Buscar

Ação Monitória de Cheque Prescrito

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Apelação Cível n. 2014.071999-9, de Brusque
Relator: Desembargador Tulio Pinheiro
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE
PRESCRITO. SENTENÇA QUE REJEITOU OS EMBARGOS
MONITÓRIOS E CONSTITUIU O VALOR REPRESENTADO NA
CÁRTULA EM TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL.
RECURSO DA RÉ/EMBARGANTE.
TESES DE AUSÊNCIA DE RELAÇÃO CONTRATUAL
ENTRE AS PARTES E DESACORDO COMERCIAL NO
NEGÓCIO QUE DEU CAUSA À EMISSÃO DO CHEQUE.
IRRELEVÂNCIA. TÍTULO TRANSFERIDO À AUTORA
MEDIANTE ENDOSSO. AUTONOMIA DO CHEQUE EM
RELAÇÃO AO NEGÓCIO ORIGINÁRIO. INOPONIBILIDADE DE
EXCEÇÕES PESSOAIS AO TERCEIRO PORTADOR.
ALEGAÇÃO DE MÁ-FÉ DA REQUERENTE NÃO
COMPROVADA. ÔNUS QUE INCUMBIA À DEVEDORA
DEMANDADA, DADA A PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ DO
POSSUIDOR DO TÍTULO. SENTENÇA MANTIDA. RECLAMO
CONHECIDO E DESPROVIDO.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.
2014.071999-9, da Comarca de Brusque (Vara Comercial), em que é apelante
Decoração Cardeal Ltda. ME e apelada GGSimas Distribuidora de Equipamentos
Eletrônicos Ltda. EPP:
A Terceira Câmara de Direito Comercial decidiu, por unanimidade,
conhecer do recurso e negar-lhe provimento. Custas legais.
Participaram do julgamento, realizado nesta data, os Exmos. Srs. Des.
Rodrigo Cunha (Presidente) e Des. Ronaldo Moritz Martins da Silva.
Florianópolis, 12 de fevereiro de 2015.
Tulio Pinheiro
RELATOR
RELATÓRIO
Perante o Juízo da Vara Comercial da Comarca de Brusque, GGSimas
Distribuidora de Equipamentos Eletrônicos Ltda. EPP ajuizou ação monitória em face
de Decoração Cardeal Ltda. ME, objetivando a satisfação de crédito estimado em R$
2.000,00 (dois mil reais), representado em 1 (um) cheque emitido pela ré e recebido
pela autora mediante endosso.
Citada, a requerida apresentou embargos monitórios. Na peça de
defesa, relatou, em síntese, que emitiu o cheque em questão como forma de
pagamento ao Sr. Gabriel Moritz Pires por serviço de instalação de câmeras de
segurança, sendo que este, no entanto, não realizou o serviço. Asseverou que, por
conta disso, promoveu a sustação do cheque menos de 1 (um) mês após a sua
emissão. Disse, ainda, que a ré, a quem foi repassado o cheque mediante endosso,
agiu com má-fé ao receber a cártula e promover a cobrança, uma vez que tinha
ciência do desacordo comercial havido entre a autora e o Sr. Gabriel. Com base
nisso, conclui que "(...) a pendência existente é entre a autora e o Sr. Gabriel Moritz
Pires, e não da Embargante com a Embargada, que de forma abusiva, pretende
locupletar-se às custas daquela (...)" (fl. 49).
Após impugnados os embargos (fls. 70/74), a MM.ª Juíza Bertha
Steckert Rezende sentenciou o feito, julgando procedente o pedido monitório, sob o
fundamento, em síntese, de que a parte embargante não logrou comprovar a suposta
má-fé da autora endossatária do título.
Irresignada, a embargante interpôs este recurso de apelação. Nas
razões do inconformismo, reitera as teses lançadas nos embargos monitórios.
Com as contrarrazões, foram os autos remetidos a esta Corte.
Este é o relatório.
Gabinete Desembargador Tulio Pinheiro
VOTO
Cuida-se de ação monitória pela qual é perseguido crédito estimado em
R$ 2.000,00 (dois mil reais) e representado em cheque prescrito.
Infere-se dos autos que, em um primeiro momento, a apelante emitiu e
entregou o cheque objeto da demanda ao Sr. Gabriel Moritz Pires, que,
posteriormente, transferiu-o à autora mediante endosso.
Ou seja, figura a demandante, atual possuidora do título, na condição de
terceiro de boa-fé.
Segundo o art. 20 da Lei n. 7.357/85, "o endosso transmite todos os
direitos resultantes do cheque".
Já o art. 13 da mesma legislação preceitua que: "as obrigações
contraídas no cheque são autônomas e independentes".
Logo, ao receber o título mediante endosso, a autora tornou-se titular do
crédito nele representado, em relação totalmente independente daquela que deu
causa à emissão da cártula.
A este respeito, professa Rubens Requião:
(...) explicamos que o título de crédito é autônomo, não em relação a sua causa
como às vezes se tem explicado, mas porque o possuidor de boa-fé exercita um
direito próprio, que não pode ser restringido ou destruído em virtude das relações
existentes entre anteriores possuidores e o devedor. Cada obrigação que deriva do
título é autônoma em relação às demais. Existem muitos títulos que intensificam uma
qualidade particular, que é a independência. São títulos de crédito regulados pela lei,
de forma a se bastarem a si mesmos. Não se integram, não surgem, nem resultam
de nenhum outro documento. Não se ligam ao ato originário de onde provêm. Assim
é o cheque (Curso de Direito Comercial, 2º vol., 28ª edição rev. e atual., São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 561).
Destarte, tendo a requerida emitido o cheque, e sem a aposição de
cláusula "não à ordem", sujeitou-se ela à circulação e, por conseguinte, a se tornar
devedora solidária de quem quer que viesse a portar a cártula, a despeito da ausência
de relação comercial com o portador.
Por outro lado, em se tratando de direito cambiário, as exceções
pessoais, tais como o desacordo comercial supostamente ocorrido entre emitente e
beneficiário original da cártula, são inoponíveis aos terceiros de boa-fé.
Dito de outro modo, não cabe ao sacador suscitar contra o portador do
cheque eventuais defeitos jurídicos decorrentes da relação primitiva, ressalvados os
casos de má-fé por parte deste.
Tal premissa encontra-se sedimentada no art. 25 da Lei do Cheque, in
verbis: "quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao
portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os
portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento
do devedor.".
Dada a presunção de boa-fé de que goza o terceiro possuidor do título,
eventual alegação de má-fé deve ser comprovada por quem a suscite.
Acerca do tema, colhe-se da jurisprudência desta Corte:
APELÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA. (...) EMBARGOS MONITÓRIOS.
Gabinete Desembargador Tulio Pinheiro
CHEQUE PRESCRITO. ALEGAÇÃO DE QUE O TÍTULO FOI EMITIDO COM
VINCULAÇÃO A CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS E DE QUE ESSES
NÃO FORAM CONCLUÍDOS. TÍTULO AUTÔNOMO. DISCUSSÃO DA CAUSA
DEBENDI. IMPOSSIBILIDADE. CÁRTULAS EM PODER DE TERCEIRO.
INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS. INTELIGÊNCIA DO ART. 25 DA
LEI N. 7.357/1985. PRESUNÇÃO DE BOA-FÉ DO PORTADOR DO CHEQUE NÃO
AFASTADA. ÔNUS DA EMBARGANTE. EXEGESE DO DISPOSTO NO ART. 333, II
DO CPC. (...) (Apelação Cível n. 2011.050013-3, rel. Des. Paulo Roberto Camargo
Costa, j. em 20.06.2013).
No caso dos autos, a apelante, emitente do cheque, alega ter a autora
agido com má-fé, pois, no momento do recebimento da cártula, seria sabedora do
desacordo comercial no negócio subjacente.
Ocorre que, como bem observou a douta magistrada sentenciante, não
há sequer indícios, muito menos provas, a corroborar a versão apresentada, ônus
este, conforme visto, que incumbia à devedora ré.
Ao contrário do que tenta fazer crer a apelante, a menção feita na peça
inicial referente ao desacordo comercial diz respeito à informação passada por
representante da própria loja devedora, muito provavelmente quando a autora a
procurou para reaver o valor do cheque, ou seja, depois (por óbvio) do recebimento
deste por endosso.
Assim, porque não demonstrada a má-fé da autora, resta intacto o
direito de crédito desta com relação à apelante no que toca ao título que lastreia a
demanda.
Nesse sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS MONITÓRIOS. ALEGAÇÃO DE
DESACORDO COMERCIAL A TORNAR INDEVIDA A COBRANÇA DO MONTANTE
CONTIDO NO CHEQUE. (...) CAMBIAL QUE CIRCULOU MEDIANTE ENDOSSO.
BOA-FÉ DO TERCEIRO ADQUIRENTE QUE SE PRESUME. AUSÊNCIA DE
PROVA EM CONTRÁRIO, ÔNUS QUE INCUMBIA À DEVEDORA DEMONSTRAR.
INOPONIBILIDADE DE EXCEÇÕES PESSOAIS. Diante do princípio da abstração,
não é lícito ao emitente do cheque que circulou mediante endosso, a oposição de
exceçõesde caráter pessoal a terceiro portador do título de boa-fé. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO. (Apelação Cível n. 2012.023839-0, rel. Des. Altamiro
de Oliveira, j. em 07.10.2014).
Ante o exposto, é de ser mantida incólume a sentença.
Este é o voto.
Gabinete Desembargador Tulio Pinheiro

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

49 pág.

Perguntas Recentes