Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
CAPÍTULO 1 GRANDEZAS ELÉTRICAS BÁSICAS 1.1 CONDUTORES E ISOLANTES A estrutura íntima dos materiais é um ramo da Física que ainda não está completamente estudado. No entanto, grande parte dos fenômenos elétricos e eletromagnéticos pode ser explicada usando-se um modelo bastante simples, conhecido como o átomo de Rutherford. O modelo de Rutherford, também chamado planetário é visto na Figura 1.1; propõe que qualquer átomo possui um núcleo – composto por cargas positivas (prótons) e neutras (nêutrons) – em torno do qual circulam cargas negativas (elétrons) em órbitas bem definidas. Para o estudo de Eletricidade importam apenas os elétrons que ocupam a camada mais distante do núcleo. São as propriedades desses elétrons que ditarão as características elétricas do material. Assim, se os elétrons da camada mais externa estiverem frouxamente ligados ao núcleo, eles poderão “fugir” do átomo, tornando-se elétrons livres, capazes de se movimentar aleatoriamente através do material. Na maior parte dos casos práticos, são esses elétrons livres que participam dos processos elétricos como portadores de corrente. Materiais condutores são aqueles que possuem grande quantidade de elétrons-livres: mesmo pequenas quantidades de energia são suficientes para desalojá-los de seus átomos. Materiais desta categoria, que inclui a maioria dos metais, são adequados para a confecção de fios, fusíveis, contatos, etc. Nos materiais isolantes, mesmo os elétrons mais externos estão fortemente ligados ao núcleo, de forma que só podem ser libertados pela aplicação de grandes quantidades de energia. Isso os tornando adequados para a confecção de dispositivos de isolação (dielétricos): borrachas, cerâmicas e poliestireno são alguns desses materiais. No linguajar dos eletricistas, o termo condutor costuma ser aplicado aos fios e cabos, elementos usados na transmissão e distribuição de energia elétrica. Os fios são condutores maciços e rígidos; cabos são condutores formados por dois ou mais fios, geralmente trançados, o que lhes confere maior flexibilidade. Figura 1.1 - Átomo de Rutherford. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 2 1.2 CORRENTE ELÉTRICA A corrente elétrica (simbolizada por i) consiste no movimento de cargas elétricas em um sentido predominante. Este movimento sempre é devido à existência de uma tensão (V. Seção 1.3) e seu sentido depende do tipo de carga elétrica que está em movimento. Como se viu na seção anterior, nos condutores metálicos as cargas disponíveis são negativas (elétrons- livres), de modo que o seu deslocamento coincide com o chamado sentido eletrônico da corrente. No entanto, historicamente os conceitos da Física foram criados a partir de cargas positivas; chama-se sentido convencional àquele do deslocamento dessas cargas positivas. A Figura 1.2 mostra a diferença entre essas duas convenções; neste trabalho adotou-se o sentido convencional para a corrente. Além do sentido, a corrente também é caracterizada por um módulo ou intensidade 1 , que considera a variação da carga q que passa pelo condutor durante o intervalo de tempo t. Assim, o módulo é dado por t q i (1.1) e tem como unidade o Ampère (símbolo A). São bastante comuns os submúltiplos miliampère (mA) = 10 -3 A e microampère (A) = 10-6 A Quando o módulo e o sentido da corrente em um condutor não variam com o tempo, como o caso mostrado no gráfico da Figura 1.3a, está-se tratando de corrente contínua (CC); equipamentos alimentados por pilhas ou baterias operam com correntes desse tipo. Se o módulo e o sentido variam no tempo de forma a serem descritos por uma função senoidal, como mostrado na Figura 1.3b, diz-se tratar de corrente alternada (CA) 2 . Quando a corrente elétrica passa por um corpo, um ou mais dos seguintes efeitos podem ser observados: Produção de calor, resultante dos choques entre as cargas portadoras de corrente com partículas do material condutor. Este efeito fundamenta a ação de inúmeros aparelhos, como chuveiros e aquecedores elétricos, relés e fusíveis; 1 Alguns eletricistas usam o termo amperagem. 2 É oportuno lembrar que na língua inglesa usam-se os termos DC (de direct current) e AC (de alternated current) para corrente contínua e corrente alternada, respectivamente. Figura 1.2 – Sentidos convencional e eletrônico da corrente em um condutor. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 3 Geração de luz: por vezes o calor gerado pela corrente é tão elevado que leva o condutor à incandescência, produzindo luz no espectro visível. É o caso das lâmpadas incandescentes e mistas. Criação de um campo magnético em torno do condutor, fenômeno que fundamenta o funcionamento dos motores elétricos; Interferência em atividades dos seres vivos, cuja manifestação mais evidente é o choque elétrico; os eletrocardiógrafos, as cercas eletrificadas e desfibriladores também são baseados nesse efeito; Reações químicas, como aquelas utilizadas como princípio em eletrólise e cromagem de metais (a) (b) Figura 1.3 - Formas de onda de corrente: (a) contínua; (b) alternada. 1.3 TENSÃO ELÉTRICA A tensão elétrica é uma espécie de “força” que desloca as cargas elétricas em um circuito fechado; portanto, a corrente elétrica sempre é um resultado da aplicação de tensão. Diferença de potencial (d.d.p.), força eletromotriz (f.e.m.) e voltagem são outros termos usados para designar tensão. A tensão (u) fornece energia uma carga q do circuito, de forma que seu módulo é dado por q u (1.2) Sua unidade é o Volt (símbolo V), mas os seguintes múltiplos e submúltiplos aparecem com freqüência: quilovolt (kV) = 10 3 V e milivolt (mV) = 10 -3 V Quando aplicada aos terminais de um dispositivo, a tensão altera o equilíbrio das cargas: um destes terminais ficará com falta de elétrons - e, portanto, positivamente carregado - enquanto o outro terá excesso de elétrons, ficando carregado com carga negativa. Chama-se a isto de polaridade da tensão, que é representada por um par de sinais + e – (Figura 1.4). ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 4 Figura 1.4 - Polaridade da tensão De acordo com seu comportamento em relação ao tempo, as tensões podem ser classificadas em dois tipos: contínua (CC): quando mantém constantes seu módulo e sua polaridade. Uma pilha e a bateria de um automóvel são exemplos de tais fontes. alternada (CA): quando é do tipo senoidal, como aquela fornecida pelas tomadas residenciais. 1.4 POTÊNCIA E ENERGIA O conceito de energia é intuitivo. Em Eletrotécnica, diz-se que é uma grandeza capaz de alterar o comportamento das cargas elétricas de um circuito. Sua unidade no SI é o joule (símbolo J), cujo uso em aplicações elétricas geralmente produz números muito grandes, de modo que usualmente trabalha-se com uma unidade “derivada”, chamada quilowat-hora (kWh) = 3.600 J A potência é uma grandeza que revela como se comporta a energia associada a um corpo em relação ao tempo 3 . Assim t p (1.3) No Sistema Internacional, a unidade de potência é o Watt (símbolo W), sendo corriqueira, ainda, a utilização dos seguintes múltiplos e submúltiplos: megawatt (MW) = 10 6 W quilowatt (kW) = 10 3 W miliwatt (mW) = 10 -3 W. Quando se trata de potência mecânica, geralmente associada a motores elétricos, costuma-se utilizar as seguintes unidades: cavalo-vapor (cv) = 736 W horse-power (hp) = 745,7 W. 3 Costuma-se dizer que a potência mede a velocidade com que a energia de um sistema é transformada. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 5 No caso de aplicações elétricas, e levando-se em consideração as Equações 1.1 e 1.2, pode-se reescrever a Equação 1.3 como se segue: t q qt p p = u.i (1.4) que é a chamada potência instantânea, pois depende dos valores de tensão e corrente a cada instante. Quando se lida com tarifação de energia elétrica, é comum chamar-se demanda à potência exigida por um equipamento e consumo à energia requerida pelo mesmo. Como em qualquer sistema físico, existem nos circuitos elétricos elementos que fornecem energia e outros que a absorvem, armazenando-a ou transformando-a em outro tipo de energia. Por convenção, a potência absorvida por um elemento tem sinal positivo e acontece quando o sentido da corrente é tal que entra pelo pólo positivo da tensão no elemento; se, ao contrário, a corrente entra pelo pólo negativo da tensão, a potência associada ao elemento é negativo, isto é, ele estará fornecendo potência. 1.5 RENDIMENTO O rendimento () é a relação entre as potências de saída (Ps) e de entrada (Pe) de um circuito ou equipamento, isto é e s P P (1.5) Esta grandeza adimensional exprime a eficiência de um equipamento ou circuito, pois a diferença entre essas potências corresponde às perdas que ocorrem dentro do equipamento ou ao longo de sua alimentação. Muitas vezes, o rendimento é expresso em termos percentuais (%) relativamente à potência de entrada. O significado dessas potências e das perdas é mostrado na Figura 1.5, no que se chama balanço de potências. Conforme a Lei da Conservação de Energia, este balanço sempre deve ser igual a zero, isto é Pe = Ps + perdas Figura 1.5 – Balanço de potências num equipamento elétrico. CAPÍTULO 2 CIRCUITOS ELÉTRICOS: LEIS FUNDAMENTAIS E CONCEITOS BÁSICOS 2.1 TERMINOLOGIA EMPREGADA Um circuito elétrico resulta da interligação de elementos de forma a orientar o fluxo de energia para obter um efeito específico (como limitar a corrente em um dispositivo ou ligar um equipamento elétrico). Na Fig. 2.1a é mostrado um circuito que envolve uma lâmpada e um motor elétrico de CC; este circuito real pode ser representado através de um esquema, mostrado na Figura 2.1b. (a) (b) Figura 2.1 – Circuito elétrico: (a) visão real; (b) esquema representativo. A seguir, são definidos alguns termos usados na análise de circuitos elétricos: Nó: ponto de conexão entre dois ou mais elementos que compõe um circuito; na Figura 2.1, os pontos a e b são nós que conectam três elementos cada um (chamados nós efetivos), enquanto que os pontos m e n são nós que conectam dois elementos (nós aparentes). Ramo: trecho do circuito compreendido entre dois nós efetivos. No circuito da Figura 2.1b há três ramos, todos delimitados pelos nós efetivos a e b: um com a fonte de 12 V, o segundo com o interruptor Ch 1 e a lâmpada L e o último com a chave Ch 2 e o motor M. Laço: qualquer percurso fechado de um circuito. Existem três laços no circuito da Figura 2.1b: um externo (contendo a fonte, a chave Ch 2 e o motor) e dois internos (o primeiro com a fonte, o interruptor Ch 1 e a lâmpada e o outro com os dois interruptores, a lâmpada e o motor). ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 8 Malha é um percurso fechado (laço) que não tem qualquer internamente; é o caso dos dois percursos internos do circuito da Figura 2.1(b). A Figura 2.2 mostra um circuito hipotético contendo seis elementos. Apesar de seus seis pontos de conexão (a, b, c, d, e e f), este circuito tem somente quatro nós: os pontos b e e estão ligados entre si, sem que haja qualquer elemento entre eles, configurando um único nó; o mesmo se dá com os pontos d e f. Assim, os nós desse circuito são a, b, c e d, sendo a e c nós aparentes. É costume expressarem-se as tensões através da chamada notação de subíndice duplo, na qual se podem substituir os sinais + e – indicativos da polaridade por um subíndice que explicita os dois nós entre os quais se está verificando a tensão: a primeira letra (ou número) representa o nó com polaridade positiva. Por exemplo, na Figura 2.2 se uab = 10 V, o nó a é o polo positivo da tensão; porém se ucd = - 8 V, então o polo positivo está posicionado no nó d. Figura 2.2 – Circuito hipotético. 2.2 LEIS DE KIRCHOFF O estudo de Eletrotécnica está fortemente ancorado em duas leis enunciadas pelo alemão Georg Kirchoff, há mais de três séculos atrás: a) Lei das Correntes (LCK) Em um circuito elétrico, a soma algébrica das correntes de qualquer nó é igual à zero, a qualquer instante de tempo. Se adotarmos um sinal para as correntes que chegam ao nó e o sinal oposto para as correntes que dele saem, a Lei das Correntes de Kirchoff pode ser dada por uma soma algébrica, isto é: 0i NÓ (2.1) Por exemplo, no circuito da Figura 2.2, a LCK aplicada ao nó b resulta em: i1 - i2 - i3 - i4 = 0. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 9 b) Lei das Tensões (LTK) A soma algébrica das tensões ao longo de um laço de circuito é igual a zero, a qualquer instante de tempo. Matematicamente esta lei pode ser expressa pela equação 0uLAÇO (2.2) Para aplicar essa lei a um laço, escolhe-se um sentido para o percurso (horário ou anti-horário); ao se "entrar" num elemento por seu pólo positivo, soma-se a tensão sobre o mesmo, caso contrário subtrai-se esta tensão. Exemplificando, se for tomado o laço esquerdo do circuito da Figura 2.2 e a escolha do sentido do percurso for horária, a LTK ficará: uab + ubc + ucd – uad = 0. 2.3 ASSOCIAÇÃO DE ELEMENTOS Os elementos de um circuito elétrico são interligados de forma a produzir algum resultado que se deseje. Esta interligação ou associação de elementos pode dar-se de duas maneiras: em série ou em paralelo. 2.3.1 Em Série Dois ou mais elementos estão associados em série quando a são percorridos pela mesma corrente; portanto, os elementos que compõe a associação série formam um único ramo. Os elementos E1, E2 e E3 mostrados na Figura 2.3a estão associados em série, sendo a corrente i comum a todos eles. Observe-se que as tensões sobre os elementos podem diferir entre si, mas, de acordo com a LTK: uad = uab + ubc + ucd. Um dos aspectos importantes da associação série é que a retirada ou avaria de um dos elementos interrompe o funcionamento de todo o ramo. Assim, faz-se esse tipo de associação quando se deseja controlar, proteger ou limitar a corrente em um dispositivo. Por exemplo, na Figura 2.3b, o disjuntor (dispositivo de proteção), o amperímetro (aparelho de medida de corrente) e a chave (dispositivo de controle) estão ligados em série com o motor M em uma rede de 220 V CA. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 10 Figura 2.3 – Associação de elementos em série: (a) associação genérica; (b) exemplo de associação série. 2.3.2 Em Paralelo Dois ou mais elementos estão associados em paralelo quando estão submetidos à mesma tensão. Portanto, numa associação paralela, todos os elementos componentes estão ligados a um mesmo par de nós do circuito. Na Figura 2.4a, os elementos E1, E2 e E3 estão associados em paralelo, todos eles submetidos à mesma tensão uab. As correntes nos elementos não serão necessariamente iguais entre si e a aplicação da LCK ao nó a resulta na equação i = i1 + i2 + i3. Figura 2.4 – Associação de elementos em paralelo: (a) associação genérica; (b) exemplo de instalação residencial. Usa-se a associação em paralelo para interligar os equipamentos nas instalações elétricas residenciais e industriais (Figura 2.4b), já que possibilita a alimentação de todos eles com a tensão da rede elétrica, além de permitir a inserir (ligar) ou retirar (desligar) uma carga sem interferir no funcionamento das demais. CAPÍTULO 3 ELEMENTOS DOS CIRCUITOS 3.1 INTRODUÇÃO Um circuito elétrico pode ser composto de vários dispositivos, como interruptores, motores e lâmpadas, interligados por condutores (fios ou cabos). Para facilitar os processos de análise, muitas vezes convém trabalhar com modelos físicos desses dispositivos. Tais modelos são construídos a partir de quatro elementos básicos, também chamados ideais: resistores, indutores, capacitores e fontes de alimentação. 3.2 RESISTORES A resistência é a grandeza que quantifica o grau de oposição que um corpo oferece à passagem de corrente elétrica. Resistores são elementos especialmente construídos para apresentarem resistência 1 . Algumas das aplicações dos resistores são a limitação da corrente elétrica e a produção de calor; lâmpadas incandescentes também aproveitam a resistência de seu filamento para a produção de luz. Porém o fenômeno da resistência pode ser utilizado por dispositivos que operam com outras grandezas físicas, como esforços mecânicos ou temperatura (Figura 3.1). (a) (b) (c) (d) (e) Figura 3.1 – Exemplos de resistores comerciais: (a) de carbono; (b) de fio, para aquecimento; (c) termistor (resistor controlado por temperatura); (d) célula de carga (resistor controlado por esforço mecânico); (e) LDR (resistor controlado por luz). 1 Resistor é o elemento físico (substantivo) e resistência é a sua qualidade (adjetivo). No entanto, é comum chamar o resistor de resistência. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 12 Os resistores podem ser fixos ou variáveis; estes, muitas vezes chamados de potenciômetros, podem ter sua resistência alterada mediante o giro de um eixo ou deslizando-se um contato. Os símbolos de resistores são mostrados na Figura 3.2. Figura 3.2 - Tipos de resistores e simbologia: (a) fixo; (b) variável (potenciômetro). (a) (b) Se uma tensão u é aplicada a um corpo, por este circulará uma corrente i. A resistência desse corpo é dada pela relação conhecida como Lei de Ohm: i u R (3.1) e sua unidade é o ohm (símbolo ). Resistores comerciais atingem facilmente a casa dos quilohms (k = 10 3 ) ou megohms (M = 10 6 ). Denomina-se condutância (G) ao inverso da resistência, isto é R 1 G (3.2) cuja unidade é o Siemen (S) 2 . A resistência de um corpo depende de suas dimensões físicas e do material com que é confeccionado. Se l é o comprimento do corpo (no sentido do deslocamento da corrente) e A é área de seção reta, sua resistência é dada por A R (3.3) onde é a chamada resistividade do material. No SI a resistividade é dada em ohm × metro ( .m), porém uma unidade mais prática é o ohm × milímetro quadrado/metro ( .mm 2 /m). A Tabela 3.1 mostra a resistividade de alguns materiais usados em Eletrotécnica. A temperatura também exerce influência sobre o valor da resistência: nos condutores metálicos a resistência é diretamente proporcional à temperatura; porém em certos materiais, como o carbono, esta variação se dá de forma indireta. O coeficiente de temperatura é a grandeza que relaciona a resistência e a temperatura: se Rref é a resistência de um corpo à temperatura de referência ref (usualmente 20 o C), para outra temperatura , a resistência desse corpo será ](1[RR refref (3.4) No SI a unidade do coeficiente de temperatura é o grau Celsius inverso (1/ o C = o C -1 ) e a Tabela 3.1 mostra o valor de para alguns materiais usados em Eletrotécnica. 2 Esta unidade também é conhecida por mho, que é a grafia inversa de ohm, tendo como símbolo o ohm invertido (Ʊ ). ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 13 Tabela 3.1 – Valores de resistividade e coeficiente de temperatura de alguns materiais usados em Eletrotécnica Material Resistividade ( .mm 2 /m) Coeficiente de temperatura ( o C -1 ) Aço 0,0971 11 10 -6 Alumínio 0,0265 0,0039 Borracha 1 10 19 - Carbono (grafite) 35,00 -0,0005 Cobre 0,0172 0,0039 Constanta 1 0,4900 10 -5 Germânio 4,6 10 5 -0,05 Manganina 2 0,4820 2 10 -6 Nicromo 3 1,500 0,0004 Silício 6,4 10 8 -0,07 1 Liga com 55% de Cu e 45% Ni 2 Liga com 86% de Cu, 12% de Mn e 2% de Ni 3 Liga com 61% de Ni, 23% de Cr e 16% de Mo A potência associada a resistores pode ser determinada conjugando-se as equações 1.4 e 3.1: 2Rip i).i.R(i.up (3.5) ou, alternativamente, R u p R u ui.up 2 (3.6) Se uma corrente i (ou uma tensão u) é aplicada a um resistor R durante um intervalo de tempo t, a energia associada ao elemento é t R u tRi 2 2 (3.7) Associação de resistores Em série Na Figura 3.3a vê-se uma associação série de três resistores, o que significa que a corrente i é comum a todos. Se u1, u2 e u3 forem as tensões sobre os resistores R1, R2 e R3, respectivamente, e uT for a tensão na entrada da associação, a LTK impõe: uT = u1 + u2 + u3. Usando a Lei de Ohm (Equação 3.1) uT = R1.i + R2.i + R3.i = (R1 + R2 + R3).i ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 14 Figura 3.3 – Associação de resistores em série: (a) associação de três resistores em série; (b) resistor equivalente. O resistor equivalente Req (Figura 3.3b) é aquele que produzirá a mesma corrente i se lhe for aplicada a mesma tensão uT. Neste caso uT = Req.i Comparando as duas equações Req = R1 + R2 + R3 Generalizando, pode-se dizer que para uma associação de n resistores em série, a resistência equivalente é dada pela soma das n resistências: n 1i neq RR (3.8) Em Paralelo Se três resistores R1, R2 e R3 estão associados em paralelo (Figura 3.4a), alimentados por uma tensão comum u, a corrente sobre cada um deles será, respectivamente, i1, i2 e i3. Pela LCK, conjugada com a Lei de Ohm, a corrente total da associação será: 321321 321T R 1 R 1 R 1 u R u R u R u iiii Para o resistor equivalente Req (Figura 3.4b), vale a equação eq T R u i logo, comparando as duas expressões: 321eq R 1 R 1 R 1 R 1 ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 15 Figura 3.4 – Associação de resistores em paralelo: (a) associação de três resistores em paralelo; (b) resistor equivalente. Para n resistores em paralelo, a resistência equivalente pode ser encontrada através da expressão: n 1i ieq R 1 R 1 (3.9) 3.3 CAPACITORES Capacitores são elementos compostos por duas superfícies condutoras, chamadas armaduras, isoladas uma da outra por um dielétrico. Na Figura 3.5 vê-se o símbolo genérico de capacitores (fixos e variáveis). Figura 3.5 – Símbolo de capacitor: (a) fixo; (b) variável ou ajustável. Quando um capacitor é submetido a uma tensão u, certa quantidade de cargas elétricas negativas (-q) é armazenada em uma das armaduras; para atender ao equilíbrio eletrostático, a outra armadura ficará carregada positivamente com carga +q, de mesmo módulo. A carga em cada uma dessas armaduras dependerá da tensão aplicada, segundo a equação q = Cu (3.10) onde C é uma constante de proporcionalidade denominada capacitância, tendo por unidade o Farad (F). Em termos práticos, essa unidade é muito grande, de forma que a ordem de grandeza dos capacitores comerciais é microfarad ( F) = 10 -6 F nanofarad (nF) = 10 -9 F ou picofarad (pF) = 10 -12 F. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 16 Se a tensão nos terminais de um capacitor sofrer variação, haverá alteração da carga acumulada nas armaduras; neste caso, a movimentação das cargas se constituirá em corrente. De fato, derivando a Equação 3.8 em relação ao tempo )Cu( dt d dt dq De acordo com a Equação 1.1, o termo mais à esquerda representa a corrente i no capacitor, logo dt du Ci (3.11) A análise desta equação deixa claro que só haverá corrente num capacitor se a tensão em seus terminais variar. No caso de tensões constantes, a corrente será sempre zero, seja qual for o módulo; diz-se, assim, que um capacitor se comporta como um circuito aberto quando submetido a CC 3 . A energia armazenada no campo elétrico de um capacitor de capacitância C é dada por du.u.Cdt. dt du C.udt.i.udt.p 2Cu 2 1 (3.12) A capacitância é uma grandeza que depende, fundamentalmente, das dimensões das armaduras, da distância entre elas e do dielétrico usado. A Tabela 3.2 relaciona alguns dielétricos e sua constante dielétrica ( ), grandeza adimensional que indica quantas vezes a capacitância de um capacitor usando tal dielétrico seria maior que a de outro, idêntico, porém usando o vácuo como dielétrico. Tabela 3.2 – Constante dielétrica de alguns dielétricos usados em capacitores. Material Constante dielétrica ( ) Material Constante dielétrica ( ) vácuo 1 papel parafinado 2,5 água destilada 80 plástico 3 ar (1 atm) 1,0006 polistireno 2,5 - 2,6 ar (100 atm) 1,0548 pyrex 5,1 mica 3 - 7 silício fundido 3,8 óleo 4 teflon 2 papel 4 - 6 titanatos 50 - 10000 Os capacitores comerciais podem ter denominação de acordo com a forma de suas armaduras (placas planas, tubulares, etc.) e/ou conforme o dielétrico utilizado (mica, poliestireno, etc.). A Figura 3.6 mostra alguns capacitores comercialmente disponíveis. 3 Esta afirmativa só é válida quando o circuito no qual está inserido o capacitor tiver atingido o chamado regime permanente (v. Seção 4.2). ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 17 (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 3.6 – Capacitores comerciais: (a) eletrolítico; (b) poliéster metalizado; (c) tântalo; (d) "disco", com dielétrico cerâmico; (e) variável, com dielétrico de ar; (f) capacitor ajustável ou trimmer. Associação de capacitores Em série A Figura 3.7a mostra três capacitores C1, C2 e C3 associados em série, sendo u1, u2 e u3 a tensão sobre cada um deles, respectivamente. Aplicando a LTK, conjugada com a expressão inversa da Equação 3.11, a tensão uT nos terminais da associação será: dt.i C 1 C 1 C 1 dt.i C 1 dt.i C 1 dt.i C 1 uuuu 321321 321T Figura 3.7 – Associação de capacitores em série: (a) associação de 3 capacitores em série; (b) capacitor equivalente. Para o capacitor equivalente Ceq mostrado na Figura 3.7b a equação será dt.i C 1 u eq T logo, comparando as duas últimas expressões: ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 18 321eq C 1 C 1 C 1 C 1 Generalizando, o capacitor equivalente de uma associação série de n capacitores é n 1i ieq C 1 C 1 (3.13) Em paralelo Numa associação paralela de capacitores, como a da Figura 3.8a, a aplicação da LCK assegura que: dt du CCC dt du C dt du C dt du Ciiii 321321321T Para o circuito do capacitor equivalente Ceq mostrado na Figura 3.8b dt du Ci eqT de onde se conclui que Ceq = C1 + C2 + C3 Para uma associação de n capacitores em paralelo n 1i ieq CC (3.14) Figura 3.8 – Associação de capacitores em paralelo: (a) associação de 3 capacitores em paralelo; (b) capacitor equivalente. 3.4 INDUTORES No entorno de um condutor percorrido por corrente um campo magnético é criado (Figura 3.9a); se este condutor é enrolado em forma de bobina (Figura 3.9b), este campo é reforçado. Os campos magnéticos são representados por linhas, e o número de linhas por unidade de área é denominado fluxo magnético ( ). ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 19 (a) (b) Figura 3.9 - Campo magnético criado por corrente: (a) em um condutor retilíneo; (b) em uma bobina. É importante observar que o fluxo é diretamente proporcional ao módulo da corrente. No caso de um enrolamento com N espiras, o fluxo total é N = Li (3.15) onde L é uma constante de proporcionalidade chamada indutância, cuja unidade no SI é o Henry (H). Indutores são elementos que se caracterizam por apresentar indutância; na Figura 3.10 são mostrados o símbolo destes elementos e alguns exemplos de indutores disponíveis no comércio. (a) (b) (c) (d) Figura 3.10 – Indutores: (a) símbolo; (b) para montagem em circuito impresso; (c) com núcleo de ar; (d) com núcleo de ferrite (choke). Em meados do século XIX, Faraday demonstrou a interação existente entre variações do campo magnético e a geração de tensão. Segundo a lei que leva seu nome, se o fluxo magnético total em uma bobina varia com o tempo, entre seus terminais será induzida uma tensão (u) proporcional à taxa da variação do fluxo com o tempo, isto é dt )N(d u (3.16) Conjugando as Equações 3.15 e 3.16 ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 20 dt di Lu (3.17) É importante observar que só há tensão nos terminais de um indutor se a corrente que o percorre variar com o tempo. Se o condutor for percorrido por corrente contínua, sua tensão será nula: por isso se diz que os indutores se comportam como curto-circuito em CC 4 . Os indutores referidos no parágrafo anterior são elementos ideais; na prática, há que se considerar a resistividade do condutor com o qual se faz o enrolamento. Fique claro que, a menos que se diga em contrário, os indutores referidos neste texto sãoconsiderados ideais. A energia que está armazenada no campo magnético de um indutor é dada por: di.i.Ldt.i. dt di Ldt.i.udt.p 2Li 2 1 (3.18) Associação de indutores Em série A Figura 3.11a mostra três indutores L1, L2 e L3 associados em série, sendo u1, u2 e u3 a tensão sobre cada um deles, respectivamente. Aplicando a LTK, conjugada com a Equação 3.17, a tensão uT nos terminais da associação será: dt di )LLL( dt di L dt di L dt di Luuuu 321321321T Figura 3.11 – Associação de indutores em série: (a) associação de 3 indutores em paralelo; (b) indutor equivalente. Para o indutor equivalente Leq mostrado na Figura 3.11b a equação será dt di Lu eqT 4 Como no caso dos capacitores, esta afirmativa é válida quando o circuito no qual está inserido o indutor tiver atingido o chamado regime permanente (V. Seção 4.2). ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 21 logo, comparando as duas últimas expressões: Leq = L1 + L2 + L3 Então, dada uma associação de n indutores em série: n 1i ieq LL (3.19) Em paralelo Numa associação paralela de indutores, como a da Figura 3.12a, a aplicação da LCK assegura que: dt.u L 1 L 1 L 1 dt.u L 1 dt.u L 1 dt.u L 1 iiii 321321 321T Para o circuito do indutor equivalente Leq mostrado na Figura 3.12b dt.u L 1 i eq T de onde se conclui que 321eq L 1 L 1 L 1 L 1 Figura 3.12 – Associação de indutores em paralelo: (a) associação de 3 indutores em paralelo; (b) indutor equivalente. Generalizando, o indutor equivalente de uma associação série de n indutores é n 1i ieq L 1 L 1 (3.20) 3.5 FONTES Fontes são elementos cuja função é alimentar os circuitos, isto é, fornecer-lhes a energia necessária para seu funcionamento. Caracterizam-se por apresentar entre seus terminais de saída uma tensão, muitas vezes chamada de força eletromotriz (f.e.m.), que pode ser contínua ou alternada. Assim, as fontes podem ser classificadas em: ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 22 fontes de CC, que fornecem uma tensão constante, como as pilhas e baterias automotivas; fontes de CA, em cuja saída tem-se uma tensão senoidal, como nos alternadores. Os símbolos usados para os dois tipos de fontes são mostrados na Figura 3.13. Figura 3.13 – Símbolos de fontes: (a) de CC fixa; (b) de CC variável; (c) de CA. Quando uma carga é conectada à saída da fonte haverá circulação de corrente, cuja intensidade dependerá das exigências da carga (Figura 3.14a). Uma fonte de tensão ideal é aquela cuja tensão de saída (u) independe da corrente (i) fornecida à carga; sua característica V A é, portanto, uma reta paralela ao eixo das abscissas, como mostra a linha tracejada na Figura 3.14b. Figura 3.14 – Fontes: (a) modelo de uma fonte alimentando uma carga; (b) característica V A de fonte ideal e real. Na prática, as fontes reais se comportam como ideais dentro de certo intervalo: à medida que a carga exija correntes mais altas, a tensão nos terminais da fonte começa a decrescer (Figura 3.14b, em linha cheia). A tensão nominal é aquela fornecida pela fonte quando a corrente em seus terminais é zero, ou seja, quando não há carga conectada à fonte (diz-se que os terminais da fonte estão em aberto). Então, na característica V×A da Figura 3.14b, quando i = 0 u = En (3.21) onde En é a tensão nominal da fonte. Embora se esteja usando um exemplo de CC, o raciocínio vale também para as fontes de CA. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 23 Associação de fontes • Em série Fontes podem ser associadas em série a fim de aumentar multiplicar a tensão. Só há sentido em tal associação se as fontes forem iguais entre si; se isto não ocorrer, há o risco de um dos elementos drenar energia de outros. Na associação de fontes em série deve-se observar a polaridade de cada uma delas e ligar-se o pólo positivo de uma com o negativo da seguinte. Nesse caso, se houver n fontes iguais, cada qual com tensão nominal En, a tensão nos terminais da associação será uT = nEn (3.22) • Em paralelo O requisito básico para a ligação de fontes em paralelo é que todos os elementos tenham a mesma tensão nominal 5 . Aparentemente não há vantagem neste tipo de associação, já que a tensão na saída é igual à de qualquer dos elementos. Porém há que se lembrar que a tensão nos terminais de saída de uma única fonte diminui, à medida que maiores correntes lhe são solicitadas; assim, se forem ligadas n fontes em paralelo, a corrente fornecida por cada uma será n i i T (3.23) onde iT é a corrente total solicitada pela carga que está sendo alimentada, e a tensão na saída da associação estará mais próxima à tensão nominal das fontes. 3.6 ELEMENTOS ESPÚRIOS Por vezes, os efeitos de resistência, indutância ou capacitância aparecem onde não são desejados e por mais que o projetista do circuito se esforce, não consegue eliminá-los completamente; nesses casos, os elementos são chamados espúrios. É o caso de um fio condutor em uma instalação: sua resistência própria (dada pela Equação 2.3) é perniciosa, pois desperdiça energia quando o condutor é percorrido por corrente elétrica. O caso de uma linha de transmissão é muito mais complexo, pois além da resistência intrínseca dos condutores, devem ser considerados os efeitos indutivos (devido à proximidade dos fios entre si) e capacitivos (proximidade dos fios entre si e com a terra). 5 No caso de associação de fontes CA (como transformadores) outros requisitos deverão ser atendidos, como se verá na Seção 8.7. CAPÍTULO 4 CIRCUITOS DE CORRENTE CONTÍNUA 4.1 INTRODUÇÃO Em termos práticos, a utilização de corrente contínua não é tão ampla quanto à da corrente alternada (V. Seção 5.1); porém é interessante iniciar o estudo de análise com circuitos elétricos alimentados por CC, de vez que se elimina, neste caso, a variação temporal das grandezas. O trabalho com grandezas constantes elimina boa parte das complicações matemáticas, produzindo equações mais simples de resolver e de entender. Os métodos usados em CC poderão ser depois aplicados aos circuitos de CA com algumas adaptações. 4.2 TRANSITÓRIO E REGIME PERMANENTE Sempre que existirem indutores e/ou capacitores em um circuito, seu comportamento (resposta completa) pode ser dividido em duas etapas: o transitório e o regime permanente. Durante o transitório, as tensões e correntes no circuito se "acomodam" até atingirem a estabilidade, quando se diz que o regime permanente foi alcançado. Isto é válido para qualquer tipo de alimentação (CC ou CA). A duração do transitório depende dos elementos que compõe o circuito e de seus valores, porém na maioria das situações práticas dificilmente ultrapassa alguns poucos segundos; já o regime permanente tem duração ilimitada, só sendo interrompido se o circuito for alterado de alguma forma (como o acionamento de um interruptor ou a inserção de um novo elemento no circuito). A Figura 4.1 mostra dois exemplos de resposta completa, ressaltando os intervalos de tempo correspondentes ao transitório e ao regime permanente. No primeiro caso (Figura 4.1a), trata-se da tensão u de descarga de um capacitor e a resposta em regime é igual a zero; no outro exemplo, que mostra a corrente i na partida de um motor de indução, a resposta em regime é diferente de zero (Figura 4.1b). (a) (b) Figura 4.1 – Exemplos de resposta completa: (a) decarga de um capacitor; (b) corrente de um motor de indução. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 26 No Capítulo 3 se dizia que indutores e capacitores comportavam-se respectivamente como curto-circuitos e circuitos abertos, quando submetidos à CC. Isto é verdadeiro para o regime permanente, pois enquanto durar o transitório, esses elementos atuarão no circuito. Neste capítulo, pressupõe-se que os circuitos CC estejam ligados a tempo suficiente para atingir o regime permanente. Dessa forma, os indutores e capacitores não exercerão efeito, e os únicos elementos atuantes serão os resistores e as fontes. 4.3 CIRCUITO SÉRIE Neste tipo de circuito todos os elementos estão associados em série, de modo que são percorridos pela mesma corrente. Exemplo 4.1 – Uma aquecedor resistivo de 1,5kW é alimentado por um gerador CC de 220V (Figura 4.2a). A distância entre carga e fonte é 50m e a ligação é feita através de cabos de cobre com bitola igual a 1,5mm 2 . Determinar: (a) a tensão associada à carga; (b) a queda de tensão nos condutores; (c) o rendimento do sistema. Figura 4.2 – Exemplo 4.1: (a) elementos reais; (b) circuito equivalente. Solução: O circuito equivalente é mostrado na Figura 4.2b, onde o gerador é representado por uma fonte CC com tensão E = 220V, os fios (condutores) são substituídos por suas resistências, calculadas através da Equação 3.3 57,0 5,1 50 0172,0fR e a carga (aquecedor) é substituída por sua potência nominal, calculada a partir da Equação 3.6: 27,32 1500 220 R 2 c A resistência equivalente (Req) desta associação série (Equação 3.8) é Req = 2Rf + Rc = 33,41 A corrente é dada pela Lei de Ohm (Equação 3.1) A R E I eq 58,6 ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 27 Então: (a) A tensão na carga é: Uc = RcI = 212,47 V (b) A queda de tensão em cada um dos condutores é: Uf = RfI = 3,77 V, portanto a queda de tensão total é 2Uf = 7,54 V. (c) Potência fornecida pelo gerador (Equação 1.7): Pg = EI = 1447,6 W Potência consumida pela carga (Equação 3.5): Pc = RcI 2 = 1397,17 W O rendimento do sistema é 100 P P g c = 96,52% 4.4 CIRCUITO PARALELO Neste tipo de circuito, todos os elementos estão associados em paralelo; portanto, estão submetidos à mesma tensão. Exemplo 4.2 – Numa rede de 220V CC estão associadas em paralelo as seguintes cargas resistivas (Figura 4.3a): • 1 chuveiro elétrico de 4,5 kW/220 V • 1 aquecedor resistivo de 2,5 kW/220 V • 12 lâmpadas incandescentes de 150 W/220 V (cada) Dimensionar o fusível para proteção dessas cargas. Figura 4.3 – Exemplo 4.2: (a) diagrama das ligações; (b) circuito equivalente. Solução: Pode-se calcular a resistência nominal de cada componente do circuito pela Equação 3.6: • Chuveiro: 76,10 4500 220 R 2 c • Aquecedor: 36,19 2500 220 R 2 a • Lâmpada (individual): 67,322 150 220 R 2 i Como são 12 lâmpadas em paralelo, a resistência equivalente será (Equação 3.9): ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 28 89,26R 12 1 R il O cálculo individual das correntes é feito pela Lei de Ohm (Equação 3.1): • Chuveiro: A 45,20 76,10 220 Ic • Aquecedor: A 36,11 36,19 220 Ia • Lâmpadas (conjunto): A 18,8 89,26 220 I l e a corrente total é: IT = Ic + Ia + Il = 40 A. Então a corrente nominal do fusível é 40 A. 4.5 CIRCUITOS MISTOS Estão incluídos nesta classificação aqueles circuitos que possuem alguns elementos associados em série e/ou em paralelo. A análise deste tipo de circuitos requer um processo paciente de associações série/paralelo. Exemplo 4.3 – A Figura 4.4a mostra a alimentação de duas cargas resistivas por uma fonte de 150 V CC. Sabendo que os cabos que fazem as conexões são de cobre, com bitola igual a 10 mm 2 , determinar a potência consumida por cada uma das cargas. Figura 4.4 – Exemplo 4.3. Solução: Cálculo da resistência dos condutores: ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 29 • Trecho fonte-carga 1: são 2 condutores, equivalendo a 2 resistências em série Equação 3.3 17,0 10 50 0168,02R a • Trecho carga 1 - carga 2: mesma situação do trecho anterior Equação 3.3 34,0 10 100 0168,02R b Cálculo da resistência das cargas resistivas • Carga 1: Equação 3.6 5,4 5000 150 R 2 1 • Carga 12: Equação 3.6 34,3 7500 150 R 2 1 O circuito equivalente é mostrado na Figura 4.4b, no qual as resistências Rb e Rx estão associadas em série, resultando, conforme a Equação 3.8: Rx = Rb + Rx = 3,34 Agora, conforme se vê no circuito da Figura 4.4c, os resistores Rx e R1 resultam associados em paralelo, de onde se tem, de acordo com a Equação 3.9: 92,1R R 1 R 1 R 1 y 1xy Resulta então que Ry e Ra ficam em série, conforme mostra a Figura 4.4d, obtendo-se um resistor equivalente Req = Ra + Ry = 2,09 No circuito final da Figura 4.4e obtém-se, pela aplicação da Lei de Ohm (Equação 3.1): A 87,71 R 150 I eq Levando este valor para a Figura 4.4d, pela mesma Lei de Ohm: V 78,137IRU yBD A potência na carga 1 pode ser calculada através da Equação 3.6 kW 22,4 R U P 1 2 BD 1 Entrando com o valor de UBD no circuito da Figura 4.4c se determina pela Lei de Ohm A 25,41 R U I x BD 2 e pode-se calcular a potência dissipada pela carga 2 através da Equação 3.5 kW 11,5IRP 2222 Observe-se que a potência consumida por cada uma das cargas é menor que a respectiva tensão nominal. Isso se deve à queda de tensão ao longo dos condutores que ligam a fonte às cargas, devida à resistividade destes condutores. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 30 CAPÍTULO 5 CIRCUITOS DE CORRENTE ALTERNADA 5.1 INTRODUÇÃO De uma maneira geral, nas instalações elétricas existe a predominância dos equipamentos alimentados por corrente alternada. Existem fortes motivos para que isto aconteça: a geração de grandes quantidades de energia é mais econômica em CA do que em CC; de fato todas as grandes usinas produzem tensões CA, ficando as fontes de CC para aplicações especiais ou que envolvam a necessidade de portabilidade; pela mesma razão antes exposta, a CA – ao contrário da CC - é encontrada em qualquer instalação elétrica residencial, comercial ou industrial; a transformação de CA em CC (retificação) é simples, barata e eficiente; a transformação inversa (CC em CA, chamada inversão) já é mais complexa e tem maior custo; os motores alimentados por CA são mais baratos e são usados na grande maioria das aplicações de força-motriz; a alimentação em CA permite o uso de transformadores, com os quais se podem alterar níveis de tensão ou corrente para quaisquer valores. Via de regra, o uso de CC está restrito a operações específicas (como a eletrólise), à alimentação de motores de CC ou a situações onde a portabilidade da fonte é exigida (como no caso de veículos automotrizes ou aeronaves). Porém o uso de CA traz um problema que inexiste em CC: o surgimento dos fenômenos da indutância e da capacitância espúrias, os quais podem produzir perdas significativas em algumas situações, como nas linhas de transmissão de energia. 5.2 FUNÇÕES SINUSOIDAIS As grandezas CA são funções cíclicas, isto é suas formas de onda se repetem periodicamente. Denomina-se período (T) ao tempo que a função demora para repetir um ciclo e freqüência (f) ao número de ciclos repetidos ao longo de um período. Então T 1 f (5.1) O período é expresso em segundos (s), enquanto a freqüência é medida em Hertz (Hz). Como as senóides completam um ângulo igual a 2π radianos (360o) em um período, a velocidade angular é dada por f2 T 2 (5.2) A Figura 5.1a mostra uma senóide gerada a partir da rotação de um vetor cuja origem coincide com a de um sistema de eixos coordenados xy. A cada ângulo descrito pelo vetor, relativamente ao eixo x, há uma correspondente projeção sobre o eixo y, de maneira que se tem, na curva a direita, pontos com coordenadas (x;y). ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 32 Na Figura 5.1b, o vetor “parte” com um ângulo inicial θ e a curva resultante assemelha-se à função seno original “puxada” para a esquerda. Na comparação entre a função gerada pelo vetor e a senóide original (tracejada na figura) diz-se que a primeira está adiantada de θ em relação à segunda, eis que eventos semelhantes (por exemplo, o instante em que cada uma delas atinge o valor de pico) acontecem antes com ela. Figura 5.1 – Geração de funções sinusoidais a partir de vetores: (a) função seno original; (b) função seno adiantada de θ graus em relação à original. Grandezas de CA, como as mostradas na Figura 5.1, são chamadas funções sinusoidais, pois têm formas de onda semelhantes a senóides; são perfeitamente descritas pela equação )tsen(A)t( f (5.3) onde: A = amplitude, também chamado valor de pico, que corresponde ao maior valor alcançado pela função ao londo do período; sua unidade é a mesma da grandeza representada (V, A ou W); = velocidade angular, dada em radianos por segundo (rad/s), que expressa a velocidade com que os ciclos se repetem; = ângulo de fase (dado em graus decimais, o), o qual determina o deslocamento da forma de onda em relação à função seno "original". Os instrumentos de medida de correntes e tensões CA usualmente trabalham com o chamado valor eficaz (ou rms) dessas funções. Para funções (a) (b) ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 33 sinusoidais, o valor eficaz é calculado aplicando-se a Equação A1.3 (Apêndice 1) à Equação 5.3, resultando daí um valor fixo e igual a Valor eficaz = 2 A (5.4) tendo as mesmas unidades da função original. Exemplo 5.1 – O gráfico da Figura 5.2 mostra a tensão u e a corrente i associadas a uma carga. Determinar: (a) a freqüência de cada uma das grandezas; (b) o valor eficaz de cada uma delas; (b) o ângulo de defasagem da corrente em relação à tensão. Figura 5.2 – Exemplo 5.1 Solução (a) Na escala de tempo (eixo horizontal) da Figura 5.2, cada quadrícula corresponde a 0,5 s. Não se pode ver o período completo de qualquer das funções, porém ½ período (de qualquer delas) equivale a 6 quadrículas, logo T = 2 6 0,5 = 6 s e a freqüência (Equação 5.1) é kHz 67,166 106 1 f 6 (b) No eixo das ordenadas, cada divisão equivale a 5 unidades (V ou A), logo a tensão de pico é Up = 20 V e a corrente de pico é Ip = 12,5 A. Os valores eficazes são dados pela Equação 5.4: V 14,14 2 20 Uef e A 84,8 2 5,12 Ief . (c) Os ângulos podem ser contados no eixo horizontal. Lembrando que um ciclo da senóide vale 360 o , vê-se que ½ ciclo (180 o ) corresponde a 6 divisões verticais, portanto cada uma delas vale 180 o /6 = 30 o . Se forem tomados dois eventos semelhantes - por exemplo, o instante correspondente ao valor de pico - vê-se na Figura 5.2 que a corrente atinge seu pico 2 divisões após a tensão; portanto, a corrente está atrasada de 60 o em relação à tensão. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 34 5.3 OS ELEMENTOS BÁSICOS SUBMETIDOS A CA É importante entender o que acontece com os elementos básicos (V. Capítulo 3) quando submetidos à excitações CA. Resistores não sofrem outra influência que não a de sua própria resistência, isto é, a oposição à passagem de corrente. Nestes elementos, a corrente e a tensão sempre estão em fase (Figura 5.2a) Porém indutores e capacitores “sentem” a variação temporal da corrente e a defasam em relação à tensão: capacitores adiantam a corrente em 90 o , enquanto que indutores a atrasam pelo mesmo ângulo (Figuras 5.2b e c). Este comportamento deve-se à própria natureza desses elementos, cujo funcionamento exige o fornecimento de energia para formação de campos elétricos ou magnéticos, sem a realização de trabalho útil . (a) (b) (c) Figura 5.3 – Formas de onda de tensão U e corrente I, em CA, para os elementos básicos dos circuitos: (a) resistores; (b) capacitores; (c) indutores. Devido a esta “reação” de capacitores e indutores à passagem de CA, estes elementos são ditos reativos e caracterizados por uma reatância, medida em ohms (Ω): • reatância capacitiva: fC2 1 C 1 XC (5.5) ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 35 • reatância indutiva: fL2LXL (5.6) Conforme visto na Seção 3.1, os equipamentos e dispositivos práticos podem ser analisados a partir de modelos que incorporam resistores, indutores e capacitores. Quando excitados por CA esses equipamentos produzem dois efeitos: a) causam oposição à passagem das correntes, por causa de sua resistência; b) produzem defasagem da corrente em relação à tensão, em razão de sua reatância. Como não existem indutores ou capacitores ideais, na prática o ângulo de defasagem da corrente em relação à tensão (chamado ) sempre será menor que 90o, em atraso (cargas indutivas) ou em avanço(cargas capacitivas). A impedância de um dispositivo é uma grandeza que agrega esses dois aspectos, incorporando a resistência R e a reatância X. Diz-se que esses "ingredientes" da impedância estão "em quadratura", isto é dispostos em ângulo reto, de modo que a impedância pode ser representada por um triângulo retângulo desenhado para cima (cargas indutivas) ou para baixo (cargas capacitivas), conforme mostra a Figura 5.4. Figura 5.4 – Representação de impedância: (a) carga com característica indutiva; (b) carga com característica capacitiva. A impedância de uma carga é caracterizada por dois parâmetros: módulo, dado por 22 XRZ (5.7) expresso em ohms (); representa a relação entre os valores eficazes da tensão (Uef) e da corrente (Ief), isto é ef ef I U |Z| (5.8) ângulo, calculado pela expressão R X tan 1 (5.9) sendo dado em graus decimais ( o ); representa a defasagem entre a tensão u e a corrente i no elemento, ou seja = âng u – âng i (5.10) e será positivo no caso de carga com característica indutiva; se a carga tiver característica capacitiva o ângulo será negativo. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 36 Nas situações práticas, a maioria das cargas tem característica indutiva: é o caso de motores de indução, aparelhos de solda elétrica, reatores de lâmpadas fluorescentes e muitas outras. As cargas com característica capacitiva são mais raras, como o caso de motores síncronos sobre-excitados, mas o uso de capacitores de refasamento em instalações industriais é muito comum, já que compensam o atraso das outras cargas (indutivas) promovendo o avanço da corrente em relação à tensão (V. Seção 5.5). 5.4 POTÊNCIA EM CA Quando uma carga é alimentada pela tensão alternada tsenUu p onde Up é sua amplitude, a corrente que circula será dada por )t(senII p sendo Ip a corrente de pico. A potência instantânea p, calculada através da Equação 1.4 é )t2(sen 2 IU cos 2 IU uip pppp (5.11) e resulta numa curva semelhante à mostrada na Figura 5.5. Figura 5.5 – Curvas de tensão (u), corrente (i) e potência instantânea (p) em uma carga. O significado desta curva é importante: mostra que a carga absorve a potência fornecida pela fonte de alimentação (a potência positiva, indicada pelo sinal + na Figura 5.5) durante certo intervalo de tempo; a seguir, parte dessa potência é fornecida pela carga, ou seja, é devolvida a fonte (potência negativa, representada pelas porções da curva com sinal – na Figura 5.5). A potência fornecida pela fonte é “usada” pela carga de duas formas distintas: ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 37 uma parte é transformada em trabalho útil (como o aquecimento de um resistor ou a rotação de um motor) outra parte é utilizada para a formação de campos elétricos e/ou magnéticos relacionados aos elementos reativos da carga; como não é transformada em trabalho útil, é devolvida à fonte (intervalo – na Figura 5.3). A potência média P, calculada através da Equação A1.2 (V.; Apêndice 1) é dada pela integral da Equação 5.11 e resulta em cosUIP (5.12) onde U e I são valores eficazes de tensão e de corrente, respectivamente. Esta é a potência ativa (também chamada real), capaz de realizar trabalho útil; sua unidade é o Watt (W). A energia relativa a esta potência é registrada nos medidores de energia (em kWh) existentes nas instalações e constitui-se na base para o cálculo da “conta de luz” paga mensalmente. A potência reativa (Q) – aquela usada apenas para a formação de campos elétricos ou magnéticos nos elementos reativos – é dada por UIsenQ (5.13) e sua unidade é o Volt-Ampère reativo (VAr). Denomina-se potência aparente (S) àquela que engloba as duas anteriores; como essas se aplicam a elementos em quadratura (R e X), seu valor não é simplesmente a soma algébrica de P e Q. Assim, 22 QPS (5.14) tendo por unidade o Volt-Ampère (VA). Então )sen(cos)UI()UIsen()cosUI(S 22222 S = UI (5.15) A potência aparente é usada para especificações de fontes (transformadores e geradores), pois permite determinar a corrente máxima para determinada tensão de fornecimento. As expressões 5.12 até 5.14 lembram relações trigonométricas de triângulo retângulo. De fato, se P e Q forem tomados como catetos, S será a hipotenusa. A Figura 5.6 mostra como seriam os triângulos de potências de uma carga com característica, respectivamente, indutiva, capacitiva e puramente resistiva. Figura 5.6 – Triângulo de potências de carga: (a) indutiva; (b) capacitiva; (c) resistiva. Pode-se entender melhor o significado de cada potência examinando o esquema mostrado na Figura 5.7. A fonte fornece às cargas a potência aparente S; uma parte desta é transformada em potência ativa P (como o calor gerado por um aquecedor ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 38 elétrico ou o conjugado desenvolvido por um motor assíncrono) e a outra, correspondente à potência reativa Q, é utilizada na formação de campos magnéticos (cargas indutivas) ou elétricos (cargas capacitivas). Como não é transformada em energia consumida, esta potência reativa é devolvida à fonte durante o restante do ciclo 1 . A potência aparente S corresponde a soma “vetorial” de P e Q (Equação 5.14). Vê-se que uma parcela de potência (P) é efetivamente utilizada e a outra (Q) fica “viajando” da fonte (transformador) para a carga (motor) e vice-versa. A energia reativa não é registrada nos medidores comuns de kWh, de modo que não aparece nas “contas de luz” – a menos que as concessionária de energia elétrica utilizem um medidor específico para tal. Figura 5.7 – Fluxo de potência entre fonte e cargas. Numa instalação elétrica podem-se encontrar cargas de diversas características: indutivas, capacitivas ou puramente resistivas. No caso de n cargas operando simultaneamente, as potências ativa e reativa totais são dadas por nT PP (5.16) e ncniT QQQ (5.17) onde Pn é a potência ativa de cada uma das cargas e Qni e Qnc significam, respectivamente, as potências reativas das cargas indutivas e capacitivas que compõe a instalação. É importante notar, mais uma vez, que a potência aparente total não pode ser obtida pela soma das potências aparentes individuais. Ela deve ser calculada usando-se a Equação 5.14. 1 Transporte este raciocínio para a curva de potência da Figura 5.5. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 39 5.5 O FATOR DE POTÊNCIA O fator de potência (FP) de uma carga é igual ao cosseno do ângulo de defasagem () entre a tensão e a corrente associadas a esta carga. Assim cosFP (5.18) sendo uma grandeza adimensional, com valor entre 0 e 1. Considerando as Equações 5.12 e 5.15 acha-se S P FP (5.19) Pode-se interpretar o FP como sendo um rendimento: o percentual de potência aparente S que é transformado em potência ativa P. Então, quanto menor for o FP, maior será a quantidade de energia reativa Q que fica circulando entre a carga e a fonte, sem produzir trabalho útil. Por este motivo, a legislação estabelece que uma instalação com FP inferior ao de referência 2 deve ser sobre taxada. Cargas com características indutivas têm FP em atraso (porque a corrente está atrasada em relação à tensão) e compreendem a maior parte dos equipamentos usados em instalações, como motores assíncronos, reatores de lâmpadas de descarga e aparelhos de solda elétrica; cargas capacitivas, como motores síncronos sobre-excitados e bancos de capacitores, têm FP em avanço, porém não são encontradas com a mesma freqüência que as indutivas. Por fim, as cargas puramente resistivas (como aquecedores resistivos, lâmpadas incandescentes e chuveiros elétricos) têm FP unitário. Alguns fatores que causam baixos fatores de potência em instalações elétricas são: • motores de indução operando a vazio (sem carga acoplada ao eixo); • motores com potência nominal muito superior à necessária para o acionamento da carga; • transformadores operando a vazio ou com pouca carga; • fornos a arco ou de indução magnética; • máquinas de solda elétrica; • reatores de lâmpadas de descarga (fluorescentes, vapor de sódio, etc.) com baixo FP; • níveis de tensão superior à nominal, provocando um aumento da potência reativa. Entre as conseqüências de baixos valores de FP das instalações podem-se citar: • acréscimo nas contas de energia elétrica; • correntes mais elevadas, já que, para uma potência nominal P e tensão de alimentação U fixadas, a corrente é inversamente proporcional ao FP (Equação 5.12); • necessidade de condutores com bitolas maiores; • aumento das perdas elétricas nos condutores por efeito Joule; • necessidade de dispositivos de manobra e proteção com maior capacidade; • quedas e flutuação de tensão nos circuitos de distribuição; • superdimensionamento ou limitação da capacidade de transformadores de alimentação; • maiores riscos de acidentes. 2 Atualmente, no Brasil este valor de referência é igual a 0,92. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 40 Exemplo 5.2 – Uma instalação alimentada por 220 V possui as seguintes cargas monofásicas: 1. Iluminação fluorescente: 1 kW, FP = 0,5 em atraso; 2. Serra: 3,0 cv, rendimento de 80% e FP = 0,85 em atraso; 3. Bobinadeira: 5,0 cv, rendimento igual a 82% e FP = 0,90 em atraso 4. Estufa: 2,0 kW, FP = 1. Um engenheiro fez o levantamento dos períodos de funcionamento dos equipamentos em uma típica manhã de operação. Além de constatar que esses equipamentos funcionam sempre a plena carga, obteve os resultados mostrados no Quadro 1 seguinte Quadro 1 – Horário de funcionamento das cargas do Exemplo 5.3 Carga 08:00-09:00 09:00-10:00 10:00-11:00 11:00-12:00 12:00-13:00 1 2 3 4 Pergunta-se: (a) se estiverem disponíveis transformadores de 5, 7,5, 10 e 15 kVA, dimensionar o mais adequado para alimentar a instalação? (b) qual o consumo da instalação nesse período? (c) qual a maior corrente solicitada à rede de alimentação no período? Solução Cálculo das potências individuais, anotadas no Quadro 2: Cálculo de P → no caso de motores: 1000 736P P cvkW Cálculo de S → Equação 5.19: FP P S Cálculo de Q → Equação 5.14: 22 PSQ Quadro 2 – Potências das cargas individuais do Exemplo 5.3 Carga P (kW) S (kVA) Q (kVAr)* FP* 1 1,00 2,00 1,73 ind 0,50 ind 2 2,76 3,25 1,71 ind 0,85 ind 3 4,49 4,99 2,17 ind 0,90 ind 4 2,00 2,00 0,00 1,00 * ind indica característica indutiva (em atraso) As potências demandadas em cada horário do turno são dadas no Quadro 3: Cálculo de Ph (Equação 5.16): ih PP Cálculo de Qh (Equação 5.17): ih QQ Cálculo de Sh Equação 5.14): 2 h 2 hh QPS ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 41 Cálculo do FPh (Equação 5.19): h h h S P FP Cálculo da corrente (Equação 5.15): 220 1000S U 1000S I hhh Quadro 3 – Potências das cargas do Exemplo 5.3 por turno Turno Ph (kW) Qh (kVAr)* Sh (kVA) FPh* Ih (A) 08:00 – 09:00 3,76 3,44 ind 5,10 0,74 ind 23,17 09:00 – 10:00 5,49 3,91 ind 6,74 0,81 ind 30,62 10:00 – 11:00 8,25 5,62 ind 9,98 0,83 ind 45,36 11:00 – 12:00 5,76 3,44 ind 6,71 0,86 ind 30,50 12:00 – 13:00 7,25 3,88 ind 8,22 0,88 ind 37,38 * ind indica característica indutiva (em atraso). (a) O transformador deve ter potência (kVA) suficiente para alimentar as cargas na situação de maior exigência que é o período das 10:00-11:00h, quando S = 9,98 kVA. Assim, a escolha seria o transformador de 10 kVA. (b) Consumo = tPh . Como todos os intervalos são de 1 h: Consumo = 3,761 + 5,491 + 8,251 + 5,761 + 7,251 = 30,50 kWh. (c) A maior corrente solicitada é 45,36 A (turno 10:00–11:00 h). O fator de potência depende das características e da forma de utilização de uma carga. É um dado fornecido pelo fabricante do equipamento e não pode ser alterado diretamente pelo usuário; no entanto, considerando que a maioria das cargas encontradas é de natureza indutiva, podem ser usados bancos de capacitores para corrigir o FP de uma carga individual ou de toda uma instalação. Estes bancos, especificados em kVAr, são conectados em paralelo com as cargas e praticamente não promovem o aumento da potência ativa da instalação. Seu dimensionamento pode ser feito utilizando-se a Tabela 5.1, da seguinte forma: 1. Achar a linha correspondente ao FP original; 2. Achar a coluna equivalente ao FP que se deseja; 3. Determinar o valor de K, obtido no cruzamento da linha correspondente ao FP existente com a coluna relativa ao FP desejado; 4. Multiplicar este valor pela potência ativa P na instalação para obter a potência do banco de capacitores. Exemplo 5.3 – Determinar os kVAr capacitivos necessários para corrigir o pior FP do Exemplo 5.2. Solução Pior FP = 0,74 (turno 08:00-09:00 h). Entrando com este valor como FP inicial e 0,92 como FP final na Tabela 5.1 encontra-se k = 0,483. De acordo com as instruções da Seção 5.5: Qc = k Ph = 0,483 3,83 = 1,85 kVAr capacitivos. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 42 Tabela 5.1 – Correção do fator de potência Fator de potência final (FPf) F a to r d e p o tê n c ia i n ic ia l (F p i) 0,85 0,86 0,87 0,88 0,89 0,90 0,91 0,92 0,93 0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1,00 0,50 1,112 1,139 1,165 1,192 1,220 1,248 1,276 1,306 1,337 1,369 1,403 1,440 1,481 1,529 1,590 1,732 0,51 1,067 1,093 1,120 1,147 1,174 1,202 1,231 1,261 1,291 1,324 1,358 1,395 1,436 1,484 1,544 1,687 0,52 1,023 1,049 1,076 1,103 1,130 1,158 1,187 1,217 1,247 1,280 1,314 1,351 1,392 1,440 1,500 1,643 0,53 0,980 1,007 1,033 1,060 1,088 1,116 1,144 1,174 1,205 1,237 1,271 1,308 1,349 1,397 1,458 1,600 0,54 0,939 0,965 0,992 1,019 1,046 1,074 1,103 1,133 1,163 1,196 1,230 1,267 1,308 1,356 1,416 1,559 0,55 0,899 0,925 0,952 0,979 1,006 1,034 1,063 1,092 1,123 1,156 1,190 1,227 1,268 1,315 1,376 1,518 0,56 0,860 0,886 0,913 0,940 0,967 0,995 1,024 1,053 1,084 1,116 1,151 1,188 1,229 1,276 1,337 1,479 0,57 0,822 0,848 0,875 0,902 0,929 0,957 0,986 1,015 1,046 1,079 1,113 1,150 1,191 1,238 1,299 1,441 0,58 0,785 0,811 0,838 0,865 0,892 0,920 0,949 0,979 1,009 1,042 1,076 1,113 1,154 1,201 1,262 1,405 0,59 0,749 0,775 0,802 0,829 0,856 0,884 0,913 0,942 0,973 1,006 1,040 1,077 1,118 1,165 1,226 1,368 0,60 0,714 0,740 0,767 0,794 0,821 0,849 0,878 0,907 0,938 0,970 1,005 1,042 1,083 1,130 1,191 1,333 0,61 0,679 0,706 0,732 0,759 0,787 0,815 0,843 0,873 0,904 0,936 0,970 1,007 1,048 1,096 1,157 1,299 0,62 0,646 0,672 0,699 0,726 0,753 0,781 0,810 0,839 0,870 0,903 0,937 0,974 1,015 1,062 1,123 1,265 0,63 0,613 0,639 0,666 0,693 0,720 0,748 0,777 0,807 0,837 0,870 0,904 0,941 0,982 1,030 1,090 1,233 0,64 0,581 0,607 0,634 0,661 0,688 0,716 0,745 0,775 0,805 0,838 0,872 0,909 0,950 0,998 1,058 1,201 0,65 0,549 0,576 0,602 0,629 0,657 0,685 0,714 0,743 0,774 0,806 0,840 0,877 0,919 0,966 1,027 1,169 0,66 0,519 0,545 0,572 0,599 0,626 0,654 0,683 0,712 0,743 0,775 0,810 0,847 0,888 0,935 0,996 1,138 0,67 0,488 0,515 0,541 0,568 0,596 0,624 0,652 0,682 0,713 0,745 0,779 0,816 0,857 0,905 0,966 1,108 0,68 0,459 0,485 0,512 0,539 0,566 0,594 0,623 0,652 0,683 0,715 0,750 0,787 0,828 0,875 0,936 1,078 0,69 0,429 0,456 0,482 0,509 0,537 0,565 0,593 0,623 0,654 0,686 0,720 0,757 0,798 0,846 0,907 1,049 0,70 0,400 0,427 0,453 0,480 0,508 0,536 0,565 0,594 0,625 0,657 0,692 0,729 0,770 0,817 0,878 1,020 0,71 0,372 0,398 0,425 0,452 0,480 0,508 0,536 0,566 0,597 0,629 0,663 0,700 0,741 0,789 0,849 0,992 0,72 0,344 0,370 0,397 0,424 0,452 0,480 0,508 0,538 0,569 0,601 0,635 0,672 0,713 0,761 0,821 0,964 0,73 0,316 0,343 0,370 0,396 0,424 0,452 0,481 0,510 0,541 0,573 0,608 0,645 0,686 0,733 0,794 0,936 0,74 0,289 0,316 0,342 0,369 0,397 0,425 0,453 0,483 0,514 0,546 0,580 0,617 0,658 0,706 0,766 0,909 0,75 0,262 0,289 0,315 0,342 0,370 0,398 0,426 0,456 0,487 0,519 0,553 0,590 0,631 0,679 0,739 0,882 0,76 0,235 0,262 0,288 0,315 0,343 0,371 0,400 0,429 0,460 0,492 0,526 0,563 0,605 0,652 0,713 0,855 0,77 0,209 0,235 0,262 0,289 0,316 0,344 0,373 0,403 0,433 0,466 0,500 0,537 0,578 0,626 0,686 0,829 0,78 0,183 0,209 0,236 0,263 0,290 0,318 0,347 0,376 0,407 0,439 0,474 0,511 0,552 0,599 0,660 0,802 0,79 0,156 0,183 0,209 0,236 0,264 0,292 0,320 0,350 0,381 0,413 0,447 0,484 0,525 0,573 0,634 0,776 0,80 0,130 0,157 0,183 0,210 0,238 0,266 0,294 0,324 0,355 0,387 0,421 0,458 0,499 0,547 0,608 0,750 0,81 0,104 0,131 0,157 0,184 0,212 0,240 0,268 0,298 0,329 0,361 0,395 0,432 0,473 0,521 0,581 0,724 0,82 0,078 0,105 0,131 0,158 0,186 0,214 0,242 0,272 0,303 0,335 0,369 0,406 0,447 0,495 0,556 0,698 0,83 0,052 0,079 0,105 0,132 0,160 0,188 0,216 0,246 0,277 0,309 0,343 0,380 0,421 0,469 0,530 0,672 0,84 0,026 0,053 0,079 0,106 0,134 0,162 0,190 0,220 0,251 0,283 0,317 0,354 0,395 0,443 0,503 0,646 0,85 - 0,026 0,053 0,080 0,107 0,135 0,164 0,194 0,225 0,257 0,291 0,328 0,369 0,417 0,477 0,620 0,86 - - 0,027 0,054 0,081 0,109 0,138 0,167 0,198 0,230 0,265 0,302 0,343 0,390 0,451 0,593 0,87 - - - 0,027 0,054 0,082 0,111 0,141 0,172 0,204 0,238 0,275 0,316 0,364 0,424 0,567 0,88 - - - - 0,027 0,055 0,084 0,114 0,145 0,177 0,211 0,248 0,289 0,337 0,397 0,540 0,89 - - - - - 0,028 0,057 0,086 0,117 0,149 0,184 0,221 0,262 0,309 0,370 0,512 0,90 - - - - - - 0,029 0,058 0,089 0,121 0,156 0,193 0,234 0,281 0,342 0,484 0,91 - - - - - - - 0,030 0,060 0,093 0,127 0,164 0,205 0,253 0,313 0,456 0,92 - - - - - - - - 0,031 0,063 0,097 0,134 0,175 0,223 0,284 0,426 0,93 - - - - - - - - - 0,032 0,067 0,104 0,145 0,192 0,253 0,395 0,94 - - - - - - - - - - 0,034 0,071 0,112 0,160 0,220 0,363 0,95 - - - - - - - - - - - 0,037 0,078 0,126 0,186 0,329 0,96 - - - - - - - - - - - - 0,041 0,089 0,149 0,292 0,97 - - - - - - - - - - - - - 0,048 0,108 0,251 0,98 - - - - - - - - - - - - - - 0,061 0,203 0,99 - - - - - - - - - - - - - - - 0,142 1,00 - - - - - - - - - - - - - - - - ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 43 5.6 CIRCUITOS TRIFÁSICOS Sistemas trifásicos são largamente usados na geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Algumas das vantagens desses sistemas, quando comparados aos monofásicos, são: possibilidade de obtenção de duas tensões diferentes na mesma rede ou fonte; além disso, os circuitos monofásicos podem ser alimentados pelas fases do sistema trifásico; as máquinas trifásicas têm quase 50% a mais de potência que as monofásicas de mesmo peso e volume; o conjugado dos motores trifásicos é mais constante que o das máquinas monofásicas; para transmitir a mesma potência, as redes trifásicas usam condutores de menor bitola que as monofásicas; redes trifásicas criam campos magnéticos giratórios, utilizados pelos motores de indução trifásicos, que são os mais baratos e robustos de todos os motores elétricos. 5.6.1 Fontes Trifásicas Uma fonte trifásica consiste em três fontes de CA com tensões de mesmo módulo, porém defasadas de 120 o (Figura 5.8 a e b); dos terminais R, S e T são “puxados” condutores, que são chamadas fases, podem ser interligadas de duas maneiras: Figura 5.8 - Fontes trifásicas: (a) representação das fases da fonte; (b) defasagem entre as tensões; (c) ligação em Y; (d) ligação em . ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 44 a) Em estrela (Y) Para isto, ligam-se os terminais R’, S’ e T’ (Figura 5.8c); o ponto da conexão comum é chamado neutro (N). Neste caso, denomina-se tensão de fase (UF) à tensão entre os terminais de cada fase e o neutro; chama-se tensão de linha (UL) à tensão entre duas fases. Demonstra-se que, na conexão em Y FL U3U (5.20) Então, as redes elétricas são especificadas através de suas tensões de linha e de fase, sempre relacionadas por 3 . As redes mais comuns são 380 V/220 V e 220 V/127 V 3 . b) Em triângulo () Esta configuração é obtida conectando-se R’- S, S’- T e T’- R (Figura 5.7d); neste caso, não existe neutro, de forma que as tensões de linha e de fase são iguais FL UU (5.21) Uma característica das fontes trifásicas é a seqüência de fases, que indica a ordem com que as tensões aparecem no gráfico da Figura 5.7b (RST ou RTS). A inversão da seqüência de fase pode causar alguns efeitos como a inversão do sentido de rotação de um motor de indução ou a alteração de níveis de tensão/corrente em certos sistemas trifásicos. 5.6.2 Cargas Trifásicas Equilibradas Cargas trifásicas são aquelas ligadas à fontes trifásicas e, tal como estas, são constituídas por três fases, cada qual com uma impedância de fase Zf; quando essas impedâncias são idênticas diz-se que a carga é equilibrada. Neste curso, a menos que se diga o contrário, todas as cargas trifásicas são equilibradas; é importante lembrar que as equações que serão mostradas a seguir referem-se somente a este tipo de carga. Deve-se lembrar que as cargas são ligadas a fontes trifásicas, logo as relações vistas na Seção 5.6.1 continuam válidas. Esta conexão entre carga e fonte fará com que circulem dois tipos de corrente: a de fase (IF), que percorre cada fase da carga e a de linha (IL), que percorre os condutores que fazem a conexão da carga è fonte. Assim como as fontes, uma carga trifásica pode ser ligada de 2 maneiras: a) Em estrela (Y) Esta ligação é mostrada na Figura 5.9a. Considerando que: FL U3U é fácil constatar que neste tipo de ligação FL II (5.22) 3 É costume dizer que a tensão de fase de uma rede é 110V, quando na verdade é 127V. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 45 No caso de cargas equilibradas, as correntes de linha serão iguais entre si (porém defasadas de 120 o umas das outras), o mesmo acontecendo com as correntes de fase. Nesse caso, a corrente no neutro (IN) será nula, portanto não há necessidade de usar-se o neutro em cargas trifásicas equilibradas. Na Figura 5.9(b) mostra-se a ligação de uma carga em Y à rede trifásica. A conexão do neutro é mostrada em linha tracejada para ressaltar que é desnecessária. Cada fase da carga terá a mesma potência (dada pela Equação 5.12), logo a potência ativa total é cosIU3P FF (5.23) Porém considerando-se as Equações 5.20 e 5.22, pode-se explicitar a potência ativa por meio dos valores de linha cosIU3P LL (5.24) Considerando a Equação 5.12, deduz-se que a potência aparente em uma carga trifásica é dada por LLFF IU3IU3S (5.25) A potência reativa pode ser calculada através da Equação 5.14. Figura 5.9 - Carga trifásica equilibrada em Y: (a) indicação das correntes de linha, fase e neutro; (b) conexão à rede trifásica. b) Em triângulo () A ligação é vista na Figura 5.10a. Nesse caso, em relação às tensões já se sabe que FL UU porém no tocante às correntes, demonstra-se que FL I3I (5.26) Pelo mesmo raciocínio desenvolvido para o caso de cargas em Y, conclui-se que as equações 5.23, 5.24 e 2.25 são válidas também para as cargas em . Na Figura 5.10b é mostrada a conexão de uma carga em a uma rede trifásica. ELETROTÉCNICA – Vol. 1 Eurico G. de Castro Neves e Rubi Münchow 46 Figura 5.10 - Carga trifásica equilibrada em : (a) indicação das correntes de linha e de fase; (b) conexão à rede trifásica. 5.6.3 Cargas Trifásicas Desequilibradas Todos os equipamentos trifásicos são equilibrados; porém a conexão de dispositivos mono e/ou trifásicos, distribuídos pelas fases de uma fonte trifásica, representa uma carga desequilibrada (Figura 5.11) Figura 5.11 - Representação esquemática de cargas mono e trifásicas ligadas a uma linha trifásica, representando uma carga desequilibrada. A análise de cargas desequilibradas pode apresentar dificuldades só resolvidas pela aplicação de métodos mais avançados, fora do objetivo deste curso. Porém é importante ressaltar, mais uma vez, que as equações anteriormente vistas podem não
Compartilhar