sua soberania se estende àquelas 
partes integrantes de seu território. 
Já com relação a aeronaves ou navios de uso comercial ou civi l , 
a aplicação de lei do Estado cuja bandeira ostentem somente se dará 
caso os crimes não sejam julgados pelas normas do outro Estado em 
cujo território venham a ocorrer. 
A regra geral, nesse caso, é a aplicação das leis do país onde 
ocorreu o fato. 
De qualquer forma, tais questões, sem dúvida palpitantes, e cada 
vez com frequência maior de ocorrência, sobretudo em razão do au-
mento do fluxo emigratório e imigratório, além do deplorável trá-fico 
internacional de drogas, serão melhor estudadas certamente no âmbito 
dos Direitos Penal, Processual e Intemacional Público. 
(g) A questão do mar territorial, como j á enunciada, é sem dúvida 
a mais polémica quando se cuida de estudá-lo como elemento 
constitutivo do território de dado Estado. 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO na 
E, com efeito, antigamente se conceituava o mar territorial como 
a extensão da porção terrestre do território, até o limite de alcance da 
artilharia de costa, quando se passou a utilizar tal artefato para a defesa 
daquele mesmo território. 
Assim, o mar territorial era entendido como a faixa litorânea até 
"onde alcançasse o poder das armas" {'"usque armorum potestas"). 
Como a arte da balística inicialmente limitava o alcance do projétil 
disparado da costa a três milhas marítimas, esse passou a ser, então, e 
permaneceu durante longo tempo, o limite do mar territorial de cada 
Estado. ' ! I 
Em seguida, ele foi estendido para 12 milhas marítimas, exatamente 
porque se convencionou que tal seria mais adequado em decorrência 
do aumento da potência da artilharia de costa. 
É evidente que, na atualidade, na qual se observam artefatos 
nucleares conduzidos por veículos supersônicos e computadorizados, 
aquela referência de distância passou a nada significar, mormente se 
considerando que o disparo de um foguete de longo alcance, ou míssil, 
acarretará o atingimento de alvos situados em outros Estados a milhares 
de quilómetros, por exemplo. 
Da importância estratégica, portanto, passou-se a estabelecer os 
limites do mar territorial em face da importância económica de seu 
potencial mineral e biológico. 
Em 1971, por exemplo, o Brasil e outros países em desenvolvimento 
trataram de assegurar da melhor forma possível a soberania sobre seu 
mar territorial, fixando-o unilateralmente em 200 milhas, no que foram 
pronta e veementemente contestados pelos países desenvolvidos, como 
Estados Unidos e Japão. 
Presentemente, a questão está disciplinada entre nós pela Lei no 
8.617, de 4 de janeiro de 1993, que dispõe sobre o mar territorial, azona 
contígua, a zona económica exclusiva e a plataforma continental. 
Assim, consoante detennina o art. 1° da referida lei, "o mar ter-
ritorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítimas de 
largura, medidas a partir da linha de baixa-rriar do litoral continental 
e insular brasileiros, tal como indicada nas cartas náuticas de grande 
escala, reconhecidas oficialmente no Brasil". 
Seu art. 2° diz ainda que "a soberania do Brasil estende-se ao 
mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito 
e subsolo". 
114 MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLlTICA - José Geraldo Brito Filomeno 
Importante também citar-se o § 3°, do art. 3°, segundo o qual, e 
conforme já estudado, "os navios estrangeiros no mar territorial bra-
sileiro estarão sujeitos aos regulamentos estabelecidos pelo Governo 
brasileiro". 
Já a chamada "zona cont ígua" é conceituada pela Lei no 8.617/93 
como sendo "faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas 
marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir 
a largura do mar territorial" (art. 4"). 
Tal zona contígua deve ser objeto de fiscalização por parte do Brasil 
para evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, 
de imigração ou sanitários, no seu território ou no seu mar territorial, 
bem como para reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no 
seu território ou no seu mar territorial. 
A lei fala, ainda, como visto, de uma "zona económica exclusiva", 
assim definida, pelo seu art. 6°, como sendo "uma faixa que se estende 
das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de 
base que servem para medir a largura do mar territorial". 
E o art. 7", a seguir citado na íntegra, dada a sua importância para 
discussão deste tema, diz o seguinte: 
"Art. 7° - Na zona económica exclusiva, o Brasil tem direitos de 
soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e 
gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das águas sobreja-
centes ao leito do inar, do leito do mar, e seu subsolo, e no que se 
refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento 
da zona para fins económicos." 
E prosseguindo a lei sobre a definição de mar territorial, dispõe 
em seus arts. 8° a 10 o seguinte: 
"Art.8° — Na zona económica, o Brasil, no exercício de sua jurisdi-
ção, tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação científica 
marinha, a proteção e preservação do meio marinho, bem como a 
constmção, operação e uso de todos os tipos de ilhas artificiais, 
instalações e estmturas. 
Parágrafo linico — A investigação científica marinha na zona econó-
mica exclusiva só poderá ser conduzida por outros Estados com o 
consentimento prévio do Governo brasileiro, nos termos da legislação 
em vigor que regula a matéria." 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO 
"Art. 9° — A realização por outros Estados, na zona económica 
exclusiva, de exercício ou manobras militares, em particular as que 
impliquem o uso de armas ou explosivos, somente poderá ocorrer 
com o consentimento do Governo brasileiro." 
"Art. 10 - É reconhecido a todos os Estados o gozo, na zona econó-
mica exclusiva, das liberdades de navegação e sobrevoo, bem como 
de outros usos do mar intemacionalmente lícitos, relacionados com 
as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de navios 
e aeronaves." 
Finalmente, cuida a referida lei da "platafonna continental", que 
"compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendam 
além do seu mar territorial em toda a extensão do prolongamento natural 
de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, 
ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, 
a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em 
que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância" 
(art. 11). 
E importante ainda salientar-se que a delimitação da plataforma 
continental, onde certamente se concentra a maior parte dos recur-
sos exploráveis, quer do ponto de vista económico, quer científico, 
subordina-se aos critérios estabelecidos no art. 76 da Convenção das 
Nações Unidas sobre o Direito do Mar, celebrada em Montego Bay, 
em 10 de dezembro de 1982. 
Estabelecem ainda os arts. 12 e 13 o seguinte a respeito da questão: 
"Art. 12 - O Brasil exerce direitos de soberania sobre a plataforma 
continental, para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus 
recursos naturais. 
Parágrafo único - Os recursos namrais a que se refere o caput são 
os recursos minerais e outros recursos não vivos do leito do mar 
e subsolo, bem como os organismos vivos pertencentes às espécies 
sedentárias, isto é, aquelas que, no período de captura, estão imóveis 
no leito do mar ou no seu subsolo, ou que só podem mover-se em 
constante contato físico com esse leito ou subsolo." 
"Art. 13 ~ Na platafonna continental, o Brasil, no exercício de sua 
jurisdição, tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação 
científica marinha, a proteção e preservação do meio marinho, bem 
como a constmção, operação e o uso de todos os tipos de ilhas 
artificiais, instalações e estmturas." 
MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLÍTICA - José Geraldo Brito Filomeno 
O art. 14 dispõe ainda que "é reconhecido a todos os Estados o 
direito de colocar cabos e dutos na plataforma continental". 
Vê-se, em conclusão, que a questão do mar territorial no mundo 
moderno refere-se muito mais aos interesses económicos dos Estados 
ribeirinhos, do que propriamente à sua segurança contra possíveis 
agressões bélicas. 
E os países em desenvolvimento certamente devem assegurar sua 
soberania sobre tão importante parcela de seu território, com vistas ao 
atingimento de seus fins relativos ao bem comum. 
Apenas para flcannos com a exploração do petróleo entre nós, 
sabe-se que as maiores reservas desse produto estão exatamente na 
plataforma continental, tanto assim que o País desenvolveu tecnologia 
própria para sua prospecção em plataformas flutuantes em águas pro-
fundas, notadamente na baía de Campos e litoral do Nordeste. 
Conforme noticiou o jornal O Estado de S. Paulo^ "o país que 
não cumprir as determinações da Convenção" (a realizada em Monte-
go Bay, em 1982) "não terá direito de explorar o seu mar territorial 
quando o acordo entrar em vigor; isto significa que não poderá, por 
exemplo, protestar quando seu território for explorado por embarcações 
de outras nações signatárias do tratado; a vigência da Convenção está 
dependendo da ratificação por parte de cinco países; no Brasil, o tratado 
foi ratificado no Congresso e o Presidente Itamar Franco sancionou a 
lei que define os conceitos do mar territorial do Brasil". 
Acrescenta, entretanto, que "falta ainda o cadastramento oficial e 
científico da fauna marítima". 
E nesse sentido é que foi destinado o navio Riobaldo que, em 
abril de 1993, passou a percorrer a costa nordestina, e com prazo pre-
visto de seis meses, para cadastrar a fauna que vive no mar territorial 
brasileiro. 
E, com efeito, consoante nos dá conta o almirante de esquadra Ro-
berto de Guimarães Carvalho, comandante da Marinha do Brasil: 
"A convenção pennitiu, ainda, que os Estados costeiros apresentassem 
à Comissão de Limites da ONU os seus pleitos sobre o prolongamen-
to da plataforma continental (PC) que excedesse as 200 milhas da 
sua ZEE (zona económica exclusiva), até um limite de 350 milhas, 
a partir da linha da costa. Nesse prolongamento, o Estado costeiro 
Edição de 10.04.93, p. 12, com ilustrações. 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO 
tem direito à exploração dos recursos do solo e subsolo inarinhos, 
mas não dos recursos vivos da camada líquida. Coroando um grande 
esforço nacional, com a participação da Marinha, da comunidade 
científica e da Petrobras, o Brasil apresentou, em setembro de 2004, 
a sua proposta de prolongamento da PC àquela comissão da ONU. 
Isso representará, caso o nosso pleito seja aceito, a incorporação de 
uma área de cerca de 900 mil km2 à jurisdição nacional. Em outras 
palavras, a nossa última fronteira está sendo traçada no mar."'' 
9.3. ELEMENTOS FORMAIS: ORDENAMENTO JURÍDICO E 
GOVERNO SOBERANO 
9.3.1. Ordenamento Jurídico 
Como já se pode verificar pela própria conceituação de Estado, é ele 
o senhor absoluto de sua ordem jurídica, à medida que, por intermédio 
dos seus órgãos competentes, cria, executa e aplica seu ordenamento 
jurídico, visando ao bem comum. 
E nesse mister é que podemos dizer que o Estado positiva, isto' 
é, revela ao corpo social as nornias que cria, dotando-as de sanção, 
cujo objetivo imediato é o seu efetivo cumprimento, na hipótese de 
violação, e mediato a manutenção da ordem para melhor consecução 
de seus fins. 
O poder para assim atuar perante o corpo social denomina-se so-
berania, que por hora deve ser conceituada como forma suprema de 
poder de que se reveste a sociedade política. 
Ordenamento jurídico, porém, não deve ser confundido com uma 
só norma, como, por exemplo, a Constituição de um determinado Es-
tado, mas, sim, o conjunto de nonnas por ele ditadas e de variedade 
complexa e abrangente. 
Por isso é que, ao tratar exatamente do ordenamento jurídico como 
a universalização das normas jurídicas positivas pelo Estado, Norberto 
Bobbio'" ensina que, "na realidade, as normas jurídicas nunca existem 
isoladamente, mas sempre em um contexto de normas com relações 
particulares entre si (e estas relações serão em grande parte objeto de 
' "No Mar, a Nossa i j l t ima Fronteira", artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 
edição de 12.04.2005. 
'" In Teoria do Ordenamento Jurídico. Editora UnB e Editora Polis, Brasília, 1991 
- grifos nossos. 
MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLITICA - José Geraldo Brito Filomeno 
nossa análise); esse contexto de normas costuma ser chamado de 'or-
denamento e será bom observarmos, desde já, que a palavra "direito", 
entre seus vários sentidos, tem também o de 'ordenamento jur ídico ' , por 
exemplo, nas expressões 'Direito romano', 'Direito canónico' , 'Direito 
italiano' ('Direitobrasileiro') etc." 
Observa-se, por conseguinte, que as normas estabelecidas pelo Estado 
visam à garantia da própria ordem social e são, pois, comportamentais 
por excelência, j á que determinam uma maneira de ser ou agir, ou então 
vedam outra maneira de ser ou agir. A reação à não conformidade com 
o que se quer, ou então à conformidade (por exemplo, nas normas de 
caráter penal, em que em verdade há a definição de uma conduta típica, 
não desejada, mas à qual o ser humano imputável pode conformar-se 
dando ensejo à pretensão de punir-se), chama-se sanção. 
Há outras normas, todavia, que não se referem propriamente a um 
comportamento desejado, mas, sim, à própria estruturação da sociedade 
política, normas essas que podemos chamar de normas constitutivas 
ou estruturais. 
Desta forma, pode-se definir ordenamento Jurídico como sendo 
o conjunto das normas constitutivas e comportamentais criadas pelo 
Estado, mediante processo adequado," e por meio de órgãos aos quais 
a Constituição confere poderes para tanto. 
Nesse ponto é que o ordenamento jurídico do Estado diferencia-
-se do ordenamento jurídico de qualquer outro tipo de sociedade, uma 
vez que, como j á visto, qualquer sociedade apresenta como elemento 
formal um conjunto de normas que a estrutura e estabelece regras 
comportamentais. 
Só que, enquanto o ordenamento jurídico estatal é condicionante e 
abrangente, o das sociedades em geral é condicionado e restrito, tanto 
aos membros de dada sociedade, como à sua base física. 
Ou seja, inclusive os ordenamentos jurídicos (por exemplo, os 
estatutos ou contratos sociais constitutivos de dada sociedade e seus 
regimentos internos) ficam condicionados ao do Estado, que poderá 
estabelecer limites à sua própria constituição como pessoas jurídicas. 
Já dissemos linhas atrás ser o Direito Positivo aquele que é revelado, 
posto, pelo Estado, por intermédio de seus órgãos competentes. 
Vide arts. 59 a 69 da Constituição brasileira de 1988, sobre o processo legislativo. 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO na 
Direito objetivo, a seu turno, vem a ser o conjunto de todas as 
nomias constitutivas e comportamentais em geral, quer oriundas do 
Estado, quer das sociedades comuns ou contingentes. 
Outra noção que será certamente melhor analisada quando forem 
estudados pontos relativos à resistência aos atos do poder público 
(garantias individuais) ou em Direito Processual Civi l (a ação como a 
pretensão dirigida contra o Estado-juiz, para que venha a dizer do direito 
num caso concreto de nornia que se alega violada por um determinado 
interessado) é a relativa ao chamado Direito subjetivo. 
Rezava o art. 75 do Código Civil de 1916, didaticamente, por exem-
plo, que "a todo direito corresponde uma ação, que o assegura". Embora 
o novo Código Civil não tenha um dispositivo correspondente, no Livro 
I I I ("Dos Fatos Jurídicos"), Título I ("Do Negócio Jurídico"), Capítulo I 
("Disposições Gerais"), fica evidente que o chamado Direito Material ou 
Objetivo pertencente a alguém, caso venha a ser violado ou ameaçado 
por outrem, acarreta àquele o direito de fazê-lo valer junto ao órgão do 
Judiciário competente. Além disso, o art. 189 do Código Civil vigente, 
sob a rubrica de "Disposições Gerais" sobre a prescrição, estabelece, em 
outras palavras, mas com o mesmo sentido que: "violado o direito, nasce 
para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos 
a que aludem os arts. 205 e 206". Ora, pretensão essa que se traduz, 
positivamente, e dentro de determinado prazo, na realização do citado 
direito subjetivo, e materializada mediante a ação judicial. 
Ora, isto quer dizer que, em suma, se alguém é credor de outrem 
mediante a emissão de um título de crédito representativo do débito, 
supõe-se e assim o deseja a norma jurídica - que esse débito vá ser 
satisfeito na forma, lugar e valor convencionados. Supondo-se o contrá-
rio, porém, isto é, que no vencimento não haja o pronto pagamento, tal 
situação faz nascer para o credor um direito de haver forçadamente o 
mesmo crédito, sobre o qual recai seu legítimo interesse de satisfação. 
Ora, é a esse Direito que se dá o nome de Direito subjetivo, ou 
seja, a faculdade que a lei confere a alguém para fazer valer um direito 
ou interesse de que é titular. 
Outra questão que merece ser analisada nesse aspecto é a concer-
nente à variação do Direito Positivo no tempo e no espaço, ou seja, 
temática que se liga às fontes do Direito. 
Tais fontes podem ser subjetivas ou objetivas. 
Entende-se por fontes subjetivas os órgãos, entes ou comunidades 
de que promanam. Os órgãos da função legislativa do Estado, por 
120 MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLÍTICA - José Geraldo Brito Filomeno 
exemplo, são as fontes subjetivas do Direito Positivo, mas também o 
serão as comunidades, no que tange ao Direito Costumeiro ou Con-
suetudinário, ou então os próprios representantes da função executiva 
do Estado, como se terá ocasião de salientar mais adiante, por exceção 
(decretos-leis da Constituição brasileira de 1969, e as medidas provi-
sórias da de 1988). 
Já ^or fontes objetivas do Direito entender-se-ão as diversas formas 
de manifestação das normas. Por exemplo, ainda, poderíamos dizer, 
então, que as leis são fontes objetivas mais comuns, eis que preceitos 
genéricos, atributivos, coercitivos e bilaterais, emanados dos órgãos a 
que a Constituição confere poderes para tanto. 
Os antigos decretos-leis e as citadas medidas provisórias, ao con-
trário, denotam sua origem, executiva, embora também sejam, a rigor, 
preceitos genéricos, atributivos, coercitivos e bilaterais. 
Conforme bem salientado pelo prof. Salvetti Netto,'^ enquanto em 
Roma eram fontes objetivas de Direito os costumes, as constituições 
imperiais, leis, plebiscitos, éditos pretorianos, senatos-consultos, doutrina 
e jurisprudência, teríamos, como fontes subjetivas, as assembleias curiais 
e centuriais (a que tinham acesso apenas os detentores da cidadania 
romana - status civitatis ~ e pertencentes à aristocracia), as assembleias 
populares (constituídas pelos tribunos da plebe ou edis curuis), os 
pretores (juízes da época que estabeleciam as normas processuais por 
éditos, ao estabelecerem as condições das contendas judiciais entre as 
diversas partes), o Senado, os juristas e glosadores na interpretação 
das leis e os juízes. 
De acordo com o liberalismo contratualista, porém, a única fonte 
subjetiva válida é o povo, eis que manifesta sua volonté générale, em 
contraposição ao hermetismo da monarquia absolutista, pela qual o rei é 
totalmente desvinculado da lei (solutus legibus), mesmo porque é ele a fonte 
subjetiva da própria lei ("rex supra legem, quia regem faciat legem"). 
Modernamente, todavia, embora o idealismo de Rousseau tenha 
prevalecido no tocante ao estabelecimento da democracia como pro-
cesso único e legítimo, para que se elabore as normas de convivência, 
isto se faz não pelo povo diretamente, mas por intermédio de seus 
legítimos representantes. A almejada "democracia direta", como se verá 
adiante, conforme idealizada ainda por Rousseau, seria impraticável, j á 
>2 In ob. cit., ps. 52-53. 
Cap. 9 - COMPONENTES DO ESTADO 121 
que impossível a reunião de todos os integrantes de uma determinada 
comunidade para deliberar em praça pública sobre seus destinos. 
Em consequência disso, portanto, é que se pode dizer que as fontes 
subjetivas são aquelas definidas pela Constituição de um determinado 
Estado: Congresso Nacional, Assembleia Legislativa, Câmaras Muni -
cipais, sem falar-se no poder regulamentador dos órgãos da função 
executiva do Estado. 
9.3.2. Governo e Soberania 
Governo nada mais é do que o conjunto dos órgãos do Estado que 
colocam em prática as deliberações dos órgãos legislativos. 
Ou seja, é a facevisível do Estado, e expressão da sua própria sobe-
rania, enquanto poder supremo existente nos limites de seu território. 
Pode-se ainda conceituá-lo como a organização necessária para o 
exercício do poder político do Estado. 
Já soberania é a forma suprema de poder: é o poder incontestável 
e incontrastável que o Estado tem de, dentro de seu território e sobre 
uina população, criar, executar e aplicar o seu ordenamento jurídico 
visando ao bem comum. 
Muito se discute, outrossim, a respeito das fontes ou titularidade 
desse poder. 
Para alguns, seria Deus a fonte última e suprema da soberania. Os 
legistas, ilustres juristas contratados pelos reis absolutistas, justificavam os 
amplos poderes desses na qualidade de representantes da divindade sobre a 
Terra e, por conseguinte, legitimados a exercitarem poderes sem limites. 
Para os contratualistas, resta evidente que o poder supremo do 
Estado somente poderia pertencer ao povo. Outros ainda, como Sièyes,'^ 
diziam que a nação, por refletir legitimamente os anseios da comuni-
dade, é que seria a detentora da soberania. 
Já para Hans Kelsen,''' a ordem jurídica global é que seria a de-
tentora da soberania. 
Parece-nos, todavia, que a teoria mais correia, e que leva em 
consideração os princípios da democracia representativa, seria a que dá 
Apud Salvetti Netto, in ob. cit., p. 56. 
Idem. 
HMjl MANUAL DE TEORIA GERAL DO ESTADO E CIÊNCIA POLfTICA - José Geraldo Brito Filomer)0 
como fonte última da soberania o poder constituinte, j á que instituidor 
do Estado, e da ordem jurídica como um todo. 
É evidente, por outro lado, que tal somente é possível pela repre-
sentatividade popular, mediante escolha dos representantes do povo. 
9.4. ELEMENTO FINAL: O BEM COMUM 
Não se admite a existência do Estado sem um fím específico: o 
bem comum. 
Desde logo se pode constatar que a existência da sociedade polí-
tica com território e população definidos, governo soberano e normas 
comportamentais não se justifica como um fim em si mesma, mas, sim, 
para que se alcance o bem-estar da mesma população. 
Por isso é que podemos conceituar bem comum como a realização 
global do ser humano, quer do ponto de vista biológico, quer do psí-
quico, e à sua faixa mais carente, em especial, condições de superação 
de sua insuficiência e necessidades de cunho educacional, de saúde, 
saneamento básico, lazer etc). 
Em conclusão, portanto, podemos dizer que o Estado realiza o bem 
comum à medida que mantém a segurança interna e externa de uma 
população (forças, policiais e annadas, em última análise), constrói o 
Estado de direito (pela aplicação efetiva das normas jurídicas e respeito 
aos direitos e garantias individuais) e atende ao bem-estar de todos. 
i 
I

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