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de serviços, pela cor e pelas fotografias, o triunfo do design e a condensação e encurtamento dos textos e das frases nos jornais terão sido parcialmente provocados pela influência da televisão sobre a sociedade e as pessoas e, consequentemente, so- bre os jornais (Ledo Andión, 1993). Na rádio e na televisão, o embaratecimento e a miniaturização dos equipamentos permitiram a individualização da recepção. A rádio e a televisão passaram por uma primeira fase histórica de recepção pública (em espaços públicos, colectividades e institui- ções), por uma segunda fase de recepção familiar (assistia-se à rádio ou à televisão em família) e por uma terceira fase de re- cepção individual (cada um ouve e vê aquilo de que gosta no seu rádio ou na sua TV). Isto trouxe consequências para o dis- curso. Não é eficaz um radiojornalista dirigir-se aos "senhores ouvintes"nem um telejornalista dirigir-se aos "senhores telespec- tadores", porque ambos têm de se dirigir "a si que está aí a ver-me e/ou a ouvir-me". Obviamente, estas mudanças também se sinto- nizam com as modificações nos gostos e valores. 3.2.3.1 Radiojornalismo Nos primeiros anos em que funcionaram, as estações pioneiras de rádio não difundiam informação. Mas as coisas mudam com a criação, em Pittsburgh, nos Estados Unidos, no dia 2 de No- vembro de 1920, da primeira emissora profissional do mundo - a KDKA. A emissão inaugural é toda ela informativa, transmitindo- se, ao longo de oito horas, os resultados das eleições presidenci- ais americanas, em colaboração com o jornal Pittsburgh Post. As notícias passam a ter espaço próprio na rádio. Em 1924, cem empresas jornalísticas norte-americanas já tinham emissoras de rádio (Meditsch, 1999: 24). Em 1927, a American Newspaper www.bocc.ubi.pt 168 Jorge Pedro Sousa Publishers Association dá a sua benção ao radiojornalismo, pro- clamando que a difusão de notícias pela rádio estimulava a venda de jornais (Faus Belau, 1981, cit. in Meditsch, 1999: 24). De algum modo, a rádio aguçava o interesse dos ouvintes pelas no- tícias, obrigando-os a comprar os jornais para se inteirarem mais profundamente da informação. A crise económica de 1929, con- tudo, inverteu a posição dos editores de jornais. Estes obrigam as rádios a transmitir unicamente dois boletins informativos por dia, veiculados após o horário de saída dos jornais e com notícias limitadas a um máximo de 35 palavras (Faus Belau, 1981: 53, cit. in Meditsch, 1999: 25). Segundo Lewis e Both (1989: 85), referenciados por Edu- ardo Meditsch (1999: 25), em Inglaterra o governo só autorizou a transmissão de notícias pela rádio depois de elas serem publica- das na imprensa. Ives Lavoinne (s/d: 52), igualmente citado por Meditsch (1999: 25), assinala que, em França, em 1937, as rádios só podiam realizar duas reportagens por semana, para emitir três horas depois da saída dos jornais. Mas depois da Segunda Guerra Mundial a situação evoluiu favoravelmente para a rádio, benefici- ando da hegemonia que o medium teve durante o resto da década de quarenta (que se estendeu pelos anos cinquenta em Portugal). O radiojornalismo começou a configurar-se como aquilo que é hoje, pese embora o facto das reportagens estarem condicionadas pelas circunstâncias de recepção e pelos gostos dos públicos. Meditsch (2001: 21) releva que o radiojornalismo revolucio- nou a ideia da reportagem, com as transmissões ao vivo, e refor- mula os conceitos de tempo e de notícia, devido aos noticiários de hora em hora. Hoje a rádio trilha novos caminhos. A especialização é um deles. Além das rádios generalistas, existem rádios segmenta- das, entre as quais rádios informativas, que se especializam em radiojornalismo, como acontece com a TSF. Não quer isto dizer que uma rádio informativa não possa passar outro tipo de progra- mação. A diferença é que uma rádio informativa oferece maior profundidade na informação e é procurada por público que de- www.bocc.ubi.pt Elementos de Teoria e Pesquisa 169 seja, sobretudo, obter boa informação (Faus Belau, 1981, cit. in Meditsch, 2001: 20). 3.2.3.2 Telejornalismo Tal como aconteceu com a rádio, as primeiras emissoras de tele- visão não faziam telejornalismo, embora na Alemanha a televisão tenha sido aproveitadas pelos nazis para info-propaganda. O pri- meiro telejornal diário só surgiu nos Estados Unidos no final da década de quarenta do século XX, a pedido da Comissão Federal das Comunicações do governo americano. Até aí as cadeias de te- levisão americanas apenas emitiam programas de entretenimento. As grandes referências para os primeiros telejornais eram os documentários sobre "actualidades", que iniciavam as sessões de cinema, e os jornais de rádio. No entanto, a televisão não ti- nha a mobilidade da rádio. Para se fazerem registos audiovisu- ais, usava-se filme, tal e qual como no cinema, o que complicava bastante a edição. Era igualmente difícil e volumoso armazenar imagens (o vídeo só aparece no final dos anos sessenta). Inclu- sivamente, ainda se usava filme profissional e não o filme de 16 mm para cinema ligeiro, que só aparecerá na década de cinquenta. Portanto, segundo Ignacio Ramonet21, nesses primeiros telejor- nais escasseavam as imagens de acontecimentos. Quando exis- tiam essas imagens, normalmente reportavam-se a eventos pas- sados no dia anterior ou até antes. Também se usavam mapas, gráficos e fotografias, que eram explicados pelos jornalistas. O telejornal, segundo Ramonet, consistia essencialmente numa sé- rie de jornalistas que se sucediam uns aos outros a lerem notícias. Não existia um pivot-vedeta. O desporto, normalmente, não ti- nha espaço no telejornal, que se restringia, nos diversos países, à política nacional, à economia, ao estrangeiro e à meteorologia. A partir do final dos anos sessenta, o vídeo revolucionou a in- formação televisiva, pois trouxe mobilidade, actualidade e rapidez 21 Seminário leccionado em 1995 em Santiago de Compostela, aos alunos do curso de doutoramento em Ciências da Informação. www.bocc.ubi.pt 170 Jorge Pedro Sousa ao telejornalismo. Assim, segundo Ramonet, o vídeo terá permi- tido ao telejornal adquirir o estatuto de vedeta da programação e de programa-âncora do horário nobre de audiência. O novo mo- delo de telejornal, que se baseia na figura do apresentador-vedeta, é classificado por Ignacio Ramonet como modelo hollywoodiano de telejornal. Ignacio Ramonet sustenta que a televisão se confronta com algumas fatalidades ontológicas. Em primeiro lugar, o texto au- diovisual desenvolve-se de maneira irreversível, pelo que o te- lespectador, a não ser que o grave e revisione, não pode impor a sua ordem e velocidade de leitura. Em segundo lugar, o binómio audiência/rentabilidade impõe uma duração máxima ao telejor- nal, que, normalmente, não ultrapassa três ou quatro partes com cerca de 12 minutos cada (e com intervalos entre cada uma delas). Durante esse tempo, torna-se necessário construir um texto audio- visual sem causar cansaço no telespectador. Teria sido a reflexão sobre a resolução destes problemas que, na versão de Ramonet, contribuiu para o aparecimento do modelo hollywoodiano de te- lejornal e condicionou a sua evolução. Segundo Ramonet, é a variedade temática que evita o aborre- cimento do telespectador. Num telejornal de 30 minutos, podem abordar-se 20 a 25 temas, excepto quando um único tema tem suficiente impacto para romper com o modelo e manter o teles- pectador colado ao ecrã, como nos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos. Além da variedade temática, o telejornal hollywoodiano foi buscar ao cinema a noção de mesclagem de géneros. Melodrama, aventura e comédia, por exemplo, podem conviver num único te- lejornal ou até numa única peça. Foi também ao cinema que se foi buscar a noção de que o telespectador pede mudança de dez em dez minutos. Para se manter o interesse e a atenção do telespecta- dor,