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07 Karl Marx Aula 1

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Karl Marx – Aula 1
Prof. Bruno Aidar
História do Pensamento Econômico
BI Ciência e Economia – 3º Período
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Onde estudar?
Slides da aula (incluem material além do apresentado por Dobb).
DOBB, Maurice. Teorias do valor e distribuição desde Adam Smith. Lisboa: Editorial Presença, 1977. 
	Cap. 6: “Karl Marx”. p. 175-210.
MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1996. 
Livro 1º, Tomo 1, Cap. 1, seção 4: “O caráter fetichista da mercadoria e seu segredo”, p. 197-208.
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Karl Marx (1818-1883)
Crítica ao legado da Revolução Francesa e da Revolução Industrial inglesa.
Pensador europeu: influências alemãs (filosofia hegeliana, pensamento histórico), francesas (socialismo utópico) e inglesas (economia política). Recebe todas essas influências, com enorme esforço de crítica. 
Como criticar em sua raiz – radicalmente – a igualdade e a liberdade econômica e política da burguesia?
Desconstrução das categorias conceituais dessas correntes e construção de sua própria análise teórica. 
Esforço contínuo de crítica e apropriação crítica.
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1ª fase (1818-1846): formação inicial
Origem judia, cultura franco-alemã (cresce perto da fronteira).
Estudos na Alemanha em direito, filosofia e história.
Crítica da filosofia do direito de Hegel (1844) – as relações jurídicas e as formas do Estado não podem ser compreendidas a partir de si mesmas ou do desenvolvimento do Espírito humano, mas a partir das relações materiais da vida (“sociedade civil”/”sociedade burguesa” em Hegel). 
Marx descobre que a economia política é a anatomia da sociedade civil.
Manuscritos econômico-filosóficos (1844, pub. 1932)
Ainda pouco contato com a economia política. Engels estava mais avançado, publica Esboço de uma crítica da economia política (1844).
Marx e Engels escrevem A ideologia alemã (1845), refutando a esquerda hegeliana (Feuerbach). Teoria histórico-sociológica original.
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2ª fase (1847-1867) preparação para a escrita d’O Capital.
Crítica a Proudhon: Miséria da Filosofia (1847)
Tentativas de revolução na Europa em 1848 (Primavera dos Povos).
Manifesto do Partido Comunista (1848) de Engels e Marx.
Incorporação e transformação das ideias de Ricardo.
Atividades jornalísticas para ganhar a vida.
Retomada dos estudos econômicos em Londres (1850), consultas ao British Museum.
Londres como observatório importante da nova fase de desenvolvimento da sociedade capitalista.
Esboços - Grundrisse (1857-58, pub. 1953). Publicação do prefácio e introdução Para a crítica da economia política (1857-59), pois Marx achava que haveria uma nova onda revolucionária com a crise econômica. Completa fundamentos do método de Marx.
Teorias sobre a mais-valia - Theorien über den Mehrwert (1862-63, pub. 1905-10)
Manuscrito econômico - Ökonomische Manuskripte (1863-67, pub. 1992).
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3ª fase
1867: Das Kapital – v. 1 – único publicado com Marx ainda vivo
1885: Das Kapital – v. 2
1894: Das Kapital – v. 3 – organizado por Engels
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Objetivos de Marx
Crítica da igualdade e da liberdade no capitalismo.
Mostrar a especificidade histórica do modo de produção capitalista (MPK) ao longo da história humana.
Apontar as tendências gerais (“leis”) de funcionamento desse modo de produção.
Destacar as contradições fundamentais desse modo de produção para saber sua evolução e possibilidades de revolução.
Refundar criticamente a economia política.
Sentido mais comum: crítica ao pensamento econômico burguês
Sentido mais específico: apontar os limites desse pensamento, propondo uma linguagem ciente da especificidade e historicidade do MPK (ex.: crítica da Razão Pura de Kant).
Marx é o último dos economistas clássicos como diz Schumpeter, mas também é o fundador de uma nova economia política (nesse sentido não é discípulo de Ricardo como afirma Schumpeter).
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Apropriação crítica
Marx apropria-se criticamente de dois sistemas de pensamento criados pela burguesia que são simultaneamente revolucionários (em seu método) e conservadores (em sua visão de mundo).
Economia política inglesa, especialmente Ricardo
Ideia de Marx como um seguidor de Ricardo (Schumpeter)
Método dialético hegeliano
Transitoriedade das instituições humanas, sob o constante desenrolar das contradições: 
“Perante esta filosofia nada há que seja definitivo, absoluto, consagrado; em todas as coisas ela põe em relevo o caráter perecível, apenas deixando de pé o ininterrupto processo do devir e do perecer (...)”(ENGELS, Feuerbach, p. 23).
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Dialética materialista
Recusa do idealismo: realidade material como base para análise (por oposição ao Espírito e a Ideia de Hegel). Realidade concreta não é a realização do Espírito, do pensamento (Hegel), mas a consciência é a percepção do mundo concreto (Marx/Engels).
“Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o processo de pensamento, - que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de ideia, - é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário o ideal, não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado” (MARX, O capital, v. 1, p. 16).
“Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (MARX, Prefácio, p. 25).
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Recusa do materialismo restrito: homens são produto das circunstâncias, mas também podem modificá-las através da prática revolucionária.
“A doutrina materialista segundo a qual os homens são produto das circunstâncias e da educação esquece que são precisamente os homens que modificam as circunstâncias e que o educador necessita, por sua vez, de ser educado. (...) A coincidência entre a modificação das circunstâncias e a atividade humana ou modificação dos próprios homens só pode ser concebida como prática revolucionária”. (MARX, Teses sobre Feuerbach, n. 3).
Recusa da postura contemplativa da filosofia: busca do mundo concreto e prática para alcançar a verdade objetiva das coisas. 
“Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de modos diferentes; o que importa, porém, é transformá-lo” (MARX, Teses sobre Feuerbach, n. 11)
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Recusa da ideia naturalizada de indivíduo humano: o indivíduo isolado e atemporal não existe, mas apenas o conjunto de relações sociais e históricas. Indivíduo isolado é uma invenção moderna.
“(...) a essência humana não é uma abstração inerente ao indivíduo isolado. Na sua realidade, é o conjunto das relações sociais” (MARX, Feuerbach, n. 6).
“O caçador e o pescador, individuais e isolados, de que partem Smith e Ricardo, pertencem às pobres ficções das robinsonadas do século XVIII. (...) Nessa sociedade [do século XVIII] de livre concorrência, o indivíduo aparece desprendido dos laços naturais que em, épocas históricas remotas, fizeram dele um acessório de um conglomerado humano limitado e determinado. Os profetas do século XVIII (...) imaginam esse indivíduo do século XVIII (...) como um ideal, que teria existido no passado” (MARX, Introdução, p. 3).
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O grande trabalho de Marx é situar historicamente e limitadamente aquilo que a economia política clássica liberal acredita ser eterno e natural. 
O trabalho da crítica de Marx é o esforço em desnaturalizar as categorias da análise econômica para que seja possível transformar a realidade e construir uma nova economia e sociedade realmente livres.
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Conceito de modo de produção
“(...) na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas
de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, política e espiritual”. (MARX, Prefácio, p. 25).
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“Em grandes traços podem ser caracterizados, como épocas progressivas da formação econômica da sociedade, os modos de produção: asiático, antigo, feudal e burguês moderno. As relações burguesas de produção constituem a última forma antagônica do processo social de produção (...) contudo, as forças produtivas que se encontram em desenvolvimento no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo as condições materiais para a solução desse antagonismo” (MARX, Prefácio, p. 26).
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.Método dialético no Capital (Kosik)
O Capital não é uma obra econômica no sentido habitual, pois a economia está entrelaçada com a sociologia, história e filosofia. Como ler tudo isso em conjunto?
Questão central da relação da ciência econômica com a filosofia dialética, marcando o que é essencial e específico do Capital. 
Evitar ideia de que Marx possui uma abordagem científica, apesar dos seus aspectos metafísico-especulativos.
Relação dialética entre estrutura lógica e estrutura da realidade analisada. A realidade reconstruída expressa-se na estrutura lógica correspondente.
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Ideia de totalidade no Capital
Dialética da totalidade não deseja conhecer todos os aspectos da realidade e nem oferecer um quadro total da realidade em seus infinitos aspectos e propriedades. Totalidade concreta é uma teoria da realidade, na qual a realidade possui sua própria estrutura e concretude, que se desenvolve e se cria (Kosik).
Ideia de totalidade é a compreensão da realidade em suas leis e conexões internas, sob a superficialidade e casualidade dos fenômenos. 
Marx retira elementos idealistas da ideia original de totalidade e a converte em uma dialética materialista. É materialista, porque está preocupada unicamente com a realidade (e não com o espírito humano como em Hegel).
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Quais são as conexões internas que existem sob as manifestações dos fenômenos da sociedade moderna? Resposta está na análise da economia moderna. 
Na teoria materialista, o todo social (a formação econômica-social) é formado e constituído pela estrutura econômica. É ela que cria a unidade e a conexão de todas as esferas da vida social (Kosik). 
Capital é descrição da economia moderna, mas também representa a totalidade que ordena todos os fatores econômicos, sociais, políticos, jurídicos e culturais do modo de produção capitalista. No mundo moderno, economia é o núcleo estruturante da realidade humana.
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Do abstrato para o concreto
“Determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto por meio do pensamento” (MARX, Introdução, p. 14).
Obra não deve ser uma representação caótica de fatos aparentemente concretos (ex.: população), mas sim uma totalidade de determinações e relações diversas.
Concreto como síntese de múltiplas determinações, é a unidade do diverso.
Concreto não deve ser o ponto de partida, mas o resultado das determinações abstratas.
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E vice-versa
“Se a realidade é um conjunto dialético e estruturado, o conhecimento concreto da realidade consiste, não na sistemática somatória de fatos a outros, de conceitos a outros conceitos, senão no processo de concretização, que procede do todo às partes e das partes ao todo; do fenômeno à essência e da essência ao fenômeno; da totalidade às contradições e das contradições à totalidade, e precisamente nesse processo de correlação em espiral, no qual todos os conceitos entram em movimento recíproco e iluminassem-se mutuamente, alcança a concretude [da realidade]” (Kosik, Dialectica del concreto, p. 26).
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Bibliografia – Textos originais
ENGELS, Friedrich. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã (1888). In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos filosóficos. Lisboa: Editorial Presença, 1974.
MARX, Karl. Teses sobre Feuerbach (1845/46). In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Textos filosóficos. Lisboa: Editorial Presença, 1974.
MARX, Karl. Prefácio para a crítica da Economia Política (1859). In: Para a crítica da economia política; Salário, preço e lucro; O rendimento e suas fontes: a economia vulgar. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1986. (Os economistas).
MARX, Karl. Introdução à crítica da Economia Política (1859). In: Para a crítica da economia política; Salário, preço e lucro; O rendimento e suas fontes: a economia vulgar. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1986. (Os economistas).
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Bibliografia utilizada
DOBB, Maurice. Teorias do valor e distribuição desde Adam Smith. Lisboa: Editorial Presença, 1977. 
Cap. 6: “Karl Marx”. p. 175-210.
DOBB, Maurice. A crítica da economia política. In: HOBSBAWM, Eric et alii. História do Marxismo. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. v. 1, p. 127-155.
KOSIK, Karel. Dialectica del concreto. México D.F., 1967. Pdf.
Cap. 3: “Filosofía y Economía”.
SCHUMPETER, Joseph Alois. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. Ed. on-line OrdemLivre.org.
Cap. 3: “Marx, o economista”. p. 42-68

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