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www.cers.com.br OAB 1ª FASE XVII EXAME Direito Civil Cristiano Sobral 1 Marcelo, brasileiro, casado, advogado, residente e domiciliado na cidade do Rio de Janeiro/RJ, adquiriu um veículo zero quilômetro em 2005. Exatos seis anos depois da aquisição do referido automóvel, quando viajava com sua família em Natal/RN, o motor do carro explodiu, o que gerou um grave acidente, com sérias consequências para Marcelo e sua família bem como para dois pedestres que estavam no acostamento da rodovia. Apesar de ter seguido à risca o plano de revisão sugerido pela montadora do veículo, com sede em São Paulo/SP, um exame pericial no carro de Marcelo constatou claramente que o motor apresentava um sério defeito de fabricação que provocou o desgaste prematuro de determinadas peças e, consequentemente, a explosão. A respeito desta hipótese, responda, fundamentadamente: A) Em relação aos danos sofridos por Marcelo e seus familiares, em que(quais) dispositivo(s) do Código de Defesa do Consumidor você enquadraria a responsabilidade do fabricante do veículo? Trata-se da responsabilidade pelo fato do produto, prevista no artigo 12 e seguintes do Código de Defesa do Consumidor. O § 1º do referido dispositivo prevê que o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera. B) O fabricante pode, com êxito, alegar ter se escoado o prazo prescricional? Não, pois prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Na hipótese narrada, Marcelo só descobriu o fato após 6 (seis) anos, pelo que sua pretensão não se encontra prescrita. C) Os terceiros lesados (dois pedestres) pelo acidente provocado pela explosão podem se valer das normas constantes do Código de Defesa do Consumidor para pleitear eventual recomposição pelos danos sofridos? Sim, pois o artigo 17 do Código de Defesa do Consumidor dispõe que se equiparam aos consumidores, para efeitos de responsabilidade pelo fato do produto, todas as suas vítimas, de modo que os pedestres podem se valer do CDC para pleitear eventual recomposição pelos danos sofridos (art. 17 do CDC). D) Marcelo poderia propor a ação de responsabilidade civil da empresa fabricante na cidade do Rio de Janeiro? E na cidade de São Paulo? O art. 101, I, do CDC, traz o benefício, para o consumidor de acionar o fornecedor no domicílio do autor, no caso na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Mas esta é uma prerrogativa, da qual o consumidor pode abrir mão se quiser, podendo, também, propor a ação em São Paulo/SP, local da sede da empresa ré. Joaquim estava irresignado porque não encontrava mais seu vinho favorito à venda. Conversando com Manuel, dono de um estabelecimento comercial perto de sua residência, o mesmo lhe informou que aquele vinho não era mais entregue pelo fornecedor, mas que vendia outro muito bom, melhor que o apreciado por Joaquim. O vinho não possuía qualquer informação no rótulo além de seu nome, mas Joaquim resolveu comprá-lo diante dos elogios feitos por Manuel. Chegando à sua residência, ao tentar abrir a bebida, o vidro se estilhaça e atinge o olho de Joaquim, causando-lhe uma lesão irreparável na córnea. Joaquim tenta conversar com Manuel sobre o ocorrido, mas o mesmo afirma que não possui qualquer responsabilidade. Ajuíza, então, ação em face de Manuel, pleiteando reparação por danos materiais. Oferecida a defesa, Manuel alega que não possui qualquer responsabilidade e que não www.cers.com.br OAB 1ª FASE XVII EXAME Direito Civil Cristiano Sobral 2 seria parte legítima, por ser apenas o vendedor do produto. A respeito desta hipótese, responda, fundamentadamente: A. Merecem prosperar as alegações de Manuel? No caso em tela, trata-se de acidente de consumo relativo ao fato do produto compreendido como defeito relativo à falha na segurança. A alegação do comerciante Manuel não merece prosperar. O comerciante é responsável quando fabricante, produtor, construtor ou importador não puderem ser identificados ou na hipótese de o produto ser fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador, de acordo com os artigos 12, § 1º, inciso II e 13, incisos I e II da lei consumerista. Desta feita, pode Manuel ser responsabilizado civilmente pelo dano causado a Joaquim. B) Se Joaquim falecesse no curso do processo, como os herdeiros poderiam pleitear inclusão na relação processual? O examinando deve identificar que, no caso de falecimento de Joaquim, para pleitearem o recebimento da quantia, os herdeiros deverão prosseguir no feito, requerendo a habilitação incidental nos próprios autos da ação reparatória em face de Manuel. Para isso, deverão juntar aos autos a prova do óbito de Joaquim e da qualidade de herdeiro, nos termos do artigo 1060 do CPC. Dr. João, médico clínico geral, atende em seu consultório há vinte anos, sem ter constituído qualquer empresa, atuando, portanto, como profissional liberal. Levando-se em conta a responsabilização civil dos profissionais liberais, responda, de forma justificada, aos itens a seguir. A. A relação de Dr. João com seus pacientes ostenta a natureza jurídica de relação de consumo? Sim. Dr. João presta serviços tendo status de fornecedor e os seus pacientes ostentam o status de consumidores de acordo com as definições presentes nos artigos 2º e 3º da Lei n. 8.078/90, CDC. B. Neste caso, a responsabilidade civil do Dr. João deve ser subjetiva ou objetiva? Apesar da relação de consumo, a responsabilidade civil do profissional liberal, como é o caso do Dr. João, é subjetiva, devendo ser apurada mediante verificação de culpa, de acordo com determinação do artigo 14, § 4º, da Lei n. 8.078/90 (CDC). C. Em eventual demanda envolvendo Dr. João e um paciente seu, poderia ser aplicada a inversão do ônus da prova fundada na teoria da carga dinâmica da prova? Sim. Mesmo sendo a responsabilidade civil do profissional liberal subjetiva, a inversão do ônus da prova constitui um direito básico do consumidor, previsto no inciso VIII do artigo 6º da lei consumerista, quando presentes a verossimilhança da alegação e hipossuficiência da parte considerada mais fraca desta relação jurídica, que é o paciente.
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