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Políticas públicas: incentivos de fixação da população no nordeste brasileiro

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MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
 
 
Políticas públicas: incentivos de fixação da população no 
nordeste brasileiro 
 
SOUZA, Joelma Miranda C. de1 
 
CHAGAS, Nájyla Betrine Batista2 
 
RESUMO: 
O presente artigo propõe uma leitura das políticas públicas engendradas durante o governo Lula 
mediante levantamento bibliográfico. Tem como objetivo analisar as políticas públicas enquanto 
motores de funcionamento e regulação do Estado Nacional bem como a manutenção da ordem 
mundial. Desta forma, toma-se como objeto as políticas públicas inseridas no nordeste brasileiro 
visto o grande fluxo de trabalhadores em direção ao sudeste e centro oeste do país, provocando 
um esvaziamento da região nordeste, além da necessidade de mão de obra qualificada na 
produção, assim, o novo século estabeleceu novas necessidades, dentre elas políticas públicas 
para a fixação da população nordestina no seu território. Além de diminuir os problemas que 
vinham ocorrendo desde a década de XX, a inserção destas políticas procura fortalecer a soberania 
alimentar e o partido político e, diminuir os custos da produção no Brasil. Propor analisar o 
movimento da população é demasiadamente um ato arriscado assim como discutir a 
movimentação política partidária de determinado país. No entanto quando se trata de políticas 
públicas não há como abrir mão de categorias que ora relacionadas imbricam no cenário político, 
econômico e social da nossa sociedade, e no âmbito da ciência Geográfica o movimento da 
sociedade é uma das categorias fundamentais para compreender a estrutura engendrada ao longo 
do tempo. 
 
Palavras-chave: Estado. Políticas públicas. População. 
 
SOBRE IMPERIALISMO E ESTADO NA AMÉRICA LATINA 
Para que a economia capitalista fosse inserida e dinamizada dentro de cada 
território e de cada região, a implantação de Estados nacionais tornou-se ponto chave, 
 
1 Licencianda em Geografia e Bolsista PIBID-Linguagens e Ensino de Geografia pela UNEB Campus VI. 
jm.geo@hotmail.com 
2Pós-graduanda em Práticas Docentes Interdisciplinares pela UNEB/Campus. betrinegeo@hotmail.com 
 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
uma vez que através dele, ou seja, por meio da centralização do poder, vingaria se mais 
no que diz respeito ao controle e fortalecimento de um mercado global. 
 
A centralização política que resultou na formação dos Estados nacionais 
foi crucial para o nascimento e consolidação do sistema capitalista. O 
Estado foi quem conduziu a expansão do capital, já que para alcançar 
territórios distantes e suprimir as populações nativas a ‘ferro e fogo’ a 
burguesia nascente se utilizou da estrutura estatal. Por isso, ao mesmo 
tempo em que se empenhava na formação de um mercado global, a 
burguesia também lutava para centralizar o poder nas mãos do Estado. 
(FERNANDES, 2012, p.243) 
 
Com maior intervenção do Estado, o capitalismo trilhou transformações cruciais, 
quando um pequeno número de Estados, concentrou tamanha riqueza e poder político, 
desembocando a Primeira Guerra Mundial. Nesse período, quando a expansão financeira 
e o livre mercado ganhava espaço, tem início a corrida imperialista, numa velocidade sem 
precedentes. As populações do continente africano e asiático assistiram tamanha 
exploração e polarização da riqueza mundial. Essa fase ficou marcada pela inserção de 
desenvolvimento do capital nessas áreas, intensificando a exploração e destruição da 
cultura dos povos. 
O capitalismo continuou a se expandir, entretanto, pelo contrário do que havia 
sido cogitado, o Imperialismo, como meio de disseminação global do capitalismo 
provocou um impacto de destruição e criação. De destruição enquanto potencial 
desorganizador das formas sociais e econômicas e, criação de novas formas sociais e 
econômicas. Assim, pode se dizer que ao mesmo tempo em que promove o 
desenvolvimento, também articula a dependência e a desigualdade. Na leitura de 
Fernandes (2012, pág. 239), ele define o imperialismo como “Uma fonte permanente de 
conflitos”. 
 
As práticas imperialistas, do ponto de vista da lógica capitalista, 
referem-se tipicamente à exploração das condições geográficas 
desiguais sob as quais ocorre a acumulação do capital, aproveitando-se 
igualmente do que chamo de ‘assimetrias’ inevitavelmente advindas 
das relações espaciais de troca. (HARVEY, 2011, Pág. 35) 
 
Deste modo, Marx (2004) considerava o movimento do capitalismo, em seu 
processo de inserção em regiões atrasadas, implicava em destruir as culturas tradicionais 
e construir uma nova ordem, tendo como ponto de partida relações e forças produtivas 
capitalistas. Para ele, sobretudo, a economia capitalista é fator direto de exploração e 
desigualdade, sendo, portanto intensificador de inúmeros conflitos. 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
 
O imperialismo é uno e mundial, porque é um sistema de relações 
econômicas e políticas, uma interdependência de desigualdade nas 
relações internacionais, o que determina a situação continuamente 
mutável das correlações de forças mundiais. (GALLISSOT, 1987, 
p.271) 
 
O meio pelo qual ele se edifica e, reconstitui suas bases é único, acaba que sendo 
magnifico ao mesmo tempo em que se constitui de modo contraditório, uma vez que ele 
recicla, em termos, o “lixo” criado por ele mesmo. E essa reciclagem é a estrutura na qual 
ele há de se fortalecer de fincar como base para sua reafirmação enquanto sistema 
capitalista de produção. 
 
A antítese, imanente à mercadoria, entre valor de uso e valor, de 
trabalho privado, que ao mesmo tempo tem de representar-se como 
trabalho diretamente social, de trabalho concreto particular, que ao 
mesmo tempo funciona apenas como trabalho geral abstrato, de 
personificação da coisa e reificação das pessoas — essa contradição 
imanente assume nas antíteses da metamorfose das mercadorias suas 
formas desenvolvidas de movimentos. Essas formas encerram, por isso, 
a possibilidade, e somente a possibilidade, das crises. O 
desenvolvimento dessa possibilidade até que se realize exige todo um 
conjunto de condições que do ponto de vista da circulação simples de 
mercadorias, ainda não existem, de modo algum. (MARX, 1985, p. 
236) 
 
Desta forma, o ciclo do capital necessita acentuar-se temporalmente, por 
conseguinte espacialmente, daí que processos como esse analisado encontram 
efetividade, pois o ciclo P - D - C - C é essencial para que o processo de gênese do capital 
possa se perpetuar, qual seja: D - M - D' - M - D''.... 
 
Figura 1. Organograma com base em "As crises do capitalismo", David Harvey, 2010. 
Dinheiro
Trabalhadores
Meios de 
produção, 
tecnologia e 
organização
Cria-se 
um 
produto
Vende pelo 
valor original e 
acrescido de 
lucro
Toma-se parte do 
lucro e recapitaliza 
numa expansão
Produto
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
 
Ao questionar como que o dinheiro está no lugar certo, no tempo certo e na 
quantidade certa, David Harvey, por meio da explicação de que o capitalismo se mantém 
através de um ciclo, mesmo já explicito nos escritos de Karl Marx, Harvey, traz uma 
linguagem bem mais clara quando se refere a esse processo de reprodução do capital 
aplicada às relações atuais, como uma inovação financeira, onde dinheiro é a base para ir 
ao mercado, comprar trabalhadores, criar meios de produção e uma forma de organização 
para que crie um produto até que o produto chegue ao comércio e seja vendidoa um valor 
original acrescido de uma margem de lucro. Parte deste lucro é recapitalizado numa 
expansão por razões deveras muito interessantes. 
Os juros, ou a remuneração do capital recapitalizado se convertem em mercadoria, 
correspondem a uma parcela do mais-valor extraído por outros capitalistas, cuja atividade 
destina-se a extrair sobretrabalho. Os juros são uma parte do lucro produzido, ou seja, o 
sobretrabalho extraído de modo silencioso: 
 
[...] a parte do lucro que lhe paga chama-se juro, o que, portanto, nada 
mais é que um nome particular, uma rubrica particular para uma parte 
do lucro, a qual o capital em funcionamento, em vez de pôr no próprio 
bolso, tem de pagar ao proprietário do capital. (MARX, 1985, p.256) 
 
Neste sentido, o capital enquanto monopolista converte seus mutuários em 
ferramentas para extração de mais valia, fornecendo crédito ao homem sem fortuna, 
confiando a ele agir como capitalista, desta forma, “[...] com o capital emprestado, se 
apropriará de trabalho não pago. Ele recebe crédito na condição de capitalista em 
potencial.” (ROSDOLSKY, 2001, p. 324) Mudam se os tempos e reciclam-se as formas 
pelo qual o imperialismo possa se reproduzir. 
Karl Marx aponta indiretamente que “a necessidade de mercados sempre 
crescentes para seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre. Ela 
precisa estabelecer-se, explorar e criar vínculos em todos os lugares.” (MARX, 1985, 
p.11). Essa reestruturação do capital ocorre em pleno momento de crises, por isso, diga-
se de passagem, o sistema capitalista torna-se uma “empresa” de reciclagem. 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
David Harvey (2010) assinalou uma nova tendência visível a partir do século XX 
e, bem mais atuante no século XXI, conforme ilustrado no organograma a seguir. 
 
Figura 2. Organograma com base em "As crises do capitalismo", David Harvey, 2010. 
É visível que se cria mecanismos ideológicos de rendimento. O crédito ilimitado 
que aparentemente todo o cidadão pode ter acesso transforma se em um cartão de crédito, 
uma vez que os salários tem sido cada vez menos suficientes para o processo de obtenção 
dos produtos, consumidos pelos olhos ao desejo de tê-los, inseridos cada vez mais no 
mercado. Desta forma, se os indivíduos, mercado consumidor, não tem em mãos o ticket 
básico para comprar os produtos como ocorrerá esta reprodução e ampliação do capital? 
Aos olhos de Harvey é bem simples: ao mesmo tempo em que diminui o braço do 
consumidor por meio da diminuição dos salários, abre se uma nova guia a do 
financiamento de crédito. Através dela é possível controlar a quantidade de indivíduos 
que entregará lucro nas mãos dos empresários e, a quantidade de pessoas que irão se 
endividar e nunca conseguirá se livrar deste processo de agiotagem. 
Concomitantemente, o sistema capitalista de produção tende a procurar ao longo 
dos tempos a superação de suas crises, já visível em seu processo histórico de 
funcionamento, o que por sua vez corrobora com as ideias de Harvey (2011) quando 
afirma que “O capitalismo nunca resolve suas crises, apenas move-as geograficamente.” 
Num processo contínuo de CONSTRUÇÃO-DESCONSTRUÇÃO-(RE) 
CONSTRUÇÃO, que segue. 
É neste sentido que ao Estado atuar na construção de políticas públicas e com o 
discurso de eliminar os diversos problemas que afligem a população brasileira enseja um 
discurso inflamado para manter a classe dominante no poder e evitar eventuais conflitos 
que possa perturbar a ordem estabelecida. Assinalado por Fernandes (2009) como “Os 
interesses particularistas das camadas privilegiadas, em todas as situações podiam ser 
Diminuição dos 
salários
Aumento e 
viabilização de 
crédito
Mais valia
= 
juros/Capitalismo 
Financeiro
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
tratados facilmente como ‘os interesses supremos da Nação’, estabelecendo uma conexão 
estrutural interna para as piores manipulações do exterior”. Diante disso 
 
 [...]o Estado capitalista afirma a igualdade formal, política e jurídica, 
com o objetivo real e velado de manter a dominação da burguesia sobre 
os trabalhadores. A igualdade burguesa, tal como a democracia 
burguesa, nada mais é do que a máxima liberdade do capital para 
explorar os trabalhadores. E o Estado burguês, por mais democrático 
que seja, será sempre um instrumento especial de repressão contra os 
trabalhadores. (Tonet e Lessa, 2008: 89 apud Zeferino, 2010:109) 
 
Para tanto observar a política adotada pelo governo Lula para a consolidação da 
burguesia interna no poder, sem deixar de oferecer as necessárias regalias para o capital 
internacional se ampliar, continua sendo os imperativos necessários para manter sob o 
discurso ideológico neoliberal a classe trabalhadora, classe essa que se constitui como 
arsenal necessário para a manutenção do governo petista no poder. Pois assim como 
argumenta Boito Jr. (2013, p.73) “o presidente tem um trunfo político próprio, ele pode 
se apoiar nos trabalhadores pauperizados graças as políticas de transferência de renda.” 
Assim a formação de um campo eleitoreiro apto a responder os desígnios 
estabelecidos pelo governo se configura como princípio de manutenção do 
neoliberalismo, pois com uma economia voltada para a exportação de commodities 
assegura sua posição de subordinado na divisão internacional do trabalho. Boito Jr. (2013, 
p.278) é sistemático ao afirmar que 
 
 [...]o governo Lula adotou de modo claro e sistemático a política de 
fazer concessões aos investidores estrangeiros, ampliando a 
participação deles no mercado brasileiro, como, por exemplo, nas 
compras governamentais, em troca de obter uma elevação na 
exportação de produtos agrícolas brasileiros. O governo Lula aceita a 
atual divisão internacional do trabalho, mas quer todas as oportunidades 
para obter o máximo possível dentro da função de exportador de 
produtos primários e de bens industriais de baixa concentração 
tecnológica que tal divisão reserva ao Brasil.[...] 
 
O governo Lula procura manter as bases do seu governo, para isso, procurar 
satisfazer as vontades da burguesia interna que embora seja amante das políticas sociais 
atingir seus países vizinhos, e ao mesmo tempo que controle a abertura comercial interna 
para o capital estrangeiro Segundo Boito Jr. (2013, p.32) 
 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
 A grande burguesia interna, força dirigente da frente 
neodesenvolvimentista, encontra-se distribuída por diversos setores da 
economia – indústria, mineração, construção pesada e a cúspide do 
agronegócio que são as empresas exportadoras de produtos 
agropecuários. O que unifica essas grandes empresas é a reivindicação 
de favorecimento e proteção do Estado na concorrência que elas 
empreendem com o capital estrangeiro. 
 
 Com a sua política para assegurar os interesses da elite burguesa, Lula estende os 
tentáculos da sua política para a classe trabalhadora que ora mantida sob o discurso 
ideológico se constitui como o mercado eleitoreiro mais importante para dar continuidade 
a sua “era”. Para isso faz jus ao seu discurso advindo da classe trabalhadora para 
estabelecer simpatia a seus “companheiros de luta”. E como artificio primeiro dessa 
jogada faz uso de políticas públicas sociais para manter essa classe sob seus comandos. 
Segundo Ricci (2004, p. 182) 
 
 O carisma de Lula, portanto, compõe uma estratégia racional de gestão.Não possui os elementos clássicos do messianismo, a oposição aos 
limites impostos pela tradição ou legalidade. Ao contrário, os traços 
carismáticos são empregados como mediação e não como fim. O arco 
de alianças é forjado a partir da capacidade de Lula em atrair e seduzir 
amplas massas sociais e, de outro lado, pela segurança que pode garantir 
aos agentes econômicos. Esta dupla face possibilita uma avaliação, por 
parte das forças políticas que integram o arco de alianças governistas, 
sobre os riscos e vantagens da composição. O carisma é um recurso 
utilizado à exaustão como um diferencial do lulismo, um ganho para a 
estabilidade do país. 
 
 
Nesse sentido as políticas públicas para gerenciamento das camadas mais pobres 
da população faz do governo Lula um “pai do povo” que utiliza do discurso ideológico, 
colocando essa camada da população “debaixo das suas asas”. É aí que se nota o Estado 
como protagonista na ampliação do capital, pois uma vez assistidas por essas políticas, 
essa população se insere no mercado consumista como meros compradores de bens para 
satisfazer as suas necessidades básicas, continuando assim a formar uma grande massa de 
trabalhadores para servir ao capital e ao mesmo tempo para se manter como mercado 
eleitoreiro de Lula. 
A grosso modo, ao mesmo tempo que as política públicas garantem a estabilidade 
do governo no gerenciamento do Estado, também garantem a manutenção do Capital 
Internacional quando subsidia o Capital Nacional. 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
É nesse âmbito de discussões que as políticas públicas geridas no governo Lula 
visa a atingir a população que vive na linha da pobreza, traduzindo em uma política de 
garantia de voto, ou de trocas de favores. No entanto a política do governo Lula perpassa 
as políticas de transferência de renda (Bolsa Família, Seguro Safra e Bolsa Estiagem) ela 
se estende a diversos âmbitos que visa contemplar a população, como exemplo o 
PRONAF, Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos e Programa 1 milhão de cisternas. 
 
O Nordeste brasileiro no Governo Lula 
 
Com um sistema latifundiário desde o período colonial voltado para atender o 
mercado externo, a região Nordeste se configura ainda nos dias atuais nesse mesmo 
patamar e com mais um agravante, a maioria da população vive na linha da pobreza em 
comparação aos outros estados do território brasileiro, formando assim uma grande massa 
de trabalhadores aptas a trabalharem nas indústrias da região Sudeste, engrossando os 
bolsões de pobreza já existentes naquela região, principalmente no estado de São Paulo. 
Com a maior parte da população vivendo no interior praticando agricultura de 
subsistência baseado em modos arcaicos de produção, e sofrendo constantemente com as 
intempéries climáticas essa população se viu por muito tempo (e de certa forma ainda se 
ver) com a necessidade de migrar para outras regiões do país em busca de melhores 
condições de vida. É nesse sentido que o governo Lula vai reunir as condições necessárias 
para manter essa população sob seu modelo político, pois com afirma Biota Jr. e Berringer 
(2013, p. 33) 
 
 Os trabalhadores desempregados, subempregados, vivendo do trabalho 
precário ou “por conta própria” representa o ponto extremo da frente 
neodesenvolvimentista e entretêm com ela uma relação bem particular. 
Essa “massa marginal” reside principalmente na periferia dos grandes 
centros urbanos do país e no interior da região Nordeste. 
 
 
O período de 2003 a 2010, durante o governo Lula, foi desenhado políticas que 
atingiu diretamente a área econômica e ao mesmo tempo a população, principalmente a 
camada mais pobre que vive na região Nordeste. No entanto o desenvolvimento dessas 
políticas não ocorreu simplesmente por mera promessa de campanha, mas sim para 
atender a interesses econômicos, explica-se assim a necessidade de fixar o nordestino no 
seu território de origem para servir aos grandes empreendimentos industriais em 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
desenvolvimento projetados pelo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) como 
a Refinaria Abreu e Lima e para continuar praticando a agricultura fornecedora de 
alimentos e matéria prima necessários para abastecer os grandes polos de crescimento do 
país. 
Nesse sentido proposições fazem-se necessárias. Imaginem se as populações dos 
extremos do país resolvessem se mover em larga escala para o sudeste do país? 
Preocupante! Não? Que exército funcionaria como base para a manutenção e produção 
da comida dos trabalhadores que mantém as fábricas que exportam diariamente toneladas 
de matérias primas e produtos? 
Para tanto a descentralização de indústrias da região Sudeste para o Nordeste 
devido à grande concentração industrial, aliada ao forte sindicalismo são os 
condicionantes econômicos que interferem nessa migração. O Nordeste reúne as 
condições favoráveis ao desenvolvimento produtivo dessas indústrias como farta mão de 
obra barata e de baixa qualificação profissional que estaria disponível para esse tipo de 
trabalho. 
É nesse sentido que o governo Lula oferece os subsídios necessários para a 
permanência desses agricultores no campo. O Pronaf (Programa de Nacional de 
Agricultura Familiar) criado em 1995, mas fortalecido durante o governo Lula, tomou 
prioridade para esses agricultores que veem nessa política a possibilidade de adquirir 
recursos financeiros para desenvolver a sua agricultura. É nesse momento que a 
agricultura familiar é amplamente vinculada na mídia como sinal de melhoria de vida 
para as famílias produtoras, quando na verdade se traduz em uma agricultura voltada para 
atender ao mercado. Bastos (2014, p.2) tece uma crítica ao PRONAF argumentando que: 
 Em se tratando do PRONAF, o fato é que estão ficando de fora 
justamente os agricultores mais pobres, classificados como Grupo B, a 
maioria analfabetos, muitos sem registro de identificação e com pouca 
capacidade de organização. Na impossibilidade de sair desse ciclo 
vicioso de pobreza, resta-lhes apenas engrossar a clientela dos eternos 
beneficiários da assistência social, como acontece com a maioria dos 
agricultores nordestinos, residindo ou não nesse espaço convencionado 
como rural. 
 
Outras políticas voltadas diretamente para o agricultor nordestino são o Seguro 
Safra e o Bolsa Estiagem ambos voltados para tentar socorrer esses agricultores no longos 
períodos de estiagem que provoca a perda quase total da lavoura. Aliada a essas políticas 
de transferência de renda tem se ainda o Bolsa Escola que garante todo mês uma quantia 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
mínima para todas as famílias que tem filhos regularmente matriculados nas escolas. 
Nesse sentido Almeida explica o real significado dessas políticas no que tange a seu 
caráter assistencialista. 
 
 O Brasil não apenas em decorrência do Bolsa-Família, mas do conjunto 
de iniciativas do mesmo teor e filosofia – está sendo dividido em uma 
nação de assistidos, de um lado – com todas as demandas legítimas, ou 
reais, que possam existir, mas também com todos os desvios esperados 
nesse tipo de empreendimento gigantesco. 
 
 No entanto, em vez de essas inúmeras bolsas funcionarem como suporte para 
endossar a produção no nordeste, elas mantém a população estagnada. A população já 
afligidas pela vontade de ter cada vez mais objetos desnecessários, utilizam das bolsas 
para melhorar suas casas, comer e dormir, como a espécie humanasempre quis, sem 
necessariamente trabalhar. O governo garantiu a essa população o suprimento das 
necessidades básicas, podando nesses humanos a busca pela realização das necessidades. 
Temos portanto, uma população, é claro, não generalizando, mas uma população 
acomodada e cada vez mais alienada que não buscam o conhecimento das leis de 
funcionamento das sociedades. 
Estamos diante de uma política de assistência que não subsidia a população a 
atividade da mente e do corpo, mas a alienação e a estagnação das faculdades humanas. 
 
Possíveis Considerações 
Dentre os papéis do Estado, compreende-se a constituição de assegurar o bem 
estar social e cumprir o direito garantido constitucionalmente no que tange à saúde, 
educação, trabalho e alimentação para todos os indivíduos. Durante o governo Lula, 
criou-se os programas de transferência de renda, referenciados como o ponto chave do 
atual sistema brasileiro de proteção social. A finalidade desses programas, a curto prazo, 
é aliviar os problemas decorrentes da situação de pobreza e, a longo prazo, investir no 
capital humano, quebrando o ciclo intergeracional da pobreza. 
Nesta fase, é notório que a política econômica compreende características do 
novo-desenvolvimentista, inspirada no keynesianismo e no neoestruturalismo cepalino 
dos anos 1990, além de através destas políticas centralizar o papel ao Estado. Seus 
objetivos derivam de um projeto político visando implementar uma estratégia nacional de 
desenvolvimento voltada para sanar a diferença econômica e social que não é possível 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
apenas pelas mudanças de mercado. Incluem, portanto, a negação da primazia do mercado 
e a existência de um Estado “forte”, que seja capaz de regular o mercado de tal modo a 
garantir uma estabilidade econômica que supere a estabilidade monetária e, que fortaleça 
o mercado como produtor da riqueza. 
Assim, a construção do Estado “forte” tem como condição inicial e primordial o 
desenvolvimento com equidade social. No entanto, essas mudanças no âmbito das 
políticas sociais são decorrentes de forte pressão popular e, se faz mediante as sequelas 
da exploração da força de trabalho, e se expressa nas precárias condições de vida da 
população subalternizada. 
Numa perspectiva histórica a tomada de consciência de classe tem funcionado 
como motor essencial nas mudanças ocorridas até então. Assim, tomar consciência da 
importância de melhoria nos setores que compreendem saúde e educação deve ser os 
primeiros pontos para o engajamento nas políticas sociais, visto que a estrutura 
econômica não elimina a ação política, porém a ação política deve reagir de tal maneira 
a suprir as necessidades da sociedade e estas medidas não devem estagnar o 
fortalecimento intelectual da sociedade ao tempo que fortalece o poder econômico. 
 
 Referências Bibliográficas 
a) Livros: 
 
FERNANDES, M. P. Da missão civilizadora do capital ao imperialismo norte-
americano. In: PINHEIRO, Milton (Org.). A reflexão marxista sobre os impasses do 
mundo atual. 1. Ed. São Paulo: Outras Expressões, 2012. 
 
FERNANDES, Florestan. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. 
4. Ed. São Paulo: Global, 2009. 
 
GALISSOT, R. “O imperialismo e a questão colonial e nacional dos povos oprimidos”. 
In: HOBSBAWM, Eric (org). História do marxismo. Tradução por Carlos Nelson 
Coutinho, Luiz Sérgio Henriques e Amélia Rosa Coutinho: Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1978. 
 
HARVEY, D. O novo imperialismo. Edições Loyola- 5ª Edição, São Paulo, Abril de 
2011. 
 
MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Boitempo Editorial, 2004. 
 
________. O Capital Livro I. São Paulo: Nova Cultural, 1985. 
 
ROSDOLSKY, R. Gênese e Estrutura de O Capital de Karl Marx. Tradução César 
Benjamin. – Rio de Janeiro: EDUERJ: Contraponto, 2001. 
MARX 2014| Seminário Nacional de Teoria Marxista – Uberlândia, 12 a 15 de maio de 2014 
 
d) Artigos em periódicos da Internet: 
 
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Uma avaliação do governo Lula: políticas sociais e área 
institucional. In: Revista Espaço Acadêmico, N 114- Novembro de 2010. Disponível em 
(http://eduem.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/viewFile/11526/6255) 
Acesso em 10 de Abril de 2014 
 
BOITO Jr., BERRINGER, Tatiana. Brasil: classes sociais, neodesenvolvimentismo e 
política externa nos governos Lula e Dilma.In: Revista de Sociologia e Política, 
Universidade do Paraná, Curitiba, vol.21, núm. 47, septiembre, 2013, pp. 31-39. 
Disponível em (http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=23828659004) Acesso em 15 de 
Abril de 2014. 
 
BOITO Jr., Armando. Governo Lula e a nova burguesia nacional no poder. São Paulo, 
2013. Disponível em (http://lemarxusp.files.wordpress.com/2013/03/armando-boito-jr-
governos-lula-a-nova-burguesia-nacional-no-poder.pdf). Acesso em 22 de Fevereiro de 
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ZEFERINO, Bárbara Cristhinny Gomes. O estado moderno na relação entre capital e 
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Disponível em (www.armadacritica.ufc.br/.../7-
%20o%20estado%20moderno%20na%20...). Acesso em 01 de Março de 2014. 
 
e) Páginas da Internet: 
 
BASTOS, Fernando. Agricultura Familiar do Nordeste: um desafio às políticas 
públicas. Disponível em 
(http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=609%3Aa
gricultura-familiar-do-nordeste-um-desafio-as-politicas-publicas-&catid) Acesso em 20 
de Abril de 2014. 
 
f) Vídeos: 
 
As crises do capitalismo. RSAnimate. David Harvey. 26 de abril de 2010. Duração 11 
min e 10 seg.

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