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questionamento daqueles que julgam saber algo sobre o que falam. Em A fi losofi a como atitude - Módulo 1 Filosofi a 4 nenhum momento Sócrates vale-se ou mesmo deseja se valer da persuasão dos juízes que o estão a ouvir. Fazer a mera persuasão elevar-se sobre a necessidade de clarifi car os atenienses que o julgam seria agir em proveito próprio, e Sócrates não atentaria com o cuidado com que se conduziu a vida inteira, apenas porque corria o risco de ser condenado. Quer apenas que seus concidadãos refl itam sobre a justiça de suas palavras. Atentemos para o ponto mais específi co da prática da fi losofi a em Sócrates: durante, o julgamento, ele dissera não se preocupar com questões do mundo físico, embora não desejasse dissuadir ninguém de as estudar: Foi no valor da ação moral que Sócrates construiu sua trajetória fi losófi ca, a qual não reside em livros, mas no exemplo vivo de um cuidado de si que é também cuidado dos outros. Pierre Hadot, lembra uma frase de Merleau Ponty: Sócrates “pensava que não se pode ser justo sozinho, do mesmo modo que o ser sozinho cessa de ser”. Em continuidade, Hadot fala assim sobre esse “cuidado de si” socrático que é, também e ao mesmo tempo, cuidado com a cidade: O cuidado de si é, portanto, indissoluvelmente cuidado da cidade e cuidado dos outros, como se vê pelo exemplo do próprio Sócrates, cuja razão de viver é ocupar-se com os outros. Há em Sócrates um aspecto ao mesmo tempo “missionário” e “popular”, que se reencontrará posterior- mente em certos fi lósofos da época helenística: “Eu estou à disposição tanto do pobre como do rico, sem distinção. [...] Podeis reconhecer que sou bem um homem dado pelo deus à cidade por esta refl exão: não é conforme à natureza do homem que eu tenha negligenciado todos os meus interesses [...] para me ocupar do que diz respeito a vós [...], para persuadir cada um a tornar-se melhor.(HADOT, 1999, p. 67) A fi losofi a socrática é uma prática cotidiana e cidadã. 5 A fi losofi a como atitude - Módulo 1 Filosofi a Entre em contato com o Orientador Acadêmico ou ainda com o Professor através da Sala do Orientador na sala de aula virtual, ou consulte o Quadro Horários de Atendimento presencial ao aluno para saber os dias e horários do plantão do Orientador no laboratório de Informática da sua unidade UNISUAM. Dúvidas Referencias PLATÃO. Apologia de Sócrates. Brasília: UnB, 1997, p. 22. Cf. 24a. HADOT, Pierre. O Que é Filosofi a Antiga. São Paulo: Loyola, 1999. Anexo - Atividades Estudos Socio-Antropológicos Bloco de notas e anotações Este espaço é para você anotar suas observações com relação a disciplina estudada. Importante: Leia todas as orientações passo a passo no “Tutorial do Aluno” de como realizar suas Atividades. A fi losofi a como atitude - Módulo 1 Filosofi a 2 Aula 5 - A virada da fi losofi a operada por Sócrates em relação à busca inaugurada pelos pré-socráticos Os fi lósofos anteriores a Sócrates (Tales, Anaximandro, Anaxímenes e tantos outros) se preocupavam com os elementos primordiais (em grego: arché) com a qual a Natureza (a physis) se compunha Por exemplo: terra, ar,fogo e água compõem a natureza). A preocupação de Sócrates não era a arché ou a physis, mas a ética. Mas como entender, mais positivamente, esta virada da fi losofi a em relação aos investigadores anteriores? Em que consiste o objetivo fi losófi co de Sócrates? A esta altura, você já sabe responder a esta questão. O objetivo fi losófi co passa a se defi nir, agora, pela procura de uma excelência da conduta à luz de um questionamento sistematicamente conduzido. A partir de Sócrates, a fi losofi a tem seu centro deslocado de questões de ordem física para questões de ordem ética. Sócrates procura pela sabedoria sem nunca dizer possuí-la. Diz não ensinar qualquer conhecimento acerca da realidade (tarefa dos fi lósofos naturalistas) nem se engajar no mero convencimento dos outros através do poder encan- tatório das palavras (ocupação dos sofi stas). Defi ne-se como um “professor de ignorância”, isto é, como alguém que, comumente, leva os outros a perceberem que a sabedoria só existe quando reconhecida a ignorância provocada pelo questionamento. Ele não transmite conteúdos fechados. Através de um procedimento sistemático de perguntas, ironiza a condição do interlocutor que se acha sábio. De agora em diante, reconhecendo que nada sabe do que julgava saber, se põe em busca de um conhecimento mais consistente. O conhecimento a que Sócrates se dedica é o da virtude. Nesta fi losofi a concebida como prática de vida, é a excelência da alma que está em jogo. A esta excelência da alma dá-se o nome de virtude (areté). A vida virtuosa é a vida justa. A grande maioria dos homens se contenta com a opinião consagrada ou com a voz de alguma autoridade. Nenhuma destas duas muletas satisfaz a Sócrates. Ele deseja, mesmo tendo a opinião do vulgo contra si, mesmo sofrendo a pressão contrária (e, muitas vezes, tirânica) da opinião, só continuar a crer em algo se tiver boas razões para o fazer. Sócrates foi um anticonformista por excelência. A prática de fazer ceder às respostas prontas torna fundamental o exercício da ironia. O termo “ironia”, no contexto da fi losofi a socrática, fi lósofos naturalistas http://www.mundodosfi losofos.com.br/presocratico.htm Saiba mais em relação aos investigadores anteriores? Em que consiste o objetivo fi losófi co de Sócrates? A esta altura, você já sabe responder a esta questão. O objetivo fi losófi co passa a se defi nir, agora, pela procura de uma excelência da conduta à luz de um qualquer conhecimento acerca da realidade (tarefa dos fi lósofos naturalistas) nem se engajar no mero convencimento dos outros através do poder encan- tatório das palavras (ocupação dos sofi stas). Defi ne-se como um “professor de ignorância”, isto é, como alguém que, comumente, leva os outros a perceberem que a sabedoria só existe quando reconhecida a ignorância provocada pelo questionamento. Ele não transmite conteúdos fechados. Através de um procedimento sistemático de perguntas, ironiza a condição do interlocutor que se acha sábio. De agora em 3 A fi losofi a como atitude - Módulo 1 Filosofi a Tendo lido o tópico acima, você deverá, agora, se deter sobre dois pequenos textos. Ambos estão centrados nos temas aqui tratados. Tratarão, por exemplo, do desinteresse de Sócrates pelas questões ligadas à Natureza (investigadas pelos fi lósofos anteriores) e de seu desdém pelo convencimento obtido através da mera persuasão, isto é, sem argumentos (acusação que se fará sempre aos sofi stas). Eles também irão abordar a ironia socrática e o verdadeiro efeito de libertação para o qual concorre tal ironia. A propósito, à luz de tudo o quanto foi exposto até aqui, pense em que consiste exatamente essa “libertação”. Indo além tem um signifi cado bastante diferenciado daquele de uso comum. Não se trata, com este tipo de ironia, de “ser sarcástico” ou de “zombar” do outro companheiro de interlocução, mas de expor, através de um inquérito sistematicamente conduzido, os vários problemas com as posições que, normalmente, adotamos como parte de uma tradição particular e que só mantemos por força de um hábito nunca problematizado. Sócrates expõe as falhas de raciocínio daqueles que com ele conversam e espera que façam o mesmo com ele, quando acharem falhas semelhantes. É mais importante reconhecer que não se sabe do que se julgar sábio, não o sendo. Sócrates dizia nada saber. Sabendo que nada sabia, a propósito, é que ele se diferenciava dos outros, como já afi rmara o oráculo de Delfos, certa vez, consultado por seu amigo Querefonte (Cf. PLATÃO, 1997, p. 19). Pense bem: se Sócrates reconhece, autenticamente, que nada sabe, nosso fi lósofo sabe mais do que os que, não percebendo sua ignorância, julgam, ingenuamente, saber algo. O reconhecimento