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O ENSINO DE GEOGRAFIA ESCOLAR E CURRÍCULOS IDENTITÁRIOS: 
UM ESTUDO TEÓRICO DE SUAS RELAÇÕES 
 
Carla Fernanda Torres Ferreira/Universidade Cândido Mendes 
cftorres@ymail.com 
Simone Fonseca Alves/Universidade Cândido Mendes 
symonfonseca@yahoo.com.br 
 
 
INTRODUÇÃO 
 O estudo aqui apresentado foi produzido no âmbito de uma pesquisa teórica 
sobre práticas educativas no ensino da Geografia e currículos identitários, em especial o 
currículo da Escola de Excelência a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais - 
PCN. Na prática pedagógica, enquanto disciplina obrigatória, a ciência geográfica 
cumpre seu papel ideológico, para a manutenção ou transformação da sociedade, e os 
currículos identitários escolares constituem um conjunto de experiências relacionadas 
aos conhecimentos escolares, passando por todas as áreas da educação, seja de caráter 
pedagógico ou administrativo. 
 Dessa forma, este trabalho visa demonstrar de que forma a Geografia pode 
promover uma intervenção consciente e transformadora na escola e como selecionar os 
conteúdos e planejar práticas educativas que considerem a realidade dos alunos. 
Apresentam-se as características do currículo da Escola de Excelência, em especial as 
possibilidades de práticas educativas no ensino de Geografia para esses sujeitos. 
 A elaboração de currículos ultrapassa a listagem de conteúdos a serem 
abordados durante o ano letivo, possui concepções acerca do mundo, da sociedade, e do 
próprio homem. Por isso, assume um caráter político-filosófico. Contém os objetivos 
que se pretendem com a educação, sendo a sustentação da organização escolar como um 
todo. É através dele que a escola, os professores e os alunos serão orientados ao trabalho 
escolar. 
 Porém, historicamente, o currículo concebeu o conhecimento como algo 
estático, transmissível, passivo de simples reprodução e memorização, além de muitas 
vezes estar afastado do cotidiano e de processos sociais. Sua elaboração consistia na 
definição do programa escolar, enfatizando os conceitos de cada área científica em 
detrimento dos processos que lhes originam e lhes dão significados (COIMBRA, 2006). 
 
As Novas Concepções Curriculares 
Os currículos têm como objetivo orientar os conhecimentos escolares, e é 
através deles que a teoria e a prática são regidas. A forma como é construído se 
relaciona a que tipo de aluno se pretende formar, sendo que é possível perceber através 
do currículo quais são os objetivos e ideais da escola. 
Há alguns anos as propostas de construção do currículo escolar, em especial para 
o ensino de Geografia, sofreram e ainda sofrem transformações em busca de melhorias 
no processo educacional. Estas novas propostas objetivam recriar os métodos, buscando 
com que o conhecimento seja construído entre professor e aluno. 
A organização curricular pode ser entendida como uma ação dos professores 
para os conteúdos e conceitos, a didática, para repensar a prática de um ensino que 
inter-relacione as questões do vivido e produzido na sociedade em que o aluno está 
inserido. Em relação ao currículo de Geografia, o professor deve elaborar um currículo 
escolar que não só destaque os conteúdos dessa disciplina como a transforme em um 
conhecimento ao aluno e este compreenda a importância desta ciência. 
Embora alguns movimentos tenham ocorrido anteriormente à década de 1980 
em busca de melhorias nos currículos escolares, somente a partir deste período que se 
passou a uma perspectiva crítica. As reformas curriculares desta época foram marcadas 
pelo discurso da necessidade de recuperar a relevância social dos conteúdos veiculados, 
buscando o desenvolvimento da cidadania através da escola. 
 O currículo é um projeto que se constrói à medida que ocorrem os processos de 
transformação das atividades práticas, ganhando forma e recebendo significado. 
Portanto, o currículo é o modo de organizar a prática realizada num contexto, segundo 
uma construção cultural, que supõe a concretização das intenções sociais e culturais 
atribuídas à educação escolar. É o meio de ter acesso ao conhecimento a partir das 
condições que se realizam e se convertem, numa forma de entrar em contato com a 
cultura do outro (SACRISTÁN, 2000). 
A pós-modernidade trouxe mudanças em diversos âmbitos e uma das ideias 
marcantes é a de desenvolver processos diferenciados para pessoas diferentes. Para Doll 
(1997), a característica que mais distingue o paradigma pós-moderno, no que diz 
respeito ao currículo, é a auto-organização. 
Outra característica que se destaca no currículo pós-moderno é conceito de 
enfoque globalizador descrito por Zabala (1998). De acordo com o autor este enfoque 
consiste numa visão holística e integradora, com centros de interesse, métodos de 
projetos e, principalmente, com a metodologia da investigação do meio. Sua utilização 
justifica-se quando as finalidades do ensino buscam responder às necessidades de 
compreensão e intervenção na realidade. O currículo é, então, um processo de explorar 
o desconhecido, de examinar a própria comunidade. Nesta visão a aprendizagem e o 
entendimento são construídos através do diálogo e da reflexão. 
 Os princípios de um ensino com enfoque globalizador são de grande 
contribuição para a geografia. Isto porque os mesmos consistem em considerar como 
objeto de estudo o ensino da realidade, para que o sujeito possa compreendê-la, agir e 
transformá-la. Entretanto, esta compreensão e atuação são extremamente complexas. O 
ensino de geografia, a partir dos eixos temáticos possibilita a simultaneidade na 
utilização das escalas e, por conseguinte, das categorias geográficas de análise. Dessa 
forma: 
A estruturação curricular passa a ter um formato mais 
globalizante, baseada em eixos temáticos, estreitamente 
articulados com problemáticas sociais do cotidiano, mas sem 
deixar de levar em consideração os conteúdos sistematizados, 
funcionando como substratos científicos para compreensão 
crítica da realidade e para sua transformação (COIMBRA, 2006, 
p.3). 
 
Assim, o currículo deve ser rico, recursivo, relacional e rigoroso. Coloca-se 
então o desafio: há uma tensão entre o passado e o presente, portanto, cabe aos 
professores e às escolas decidirem como isso deve ser feito nos currículos específicos 
locais (ZABALA, 1998). 
Pode-se ainda dizer que os currículos devem expressar os conhecimentos e 
valores que uma sociedade considera que devam fazer parte do percurso educativo de 
suas crianças e jovens. Os currículos devem ter objetivos nos conteúdos considerados os 
mais adequados para promovê-los, nas metodologias adotadas e nas formas de avaliar o 
trabalho desenvolvido. 
Portanto, a meta de melhoria da qualidade da educação impôs o enfrentamento 
da questão curricular como aquilo que deve nortear as ações das escolas, dando vida e 
significado ao seu projeto educativo, e diante dessas novas visões curriculares torna-se 
necessário levar em conta e valorizar as diversidades culturais. Diante das múltiplas 
diversidades socioculturais do país busca-se, então, valorizar as identidades culturais 
através dos currículos identitários. 
 
 
 Como exemplo de currículo identitário pode-se citar a educação para portadores 
de necessidades educativas especiais, que busca a inclusão através da heterogeneização, 
com objetivos de desenvolver aspectos cognitivos, afetivos e sociais. Para alunos de 
risco social procura-se enfatizar conceitos e práticas de cidadania no currículo. Na 
elaboração de currículos para escola rural buscam-se, através de conhecimentos 
científicos e tecnológicos, situar os sujeitos para além do rural, num contexto 
globalizado, porém valorizando o campo e construindo formas e meios para o 
desenvolvimento sustentável do espaço. 
 Além destes, é possível exemplificar a construção de currículos para 
comunidades indígenas, em que se procura prepararo sujeito para a compreensão da 
sociedade brasileira a partir de suas práticas culturais. Isto só é possível através da 
produção de materiais/ métodos didáticos produzidos pelos próprios sujeitos. Partindo 
do mesmo princípio é possível identificar os currículos para educação quilombola, que 
procura valorizar os saberes culturais da comunidade e a educação para jovens e adultos 
que também reconhece os conhecimentos prévios dos sujeitos e procura valorizar sua 
autoestima. 
 O presente artigo busca realizar uma análise sobre os currículos da Escola de 
Excelência da rede privada, considerando suas peculiaridades, demonstrando possíveis 
práticas educativas no ensino de Geografia para esses sujeitos. 
 
O Ensino Escolar Geográfico e suas Práticas Pedagógicas 
 
 De acordo com os PCN a aquisição de conhecimentos de Geografia contribui 
para o desempenho das funções de cidadania a partir do momento que cada indivíduo 
conhece as características sociais, culturais e naturais do lugar onde vive. Considerando 
que os sujeitos da Escola de Excelência geralmente estão inseridos num contexto 
urbano, faz-se necessário considerar na seleção dos conteúdos a serem trabalhados as 
problemáticas urbanas, incluindo as desigualdades socioespaciais existentes neste 
ambiente. A aquisição desses conhecimentos possibilita maior consciência das 
responsabilidades da ação individual e coletiva com relação ao seu lugar, podendo esta 
consciência ser abrangida para contextos mais amplos, como as escalas nacional e 
mundial (BRASIL, 1998). 
 Considerando os três princípios filosóficos da concepção de currículos escolares 
- estéticos, políticos e éticos -, os PCN Ensino Médio destacam que a Geografia 
contribui para formação do cidadão ao proporcionar ao aluno que oriente seu olhar para 
os fenômenos relacionados ao espaço, tomando-os como produto das relações que 
orientam seu cotidiano; reconheça os conflitos e as contradições econômicas, sociais e 
culturais; torne-se sujeito do processo de ensino e aprendizagem em escala local, 
regional, nacional e global (BRASIL, 2000). 
A Geografia escolar deve ser trabalhada de maneira que seus conteúdos sejam 
relacionados com o cotidiano do sujeito que se ensina. Essa forma de ensino é possível 
a partir do momento que o professor desempenha o papel de mediador entre o 
conhecimento e o aluno, dando oportunidade do discente articular o conteúdo em suas 
próprias reflexões. Caso o professor não entenda o aluno como um sujeito 
sociocultural, uma série de problemas passa a ser gerada, como a contestação da 
finalidade da geografia, enquanto disciplina obrigatória do currículo escolar, o 
desinteresse dos discentes e, por conseguinte dos docentes. 
A Geografia nega suas implicações políticas, econômicas e sociais, ao ser 
abordada de forma tradicionalmente descritiva e acrítica no ambiente escolar. Essa 
realidade deve-se, principalmente, à forma com que esta ciência é exposta e trabalhada 
pelos educadores. É comum que seja trabalhada como uma aula enciclopédica, com 
enumerações e descrições sobre o planeta Terra e a sociedade. Em muitos casos a 
abordagem destina-se às questões e problemas descontextualizados. Decorar afluentes 
de rios, bem como capitais e produtos de exportação de diversos países não responde às 
questões mais profundas que estão engendradas na Geografia. Muito mais importante 
do que saber qual a capital do Cazaquistão, é compreender o motivo da existência deste 
país no mundo contemporâneo, fato que está relacionado a uma mudança radical no 
espaço geográfico mundial, principalmente no continente euro-asiático. 
Dessa forma, percebe-se como necessária a conscientização dos educadores em 
Geografia, quanto à importância fundamental desta ciência e disciplina para os alunos e 
para a sociedade como um todo. Busca-se, então, romper com as práticas educativas que 
tendem a não estabelecer um paralelo entre o que é ensinado e o que faz parte do 
cotidiano dos alunos. Esse paralelo é relevante uma vez que o interesse do aluno vai ser 
despertado para a realidade que se está inserido. 
Educar não significa transferir um saber pronto e acabado, no qual o aluno se 
torna um mero receptor do conhecimento. A educação não deve ser abordada de forma 
que o educador torna-se um narrador de um saber pronto, no qual o conhecimento é 
transferido aos educandos, de modo que estes somente absorvem os conteúdos 
trabalhados (FREIRE, 2006). 
Na perspectiva do conhecimento transmitido, quanto maior for o grau de 
transmissão, e nesse caso a maneira como essa transmissão é feita, melhor será o 
resultado da atividade pedagógica. O funcionamento deste é relatado de forma clara por 
Freire (1994): 
Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos 
que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se 
funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da 
opressão a absolutização da ignorância, que constitui o que 
chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se 
encontra sempre no outro. O educador, que aliena a ignorância, 
se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que 
sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A 
rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como 
processos de busca (FREIRE, 1994, p. 33). 
 
Conteúdos abordados pela disciplina de Geografia, como geomorfologia, 
hidrografia, clima, desenvolvimento e subdesenvolvimento, êxodo rural, entre outros, 
devem ser trazidos aos olhos dos alunos. Através do estudo local pode-se trabalhar a 
Geografia de forma mais concreta, buscando a relação da abstração dos mapas e livros 
didáticos à realidade. 
 Numa cidade, por exemplo, observa-se uma disposição e organização espacial 
urbana que reflete a divisão da sociedade em classes. Em um país de contrastes sociais 
marcantes, como o Brasil, pode-se abordar as problemáticas do subdesenvolvimento de 
uma forma dinâmica e perceptível. 
 Os alunos, em seu deslocamento cotidiano, podem observar a paisagem que 
revela as diferenças sociais. Podem perceber que, mesmo estando em um país 
subdesenvolvido, é possível visualizar ilhas de desenvolvimento, que são representadas 
por bairros com edificações luxuosas, pavimentação de qualidade e saneamento básico 
integral. 
Diante de tantas abstrações no ensino geográfico escolar, é de fundamental 
importância que o professor crie situações em que o aluno demonstre sua capacidade de 
criar, de refletir sobre determinada situação. Essa discussão deve levar em conta as 
críticas sobre os conteúdos, avaliando a construção de conceitos, os métodos 
empregados em sala de aula, como também a seqüência didática proposta. Estes são 
alguns dos elementos que devem ser questionados em relação ao ensino da Geografia 
escolar. 
O educador deve instigar a curiosidade e a consciência crítica dos alunos, 
estimulando a observação do espaço geográfico local, que fornece os melhores 
exemplos dos graves problemas sociais existentes, como a má distribuição de renda 
proporcionada pelo modelo capitalista adotado no Brasil. 
Há alguns anos as proposta de construção do currículo escolar em especial para 
o ensino de geografia, sofreu e ainda sofre transformações em busca de melhorias no 
processo educacional. Estas novas propostas objetivam recriar os métodos tradicionais, 
em que o conhecimento é construído entre professor e aluno. O aluno é visto como 
sujeito sociocultural, com vistas a contribuir para que o aluno seja sujeito transformador 
de sua realidade, conforme corrobora FERREIRA (2009) 
 
Conceber o aluno como um sujeito sociocultural é, além de 
considerá-lo como um ser que possui vivência em determinada 
sociedade e que é produtor de cultura, percebê-lo como 
indivíduo que atua neste espaço, podendo inclusive transformá-
lo a partir de suas concepções de mundo e de si mesmo. 
(FERREIRA, 2009,p. 2) 
 
A geografia como ciência possui em seu conteúdo conceitual o estudo do espaço 
e a partir dele as categoriais de análise: paisagem, região, território, lugar, rede, e outros. 
A preocupação maior da Geografia escolar deve ser com o “espaço vivido”, seja a casa, 
a escola, o bairro, a cidade ou o país. Isto porque os conhecimentos geográficos são 
construídos na prática cotidiana para serem discutidos e ampliados através do saber 
geográfico. Assim, faz-se necessário a busca por uma prática pedagógica que estimule 
os educandos à reflexão crítica dos acontecimentos ao seu redor. Não se trata apenas de 
ensinar os conteúdos desta disciplina, mas buscar a formação de cidadãos críticos e o 
estímulo ao raciocínio. (KAERCHER, 1999; CAVALCANTI, 2007) 
 
A Escola de Excelência da Rede Privada de Ensino 
 
 Para conhecer o currículo da Escola de Excelência é necessário entender os 
sujeitos inseridos nesta realidade. São alunos que geralmente durante a vida escolar são 
incentivados a demonstrarem desempenho e desenvolvimento, para serem destaque no 
mercado, mais especificamente em vestibulares e concursos. Estes sujeitos pertencem a 
uma seleta camada socioeconômica, a elite, que investe em grande escala nos estudos 
dos filhos, cobrando da escola o retorno deste investimento. A escola “retribui” 
buscando a formação de sujeitos de consciência socioambiental e econômica no âmbito 
mundial, empreendedores e portadores do capital intelectual e cultural. 
Em pesquisa realizada no Rio de Janeiro, constata-se que a maioria das famílias 
“investidoras” na Escola de Excelência tem no máximo dois filhos, reforçando a ideia 
que é uma escola da elite, ou seja, para uma minoria. Acredita-se, então, que as futuras 
gerações também investirão neste modelo escolar, mantendo a atual dinâmica cultural, 
social e econômica (BRANDÃO, 2005). 
O acompanhamento dos pais aos estudos é intenso, participam de forma direita 
de toda a realidade escolar, portanto, a escola interage com a família. Este 
acompanhamento exige da escola a qualidade do ensino. Por isso há grandes 
investimentos em tecnologia, pesquisas e intercâmbios, visando também à conexão do 
aluno com o mundo. Os pais também são os avaliadores de todo o processo escolar, pois 
acompanham o desenvolvimento dos filhos. Não deixando de destacar a escolaridade 
destes pais, que em sua maioria possuem curso superior (BRANDÃO, 2003). 
O estudo de outras línguas, o conhecimento de outras culturas e realidades faz 
parte deste currículo; muitas vezes o aluno conhece outros estados e até mesmo o 
exterior por intermédio da escola. Esta característica é chamada por Brandão (2003) 
como a internacionalização das elites. 
Para a manutenção destas escolas a localização e as parcerias são 
importantíssimas. Portanto, localizam-se em bairros nobres das cidades brasileiras, em 
sua maioria nas capitais e regiões metropolitanas. 
 Os simulados e provas semelhantes aos vestibulares são os métodos de avaliação 
mais usados, tendo como objetivo a adaptação dos alunos ao clima intenso de processos 
seletivos e o “treinamento” para vestibulares e concursos. Os testes são muitos, sempre 
buscando as habilidades e competências de cada aluno. A escola elitista se encontra 
dentro de um sistema que busca “dons”, principalmente o intelectual, formando homens 
e mulheres para o mercado. 
 Em suma, são escolas que investem em infra-estrutura física (laboratórios, 
bibliotecas, lanchonetes, espaços multimeios, salas equipadas) e em pessoal 
(professores e funcionários treinados, e bem remunerados). As Escolas de Excelência 
abrem as cortinas para o capitalismo se expressar não na forma material, mas 
intelectual, denominada capital cultural. 
As novas leituras indicam que as investigações acerca do sucesso/fracasso 
escolar devem considerar tanto a quantidade de capital cultural acumulado pelos grupos 
sociais investigados quanto o conjunto de valores implícitos ou explícitos que estes 
mesmos grupos produzem de acordo com a sua posição social (BOURDIEU, 2002, p. 
39). 
As Escolas de Excelência ou de elite iniciaram sua história através das religiões. 
Sabe-se que a rede católica de ensino durante décadas dominou o campo do 
conhecimento, e somente no fim do século XX que outras instituições não católicas 
começaram a ter suas escolas de qualidade. Mas, ainda hoje observa-se que a maioria 
das escolas de elite pertencem a rede católica. 
A escolarização das escolas das elites implica mais do que a simples instrução; 
pressupõe um trabalho educacional amplo que tem como base a formação intelectual, 
cultural e ascensão na carreira profissional do sujeito. Esta, por sua vez, é alcançada a 
partir da interiorização de certos comportamentos e atitudes que se expressam segundo 
uma autodisciplina tanto da mente quanto do espírito que pode ser entendida como uma 
das formas de assegurar de modo eficaz a posição social que já lhes foi anteriormente 
garantida, em muitos casos, pelo nascimento. 
As práticas curriculares colocadas em prática por esse tipo de instituição incluem 
tais como o trabalho regular e produtivo, o exame periódico, o controle do tempo, o 
esquadrinhamento do espaço, as atividades esportivas, ginásticas, teatrais, entre outros 
trabalhos. 
 Essa Escola de Excelência é procurada na maioria das vezes devido a sua 
aprovação em números elevados nas maiores universidades públicas do país, como 
também no alto índice de aprovação de seus alunos em concursos públicos e privados 
mais concorridos. Os métodos utilizados partem das competências e habilidades 
enfatizadas pelos PCN, sendo o desenvolvimento da leitura, análise e interpretação dos 
representações geográficas (mapas, gráficos, tabelas etc.), considerando-os como 
elementos de representação de fatos e fenômenos espaciais e/ou espacializados. Além 
de desenvolver o reconhecimento e a aplicação do uso das escalas cartográfica e 
geográfica, como formas de organizar e conhecer a localização, distribuição e 
freqüência dos fenômenos naturais e humanos. Os PCN ainda destacam a importância 
de: 
 
 
Reconhecer os fenômenos espaciais a partir da seleção, 
comparação e interpretação, identificando as singularidades ou 
generalidades de cada lugar, paisagem ou território; selecionar e 
elaborar esquemas de investigação que desenvolvam a 
observação dos processos de formação e transformação dos 
territórios, tendo em vista as relações de trabalho, a 
incorporação de técnicas e tecnologias e o estabelecimento de 
redes sociais; analisar e comparar, interdisciplinarmente, as 
relações entre preservação e degradação da vida no planeta, 
tendo em vista o conhecimento da sua dinâmica e a 
mundialização dos fenômenos culturais, econômicos, 
tecnológicos e políticos que incidem sobre a natureza, nas 
diferentes escalas – local, regional, nacional e global (BRASIL, 
p. 35, 2000). 
 
Embora deva se considerar a realidade destes alunos não é possível deixar de 
abordar as questões socioeconômicas e as diversidades culturais existentes no país. 
Desta forma, este aluno poderá ser um sujeito, já que terá a consciência de intervir na 
realidade, conforme as diretrizes do PCN que declaram a necessidade em se: 
 
Reconhecer na aparência das formas visíveis e concretas do 
espaço geográfico atual a sua essência, ou seja, os processos 
históricos, construídos em diferentes tempos, e os processos 
contemporâneos, conjunto de práticas dos diferentes agentes, 
que resultam em profundas mudanças na organização e no 
conteúdo do espaço; compreender e aplicar no cotidiano os 
conceitos básicos da Geografia; identificar, analisar e avaliar o 
impacto das transformações naturais, sociais, econômicas, 
culturais e políticas no seu “lugar-mundo”, comparando, 
analisando e sintetizando a densidade das relações e 
transformações que tornam concreta e vivida a realidade.(BRASIL, p. 35, 2000) 
 
Considerando a grande valorização dos recursos didáticos que muitas vezes 
ocorre na Escola de Excelência, torna-se necessário o desenvolvimento da interação 
entre os alunos e estes com outros atores sociais. Algumas práticas que os professores 
de geografia podem desenvolver se encontram FERREIRA (2009) que diz que 
 
O professor de Geografia pode explorar metodologias que 
desenvolva as habilidades espaciais através de atividades 
corporais com seus alunos. Para trabalhar a questão da 
corporeidade pode propor atividades teatrais relacionadas aos 
conteúdos trabalhados naquele momento. Estas atividades 
também podem ser desenvolvidas a partir de dinâmicas que 
permitam aos alunos se perceber em determinados espaços. É 
possível também se trabalhar diversas questões espaciais através 
de uma partida de futebol ou de um jogo de “rouba bandeira” 
(FERREIRA, p. 13, 2009). 
 
Examinando as características do ensino da Escola de Excelência no que diz 
respeito a geografia pode-se observar que a esta coloca o aluno com suas vivências. 
Porém podem-se sugerir também apresentações de danças ou outras manifestações 
culturais, tanto locais quanto de outras regiões. Considerando que as relações 
construídas no espaço da escola muitas vezes geram laços de afetividade, é possível 
explorar este aspecto para construção de conceitos geográficos, além de outros locais 
que não a escola para a construção destes conhecimentos, já que em alguns casos a 
escola não é este lugar de afetividade, mas um lugar onde o aluno tem um dever de 
estar, independente de sua vontade. Um exercício interessante é investigar com quais 
outros lugares os alunos possuem esta relação de afetividade. 
 Portanto, a Escola de Excelência possui uma trajetória peculiar, trazendo 
consigo a disciplina e a rigorosidade, buscando atingir seus objetivos e o ápice da 
qualidade de ensino, servindo inclusive de referência para outras instituições de ensino. 
Entretanto, isto não a isenta de estar aberta à busca por novos métodos de ensino, 
mesmo porque ela mudou sua ideologia devido às transformações sociais vividas ao 
longo dos anos. 
 
Considerações 
 
A educação é uma intervenção social, que de acordo com a ideologia do 
educador, promove a estagnação ou a transformação da sociedade. É extremamente 
importante que os educadores tenham consciência de sua capacidade de influenciar e 
transformar. A prática pedagógica em Geografia como de outras disciplinas jamais é 
neutra. 
Este artigo pretende-se levar a uma reflexão para futuras pesquisas/ estudos 
sobre o tema abordado. Além de revelar que as práticas educativas não podem ser 
exclusivamente caracterizadas em um único conceito, mas sim colaboram para uma 
transição entre os múltiplos ambientes, sendo, portanto, distintas, mas em constante 
interação. A Escola de Excelência deve sempre interagir seus alunos com o mundo, 
mesmo que “esse mundo” não seja o deles, para que tais alunos percebem as diferenças 
sociais do nosso país. 
Apesar dos pais buscarem esse tipo de escola enfatizada neste estudo, é preciso 
refletir também que o processo educativo desses alunos juntos com seus familiares é de 
suma importância para o seu desempenho escolar, o que reflete na própria qualidade do 
ensino. Outra questão relevante é que essas escolas precisam em algum momento olhar 
seus alunos como seres humanos, e como os seres humanos são complexos, e não 
apenas como uma máquina de aprender. Nunca é demais lembrar que aprender é uma 
ação humana criativa, individual, heterogênea e regulada pelo sujeito da aprendizagem. 
São as diferentes idéias e opiniões, que eleva de fato o ensino. 
 
Referências Bibliográficas 
 
BOURDIEU, P. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. 
In: NOGUEIRA, Maria A. e CATANI, A. (Org.). Escritos de educação. Petrópolis: 
Vozes, 2002, p. 39-64. 
 
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Brasília: MEC, 1998, 174 p. 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. 
Parâmetros curriculares nacionais: Ensino médio. Brasília: MEC, 2000, 109 p. 
 
BRANDÃO, I LELLIS. Elite acadêmica e a escolarização os filhos. Educação e 
Sociedade, n.83, p. 509-526, ago. 2003. Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/es/v24n83/a11v2483.pdf. Acesso em 17 de Abril de 2008. 
 
 
BRANDÃO, Zaia; MANDELERT, Diana; DE PAULA, Lucília. A circularidade 
virtuosa: investigação sobre duas escolas no Rio de Janeiro. Cadernos de Pesquisa, 
São Paulo, v. 35, n.126, Set./Dez., 2005, p.747-758. Disponível em: 
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COIMBRA, Ivanê Dantas. Educação Contemporânea e currículo escolar: alguns 
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DOLL, W. E. Jr. Currículo: uma perspectiva pós-moderna. Tradução de Maria Adriana 
Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 
 
FERREIRA, Carla Fernanda Torres; OLIVEIRA, Janete Regina. O ensino de geografia 
e o aluno enquanto sujeito sócio-cultural. 12º Encontro de Geógrafos da América 
Latina. Montevidéo: 2009. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 11 ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1994. 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 33 ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 
2006. 
 
SACRISTÁN, José Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3.ed. Porto 
Alegre: Artmed Editora Ltda., 2000. 352p. 
 
ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed Editora 
Ltda., 1998.

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