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CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 167 N 167 Para nossa limitada inteligência, pode pa- recer simples dividir um núcleo em partes iguais. A célula, manifestadamente, abriga uma opinião muito diferente. E. B. WILSON, (1923) Deve-se mostrar o máximo respeito por tudo que cresce exponencialmente, não importa o seu tamanho. GARRETT HARDIN, (1968) OTÁVEL COMO SÓ ELA É, a fertilização é o passo inicial do desenvolvi- mento. O zigoto, com o seu novo potencial genético e com sua nova dispo- sição do citoplasma, inicia agora a produção de um novo organismo multicelular. Em todas as espécies de animais conhecidas, isso começa por um proces- so chamado clivagem, uma série de divisões mitóticas pelo qual o enorme volume do citoplasma do ovo é dividido em numerosas pequenas células nucleadas. Essas células em estado de clivagem são chamadas de blastômeros. Na maioria das espécies (mamíferos sendo a principal exceção) a velocidade da divisão celular e a colocação dos blastômeros um em relação ao outro estão comple- tamente sob controle das proteínas e dos mRNAs armazenados no oócito pela mãe. O genoma zigótico transmitido por mitose para todas as outras células, não funciona em embriões com clivagem precoce. Poucos, se alguns, mRNAs são produzidos mais tarde durante a clivagem, o embrião pode dividir-se apropriadamente até mesmo quan- do produtos químicos são usados para inibir a transcrição. Também em muitas espéci- es, não há aumento do volume embrionário durante a clivagem. Isso difere da maioria dos casos de proliferação de células, do qual existe um período de crescimento celular entre as mitoses: a célula se expande para quase o dobro de seu volume, daí se divide. Esse crescimento produz um aumento total de células enquanto mantém uma razão relativamente constante entre volume nuclear e volume citoplasmático. Durante a cliva- gem embrionária, no entanto, o volume citoplasmático não aumenta. Antes, o enorme volume do citoplasma zigótico é dividido cada vez mais em células menores. O primeiro ovo é dividido ao meio, em seguida em quartos, em oitavos, e assim por diante. Essa divisão do citoplasma do ovo, sem o aumento do seu volume, é acompanhada pela abolição do período de crescimento entre as divisões, enquanto a clivagem dos núcleos ocorre numa razão tão rápida nunca vista antes (nem mesmo em células de tumor). Um ovo de rã, por exemplo, pode ser dividido em 37.000 células em apenas 43 horas. A mitose na Drosophila, em estágio de clivagem, ocorre a cada dez minutos por mais de duas horas, e em apenas 12 horas forma algo em torno de 50.000 células. Esse aumento em número de células pode ser apreciado comparando a clivagem com outras fases do desenvolvimento. A Figura 5.1 mostra o logaritmo de números celulares em um embrião de rã representado graficamente em função do tempo de desenvolvimento (Sze, 1953). Ela ilustra uma evidente descontinuidade entre clivagem e gastrulação. Uma conseqüência dessa divisão rápida é a razão do volume citoplasmático/nucle- ar se tornar cada vez menor assim que a clivagem progride. Em muitos tipos de embri- ões, a diminuição da razão entre os volumes citoplasmático e nuclear é crucial na Clivagem: Criando multicelularidade 5 168 PARTE II Padrões de Desenvolvimento L og 10 d o nú m er o de cé lu la s po r e m br iã o Horas a 150C Clivagem Gastrulação regulagem do tempo da ativação de certos genes. Por exemplo, na rã Xenopus laevis, a transcrição de novas mensagens só é ativada após 12 divisões. A essa altura, a razão da clivagem diminui, os blastômeros tornam-se móveis e os genes nucleares começam a ser transcritos. É sabido que algo no ovo está sendo titulado pela recém-produzida cromatina, porque o tempo dessa transição pode ser mudado experimentalmente alte- rando na célula a razão da cromatina para o citoplasma (Newport and Kirschner, 1982a,b), ainda que a clivagem comece logo após a fertilização e termine assim que o embrião atinja um novo equilíbrio entre o núcleo e o citoplasma. Q PADRÕES DE CLIVAGEM EMBRIONÁRIA Clivagem é um processo muito bem coordenado e é regulado pelas leis genéticas. O padrão da clivagem embrionária de uma dada espécie é determinado por dois parâme- tros principais: (1) a quantidade e a distribuição de proteína do vitelo dentro do citoplasma e (2) aqueles fatores no citoplasma do ovo que influenciam no ângulo do fuso mitótico e na determinação do tempo de sua formação. A quantidade e distribuição de vitelo determina onde a clivagem pode ocorrer e o tamanho relativo dos blastômeros. Quando um pólo do ovo é relativamente livre de vitelo, a divisão celular ocorre nesse pólo de uma forma mais rápida do que a do pólo oposto. O pólo rico em vitelo é chamado de pólo vegetal; a concentração de vitelo no TTTTTabela 5.1abela 5.1abela 5.1abela 5.1abela 5.1 Classsificação dos tipos de clivagem Simetria Padrão de clivagem Posição do vitelo de clivagem Animais representativos Holoblástica Isolécito (oligolécito) Radial Equinodermos, Amphioxus (clivagem completa) (vitelo escasso, distribuído por igual) Espiral Maioria dos moluscos, anelídeos, nematelmintos, platelmintos Bilateral Ascídios Rotacional Mamíferos Mesolécito (moderadamente telolécito) Radial Anfíbios Meroblástica Telolécito (vitelo denso, concentrado Bilateral Moluscos cefalópodos (clivagem incompleta) em uma extremidade do ovo) Discoidal Répteis, peixes, aves Centrolécito (vitelo concentrado no Superficial Maioria dos artrópodos centro do ovo) Figura 5.1Figura 5.1Figura 5.1Figura 5.1Figura 5.1 Formação de novas células du- rante o desenvolvimento preco- ce da rã Rana pipiens. (Segundo Sze, 1953.) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 169 pólo animal é relativamente baixa. O núcleo do zigoto é freqüentemente deslocado em direção ao pólo animal. No geral, o vitelo inibe a clivagem. A Tabela 5.1 fornece a classificação dos tipos de clivagem e mostra a influência do vitelo no padrão e na simetria da clivagem. Em zigotos com relativamente pouco vitelo (ovos isolécitos e mesolécitos) a clivagem é holoblástica, significando que o sulco da clivagem se extende por todo o ovo. Zigotos contendo grande acúmulo de proteína vitelínica sofrem cliva- gem meroblástica, onde somente uma porção do citoplasma é clivado. O sulco da clivagem não chega a penetrar na porção de vitelo do citoplasma. Clivagem meroblástica pode ser discoidal, como nos ovos das aves, ou superficial, como em zigotos de insetos, dependendo onde o depósito de vitelo estiver localizado, de um lado (telolécito) ou no centro do citoplasma (centrolécito), respectivamente. O vitelo é uma extraordinária adaptação que permite ao embrião se desenvolver na ausência de uma fonte externa de alimentação. Animais desenvolvidos sem grandes concentrações de vitelo, como os ouriços-do-mar, normalmente formam o estágio larval muito rapidamente. Esse estágio larval pode se alimentar por si só, o desenvol- vimento continua com a larva nadando livre. Embriões de mamíferos, que também não possuem uma grande quantidade de vitelo, adotam uma outra estratégia: a pla- centa, como veremos adiante, se torna a primeira diferenciação do embrião mamífero separando as células que irão formar a placenta. Esse órgão fornece alimento e oxigê- nio para o embrião durante sua longa gestação. No outro extremo estão os ovos dos insetos, peixes, répteis e aves. A maior parte do seu volume celular é vitelo. O vitelo deve ser o suficiente para nutrir esses animais, sendo que eles se desenvolvem sem um estágio larval ou placentário. A correlação entre grandes concentrações de vitelo e a falta do estado larval é conhecida em algu- mas espécies de rãs. Algumas rãs tropicais, tais como as Eleutherodactylus e a Arthroleptella não passam pelo estágio de girino. Ao contrário, eles provém seus ovos com quantidades enormes de concentração de vitelo(Lutz, 1947). Os ovos não necessitam ser colocados na água porque o estágio de girino foi eliminado. (Isso será discutido mais adiante no Capítulo 19.) No entanto, o vitelo é somente um fator influenciando o padrão de clivagem em uma espécie. Existem também padrões herdados de divisões celulares que são adicio- nados às restrições do vitelo. Isso pode ser prontamente observado em ovos isolécitos, nos quais muito pouco vitelo está presente. Na ausência de grandes quantidades de vitelo, quatro tipos principais de clivagem podem ser observados: holoblástica radial, holoblástica espiral, holoblástica bilateral e clivagem holoblástica rotacional. Clivagem holoblástica radial Clivagem holoblástica radial é a forma mais simples de clivagem de se entender. Nesse tipo de clivagem os sulcos têm orientação paralela e perpendicular ao eixo animal- vegetal do ovo. Esse tipo de clivagem é característico de equinodermos e do protocordato Amphioxus, assim como de rãs e salamandras. A holotúria, SynaptaA holotúria, SynaptaA holotúria, SynaptaA holotúria, SynaptaA holotúria, Synapta A clivagem padrão da holotúria, Synapta digita, é ilustrada na Figura 5.2. Após a união dos pronúcleos, o eixo da primeira haste mitótica é formado perpendicularmen- te ao eixo animal-vegetal do ovo. Para esse fim, o primeiro sulco da clivagem passa diretamente através dos pólos animal e vegetal, criando duas células filhas do mesmo tamanho. Essa clivagem é conhecida como meridional porque passa pelos dois pólos como um meridiano no globo. Os sulcos da segunda clivagem estão no ângulo reto dos sulcos da primeira clivagem, mas continuam perpendiculares ao eixo animal-ve- getal do ovo. Os dois sulcos da clivagem aparecem simultaneamente em ambos blastômeros e também passam pelos dois pólos. Dessa maneira, as primeiras duas divisões são, ao mesmo tempo, meridional e perpendicular uma com a outra. A terceira divisão é equatorial: as hastes mitóticas de cada blastômero estão agora em posição 170 PARTE II Padrões de Desenvolvimento Pólo animal Plano de clivagem meridional Plano de clivagem equatorial Pólo vegetal Metade Animal Pólo animal Metade Vegetal Blástula oca (aberta por corte) Pólo vegetal paralela ao eixo animal-vegetal, e o sulco resultante da clivagem separa os dois pólos um do outro, dividindo o embrião em oito blastômeros iguais. Cada blastômero na metade animal do embrião está agora diretamente acima do blastômero da metade vegetal. A quarta divisão é meridional novamente, produzindo duas fileiras de 8 células cada, enquanto a quinta divisão é equatorial, produzindo quatro fileiras de 8 células cada. Sucessivas divisões produzem embriões de 64,128 e 256 células, com divisões meridionais alternando com divisões equatoriais. Os embriões resultantes consistem de blastômeros dispostos em fileiras horizontais ao longo de uma cavidade central. Em ambos os pólos do embrião, os blastômeros se movem, uns em direção aos ou- tros, para criar uma esfera oca composta de uma única camada de células. Essa esfera oca é chamada de blástula, e a cavidade central é referida como blastocele. A qual- quer momento durante a clivagem da Synapta, um embrião seccionado através de qualquer meridiano produz a imagem refletida de duas metades. Esse tipo de simetria é característico de uma esfera ou cilindro e é chamada de simetria radial. Dessa manei- ra, Synapta tem clivagem holoblástica radial. OuriçoOuriçoOuriçoOuriçoOuriço-----dododododo-Mar-Mar-Mar-Mar-Mar O ouriço-do-mar também apresenta clivagem holoblástica radial, mas com algumas importantes modificações. A primeira e a segunda clivagem são similares as da Synapta; ambas são meridionais e perpendiculares em relação a outra. Similarmen- te, a terceira clivagem é equatorial, separando os dois pólos um do outro (Figura 5.3). Na quarta clivagem, no entanto, os eventos são bem diferentes. As quatro células da camada animal se dividem meridionalmente em oito blastômeros, cada qual com o mesmo volume. Essas células são chamadas mesômeros. A camada vegetal, no entanto, sofre uma clivagem equatorial desigual para produzir no pólo vegetal quatro células grandes, os macrômeros, e quatro pequenas, os micrômeros (Figura 5.4; Summers et al., 1993). Assim que a célula com 16 embriões clivar, os oito mesômeros se dividem para formar duas camadas “animais”, an 1 e an 2 , uma se equilibrando em cima da outra. Os macrômeros se dividem meridionalmente, for- mando uma camada de oito células abaixo de an 2 . Os micrômeros também se divi- dem, produzindo um pequeno grupo abaixo da camada maior. Todos os sulcos de clivagem da sexta divisão são equatoriais; a sétima clivagem é meridional, produzin- do uma blástula com 128 células. Figura 5.2Figura 5.2Figura 5.2Figura 5.2Figura 5.2 Clivagem holoblástica no equinodermo Synapta digita, levando à formação de uma blástula oca, conforme mostrado no corte (último painel). (Segundo Saunders, 1982.) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 171 (A) (B) (A) Pólo animal Pólo vegetal Metade animal Mesômeros derivados derivados Metade vegetal Micrômeros Macrômeros (B) (C) (D) an 1 an 2 veg 1 veg 2 Em 1939, Sven Hörstadius realizou um experimento simples demonstrando que o controle do tempo e colocação de cada clivagem de ouriço-do-mar é independente de clivagens preexistentes. Ele demonstrou que se inibisse a primeira, a segunda e tercei- ra clivagens, sacudindo os ovos, ou colocando-os em água do mar hipotônica, a clivagem desigual (quarta) que forma os micrômeros, ainda ocorreria no tempo apro- priado. Sendo assim, Hörstadius concluiu que existem três fatores que determinam a clivagem em um embrião de 8 células: (1) existem mudanças progressivas no citoplasma, Figura 5.3Figura 5.3Figura 5.3Figura 5.3Figura 5.3 Clivagem no ouriço-do-mar. (A) Planos de cli- vagem nas primeiras três divisões e formação de camadas particulares de células nas divi- sões 3-6. (B-D) Fotomicrografias de embriões vivos do ouriço-do-mar Lytechinus pictus, vi- são de cima para baixo do pólo animal. (B) O estágio de 2 células. (C) O estágio de 4 células. (D) O estágio de 32 células, mostrado sem a membrana de fertilização para permitir a vi- sualização dos mesômeros do pólo animal, os macrômeros centrais e dos micrômeros vege- tais em ângulo para o centro. (Fotografia cor- tesia de G. Watchmaker.) Figura 5.4Figura 5.4Figura 5.4Figura 5.4Figura 5.4 Formação de micrômeros durante a quarta di- visão de embriões de ouriços-do-mar. Os pó- los vegetais dos embriões são visualizados por baixo. (A) A localização e orientação do fuso mitótico na parte baixa das células vegetais são visualizadas com luz polarizada no em- brião vivo. (B) A clivagem através desses fu- sos, colocados assimetricamente, produziu mi- crômeros e macrômeros. (de Inoué, 1982, cor- tesia de S. Inoué.) 172 PARTE II Padrões de Desenvolvimento algum tempo após a fertilização, que direcionam os fusos formados para uma certa direção; (2) deve haver material formador de micrômero no citoplasma vegetal; e (3) deve haver algum mecanismo pelo qual o material formador de micrômeros seja ativa- do no tempo correto (Hörstadius,1973). No desenvolvimento do ouriço-do-mar, o estágio de blástula começa na fase de 128 células. Nesse estágio, as células formam uma esfera oca circundando a blastocele central (Figura 5.5A,B). Nessa altura, todas as células são do mesmo tamanho, os micrômeros tendo diminuída sua divisão celular e clivando menos freqüentemente. Toda a célula está em contato com o fluido proteináceo da blastocele e com a camada hialina dentro do envoltório de fertilização. Durante esse tempo, os contatos entre as células são estreitados. Dan-Sohkawa a Fujisawa (1980) analisaram esse método em embriões de estrela-do-mar e mostraram que o fechamento da cavidade esférica é contemporânea com a formação dejunções apertadas entre os blastômeros. Essas junções unem as células frouxamente conectadas num tecido epitelial onde a blastocele é isolada do ambiente externo (Figura 5.5C). Dando prosseguimento a sua divisão, a camada celular é expandida e se afina. Durante esse período, a blástula permanece como uma camada unicelular grossa. Duas teorias surgiram para explicar a concomitante proliferação de células e formação da blastocele. Dan (1960) conjeturou que o motivo maior dessa expan- são é o influxo de água na cavidade da blastocele. Já que o blastômero secreta proteína na blastocele, seu fluido torna-se espesso. Esse fluido absorve grandes quantidades de água por osmose, exercendo pressão nos blastômeros para se ex- pandirem. Essa pressão também alinha o longo eixo de cada célula para que a divisão nunca seja para dentro da blastocele. Isso criaria uma expansão adicional fazendo com que a população fosse orientada somente para um plano. Wolpert e Gustafson (1961) e Wolpert e Mercer (1963) propuseram que a pressão da blastocele não é necessária para se conseguir esse efeito. Eles enfatizaram o papel de adesividade das células entre si e a camada hialina. Eles mostraram que en- quanto permanecessem fortemente atracadas na camada hialina, as células não têm alternativa a não ser a de se expandir. Essa expansão cria a blástula ao invés do contrário. Certamente, a camada hialina é vital para expansão da blastocele, e se a adesão de células da camada hialina é inibida por anticorpos para a hialina, então a expansão da blastocele cessa (Adelson e Humphreys, 1988). Em um tra- balho recente (Ettensohn e Ingersoll, 1992) concluíram que é provável que ambos Figura 5.5Figura 5.5Figura 5.5Figura 5.5Figura 5.5 Blástulas de ouriço-do-mar. (A) Esquema de um corte controle através de uma blástula precoce de ouriço-do-mar, mostrando uma camada única de células arredondadas rodeando uma grande blastocele. (B) Com a contínua divisão, as células da blástula tardia mostram diferenças de forma à medida que as células da placa vegetal se alongam, (C) Junções apertadas (flecha) formando– se entre células de uma blástula de equinodermo com 1024 células. (A e B segundo Giudice, 1973; C de Dan-Sohkawa e Fujisawa, 1980, cortesia dos autores.) (B) Blástula mais velha com placa vegetal achatada e tufo ciliar Cílio Blastocele (A) Blástula jovem (C) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 173 (A) Crescente Cinzento (H) Blastocele (G)(F)(E) (B) (C) (D) mecanismos expandem a blastocele. Durante a clivagem precoce, a adesão à cama- da hialina parece ser o fator mais importante, enquanto que em estágios mais tardios, a pressão osmótica também parece exercer o seu papel. A células da blástula desenvolvem cílios em sua superfície externa (Figura 5.6), desse modo, causando a rotação da blástula dentro do envoltório de fertilização. Logo após, as células da parte animal do embrião sintetizam e secretam uma enzima de eclosão que lhes permite digerir a membrana fertilizante (Lepage et al., 1992), o em- brião se torna uma blástula eclodida livre para nadar. AnfíbiosAnfíbiosAnfíbiosAnfíbiosAnfíbios Clivagem na maioria dos embriões de rãs e salamandras é radialmente simétrica e holoblástica, como na clivagem do equinodermo. O ovo do anfíbio, no entanto, con- tém muito mais vitelo. Esse vitelo, que é concentrado no hemisfério vegetal, é um impedimento à clivagem. Sendo assim, a primeira divisão começa no pólo animal e vagarosamente se estende até a região vegetal (Figura 5.7). Na salamandra axolotle, o sulco da clivagem se estende através do hemisfério animal a uma velocidade próxima de 1mm/min. O sulco da clivagem seciona o crescente cinzento e depois diminui para menos de 0.02-0.03mm/min ao se aproximar do pólo vegetal (Hara, 1977). A Figura 5.8A é uma varredura no microscópio eletrônico, mostrando a primeira clivagem em um ovo de rã. Podemos notar as dobras nos sulcos da clivagem e a diferença entre os sulcos nos hemisférios animal e vegetal. A Figura 5.8B mostra que enquanto o sulco da primeira clivagem ainda está tentando clivar o vitelo citoplasmático do hemisfério vegetal, a segunda clivagem já começou próxima ao pólo animal. Essa clivagem está em ângulos retos em relação à primeira, e é também meridional. A terceira clivagem, como era de se esperar, é equatorial. No entanto, por causa do vitelo vegetalmente colocado, esse sulco da clivagem em ovos anfíbios é muito mais próximo do pólo animal. Ele divide o embrião de rã em quatro blastômeros animais pequenos (micrômeros) e quatro grandes blastômeros (macrômeros) na região vegetal. Essa clivagem holoblástica desigual estabelece duas regiões embrionárias principais: uma de divisão rápida de micrômeros, próxima ao pólo animal, e outra de macrômeros, mais lenta (Figura 5.8C). Assim que a clivagem progride, a região animal se torna abarrotada com numerosas células pequenas, enquanto a região vegetal contém uma pequena quantidade de grandes macrômeros carregados de vitelo (ver Figura 5.7). Embriões anfíbios contendo de 16 a 64 células são freqüentemente chamados mórulas (do Latim “amora”, da qual sua forma é vagamente reminiscente). No estágio de 128 células a blastocele se torna aparente e o embrião é considerado uma blástula. Figura 5.6Figura 5.6Figura 5.6Figura 5.6Figura 5.6 Células ciliadas da blástula. Cada célula desen- volve um único cílio. (Cortesia de W. J. Humphreys.) Figura 5.7Figura 5.7Figura 5.7Figura 5.7Figura 5.7 Clivagem de um ovo de rã. Sulcos de clivagem, designados por números romanos, estão enu- merados por ordem de aparecimento. (A, B) O vitelo vegetal impede a clivagem fazendo com que a segunda divisão comece na região animal do ovo, antes da primeira divisão ter dividido o citoplasma vegetal. (C) A terceira divisão é deslocada em direção ao pólo animal. (D-H) No final, o hemisfério vegetal contém blastômeros mais longos e mais escassos que os da metade animal. (Segundo Carlson, 1981.) 174 PARTE II Padrões de Desenvolvimento (B)(A) (A) (B) (C) Na realidade, a formação da blastocele foi traçada desde o primeiro sulco de clivagem. Kalt (1971) demonstrou que na rã Xenopus laevis o primeiro sulco da clivagem se alarga no hemisfério animal para criar uma pequena cavidade intercelular que é isolada do ambiente externo por junções intercelulares muito apertadas (Figura 5.9). Essa cavidade se expande durante clivagens subseqüentes para se tornar uma blastocele. A blastocele provavelmente presta duas principais funções no embrião das rãs: (1) é uma cavidade que permite migração celular durante a gastrulação, e (2) previne células que estão abaixo interagir prematuramente com as células de cima. Quando Nieuwkoop (1973) tirou células do topo da blastocele de um embrião de salamandra aquática e colocou-as junto a células do vitelo vegetal na base da blastocele, essas células animais se tornaram mesoderma ao invés de ectoderma. Como o tecido meso- dérmico é normalmente formado dessas células animais, que são adjacentes aos pre- cursores do endoderma, parece plausível que células vegetais influenciam células ad- jacentes para se diferenciar em tecidos mesodérmicos. Sendo assim, a blastocele apa- rece para prevenir o contato do endoderma com células destinadas para dar origem à pele e aos nervos. Enquanto essas células estão dividindo-se, numerosas células com moléculas de adesão mantêm as células juntas. Uma das mais importantes dessas moléculas é a EP- caderina. O mRNA para essa proteína é fornecido no citoplasma do oócito, e se essa mensagem é destruída (injetando no oócito oligonucleotídeos antisense complemen- tares para esse mRNA), a EP-caderina não é produzida e a adesão entre os blastôme- ros é dramaticamente reduzida (Heasman et al., 1994). Isso resulta na obliteração da blastocele (Figura 5.10). Figura 5.8Figura 5.8Figura 5.8Figura 5.8Figura 5.8 Micrografias ao microscópioeletrônico da clivagem de um ovo de rã. (A) Primeira clivagem. (B) Segunda clivagem (4 células). (C) Quarta clivagem (16 células), mostrando a discrepância de tamanho entre as células animais e vegetais aparecendo após a terceira divisão. (A de Beams e Kessel, 1976, cortesia dos autores; B e C cortesia de L. Biedler.) Figura 5.9Figura 5.9Figura 5.9Figura 5.9Figura 5.9 Formação da blastocele num ovo de rã. (A) Primeiro plano de clivagem mostrando uma pequena fenda, que posteriormente se desen- volve na blastocele. (B) embrião de oito célu- las mostrando uma pequena blastocele (fle- cha) na junção de três planos de clivagem. (de Kalt, 1971, cortesia de M. R. Kalt.) Sulco de clivagem Pregas CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 175 (B)(A) Clivagem holoblástica espiral Clivagem espiral é característica de vermes anelídeos, platelmintos turbelários, ver- mes nemertinos e todos os moluscos, exceto cefalópodos. Difere da clivagem radial em muitas maneiras. Primeiro, os ovos não se dividem em paralelo ou em orientações perpendiculares ao eixo animal-vegetal do ovo; de preferência, a clivagem se dá em ângulos oblíquos, formando a disposição “espiral” de blastômeros filhos. Segundo, as células se tocam entre si em mais lugares do que em embriões clivados radialmente. Na realidade, elas assumem o empacotamento com a orientação termodinamicamente mais estável, parecido com o de bolhas de sabão adjacentes (Figura 5.11). Terceiro, embriões de clivagem espiral normalmente realizam menos divisões antes de começar a gastrulação, tornando possível saber o destino de cada célula da blástula. Quando os destinos das células individuais em embriões de anelídeos, platelmintos turbelários e moluscos foram comparados, as mesmas células foram vistas no mesmo lugar e o seus destinos, de uma maneira geral, foram idênticos (Wilson, 1898). As blástulas então produzidas não têm blastocele e são chamadas de estereoblástulas. As Figuras 5.12 e 5.13 retratam a clivagem de embriões de moluscos. As duas primeiras clivagens são quase meridionais, produzindo quatro grandes macrômeros (marcados A, B, C e D). Em muitas espécies, os blastômeros são de tamanhos diferen- tes (D sendo o maior), uma característica que permite serem individualmente identifi- cados. Em cada sucessiva clivagem, cada macrômero origina um pequeno micrômero no seu pólo animal. Cada quarteto sucessivo de micrômeros é deslocado para a direita ou para a esquerda de seu macrômero irmão, criando um relacionamento espiral ca- racterístico da clivagem. Observando o embrião pelo pólo animal, as partes superiores do eixo mitótico parecem alternar entre o sentido horário e o anti-horário. Isso faz com que micrômeros alternados se formem obliquamente para a esquerda e para a direita do seu macrômero. Na terceira clivagem, o macrômero A dará origem a duas células filhas, macrômero 1A e micrômero 1a. As células B, C e D se comportam similarmente, produzindo o primeiro quarteto de micrômeros. Na maioria das espéci- es, os micrômeros estão à direita do seu macrômero (olhando para o pólo animal), uma disposição indicando uma espiral dextra (oposta à sinistra). Na quarta clivagem, Figura 5.10Figura 5.10Figura 5.10Figura 5.10Figura 5.10 Depleção de EP-caderina mRNA no oócito de Xenopus, resultando na perda de adesão entre os blastômeros e na obliteração da blastocele. Oligonucleotídeos antisense complementares à men- sagem da EP-caderina foram injetados no embrião unicelular, prevenindo a expressão da EP- caderina. A blastocele é obliterada em embriões depletados de EP-caderina, mas (B) não pelos controles. (de Heasman et al., 1994; fotografia, cortesia de J. Heasman.) Figura 5.11Figura 5.11Figura 5.11Figura 5.11Figura 5.11 Diagrama mostrando o arranjo de quatro e oito bolhas de sabão num prato ligeiramente côn- cavo. O arranjo termodinâmico maximiza o contato e é muito reminiscente daquele de em- briões que se clivam em espiral. (Segundo Morgan, 1927.) 176 PARTE II Padrões de Desenvolvimento (B) Vista lateral (A) Vista do pólo animal o macrômero 1A se divide para formar o macrômero 2A e o micrômero 2a; e o micrômero 1a se divide para formar mais dois micrômeros, 1a1 e 1a2. Mais clivagens irão produzir blastômeros 3A e 3a a partir do macrômero 2A; e micrômeros, como por exemplo o 1a2, se dividem para produzir células tais como as 1a21 e 1a22. A orientação da clivagem plana para a esquerda ou para a direita é controlada por fatores citoplasmáticos dentro do oócito. Isso foi descoberto analisando mutações da espiral do caracol. Alguns caracóis têm sua espiral aberta à direita da concha, enquan- to outros têm sua abertura para à esquerda. Normalmente, a rotação da espiral é a mesma para todos os membros de uma determinada espécie. Todavia, ocasionalmen- te, ainda são encontrados mutantes. Exemplificando, em espécies em que a espiral abre para a direita, serão encontrados alguns indivíduos com a abertura espiral para a esquerda. Crampton (1984) analisou os embriões desses caracóis aberrantes e obser- vou que sua clivagem precoce difere da normal. Figura 5.12Figura 5.12Figura 5.12Figura 5.12Figura 5.12 Clivagem em espiral do molusco Trochus vista do pólo animal (A) e de um lado (B). Em B, as células derivadas do blastômero A estão coloridas. Os fusos mitóticos, esquematizados nos estágios precoces, dividem as células de- sigualmente e em ângulo aos eixos vertical e horizontal. Figura 5.13Figura 5.13Figura 5.13Figura 5.13Figura 5.13 Clivagem espiral do caracol Ilyanassa. O blas- tômero D é maior que os outros, permitindo a identificação de cada célula. A clivagem é dextra. (A) estágio de 8 células. PB é o corpo polar. (B) Metade da quarta clivagem; os macrômeros já se dividiram em células grandes e pequenas orientadas espiralmente. (de Craig e Morrill, 1986, cortesia dos autores.) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 177 (A) Enrolamento sinistrogiro (B) Enrolamento dextrogiro A orientação das células após a segunda clivagem estava diferente (Figura 5.14), graças a uma orientação diferente do aparelho mitótico nos caracóis com enrolamento sinistrogiro. Todas as subseqüentes divisões em embriões de espiral para a esquerda são imagens espelhares daqueles embriões com espirais dextras. Na Figura 5.14, pode- mos notar que a posição do blastômero 4d (o qual é muito importante, já que sua progênie irá formar os órgãos mesodérmicos) é diferente nos dois tipos de espirais dos embriões. Geralmente, os dois caracóis são formados com seus corpos em lados diferentes da abertura da espiral. A direção da abertura na espiral da concha do caracol é controlada por um único par de genes (Sturtevant, 1923; Boycott et al., 1930). No caracol Limnaea peregra a maioria dos indivíduos são espiralados para a direita. Raros mutantes, exibindo aber- tura esquerda, foram encontrados e acasalados com caracóis tipo-selvagem. Esses acasalamentos mostraram que existe um alelo D “dextrogiro” que é dominante em relação ao alelo d “sinistrogiro”. No entanto, a direção da clivagem não é determinada pelo genótipo do caracol em desenvolvimento, mas pelo genótipo da mãe do caramujo. Caramujo fêmea do tipo dd pode produzir somente herdeiros de espiral sinistra, mes- mo quando o genótipo dos herdeiros é Dd. Um indivíduo Dd irá se espiralar tanto para a direita quanto para a esquerda dependendo do genoma de sua mãe. Esses cru- zamentos produzem o seguinte quadro: Figura 5.14Figura 5.14Figura 5.14Figura 5.14Figura 5.14 Olhando do pólo animal de caracóis enrolados para a direita e para a esquerda. A origem do enrolamento para direita e para a esquerda do caracol pode ser reconhecida pela orientação do fuso mitótico na segunda clivagem. Os caracóis sinistrogiros e dextrogiros se desenvolvem como imagens espelhares uma da outra. (Segundo Morgan, 1927.) 178 PARTE II Padrões de Desenvolvimento Os fatores genéticosenvolvidos no enrolamento do caracol são trazidos ao embrião no citoplasma do oócito. É o genótipo do ovário, no qual o fenótipo se desenvolve, que determina em que direção a clivagem vai ocorrer. Quando Freeman e Lundelius (1982) injetaram no ovo de mães dd, uma pequena quantidade de cito- plasma proveniente de caracóis com espirais dextras, os embriões resultantes apre- sentaram espirais para a direita. Citoplasmas de caracóis com espiral esquerda não afetaram os embriões com a espiral direita. Isso confirma a observação que mães do tipo selvagem estavam colocando um fator em seus ovos que estava ausente ou defeituoso nas mães dd. [cleave1.html] Outra descoberta emocionante com relação a clivagem dos moluscos está na co- municação entre os blastômeros. Nos moluscos de blastômeros de igual tamanho no estágio de quatro células*, a determinação de que a célula que originará a célula pre- cursora mesodérmica será alcançada entre a quinta e a sexta clivagem. Nessa altura, o macrômero 3D se estende para dentro entrando em contato com os micrômeros do pólo animal. Sem esse contato, a célula 4d produzida pelos macrômeros 3D não pro- duz mesoderma (van den Biggelaar e Guerrier, 1979). Injetando corantes de baixo peso molecular, de Laat e colegas (1980) demonstraram que na hora do contato (e não antes), pequenas moléculas são capazes de difundirem-se entre os macrômeros 3D e os micrômeros centrais. Imagens ao microscópio eletrônico mostram que nesse momento, aparecem junções de fenda na superfície dessas células. *Não se preocupe, daremos no Capítulo 16 mais informações sobre embriões de moluscos com blastômeros de tamanhos desiguais. Adaptação pela modificação da clivagem embrionária Informações adicionais Especulações& tos são sedentários e as larvas que nadam livremente seriam sempre carregadas cor- renteza abaixo. Essas ostras, no entanto, re- solveram esse problema efetuando duas mo- dificações no seu desenvolvimento. A pri- meira altera a clivagem embrionária. Na típi- ca clivagem dos moluscos, ou todos os macrômeros são iguais em tamanho, ou o blastômero 2D é a maior célula no estágio embrionário. No entanto, a divisão desse Unio é tal que o blastômero 2d fica com a maior parte do citoplasma (Figura 5.15). Essa célula se divide para produzir a maior parte das estruturas larvais, incluindo uma glân- VOLUÇÃO é causada pela altera- ção hereditária do desenvolvimen- to embrionário. Às vezes, somos dula capaz de produzir uma concha maciça. Essas larvas (chamadas gloquídias) asse- melham-se a pequenas armadilhas para urso; possuem pêlos sensíveis que permi- tem as válvulas da concha fecharem-se abruptamente quando tocadas pelas guel- E capazes de identificar uma modificação da embriogênese que impediu o organismo de sobreviver diferentemente em ambientes hostis. Uma dessas modificações, descober- ta por Frank Lillie em 1898, é causada pela alteração do padrão típico da clivagem es- piral na família unionídeo das ostras. Ao contrário da maioria das ostras, Unio e seus aparentados vivem em locais de água corrente. As correntes criam um problema para a dispersão das larvas, porque os adul- Figura 5.15Figura 5.15Figura 5.15Figura 5.15Figura 5.15 Formação de larvas de gloquídia pela modificação da clivagem em espiral. Após formação do embrião de 8 células (A), a dispo- sição do fuso mitótico motiva a maioria do citoplasma D penetrar no blastômero 2d (B). Esse blastômero grande 2d se divide (C), para finalmente originar a grande concha “armadi- lha de urso” da larva (D). (Segundo Raff e Kaufman, 1983.) (B)(A) (C) (D) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 179 Pólo vegetal Pólo vegetal Vista do pólo vegetal (A (B) (C) (D) Ectoderma Ectoderma neural Músculo Notocorda Mesênquima Endoderma ras ou barbatanas dos peixes que por ali estiverem passando. Elas “pegam uma ca- rona” com o peixe até estarem prontas para cair e, através de metamorfose, transformar- se em moluscos adultos. Dessa maneira, podem se espalhar correnteza acima. Em algumas espécies, as gloquídias são liberadas da bolsa de criação da fêmea e meramente aguardam um peixe passar. Ou- tras espécies, tal como a Lampsilis ventri- cosa, aumentaram as chances de suas lar- vas encontrarem um peixe realizando outra modificação no seu desenvolvimento (Welsh, 1969). Muitos moluscos desenvol- vem um manto fino e saliente em volta da concha circundando a bolsa de criação. Em alguns unionídeos, a forma da bolsa de cri- ação (marsúpio) e as ondulações do manto imitam o comportamento e a forma de pe- quenos peixes nadando. Para tornar a ilu- são mais completa, desenvolveram uma mancha preta em forma de olho (ocelo) de um lado e uma nadadeira do outro. O “pei- xe” visto na Figura 5.16 não é um peixe real, mas sim a bolsa de criação e o manto abaixo dela. Quando o peixe que estiver ao alcance for atraído, o molusco despeja as gloquídias da bolsa de criação. Dessa maneira, a modi- ficação de padrões de comportamentos já existentes permitiram moluscos unionídeos sobreviver em ambientes hostis. Clivagem Holoblástica BilateralClivagem Holoblástica BilateralClivagem Holoblástica BilateralClivagem Holoblástica BilateralClivagem Holoblástica Bilateral Clivagem holoblástica bilateral é encontrada primariamente nos ascídios (tunicados). A Figura 5.17 mostra a clivagem padrão de um tunicado, Styela partita. O fenômeno mais admirável nesse tipo de clivagem é que o primeiro plano de clivagem estabelece o único plano de simetria no embrião, separando o embrião do que será o seu futuro lado direito e esquerdo. Cada divisão sucessiva orienta-se em relação a esse plano de simetria, e o meio embrião formado de um lado da primeira clivagem é a imagem espelhar do meio embrião do outro lado. A segunda clivagem é meridional, como a primeira divisão; mas ao contrário da primeira divisão, não passa através do centro do ovo. Em vez disso, ela cria duas grandes células anteriores (blastômeros A e D) e duas peque- nas células posteriores (blastômeros B e C). Cada lado tem agora um blastômero grande e um pequeno. Durante as três próximas divisões, as diferenças no tamanho e na forma destacam a simetria bilateral desses embriões. No estágio de 32 células, uma pequena blastocele se forma e começa a gastrulação. Como foi mencionado no capítulo 4, certos tunicados (incluindo S. partita) con- têm regiões citoplasmáticas coloridas. Durante a clivagem, essas se tornam fracionadas em células diferentes. Além do mais, o tipo de citoplasma que a célula recebe determi- na seu destino. Células recebendo citoplasmas claros se tornam ectoderma; aquelas contendo citoplasma amarelo se transformam em células mesodérmicas; as células Figura 5.16Figura 5.16Figura 5.16Figura 5.16Figura 5.16 Simetria bilateral em um ovo de tunicado. (A) Ovo não-clivado, mostrando os desti- nos das várias regiões citoplasmáticas. (B) embrião de oito células, mostrando os blas- tômeros e os destinos das várias células. Pode ser visualizado como duas metades de 4 células; daqui em diante, cada divisão no lado direito do embrião tem uma divisão espelhar do lado esquerdo. (C, D) Vistas de embriões mais tardios do pólo vegetal. (As regiões do citoplasma destinadas a formar determinados órgãos estão marcadas em A e são codificadas por cor em todo o diagra- ma.) (Segundo Balinsky, 1981.) Figura 5.16 Figura 5.16 Figura 5.16 Figura 5.16 Figura 5.16 Peixe falso sobre o molusco unionídeo lampsilis ventricosa. O “peixe” é, na verdade, a bolsa da cria e o manto do molusco. (Fotografia, cortesia de J. H. Welsh.) 180 PARTE II Padrões de Desenvolvimento Estágio precoce da implantação Estágio de 2 células Zona pelúcida Útero Primeira clivagem Mórula Oviduto Blastocisto Ovário Fertilização Ovulação que incorporam inclusões ardósia se tornam endoderma e ascélulas cinza claro, o tubo neural e a notocorda. Esses plasmas coloridos estão localizados bilateralmente em volta do plano de simetria e, assim, eles serão divididos pelo sulco da primeira clivagem em metades direita e esquerda do embrião. A segunda clivagem motiva o provável mesoderma se posicionar nas duas células posteriores, enquanto o provável tubo neural e cordomesoderma serão formados pelas duas células anteriores. Mais adiante, a terceira divisão irá repartir essas regiões citoplasmáticas, de modo que as células formadoras do mesoderma são confinadas aos dois blastômeros vegetais pos- teriores, e as células do cordomesoderma são restritas as duas células vegetais anteri- ores. O destino de cada célula do embrião precoce de Styela tem sido acompanhado e será discutido em detalhe no Capítulo 13. Clivagem holoblástica rotacional Não é surpresa alguma que o estudo da clivagem em mamíferos tenha-se tornado um desafio. Os ovos de mamíferos estão entre os menores do reino animal, tornando difícil seu manuseio experimental. O zigoto humano, por exemplo, tem somente 100 µm de diâmetro, praticamente invisível, sendo seu volume menor de um milésimo do ovo de Xenopus. Também, zigotos de mamíferos não são produzidos em números comparáveis aos embriões do ouriço-do-mar ou de rãs. Normalmente, menos de 10 ovos são ovulados por uma fêmea em um determinado tempo, tornando difícil a ob- tenção de material para estudos bioquímicos. E como uma barreira final, o desenvol- vimento dos embriões dos mamíferos se completa dentro de outro organismo ao invés de um ambiente externo. Só recentemente foi possível a duplicação de algumas dessas condições internas e observar o desenvolvimento in vitro. Com todas essas dificuldades, valeu a pena esperar o conhecimento da clivagem de mamíferos, já que a clivagem nos mamíferos é completamente diferente de ou- tros padrões de divisão celular embrionária. O oócito dos mamíferos é liberado pelo ovário e varrido pelas fímbrias até o oviduto (Figura 5.18). A fertilização ocorre na ampola do oviduto, região próxima ao ovário. A meiose é então completada, e a primeira clivagem começa um dia depois. A clivagem nos mamíferos está entre as mais lentas do reino animal – de 12 a 24 horas de separação. Enquanto isso, os cílios no oviduto empurram o embrião em direção ao útero; a primeira clivagem ocorre durante essa jornada. Existem várias características da clivagem dos mamíferos que as distinguem de outros tipos de clivagem. A primeira é relativa a lentidão das divisões. A segunda diferença fundamental é a singular orientação dos blastômeros dos mamíferos um em relação ao outro. A primeira clivagem é uma divisão meridional normal; no entanto, na Figura 5.18Figura 5.18Figura 5.18Figura 5.18Figura 5.18 Desenvolvimento de um embrião humano des- de a fertilização até a implantação. A compac- tação em embriões humanos ocorre no dia 4, quando ele está no estágio de 10 células. O ovo “eclode” da zona quando alcança o útero, e é provável que a zona evite a adesão das células em clivagem de se colarem ao oviduto, em lu- gar de viajar para o útero. (Segundo Tuchmann- Duplessis et al., 1972.) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 181 (A) (B) (C ) (D) (E) (F) (B) MAMÍFERO (Coelho) Plano de clivagem II Plano de clivagem I Plano de clivagem IIA Plano de clivagem I Plano de clivagem IIB (A) EQUINODERMO (Ouriço-do-mar) segunda clivagem um dos dois blastômeros se divide meridionalmente e o outro se divide equatorialmente (Figura 5.19). Esse tipo de clivagem é chamada de clivagem rotacional (Gulyas, 1975). A terceira principal diferença entre a clivagem nos mamíferos e a da maioria dos outros embriões é marcada pela falta de sincronização das divisões precoces. Os blastômeros de mamíferos não se dividem ao mesmo tempo. Dessa maneira, embriões de mamíferos não aumentam por igual do estágio de 2 para 4 e para 8 células, mas freqüentemente contêm números ímpares de células. Também, diferente dos outros genomas animais, o genoma mamífero é ativado durante a clivagem precoce, sendo o responsável pela produção de proteína necessária para a clivagem. No camundongo e na cabra, a mudança do controle maternal para o zigótico ocorre no estágio de duas células (Piko e Clegg, 1982; Prather 1989). [cleave2.html] CompactaçãoCompactaçãoCompactaçãoCompactaçãoCompactação Talvez a diferença mais crucial entre a clivagem de mamífero e todos os outros tipos envolva o fenômeno da compactação. Como mostra a Figura 5.20, blastômeros mamí- feros, atravessando o estágio de 8 células, formam um arranjo solto com espaço sufi- ciente entre eles. Seguindo a terceira clivagem, no entanto, os blastômeros passam Figura 5.19Figura 5.19Figura 5.19Figura 5.19Figura 5.19 Comparação da clivagem precoce (A) em equinodermos (clivagem radial) e (B) em mamí- feros (clivagem rotacional). Nematóides também têm uma forma rotacional de clivagem, porém, não formam a estrutura blastocística caracterís- tica dos mamíferos. Detalhes sobre a clivagem dos nematóides serão fornecidos no Capítulo 13. (Segundo Gulyas, 1975.) Figura 5.20Figura 5.20Figura 5.20Figura 5.20Figura 5.20 Clivagem de um único embrião de camundon- go in vitro. (A) estágio de 2 células. (B) estágio de 4 células. (C) início do estágio de 8 células. (D) Estágio de 8 células compactado. (E) Mórula. (F) Blastocisto. (de Mulnard, 1967, cortesia de J. G. Mulnard.) 182 PARTE II Padrões de Desenvolvimento (A) (B) por uma mudança espetacular em seu comportamento. De repente, se amontoam, maximizando seu contato com outros blastômeros, formando uma bola compacta de células (Figuras 5.20C,D e 5.21). Esse pacote é estabilizado por junções apertadas que se formam entre as células, selando o interior da esfera (Figura 5.22). As células no interior da esfera formam junções com espaços, desse modo, permitindo pequenas moléculas e íons passarem entre elas. As células do embrião compactado se dividem para produzir uma mórula de 16 células. Essa mórula consiste de um pequeno grupo de células internas rodeadas por um grupo maior de células externas (Barlow et al.,1972). A maior parte dos descen- dentes das células externas se tornam células do trofoblasto (trofectoderma). Esse grupo de células não produz estruturas embrionárias. Ao invés disso, formam o tecido do cório, a parte embrionária da placenta. O cório permite ao feto conseguir oxigênio e nutrientes da mãe. Também secreta hormônios para que o útero da mãe retenha o feto e produza reguladores de resposta imune, fazendo com que a mãe não rejeite o embrião como faria com um órgão transplantado. No entanto, células do trofoblasto não são capazes de produzir células do próprio embrião. Elas são necessárias para implantar células do embrião na parede uterina (Figura 5.23). O embrião do camundongo é derivado dos descendentes das células internas do estágio de 16 células, suplementada por células divididas do trofoblasto durante a transição para o estágio de 32 células (Pedersen et al., 1986; Fleming, 1987). Essas células geram a massa celular interna que dará origem ao embrião, acompanhada da bolsa com vitelo, alantóide e âmnio. Essas células não aparentam ser somente diferen- tes das células do trofoblasto, mas também sintetizam proteínas diferentes nesse está- gio do desenvolvimento precoce. Durante o estágio de 64 células, a massa celular interna (aproximadamente 13 células) e as células do trofoblasto se tornam camadas de células separadas, nenhuma delas contribuindo para células do outro grupo (Dyce et al., 1987; Fleming, 1987). Dessa forma, a distinção entre os blastômeros do trofo- blasto e da massa celular interna representa o primeiro evento diferenciado no desen- volvimento dos mamíferos. Inicialmente, a mórula não tem uma cavidade interna. No entanto, durante um processo chamado cavitação, a célula do trofoblasto secreta um fluido paradentro da mórula para criar a blastocele. A massa celular interna fica posicionada de um lado do anel de células do trofoblasto (veja Figuras 5.20, 5.22 e 5.23). Essa estrutura é chamada blastocisto e é outro marco da clivagem de mamíferos. Figura 5.21Figura 5.21Figura 5.21Figura 5.21Figura 5.21 Micrografia ao microscópio eletrônico de embriões de camundongos de 8 células. (A) não- compactados e (B) compactados. (Cortesia de C. Ziomek.) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 183 Figura 5.22Figura 5.22Figura 5.22Figura 5.22Figura 5.22 Compactação e formação do blastocisto de camundongo. (A,B) embrião de 8 células, (C) mórula de 16 células, (D) blastocisto de 32 células. O lado esquerdo representa o organis- mo inteiro ou sua visão em corte. O lado direi- to detalha as mudanças associadas com o ama- durecimento do trofoblasto. (Figuras à direita segundo Fleming, 1992.) Proteínas da membrana Microtúbulos e actina Mitocôndrias apical citoplasmática (A) Estágio precoce de 8 células: não-polar, porém com efeitos de contato local (B) Compacto de 8 células: polar, correntes iônicas. Basolateral: adesão de E-caderina; junções de fendas, ZO-1. Microtúbulos acetilados. Apical: microvilosidades, actina cortical, endossomos, actina citoplasmática, microtúbulos Apical Junções apertadas Lateral Basal (C) 16 células: Adesão basolateral intensificada, laminina, cingulina, mitocôndria, vesículas lipídicas. Basal: lisossomos, Golgi Junções apertadas entre células exteriores Junções de fendas entre células interiores (D) 32 células: transporte vetorial de fluido. Basolateral: desmossomos. Basal: Na+, K+ - ATPase. Apical: transportadores e canais Microvilosidades Massa celular interna (ICM) Blastocele Trofoblasto E-caderinaDesmossomos Desmossomos Junções apertadas (ZO-1) Direção da corrente iônica Lisossomos secundários (ZO-1) + cingulina Na+, K+ - ATPase Golgi Actina cortical Junções de fendas Filamentos de Microvilosidades citoqueratina 184 PARTE II Padrões de Desenvolvimento (A) (B) A Superfície da Célula e o Mecanismo de Compactação Informações adicionais Especulações& OMPACTAÇÃO CRIA AS cir- cunstâncias que trazem á tona a pri- meira diferenciação no desenvolvi- bém conhecida como uvomorulina), uma glicoproteína adesiva de 120-kDa, sinteti- zada no estágio de 2 células é distribuída uniformemente por toda a membrana celu- lar. No entanto, com a ocorrência da compactação, a E-caderina se torna restrita aqueles sítios da membrana celular que es- tão em contato com os blastômeros adjacen- tes. Anticorpos para essa molécula causam a descompactação da mórula (Figura 5.25; Peyrieras et al., 1983; Johnson et al., 1986). A porção de carboidrato dessa glicoproteí- na pode ser essencial para o seu funciona- mento, sendo a tunicamicina (droga que ini- be a glicosilação das proteínas) também é capaz de prevenir a compactação. Experimentos recentes mostraram que a via do fosfatidilinositol também pode ser importante para inicializar a compactação. Se embriões de 4 células de camundongo forem colocados em um meio contendo dro- gas que ativam a proteína quinase C, ocorre compactação prematura. Similarmente diacilglicerídeos podem momentaneamen- te provocar a compactação de embriões de 4 células. Quando isso ocorre, a E-caderina acumula-se especificamente nas junções entre os blastômeros (Winkel et al., 1990). Esses resultados sugerem que a ativação da proteína quinase C pode iniciar a compac- tação mudando a localização da E-caderina. E finalmente, a membrana celular pode também ser modificada durante a compac- tação, por meio de reorganização do citoes- queleto. As microvilosidades, extendidas C mento de mamíferos: a separação do trofo- blasto da massa celular interna. Como isso é feito? Existe uma crescente evidência que a compactação é realizada por intermédio de eventos que ocorrem na superfície das célu- las dos blastômeros adjacentes. No primeiro estágio da compactação, cada um dos oito blastômeros interage com os seus vizinhos para sofrer polarização da membrana. Componentes diferentes da superfície das cé- lulas migram para regiões diferentes da cé- lula (veja Figura 5.22; Ziomek e Johnson, 1980). Isso pode ser observado, marcando certas moléculas da superfície celular com corantes fluorescentes. Uma dessas marca- ções, que reconhece a classe das glicoprote- ínas, mostra que no estágio de 4 células, es- sas glicoproteínas são aleatoriamente distri- buídas por toda a membrana (Figura 5.24A). No entanto, na metade do estágio de 8 célu- las, essas moléculas são encontradas predo- minantemente nos pólos mais distantes do centro do agregado (Figura 5.24B). A pola- rização da membrana é influenciada por in- terações célula a célula porque acontece so- mente quando a célula está em contato, no mínimo, com um outro blastômero. Se um blastômero for separado do resto do embrião perde sua polarização. Proteínas específicas da superfície ce- lular cumprem o seu papel na compactação. Uma dessas moléculas, E-caderina (tam- Figura 5.23Figura 5.23Figura 5.23Figura 5.23Figura 5.23 Implantação de blastocistos de mamíferos no útero. (A) Blastocistos de camundongo entrando no útero. (B) Implantação inicial do blastocisto no útero de um macaco Rhesus. (A de Rugh, 1967; B cortesia da Carnegie Institution of Washington, Chester Reather, fotógrafo.) Figura 5.24Figura 5.24Figura 5.24Figura 5.24Figura 5.24 Polarização de componentes da membrana em blastômeros de camundongo durante o estágio de 8 células. (A) Distribui- ção homogênea, não-polar, de componentes da membrana marcados com concanavalina A fluorescente no estágio de 4 células. (B) Dis- tribuição heterogênea, polar, desses compo- nentes no estágio de 8 células. (A de Fleming et al., 1986; B de Levy et al., 1986. Fotografi- as cortesia dos autores.) (A) (B) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 185 por actino-filamentos, aparecem na superfí- cie de células adjacentes, unindo uma célu- la à outra. Essas microvilosidades podem ser os sítios onde a E-caderina está funcio- nando para mediar adesão intercelular. O achatamento dos blastômeros um contra o outro pode, portanto, ter acontecido em vir- tude do encolhimento do blastômero atra- vés da despolimerização da actina (Pratt et al., 1982; Sutherland e Calarco-Gillam, 1983). Dessa maneira, existem evidências cres- centes de que a compactação é causada por mudanças na arquitetura da superfície celular dos blastômeros. No entanto, não está totalmente certo como esses eventos se relacionam um com o outro, ou como são coordenados e integrados na cadeia de eventos que causa a compactação. Formação da massa celular internaFormação da massa celular internaFormação da massa celular internaFormação da massa celular internaFormação da massa celular interna O processo crucial para o precoce desenvolvimento dos mamíferos é a criação da massa celular interna distinta do trofoblasto. Como a célula é direcionada para um ou outro desses caminhos? Como a célula é informada que dará origem a uma porção do mamífero adulto ou que dará origem a um singular tecido de sustentação que será descartado no nascimento? As observações de embriões vivos sugerem que essa im- portante decisão está meramente no fato de a célula estar no lugar certo na hora certa. Até o estágio de 8 células, não existem diferenças óbvias na bioquímica, morfologia ou potência de qualquer um dos blastômeros. No entanto, a compactação forma célu- las internas ou externas com propriedades muito diferentes. Marcando os vários blas- tômeros, muitos investigadores descobriram que as célulasque estavam do lado de fora formariam o trofoblasto, enquanto que as células do lado de dentro formariam o embrião (Tarkowski e Wróblewska,1967; Sutherland et al.,1990).*Hillman e colegas (1972) mostraram que quando cada blastômero de um embrião de camundongo de 4 células é colocado na superfície externa de uma massa de blastômeros agregados, as células externas transplantadas somente darão origem ao tecido trofoblasto. Portanto, a opção da célula transformar-se em trofoblasto ou embrião depende se essa célula era externa ou interna após a compactação. FFFFFuga da Zona Puga da Zona Puga da Zona Puga da Zona Puga da Zona Pelúcidaelúcidaelúcidaelúcidaelúcida Enquanto o embrião está se movendo através do oviduto, rumo ao útero, o blastocis- to se expande dentro da zona pelúcida (a matriz extracelular do óvulo foi essencial para a ligação do espermatozóide durante a fertilização). As membranas celulares das células trofectodérmicas contêm uma bomba para o sódio (a Na+/K+-ATPase) de fren- te para a blastocele; as proteínas bombeiam sódio para a cavidade central. Essa acu- mulação de íons de sódio permite que a água entre por osmose, dessa maneira, dila- tando a blastocele (veja Figura 5.22; Borland, 1977; Wiley, 1984). Durante esse perío- do, é essencial que a zona pelúcida previna o blastocisto de aderir às paredes do oviduto. Quando tal aderência acontece em humanos, é chamada de ectópica ou Figura 5.25Figura 5.25Figura 5.25Figura 5.25Figura 5.25 Prevenção da compactação por anti-soro contra a glicoproteína da superfície celular, E-caderina, promotora da adesão. (A) Compactação normal ocorrendo em ausência do anti-soro. (B) Proli- feração sem compactação ocorrendo na presença de anticorpos contra a E-caderina. (Fotografias cortesia de C. Ziomek.) * As células internas mostraram virem mais freqüentemente da primeira célula a se dividir no estágio de 2 células. Essa célula normalmente produz o primeiro par de blastômeros a alcançar o estágio de 8 células, e essas células se dividem de tal modo que elas estão soltas dentro dos blastômeros agregados (Graham e Kelly, 1977). (A) (B) 186 PARTE II Padrões de Desenvolvimento gravidez tubária. Essa condição é especialmente grave, porque a implantação do embrião no oviduto pode causar uma hemorragia com perigo de morte. Quando o embrião alcança o útero, no entanto, ele deve “livrar-se” da zona pelúcida para que possa aderir à parede uterina. O blastocisto do camundongo se livra da zona pelúcida perfurando um pequeno buraco e se espremendo através dele enquanto se expande (Figura 5.26). Uma protease semelhante à tripsina, a estripsina, localizada na membrana celular lisa a matriz fibrilar da zona pelúcida (Perona e Wassarman, 1986; Yamazaki e Kato, 1989). Uma vez fora, o blastocisto pode fazer contato direto com o útero. O epitélio uterino “agarra” o blastocisto em uma matriz extracelular contendo colágeno, laminina, fibronectina, ácido hialurônico e receptores heparan sulfato. As células do trofoblasto contêm os elemen- tos que irão se juntar ao colágeno uterino, fibronectina e laminina; eles sintetizam o proteoglicano heparan sulfato dramaticamente no momento anterior à implantação (veja Carson etal., 1983). Uma vez na célula epitelial uterina, o trofoblasto secreta outro conjunto de proteases, incluindo colagenase, estromelisina e ativador de plasminogênio. Essas enzimas digestoras de proteínas digerem a matriz extracelular do tecido uterino, impedindo o blastocisto de cobrir a si mesmo com a parede uterina (Strikland et al., 1976; Brenner et al.,1989). Figure 5.26Figure 5.26Figure 5.26Figure 5.26Figure 5.26 Blastocisto de camundongo eclodindo da zona pelúcida. (Fotografia de Mark et al., 1985, cor- tesia de E. Lacy.) Gêmeos e células embrionárias precursoras Informações adicionais Especulações& S CÉLULAS PRECOCES do em- brião podem substituir uma à outra e compensar uma célula Gêmeos humanos são classificados em dois grandes grupos: gêmeos mono- zigóticos (um ovo ou idênticos) e gême- os dizigóticos (dois ovos ou fraternos). Gêmeos fraternos são o resultado de dois eventos separados de fertilização, ao pas- so que, gêmeos idênticos são formados de um único embrião cujas células, de al- guma forma, dissociam uma da outra. Gê- meos idênticos são provavelmente pro- duzidos pela separação de blastômeros precoces ou mesmo pela separação da massa celular interna em duas regiões no mesmo blastocisto. [cleave3.html] Casos de gêmeos idênticos ocorrem em aproximadamente 25% dos nascimentos humanos. Cerca de 33 % dos gêmeos idên- ticos têm dois córios completos e separa- dos, indicando que a separação ocorreu antes da formação do tecido trofoblasto, no quinto dia (Figura 5.27A). O restante dos gêmeos idênticos compartilham do mesmo cório, sugerindo que a separação ocorreu dentro da massa celular interna, após a formação do trofoblasto. No nono dia, o embrião humano já completou a cons- trução de uma outra camada extra-embrio- nária, o âmnio. Esse tecido forma a bolsa amniótica (ou bolsa de água), envolvendo o embrião com fluido amniótico, protegen- do-o da dessecação e movimentos brus- cos (veja Capítulo 6). Se a separação do embrião acontecesse após a formação do cório, no quinto dia, mas antes da forma- ção do âmnio, no nono dia, os embriões resultantes deveriam ter um cório e dois âmnios (Figura 5.27B). Isso acontece em aproximadamente dois terços dos casos de gêmeos humanos idênticos. Uma pequena porcentagem de gêmeos idênticos nascem com um único cório e âmnio (Figura 5.27C). Isso significa que a divisão do embrião aconteceu após o nono dia, e tais recém- nascidos correm o risco de serem gêmeos ligados (“Siameses”). [cleave4.html] A habilidade de produzir um embrião completo, a partir de células que normal- mente iriam produzir somente uma porção, é chamada de regulação e é discutida no Capítulo 15. Regulação é também vista na habilidade que dois ou mais embriões pre- coces têm para formar um camundongo qui- mérico ao invés de gêmeos, trigêmeos ou um monstro de múltiplas cabeças. Camun- A ausente. Isso foi primeiramente demons- trado em 1952, quando Seidel destruiu uma célula de um embrião de coelho e demonstrou que a célula remanescente poderia produzir o embrião por inteiro. Uma vez que a massa celular interna (ICM) se separou do trofoblasto, as cé- lulas da ICM constituem um “grupo de equivalência” onde cada célula da ICM tem a mesma potência (nesse caso, cada célula pode originar todos os tipos de células do embrião, menos o trofoblas- to), e seus respectivos destinos serão determinados por interações entre os seus descendentes. Gardiner e Rossant (1976) também mostraram que se as célu- las da massa celular interna (mas não cé- lulas do trofoblasto) são injetadas no blastocisto, também contribuem para um novo embrião. Já que seus blastômeros podem gerar qualquer tipo de célula no corpo, a massa celular interna tem sido referida, às vezes, como pluriblasto (Johnson e Selwood, 1996). CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 187 Embrião Saco vitelínico 2 Córios Âmnio (A) Massa celular interna 2 Âmnios 1 Cório (B) 2 Âmnios 1 Cório Embrião bicelular Blastocele (C) 1 Âmnio Cório dongos quiméricos são o resultado de duas ou mais clivagens precoces (normalmente 4- ou 8-células) de embriões que foram agre- gados artificialmente para formar um embrião composto. Como é mostrado na Figura 5.28A, as zonas pelúcidas de dois embriões geneticamente diferentes são removidas e os embriões são unidos para formar um blastocisto em comum. Esses blastocistos preparados são implantados no útero da mãe adotiva. Quando nascem, os descendentes quiméricos têm algumas células de cada em- brião. Isso é prontamente observado quan- do os blastômeros agregados vêm de uma linhagem que difere na cor da pelugem. Quando blastômeros de linhagempreta e branca são agregados o resultado é normal- mente um camundongo malhado (Figura 5.28B). Existe até evidência que embriões humanos podem formar quimeras (de la Chappelle et al.,1974; Mayr et al.,1979). Es- ses indivíduos têm dois tipos de células di- ferentes (XX e XY) dentro do mesmo cor- po, cada uma com o seu conjunto de carac- terísticas genéticas. A explicação mais sim- ples para tal fenômeno é que esses indiví- duos resultaram da agregação de dois em- briões, um macho e outro fêmea, que esta- vam se desenvolvendo ao mesmo tempo. Se essa explicação estiver correta, então dois gêmeos fraternos se fundem para criar um único indivíduo composto. Markert e Petters (1978) mostraram que embriões precoces de 8-células podem se unir para formar uma mórula compactada comum (Figura 5.29) e que o camundon- go resultante pode ter a cor da pelugem de três linhagens diferentes (prancha 21). Além disso, eles mostraram que cada um dos três embriões deram origem a precur- sores dos gametas. Quando um quiméri- co (preto/marrom/branco) fêmea de ca- mundongo acasalava com um macho de pelugem de cor branca (recessivo), a ni- nhada era um de cada cor. De acordo com nossas observações sobre formação de gêmeos e camundon- gos quiméricos, cada blastômero da mas- sa celular interna deve ser capaz de pro- duzir qualquer célula do corpo. Essa hi- pótese tem sido confirmada, e terá impor- tantes conseqüências no estudo do de- senvolvimento dos mamíferos. Quando as massas celulares internas são isoladas e crescem sob certas condi- ções, permanecem indiferentes e continu- am a se dividir em cultura (Evans e Kaufman, Figura 5.27Figura 5.27Figura 5.27Figura 5.27Figura 5.27 Diagrama mostrando a relação entre a formação de gêmeos monozigóticos humanos e as mem- branas extra-embrionárias. (A) A cisão ocorre antes da formação da trofectoderma, de modo que cada gêmeo tem o seu próprio cório e âmnio. (B) A cisão ocorre após a formação da trofectoderma, porém, antes da formação do âmnio, resultando em gêmeos que têm sacos amnióticos individu- ais, porém, compartilhando um cório. (C) Cisão após a formação do âmnio conduz a gêmeos em um saco amniótico, e um único cório. (Segundo Langman, 1981.) 188 PARTE II Padrões de Desenvolvimento (A) (B) Pronase Zona pelúcida Blastômeros Blastocisto Blastocistos implantados na mãe de criação (A) (B) (C ) 1981; Martin, 1981). Essas células são cha- madas de células-tronco embrionárias (cé- lulas ES). Como foi mostrado no capítulo 2, essas células podem ser alteradas na pla- ca de Petri. Genes clonados podem ser in- seridos dentro de seu núcleo, ou genes existentes podem ser mutados. Quando essas células ES são injetadas nos blastocistos de um outro gene de camun- dongo, elas podem integrar a sua massa celular interna hospedeira. O embrião re- sultante tem células vindas de ambos teci- dos, hospedeiro e doador. Essa técnica se tornou extremamente importante para de- terminar a função dos genes durante o de- senvolvimento de mamífero. Figura 5.28Figura 5.28Figura 5.28Figura 5.28Figura 5.28 Produção de camundongos quiméricos. (A) Procedimento experimental para a produção de camundongos quiméricos. Embriões de ca- mundongos geneticamente distintos (aqui aqueles com diferentes cores do pêlo) no iní- cio do estágio de 8 células são isolados dos ovidutos dos camundongos e reunidos após remoção de suas zonas pelúcidas por ação de enzimas proteolíticas. As células formam um blastocisto composto, que é implantado no útero de uma mãe de criação. (B) Um camun- dongo adulto quimérico mostrando contribui- ções dos embriões pigmentados (pretos) e não-pigmentados (brancos). (Fotografia cor- tesia de B. Mintz.) Figura 5.29Figura 5.29Figura 5.29Figura 5.29Figura 5.29 Agregação e compactação de três embriões de ca- mundongo, no estágio de 8 células, para formar um única mórula compactada. Células de três diferen- tes embriões (A) são agregadas para formar uma mórula (B) que sofre compactação para formar um blastocisto único (C). O camundongo quimérico re- sultante é mostrado na Prancha 21. (de Markert e Petters, 1978, cortesia de C. Markert.) Clivagem Meroblástica Como já foi mencionado anteriormente, concentrações de vitelo cumprem um papel importante na clivagem celular. Em parte alguma isso está tão aparente como nos tipos de clivagem meroblástica. Aqui, as grandes concentrações de vitelo proíbem a clivagem no seu todo, exceto em uma pequena porção do citoplasma do ovo. Na clivagem CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 189 Sulcos de clivagem Blastoderma discoidal, a divisão celular é limitada a um pequeno disco de citoplasma sem vitelo no topo de um monte formado por vitelo. Na clivagem superficial, o vitelo centralizado permite a clivagem somente na borda periférica do ovo. Clivagem discoidalClivagem discoidalClivagem discoidalClivagem discoidalClivagem discoidal Clivagem discoidal é uma característica de aves, peixes e répteis. AVES. A Figura 5.30 mostra a clivagem de um ovo de ave. A massa do oócito é tomada pelo vitelo, permitindo que a clivagem ocorra somente no blastodisco, uma região de citoplasma ativo de aproximadamente 2-3mm de diâmetro no pólo animal do ovo. Porque essas clivagens não se estendem para o vitelo citoplasmático, as células da clivagem precoce são, na realidade, contínuas nas suas bases. O primeiro sulco de clivagem aparece centralizado no blastodisco, e outras clivagens se seguem para criar um blastoderma de camada única. Num primeiro instante, essa camada celular está incompleta, já que as células permanecem contínuas ao vitelo subjacente. Daí por diante, clivagens equatoriais e verticais dividem o blastoderma em um teci- do de cinco a seis camadas celulares. Essas células permanecem ligadas com jun- ções apertadas (Bellairs et al.,1975; Eyal-Giladi, 1991). Entre o blastoderma e o vitelo existe um espaço chamado cavidade subgerminal, criado quando uma célula blastodérmica absorve fluido da albumina (“branco do ovo”) e secreta-o entre si e o vitelo (New, 1956). Nesse estágio, as células mais profundas do centro do blastoderma são descartadas para criar uma zona pelúcida unicelular (as células descartadas parecem morrer). O anel periférico das células blastodérmicas que não são descarta- das constituem a zona opaca. Quando uma galinha se considera pronta para botar um ovo, o blastoderma já contém 60.000 células. Algumas dessas células são delaminadas em cavidades subgerminais para formar uma segunda camada (Figura 5.31). Dessa maneira, logo após a galinha ter botado o ovo, esse contém duas camadas de células: a superior epiblasto e a inferior hipoblasto. Entre elas está a blastocele. Detalharemos a forma- ção do hipoblasto no próximo capítulo. PEIXES. Nos últimos anos, o peixe zebra, Danio rerio, se tornou o organismo favo- rito para quem deseja estudar o desenvolvimento dos vertebrados. Esses peixes têm grandes crias, procriam o ano inteiro, são facilmente mantidos, têm embrião transpa- rente que se desenvolve fora da mãe (uma característica importante para a microscopia), e pode ser criado para que mutantes possam ser protegidos e propagados. Ademais, eles se desenvolvem rapidamente, para que 24 horas após a fertilização, o embrião já tenha formado a maior parte de seus tecidos e órgãos primordiais, apresentando como característica a forma semelhante ao girino (veja Granato e Nüsslein-Volhard, 1996; Langeland e Kimmel, 1997). Os ovos de peixes com muito vitelo desenvolvem-se similarmente aos das aves, com a divisão celular ocorrendo somente no blastodisco do pólo animal. Observa- ções da clivagem de ovos de peixe através de micrografia ao microscópio eletrônico Figura 5.30Figura 5.30Figura 5.30Figura 5.30Figura 5.30 Clivagem discoidal em um ovo de galinha, vista do pólo animal. Os sulcos de clivagem não penetram no vitelo, e é produzido um blastodermaformado por uma única camada de células. Figura 5.31Figura 5.31Figura 5.31Figura 5.31Figura 5.31 Formação de um embrião do pinto com duas camadas. Essa seção sagital próxima à margem posterior, mostra uma camada superior con- sistindo de um epiblasto central que irá entrar nas células da foice de Koller (ks) e na zona marginal posterior (mz). Certas células do epi- blasto caem (delaminam) da camada superior para formar ilhas de polinvaginação (pi) com 5 a 20 células cada. Essas células serão acresci- das por aquelas células hipoblásticas (hyp) que migraram anteriormente da foice de Koller para formar a camada inferior (hipoblástica). (Sc é a cavidade subgerminal; gwm é a margem da parede germinal). (de Eyal-Giladi et al., 1992, cortesia de H. Eyal-Giladi.) 190 PARTE II Padrões de Desenvolvimento (A) (B) (C) (D) (E) (F) de varredura mostram, de uma bela maneira, a natureza incompleta da clivagem discoidal (Figura 5.32). Como nos embriões de anfíbios e de ouriços-do-mar, divi- sões com clivagens precoce seguem um padrão altamente reprodutível de clivagem meridional e equatorial. Essas divisões são rápidas, com periodicidade de aproxima- damente 15 minutos cada. As primeiras 12 divisões ocorrem sincronicamente, for- mando um monte celular situado no pólo animal de uma grande célula de vitelo. Inicialmente, todas as células mantêm conexões abertas umas com as outras e com a célula de vitelo subjacente para que células de tamanho moderado (17-kDa) passem livremente de um blastômero ao outro (Kimmel e Law, 1985). Começando por vol- ta da décima divisão, pode ser detectado o início da transição da blástula intermedi- ária: começa a transcrição do gene zigótico, desaceleração das divisões celulares e o movimento celular é evidente (Kane e Kimmel, 1993). Neste ponto, duas populações de células podem ser distinguidas. A primeira é a camada de vitelo sincicial (YSL). A YSL é formada no nono ou décimo ciclo, quan- do as células da parte vegetal do blastoderma se fundem com a célula do vitelo adja- cente. Isso produz um anel de núcleos com essa parte do citoplasma da célula do vitelo localizado bem embaixo do blastoderma. Expandindo vegetalmente, o blastoderma envolve a célula do vitelo, parte do vitelo sincicial se moverá para baixo do blastoderma, para formar a YSL interna e parte dos núcleos se moverá vegetalmente, ficando à frente da margem do blastoderma, para formar a YSL externa (Figura 5.33A,B). A função da YSL ainda não foi esclarecida. A segunda população celular distinguida na transição da blástula intermediária é a camada envolvente (EVL; veja Figura 5.33A). Essas são as células mais superficiais do Figura 5.32Figura 5.32Figura 5.32Figura 5.32Figura 5.32 Clivagem discoidal em um peixe-zebra, cri- ando uma região celular acima do vitelo den- so. Em (A), BD significa a região do blastodisco. (de Beams e Kessel, 1976, cor- tesia dos autores.) CAPÍTULO 5 Clivagem: Criando multicelularidade 191 (B) Célula do vitelo Figura 5.33Figura 5.33Figura 5.33Figura 5.33Figura 5.33 A blástula do peixe–zebra. (A) antes da gastrulação, células profun- das estão rodeadas pelo EVL. A superfície animal do vitelo é achatada e contém os núcleos do YSL. Microtúbulos se estendem através do citoplasma vitelínico e da região externa do YSL. (B) Estágio tardio de blástula, mostrando a YSL. Os núcleos dessas células são derivados de células da margem do blastoderma, que liberou seus núcleos para o citoplasma vitelínico. (C) Mapa do destino das células profundas depois que a mistura de células cessou. A vista lateral é mostrada, e não todos os destinos dos órgãos estão identificados (para clareza). O mapa é gerado injetando células com corante de alto peso molecular, determinando em seguida, quais órgãos as células carregadas de corante geraram. (A e C segundo Langeland e Kimmel, 1996; B de Trinkaus, 1993, cortesia do autor.) Pólo vegetal (A) Camada envolvente (EVL) Blastoderma Células profundas YSL interna Núcleos sinciciais do vitelo YSL externa Microtúbulos (C) Pólo animal Epiderme Célula do vitelo Intestino Fígado Faringe Margem do blastoderma Nariz, olho Cérebro Ectoderma Crista neural Medula espinhal Somito do músculo Cabeça Mesoderma PrônefronVentral Dorsal Sangue Nadadeiras Coração Músculo Notocorda Endoderma blastoderma, e a EVL é uma cobertura epitelial fina composta apenas de uma camada de células. A EVL finalmente forma a periderme, uma proteção extra-embrionária co- brindo o que se pensa ser descartado mais tarde durante o desenvolvimento. Entre a EVL externa e a YSL interna estão as células profundas, das quais surgirá o embrião propriamente dito. Os destinos das células blastodérmicas precoces não estão determinados, e os estudos de linhagem celular (onde um corante fluorescente não difusível é injetado em uma das células e os descendentes daquela célula podem ser seguidos) mostram que existe muita mistura de células durante a clivagem. Além do mais, qualquer célula pode dar origem a uma variedade imprevisível de descenden- tes de tecido (Kimmel e Warga, 1987; Helde et al., 1994). O destino da célula blastodérmica parece ser fixado pouco antes do começo da gastrulação. Nesse perío- do, células em regiões específicas do embrião originam certos tecidos de uma maneira altamente previsível, permitindo que um mapa do destino possa ser traçado (Figura 5.33C; Kimmel et al., 1990). O processo pelo qual a célula contribui para o tecido envolve uma narrativa progressi- va de possíveis destinos para o desenvolvimento de uma determinada célula. Esse com- portamento pode ser observado em algumas das primeiras células a terem seu destino estabelecido - as células precursoras do coração (Stainer et al., 1993; Lee et al., 1994). 192 PARTE II Padrões de Desenvolvimento Células polares Núcleos (enérgides) Enérgides migram para a periferia Células polares Blastoderma celular (A) (B) Ventral Dorsal Saco vitelínico Célula do vitelo Células individuais que margeiam na metade do caminho as futuras superfícies dorsal e ventral de um embrião em estágio de meia clivagem, podem dar origem às células que povoam ambos, o endocárdio e o miocárdio (Figura 5.34A,B). Um pouco mais tarde, os descendentes de qualquer célula podem povoar somente o miocárdio ou o endocárdio. Mais tarde ainda, os descendentes de uma célula so- mente serão capazes de povoar subcompartimentos específicos de tecido. Por exemplo, células da blástula intermediária podem contribuir para a progênie de ambos, átrio e ventrículo do coração. Clivagem SuperficialClivagem SuperficialClivagem SuperficialClivagem SuperficialClivagem Superficial A maior parte dos ovos dos insetos passa por clivagem superficial, onde uma grande quantidade de vitelo centralizada confina a clivagem para a borda citoplasmática do ovo. Um dos detalhes fascinantes desse tipo de clivagem é que as células não se for- mam até que os núcleos tenham se dividido. A clivagem de um ovo de inseto é mostra- da na Figura 5.35. O núcleo do zigoto sofre várias divisões mitóticas dentro da parte central do ovo. Na Drosophila, 256 núcleos são produzidos por uma série de divisões nucleares durando, em média, 8 minutos cada. Depois o núcleo migra para a periferia do ovo, onde as mitoses continuam, embora com uma velocidade diminuída. O em- Figura 5.34Figura 5.34Figura 5.34Figura 5.34Figura 5.34 Mapa do destino das células profundas da blástula do peixe-zebra. Injeção de um único blastômero na blástula precoce (estágio de 256-512 células) com rodamino-dextrano. Se a célula estiver perto da margem, a meio ca- minho entre os pólos dorsal e ventral, a pro- gênie da célula está restrita a formar parte do coração. Nesse estágio, as células marcadas formam descendentes que podem popular tanto a aurícula como o ventrículo. Se a inje- ção em tais células
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