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Universidade do Sul de Santa Catarina Palhoça UnisulVirtual 2006 História da Educação I Disciplina na modalidade a distância historia_educacao_I.indb 1historia_educacao_I.indb 1 11/9/2007 14:29:2611/9/2007 14:29:26 historia_educacao_I.indb 2historia_educacao_I.indb 2 11/9/2007 14:29:2911/9/2007 14:29:29 Apresentação Este livro didático corresponde à disciplina História da Educação I. O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma, abordando conteúdos especialmente selecionados e adotando uma linguagem que facilite seu estudo a distância. Por falar em distância, isso não signifi ca que você estará sozinho. Não esqueça que sua caminhada nesta disciplina também será acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA. Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois sua aprendizagem é nosso principal objetivo. Bom estudo e sucesso! Equipe UnisulVirtual. historia_educacao_I.indb 3historia_educacao_I.indb 3 11/9/2007 14:29:2911/9/2007 14:29:29 historia_educacao_I.indb 4historia_educacao_I.indb 4 11/9/2007 14:29:2911/9/2007 14:29:29 Karen Christine Rechia Leonete Luzia Schmidt Rosmeri Schardong Palhoça UnisulVirtual 2006 Design instrucional Viviani Poyer História da Educação I Livro didático historia_educacao_I.indb 5historia_educacao_I.indb 5 11/9/2007 14:29:2911/9/2007 14:29:29 Copyright © UnisulVirtual 2006 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Ficha catalográfi ca elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul 370.9 R24 Rechia, Karen Christine História da educação : livro didático / Karen Christine Rechia, Leonete Luzia Schmidt, Rosmeri Schardong ; design instrucional Viviani Poyer. – Palhoça : UnisulVirtual, 2006. 120 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografi a. ISBN 8560694-08-0 ISBN 978-85-60694-08-2 1. Educação – História. I. Schmidt, Leonete. II. Schardong, Rosmeri. III.Poyer, Viviani. IV. Título. Campus UnisulVirtual Rua João Pereira dos Santos, 303 Palhoça - SC - 88130-475 Fone/fax: (48) 3279-1541 e 3279-1542 E-mail: cursovirtual@unisul.br Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul Gerson Luiz Joner da Silveira Vice-Reitor e Pró-Reitor Acadêmico Sebastião Salésio Heerdt Chefe de gabinete da Reitoria Fabian Martins de Castro Pró-Reitor Administrativo Marcus Vinícius Anátoles da Silva Ferreira Campus Sul Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orsoni Campus Norte Diretor: Ailton Nazareno Soares Diretora adjunta: Cibele Schuelter Campus UnisulVirtual Diretor: João Vianney Diretora adjunta: Jucimara Roesler Equipe UnisulVirtual Administração Renato André Luz Valmir Venício Inácio Bibliotecária Soraya Arruda Waltrick Coordenação dos Cursos Adriano Sérgio da Cunha Ana Luisa Mülbert Ana Paula Reusing Pacheco Cátia Melissa S. Rodrigues (Auxiliar) Charles Cesconetto Diva Marília Flemming Itamar Pedro Bevilaqua Janete Elza Felisbino Jucimara Roesler Lilian Cristina Pettres (Auxiliar) Lauro José Ballock Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo Luiz Otávio Botelho Lento Marcelo Cavalcanti Mauri Luiz Heerdt Mauro Faccioni Filho Michelle Denise Durieux Lopes Destri Moacir Heerdt Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Alberton Patrícia Pozza Raulino Jacó Brüning Rose Clér E. Beche Design Gráfi co Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro (coordenador) Adriana Ferreira dos Santos Alex Sandro Xavier Evandro Guedes Machado Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi Vilson Martins Filho Equipe Didático-Pedagógica Angelita Marçal Flores Carmen Maria Cipriani Pandini Caroline Batista Carolina Hoeller da Silva Boeing Cristina Klipp de Oliveira Daniela Erani Monteiro Will Dênia Falcão de Bittencourt Enzo de Oliveira Moreira Flávia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Ligia Maria Soufen Tumolo Márcia Loch Patrícia Meneghel Silvana Denise Guimarães Tade-Ane de Amorim Vanessa de Andrade Manuel Vanessa Francine Corrêa Viviane Bastos Viviani Poyer Logística de Encontros Presenciais Marcia Luz de Oliveira (Coordenadora) Aracelli Araldi Graciele Marinês Lindenmayr José Carlos Teixeira Letícia Cristina Barbosa Kênia Alexandra Costa Hermann Priscila Santos Alves Logística de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (coordenador) Eduardo Kraus Monitoria e Suporte Rafael da Cunha Lara (coordenador) Adriana Silveira Caroline Mendonça Dyego Rachadel Edison Rodrigo Valim Francielle Arruda Gabriela Malinverni Barbieri Gislane Frasson de Souza Josiane Conceição Leal Maria Eugênia Ferreira Celeghin Simone Andréa de Castilho Vinícius Maycot Serafi m Produção Industrial e Suporte Arthur Emmanuel F. Silveira (coordenador) Francisco Asp Projetos Corporativos Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Secretaria de Ensino a Distância Karine Augusta Zanoni (secretária de ensino) Ana Paula Pereira Djeime Sammer Bortolotti Carla Cristina Sbardella Grasiela Martins James Marcel Silva Ribeiro Lamuniê Souza Liana Pamplona Maira Marina Martins Godinho Marcelo Pereira Marcos Alcides Medeiros Junior Maria Isabel Aragon Olavo Lajús Priscilla Geovana Pagani Silvana Henrique Silva Secretária Executiva Viviane Schalata Martins Tecnologia Osmar de Oliveira Braz Júnior (coordenador) Ricardo Alexandre Bianchini Rodrigo de Barcelos Martins Edição – Livro Didático Professoras Conteudistas Karen Christine Rechia Leonete Luzia Schmidt Rosmeri Schardong Design Instrucional Viviani Poyer Projeto Gráfi co e Capa Equipe UnisulVirtual Diagramação Vilson Martins Filho Revisão Ortográfi ca B2B Créditos Unisul - Universidade do Sul de Santa Catarina UnisulVirtual - Educação Superior a Distância historia_educacao_I.indb 6historia_educacao_I.indb 6 11/9/2007 14:29:2911/9/2007 14:29:29 Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03 Palavras das professoras conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09 Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 UNIDADE 1 – História da Educação: objetos, abordagens e fontes . . . . 17 UNIDADE 2 – As práticas educativas medievais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 UNIDADE 3 – Os colégios modernos e a pedagogia jesuítica . . . . . . . . . 65 UNIDADE 4 – A infância e a pedagogia moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Sobre as professoras conteudistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação . . . . . . . . . . . . 119 Sumário historia_educacao_I.indb 7historia_educacao_I.indb 7 11/9/2007 14:29:3011/9/2007 14:29:30 historia_educacao_I.indb 8historia_educacao_I.indb 8 11/9/2007 14:29:3011/9/2007 14:29:30 Palavras das professoras Caro estudante, Os livros de História da Educação estão organizados de modo a abarcar o estudo dos tradicionais períodos históricos, começando pela Antiguidade, passando pela Idade Média e Moderna e chegando à Idade Contemporânea. Por tratar-se de um período extensivamente longo, acaba-se por fazer um estudo panorâmico.Mesmo seguindo alguns desses períodos, optamos em fazer algumas escolhas. Iniciamos o presente livro apresentando um pouco das atuais discussões que permeiam o campo de estudos e pesquisas em História da Educação. Veremos aí que é possível estudar a História da Educação sob diferentes abordagens e temas e a partir de diferentes fontes. Em seguida, você irá conhecer o contexto histórico da chamada Idade Média Ocidental, para situar e compreender algumas práticas educativas relacionadas a este período, como a educação feminina, a educação nas corporações de ofícios, a formação dos cavaleiros e a constituição das universidades. Quanto à época moderna, optamos por enfocar aspectos da cultura escolar presentes nos colégios modernos e na pedagogia jesuítica, os quais ajudarão a compreender muitas das atuais características de nossas instituições de ensino. Para fi nalizar, discutiremos a infância e a pedagogia moderna, apresentando alguns aspectos da trajetória histórica da infância. Também enfatizamos a constituição de uma nova concepção de infância na modernidade e como esta derivou na pedagogização dos conhecimentos e no disciplinamento dos sujeitos. historia_educacao_I.indb 9historia_educacao_I.indb 9 11/9/2007 14:29:3011/9/2007 14:29:30 Quanto às questões educacionais do período contemporâneo, século XIX e XX, acreditamos que, em outras disciplinas, você terá a oportunidade de discuti-las com mais propriedade. Procuramos, no decorrer do livro, indicar fontes extras de pesquisa para que você possa, na medida do seu interesse e disponibilidade, aprofundar os temas apresentados. Boa aprendizagem! Professoras Karen, Leonete e Rosmeri historia_educacao_I.indb 10historia_educacao_I.indb 10 11/9/2007 14:29:3011/9/2007 14:29:30 Plano de estudo O plano de estudos visa orientá-lo/la no desenvolvimento da Disciplina. Nele, você encontrará elementos que esclarecerão o contexto da Disciplina e sugerirão formas de organizar o seu tempo de estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam. Assim, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/ mediação. São elementos desse processo: o livro didático; o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem - EVA; as atividades de avaliação (complementares, a distância e presenciais). Ementa História da educação: objetos, abordagens e fontes. As práticas educativas medievais. Os colégios modernos e a pedagogia jesuítica. Educação e infância na modernidade. Carga Horária 60 horas – 4 créditos. historia_educacao_I.indb 11historia_educacao_I.indb 11 11/9/2007 14:29:3011/9/2007 14:29:30 12 Objetivos Identifi car as concepções de História que implicam em diferentes abordagens acerca da História da Educação, bem como analisar o uso de diferentes fontes de pesquisa nesta área, assim como a ampliação e multiplicidade de temas ou objetos de pesquisa nas últimas décadas. Conhecer as práticas educativas medievais e modernas. Identifi car as principais características da pedagogia jesuítica. Analisar alguns modos de tratamento dispensados à infância em diferentes períodos históricos. Compreender o processo de pedagogização dos conhecimentos e disciplinarização dos sujeitos na modernidade. Reconhecer as diferenças entre as formas educacionais no tempo e em sociedades distintas. Relacionar o panorama histórico com as idéias pedagógicas e suas aplicações educacionais. Identifi car os sujeitos/grupos sociais que foram atingidos ou excluídos pelas instituições educacionais ao longo do tempo. Conteúdo programático/objetivos Veja, a seguir, as unidades que compõem o Livro Didático desta Disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao fi nal de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade defi nem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação. Unidades de estudo: 4 historia_educacao_I.indb 12historia_educacao_I.indb 12 11/9/2007 14:29:3011/9/2007 14:29:30 13 Nome da disciplina Unidade 1 - IHistória da Educação: objetos, abordagens e fontes Nesta unidade, pretende-se discutir concepções de História que implicam em diferentes abordagens acerca da História da Educação. Também abordar-se-á o uso de diferentes fontes de pesquisa nesta área, assim como a ampliação e multiplicidade de temas ou objetos de pesquisa nas últimas décadas. idéias. Unidade 2 – As práticas educativas medievais O estudo desta unidade lhe proporcionará conhecer o contexto histórico da Idade Média, bem como algumas práticas educativas desenvolvidas nesse período, como a educação das mulheres, a educação dos cavaleiros e a educação nas corporações de ofícios. Você estudará, ainda, a formação das universidades medievais. Unidade 3 – Os colégios modernos e a pedagogia jesuítica Esta unidade iniciará discutindo a constituição e as características dos colégios modernos no século XVI, bem como a pedagogia jesuítica, sistematizada a partir da Ratio Studiorum (1599), e sua infl uência na constituição de um determinado modelo de escola e sujeito. Unidade 4 – A infância e a pedagogia moderna Nesta unidade, você verá as principais características que a pedagogia e a escola moderna adquiriram em função das novas concepções sobre a criança desenvolvidas no período. Para entender a concepção de infância do período moderno, você iniciará o estudo desta unidade vendo como a infância foi tratada em diferentes momentos históricos. Verá que a partir do Renascimento institui-se uma nova concepção de infância que resultará num processo de pedagogização dos conhecimentos e disciplinarização dos sujeitos. historia_educacao_I.indb 13historia_educacao_I.indb 13 11/9/2007 14:29:3011/9/2007 14:29:30 14 Universidade do Sul de Santa Catarina Agenda de atividades/ Cronograma Verifi que com atenção o EVA, organize-se para acessar periodicamente o espaço da Disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura; da realização de análises e sínteses do conteúdo; e da interação com os seus colegas e tutor. Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço a seguir as datas, com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA. Use o quadro para agendar e programar as atividades relativas ao desenvolvimento da Disciplina. historia_educacao_I.indb 14historia_educacao_I.indb 14 11/9/2007 14:29:3111/9/2007 14:29:31 15 Nome da disciplina Atividades Avaliação a Distância 1 Avaliação a Distância 2 Avaliação Presencial 1 Avaliação Presencial 2 (2ª. chamada) Avaliação Final (caso necessário) Demais atividades (registro pessoal) historia_educacao_I.indb 15historia_educacao_I.indb 15 11/9/2007 14:29:3111/9/2007 14:29:31 historia_educacao_I.indb 16historia_educacao_I.indb 16 11/9/2007 14:29:3111/9/2007 14:29:31 UNIDADE 1 História da educação: objetos, abordagens e fontes Objetivos de aprendizagem Identifi car as concepções de História que implicam em diferentes abordagens acerca da História da Educação. Analisar o uso de diferentes fontes de pesquisa nesta área, assim como a ampliação e multiplicidade de temas ou objetos de pesquisa nas últimas décadas. Seções de estudo Seção 1 Concepções de História e de História da Educação. Seção 2 Abordagens teórico-metodológicas para a escrita da História. Seção 3 Fontes e objetos para a História da Educação. 1 historia_educacao_I.indb 17historia_educacao_I.indb 17 11/9/2007 14:29:3111/9/200714:29:31 18 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo Nesta unidade introdutória, pretende-se discutir com você algumas questões relacionadas ao debate contemporâneo em torno da História da Educação. Para isso iniciaremos analisando os “termos” educação, história e história da educação. Em seguida, traçaremos um rápido perfi l das principais tendências historiográfi cas que marcaram e têm marcado o campo da História da Educação, para, na seqüência, abordarmos a questão dos possíveis objetos e fontes a serem explorados pela área. Acreditamos que é importante para o estudo da História da Educação situar-se, mesmo que de forma aproximativa, de algumas questões atuais que têm norteado sua discussão. Destacamos que a área da História da Educação ou o campo da História da Educação tem passado, nos últimos tempos, por profundas discussões que, por um lado, contribuem para o avanço teórico-metodológico e para as novas possibilidades de investigação, mas, por outro, difi cultam, em função das inúmeras questões que fi cam em aberto. SEÇÃO 1 - Concepções de História e de História da Educação Acreditamos que, para iniciarmos nossas discussões, seja interessante você refl etir um pouco sobre os termos educação, história e história da educação. Assim, gostaríamos que nos espaços, a seguir, você registrasse seu conhecimento sobre: historia_educacao_I.indb 18historia_educacao_I.indb 18 11/9/2007 14:29:3111/9/2007 14:29:31 19 História da Educação I Unidade 1 O que é educação? O que é história? O que é história da educação? Não temos aqui a pretensão de esgotar a discussão sobre tais termos, principalmente devido a seus múltiplos sentidos, mas apenas problematizá-los. Quando realizamos essa atividade de sondagem com nossas turmas presenciais, é bastante comum relacionar-se o termo educação com escola e ensino e história com o estudo do passado. Embora isso não seja incorreto, é preciso ampliar essa compreensão. Não pretendemos oferecer respostas prontas e acabadas, já que esses termos/conceitos são historicamente construídos, ou seja, ligados à prática social e, portanto, variáveis no tempo e no espaço histórico-social. Assim, quanto à educação, podemos dizer, dentre inúmeras outras formas, que é o processo de formação do ser humano, um processo que ocorre no decorrer da sua existência e em diferentes espaços formais e não formais. Como diria Carlos Rodrigues Brandão, “ninguém escapa da educação”. historia_educacao_I.indb 19historia_educacao_I.indb 19 11/9/2007 14:29:3111/9/2007 14:29:31 20 Universidade do Sul de Santa Catarina Quanto à História, Ghiraldelli Jr. diz que há, “entre outros, dois signifi cados básicos. Ele se refere tanto aos processos de existência e vida real dos homens no tempo como ao estudo científi co, à pesquisa e ao relato estruturado desses processos humanos.” (1994, p. 11). Gostaríamos, ainda, de destacar que, embora o ensino tradicional de história enfatize fatos isolados e apenas alguns indivíduos como promotores da história, em nosso entender ela é construída cotidianamente pelos grupos humanos, num tempo e espaço determinados, componentes do que se chama o processo histórico. Nesse sentido, o poema, a seguir, do escritor alemão Bertold Brecht (1898-1956) nos dá um pouco essa dimensão e nos alerta para estarmos atentos a outras histórias e a outros sujeitos históricos. PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia várias vezes destruída Quem a reconstruiu tanta vezes? Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China fi cou pronta? A grande Roma está cheia de arcos do triunfo Quem os ergueu? Sobre quem Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio Tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida Os que se afogavam gritaram por seus escravos Na noite em que o mar a tragou. O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro? historia_educacao_I.indb 20historia_educacao_I.indb 20 11/9/2007 14:29:3111/9/2007 14:29:31 21 História da Educação I Unidade 1 Mas se a História não é um conjunto de explicações e de certezas sobre fatos e acontecimentos do passado, há outra(s) forma (s) de escrevê-la? Segundo Veiga, historiadores como Jacques Le Goff e Peter Burke, entre outros, observam que a historiografi a que se consolidou no século XIX foi aquela caracterizada pela narrativa dos eventos políticos. Isto porque, naquele momento, muitos Estados/Nação estavam sendo constituídos, criados. Neste contexto, ainda conforme Veiga, a História como disciplina escolar foi organizada na perspectiva pragmática da formação do cidadão, bem como na utilização dos registros ofi ciais para a escrita da História, como critério de cientifi cidade. Peter Burke diz que, apesar de existirem outros estudos históricos que contemplassem outros objetos “a história política era considerada (ao menos no âmbito da profi ssão) mais real ou mais séria que o estudo da sociedade ou da cultura”. (apud Veiga, 2003, p. 20). A idéia predominante na época era de que o conhecimento produzido a partir de fontes ofi ciais, com base somente no conteúdo de documentos escritos, assegurava a História, baseada na escrita dos historiadores, como verdade absoluta. Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada Naufragou. Ninguém mais chorou? Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele? Cada página uma vitória. Quem cozinhava o banquete? A cada dez anos um grande Homem. Quem pagava a conta? Tantas histórias. Tantas questões. (disponível em <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/bronze.pdf>) A Historiografi a constitui- se num campo de estudo sobre a própria forma de se produzir e escrever a História. Esta forma está associada a quem escreve e, portanto, leva em conta a sociedade e época na qual o indivíduo está inserido. (verbete Historiografi a, In: Dicionário de Conceitos Históricos, 2005, pp. 189- 193). Para compreender melhor a trajetória deste conceito, acessar <http://eaprender.ig.com. br/ensinar.asp?RegSel=15 0&Pagina=6#materia> O Brasil passa a ser constituído enquanto Estado/Nação a partir de 1822, com a proclamação da independência. Anterior a esta data, ele era uma colônia pertencente e administrada por Portugal. historia_educacao_I.indb 21historia_educacao_I.indb 21 11/9/2007 14:29:3211/9/2007 14:29:32 22 Universidade do Sul de Santa Catarina Este tipo de História, voltada predominantemente para os fatos políticos e organizada de maneira cronológica, tendo como sujeitos os “personagens ilustres” e os “heróis” eleitos de cada época (possivelmente aquela História que muitos de nós aprendemos na escola), vai sendo questionada e dando lugar a outras concepções. Isso não signifi ca que a História factual e política tenham deixado de existir e nem mesmo que não tenham sua importância. O problema, conforme os historiadores, diz respeito ao método ou a abordagem utilizada para escrever a História, questão que você verá na seção 2, desta unidade. Quanto à História da Educação, uma primeira questão a destacar é que ela surgiu no fi nal do século XIX, na Europa, como uma disciplina dos Cursos Normais, ou seja, dos cursos que formavam professores. No Brasil, também a disciplina História da Educação foi gerada no interior das escolas normais, estando sempre acompanhada de perto pela Filosofi a da Educação. Segundo Lopes, (...)essa associação com a Filosofi a da Educação contribuiu para que uma das vertentes mais pesquisadas na História daEducação fosse exatamente a história das idéias pedagógicas e a fonte privilegiada para esse tipo de investigação fosse a obra dos grandes pensadores. (2005, p. 28) Reforça, ainda, Lopes (2005, p, 29) que “o fato de a trajetória da História da Educação estar relacionada à Pedagogia e ao ensino difi cultou sua constituição como uma área de pesquisa propriamente dita.” - Agora, sugerimos que você, antes de dar continuidade à leitura, refl ita um pouco sobre a seguinte quest ão: História da educação é um campo que pertence à História ou à Educação? historia_educacao_I.indb 22historia_educacao_I.indb 22 11/9/2007 14:29:3211/9/2007 14:29:32 23 História da Educação I Unidade 1 Existem diversos entendimentos entre os historiadores da educação sobre o lugar da História da Educação em relação à História. Para uns, ela é defi nida como uma especialização da História, para outros como um objeto, para outros, ainda, como um sub-campo. Para melhor compreender, a História da Educação foi retirada do campo da História e convertida em abordagem ou em enfoque. “O que signifi cou não ter sido instituída como especialização temática da História, mas como ciência da educação ou como ciência auxiliar da educação” (WARDE, 1990, p.3-11). Segundo ela, esse processo que retira a História da Educação do campo da História e que a inseriu entre as ciências da educação está associado ao processo que a transformou em disciplina escolar, nos cursos de formação de professores, a partir dos anos 30. Nesse processo, ela foi separada do campo da História e, ao mesmo tempo, colocada em segundo plano no campo da educação. O fato de ser transformada em disciplina escolar com objetivos institucionais e de formação de professores e pedagogos foi o que impediu, até muito recentemente, a constituição da História da Educação “como campo de investigação historiográfi ca capaz de se auto delimitar e de defi nir, a partir de sua própria prática disciplinar, dinâmicas de constituições de questões, temas e objetos.” (CARVALHO, 1997, p.6). É importante ressaltar que é muito recente a consolidação da História da Educação como campo de investigação científi ca no Brasil, e que, talvez até em função disso, exista ainda pouco diálogo entre historiadores e historiadores da educação. De acordo com Veiga (2003, p. 19), essa ausência de diálogo difi culta o entendimento da educação como objeto de investigação da História e permite que ela continue a ser vista como sub-campo ou especialização da História. Contudo, apesar de se constituir historicamente e inicialmente como uma disciplina escolar, a História da Educação tem-se consolidado, nas duas últimas décadas, cada vez mais como um campo de estudos e pesquisas. historia_educacao_I.indb 23historia_educacao_I.indb 23 11/9/2007 14:29:3211/9/2007 14:29:32 24 Universidade do Sul de Santa Catarina Se durante muitos anos essas pesquisas restringiram-se à análise do pensamento pedagógico e das políticas educacionais, devido também a grande infl uência da Filosofi a, nos últimos anos, devido à infl uência da Nova História, como veremos na próxima seção, e à aproximação com outras áreas de conhecimento, como a Antropologia e a Lingüística, outras temas de pesquisa têm sido investigados e ampliaram nosso conhecimento sobre a História da Educação. Veiga observa que a educação tem apresentado um campo muito vasto de temáticas e o papel da História da Educação deve ser o de investigar e tornar visível diferentes objetos: a escola, o professor, os alunos, materiais escolares, processos e formas de aprendizagem, entre tanto outros. Os temas de pesquisa no âmbito da História da Educação acompanharam e acompanham diferentes correntes teórico- metodológicas. Assim, julgamos importante discutir, na próxima seção, algumas das perspectivas que orientaram e têm orientado as pesquisas nesse campo. Seção 2 - Abordagens teórico-metodológicas para a escrita da História Para você compreender melhor o que foi falado até agora, é necessário um breve panorama sobre principais infl uências na historiografi a, ou seja, na forma de “contar” a História. A primeira infl uência que destacamos é o Positivismo. Doutrina surgida no século XIX e associada a Augusto Comte compreendia a ciência como domínio da natureza e sinônimo de progresso. Portanto, o conhecimento científi co deveria basear-se na observação dos fatos e na experimentação, para a elaboração de leis gerais. Neste sentido, para demonstrar a evolução do homem na história da humanidade, elabora a lei dos três estágios: o teológico, o metafísico e o positivo. No primeiro estágio, a explicação dos Figura: Pintura Grega Fonte: http://paginas.terra.com. br/arte/mundoantigo/grecia Auguste Comte (1798-1857) nasceu em Montpellier, de família modesta ‘eminentemente católica e monárquica’, discípulo e secretário (e depois decidido antagonista) de Saint-Simon. Leitor dos empiristas ingleses, de Diderot, d’Alambert, Turgot e Condorcet. É o iniciador do positivismo francês e o pai ofi cial da sociologia. Ver mais sobre Comte e a lei dos três estágios em <http://socio.tropo.litica.vilabol. uol.com.br/personalidades/ augustecomte.htm> historia_educacao_I.indb 24historia_educacao_I.indb 24 11/9/2007 14:29:3211/9/2007 14:29:32 25 História da Educação I Unidade 1 fenômenos era atribuída a elementos sobrenaturais, no segundo, a explicação foi legada a entidades abstratas e no terceiro e último – o positivo – a fonte para elucidar estes mesmos fenômenos passaria a ser a razão. Mas o que nos interessa aqui são algumas características do Positivismo que vão repercutir na forma de escrever a História. Como Comte acreditava ser possível compreender a sociedade e os indivíduos que a compõem através da razão, acabou projetando lógica semelhante à da elaboração das leis naturais para a História, atribuindo ao historiador os critérios de objetividade e neutralidade, utilizados nas ciências físicas e naturais. Seguindo essa concepção, o conhecimento do passado torna-se fundamental para o entendimento do presente e, conseqüentemente, para a projeção do futuro: “Assim, o verdadeiro espírito positivo consiste, sobretudo, em ver para prever, em estudar o que é, a fi m de concluir disso o que será, segundo o dogma geral da invariabilidade das leis naturais.” (COMTE, 1983, p. 50). Assim, a noção de História preconizada por esta doutrina enfatizava as fontes/documentos escritos, pois só eles portariam a verdade histórica. Grande parte desta documentação remete a fatos políticos, que por sua vez deveriam ser descritos com base numa leitura supostamente objetiva do documento. Ou seja, seria possível compreender os fatos “como eles realmente aconteceram”. (BURKE). A História numa abordagem positivista ou tradicional, realça sujeitos históricos como governantes, grandes homens e “heróis” selecionados por uma elite política e econômica de cada época. Os fatos históricos são colocados numa linha de tempo linear, dividida por períodos políticos. Uma das características desta concepção de História é que muitas vezes possibilita um olhar de cima, excluindo-se uma série de sujeitos, temas e grupos sociais que escapam a esta abordagem. Então, nesta perspectiva, a História da Educação estaria associada, devido ao tipo e à forma de trabalho, Figura: Augusto Comte Fonte: www.si-educa.net Para conhecer os diferentes tipos de fontes/documentos e suas defi nições, bem como suas formas de abordagens ao longo do tempo, consultar PINSKY, Carla B. (org.) Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. Por História tradicional entende-se que “(...) tradicional é a característica de uma história de classe dominante (ou que em algum momento esteve nopoder do Estado).” (CERRI, disponível em <http://www.rhr.uepg. br/v2n2/cerri.htm>). historia_educacao_I.indb 25historia_educacao_I.indb 25 11/9/2007 14:29:3311/9/2007 14:29:33 26 Universidade do Sul de Santa Catarina com as fontes/documentos, a um panorama político- institucional no tocante à legislação da política educacional, ao pensamento pedagógico, etc: A maneira como a história se organizou enquanto ciência e disciplina escolar se confunde com a própria história da educação, que durante muito tempo vinculou-se a uma interpretação essencialmente política, linearizada, confundida com a história das idéias pedagógicas, (...). (VEIGA apud FARIA FILHO, 1998, p. 7) Essa visão de História, portanto, legitimava/legitima a ordem vigente. Mas qual é o seu contexto de surgimento? É importante conhecermos o contexto histórico para que compreendamos o signifi cado e o crescimento de tais teorias. Conforme já falamos no início da seção, o século XIX, ao menos no Ocidente, foi perpassado por discussões acerca dos pressupostos da razão e do conhecimento científi co. A classe burguesa, que já havia consolidado seu poder econômico, almejava conquistar ou garantir também o poder político. Por ser uma classe que se opunha à velha ordem ou ao Antigo Regime, possuía a simpatia de alguns pensadores e grupos. A sociedade européia, no curso da Revolução Industrial, apresentava uma dicotomia básica, ou seja, a divisão de duas classes sociais: os capitalistas e os proletários. O estabelecimento das fábricas nas cidades, a mecanização, bem como a descoberta de novas fontes de energia, dinamizaram a produção industrial, promovendo uma concentração de mão- de-obra nas cidades. Na busca de matérias-primas e de mercado consumidor para tal produção, os países europeus expandem-se para a Ásia e África, confi gurando o que se denomina como Imperialismo ou Neocolonialismo do séc. XIX. Voltando à sociedade européia, percebe-se que essa massa trabalhadora vivia em condições subumanas, com jornadas de Para compreender melhor as defi nições sobre Antigo Regime, Revolução Industrial e Imperialismo ou Neocolonialismo do séc. XIX, acesse o site: <http://www. historianet.com.br>. historia_educacao_I.indb 26historia_educacao_I.indb 26 11/9/2007 14:29:3311/9/2007 14:29:33 27 História da Educação I Unidade 1 trabalho que poderiam chegar a 18 horas diárias, sem direitos trabalhistas, com a presença do trabalho infantil e feminino e precárias condições de moradia, saúde e alimentação. É neste panorama que surge o Positivismo, legitimando a ordem vigente, assim como outra corrente teórica, antagônica na maior parte dos aspectos, com base nos estudos de Karl Marx. Marx vai estudar profundamente a oposição das classes ao longo da História – que chamará de luta de classes – e a constituição do capitalismo. A teoria marxista é chamada de Materialismo histórico e dialético, toma como objeto de estudo a sociedade burguesa, porém do ponto de vista do trabalho e dos trabalhadores. Como explica Aranha (1996, p. 141): (...) no lugar das idéias estão os fatos materiais: no lugar dos heróis, a luta de classes. A história se faz com os fatores materiais, econômicos e técnicos que correspondem às condições em que os homens se reúnem para produzir sua existência no trabalho. Portanto, é nas contradições entre as classes antagônicas e do desenvolvimento das próprias forças produtivas de cada época, que se percebe a superação de uma classe sobre a outra, de um modelo, ou modo de produção sobre o outro. É claro que estamos simplifi cando as idéias de tal teoria, no entanto, o que nos interessa aqui, é compreender a visão de História advinda de tal teoria. Por isso, podemos compreender que a História é movimento, pois pressupõe a ação de indivíduos reais, a partir de certas condições materiais de vida, no sentido de superá-las. A imagem do passado, portanto, também é construída a partir dos interesses de uma classe, dessa forma, a História não é neutra, nem objetiva, como dizia o Positivismo. Karl Marx (1818-1883) nasceu na Alemanha. Sua existência foi dedicada à luta da classe trabalhadora. A revolução russa de 1917, que criaria a União Soviética (URSS), a revolução chinesa de 1949, a revolução cubana de 1919 são alguns exemplos de revoluções que se diziam inspiradas em suas idéias. Disponível em <http://socio.tropo. litica.vilabol.uol.com. br/personalidades/ karlmarx.htm>. Figura: Karl Marx Fonte: www.unifi cado.com.br historia_educacao_I.indb 27historia_educacao_I.indb 27 11/9/2007 14:29:3311/9/2007 14:29:33 28 Universidade do Sul de Santa Catarina Tal noção de História, por ser calcada no desenvolvimento de processos materiais, ou de modos de produção, traduz-se numa visão economicista e linear, pois a “linha da História”, numa sucessão de superação dos modos de produção, levaria ao Comunismo (esta linearidade também está presente na lei dos três estágios de Comte). De qualquer forma, desloca-se o foco do político para o econômico e ao mesmo tempo, permite-se, ao considerar a classe trabalhadora como fundamental, uma “história vista de baixo”. Assim, a História, como a História da Educação, também constituiu outros campos de estudo e conhecimento da realidade, a partir desta teoria. Nessa linha, a educação pode ser vista como a reprodução da sociedade ou a sua superação, através da conscientização de uma classe oprimida. A última corrente que abordaremos aqui, no sentido de compreender as formas de escrever a História e, portanto, a História da Educação, como falamos no início da seção, é a Nova História. A Nova História e suas derivações, que são muitas e trataremos apenas de uma delas, a História Cultural – é uma corrente dentro da própria História, diferente das duas anteriores. A expressão Nova História passou a ser amplamente conhecida através da obra “La nouvelle historie”, do historiador francês Jacques Le Goff (1978). No entanto, é necessário que voltemos no tempo, pois ela é fruto de todo um movimento anterior. Na década de 20, do século XX, um grupo de historiadores franceses promove uma espécie de reação à História excessivamente política e as suas principais propostas podem ser assim resumidas: Em primeiro lugar, a substituição da tradicional narrativa de acontecimentos por uma história-problema. Em segundo lugar, a história de todas as atividades humanas e não apenas da história política. Em terceiro historia_educacao_I.indb 28historia_educacao_I.indb 28 11/9/2007 14:29:3411/9/2007 14:29:34 29 História da Educação I Unidade 1 lugar, visando completar os dois primeiros objetivos, a colaboração com outras disciplinas, tais como a geografi a, a sociologia, a psicologia, a economia, a lingüística, a antropologia social e tantas outras. (BURKE, 1992, pp. 11-12). Muitas destas propostas foram apresentadas numa publicação criada em 1929, chamada Revista dos Annales, tendo a frente Marc Bloch e Lucien Febvre. Ao privilegiar a História econômica e social, este movimento, segundo o historiador Peter Burke, pode ser percebido em três gerações e a última seria a dos anos 70. Essa geração pode ser vista como uma continuidade, em certos aspectos, mas também como ruptura com as anteriores. Quais características são fundamentais nesta nova forma de ver e escrever a História? Veja a seguir: Se a História deve considerar todas as atividades humanas, tudo tem história, portanto, novos temas foram incorporados à historiografi a, como: a morte, as festas, a infância, o corpo, a alimentação, os odores, a família etc. Uma “história vista de baixo”, que leve em conta as pessoas comuns, desconhecidas, em seu contexto de tempo e espaço. A abertura para outros documentose fontes - não só os escritos – como fotografi as, pinturas, histórias orais, objetos, etc. Muitos são os registros necessários se pensarmos nas atividades e experiências humanas. A História é construída a partir do ponto de vista de quem a escreve e das fontes selecionadas ou disponíveis no momento. Portanto, não é possível contar a História como ela realmente aconteceu. Para saber mais sobre o movimento dos Annales e seus desdobramentos, acesse: <http://www. ohistoriador.hpg.ig.com.br/ annales.htm> e também <http://www.historianet. com.br/conteudo/default. aspx?codigo=607> historia_educacao_I.indb 29historia_educacao_I.indb 29 11/9/2007 14:29:3411/9/2007 14:29:34 30 Universidade do Sul de Santa Catarina Não há uma única verdade em um contexto histórico, assim como também o historiador não é neutro e detém um ponto de vista (relacionado às idéias de sua época e ao lugar que ocupa). Nesta concepção, vários objetos e abordagens conquistam espaço, como o cotidiano, as mentalidades, a historia social e, atualmente, a partir das discussões acerca da cultura no campo historiográfi co e principalmente metodológico, como a História Cultural. Dentre estes campos de investigação, Pesavento aponta a História das cidades, da literatura, da imagem das identidades, do tempo presente, da memória e da historiografi a. (apud FONSECA, 2003, p. 53). No campo educacional, esta tendência da História está expressa em recentes pesquisas na área. Um dos historiadores da História Cultural que tem sido muito utilizada na História da Educação é Roger Chartier devido as suas pesquisas sobre a História da leitura e dos impressos. Neste sentido, você já percebeu que a História Cultural vai infl uenciar e, até mesmo, renovar os objetos e abordagens nesta área, como veremos na seção a seguir. Seção 3 - Fontes e objetos para a História da Educação O que vem a sua mente quando aparece a palavra fonte? Registre a seguir: Se lhe veio à cabeça a palavra nascente ou, até mesmo, o lugar onde nasce, brota ou emerge a água, ou se você pensou em algo referente ao mencionado, não está errado(a). Fonte é o lugar de onde sai algo, ou melhor dizendo, fonte é a origem Para saber mais acerca das idéias e pesquisas deste historiador que tem infl uenciado muitos trabalhos em História da Educação no Brasil, leia estas duas entrevistas: http:// pphp.uol.com.br/tropico/html/ textos/2479,1.shl e <http://www. multirio.rj.gov.br/portal/riomidia/ rm_entrevista_conteudo.asp?idio ma=1&idMenu=4&label=Entrevist as&v_nome_area=Entrevistas&v_ id_conteudo=51218>. historia_educacao_I.indb 30historia_educacao_I.indb 30 11/9/2007 14:29:3411/9/2007 14:29:34 31 História da Educação I Unidade 1 de alguma coisa. E é por isso que o conhecimento produzido sobre a História da Educação também sai de alguma fonte, também tem origem. Para deixar mais clara esta questão, buscamos junto a alguns autores que vêm estudando a História da Educação nas últimas décadas, algumas contribuições sobre seu entendimento sobre fontes, bem como exemplos de fontes por eles utilizados para produção da historiografi a educacional. Com relação à palavra ‘fonte’, Saviani (2004, pp. 5-7) diz que ela apresenta, via de regra, duas conotações. Uma signifi ca ponto de origem, o lugar onde brota algo que se projeta e se desenvolve indefi nidamente e inesgotavelmente. Outra indica a base, o ponto de apoio, o repositório dos elementos que defi nem os fenômenos cujas características busca-se compreender. Ele observa que, como ponto de origem, fonte é sinônimo de nascente que corresponde também à manancial, o qual, entretanto, no plural, já se liga a um repositório abundante de elementos que atendem à determinada necessidade. No entanto, a palavra nascente, assim como manancial, é usada apenas para se referir ao ponto de origem de um curso ou corrente de água. O mesmo autor observa que, no caso da História, não se pode falar em fontes naturais já que todas as fontes históricas, por defi nição, são construídas, isto é, são produções humanas (salvo quando a questão for relativa a uma possível História natural, que não é o caso aqui – observação do autor). Além disso, é preciso considerar que, a rigor, a palavra fonte é usada em História com sentido analógico. Ou seja, não se trata de considerar as fontes como origem do fenômeno histórico considerado. As fontes estão na origem, constituem o ponto de partida, a base, o ponto de apoio da construção historiográfi ca que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto histórico estudado. Assim as fontes históricas não são a fonte da história, ou seja, não é delas que brota e fl ui a história. Elas enquanto registros, enquanto testemunhos dos atos históricos, são a fonte do nosso conhecimento histórico. (SAVIANI, 2004, p.5) historia_educacao_I.indb 31historia_educacao_I.indb 31 11/9/2007 14:29:3411/9/2007 14:29:34 32 Universidade do Sul de Santa Catarina Ainda segundo Saviani, a analogia não se limita apenas ao caráter de origem, também o caráter de inesgotabilidade transpõe-se analogicamente para a historiografi a. Ou seja, sempre que a elas retornamos, tendemos a encontrar novos elementos, novos signifi cados, novas informações que nos tinham escapado nas vezes anteriores. De acordo com ele, podemos distinguir as fontes entre aquelas que se constituem de modo espontâneo e aquelas que produzimos intencionalmente. As primeiras são aquelas que encontramos nos vários tipos de acervos com as mais diferentes formas. São documentos, vestígios, indícios que foram acumulando ou que foram guardados. Entre eles estão a multidão de papéis existentes nas bibliotecas e nos arquivos públicos ou privados, as inúmeras peças guardadas nos museus, dentre muitos outros objetos que adquirem o estatuto de fonte diante do historiador, na medida em que estes buscam neles respostas às questões levantadas. As segundas são aquelas que os educadores ou historiadores preservam para que, no futuro, novos pesquisadores possam compreender seu passado que é o nosso presente. Entre estas fontes encontram-se tanto materiais de trabalho como de pesquisa. Além disso, há ainda as fontes produzidas a partir de registros de testemunhos orais, nos quais nos apoiamos em nossa investigação. Falando de História de instituições escolares, por exemplo, Werle (2004, p.14) diz que seus conteúdos resultam, em parte, da descoberta do pesquisador junto aos arquivos e outras formas de apropriação obtidas através de depoimentos orais ou escritos e de outros meios de expressão. Mas nem sempre foi assim. É importante relembrar, como já vimos na primeira seção, que a História da Educação confi gurou- se primeiramente como disciplina escolar e, como nos coloca Fonseca: (...) teve sua trajetória marcada pelas relações estabelecidas com o conhecimento produzido em outros historia_educacao_I.indb 32historia_educacao_I.indb 32 11/9/2007 14:29:3411/9/2007 14:29:34 33 História da Educação I Unidade 1 campos, como a fi losofi a e a Psicologia. Tratava-se de elaborar um conjunto de saberes sobre a história das idéias pedagógicas que tivesse função prática na formação dos professores e pedagogos. (In: VEIGA, 2003, p. 56) O estudo das idéias pedagógicas acabou caracterizando as pesquisas nesta área. Um outro tipo de análise, mas na mesma concepção, ocupa lugar de destaque em obras de História da Educação no Brasil, por exemplo, que é a organização dos sistemas de ensino associada às políticas educacionais do Estado. A fonte ou documento utilizado por esta abordagem era unicamente o registro escrito, notadamente a evolução da legislação educacional. Lembre-se do que já vimos sobre a concepção positivista e perceba as semelhanças!Ainda no Brasil, Ghiraldelli jr. aponta que nos anos 80, Dermeval Saviani e seu grupo na Unicamp, numa perspectiva marxista, fazem questionamentos à condução dos planos e do campo de pesquisa da História da Educação: (...) ora eram construídos a partir de uma visão determinada, ora seguiam um ecletismo em que passava-se em revista as instituições educacionais e/ou doutrinas pedagógicas da Grécia Antiga até a época contemporânea. (GHIRALDELLI Jr, 2003. p. 242.) A trajetória da História da Educação é marcada pelas concepções que esboçamos na seção anterior. Aproxima-se atualmente da História Cultural, como campo de investigação e muitas vezes é vista como uma dimensão do universo cultural em estudo. Alguns historiadores, dentre eles Pierre Nora e Roger Chartier (que já citamos anteriormente), pesquisaram temas relacionados a este campo como os livros e a leitura, a escolarização, entre outros, numa abordagem diferente, tanto da tradição positivista, quanto da marxista. historia_educacao_I.indb 33historia_educacao_I.indb 33 11/9/2007 14:29:3511/9/2007 14:29:35 34 Universidade do Sul de Santa Catarina Como exemplos de fontes que os historiadores da educação vêm se apoiando nos últimos tempos para produzir o conhecimento sobre a área podem ser citados: documentos (ofi ciais ou não); legislação; arquivos institucionais públicos e privados dentre eles os escolares; arquivos pessoais (como baú de memórias, ou seja, informações que uma pessoa guarda como fotos, diários, correspondências, dentre outros); dados estatísticos; literatura; produção bibliográfi ca; livros didáticos; pinturas e outras obras de arte; fotografi a; memórias (entrevistas e histórias de vida); arquitetura de prédios escolares; objetos escolares (desde tinteiros até cadernos e mobílias existentes no interior de uma escola). Conforme Fonseca, na História da Educação no Brasil, por exemplo, novos temas têm sido considerados, como a História da leitura e dos impressos escolares, “a história da profi ssão docente, os processos de escolarização, a cultura escolar e as práticas educativas e pedagógicas.” (FONSECA, 2003, p.61) Em alguns casos, antigos temas ou pesquisas, como as idéias pedagógicas e o sistema escolar têm sido revistos. Um exemplo disto são alguns estudos atuais sobre o período colonial que, ao invés de focarem apenas na escolarização formal relacionada à presença dos jesuítas e depois à administração pombalina, levam em conta outros processos educativos. Estes processos educativos, que podemos chamar de não formais, geralmente abarcavam uma população que estava à margem da escola, por condições fi nanceiras ou preconceito. Para saber mais sobre os jesuítas e sua atuação no Brasil, acesse: <http://www.pedagogiaemfoco. pro.br/heb02.htm> e <http:// www.cimi.org.br/?system=news&a ction=read&id=1643&eid=259>. Marquês de Pombal é o nome com que fi cou conhecido Sebastião José de Carvalho e Melo, político e verdadeiro dirigente de Portugal durante o reinado de José I, como 1º. Ministro. A partir de 1756, realizou um programa político de acordo com os princípios do Iluminismo, porém às suas reformas opuseram-se os jesuítas e a aristocracia. Num atentado contra a vida do rei em 1758, conseguiu implicar os jesuítas, expulsos em 1759. Disponível em <http://www.netsaber.com. br/biografi as/ver_biografi a. php?c=891>. historia_educacao_I.indb 34historia_educacao_I.indb 34 11/9/2007 14:29:3511/9/2007 14:29:35 35 História da Educação I Unidade 1 Este tipo de estudo, ao invés de considerar apenas os escolarizados formalmente, permite-nos vislumbrar outras formas educativas relacionadas aos indígenas, mestiços, brancos pobres e aos negros escravos ou livres. Neste caminho, são trazidas à tona informações sobre o aprendizado profi ssional, a circulação de artistas e artesãos que traziam consigo saberes e técnicas. A pesquisa sobre este período amplia-se, levando em conta as especifi cidades e as culturas que circulavam naquele momento histórico. Um outro objeto de investigação tem sido ressaltado, refere- se à própria História da infância. Um dos trabalhos pioneiros e marcantes neste sentido é o do historiador francês Philippe Ariès, “História Social da Criança e da Família”. (1981). Neste trabalho, ele analisa a trajetória da construção da noção moderna de infância. Mostra a criação de um “sentimento de infância”, voltado à proteção e diferenciação em relação ao adulto, o que antes não ocorria. Ele inova não só na temática, como também na escolha das fontes. Ao contrário de outras tendências, utiliza a iconografi a (imagens), diários, inscrições de túmulos, etc. Apesar de algumas críticas, pois o trabalho centrou-se nesta construção a partir das elites, contribuiu para chamar a atenção para o conceito de infância e para a ampliação das fontes e da análise. Outros livros organizados nesta temática como “História das crianças no Brasil (PRIORE, 1991), “História social da infância no Brasil” (FREITAS, 1997) e “Infância e educação infantil” (Kuhlmann, 1998), nos mostram os mais diferentes objetos e fontes para a História da Educação. Em todos estão presentes diversas visões sobre a infância e os lugares atribuídos às crianças em cada contexto histórico. Como exemplo de trabalho com fontes orais, mais especifi camente com histórias de vida de professoras aposentadas, temos o trabalho organizado por Maria Teresa de Assunção Freitas, “Memórias de professoras: história e histórias” (2000). Neste projeto, as histórias de vida foram cruzadas com uma Figura: Livro de Philippe Áries – História Social da Criança e da Família Fonte: www. livrariacultura.com.br historia_educacao_I.indb 35historia_educacao_I.indb 35 11/9/2007 14:29:3511/9/2007 14:29:35 36 Universidade do Sul de Santa Catarina história maior, trazendo elementos para a compreensão da História da Educação local (Juiz de Fora) e nacional. Assim, os objetos de análise relacionam-se à formação de professores, à prática pedagógica, à leitura e à escrita, às bibliotecas e às políticas públicas e à própria vida cultural da cidade. Os objetos foram defi nidos a partir de suas falas e recordações. Um outro componente que tem sido transformado em objeto de investigação são os manuais didáticos. Ao invés de serem utilizados só como fonte para a compreensão de outras questões, como os processos de escolarização, a construção de culturas escolares, a história de uma disciplina, têm sido analisado em seu processo de produção, sua circulação, seu uso e também nas apropriações que os diferentes grupos sociais faziam deles. Para estudar a escolarização no século XIX no Brasil, por exemplo, quando utilizávamos somente as fontes tradicionais, como a legislação da época, tudo nos levava a crer que havia uma ausência do Estado, através da falta de políticas públicas para a educação e infância. No entanto, quando levamos em conta outras fontes, como cadernos escolares, mapas de matrícula, relatórios de profi ssionais envolvidos nesta organização escolar, percebemos que havia uma tentativa de viabilizar um sistema público de ensino, ao menos para a população livre. Você deve ter percebido, até agora, que estes novos olhares sobre a História da Educação, relacionados à renovação da historiografi a, mas também à aproximação com outras áreas, como a Antropologia e a Sociologia (só para citar duas áreas) têm contribuído com novas fontes e objetos de estudo, até então desconsiderados. Por isso, podemos visualizar a educação num contexto mais amplo, também relacionada a temas que, anteriormente, não apareciam. É nesta perspectiva que estaremos conduzindo as demais unidades deste livro. Agora, para praticar os conhecimentosconquistados nesta unidade, realize, a seguir, as atividades propostas. historia_educacao_I.indb 36historia_educacao_I.indb 36 11/9/2007 14:29:3511/9/2007 14:29:35 37 História da Educação I Unidade 1 Atividades de auto-avaliação Efetue as atividades de auto-avaliação e, a seguir, acompanhe as respostas e comentários a respeito. Para melhor aproveitamento do seu estudo, realize a conferência de suas respostas somente depois de fazer as atividades propostas. 1) Referente ao conhecimento de História da Educação é correto afi rmar: a) ( ) O conhecimento produzido a partir de fontes ofi ciais era visto, até muito recentemente, como forma de garantir a cientifi cidade. b) ( ) No Brasil, a História da Educação foi transformada em disciplina nos cursos de formação de professores e de pedagogos a partir de 1930. c) ( ) A fotografi a e as obras de arte nunca foram consideradas fontes historiográfi cas. 2) Construa um quadro síntese com as informações da Seção 2: TENDÊNCIAS PRINCIPAIS REPRESENTANTES IDÉIAS CENTRAIS historia_educacao_I.indb 37historia_educacao_I.indb 37 11/9/2007 14:29:3511/9/2007 14:29:35 38 Universidade do Sul de Santa Catarina 3) Realize a atividade sugerida a seguir na sua cidade e depois socialize com o grupo na ferramenta Exposição no EVA: Visite uma biblioteca ou arquivo público e identifi que alguma fonte/documento referente à educação em outras épocas: notícia de jornal, cartilhas, livros didáticos, leis. Realize uma entrevista com alguém que você conheça, com mais idade, acerca da sua vida escolar. Localize fontes iconográfi cas como fotos, desenhos e outras imagens relacionadas à sua vida escolar ou à da sua família. Anote suas impressões nas linhas a seguir: Síntese Na primeira seção desta unidade, você teve contato com termos como educação, História e História da Educação.Você pode perceber que podemos conceituar a Educação, dentre inúmeras outras formas, como o processo de formação do ser humano, um processo que ocorre no decorrer da sua existência e em diferentes espaços formais e não formais. Podemos dizer, também, que a noção de História sofreu mudanças ao longo do tempo: desde uma concepção baseada historia_educacao_I.indb 38historia_educacao_I.indb 38 11/9/2007 14:29:3511/9/2007 14:29:35 39 História da Educação I Unidade 1 na ênfase aos fatos isolados, dispostos de maneira linear e cronológica e com apenas alguns indivíduos como promotores da História, até uma outra perspectiva, na qual ela pode ser entendida como uma construção de acordo com o ponto de vista de quem a escreve (o historiador). Assumida esta imparcialidade na escrita da História, leva-se em conta a História dos grupos humanos, em tempos e espaços determinados, compondo o que se chama de processo histórico. Você também aprendeu que a História da Educação, surgiu no fi nal do século XIX, na Europa, como uma disciplina dos Cursos Normais, ou seja, dos cursos que formavam professores. Assim como no Brasil, cuja disciplina foi gerada no interior das Escolas Normais, estando sempre acompanhada de perto pela Filosofi a da Educação. No entanto, devido à aproximação com as novas tendências da História e de outras áreas do conhecimento, tem-se consolidado, nas duas últimas décadas, cada vez mais como um campo de estudos e pesquisas. Na seção 2, ao apontarmos as correntes que infl uenciaram/ infl uenciam a História da Educação, você pode notar as principais diferenças entre elas e as contribuições na forma de olhar e escrever a História e a História da Educação. O Positivismo ao lançar um olhar de “cima para baixo”, exclui uma série de sujeitos, temas e grupos sociais que escapam a esta abordagem. Nesta perspectiva, a História da Educação estaria associada, devido ao tipo e à forma de trabalho com as fontes/ documentos, a um panorama político-institucional no tocante à legislação da política educacional e ao pensamento pedagógico. Já no Marxismo, a educação pode ser vista como a reprodução da sociedade ou a sua superação, através da conscientização de uma classe oprimida. No campo educacional, esta tendência da História está expressa em recentes pesquisas na área. No viés da Nova História, notadamente da História Cultural, a História da Educação infl uencia e até mesmo renova os objetos e abordagens nesta área, apesar de ser um campo ainda muito recente de estudos. historia_educacao_I.indb 39historia_educacao_I.indb 39 11/9/2007 14:29:3611/9/2007 14:29:36 40 Universidade do Sul de Santa Catarina Por fi m, você descobriu que há muitas fontes possíveis de serem utilizadas nas novas pesquisas em História da Educação, além dos documentos ofi ciais e da legislação, como as entrevistas orais, fotos, diários pessoais, pinturas, a arquitetura escolar, entre outros. Também descobriu que, a partir destas novas fontes, é possível levantar outros objetos de pesquisa, como a História da profi ssão docente, os processos de escolarização, a cultura escolar, as práticas educativas e pedagógicas, o conceito de infância, etc. Dessa forma, a História da Educação constitui-se como um campo vasto de pesquisas, incluindo processos educativos e grupos sociais que, na maior parte das vezes, não eram mencionados. Saiba mais Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você poderá pesquisar os seguintes livros: ARIÉS, Philippe. A História Social da Criança e da Família. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981. BURKE, Peter. A Revolução Francesa da historiografi a: a Escola dos Annales, 1929-1989. São Paulo: UNESP, 1991. FONSECA, Th ais Nívia de L.; VEIGA, Cynthia G. História e Historiografi a da Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. SAVIANI, Dermeval. Breves considerações sobre Fontes para a História da Educação. In: LOMBARDI, José Claudinei e NASCIMENTO, Maria Isabel Moura (org). Fontes, História e historiografi a da educação. Campinas-SP: Autores Associados, 2004. historia_educacao_I.indb 40historia_educacao_I.indb 40 11/9/2007 14:29:3611/9/2007 14:29:36 UNIDADE 2 As práticas educativas medievais Objetivos de aprendizagem Compreender o contexto histórico das práticas educativas medievais. Identifi car os sujeitos e grupos sociais, que foram atingidos ou excluídos pelas instituições ou associações educativas. Compreender o signifi cado e a importância de situações pedagógicas não formais. Estabelecer critérios de comparação entre as formas educacionais do período medieval e as atuais. Seções de estudo Seção 1 Idade Média: um breve contexto histórico. Seção 2 A educação das mulheres. Seção 3 A educação dos cavaleiros medievais. Seção 4 A educação nas corporações de ofício. Seção 5 A educação nas Universidades. 2 historia_educacao_I.indb 41historia_educacao_I.indb 41 11/9/2007 14:29:3611/9/2007 14:29:36 42 Universidade do Sul de Santa Catarina Para início de estudo O estudo desta unidade lhe proporcionará conhecer o contexto histórico da chamada Idade Média Ocidental, para situar e compreender as práticas educativas relacionadas a este período. Você conhecerá lugares e sujeitos das práticas educativas. É o caso, por exemplo, da educação feminina, nas corporações de ofícios, na formação de cavaleiros e na constituição das universidades. Você perceberá, também, que havia uma defi nição das classes sociais bastante rígida e hierarquizada, no entanto, no campo educacional, muitas vezes elas estavam juntas, como no caso das escolas monásticas e das universidades. Muitas vezes, a educação abrange espaços não formais, ou melhor, não é escolarizada, como é o caso da maioria das mulheres e dos aprendizes nas corporações de ofício. Assim, entre diferentes sujeitos e grupos sociais, entre métodos emateriais pedagógicos, através de diferentes fontes e objetos - como você já viu na primeira unidade - esperamos que você entre em contato e também construa um conhecimento acerca das práticas educacionais neste período. historia_educacao_I.indb 42historia_educacao_I.indb 42 11/9/2007 14:29:3611/9/2007 14:29:36 43 História da Educação I Unidade 2 SEÇÃO 1 - Idade Média: um breve contexto histórico Foi no século IV a.C. que a educação se institucionalizou com a fundação das primeiras escolas: Isócrates abriu a sua escola em 393 a.C. e Platão fundou a Academia em 387 a.C. Ao conquistarem o mundo da Antiga Grécia, os romanos “absorveram” o melhor da sua cultura, acrescentando-lhe a disciplina e o respeito pela lei (tipicamente romana). Construíram escolas de infl uência grega (o ginásio, a escola de cálculo e de gramática) e escolas de direito. A partir dos fi nais do século II da nossa era, o Império Romano, então cristianizado, entrou em decadência devido a vários fatores (tais como as crises na sucessão imperial, a crise econômica e social e o “perigo bárbaro”). Quando, em 476, a autoridade imperial deixou de existir no Ocidente, os “bárbaros” já se haviam fi xado nas regiões da Europa que antes devastaram. Estes povos eram, na sua maioria, pagãos, mas os seus chefes acabaram por se converter ao catolicismo. Tendo sido a única que resistiu e sobreviveu às grandes invasões, mantendo a sua organização e servindo de apoio às populações aterradas, a Igreja Católica tornou-se a instituição mais importante da Idade Média. Certamente você já ouviu falar no termo Idade Média, e deve lembrar de ter estudado na escola, nas aulas de História, ou talvez por cenas de fi lmes, com cavaleiros, castelos e donzelas na torre. Além disso, você pode ter lido sobre a infl uência e os desmandos da Igreja Católica neste período, Figura: Mural de Palau – Calades Barcelona Fonte: www.odesenho. no.sapo.pt Os romanos chamavam de bárbaros todos os povos que não possuíam a mesma língua, os mesmos costumes e organização política, social e econômica que eles. Estas diferenças podem ser observadas no fi lme “Asterix e Obelix contra César”. historia_educacao_I.indb 43historia_educacao_I.indb 43 11/9/2007 14:29:3611/9/2007 14:29:36 44 Universidade do Sul de Santa Catarina Independente da sua fonte de informação, você é convidado a registrar no espaço, a seguir, suas impressões sobre o período histórico em questão. Esse é o momento para fazer uma pausa e refl etir sobre o assunto! Você deve ter percebido que muitas das referências que registrou acima dizem respeito à história européia, não abarcam o Brasil, por exemplo, ou outros lugares do mundo. Pois bem, esta expressão “Idade Média” é bastante eurocêntrica e leva em conta uma periodização política, conforme a história positivista, que é uma das formas de escrever a história, como você viu na Unidade 1 desta disciplina. Dentro desta concepção de História, os marcos cronológicos do período conhecido como Idade Média, são os seguintes: Início: 476 d.C. - Queda do Império Romano do Ocidente, com sede em Roma. Final: 1453 d.C. – Queda do Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla, tomada pelos turcos. Ainda dentro desta classifi cação, há mais duas divisões, que muitas vezes são utilizadas: a Alta Idade Média, que compreenderia a formação dos povos germânicos até a estruturação do Feudalismo e a Baixa Idade Média, comumente descrita a partir do movimento das cruzadas, caracterizadas pelo ressurgimento e expansão das cidades e do comércio. – Gost aríamos de deixar claro que est e recorte cronológico de “mil anos”, bem como o espaço geográfi co (Europa) será levado em conta nest a unidade, devido às pesquisas e ao material bibliográfi co Considera-se o eurocentrismo como uma visão de mundo que tende a colocar a Europa (assim como sua cultura, seu povo, suas línguas, etc.) como o elemento fundamental na constituição da sociedade moderna, sendo necessariamente a protagonista da história do homem. <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Eurocentrismo> historia_educacao_I.indb 44historia_educacao_I.indb 44 11/9/2007 14:29:3711/9/2007 14:29:37 45 História da Educação I Unidade 2 para os est udos em Educação. No entanto, não nos ateremos a uma seqüência cronológica para abordarmos as demais seções dest a unidade e sim, às práticas educativas associadas a temas, como a educação monást ica, nas corporações de ofícios, a educação das mulheres, dos cavaleiros medievais e a formação das universidades. Dito isto, vamos compreender melhor o panorama histórico deste período. Tomando o Século V como ponto de partida e a Europa como espaço geográfi co, identifi camos a crise do sistema escravista como um dos principais fatores da fragilidade econômica e social em que se encontrava o Império Romano do Ocidente naquele momento: A divisão do Império em duas partes no fi nal do século IV também contribuiu para esse processo: O Império Romano do Oriente, com capital em Constantinpla ainda conseguiu manter uma atividade comercial com outras regiões do Oriente, enquanto que o Império Romano do Ocidente, com capital em Milão, vivenciou o aprofundamento constante da crise. (disponível em http://www.historianet.com.br/conteudo/default. aspx?codigo=144) Algumas medidas administrativas foram empreendidas, como o estabelecimento das Villae, no entanto, estas unidades eram voltadas à autosufi cência, o que contribuiu ainda mais para a fragmentação do território do Império e para a ruralização. Devido a estes fatores, entre outros, a presença dos “povos bárbaros” constante nas fronteiras do Império Ocidental, acentuou-se, constituindo-se num movimento migratório de invasão, até o coração do Império. Dentre os “invasores bárbaros”, destacamos os povos germânicos (vândalos, ostrogodos, visigodos, anglo-saxões e francos), devido à formação de reinos - dentro do que era a área do Império Romano - e da própria organização econômica e social, que transplantaram para as áreas ocupadas, mesclando com outros costumes vigentes. Dentre estes povos, ressaltamos os francos, por sua importância na formação do Feudalismo e na aliança com a Igreja Católica, como você verá a seguir. Villae eram grandes residências senhoriais que possuíam termas para os banhos, habitações para os trabalhadores (com os seus próprios banhos), e todos os edifícios essenciais ao funcionamento da exploração (lagares, olarias, tecelagens, forjas, estábulos, e mesmo templos). O ideal deste tipo de exploração era a auto-sufi ciência. <http://www.geocities. com/alex221166/h_a_ 10_por.html> historia_educacao_I.indb 45historia_educacao_I.indb 45 11/9/2007 14:29:3711/9/2007 14:29:37 46 Universidade do Sul de Santa Catarina Quem eram os francos? A palavra franco signifi cava “livre” na língua franca. Os francos formavam uma das várias tribos germânicas que adentraram o espaço do império romano. Era um grupo oriundo do oeste da Europa, que ocupou a região da Gália (aproximadamente a atual França). O reino franco passou por várias partilhas e repartições, já que os francos dividiam suas propriedades entre os fi lhos sobreviventes, e concebiam o reino como uma grande extensão de uma propriedade privada. A conversão ao Cristianismo, de um dos reis da Dinastia Merovíngia, já no século V, facilita a consolidação do Reino Franco e a ascenção da Igreja Católica. O fortalecimento da relação entre a Igreja e o Reino caracterizou-se, principalmente, pelas doações de terra, conversões e proteção. Durante a Dinastia Carolíngea, o rei franco Carlos Magno (séc. X), é coroado pelo papa e defende o território europeu do avanço dos muçulmanos árabes (“os inféis”). Consolidando-se,deste modo, a aliança com a Igreja Católica. O que é feudalismo? O feudalismo foi um modo de produção baseado nas relações servo-contratuais (servis) de produção. Tem suas origens na desintegração da escravidão romana. Com a decadência e a destruição do Império Romano do Ocidente, por volta do século V d.C. (de 401 a 500), como conseqüência das inúmeras invasões dos povos bárbaros e das más políticas econômicas dos imperadores, várias regiões da Europa passaram a apresentar baixa densidade populacional e baixo desenvolvimento urbano. Isso ocorria devido às mortes provocadas pelas guerras, às doenças e à insegurança existentes logo após o fi m do Império Romano. A partir do século V d.C., entra-se na chamada Idade Média, mas o sistema feudal somente passa a vigorar em Figura: Fases do Feudalismo Fonte: www.culturabrasil.pro.br historia_educacao_I.indb 46historia_educacao_I.indb 46 11/9/2007 14:29:3711/9/2007 14:29:37 47 História da Educação I Unidade 2 alguns países da Europa Ocidental a partir do século IX d.C., aproximadamente. O esfacelamento do Império Romano do Ocidente e as invasões bárbaras em diversas regiões da Europa favoreceram sensivelmente as mudanças econômicas e sociais que vão sendo introduzidas, principalmente na Europa Ocidental, e que alteram completamente o sistema de propriedade e de produção característicos da Antigüidade. Em suma, com a decadência do Império Romano e as invasões bárbaras, os nobres romanos começaram a se afastar das cidades levando consigo camponeses (com medo de serem saqueados ou escravizados). Já na Idade Média, com vários povos dominando a Europa Medieval, foi impossível unirem-se entre si e entre os descendentes de nobres romanos, que eram donos de pequenos agrupamentos de terra. No entanto, foi da “mistura” de instituições romanas e instituições “bárbaras” que surgiu o Feudalismo. Surge uma classe social caracterizada como a nobreza feudal, detentora de terras – a terra representa a riqueza – cuja manutenção consistia na concessão de terras a outros senhores, muitas vezes em troca de proteção. Assim, os que concediam a terra eram chamados de suseranos, e quem recebia era chamado de vassalo. Em grandes propriedades de terra os senhores feudais estabeleciam-se em locais estratégicos. Os castelos eram fortalezas que serviam como quartel-general para cavaleiros antes de seus ataques aos inimigos. Além de tudo, eram as moradias dos nobres e os locais onde essas poderosas famílias se alimentavam, se divertiam e recebiam seus convidados. Para seus senhores, era uma forma de apresentar aos demais nobres, ao clero e aos visitantes de regiões distantes toda a sua riqueza e infl uência. Além disso, representavam, para os moradores das vilas ou feudos, um centro de decisões políticas, cobrança de impostos e justiça. Todo sistema de tributos era organizado em função do uso da terra pelos servos, mas também Figura: Castelo de Dromoland, na Grã- bretanha, construído no século XVI . Fonte: <http://www. planetaeducacao. com.br/new/colunas2. asp?id=167> historia_educacao_I.indb 47historia_educacao_I.indb 47 11/9/2007 14:29:3711/9/2007 14:29:37 48 Universidade do Sul de Santa Catarina do uso das ferramentas e dos locais como os moinhos, serrarias, carpintaria pertencente ao senhorio feudal. Os servos não tinham a propriedade da terra. No entanto, eram obrigados a permanecer nela. Não eram escravos, pois não podiam ser vendidos. A base do sistema feudal eram estas relações servis de produção. Os servos deviam várias obrigações como a talha, a corvéia e as banalidades, entre outras. Era uma sociedade dividida em grupos com pouca mobilidade entre eles. Composta fundamentalmente pelos nobres, clero e servos. Nas camadas pobres, havia também os vilões. No livro de Paulo Miceli, “O Feudalismo”, observamos que a nobreza e o clero compunham a camada dominante dos senhores feudais, ou seja, aqueles que tinham a posse legal da terra e do servo e que dominavam o poder político, militar e jurídico. O fator que mais contribuiu para o declínio do sistema feudal foi o ressurgimento das cidades e do comércio. Muitos camponeses passaram a comercializar produtos nas feiras e cidades, nas quais, muitas vezes se estabeleciam, em busca de melhores condições de vida. E o papel da Igreja Católica? A igreja cristã primitiva na região do Mediterrâneo foi organizada sob cinco patriarcas: os bispos de Jerusalém, Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Roma. O Bispo de Roma era tido pelos outros Patriarcas como “o primeiro entre iguais”, embora o seu estatuto e infl uência tenham crescido quando Roma era a capital do império, com as disputas doutrinárias ou procedimentais a serem freqüentemente remetidos a Roma para obter uma opinião. Entretanto, quando a capital se mudou para Constantinopla, a sua infl uência diminuiu. Constantinopla tornava-se a residência do Imperador e do Senado. Uma série de difi culdades entre as partes divididas do Império (ocidente e oriente), no tocante à religião como disputas doutrinárias, Concílios disputados, a evolução de ritos separados Pela talha, o servo devia uma parte da sua produção ao senhor feudal. A corvéia consistia no trabalho nas terras do senhor (manso senhorial), em alguns dias por semana. Os pagamentos que os servos faziam aos senhores pelo uso do forno, do moinho, do celeiro, chamavam-se banalidades. (disponível em: http://www. historiadomundo.com.br/idade- media/feudalismo) Os vilões eram homens livres que viviam no feudo, deviam algumas obrigações aos senhores, como por exemplo, as banalidades, mas não estavam presos à terra, podendo sair dela quando o desejassem. (disponível em: http://www. historiadomundo.com.br/idade- media/feudalismo). historia_educacao_I.indb 48historia_educacao_I.indb 48 11/9/2007 14:29:3811/9/2007 14:29:38 49 História da Educação I Unidade 2 e se a posição do Papa de Roma era ou não de real autoridade ou apenas de respeito, levaram à divisão em 1054. A Igreja dividiu-se entre a Igreja Católica Apostólica Romana no Ocidente e a Igreja Ortodoxa Oriental no Leste (Grécia, Rússia e muitas das terras eslavas, Anatólia, Síria, Egipto, etc.). A esta divisão chama-se o Grande Cisma. A grande divisão seguinte da Igreja Católica - e talvez a mais signifi cativa, pois promoveu a fundação de outras igrejas - ocorreu no século XVI com a Reforma Protestante, durante a qual se formaram muitas outras religiões no Ocidente. Durante a Idade Média, a Igreja enfrentou movimentos contestadores de sua doutrina, abusos fi nanceiros e despreparo do clero. No início do século XVI, teve início a Reforma Protestante, movimento religioso liderado pelo monge alemão Martinho Lutero que rompeu a unidade da Igreja Católica na Europa. Várias Igrejas reformadas surgiram na Alemanha, Suíça, França e Inglaterra com seguidores entre todas as camadas da sociedade européia. O período medieval caracterizou-se pela predominância da Igreja como a maior instituição feudal do Ocidente europeu, exercendo hegemonia ideológica e cultural na época. Atuando em todos os níveis da sociedade, estabeleceu normas, orientou comportamentos e soube imprimir nos homens e mulheres deste período uma cultura religiosa. Essas questões afetaram o sistema de educação. Durante muito tempo não houve nenhuma instituição educacional, a não ser as escolas episcopais, mantidas pelos bispos. O propósito da maioria das escolas era formar monges e clérigos e, desde muito cedo, a criança era colocada em contato com os textos sagrados. Dessa forma, a Igreja adquiriu o controle da educação, tendo o clero como a elite intelectual e suas escolas como as únicas instituições culturais atuantes. Por volta dos séculos X e XI, assiste-se às
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