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1 Conceitos Junguianos

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Conceitos Junguianos
Complexos
Inconsciente
Inconsciente coletivo
Função Compensatória do Inconsciente
Self e Indifiduação
Tipos Psicológicos
Anima/Animus e Persona
Sombra
Sincronicidade
Personalidade-Mana
Arquétipos
Numinosidade dos Arquétipos e Participação Mística
 
Complexos
A noção de um complexo baseia-se em uma refutação de idéias monolíticas de “personalidade”. Possuímos muitos selfs, como sabemos por experiência. Embora seja um passo considerável desse ponto até a consideração de um complexo como uma entidade autônoma dentro da psique, Jung asseverava que os “complexos se comportam como seres independentes”. Também argumentava que “não existe diferença, em princípio, entre uma personalidade fragmentária e um complexo”, “complexos são psiques parciais”
Um complexo é uma reunião de imagens e ideias, conglomeradas em torno de um núcleo derivado de um ou mais arquétipos, e caracterizadas por uma tonalidade emocional comum. Quando entram em ação (tornam-se “constelados”), os complexos contribuem para o comportamento e são marcados pelo AFETO, quer uma pessoa esteja ou não consciente deles. São particularmente úteis na análise de sintomas neuróticos.
A ideia era tão importante para Jung que, em certo ponto, ele cogitou de rotular suas ideias de “Psicologia Complexa”. Jung referia-se ao complexo como a “a via régia para o inconsciente” e como “o arquiteto dos sonhos”. Isso sugeriria que os SONHOS e outras manifestações simbólicas estão intimamente relacionados com os complexos.
O conceito possibilitou a Jung ligar os componentes pessoais e os arquetípicos das várias experiências de um indivíduo. Além disso, sem este conceito, seria difícil expressar o modo exato como a experiência se forma; a vida psicológica seria uma série de incidentes desconectados. Mais ainda, de acordo com Jung, os complexos também afetam a memória. O “complexo de pai” não somente contém uma imagem arquetípica de pai, mas também um agregado de todas as intenções com o pai ao longo do tempo. Daí o complexo de pai matizar a recordação de experiências precoces do pai real.
Por possuir um aspecto arquetípico, o EGO está situado no âmago de um complexo de ego, uma história personalizada do desenvolvimento da consciência e autoconscientização do indivíduo. O complexo de ego está em relacionamento com os outros complexos, o que muitas vezes o envolve em um conflito. Aí então existe o risco de este ou qualquer complexo se dissociar, sendo a personalidade por ele dominada. Um complexo pode dominar o ego (como na PSICOSE) ou o ego pode se identificar com o complexo.
Também é importante lembrar que os complexos são fenômenos bastante naturais que se desenvolvem ao longo de linhas positivas como também negativas. São ingredientes necessários da vida psíquica. Desde que ego pode estabelecer um relacionamento viável com um complexo, uma personalidade mais rica e mais diversificada emerge. Por exemplo, padrões de relacionamento pessoal podem se alterar, enquanto percepções de outros sofrem mudanças.
Jung desenvolveu suas ideias mediante o uso do TESTE DE ASSOCIAÇÃO PALAVRAS entre 1904 e 1911. O uso de um psicogalvanômetro no teste sugere que os complexos são radicados no corpo e expressam-se somaticamente.
Alguns autores psicanalistas fizeram comentários sugerindo que a ênfase de Jung sobre a autonomia do complexo fornece evidência de graves distúrbios psiquiátricos nele (Atwood e Stolorow, 1979). Outros confirmam a abordagem de Jung afirmando que “uma pessoa é um substantivo coletivo” (Goldberg, 1980).
Na análise, pode-se fazer uso de PERSONIFICAÇÕES oriundas de complexos; o paciente pode “nomear” as várias partes de si próprio. Um interesse atual na teoria dos complexos surge de sua utilidade na descrição de como os eventos emocionais da fase mais precoce da vida se tornam fixados e operantes na psique adulta. Finalmente, a ideia de “personalidades parciais” é relevante para a atual reelaboração do conceito de SELF.
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FONTE:
Dicionário Crítico de Análise Junguiana <http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/complexo.htm>
 
Inconsciente
Jung define o inconsciente como sendo “um conceito-limite psicológico que abrange todos os conteúdos ou processos psíquicos que não são conscientes, isto é, que não estão relacionados com o eu de modo perceptível” (JUNG, 2008a, p.424). Como se pode notar, o inconsciente foi definido por exclusão, justamente por ser algo desconhecido em sua essência. Segundo o autor, tudo que podemos conhecer sobre o inconsciente fazemos por meio do nosso consciente, de sorte que no máximo é possível tecer considerações a partir dos efeitos daquele que se fazem notar na consciência.
“Tudo o que conhecemos a respeito do inconsciente foi-nos transmitido pelo próprio consciente. A psique inconsciente, cuja natureza é completamente desconhecida, sempre se exprime através de elementos conscientes e em termos de consciência, sendo esse o único elemento fornecedor de dados para a nossa ação” (JUNG, 2008c, p. 3)
Por esta perspectiva, a nossa vida consciente estaria para a ponta de um iceberg, assim como o inconsciente estaria para a parte submersa daquele, imensurável e indefinível em sua forma. Jung (2008a) entende que pela impossibilidade de se conhecer o inconsciente diretamente, e pela experiência das inúmeras manifestações deste, pode-se afirmar que o Ego, o centro da parte consciente da psique, seria uma pequena parte imersa num vasto inconsciente.
Pela experiência em psicoterapia, Jung (2008a) acredita que os conteúdos do inconsciente podem ser originários do Inconsciente pessoal e do Inconsciente Coletivo. Apesar de que não é possível determinar a origem destes conteúdos, Jung acredita que seus produtos podem ser classificados desta forma. O Inconsciente Pessoal “engloba as aquisições da existência pessoal: o esquecido, o reprimido, o subliminalmente percebido, pensado e sentido.” (JUNG, 2008a, p.426)
Os conteúdos reprimidos são aqueles aspectos desagradáveis que ao entrarem na consciência são negados pelo ego, e passam a fazer parte do imenso inconsciente. Este processo de armazenamento no inconsciente, diferentemente da exclusão, pode ser verificado quando posteriormente estes conteúdos ameaçam tomar a consciência de assalto, no processo de compensação que posteriormente explicaremos.
Além dos conteúdos reprimidos, também seriam provenientes do Inconsciente Pessoal materiais psicológicos que não chegaram a ter importância suficiente para serem conscientes, mas que foram apreendidos pelo indivíduo. As percepções subliminares dos sentidos são um bom exemplo deste material, visto que uma pequena parcela de tudo que percebemos por meio dos sentidos chegam a nossa psique consciente, e não obstante, posteriormente é comum conseguirmos acessar informações que não sabíamos que estavam guardadas. Não só as percepções sensoriais, mas também pensamentos, sentimentos e intuições que passam a beira da consciência podem ser legados ao inconsciente por não terem importância suficiente, de sorte que sua presença posterior na consciência é uma forma de se constatar que não foram simplesmente descartados, mas ficaram ruminando em alguma parte da psique.
Também segundo o autor, os conteúdos que conseguiram atingir a consciência, mas que por algum motivo perderam importância, podem passar a fazer parte do Inconsciente Pessoal. Não precisaram ser reprimidos, mas perderam a energia suficiente para permanecer conscientes, e foram esquecidos. Nesta categoria estariam diversas informações, sentimentos, sensações e pensamentos que ocupam nossa consciência em determinadas situações, mas que são abandonados. Posteriormente, é possível acessá-las novamente.
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2008a). Tipos Psicológicos. Petrópolis, Vozes.
_________.(2008c). Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis, Vozes.
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
Inconsciente coletivo
Com relação ao Inconsciente Coletivo, Jung (2008d) explicaque é uma camada mais profunda do inconsciente, cujos produtos seriam constituídos de conteúdos que vão além da experiência pessoal de vida do indivíduo. Assim como cada célula do corpo humano é uma célula nova, e seu DNA contém o resultado de toda a evolução que a espécie sofreu desde o início dos tempos, também a psique teria em sua constituição a habilidade de pensar de toda história da humanidade, herdado em forma de categorias e/ou possibilidades. Estes conteúdos foram chamados por Jung (2008d) de Arquétipos ou Imagens Primordiais, e existem porque “nossa mente inconsciente, bem como nosso corpo, é um depositário de relíquias e memórias do passado. Um estudo da estrutura do inconsciente coletivo revelaria as mesmas descobertas que se fazem em anatomia comparada.” (JUNG, 2008c, p.36).
Jung (2008d) constatou que estes conteúdos de caráter universal não poderiam vir da experiência pessoal de quem os apresentou, pois em muitos casos seria impossível que certos indivíduos tivessem acesso consciente a tais materiais, seja porque nunca ouviram ou leram algo do tipo, seja porque não fazem parte de sua cultura. Além disso, percebeu que essas categorias de pensamento se repetiam nos contos de fadas, nas lendas de vários povos, e também nos sonhos de diversos pacientes, pois o Inconsciente Coletivo,
“como estrutura cerebral generalizada, é um espírito “onipresente” e “onisciente” que tudo pervade. Conhece o ser humano como ele sempre foi e não como é neste exato momento. Conhece-o como mito. É por isso também que a relação com o inconsciente supra-pessal ou Inconsciente Coletivo vem a ser uma expansão do ser humano para além de si mesmo, uma morte de seu ser pessoal e um renascer para uma nova dimensão, segundo nos informa a literatura de certos mistérios antigos.” (JUNG, 2007a, p.15)
Estas evidências foram matéria prima para que formulasse a existência de uma camada da psique, existente em todos os seres humanos, na qual houvesse categorias de pensamento e possibilidades de conteúdos comuns a todos os povos e épocas da humanidade.
Desta forma, todos os seres humanos podem viver as categorias arquetípicas dentro das diversas possibilidades de suas próprias experiências pessoais. Exemplo dos arquétipos são o arquétipo materno, o arquétipo paterno, o arquétipo de velho sábio e o arquétipo do herói. Estas categorias são comuns a todas as pessoas, pois a princípio todos fomos gerados por um pai e uma mãe, todos entramos em contato com algum tipo de conhecimento/sabedoria, todos vivemos algum tipo de situação que nos levou rumo ao fortalecimento de nossos poderes pessoais.
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2008c) Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis, Vozes
_________ (2008d). Arquétipos do Inconsciente Coletivo. Petrópolis, Vozes
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
 
Função Compensatória do Inconsciente
Para Jung, a psique é “a totalidade dos processos psíquicos, tanto conscientes quanto inconscientes” (JUNG, 2008a, p.388). Durante muitos anos a psicologia acreditou que a psique se limitaria ao que podemos vivenciar conscientemente. As pesquisas de autores como Freud, Adler e Jung revelaram a importância desta outra parte da psique, o inconsciente. Especialmente para Jung (2008c), o inconsciente tem importância igual, senão maior que o consciente. Conforme exposto, não é possível conhecer exatamente a natureza da camada inconsciente da psique, entretanto foi possível classificar a manifestação de seus produtos na mente consciente. Sejam eles conteúdos pessoais subliminares, esquecidos, ou reprimidos, sejam eles arquetípicos ou não, para Jung (2007a) este material se manifesta na consciência em atitude autônoma e de forma complementar à vida vivida conscientemente.
As características autônoma e complementar do inconsciente estão diretamente relacionadas com a unilateralidade da vida consciente, sobre a qual o autor diz que “quando a vida, por algum motivo, toma uma direção unilateral, produz-se no inconsciente, por razões de auto-regulação do organismo, um acúmulo de todos aqueles fatores que na vida consciente não puderam ter suficiente voz nem vez.” (JUNG, 2007a, p.19).
Desta constatação Jung elaborou sua teoria da função compensatória do inconsciente. Para ele, quanto mais a atitude consciente do indivíduo se aproxima daquilo que é considerado ótimo tanto do ponto de vista social quando individual, os produtos emergidos do inconsciente se comportam de maneira menos autônoma, manifestando simples possibilidades complementares, ou até mesmo coincidentes com a vida vivida conscientemente. Isto porque o inconsciente não é formado apenas de material reprimido, pois
“contém também as obscuras fontes do instinto e da intuição, a imagem do homem como sempre foi desde tempos imemoriais, além daquelas forças que a mera racionalidade, conveniência e sensatez de uma vida burguesa jamais poderiam despertar para uma ação vital, aquelas forças criativas que sempre de novo conseguem levar a vida do homem a novos desdobramentos” (JUNG, 2007a, p.23)
Entretanto, quanto mais o rumo da vida do indivíduo se torna de alguma forma unilateral, desconsiderando aspectos importantes da personalidade, ou até mesmo da coletividade, progressivamente os conteúdos emergidos do inconsciente vão ganhando autonomia, e aparecem em evidente oposição à sua atitude consciente. Segundo Jung (2007a), todos estes conteúdos não vividos agem de forma compensatória, até que a atitude consciente seja tão unilateral que passam a agir em clara oposição a esta atitude. Daí a origem das diversas doenças psíquicas e físicas, que para o autor, são justamente a manifestação desta cisão interna no indivíduo.
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2007a). Civilização em Transição. Petrópolis, Vozes.
_________. (2008a). Tipos Psicológicos. Petrópolis, Vozes.
_________. (2008c). Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis, Vozes.
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
 
Self e Indifiduação
Dos processos do inconsciente, ora em atitude de compensação, ora em movimento de oposição a atividade consciente, Jung (2008b) constatou que existe como pano de fundo na vida dos indivíduos uma força que os leva a realizar a totalidade do ser. Para ele, os processos inconscientes se relacionam de forma complementar a atitude consciente para que seja formada a totalidade que chamou de si-mesmo, ou self. Dessa forma, quando adoecemos fisicamente ou psicologicamente, por trás destes acontecimentos estaria a realização do propósito do Self, que “abarca não só a psique consciente, como a inconsciente, sendo portanto, por assim dizer, uma personalidade que também somos” (JUNG, 2008b, p.53)
Este movimento de realização do Self é chamado por Jung de processo de individuação, sendo um caminho contínuo. Para o autor,
“é impossível chegar a uma consciência aproximada do si-mesmo, porque por mais que ampliemos nosso campo de consciência, sempre haverá uma quantidade indeterminada e indeterminável de material inconsciente, que pertence à totalidade do si-mesmo. Este é o motivo pelo qual o si-mesmo sempre constituirá uma grandeza que nos ultrapassa.” (JUNG, 2008b, p.53)
E ainda:
“Quanto mais conscientes nos tornamos de nós mesmos através do autoconhecimento, atuando conseqüentemente, tanto mais se reduzirá a camada do inconsciente pessoal que recobre o inconsciente coletivo. Desta forma, vai emergindo uma consciência livre do mundo mesquinho, susceptível e pessoal do eu, aberta para a livre participação de um mundo mais amplo de interesses objetivos” (JUNG, 2008b, p.53).
Diante do exposto, vemos que por ser um processo, a individuação é constante, não é um lugar em que o indivíduo chega, mas um processo que passa a viver, de forma contínua, justamente porque o inconsciente é imensurável. Além disso, individuação esta diretamente relacionada à diferenciação do coletivo, integrando o inconsciente pessoal, reconhecendo o inconscientecoletivo e posteriormente se diferenciando deste. Sobre isto Jung escreveu que:
“para diferenciar o eu do não-eu é indispensável que o homem – na função de eu – se conserve em terra firme, isto é, cumpra sue dever em relação à vida e, em todos os sentidos, manifesta sua vitalidade como membro ativo da sociedade humana. Tudo quanto deixar de fazer nesse sentido cairá no inconsciente e reforçará a posição do mesmo. E ainda por cima ele se arrisca a ser engolido pelo inconsciente.” (2007b, p.65)
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2008b). O Eu e o Inconsciente. Petrópolis, Vozes.
_________. (2007b). Psicologia do Inconsciente. Petrópolis, Vozes.
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
Tipos Psicológicos
A totalidade da psique engloba o inconsciente e o consciente, sendo o centro deste ultimo o ego (JUNG, 2008c). Com relação ao ego, este é “um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral do nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória (JUNG, 2008c, p.7). Neste sentido, a consciência é nossa forma imediata de percepção do mundo e de nós mesmo, por meio do ego, que ao longo de sua formação armazena os registros de memória. Este ego é o que emerge do mar do inconsciente, descrito nos capítulos anteriores, e é o que nos dá a noção de diferenciação, de sermos nós e não o outro. As atitudes de unilateralidade da consciência são centradas no ego, em desconsideração dos conteúdos do inconsciente, como se o ego fosse a totalidade e sua diferenciação bastasse.
Dessa forma, Jung observou que, como meio de se adaptar ao mundo, a consciência desenvolveu diferentes habilidades, as quais chamou de funções psicológicas: o pensamento; o sentimento; a intuição; e a sensação (JUNG, 2008c). As duas primeiras são utilizadas para julgamento, enquanto que as duas ultimas são utilizadas para percepção. Além disso, cada uma das quatro funções podem ser exercidas em atitude introvertida ou extrovertida. Não obstante esta divisão ser constantemente chamada de tipos psicológicos, Jung (2008a) enfatizou que mesmo considerando que cada indivíduo utiliza predominantemente uma função, é arriscado classificá-lo como daquele tipo, pois na verdade todos possuímos as quatro funções, nas duas atitudes cada uma. O que diferencia realmente é a predominância que damos ao exercício desta ou daquela função, e em que atitude a utilizamos.
Segundo Jung (2008a), cada indivíduo utiliza primordialmente uma das funções conscientemente, em uma das atitudes, extrovertida ou introvertida. Além disso, uma outra função é utilizada mais frequentemente como auxiliar desta principal, e em atitude oposta. Esta segunda função também precisa ser complementar, no sentido de que se a principal for uma das funções de julgamento, a segunda função mais utilizada conscientemente será uma das funções de percepção, visto que julgar e perceber são atitudes excludentes. Como exemplo, suponha que alguém se utilize na maior parte das vezes, de forma consciente, da função perceptiva da sensação, e em atitude extrovertida. Então a função auxiliar deverá ser em atitude introvertida, e deverá também ser uma das duas funções de julgamento, seja o pensamento, seja o sentimento. Ou seja, a função auxiliar desta pessoa deverá ser pensamento introvertido, ou sentimento introvertido. As outras funções são utilizadas de forma mais inconsciente.
O interessante de estudar as funções é que elas mostram as formas com que os conteúdos do inconsciente operam no consciente. Da mesma forma que uma das funções é a mais utilizada conscientemente, o seu uso inibe a outra função complementar de julgamento, ou de percepção, de forma que seu uso fica relegado ao inconsciente se tornando a função inferior. Conforme vimos, aqueles conteúdos faltantes da atitude consciente tendem a aparecer subitamente na vida consciente, de forma compensatória, contrabalanceando a sua ausência, e de forma complementar, ensejando uma atitude excludente, chegando a oposição nos casos extremos. Com as funções acontece coisa semelhante. Quando um indivíduo enxerga o mundo unilateralmente por meio do julgamento lógico do pensamento, por exemplo, esta atitude inibe a outra função de julgamento, o sentimento, que será a função inferior. O uso da função inferior então é relegado ao inconsciente, sendo que esta será justamente a via por meio da qual estes conteúdos se manifestarão na maior parte das vezes. Da mesma forma, se alguém se utiliza primordialmente da função perceptiva da intuição, estará inibindo a outra função perceptiva, a sensação. Claro que esta divisão não é cartesiana, mas o que de fato é observado pela experiência é que quanto mais inconsciente for o uso de uma função, tanto mais será utilizada como caminho para manifestação dos conteúdos do inconsciente.
Veja que ao entender o funcionamento de nossa atitude consciente, é possível identificar as forma com que, na maioria das vezes, nossos conteúdos inconscientes se manifestarão. Este entendimento serve como um mapa de diretriz, para se ter acesso indireto ao nosso inconsciente. Se por exemplo perceber que a função principal é o pensamento extrovertido, saberá que os conteúdos do inconsciente geralmente usarão a via do sentimento introvertido para se expressar. Quanto mais unilateral estiver se utilizando do julgamento lógico, típico do pensamento, tanto mais autônomo e primitivo estarão se manifestando conteúdos inconscientes por meio do julgamento sentimental.
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2008a). Tipos Psicológicos. Petrópolis, Vozes.
_________. (2008c). Fundamentos de Psicologia Analítica. Petrópolis, Vozes.
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
Anima/Animus e Persona
Em O Eu e o Inconsciente (2008b), Jung fala que a anima seria “a imagem do sujeito, tal como se comporta em face dos conteúdos do inconsciente coletivo ou então é uma expressão dos materiais inconscientes coletivos, que são constelados inconscientemente pelo sujeito.” (2008b, p. 156). Ou ainda que ela é “uma imagem coletiva de mulher no inconsciente do homem, com o auxílio da qual ele pode compreender a natureza da mulher.” (2008b, p.66).
Antes de tudo, é importante salientar que o autor chama a atenção para o fato de que este é um conceito empírico, e não simplesmente intelectual (2008d). Neste sentido, para se estudar a anima ou alma, e seu correspondente na psique feminina, o animus, Jung se valeu principalmente dos efeitos destes sobre a consciência, experimentados em varias décadas em que atuou como analista. Assim como os outros conteúdos do inconsciente, não seria possível apreender exatamente a natureza da anima.
De acordo com a definição acima, a anima está interposta entre a esfera pessoal e a esfera coletiva. Sendo a imagem do sujeito face aos conteúdos do inconsciente, em primeiro lugar esta diretamente relacionada com o pessoal, com a forma com que ele se vê e se apresenta diante de um coletivo (cf. JUNG, 2008d). Ao mesmo tempo, leva em alta consideração aquilo que ele acha que o coletivo acha dele, aquilo que ele sabe ou pensa, inconscientemente, sobre a coletividade.
Veja que esta imagem se forma no âmbito do mundo interno, ela guia a atitude interna, no mundo inconsciente, e por isso é formada diante da estrutura coletiva do inconsciente do indivíduo, aquela formada pelas categorias e possibilidades herdadas durante a evolução psíquica da história da humanidade. É nesta realidade que se encontra a característica arquetípica da anima, por meio da qual preenchemos com nossas experiências individual as possibilidades femininas herdadas de nossos ancestrais.
Na vida do homem, a primeira pessoa com quem experimenta a imagem de anima é a mãe, sendo que para a mulher, o animus é vivenciado por meio dos modelos masculinos do inconsciente da mãe, e depois do pai, a partir de dois anos. Não por acaso, os preconceitos e expectativas do homem com relação à mulher e da mulher com relação aos modelosmasculinos estão diretamente relacionados com suas experiências com os pais. Não é difícil imaginarmos que quando entrarem no mundo dos relacionamentos homem/mulher, serão em certa medida guiados por estas imagens, e constantemente a projetarão em seus parceiros.
Para entender melhor esta imagem interna, Jung (2008a) conceituou em oposição a ela uma imagem perante o mundo externo, chamada de Persona. Esta seria nossa postura perante a sociedade em geral, seja no trabalho, na faculdade ou em outros grupos sociais. Quanto mais dissociada de nosso eu interior, mais será utilizada como uma máscara, por meio da qual vestiremos qualidades que na realidade não possuímos, mas que não obstante atribuímos à nossa personalidade social. Sobre a persona e a anima, Jung diz que
“assim como a experiência diária nos autoriza a falar de uma personalidade externa, também nos autoriza a aceitar a existência de uma personalidade interna. Este é o modo como alguém comporta em relação aos processos psíquicos internos, é atitude interna, o caráter que apresenta ao inconsciente. Denomino persona a atitude externa, o caráter externo; e a atitude interna denomino anima, alma.” (2008a, p. 391)
Ambas as atitudes, interna e externa, correspondem a um complexo funcional (JUNG, 2008a), e neste sentido o eu pode se identificar com uma ou outra atitude. Neste movimento, tanto a anima quanto a persona ganham autonomia de complexos mais ou menos inconscientes, de forma que seria “como se uma ou outra personalidade se tivesse apossado do indivíduo, como se outro espírito tivesse entrado nele” (JUNG, 2008a, p. 391)
Desta forma, segundo Jung (2008d), esta imagem interior do homem tem características femininas, em complementaridade ao seu consciente masculino, chamando-se anima. Na mulher tem características masculinas, chamando-se animus. Uma vez que estamos falando de conteúdos do inconsciente, a anima e o animus abrangem disposições complementares a vida consciente do homem e da mulher respectivamente. Eles possuem todas aquelas qualidades comuns que faltam à atitude consciente. Com relação ao homem,
“quanto mais viril sua atitude externa, mais suprimidos são os traços femininos; aparecem, então, no inconsciente. Isto explica por que homens bem masculinos estão sujeitos a certas fraquezas bem característica; comportam-se para com as emoções do inconsciente com a determinabilidade e impressionabilidade femininas (JUNG, 2008a, p.392).”
Sobre as mulheres:
“as mais femininas apresentam quase sempre, em relação a certas coisas internas, uma ignorância, teimosia e obstinação tão grandes que só poderíamos encontrar na atitude externa do homem. São traços masculinos que, excluídos da atitude externa feminina, se tornaram qualidades da alma. (JUNG, 2008a, p. 392)”
Por este motivo, Jung fala da complementaridade da anima com relação a persona, “o tirano, atormentado por maus sonhos, pressentimentos sombrios e receios interiores, é figura típica. Externamente cruel, duro e inacessível, é internamente vulnerável a qualquer sombra, sujeito a qualquer humor, como se fosse o ser menos autônomo e mais maleável.” (JUNG, 2008a, p. 392).
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2008a) Tipos Psicológicos. Petrópolis, Vozes.
_________. 2008b). O Eu e o Inconsciente. Petrópolis, Vozes
_________. (2008d). Arquétipos do Inconsciente Coletivo. Petrópolis, Vozes.
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
Sombra
Encontramos na sombra os aspectos mais repugnantes de nosso ser, que por não serem aceitos são relegados ao inconsciente. Quanto mais unilaterais formos em olhar apenas paras as qualidades que julgamos ter, tanto mais autônomos ficam os conteúdos sombrios que possuímos, surgindo do inconsciente de onde foram relegados. Para Jung, sombra “é a parte negativa da personalidade, isto é, a soma das propriedades ocultas e desfavoráveis, das funções mal desenvolvidas e dos conteúdos do inconsciente pessoal” (2007b, p. 58)
O autor (JUNG, 2008d) fala que é importante para a economia psíquica considerar o par complementar da consciência, o inconsciente. E neste processo, o primeiro passo é olhar para o inconsciente e ver a sombra que está encoberta pela persona. Esta ultima, que criamos para nos proteger do mundo externo, também é utilizada para escondermos de nós a própria sombra, e é a primeira que enxergamos ao olhar no espelho. Diante deste ato de coragem, se formos mais além poderemos ver por trás da persona os aspectos de nossa personalidade que consideramos malignos, e que fomos incapazes de assumir. Lá estará nossa sombra.
A sombra nos fala do inconsciente pessoal, embora muitas vezes esteja permeada de associações e projeções de elementos arquetípicos coletivos, o que torna mais difícil o seu reconhecimento. Para Jung,
“a sombra, porém, é uma parte viva da personalidade e por isso quer comparecer de alguma forma. Não é possível anulá-la argumentando, ou torná-la inofensiva através da racionalização. Este problema é extremamente difícil, pois não desafia apenas o homem total, mas também o adverte acerca do seu desamparo e impotência” (JUNG, 2008d, p. 31)
Neste sentido, assim como os conteúdos do inconsciente, a sombra faz parte de nós mesmos, por mais que a neguemos. Para Jung, é caminho necessário para o autoconhecimento a confrontação com este mal que existe em nós. O homem arcaico se defendia da sombra projetando em personalidades e objetos coletivos, e quanto mais imerso na coletividade estiver, menos terá que enfrentar seus aspectos individuais sombrios. Entretanto, como vimos, o homem dos tempos modernos perdeu muito em suas crenças místicas, sendo que esta solução não está mais servindo para explicar o mal do mundo, e o mal em si mesmo na forma de sombra. Neste processo, há ainda quem se utiliza dos meios arcaicos de projeção do mal nas pessoas externas, e assim, cada vez mais o homem negligencia o poder do mal e o relega ao inconsciente. Este conteúdo se potencializa e se torna autônomo, e por isso o homem moderno é chamado a olhar para si mesmo, e consequentemente a confrontar-se com sua sombra. Para Jung,
“desde que as estrelas caíram dos céus e nossos símbolos mais altos empalideceram, uma vida secreta governa o inconsciente. É por isso que temos hoje uma psicologia, e falamos do inconsciente. Tudo seria supérfluo, e o é de fato, numa época e numa forma de cultura que possui símbolos.” (JUNG, 2008d, p.33)
Sanford (1988), ao falar sobre o problema do mal na mitologia, explica que como o homem arcaico personificava as forças malignas, tinha para com o mal uma posição de respeito, bastante diferente de “nossa visão moderna, a qual, por ser materialista e racionalista, nega a existência de deuses e demônios, ignora a realidade da psique e, consequentemente, tende a negligenciar o poder do mal” (1988, p. 25). A sombra não era tão real nas personalidades arcaicas, pois estava projetada no mundo. Eva Pierrakos (2005) também propõe um processo de autoconhecimento que se baseia em olhar o mal do mundo na perspectiva da sombra. Para ela, o mal do mundo é a soma do mal que existe em cada um, por mais que as pessoas insistentemente queiram acreditar que este está sempre fora. Se todos fossem isentos do mal e vítimas dele, onde estaria na realidade o mal? A resposta está na sombra de cada um, e assim temos a possibilidade de acabar com o mal “do mundo” reconhecendo e transmutando a própria sombra.
Portanto, ao olhar para sua sombra, estará o homem dando os primeiros passos para conhecer a si mesmo e integrar os aspectos faltantes de sua personalidade. Reconhecerá também os aspectos sombrios de sua anima e de sua persona, diminuindo o potencial autônomo destes complexos, e consequentemente deixando de projetar suas próprias dificuldades no mundo externo. Esta atitude mais honesta consigo mesmo terá o alargamento da consciência como consequência, assim como a diferenciação do coletivo.
Mas é preciso estar atento que, nem sempre a confrontação com o mal interno gera crescimento. Sanford(1988) concorda que o desenvolvimento da vida passa necessariamente pelo reconhecimento de nossa realidade sombria, mas se este processo for impregnado de uma aceitação complacente e uma identificação sombria, não terá o efeito de crescimento individual.
Além disso, apesar de estarmos nos referindo principalmente aos aspectos negativos escondidos na sombra, esta também é composta por potencialidades e qualidades negadas inconscientemente pelo indivíduo. Neste sentido, não raramente a integração e reconhecimento de características que eram julgadas negativas vem acompanhada do descobrimento e integração de qualidades importantíssimas do ser que estavam igualmente negadas e associadas ao que pensávamos ser desvios de caráter.
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2007b) Psicologia do Inconsciente. Petrópolis, Vozes.
_________. (2008d). Arquétipos do Inconsciente Coletivo. Petrópolis, Vozes.
Pierrakos, E. e Thesenga, D. (2005) Não Temas o Mal, São Paulo, 17 ed. Cultrix.
Sanford, J. (1986) Os parceiros invisíveis. São Paulo: Paulus.
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte
Sincronicidade
Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não a relacionado com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de “coincidência significativa”.
O termo foi utilizado pela primeira vez em publicações científicas em 1929, porém Jung demorou ainda mais 21 anos para concluir a obra “Sincronicidade: um princípio de conexões acasuais”, onde o expõe e propõe o início da discussão sobre o assunto. Uma de suas últimas obras foi, segundo o próprio, a de elaboração mais demorada devido à complexidade do tema e da impossibilidade de reprodução dos eventos em ambiente controlado.
Em termos simples, sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas) que vivenciaram essa “coincidência significativa”, onde esse significado sugere um padrão subjacente.
A sincronicidade difere da coincidência, pois não implica somente na aleatoriedade das circunstâncias, mas sim num padrão subjacente ou dinâmico que é expresso através de eventos ou relações significativos. Foi este princípio, que Jung sentiu abrangido por seus conceitos de Arquétipo e Inconsciente coletivo, justamente o que uniu o médico psiquiatra Jung ao físico Wolfgang Pauli, dando início às pesquisas interdisciplinares em Física e Psicologia. Ocorre que a sincronicidade se manifesta às vezes atemporalmente e/ou em eventos energéticos acausais, e em ambos os casos são violados princípios associados ao paradigma científico vigente. Segundo Rocha Filho (2007), inclusive o insight pode ser um fenômeno sincronístico, assim como muitas descobertas científicas que, de acordo com dados históricos, ocorreram quase simultaneamente em diferentes lugares do mundo, sem que os cientistas tivessem qualquer contato. Acredita-se que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão, e essa compreensão poderia surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava o nome de “insight”.
Abaixo seguem dois exemplos citados pelo próprio Jung.
“Uma jovem paciente sonhou, em um momento decisivo de seu tratamento, que lhe presenteavam com um escaravelho de ouro. Enquanto ela me contava sonho, eu estava sentado de costas à janela fechada. De repente, ouvi detrás de mim um ruído como se algo golpeasse suavemente a janela. Dei meia volto e vi que foi um inseto voador que chocava contra ela. Abri-a e o apanhei. Era a analogía mais próxima a um escaravelho de ouro que se pode encontrar em nossas latitudes, a saber, um escarabeido (crisomélido), a Cetonia aurata, que, ao que parece, ao contrário de costumes habituais, se via na necessidade de entrar em uma sala escura precisamente naquele momento. Tenho que dizer que não me havia ocorrido algo semelhante nem antes nem depois disso, e que o sonho daquela paciente segue sendo um caso único em minha experiência.”
“Na manhã do dia 1º de abril de 1949 eu transcrevera uma inscrição referente a uma figura que era metade homem, metade peixe. Ao almoço houve peixe. Alguém nos lembrou o costume do “Peixe em Abril” (primeiro de abril). De tarde, uma antiga paciente minha, que eu já não via por vários meses, me mostrou algumas figuras impressionantes de peixe. De noite, alguém me mostrou uma peça de bordado, representando um monstro marinho. Na manhã seguinte, bem cedo, eu vi uma outra antiga paciente, que veio me visitar pela primeira vez depois de dez anos. Na noite anterior ela sonhara com um grande peixe. Alguns meses depois, ao empregar esta série em um trabalho maior, e tendo encerrado justamente a sua redação, eu me dirigi a um local à beira do lago, em frente à minha casa, onde já estivera diversas vezes, naquela mesma manhã. Desta vez encontrei um peixe morto, de mais ou menos um pé (30 cm) de comprimento, sobre a amurada do lago. Como ninguém pôde estar lá, não tenho ideia de como o peixe foi parar ali.”[1]
Carl Jung defende que os fenômenos sincronísticos podem ser agrupados em três categorias:
1. Coincidência de um estado psíquico do observador com um acontecimento objetivo externo e simultâneo, que corresponde ao estado ou conteúdo psíquico (p. ex., o escaravelho), onde não há nenhuma evidência de uma conexão causal entre o estado psíquico e o acontecimento externo e onde, considerando-se a relativização psíquica do espaço e do tempo tal conexão é simplesmente inconcebível.
2. Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento exterior correspondente (mais ou menos simultâneo), que tem lugar fora do campo de percepção do observador, ou seja, espacialmente distante, e só se pode verificar posteriormente.
3. Coincidência de um estado psíquico com um acontecimento futuro, portanto, distante no tempo e ainda não presente, e que só pode ser verificado também posteriormente.
Ademais, Jung acrescenta que “nos casos dois e três, os acontecimentos coincidentes ainda não estão presentes no campo de percepção do observador, mas foram antecipados no tempo, na medida em que só podem ser verificados posteriormente. Por este motivo, diz que semelhantes acontecimentos são “sincronísticos”, o que não deve ser confundido com”sincrônicos”.”
Notas:
[1]. Sincronicidade, C.G.Jung – tradução de Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha, OSB – 13ª edição, Editora Vozes, 2005
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FONTE:
Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sincronicidade
Personalidade-Mana
Quando o homem é capaz de despontencializar a atuação da anima como um complexo autônomo, se conscientizando dos seus conteúdos sombrios e de seu simbolismo arquetípico, esta se transforma numa função de relação entre o consciente e o inconsciente. Jung (2008b) diz este processo faz a anima perder o seu caráter demoníaco de possuidor do homem. Antes que este movimento aconteça, a anima é dotada de qualidade mágicas e ocultas, poderes que Jung chamou de mana. Neste sentido, seria a anima uma personalidade-mana enquanto atuar como complexo autônomo do inconsciente.
Enquanto complexo autônomo, a anima e o animus funcionam como fator de perturbação que escapa ao controle da consciência, desestabilizando as pretensões conscientes se manifestando indiretamente (JUNG, 2008b).
Surge então o problema de saber para onde teria fluído o mana depois do alargamento da consciência e da desenergização da anima. O processo de reconhecimento do inconsciente e de integração de seus conteúdos é executado sem dúvidas pelo eu consciente, pelo ego, pela nossa única ilha de consciência. Segundo Jung (2008b), é justamente o ego que se apodera da personalidade-mana que outrora fora da anima. Para o autor, “esta última, porém, é uma dominante do inconscientecoletivo: o conhecido arquétipo do homem poderoso, sob a forma do herói, do cacique, do mago, do curandeiro e do santo, senhor dos homens e dos espíritos, amigo de Deus.” (2008b, p.103).
O indivíduo que passa por este primeiro processo de assimilação da anima ou do animus, acredita que está livre dos complexos, que seu eu consciente tomou a posição central e dominadora de sua realidade, e que nada escapa ao seu controle, com a firmeza de um super-homem ou de um perfeito sábio.
O que na verdade ocorre é uma identificação do ego com esta figura arquetípica, de sorte que da mesma forma que outrora estava possuído pela anima, agora é este arquétipo que possui o ego. Este se apropriou de qualidades que não lhe pertencem. Para Jung, isto acontece porque o homem que passa pelo processo de assimilação dos conteúdos da anima julga que a dominou, que a subjugou, e dessa forma deduz seus poderes mágicos arquetípicos e adiciona à sua personalidade. O que se segue a isto é que novamente esta consciência se mescla com outro arquétipo, bem mais poderoso desta vez. O arquétipo do velho sábio, do super-homem, uma imagem que primeiramente foi atribuída ao pai.
A personalidade-mana que o ego julga possuir neste momento corresponde à vivência destes arquétipos, “que se formaram na psique humana desde tempos imemoriais, através de experiências que lhe correspondem” (JUNG, 2008b, p. 108). Jung comenta que este processo é duplo, pois acontece no sujeito que está possuído pelo arquétipo, e nas pessoas que o rodeiam, que projetam nele as mesmas qualidades, reais ou imaginárias. Para o autor,
“Dificilmente fugiremos à tentação de admirar-nos a nós mesmos por havermos encarado as coisas mais a fundo do que os outros; estes, por seu lado, também sentem a necessidade de encontrar em alguma parte um herói palpável ou um sábio superior, um guia e um pai, uma autoridade indiscutível.” (JUNG, 2008b, p.108)
Esta questão é de suma importância para os terapeutas, não só no tratamento de seus pacientes, mas principalmente na sua vivência pessoal, pois estão constantemente tentados a serem possuídos por esta personalidade-mana, alimentada pelas projeções de seus pacientes, e pelas pretensões de seus próprios egos de terem dominado o inconsciente.
O poder do mana é intenso, e as pessoas possuídas pelos arquétipos se transformam em figuras coletivas. Por trás disso fica atrofiado o desenvolvimento de suas individualidades. Neste caso em questão, da possessão do arquétipo de grande sábio, e do super-homem, há a peculiaridade de serem arquétipos ligados a imagem de Deus. Por este motivo, os poderes que o ego pretensamente adquiriu do inconsciente são de ordem gigantesca, comparáveis a tudo aquilo que a humanidade coloca na conta de Deus.
Para desconstrução da possessão da personalidade-mana será preciso passar pelo mesmo processo de despontecialização ocorrido com relação a anima e ao animus. Será preciso passar pela conscientização dos conteúdos que compõe seu arquétipo. Segundo Jung (2008b), este processo será como se libertar pela segunda vez do pai, para o homem, e da mãe para a mulher.
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2008b). O Eu e o Inconsciente. Petrópolis, Vozes.
Rafael de Carvalho Oliveira
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Arquétipos
A parte herdada da PSIQUE; padrões de estruturação do desempenho psicológico ligados ao INSTINTO; uma entidade hipotética irrepresentável em si mesma e evidente somente através de suas manifestações.
A teoria dos arquétipos, de Jung, desenvolveu-se em três estágios. Em 1912 ele escreveu sobre imagens primordiais que reconhecia na vida inconsciente de seus pacientes, como também em sua própria auto-análise. Essas imagens eram semelhantes a motivos repetidos em toda parte e por toda a história, porém seus aspectos principais eram sua numinosidade, inconsciência e autonomia. Na concepção de Jung, o INCONSCIENTE coletivo promove tais imagens. Por volta de 1917, escrevia sobre dominantes não-pessoais ou pontos nodais na psique, que atraem energia e influenciam o funcionamento de uma pessoa. Foi em 1919 que pela primeira vez fez uso do termo arquétipo, a fim de evitar qualquer sugestão de que era o conteúdo e não o esboço ou padrão inconsciente e irrepresentável que era fundamental. São feitas referências ao arquétipo per se para que fosse claramente distinguido de uma IMAGEM arquetípica compreensível (ou compreendida) pelo homem.
O arquétipo é um conceito psicossomático, unindo corpo e psique, instinto e imagem. Para Jung isso era importante, pois ele não considerava a psicologia e imagens como correlatos ou reflexos de impulsos biológicos. Sua asserção de que as imagens evocam o objetivo dos instintos implica que elas merecem um lugar de igual importância.
Os arquétipos são percebidos em comportamentos externos, especialmente aqueles que se aglomeram em torno de experiências básicas e universais da vida, tais como nascimento, casamento, maternidade, morte e separação. Também se aderem à estrutura da própria psique humana e são observáveis na relação com a vida interior ou psíquica, revelando-se por meio de figuras tais como ANIMA, SOMBRA, PERSONA, e outras mais. Teoricamente, poderia existir qualquer número de arquétipos.
Padrões arquetípicos esperam o momento de se realizarem na personalidade, são capazes de uma variação infinita, são dependentes da expressão individual e exercem uma fascinação reforçada pela expectativa tradicional ou cultural; e, assim, portam uma forte carga de energia, potencialmente arrasadora a que é difícil de se resistir (a capacidade de fazê-lo é dependente do estágio de desenvolvimento e do estado de CONSCIÊNCIA). Os arquétipos suscitam o AFETO, cegam o indivíduo para a realidade e tomam posse da VONTADE. Viver arquetipicamente é viver sem limitações (INFLAÇÃO). Entretanto, dar expressão arquetípica a alguma coisa pode ser interagir conscientemente com a imagem COLETIVA, histórica, de forma tal a permitir oportunidade para o jogo de polaridades intrínsecas: passado e presente, pessoal e coletivo, típico e único.
Todas a imagens psíquicas compartilham, até certo ponto, do arquetípico. Esta é a razão por que os sonhos e muitos outros fenômenos psíquicos possuem numinosidade. Comportamentos arquetípicos têm a maior evidência em tempos de crise, quando o EGO está vulnerável ao máximo. Qualidades arquetípicas são encontradas em SÍMBOLOS e isso, em parte, responde por sua fascinação, utilidade e recorrência. DEUSES são METÁFORAS de comportamentos arquetípicos e MITOS são ENCENAÇÕES arquetípicas. Os arquétipos não podem completamente ser integrados nem esgotados em forma humana. A análise da vida implica uma conscientização crescente das dimensões arquetípicas da vida de uma pessoa.
O conceito do arquétipo, de Jung, está na tradição das Idéias Platônicas, presentes nas mentes dos deuses, e que servem como modelos para todas as entidades no reino humano. As categorias apriorísticas da percepção, de Kant, e os protótipos de Schopenhauer também são conceitos precursores.
Em 1934, Jung escreveu:
Os princípios básicos, os archetypoi, do inconsciente são indescritíveis em virtude de sua riqueza de referência, muito embora recognoscíveis em si mesmos. O intelecto discriminador naturalmente prossegue tentando estabelecer-lhes significados únicos e, assim, perde o ponto essencial; pois aquilo que, antes de tudo, podemos estabelecer como compatível com sua natureza é seu significado múltiplo, sua quase ilimitada riqueza de referência, que torna impossível qualquer formulação unilateral (CW 9i, parág. 80).
Ellenberger (1970) identificou o arquétipo como uma das três principais diferenças conceituais entre Jung e Freud na definição do conteúdo e do comportamento do inconsciente. Seguindo Jung, Neumann (1954) via os arquétipos recorrentes em cada geração, mas também adquirindo uma história de formas baseada em uma ampliação da consciência humana. Hillman, fundador da escola da Psicologia Arquetípica, cita o conceito de arquétipo comoo mais fundamental na obra de Jung, referindo-se a essas mais profundas premissas do funcionamento psíquico como delineadoras do modo pelo qual percebemos e nos relacionamos com o mundo (1975). Williams argumentou que, se a estrutura arquetípica permanecer vazia sem uma experiência pessoal para preenchê-la, a distinção entre dimensões pessoais e coletivas da experiência ou categorias do inconsciente pode ser algo acadêmica (1963a).
Noções de estrutura psicológica inata existem na psicanálise hodierna, marcadamente na escola kleiniana; Isaacs (fantasia inconsciente), Bion (preconcepção) e Money-Kyrle (cf. Money-Kyrle, 1978). A teoria dos arquétipos, de Jung, também pode ser comparada ao pensamento estruturalista (Samuels, 1983 a).
Com o uso crescente do termo, encontramos freqüentes referências a fenômenos tais como “um necessário deslocamento do arquétipo paterno” ou “o arquétipo em deslocamento da feminilidade”. A palavra foi incluída no Dictionary of Modern Thought de Fontana, em 1977. O biólogo Sheldrake encontra correspondência relevante entre a formulação de Jung e sua teoria dos “campos morfogenéticos” (1981).
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FONTE:
Dicionário Crítico de Análise Junguiana
http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/arquetip.htm
Numinosidade dos Arquétipos e Participação Mística
As características arrebatadoras e místicas relativas a anima e animus, a personalidade mana e aos aspectos arquetípicos da sombra são devido a sua natureza numinosa. Jung fala que “cada vez que um arquétipo aparece em sonho, na fantasia ou na vida, ele traz consigo uma influência específica ou uma força que lhe confere um efeito numinoso e fascinante ou que impele à ação.” (2007b, p.61 e 62)
Para se ter idéia do efeito da numinosidade dos arquétipos, basta olhar a irracionalidade e o aspecto de fixação religiosa com que pessoas que vivenciam a personalidade-mana se julgam verdadeiros sábios, ou então o sentimento de perfeição e fatalidade mortal que pessoas apaixonadas vivem ao tomarem atitudes extremas e impensadas. Assim também acontece quando projetam suas sombras em figuras externas, carregadas de características arquetípicas, como exemplo das fogueiras da inquisição, ou no recente aumento da hostilidade mundial relacionada aos originários de países com maioria mulçumana.
Estas atitudes estão permeadas de uma identificação com as imagens primordiais, e conseqüentemente da vivência característica com que estas categorias arquetípicas foram preenchidas ao longo da história da humanidade. Aqui estamos falando de conteúdo psíquico que extrapolam a vida pessoal, e por isto, Jung diz que
“essas imagens contêm não só o que há de mais belo e grandioso no pensamento e sentimento humanos, mas também as piores infâmias e os atos mais diabólicos que a humanidade foi capaz de cometer. Graças à sua energia específica (pois comportam-se como centros autônomos carregados de energia), exercem um efeito fascinante e comovente sobre o consciente e, conseqüentemente, podem provocar grandes alterações no sujeito.” (2007b, p. 62)
Este poder numinoso e irresistível dos arquétipos pode levar ao que Jung (2008a) chamou de Participação Mística. Para o autor, “consiste em que o sujeito não consegue distinguir-se claramente do objeto, mas com ele está ligado por relação direta que poderíamos chamar identidade parcial.” (2008a, p.433). Este fenômeno está diretamente relacionado com as camadas mais arcaicas de nossa pisque. Entre os povos primitivos, conforme explicamos em capítulo anterior, a externalidade da pisque e a identificação exagerada com forças mágicas e místicas, fez com que vivessem a numinosidade dos arquétipos principalmente em sonhos e rituais. A participação mística acontecia primordialmente na influência mágica e identificação mística com objetos.
Apesar de ser um fenômeno tipicamente arcaico, este continua a acontecer na atualidade, talvez de uma forma mais sorrateira. Isto porque a ausência de rituais simbólicos, onde a participação mística tomava lugar intenso, não existe mais, e dessa forma a identificação mágica ocorre não tanto com um objeto, mas com a ideia que se faz dele, e frequentemente com relação a certos ideais, como o de casamento.
Jung (2007a) diz que a primeira participação mística que vivemos acontece com relação a nossos pais. Este processo é ambivalente no sentido de que inconscientemente o filho se identifica com o pai e passa a agir como assim fosse, e também o pai inconscientemente projeta suas aspirações, desejos, frustrações e/ou qualidades no filho, num processo que se alimenta mutuamente. Para lidar com esta participação mística, os povos primitivos realizavam diversos rituais de iniciação, por meio dos quais esta identificação paterna era transferida para a tribo, para a sociedade, ou seja, uma instituição mais coletiva, amenizando o poder numinoso do arquétipo.
Por último, é importante salientar que a participação mística também acontece no que se refere à sombra. Uma vez que esta se compõe dos aspectos negativos e inconscientes de um indivíduo, também se manifestará por meio de projeção, processo no qual poderá acontecer a identificação característica da participação mística. Ao projetar sua sombra num objeto, seja ele uma pessoa, um ideal de vida ou a sociedade em geral, o indivíduo trará junto aspectos negativos arquetípicos mesclados com aqueles de seu inconsciente pessoal, e assim o resultado poderá ser a participação mística com relação à esposa, ao casamento ou à sociedade, num claro processo de inconsciência e coletivização inerente a este tipo de identificação.
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REFERÊNCIAS:
Jung, C.G. (2007b). Psicologia do Inconsciente. Petrópolis, Vozes.
_________. (2008a). Tipos Psicológicos. Petrópolis, Vozes
Rafael de Carvalho Oliveira
Este texto pode ser reproduzido, desde que citada a fonte

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