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A leishmaniose visceral canina é causada pelo protozoário Leishmania infantum, transmitido pelo vetor mosquito palha (Lutzomyia longipalpis), du- rante o repasto sanguíneo nos hospedeiros susceptí- veis (inúmeros mamíferos). O cão é o reservatório mais próximo, o mais estudado e, por isto, o mais incriminado na transmissão para o homem. Os sinais clínico são variáveis, inespecíficos e dependentes da resposta imunitária dos indivíduos. O diagnóstico não deve ser pautado apenas em as- pectos clínicos, mas também em epidemiológicos e laboratoriais. O diagnóstico preconizado pelo Ma- nual de Vigilância Sanitária do Governo Brasileiro se baseia na reação de imunofluorescência indireta (RIFI), onde cães com títulos iguais ou superiores a 1:40 são considerados sororreagentes e, portanto, passíveis de sacrifício. Os testes sorológicos não são 100% específicos e sensíveis, uma vez que ocorrem reações cruzadas com diversas outras doenças, inclusive com a leish- maniose tegumentar. Contudo, de acordo com o mesmo Manual, cães com leishmaniose tegumen- tar não devem ser sacrificados. Todavia, no Brasil, milhares de animais foram indevidamente mortos em virtude de erros de diagnóstico. Logo, apenas títulos iguais ou superiores a 1:160 na RIFI devem ser considerados relevantes, indicando-se confirma- ção com exames parasitológicos. Recentemente, em nota técnica, o Governo Bra- sileiro reconheceu a ineficiência e as consequências nefastas dessa política e anunciou que, em breve, substituirá esse teste pela imunocromatografia com confirmação pela ELISA, ambos testes sorológicos. Porém, a literatura científica comprobatória da efi- ciência desses testes ainda é muito incipiente e deve se ter cautela para não se cometer novo erro. As melhores alternativas de controle são a prevenção e a educação da população. A eliminação dos cães não é medida aceitável em uma sociedade evoluída. O Brasil é o único país do mundo que tenta obri- gar a população a matar seu cão sororreagente ou infectado, focando o controle da doença nessa me- dida. As consequências dessa política são o deslo- camento de animais “condenados” para áreas não endêmicas, tratamentos indevidos, substituição dos animais por outros mais susceptíveis e aumento da taxa de abandono. O tratamento de cães utilizando drogas de uso humano não é indicado, de acordo com a Portaria no 1.426, de 11/7/2008. Contudo, quando realizado, é eficaz, pois confere cura clínica e epidemiológica (não transmissibilidade), e estu- Leishmaniose Visceral Canina - Panorama Atual Dr. Paulo Tabanez pctabanez@uol.com.br Médico-Veterinário graduado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Diretor do Hospital Veterinário Prontovet (DF) e Coordenador dos departamentos de Oncologia e Infectologia. Membro fundador do BRASILEICH dos atuais apontam, inclu- sive, para cura parasitológi- ca. Recidivas podem acon- tecer e, para tal, o Médico- Veterinário deve estar aten- to e ser capaz de intervir adequadamente. A proibição do tratamento pelo Go- verno Brasileiro se baseia na possibilidade de resis- tência que, no cão, é anedótica, inexistente e nunca confirmada in vivo pela literatura científica mundi- al, mesmo na Europa, onde se utilizam drogas leish- manicidas há décadas. O uso de vacinas e repelentes inseticidas à base de deltametrina (colar e pour on) reduzem drastica- mente a incidência e expansão da doença na popu- lação canina e, muito provavelmente, nos seres hu- manos. Existem no mercado três vacinas contra a leishmaniose visceral canina, sendo que uma delas Canileish® (Virbac) foi recentemente lançada ape- nas na Europa. As outras duas são inteiramente na- cionais, desenvolvidas em universidades brasileiras por competentes pesquisadores: Leishmune® (Pfizer) e Leishtec® (HertapeCalier). Ambas apresentam boa proteção, são seguras e não interferem em inquéri- tos epidemiológicos. A Leishmune® já está há mais tempo no mercado e inúmeros trabalhos publicados respaldam o seu uso. Recentemente, os Ministérios da Agricultura e da Saúde exigiram um novo traba- lho de fase III (campo) para manutenção do registro dessas vacinas. A Leishmune® recebeu parecer favo- rável para a manutenção do registro, confirmando os trabalhos anteriormente publicados e dirimindo todas as dúvidas porventura persistentes. A Leishtec® aguarda igual decisão. A sociedade civil tem se ma- nifestado contra o sacrifício dos animais infectados, a proibição do tratamento, como também tem exigi- do a distribuição de vacinas e repelentes em campa- nhas públicas. Reflexo disto são as inúmeras audi- ências públicas, projetos de lei e eventos científicos realizados neste ano. Um marco importante foi a criação do BRASILEISH, Grupo de Estudos Sobre Leishmaniose Animal, por pesquisadores brasilei- ros, com o objetivo de pesquisar, capacitar, orientar e discutir o assunto de forma criteriosa, científica, moral e ética. A sociedade deve exigir de seus repre- sentantes uma postura coerente, humanitária e justa quanto ao controle dessa doença, não mais baseado em exames incongruentes, proibição do tratamento ou extermínio dos cães, sem evidências científicas, simplesmente para fugirem de suas reais responsa- bilidades para com a vida humana e animal. VVVVVocê Sabia ?ocê Sabia ?ocê Sabia ?ocê Sabia ?ocê Sabia ?VVVVVocê Sabia ?ocê Sabia ?ocê Sabia ?ocê Sabia ?ocê Sabia ?LEISHMANIOSE : Colaboração:
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