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FACULDADE INTEGRADO DE CAMPO MOURÃO – PARANÁ MEDICINA VETERINÁRIA LEONARDO MATHEUS JAGELSKI ROSINA SUÉLLEN CARPEJANI DOS SANTOS DOR E ANALGESIA NA MEDICINA VETERINÁRIA CAMPO MOURÃO 2013 2 FACULDADE INTEGRADO DE CAMPO MOURÃO – PARANÁ MEDICINA VETERINÁRIA LEONARDO MATHEUS JAGELSKI ROSINA SUÉLLEN CARPEJANI DOS SANTOS DOR E ANALGESIA NA CLÍNICA DE PEQUENOS ANIMAIS TRABALHO INTEGRADOR Trabalho apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade Integrado de Campo Mourão - PR como requisito parcial para avaliação no Projeto Integrador. PROFESSORA: DANIELE MAGGIONI CHEFER CAMPO MOURÃO 2013 3 SUMÁRIO DOR E ANALGESIA NA CLÍNICA DE PEQUENOS ANIMAIS ................................................. 3 1.0. RESUMO ........................................................................................................................... 3 2.0. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 3 3.0. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 4 3.1. Fisiologia da dor ..................................................................................................... 4 3.2. Classificação da dor ............................................................................................... 5 3.3. Alterações comportamentais .................................................................................. 6 3.4. Alterações fisiológicas ............................................................................................ 6 3.5. Tratamento e controle da dor ................................................................................. 8 3.5.1. Opióides ...................................................................................................... 8 3.5.1.1. Tramadol ........................................................................................ 9 3.5.1.2. Meperidina ...................................................................................... 9 3.5.1.3. Morfina ......................................................................................... 10 3.5.1.4. Butorfanol ..................................................................................... 10 3.5.2. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) ................................................ 10 3.6. Prevenção da dor ................................................................................................ 11 4.0. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 12 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 13 3 DOR E ANALGESIA NA CLÍNICA DE PEQUENOS ANIMAIS 1.0. RESUMO A dor é um aspecto que vem tomando grande importância na área da medicina veterinária. Ela tem sido tratada como um dos cinco sinais vitais que o animal apresenta. Sua avaliação na clínica de pequenos animais, principalmente quando se fala de cães e gatos, é de extrema importância, pois como o animal não tem a capacidade de comunicar-se verbalmente cabe ao médico veterinário saber interpretar os sinais apresentados e os dados obtidos em uma anamnese minuciosa para correlacionar com a dor e assim poder tratar, retirando o animal de um estado de injúria provocado pela situação dolorosa. O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância em avaliar a dor na clínica de pequenos animais e suas alterações no comportamento animal. Palavras-chaves – Fisiopatologia, comportamento, tratamento. 2.0. INTRODUÇÃO O primeiro conceito de dor foi criado em 1986 pela International Association for the Study of Pain (IASP), como “uma experiência sensorial e emocional desagradável, que é associada a lesões reais ou potenciais em termos de tais lesões” (MENEZES, 2004). A incapacidade que o animal apresenta em se comunicar não significa que ele está isento de dor e não necessite de tratamento adequado para aliviá-la (TRANQUILE et al., 2013). Os principais estímulos desencadeantes de sofrimento nos animais são a dor, ansiedade, medo, estresse, desconforto e injúria ou trauma (LUNA et al., 2008). A dor foi, e continua sendo, uma das grandes preocupações da humanidade. Desde os primórdios da civilização de acordo com registros da pré-história e com diversos documentos descritos posteriormente, o ser humano procura esclarecer as razões que justificam a ocorrência da dor e desenvolver procedimentos destinados ao seu controle (ALVES NETO et al., 2009). O ser humano é capaz de reconhecer sua dor e através da comunicação verbal expressá-la. Já nos animais essa comunicação é ausente, assim eles sentem dor, mas não expressão verbalmente. Portanto devem ser interpretadas respostas fisiológicas e comportamentais (PADDLEFORD, 2001). A dor é um sintoma clínico presente na maioria das doenças e é acompanhada do sofrimento levando à graves alterações deletérias (ALVES, 2006). Ela pode ser classificada em dor aguda e crônica, onde dor aguda tem a função de alerta, tendo um diagnóstico fácil. A dor crônica não tem função de alerta e acaba gerando estresse físico e emocional, seu diagnóstico é mais complicado (MENEZES, 2004). O tratamento da dor ganhou, nas últimas duas décadas, um novo enfoque. Novas descobertas técnico-científicas, aliadas a uma maior preocupação ética em relação aos cuidados com os animais, fizeram com que a dor recebesse uma atenção especial e passasse a ser tratada como um sinal vital, devendo ser avaliada em qualquer exame clínico, quantificada e tratada (FANTONI, 1998). 4 O objetivo deste trabalho é mostrar a importância em reconhecer a dor na clínica de pequenos animais, assim como mostrar a importância de tratá-la para que o animal não desenvolva patologia secundárias e não acometa auto-multilação. 3.0. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. Fisiologia da dor Atualmente sabe-se que existe participação de grandes números de centros, vias nervosas e neurotransmissores nos mecanismos centrais e periféricos envolvidos no processamento da dor (FANTONI, et al, 2009). O componente fisiológico da dor é chamado nocicepção, que consiste dos processos de transdução, transmissão e modulação de sinais neurais gerados em resposta a um estímulo nocivo externo. De forma simplificada, pode ser considerado como uma cadeia de três neurônios, com o neurônio de primeira ordem originado na periferia e projetando-se para a medula espinhal, o neurônio de segunda ordem ascende pela medula espinhal e o neurônio de terceira ordem projeta-se para o córtex cerebral (KLAUMANN et al., 2008). Na sequência dos eventos que originam o fenômeno sensitivo doloroso, o primeiro passo é a transformação dos estímulos ambientais, físicos ou químicos intensos em potenciais de ação, que são transferidos, das fibras nervosas do sistema nervoso periférico (SNP) para o sistema nervoso central (SNC). O processo de transdução dos eventos térmicos, mecânicos e químicos intensos em potenciais de geração e de ação nos aferentes primários são limitados à região da membrana axonal, que ocupa poucas centenasde micrômetros da terminação axonal distal e que constitui os nociceptores ou a terminação nervosa livre. O restante da membrana axonal não apresenta a propriedade de gerar os potenciais repetitivos frente aos estímulos naturais (ALVES NETO et al., 2009). Nocicepção é a recepção de sinais interpretados pelos nociceptores como estímulos nocivos aos tecidos. A dor implica na percepção de tais estímulos nocivos no córtex somatossensorial. Os nociceptores são ativados por estímulos mecânicos, térmicos ou químicos. Alguns deles possuem especialidades, enquanto outros respondem a vários estímulos (nociceptores polimodiais) (TRANQUILLI et al., 2013). A porção terminal do axônio é especializada na transformação de eventos físicos e químicos que ocorrem nos tecidos em potencial de ação, interpretados como dolorosos após seu processamento no SNC. Os estímulos alteram as atividades das membranas desses receptores e o tipo de alteração varia com a natureza do estímulo ambiental (FANTONI et al., 2002). Os impulsos nociceptivos gerado pelos receptores são processados em lâminas do corno posterior da substância cinzenta da medula espinhal (CPME). A substância cinzenta 5 possui dez lâminas, que diferem entre si de acordo com o padrão arquitetônico de suas unidades celulares na medula espinhal (FANTONI et al., 2009). Segundo Souza (2003) várias escalas podem ser empregadas para quantificar a dor de forma subjetiva na medicina humana e veterinária, sendo as mais frequêntes: Escala simples descritiva ou categórica, com quatro ou cinco graus de severidade da dor (sem dor, fraca, moderada, grave e muito grave); Escala numérica simples que determina valores numéricos para a dor; Método de escore (através de um escore comportamental); Escala análogo-visual. 3.2. Classificação da dor A dor é classificada em três categorias baseada no seu início de percepção e período de duração como dor aguda e crônica (SOUZA, 2003). A dor aguda é um sintoma de alguma doença, a dor crônica é uma doença propriamente dita, sendo nociva e independente ao estímulo que a gerou (KLAUMANN, 2008). A dor aguda (Figura 1) é observada quando um estímulo resulta em injúria do organismo independente se o estímulo é traumático, cirúrgico ou infeccioso. Pode ser ocasionada por numerosos estímulos cujo caráter comum parece ser a priore, a forte intensidade (SOUZA, 2003). A dor passa a ser considerada crônica quando persiste por mais de 3 meses (FANTONI, 2009). FIGURA 1 – Esquema ilustrativo dos tipos de dores agudas. Fonte: Souza (2002). Dor Somática Visceral Dor superficial Dor profunda Primeira dor Segunda dor Pele Tecido Conjuntivo Vísceras abdominais e torácica Ossos Músculos Articulações 6 3.3. Alterações comportamentais Como os animais não tem a capacidade de comunicar-se verbalmente o que irá descrever sua dor será o comportamento, assim variando de animal para animal. O que pode ser sinal de dor em um paciente, já em outro pode não ser (PADDLEFORD, 2001). Os gatos manifestam dor de forma distinta dos cães e o reconhecimento da dor nos felinos é difícil (SOUZA, 2003). Segundo Fantoni (1998) e Paddleford (2001) a mudança de comportamento é o principal sinal que o animal apresenta dor, as mais comuns são: Vocalização: animal fica uivando, gemendo e quando se aproxima do local machucado chora constantemente ou o animal pode ficar em silêncio total. Inquietação: se o animal é muito agitado e começa a ficar quieto ou se é quieto e fica muito agitado. Automutilação: animal fica lambendo, mordendo, coçando área afetada. Apático: animal não responde quando tocado. Andar e postura anormal: animal andando torto, rígido, andando pouco, sem balançar a cauda, deitado ou sentado de maneira anormal, dificuldade de se manter em posição normal. Apetite: diminuição da ingestão de alimentos e água. Se o animal estiver com uma dor discreta, ela é tolerada, assim não causa alteração no comportamento. Na dor moderada o animal fica sem apetite, com isso perde peso, fica mais agressivo ou com medo, fica inquieto, mudando sempre de posição, apresenta postura anormal e expressa facialmente ansiedade. E a dor intensa é uma dor intolerável, animal fica quieto e/ou choramingando, podendo ocasionar automutilação (PADDLEFORD, 2001). 3.4. Alterações fisiológicas Durante muito tempo a avaliação da dor aguda era realizada apenas fisiologicamente, como, por exemplo, avaliação das frequências cardíaca e respiratória, pressão sanguínea arterial e alteração da conformidade da pupila. Atualmente sabe-se que estes parâmetros colaboram para a avaliação da dor, mas podem ser enganosos, já que não sofrem alterações específicas relacionadas com a dor (FANTONI, 2011). Os processos dolorosos acarretam uma série de alterações fisiológicas que podem ser gravemente deletérias (FANTONI et al., 2009). A estimulação nociceptiva produz respostas reflexas suprassegmentais medidas pelos centros circulatórios e respiratórios bulbares, por 7 núcleos hipotalâmicos de função neuroendócrina (relacionada com o sistema simpático) e por estruturas do sistema límbico. Essas respostas incluem hiperventilação, aumento do tônus simpático neural hipotalâmico e da liberação de catecolaminas e outros hormônios endócrinos (TRANQUILLI et al., 2013). Os avanços laboratoriais permitem que métodos objetivos, como a mensuração de cortisol, catecolaminas e glicose contribuam para o reconhecimento da dor em felinos e, também, pela concentração plasmática da β-endorfina, um opióide endógenos derivado do pro-opiomelanocortico, liberado primeiramente pela adenoipófise (SOUZA, 2003). A diminuição na ingestão de água e comida levam a perda de peso, catabolismo proteico e até mesmo desidratação. Estes sinais são muito importantes para auxiliar o profissional a reconhecer a adequação do protocolo de analgesia. A dor interfere sobremaneira no eixo neuroendócrino com aumento nos níveis de aldosterona (causando retenção de sódio e desequilíbrio hidroeletrolítico), cortisol (levando a hiperglicemia) e catecolaminas (responsável por alterações cardíacas, como arritimias e aumento no consumo de oxigênio pelo miocárdio) (FANTONI et al., 2009). Em razão da elevação do tônus simpático neural e da liberação de catecolaminas há o aumento do débito cardíaco, resistência periférica, pressão arterial, trabalho cardíaco e consumo de oxigênio pelo miocárdio. Além disso, há incremento na secreção de cortisol, hormônios adrenocorticotróficos (ACTH), glucagon, monofosfato cíclico de adenosina, hormônios antidiuréticos e de crescimento, renina e outros hormônios catabólicos. Existe a diminuição simultânea de hormônios anabolizantes, insulina e testosterona. Essas respostas características de respostas relacionadas ao estresse, causam aumento da taxa de glicose, ácidos graxos livres, lactatos e cetonas sanguíneos, bem como elevação da taxa metabólica e do consumo de oxigênio. Essas respostas mobilizam o substrato para os órgãos centrais e tecidos lesionados, ocasionando estado catabólico e balanço nitrogenado negativo. A magnitude e a duração dessas mudanças serão coincidentes com a intensidade do dano tecidual e pode durar dias e, por conta disso, a perda de peso e de massa muscular torna-se clinicamente evidente (TRANQUILLI et al., 2013). Ainda é possível que o sistema nociceptivo sofra alterações nos mecanismos de percepção e condução dos impulsos, denominados neuroplasticidade. A neuroplasticidadepode aumentar a magnitude da percepção da dor e pode contribuir para o desenvolvimento de síndromes dolorosas crônicas (KLAUMANN et al., 2008). Segundo Souza (2003) nos felinos as principais alterações fisiológicas, quando o animal está com dor, são: Taquipneia; Taquicardia; Hipertensão; Pupilas dilatadas; 8 Salivação; Apatia; Anorexia; Diminuição do hábito de higiene. 3.5. Tratamento e controle da dor O tratamento da dor é feito por intervenções farmacológicas, incluindo os analgésicos e os fármacos adjuvantes (FANTONI, 1998). Para um tratamento da dor é necessário criar uma estratégia com antecedência, pensando em quais agentes a serem escolhidos, relacionando com a dor que o animal está sentindo (FANTONI, 2009). Para saber o grau de dor que o animal está sentindo é empregada à escala da dor (Figura 2), onde o proprietário escolhe um número de 0 a 10 que melhor indique a dor que o paciente esta sentindo, sendo que 0 significa ausência de dor e 10 a pior dor possível, como mostra a figura abaixo (FANTONI, 2011). Figura. 2 – Escala analógica que mostra o nível de dor sentida pelo animal. Fonte: Fantoni et al (2009). Juntamente com a escala da dor, deve ser feita a escolha dos agentes analgésicos (Tabela 1) e também levar em consideração os mecanismos de ação dos diferentes fármacos. Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), funcionam no local da lesão, assim, diminuindo a inflamação. Os opióides são para tratamento da dor de origem visceral (FANTONI, 2009). Tabela 1 – Agentes analgésicos utilizados em animais. Classe Exemplos Opioides AINE Morfina, fentanila, metadona Meloxicam, codeína, nalbufina Quando esses fármacos passam a não fazer a analgesia correta, substitui-se os opióides fracos pelos mais fortes (FANTONI, 1998). 3.5.1. Opióides Os opióides são considerados os mais potentes analgésicos conhecidos (SOUZA, 2003). São analgésicos com agentes de alta eficácia e muita segurança, eles se ligam em 9 receptores específicos no SNC e medula espinhal. Os receptores de maior importância são o mu (μ) e o kappa (К). Os analgésicos potentes, como sulfetanila, fentanila e remifentanila, são usados no período transoperatório, promovendo importante depressão respiratória, e possuem a duração de ação curta. Em alguns procedimentos que causam dor intensa-torturante no animal precisa de opióides potentes, como a fentanila, no pós-operatório, neste caso, raramente, ocorre depressão respiratória (FANTONI, 2009). Os opióides bloqueiam a transmissão dos estímulos dolorosos atuando sobre vários receptores pré e pós-sinápticos no gânglio da raiz dorsal, inibindo a transmissão destes impulsos para o corno posterior da medula espinhal e para centros superiores. Os opióides também atuam sobre a transmissão neural em diferentes locais da própria medula espinhal. No sistema nervoso central, estes fármacos interagem com os receptores localizados, principalmente, no tálamo e no giro pós-central no córtex cerebral, que são duas regiões contendo elevadas densidades destes receptores (SOUZA, 2003). O efeito adverso dos opiódes mais preocupante é a depressão respiratória, que é dose-dependente, porém de baixa incidência em cães e gatos (FANTONI, 2009). Nos processos inflamatórios, os opióides atuam inibindo a adenilciclase, evitando a sensibilização das prostaglandinas nos receptores nociceptivos periféricos, aumentado desta forma o limiar ao estímulo do nociceptor. Além de os opióides ainda atuarem diminuindo a liberação de neurotransmissores (SOUZA, 2003). 3.5.1.1. Tramadol É um analgésico agonista tipo opióide de ação central, atua no receptor µ, no tálamo, hipotálamo e sistema límbico. Sendo absorvido rapidamente pela via oral, tendo período de latência de 20 a 30 min, com meia vida de 35 min, meia vida de eliminação de 5 horas e também é eliminado pelo leite (MASSONE, 2011). O tramadol é capaz de bloquear impulsos vindo da medula espinhal, por ação mista, assim sendo considerado um opióide atípico, podendo ter efeito minimizado pela ioimbina, com menos efeitos adversos, como depressão respiratória, apresenta excelente analgesia no pós- operatório (FANTONI et al., 2012). Para animais, o tramadol é indicado para o tratamento de dor moderada a grave. Seu efeito analgésico é parecido com o da meperidina, sua utilização é indicada em casos de dor aguda como para o tratamento de pós-operatório imediato, como nos casos de dor crônica resultante de osteoartrite e de dor neuropática (NATALINI, 2007). 3.5.1.2. Meperidina É um fármaco que requer mais cuidados, deve ser feita pela via intramuscular, pois pela intravenosa causa taquicardia e grande liberação de histamina, é destruída rapidamente 10 pelo fígado, reduz pressão arterial e venosa, é aplicada em cães em doses de 1 a 5 mg/kg e em gatos não ultrapassar 1,5 mg/kg (MASSONE, 2011). É um agonista puro com afinidade pelo receptor µ, que possui ótima analgesia quando comparada com a morfina, se associar à acepromazina no pré-anestésico, produz sedação eficiente e analgesia profilática, podendo ser aplicada em animais de risco. Tem sido muito utilizada no tratamento de dor pós-operatória tanto em gatos e em cães, tendo ausência de efeitos adversos gastrintestinais e renais, suas grandes vantagens é que possui baixo efeito adverso, rápido início de ação e ótima ação sedativa. (FANTONI et al., 2002). 3.5.1.3. Morfina A morfina é um protótipo dos analgésicos opiódes e correlatados, com o qual todos os outros agentes são comparados (FONTONI et al., 2002). Usada como medicação pré- anestésica em cães, como analgésico por infusão contínua e nas analgesias espinhais epidural ou subaracnóide (NATALINI, 2007). Em bloqueios nociceptivos seletivos feitos com morfina epidural, causa um alívio da dor prolongada, ausência de paralizia motora ou fraqueza muscular e de efeitos hemodinâmicos importantes (TRANQUILLI et al., 2013). Produz boa analgesia, pela afinidade ao receptor µ, e a meia-vida desse agente é de 3 a 4 horas, em uma dose de 0,1 a 0,2 mg/kg pela via parenteral (FANTONI et al., 2002). 3.5.1.4. Butorfanol É um agente opióide do tipo agonista-antagonista. Sua ação mista é resultado do efeito agonista dos receptores ƙ, promovendo analgesia, e efeito antagonista nos receptores µ, podendo antagonizar efeitos agonistas µ como a morfina e meperidina (FANTONI et al., 2002). Essas propriedades são vantajosas, em decorrência da menor depressão respiratória que produz, porém o efeito analgésico pode ser menos intenso e complementação com outros fármacos pode ser necessária em caso de dor grave (FANTONI at al., 2002). 3.5.2. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) Os AINEs são um grupo de fármacos efetivos para o tratamento de dor operatória, é necessário fazer a dose e o intervalo de administração corretos para cada espécie, deve levar em consideração que após uma aplicação do AINE deve esperar de 45 a 60 minutos para que o efeito dos analgésicos estejam presentes. Os principais são: Carprofeno: é o mais usado no tratamento de dor pós-operatória, tem uma boa ação analgésica e anti-inflamatória que causa poucos efeitos adversos. Meloxicam: tem uma potente ação anti-inflamatória, baixa toxidade renal e gastrointestinal, pode ser utilizado antes ou depois da cirurgia (FANTONI, 2009). 11 Na clínica de felinos o emprego de AINEs ficou por muito tempo restrito, em função das particularidades metabólicas dos gatos, devido a deficiência de algumas enzimasda família glicoroniltransferase e pela propensão da hemoglobina felina sofrer oxidação e, em virtuda, dos efeitos adversos relacionados a toxidade gastroentestinal, renal e homeostática (SOUZA, 2003). A farmacocinética dos AINEs varia muito entre as espécies. Após a administração oral, variação de concentrações plasmáticas, entre as espécies, dependem, em parte, do tamanho do trato gastroentestinal e do tempo de esvaziamento gástrico, os quais afetam as taxas de absorção, biotransformação e eliminação (TRANQUILI et al., 2013). Os AINEs são substâncias que, além de apresentarem propriedades antiinflamatória e antipirética destacam-se na maioria das vezes, pelo alto poder analgésico que possuem, sendo indicados para o tratamento da dor de grau leve a moderado (SOUZA, 2003). Os AINEs diminuem a inflamação, pois bloqueiam a enzima cicloxigenase responsável pela transformação de ácido araquidônico em substâncias que desencadeiam o processo inflamatório, como prostaglandina, tromboxana e prostacilcinas. Esse mecanismo explica por que esses agentes causam analgesia em processos que cursam com inflamação (FANTONI, et al, 2009). O controle da dor é feito para trazer o máximo de conforto para o paciente e diminuir as alterações fisiológicas indesejáveis. Deve-se deixar o animal em local limpo e seco, manter o ambiente quente, agradável e tranquilo evitando barulhos que assustam o paciente (PADDLEFORD, 2001). Segundo Saliba (2011) e Tranquilli (2013) o controle da dor pode ser feito por: Analgesia preemptiva: é aplicação de técnicas analgésicas antes do paciente sujeito a dor, ela não elimina dor pós-operatória, mas ajuda durante a cirurgia. Analgesia multimodal: é aplicado duas ou mais classes farmacológicas para ter um ótimo controle da dor, diminuindo o risco de causar inflamação. Anestésicos locais: são capazes de causar diminuição da sensibilidade, motricidade e função autonômica. 3.6. Prevenção da dor A analgesia preventiva pode ser considerada a medicina veterinária preventiva para a dor. Diversos estudos demonstram que a dor patológica, ou seja, aquelas que levam a alterações neuroplásticas do sistema nervoso central, causando hiperalgia, alodinia e dor neuropática, pode ser melhor tratada ou mesmo evitada se os analgésicos forem utilizados antes que o estímulo doloroso ocorra (NATALINI, 2007). Da mesma maneira que o uso profilático de antibióticos previne a infecção, é adequado e recomendado administrar analgésicos para prevenir a provável ocorrência da dor. Os argumentos contrários (por exemplo, para evitar a depressão respiratória induzida por opióides 12 ou porque o alívio da dor aumentaria o risco de automutilação) não são válidos e devem ser analisados com cuidado, antes de se decidir pela interrupção dos analgésicos (TRANQUILLI et al., 2013). Tais modalidades analgésicas é apropriada para intervenção nas quais se sabe que um estímulo doloroso será produzido (Ex: cirurgias e exames diagnósticos invasivos e mais cruentos). Em geral, devem ser utilizadas duas ou mais técnicas para a obtenção de analgesia preventiva e o uso de um único fármaco não é recomendado para a analgesia preventiva correta (NATALINI, 2007). 4.0. CONCLUSÃO Frente a diversas apresentações da dor está o desafio de o profissional, Médico Veterinário, saber avaliar os sinais clínicos apresentados pelo animal e correlacionar com os dados obtidos com o proprietário durante a anamnese para que ele possa fazer o tratamento do animal que está sofrendo um processo doloroso, como ter conhecimento de como realizar uma analgesia preemptiva antes de algum procedimento que irá lhe causar um estímulo doloroso. 13 REFERÊNCIAS ALVES, N. D. Ética e dor na medicina veterinária. I Encontro de Bioética e Bem-Estar animal do Agreste Meridional Pernambucano. Universidade Federal Rural de Pernambuco. Unidade acadêmica de Garanhuns. Garanhus, PE, 2006. ALVES NETO, O., COSTA, C. M. C., SIQUEIRA, J. T. T., TEIXEIRA, M. J. Dor: Princípios e práticas. Porto Alegre : Artmed, 2009. FANTONI, D. Tratado da dor na clínica de pequenos animais / Denise Fantoni – São Paulo : Elsevier, 1998. FANTONI, D. Tratado da dor na clínica de pequenos animais / Denise Fantoni – Rio de Janeiro : Elsevier, 2011. SALIBA, R. ; HUBER, R. ; DUARTE, J. FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em cães e gatos. Segunda edição – São Paulo: Roca, 2009. FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2002. HELLEBREKERS, L. J. Dor em animais. 1ª Edição, Barueri - SP: Editora Manole Ltda, 2002. KLAUMANN, P. R.; WOUK, A. F. P. F.; SILLAS, T. Patofisiologia da dor. Arcives of veterinary science, v.1, n.1, p. 1-22, 2008. Printed in Brazil. LUNA, S. P. L.; TEIXEIRA NETO, F. J. Reconhecimento da dor em grandes animais. 2008. NATALINI, C. C. Teoria e técnica em anestesiologia veterinária. Porto Alegre: Artmed, 2007. PADDLEFORD, R. R. Manual de anestesia em pequenos animais / Robert R. Paddleford ; [tradução de José Jurandir Fagliari] – 2.ed. – São Paulo : Roca, 2001. SALIBA, R.; HUBER, R.; PENTER, J. D. Controle da dor em pequenos animais. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/semagrarias/article/view/5255/9161>. Acessado em: 01 de setembro 2013. SOUZA, H. J. M. Coletâneas em Medicina e Cirurgia felina. Rio de Janeiro: L.F. Livros de Veterinária, 2003. TRANQUILLI, W. J.; THURMON,J. C.; GRIMM, K.A. Anestesiologia e analgesia veterinária. São Paulo: Roca, 2013.
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