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sejam respeitadas; 4. Acção. Bales (1950) chegou às seguintes conclusões sobre a partici- pação dos indivíduos nos grupos: • O grau de participação de cada elemento no grupo é desi- gual, havendo sempre alguns que participam muito mais do que os outros; • Os participantes activos dão informação e oferecem opi- niões, enquanto os passivos tendem apenas a concordar ou discordar e a pedir informação; • Os membros tendem a distinguir entre quem gostam mais e quem consideram mais influente e mais capaz para liderar o grupo; • Os membros do grupo exibem, normalmente, comporta- mentos gregários, mas outros podem ter comportamentos desagregadores, que, no limite, podem levar ao fim do grupo ou à sua divisão em vários subgrupos. Os grupos tendem, de facto, a encontrar líderes, normalmente as pessoas que se relacionam bem com as outras, resolvem pro- blemas, têm espírito de iniciativa, são empenhadas, encorajam, www.bocc.ubi.pt 42 Jorge Pedro Sousa lidam bem com as situações e recorrem ao humor (Bales, 1950). A liderança, normalmente, é importante para os grupos cumpri- rem os seus objectivos. No entanto, podem encontrar-se vários tipos de líderes e lideranças: • Autocrático - Um único membro, normalmente o líder for- mal, impõe a sua liderança aos restantes, que a podem acei- tar ou não consoante o grau de empenho e de capacidade que o líder demonstra na resolução de problemas. Os efei- tos são a sobrecarga de trabalho sobre o líder e a tendência para outros membros do grupo se afastarem; • Laissez-faire - O grupo não tem um líder efectivo e eficaz, o que, normalmente, contribui para a sua ineficácia colec- tiva e mesmo para a sua desagregação. É um fenómeno mais comum em grupos de amigos, cujo único propósito é entreterem-se em conjunto e, eventualmente, entreajudarem- se, do que, por exemplo, em grupos que buscam concretizar objectivos de mudança social. No entanto, encontram-se grupos formais e até algumas organizações (por exemplo, certas cooperativas) em que a "liderança"é laissez-faire. • Democrático - O líder encoraja todos a darem o seu con- tributo. Por outro lado, nos grupos democráticos formais (por exemplo, pequenas associações) todos podem aspirar a serem eleitos líderes. O efeito que resulta de um estilo democrático é a maior participação dos membros do grupo nas actividades do mesmo. Porém, o processo de tomada de decisões pode arrastar-se no tempo. No limite, discute- se eternamente sem se tomarem decisões. • Liderança colectiva - Os membros do grupo, ou pelo me- nos alguns entre eles, lideram o grupo como uma equipa. É um estilo de liderança raro, pois alguns membros do grupo tendem sempre a sobressair e a liderar pela sua capacidade de iniciativa e resolução de problemas e pelo seu empenho na vida do grupo. www.bocc.ubi.pt Elementos de Teoria e Pesquisa 43 Apesar de se poderem encontrar vários tipos de líderes e esti- los de liderança nos grupos, normalmente nenhum deles é "puro". Por exemplo, nas pequenas associações é comum haver lideran- ças que cruzam os estilos autoritário, democrático, colectivo e até mesmo laisez-faire. A sociografia é muito útil para se perceberem as trocas de in- formação, o estilo de liderança e a organização interna dos grupos: Liderança centralista No exemplo acima, tudo no grupo passa por A, líder. As de- cisões são rápidas e a informação circula rapidamente dos mem- bros para o líder, que a aproveita melhor do que todos os restantes membros do grupo. Líder centralista e eminência parda O exemplo acima é uma variante do primeiro modelo, mas um dos membros do grupo interage fortemente com o líder, sendo uma espécie de "eminência parda"da liderança. www.bocc.ubi.pt 44 Jorge Pedro Sousa Isolamento de um dos membros No exemplo acima, um dos elementos do grupo, o sujeito F, está completamente isolado dos restantes. Estes formam sub- grupos que dependem da centralidade de A: A+B+D; A+B+E; A+E+C; e A+C+D. Rejeição O sujeito F, no exemplo acima, é rejeitado por todos os res- tantes elementos do grupo e não aceita ninguém, pelo que é pro- vável o seu afastamento formal do grupo. Internamente, o grupo organiza-se em subgrupos que dependem da centralidade de A, como no exemplo anterior. www.bocc.ubi.pt Elementos de Teoria e Pesquisa 45 Membro abandonado No caso acima, o sujeito F foi abandonado pelos restantes membros do grupo, embora estes não o rejeitem e F aceite A, que ocupa a posição central no grupo. Como nos dois exemplos anteriores, o grupo estrutura-se em subgrupos em que o sujeito A ocupa a posição central, sendo o principal elemento agregador do grupo. Grupinho No exemplo do "grupinho", todos os elementos interagem en- tre si, trocam informação entre si e ninguém ocupa uma posição central ou privilegiada. É um modelo de funcionamento comum nos pequenos grupos informais. Por vezes, os grupos maiores estruturam-se em função deste tipo de subgrupos. É comum e na- tural, por exemplo, que numa turma os estudantes se agrupem em "grupinhos", consoante as suas afinidades com os colegas "pare- cidos"(principalmente nos hábitos). Os grupinhos vão mantendo www.bocc.ubi.pt 46 Jorge Pedro Sousa laços entre si e formando a "turma"através de elementos que fa- zem a ponte entre eles. Fraccionamento O modelo acima traduz um fraccionamento total do grupo em dois subgrupos. A prazo, a situação de "dissidência"graficamente representada, provavelmente, conduzirá à desagregação e desapa- recimento do grupo e ao aparecimento de dois novos grupos. Um acto comunicativo não se apresenta isolado. Nos grupos, nas organizações e na sociedade, outros actos comunicativos são- lhe associados. Maria Dolores Cáceres (2003: 71-74), por exem- plo, fala, entre outras, da comunicação circular, em X, em ca- deia, em Y e total: www.bocc.ubi.pt Elementos de Teoria e Pesquisa 47 Os casos anteriores representam também, graficamente, for- mas de circulação da informação dentro de um grupo. Nos grupos em que a troca de informação é linear (em X, mas, principalmente, em Y e em cadeia), essas trocas são mais rápidas e permitem to- madas de decisão igualmente rápidas. Porém, o menor grau de feedback entre os diferentes membros do grupo pode provocar maiores distorções na compreensão da mensagem. As formas cir- culares e totais de circulação de informação geram grupos mais participados mas atrasam o processo de tomada de decisões (Cá- ceres, 2003: 71-74). 1.5.4 Comunicação organizacional A exemplo do que acontece com a designação "comunicação gru- pal", também é fácil discernir que o conceito de "comunicação organizacional"diz respeito à comunicação que se estabelece no seio das organizações. Uma organização, na definição de Gill e Adams (1998: 122), é um grupo de grande dimensão, que possui um propósito definido e requer elementos com competências diferentes. Por exemplo, uma Universidade é, sem dúvida, uma organização. O seu propó- sito é produzir e difundir conhecimento, formando pessoas. Nela coexistem professores e investigadores, estudantes, quadros ad- ministrativos, bibliotecários, técnicos de informática, contínuos, funcionários de limpeza, funcionários de bar e restaurante, segu- ranças, etc. Todos são necessários para levar a missão da Univer- sidade a bom porto. As organizações e os grupos mantêm-se enquanto os seus mem- bros cooperam e se coordenam, comunicando, para atingir os ob- jectivos dessas organizações ou grupos. Grupos e organizações, contudo, estão em constante evolução, acompanhando a contínua reorganização e reorientação dos seus membros. Este processo, contudo, tende a desenvolver-se ao nível superficial, não afec- www.bocc.ubi.pt 48 Jorge Pedro Sousa tando os alicerces da estrutura (quando os afecta, a organização desmorona-se)2. Uma organização é, essencialmente, um grupo grande. As- sim sendo, a maior