823 pág.
Pré-visualização | Página 19 de 50
que converte signos em sinais, como a rádio, o telefone, o fax, o telemóvel, a televisão ou o computa- dor, ou que possibilita a transmissão de sinais e signos, como livros, jornais, revistas, fotografias e obras de arte. www.bocc.ubi.pt Elementos de Teoria e Pesquisa 81 Os meios de difusão, de comunicação social, ou mass me- dia são os meios que permitem a difusão de uma mesma mensa- gem a uma audiência vasta e heterogénea. Este conceito está na base do conceito de comunicação de massas (mass communica- tion). No entanto, como o conceito de comunicação de massas pressupõe, de certa forma, uma audiência passiva, que se com- porta homogeneamente na sua heterogeneidade, foi sendo subs- tituído por outras designações, que dão melhor conta da indivi- dualidade e capacidade reactiva e interpretativa de cada recep- tor/destinatário, bem como da elevada heterogeneidade e segmen- tação -que chega à personalização e individualização- de meios e mensagens. A designação "comunicação social", por exemplo, foi proposta pelo Concílio Vaticano II para substituir o termo "co- municação de massas". Os meios de comunicação com possibilidades de comunica- ção massiva também têm sido aproveitados por indivíduos ou pe- quenos grupos e muitas vezes são usados como self-media. Por exemplo, um indivíduo pode decidir fazer um pequeno jornal para os amigos. Neste caso, está a usar o jornal como um self-medium. Esta utilização dos meios com potencial de comunicação massiva por indivíduos ou pequenos grupos também contribui para desa- creditar o conceito de comunicação de massas e para pôr em des- taque a desmassificação da produção e do consumo de produtos comunicacionais, que se iniciou com o processo de segmenta- ção e especialização dos meios de comunicação e se desenvolveu com a utilização individual dos meios de comunicação, a inte- ractividade, a personalização das mensagens recebidas por um receptor, etc. Há meios unidireccionais, como a televisão clássica, e meios bidireccionais, como o telefone ou a televisão interactiva. O mo- delo de Lasswell, como vimos atrás, não dá conta da possibilidade de feedback e de interactividade, pois, como se disse, foi elabo- rado a pensar, essencialmente, na comunicação mediada através dos mass media unidireccionais. Na actualidade as fronteiras entre alguns meios estão a esbater- www.bocc.ubi.pt 82 Jorge Pedro Sousa se e a dar origem a meios multimédia. O principal meio multimé- dia e interactivo é a Internet. Mas existem outros. Por exemplo, a rádio pode usar imagens, graças ao sistema digital conhecido por DAB (Digital Audio Broadcasting). Isso torna-a semelhante à te- levisão. Um meio unimediático está a tornar-se um meio multime- diático. Assiste-se, neste caso, a um fenómeno de convergência mediática. 1.7.3 O modelo de Shanon e Weaver (1949) Historicamente, um terceiro modelo do processo de comunica- ção foi apresentado, em 1949, pelo matemático Claude Shannon e pelo engenheiro Warren Weaver. Tratava-se de um modelo para o estudo da comunicação electrónica. No entanto, o modelo pode ser aplicado ao estudo de outras formas de comunicação. Para Shannon e Weaver (1949), o processo de comunicação electrónica pode ser descrito graficamente da seguinte maneira: Segundo o esquema, a fonte de informação elabora e envia uma mensagem; a mensagem chega a um transmissor, que trans- forma a mensagem num sinal. O sinal pode estar sujeito a ruído (interferências). Por esta razão, o sinal emitido pode ser diferente do sinal captado pelo receptor. O receptor capta o sinal e fá-lo re- tornar à forma inicial da mensagem, de maneira a que esta possa ser percepcionada e compreendida pelo receptor. Num exemplo prático, um jornalista de rádio pode enviar uma mensagem oral aos destinatários por meios analógicos. Essa men- sagem será transformada pelo microfone e pelo transmissor de rá- dio numa onda electromagnética análoga à onda sonora, o sinal. O sinal pode estar sujeito a interferências, ou seja, a ruído. Um receptor de rádio, como os pequenos rádios domésticos a pilhas, capta esse sinal e converte-o, de novo, em ondas sonoras. Ou seja, www.bocc.ubi.pt Elementos de Teoria e Pesquisa 83 converte a mensagem na sua forma original (se não existir ruído). A mensagem é captada pelo destinatário. O modelo de Shannon e Weaver pode ser criticado pela sua linearidade, incompletude e estatismo (por exemplo, não reco- nhece fenómenos como o feedback). No entanto, representou um avanço na figuração paradigmática do processo de comuni- cação. Além disso, não deve ser ignorado que os seus autores procuravam traduzir exclusivamente o processo de comunicação electrónico mediado (como acontece quando se usa o telefone, um telégrafo, etc.). De acordo com o seu modelo, os autores identificaram três ordens de problemas no estudo da comunicação: 1. Problemas técnicos, ligados à precisão da transmissão dos sinais; 2. Problemas semânticos, ligados à precisão do significado pretendido para uma mensagem; 3. Problemas de eficácia, ligados à forma como o significado recebido influencia o comportamento do destinatário. Shannon e Weaver enfatizam, como é visível, a problemática da significação das mensagens e das interferências sobre o pro- cesso de significação, mas não deixam de referenciar a questão dos efeitos da comunicação (já enfatizada por Lasswell). 1.7.4 O modelo de Newcomb (1953) O modelo de Newcomb, apresentado em 1953, apresenta uma forma triangular, introduzindo, pela primeira vez, o papel da co- municação numa sociedade, num grupo ou numa relação social. O modelo, tributário do Interaccionismo Simbólico, evidencia que muitos dos fenómenos de comportamento social que se podem classificar como "interacções"são, na realidade, actos comunica- tivos. www.bocc.ubi.pt 84 Jorge Pedro Sousa Interpretando o modelo, A e B, emissor e receptor, relacionam- se com entidades externas (X). Este sistema relacional tende para o equilíbrio. Por exemplo, se A e B são amigos e ambos se rela- cionam com X, para o sistema manter o equilíbrio A e B devem ter atitudes semelhantes em relação a X. Se A gostar de X e B não gostar, a relação entre ambos será pressionada: No entanto, a tendência é que A e B cheguem a um novo ponto de equilíbrio na sua atitude para com X, negociando as suas ori- entações em relação a este último. Ou seja, os esforços de co- orientação de A e B em relação a X tendem a conduzir, com o tempo, a nova situação de simetria: Quanto mais X for importante para A e B (uma pessoa impor- tante, uma instituição importante, etc.), mais necessidade existe para A e B restabelecerem o equilíbrio, comunicando. Por exem- plo, se X é o patrão de A e B e A gostar do patrão e B não gostar, www.bocc.ubi.pt Elementos de Teoria e Pesquisa 85 então A e B vão ter de comunicar entre ambos para tentarem che- gar a um consenso a respeito de X. Se X muda, mais A e B ne- cessitam de comunicar para estabelecer a sua atitude em relação a X. No exemplo anterior, se a empresa mudar de patrão (X), mais A e B necessitam de comunicar para negociarem uma posição comum em relação ao novo patrão. A comunicação é, por con- sequência, vista como o agente capaz de providenciar equilíbrio ao sistema social. As pessoas precisam de informações para sa- berem como se inter-relacionarem e socializarem e também para saberem como reagir ao meio ambiente. A aplicação do modelo de Newcomb não é extensível a todo e qualquer acto comunicativo, pois pressupõe que: • A comunicação desenvolvida entre A e B é interpessoal; • A e B se encontram em associação continuada; • Um dos interlocutores desencadeia intencionalmente a co- municação e obtém feedback do outro. Em suma, pode dizer-se que o modelo de Newcomb, mais do que descrever como decorre um acto comunicativo, atenta nos motivos que explicam as dinâmicas e motivações comunicacio-