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CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇAO DA JUSTIÇA

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL IV 
TEMA DA AULA: Crimes contra a Administração da Justiça
PALAVRAS-CHAVE: Administração da Justiça. Crimes. 
1
Objetivos
 Identificar, mediante a análise dos casos concretos apresentados, elementos objetivos, subjetivos e normativos crimes praticados por particular contra a Administração da Justiça. 
 Analisar a incidência, nos casos concretos apresentados, de conflito aparente de normas ou concurso de crimes entre os delitos praticados por particular contra a Administração da Justiça. 
 Diferenciar os delitos praticados por particular contra a Administração da Justiça dos delitos contra a pessoa, contra o patrimônio bem como previstos na Legislação Penal Especial, tais como Leis n. 7492/1986, 8137/1990 e 9.613/1998. 
2
Sumário
Introdução
Desenvolvimento
 1. Dos Crimes praticados contra a Administração da Justiça Pública: disposições gerais.
 2. Denunciação caluniosa (Art. 339,CP). 
 - Análise da figura típica. 
 - Confronto com os delitos de calúnia e comunicação falsa de crime ou contravenção. 
 - Questões controvertidas:
 a) Denunciação caluniosa e organização criminosa. 
 b) Confronto entre o direito à autodefesa e a denunciação caluniosa.
 
 
3
Sumário
 3. Comunicação falsa de crime ou contravenção. (Art. 340, CP). 
 - Análise da figura típica.
 4. Autoacusação falsa. (Art. 345, CP). 
 - Análise da figura típica. 
 5. Falso testemunho ou falsa perícia (Art. 342, do CP). 
 - Análise da figura típica. 
 - Questões controvertidas: 
 a) O compromisso de dizer a verdade e a caracterização de falso testemunho. 
 b) Concurso de pessoas no crime de falso testemunho. 
 
 
4
Sumário
 6. Exercício arbitrário das próprias razões (Art. 345, CP). 
 - Análise da figura típica. 
 - Questões relevantes: 
 a) Concurso de crimes com o delito resultante da violência. 
 b) Ação penal.
 7. Fraude processual. (Art. 347, CP). 
 - Análise do tipo penal. 
 - Questões controvertidas: 
 a) Confronto com as figuras típicas previstas no caput e, parágrafo único, do art. 347 e com o delito de estelionato - art.171, todos do CP. 
 b) Confronto entre o direito à autodefesa e a Fraude processual. 
 c) Fraude processual prevista na legislação penal especial: Lei n.9503/1997 e Lei n .70826/2003.
 
5
Sumário
 8. Favorecimento pessoal (Art. 348, do CP). 
 - Análise do tipo penal 
 - Questões controvertidas: 
 a) Distinção entre favorecimento pessoal e concurso de pessoas no delito antecedente. 
 b) Confronto com os delitos de prevaricação e corrupção passiva. 
 c) Alcance das escusas absolutórias. 
 9. Favorecimento real. (Art. 349, CP). 
 - Análise do tipo penal 
 - Questões controvertidas: 
 a) O art. 349-A e sua subsunção à Lei n. 9472/1997, art. 60,§1º. b) Distinção entre favorecimento real e concurso de pessoas no delito antecedente. 
6
Sumário
 9. Favorecimento Real.
 - Questões controvertidas: 
 b) Distinção entre favorecimento real e concurso de pessoas no delito antecedente. 
 c) Confronto com os delitos de favorecimento pessoal e receptação. 
 d) Inexigibilidade de conduta diversa. 
 10. Exploração de prestígio (Art. 357, CP). 
 - Análise do tipo penal. 
 - Questão relevante: Confronto com o delito de tráfico de influência. 
 11. Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito. (Art. 359, CP). 
 - Análise do tipo penal. 
 - Questão relevante: Confronto com o delito de desobediência (art.330, Código Penal) e com as medidas previstas nas Leis n. 9099/1995, 9503/1997 e 11340/206. 
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Sumário
Conclusão
Exercícios.
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Introdução
Importância do assunto.
Dica: adicione suas próprias anotações do orador aqui.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Denunciação caluniosa
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: 
 Caput com redação determinada pela Lei n. 10.028, de 19 de outubro de 2000. 
 Pena — reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. 
 § 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. 
 § 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Denunciação caluniosa
Sujeitos do crime 
 1. Sujeito ativo é qualquer pessoa. Nada impede que qualquer autoridade pública também possa ser sujeito ativo desse tipo penal, especialmente aquelas que, de modo geral, integram a persecução criminal, tais como magistrados, membros do Ministério Público e delegados de polícia, que podem, como qualquer outra autoridade, também praticar o crime de denunciação criminosa.
 2. Sujeitos passivos são, prioritariamente, a pessoa atingida em sua honra pela denunciação caluniosa e o Estado. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Denunciação caluniosa
Tipo objetivo: adequação típica
 A conduta incriminada consiste em dar causa (motivar, originar, fazer nascer) a instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa (Lei n. 10.028/2000) contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. São três, portanto, os requisitos necessários para a caracterização do delito: a) sujeito passivo determinado; b) imputação de crime; c) conhecimento da inocência do acusado. Para a ocorrência do crime de denunciação caluniosa não basta a “imputação de crime”, mas é indispensável que em decorrência de tal ação seja instaurada investigação policial, judicial, cível, administrativa ou de improbidade administrativa.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Denunciação caluniosa
Confronto com os delitos de calúnia e comunicação falsa de crime ou contravenção.
 Bem jurídico protegido é a boa e regular Administração da Justiça. Tutela-se, igualmente, a honra objetiva da pessoa ofendida, embora não se confunda com o crime de calúnia (crime contra a honra), apresentando, inclusive, considerável superioridade do desvalor da conduta aqui incriminada, pois não atinge somente sua reputação pessoal, mas também e fundamentalmente a sua liberdade, pela ameaça do processo criminal que se instaura, cuja sanção é bastante grave. 
 No art. 340 isso não ocorre; nesse crime, o agente se limita a comunicar falsamente a ocorrência de crime ou contravenção, não apontando qualquer pessoa como responsável por eles ou então apontando pessoa que não existe. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Denunciação caluniosa
Denunciação caluniosa e organização criminosa
 Publicada no dia 2 de agosto de 2013, a Lei 12.850/2013 dispõe sobre a organização criminosa e outras providências legais.
Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Imputação falsa da prática de crime assemelha-se ao crime de denunciação caluniosa, mas com esta não se confunde, pois não objetiva a instauração de nenhum tipo de procedimento investigatório. Na verdade, essa imputação falsa já ocorre no âmbito de uma investigação, e não tem a finalidade de causar a investigação de qualquer natureza de ninguém. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Denunciação caluniosa
Confronto entre
o direito de auto defesa e a denunciação caluniosa.
 Autodefesa: exercida pelo próprio réu. Por conta da autodefesa, o réu não é obrigado a se auto incriminar (Art 5º, inc XL, LXIII), autodefesa positiva ou negativa.
 A autodefesa é um direito ilimitado? Não. A autodefesa não é um direito absoluto. Exemplo disso, já consagrado há muito tempo, é o fato de que se o réu, em seu interrogatório, imputar falsamente o crime a pessoa inocente responderá por denunciação caluniosa (art. 339, CP).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Denunciação caluniosa
Jurisprudência
“A denunciação caluniosa deve ser objetivamente falsa, isto é, deve estar em contradição com a verdade dos fatos, e o denunciante deve estar plenamente ciente de tal contradição. Impossível falar em denunciação caluniosa se a imputação a outrem não é totalmente destituída de razão” (TJMG, Apelação 1.0024.04.503818-9/001(1), Rel. Márcia Milanez, j. 7-8-2007).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Comunicação falsa de crime ou contravenção
Art. 340. Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: 
Pena — detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Comunicação falsa de crime ou contravenção
Sujeitos do crime 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não lhe sendo exigida nenhuma qualidade ou condição pessoal ou funcional. 
Sujeito passivo é o Estado, que é o titular do bem jurídico ofendido, a Administração Pública lato sensu, especificado na Administração da Justiça. 
Tipo objetivo: adequação típica 
 Pune-se a conduta de quem provoca (motiva, dá causa) a ação de autoridade (policial ou judiciária), comunicando a ocorrência de infração penal (crime ou contravenção) que sabe não ter acontecido.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Comunicação falsa de crime ou contravenção
Convém destacar, novamente, que a comunicação falsa de infração penal não se confunde com a infração anteriormente analisada “denunciação caluniosa”: nesta, o sujeito ativo indica determinada pessoa (suposta) como autora da infração penal; naquela, o sujeito ativo não indica ninguém como autor da infração que afirma ter ocorrido. Na comunicação falsa de infração penal, o agente sabe que infração não houve; na denunciação caluniosa, sabe que o imputado não praticou o crime que denuncia. Distintas, pois, são as infrações penais, como diferentes são os bens jurídicos ofendidos.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Comunicação falsa de crime ou contravenção
Jurisprudência
“Não importa a quem tenha sido feita a comunicação falsa de crime para que se configure o crime do CP, art. 340. O que conta e se dessa comunicação falsa houve alguma providência para apurar. Aí define-se a competência em função do lugar onde se iniciaram, formalmente, as averiguações” (STJ, Conflito de Competência 4.552/SP, Rel. Min. Édson Vidigal, j. 21-10-1993).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Comunicação falsa de crime ou contravenção
Jurisprudência
“Não importa a quem tenha sido feita a comunicação falsa de crime para que se configure o crime do CP, art. 340. O que conta e se dessa comunicação falsa houve alguma providência para apurar. Aí define-se a competência em função do lugar onde se iniciaram, formalmente, as averiguações” (STJ, Conflito de Competência 4.552/SP, Rel. Min. Édson Vidigal, j. 21-10-1993).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Autoacusação falsa
Art. 341. Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: 
 Pena — detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa
Sujeitos do crime 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não lhe sendo exigida nenhuma qualidade ou condição pessoal ou funcional, desde que não tenha sido autor, coautor ou partícipe do crime objeto da autoacusação falsa, devendo ficar, enfim, afastada qualquer possibilidade de participação no fato delituoso. 
Sujeito passivo é o Estado, que é o titular do bem jurídico ofendido, a Administração Pública lato sensu, especificado na Administração da Justiça.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Autoacusação falsa
Tipo objetivo: adequação típica 
 A conduta punível consiste em acusar-se, isto é, imputar-se crime inexistente ou praticado por outrem. A falsidade da autoacusação reside na inexistência do fato delituoso ou assertiva de não tê-lo cometido. Em termos bem esquemáticos, o crime de que o agente se autoacusa deve ser inexistente, isto é, que não aconteceu, ou, mais precisamente, que o sujeito ativo não o praticou, pois o fato em si mesmo até pode ter sido cometido, mas por outrem, segundo menciona o próprio caput.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Autoacusação falsa
Jurisprudência
“Autoacusação falsa. Condenação mantida. A reconstituição probatória demonstra que o apelante assumiu a culpa por um crime que não praticou, cometendo, por conseguinte, o delito do art. 341, caput, do CP” (TJRS, Apelação 70020241709, Rel. Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, j. 9-8-2007)
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Falso testemunho ou falsa perícia
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: 
Pena — reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
 § 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. 
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. 
 — Caput e §§ 1º e 2º com redação determinada pela Lei n. 10.268, de 28 de agosto de 2001. O mesmo diploma legal suprimiu o § 3º.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Falso testemunho ou falsa perícia
Sujeitos do crime 
 1. Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que, como testemunha, perito, tradutor ou intérprete realize a ação descrita no tipo penal, desde que não esteja legalmente impedido ou dispensado de fazê-lo. Em termos esquemáticos, sujeito ativo é quem, chamado a depor, na forma legal, presta testemunho falso, seja fazendo afirmação falsa, seja negando ou calando a verdade. 
 2. Sujeitos passivos do crime de falso testemunho ou de falsa perícia são a Administração Pública (Administração da Justiça), representada pelo Estado, no seu legítimo interesse de desenvolver regularmente a atividade judiciária, na busca infatigável de distribuir, adequadamente, justiça, e, se ocorrer, o eventual ofendido, lesado ou prejudicado pelo crime de falso testemunho ou falsa perícia.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Falso testemunho ou falsa perícia
Tipo objetivo: adequação típica 
 São três as modalidades de conduta previstas no crime de falso testemunho ou falsa perícia: afirmar falsamente, negar ou calar a verdade. Em outros termos, o crime de falso testemunho pode ser praticado de três formas, quais sejam afirmando-se uma falsidade, negando-se a verdade ou calando-se o que se sabe. Vejamos: a) fazer afirmação falsa, ou seja, dizer uma coisa positivamente distinta da verdade — o sujeito ativo assegura, garante ou afirma uma inverdade; diz que é certo o que não é. Em outras palavras, na afirmação falsa o agente faz declaração diversa da que corresponderia, in concreto, a sua percepção dos fatos. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Falso testemunho ou falsa perícia
Tipo objetivo: adequação típica 
 b) negar a verdade: negar um fato que sabe ou conhece, ou seja, negar um fato verdadeiro, dizer que é errado o que
sabe que é certo, o sujeito ativo nega o que sabe, nega a percepção de fatos que teve conhecimento direto. Afirmar o falso e negar o verdadeiro representam duas formas distintas, positivas, comissivas, de faltar com a verdade. 
 c) calar a verdade: silenciar ou ocultar o que sabe. Calar significa ficar em silêncio ou não querer responder, constituindo uma forma de omissão de falsidade negativa. Nessa modalidade, não há afirmação nem negação: o sujeito silencia sobre o fato, ou recusa-se a responder, violando, segundo a doutrina, igualmente o dever da verdade, havendo o que os autores têm denominado de reticência.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Falso testemunho ou falsa perícia
O compromisso de dizer a verdade e a caracterização de falso testemunho.
	Toda pessoa pode ser testemunha, de acordo com o art. 202 do CPP; contudo, nem toda pessoa tem o dever jurídico de depor (art. 206 do CPP). Ademais, o art. 207 do mesmo diploma legal proíbe de depor, quando não desobrigadas pelo interessado, “as pessoas que em razão de função, ministério, ofício ou profissão devem guardar segredo”. Tem-se questionado a possibilidade de testemunha não compromissada (arts. 206 e 208 do CPP) poder cometer o crime de falso testemunho. A impossibilidade de as testemunhas não compromissadas (meros informantes) praticarem falso testemunho, ante a inexistência do compromisso legal de dizer a verdade, em razão do vínculo que as prende a uma das partes e que as torna desmerecedoras da mesma credibilidade das demais, isto é, das testemunhas numerárias.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Falso testemunho ou falsa perícia
O compromisso de dizer a verdade e a caracterização de falso testemunho.
Apelação criminal. crime contra a administração da justiça. falso testemunho (art. 342 do CP). Sentença condenatória. apelantes que não obstante não se enquadrarem em nenhuma das hipóteses daqueles que podem se recusar a depor, tampouco entre aquelas que estão proibidas e, embora advertidos do impedimento e da suspeição nos termos do estabelecido na legislação e nada tendo mencionado, foram dispensados do compromisso legal. Discussão doutrinária e jurisprudencial acerca da necessidade do compromisso legal para configuração do crime de falso testemunho. advertência à testemunha de que se fizer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade praticará o delito deve ser entendida como elementar do tipo, pois sem ela inexiste o dever de falar a verdade sendo, então, ouvida como informante e não como testemunha. Atipicidade da conduta reconhecida de ofício com absolvição dos apelantes. prejudicada a análise das teses recursais. Apelação Criminal n. 2012.085375-2, de Brusque.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Falso testemunho ou falsa perícia
Concurso de pessoas no crime de falso testemunho
	A Doutrina entende que este crime é um crime de mão-própria, ou seja, além de somente a pessoa que figura numa das posições descritas no tipo poder praticar o crime, ela somente poderá fazê-lo pessoalmente, não havendo possibilidade de execução por interposta pessoa, de forma que não se admite a coautoria.
	No entanto, o STF admite a participação, notadamente a participação moral, realizada através da instigação ou induzimento à prática do delito. Vejamos o seguinte julgado, de 2001 (Mas que permanece externando o entendimento da Corte):
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
EMENTA: Recurso ordinário. Habeas corpus. Falso testemunho (art. 342 do CP). Alegação de atipicidade da conduta, consistente em depoimento falso sem potencialidade lesiva. Aferição que depende do cotejo entre o teor do depoimento e os fundamentos da sentença. Exame de matéria probatória, inviável no âmbito estreito do writ. Co-autoria. Participação. Advogado que instrui testemunha a prestar depoimento inverídico nos autos de reclamação trabalhista. Conduta que contribuiu moralmente para o crime, fazendo nascer no agente a vontade delitiva. Art. 29 do CP. Possibilidade de co-autoria. Relevância do objeto jurídico tutelado pelo art. 342 do CP: a administração da justiça, no tocante à veracidade das provas e ao prestígio e seriedade da sua coleta. Relevância robustecida quando o partícipe é advogado, figura indispensável à administração da justiça (art. 133 da CF). Circunstâncias que afastam o entendimento de que o partícipe só responde pelo crime do art. 343 do CP. Recurso ordinário improvido.(RHC 81327, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Primeira Turma, julgado em 11/12/2001, DJ 05-04-2002 PP-00059 EMENT VOL-02063-01 PP-00196)
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exercício arbitrário das próprias razões
Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: 
Pena — detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. 
Parágrafo único. Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. 
Sujeitos do crime 
Sujeito ativo é qualquer pessoa, independentemente de qualidade ou condição especial; contudo, tratando-se de funcionário público, que também pode ser sujeito ativo. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exercício arbitrário das próprias razões
Sujeito passivo, prioritariamente, é o indivíduo que sofre a ação ou seus efeitos e, secundariamente, como sujeito passivo formal, o Estado que sofre o descrédito no exercício de um de seus poderes institucionais, aquele cujo mister é a solução de conflitos e distribuir justiça.
Tipo objetivo: adequação típica 
 A conduta incriminada consiste em fazer justiça pelas próprias mãos, ou seja, valer-se de qualquer meio de execução (violência física, ameaça, fraude, recursos não violentos, subterfúgios etc.) tendente à satisfação de uma pretensão (legítima ou ilegítima), suscetível de apreciação pela autoridade judiciária. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exercício arbitrário das próprias razões
Concurso com crime resultante de violência: sistema do cúmulo material 
	Determina o preceito secundário a cominação da respectiva sanção, “além da pena correspondente à violência”. Assim, eventuais lesões corporais são punidas, como crime autônomo, conforme expressa disposição do tipo em exame.
Pena e ação penal 
	As penas cominadas, alternativamente, são de detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência, adotando-se o sistema de aplicação de penas do cúmulo material. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exercício arbitrário das próprias razões
Exemplo
O credor tem todo o direito de cobrar uma dívida vencida recorrendo ao Poder Judiciário, para que o Estado-Juiz, convencendo-se dos direitos alegados pelo reclamante, determine o cumprimento da obrigação, por parte do devedor. O que o credor não pode fazer, sob pena de incidir na prática prevista no art. 345, é tomar bens do devedor à força, para satisfazer assim o seu crédito.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exercício arbitrário das próprias razões
Jurisprudência
“Exercício arbitrário das próprias razões. Art. 345 do Código Penal. Desclassificação. Impossibilidade. Para o crime de exercício arbitrário das próprias razões é necessária que a pretensão do agente seja legítima ou que a suponha legítima, neste caso amparada por convincente engano e cuja satisfação poder-se-ia postular em juízo. A conduta praticada pelo réu e seu comparsa, mediante o emprego de grave ameaça, não se reveste de qualquer justificativa jurídica a abonar tivessem agido no exercício das próprias razões. Pelo contrário, demonstram o agir com animus furandi, ajustando-se perfeitamente naquela descrita no art. 157 § 2º, I e II, do Código Penal” (TJRS, Apelação 70018148809, Rel. Roque Miguel Fank, j. 8-8-2007).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual 
 Art. 347. Inovar artificiosamente,
na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: Pena — detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.
Artifício pode ser definido como uma certa encenação material, com a utilização de algum aparato ou objeto para enganar a vítima, isto é, o agente com determinado mis em scène ou estratagema provoca ou mantém em erro a vítima. Ex.: disfarce, efeitos especiais, documentos falsos etc.
Ardil é a conversa enganosa; já não se trata da fraude material, mas a intelectual.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual 
Sujeitos do crime 
	Sujeito ativo do crime de fraude processual pode ser qualquer pessoa, tendo ou não interesse pessoal no processo, não sendo exigida nenhuma qualidade ou condição especial. Qualquer pessoa que inove artificiosamente, alterando o estado de lugar, coisa ou pessoa, com o objetivo de favorecer qualquer dos litigantes. Por isso, a inovação pode ser feita pela parte (réu, órgão do Ministério Público), por qualquer terceiro, interessado ou não no processo, por funcionário público e pelo próprio advogado, se efetivamente concorrer para a fraude. 
Sujeito passivo é, prioritariamente, qualquer pessoa que seja prejudicada pela conduta artificiosa do sujeito ativo inovando no processo; secundariamente, o Estado, sempre titular do bem jurídico ofendido — a Administração Pública lato sensu, e, mais especificamente, a Administração da Justiça.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual 
Tipo objetivo: adequação típica 
	 A conduta típica consiste em inovar (mudar, alterar), artificiosamente (mediante artifício ou ardil), o estado de lugar, de coisa ou de pessoa (enunciação taxativa), com o fim de induzir a erro o juiz ou perito. Inovar artificiosamente o estado de lugar, de coisa ou de pessoa quer dizer promover, ardilosamente, mudanças, modificações ou transformações materiais, extrínsecas ou intrínsecas, capaz de transformar a importância probatória que lugar, coisa ou pessoa anteriormente tinham, isto é, modificar o estado desses objetos materiais, que são numerus clausus, sem a concorrência de causas naturais. Inova-se, por exemplo, o estado de coisa quando se eliminam vestígios de sangue numa peça indiciária da autoria de um homicídio, para fazer crer que se trata de suicídio; o estado de pessoa quando se alteram, mediante operação plástica, determinados sinais característicos de um indivíduo procurado pela justiça.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual 
Consumação
 Consuma-se o crime de fraude processual, no lugar e no momento em que se completa, com efetividade, a ação de inovar artificiosa, mesmo que o juiz ou perito não seja induzido em erro. É necessário que a ação tenha idoneidade suficiente para induzir em erro, isto é, para enganar, para ludibriar, sob pena de não se aperfeiçoar a fraude processual, podendo configurar crime impossível por impropriedade do meio.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual
Fraude processual (347, CP) x estelionato (171, CP)
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Fraude processual Art 312, CBT
Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz: 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual
Lei 10.826/2003
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
        Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
        Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem:
  I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato;
        II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual
Confronto entre o direito à autodefesa e a fraude processual
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Fraude processual
Jurisprudência
“Fraude Processual. Policial Civil. A conduta, em tese, perpetrada pelo ora Paciente – policial civil que enxerta na cena do crime talão de cheques objeto de furto, na clara tentativa de ajudar outros colegas policiais que cometeram brutal homicídio contra vítima inocente – é grave, mormente tendo-se em consideração, como destacou o Parquet, a sua condição de agente público, cujo cargo traz consigo o dever de zelar pela investigação criminal. Desrespeitou, assim, o dever inerente às suas funções, elevando o grau de reprovabilidade da conduta. Motivação idônea. A circunstância funcional do ora Paciente, levada em conta pelo Parquet, não integra o tipo penal em tela (art. 347, parágrafo único, do Código Penal)” (STJ, HC 40.511/RS, Rel. Min. Laurita Vaz, j. 6-12-2005).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento pessoal
Art. 348. Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: 
Pena — detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. 
§ 1º Se ao crime não é cominada pena de reclusão: 
Pena — detenção, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa. 
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento pessoal
 Sujeitos do crime 
Sujeito ativo do crime de favorecimento pessoal pode ser qualquer pessoa, tendo ou não interesse pessoal no processo, não sendo exigida nenhuma qualidade ou condição especial, desde que não tenha contribuído, de alguma forma (coautor ou partícipe), no crime anterior, pois, nessa hipótese, teria concorrido para o crime nos moldes do art. 29 e seus parágrafos. Aliás, nada impede que a própria vítima do crime anterior possa auxiliar seu algoz a furtar-se à ação da autoridade pública, isto é, ser sujeito ativo desse crime. 
Sujeito passivo é o Estado, sempre titular do bem jurídico ofendido 
— a Administração Pública lato sensu, e, mais especificamente, a Administração da Justiça.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento pessoal
 É pressuposto do delito que o sujeito ativo do favorecimento não seja partícipe do crime principal — ao qual é cominada a pena de reclusão — e que o auxílio tenha sido prestado após o seu momento consumativo. A punibilidade do crime precedente é outro pressuposto do crime de favorecimento pessoal, sendo indispensável que seja punível à época do favorecimento. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento pessoal
Tipo objetivo: adequação típica 
 Pune-se a conduta de quem auxilia (favorece) autor de crime (doloso ou culposo; consumado ou tentado) a subtrair-se (escapar, esquivar-se) à ação de autoridade pública (policial, judiciária ou administrativa). Auxiliar significa dar asilo ou fuga, isto é, impedir ou dificultar que a autoridade pública prenda ou mantenha preso “autor de crime”, como diz o texto legal, tentado ou consumado, doloso ou culposo. Qualquer ajuda do sujeito ativo para evitar ou dificultar
a captura do autor do crime precedente materializa o crime de favorecimento pessoal (ocultação, facilitação de fuga, oferecimento de abrigo, empréstimo de veículo etc.)
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento pessoal
Confronto com os crimes de prevaricação e corrupção passiva.
- Crime de prevaricação
 Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
- Corrupção passiva
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento pessoal
Alcance das escusas absolutórias
Escusa absolutória: sua extensão (§ 2º) Trata-se de escusa absolutória, considerada espécie do gênero causas especiais de isenção de pena. Com efeito, é isento de pena o sujeito ativo que é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do autor do crime precedente (enumeração taxativa).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento pessoal
Jurisprudência
“Comete o delito previsto no art. 348 do CP o agente que auxilia condenado por crime de reclusão e com mandado de prisão expedido, concedendo-lhe abrigo em sua residência, com o fim de ocultá-lo das autoridades policiais” (TJRS, Apelação 70022123889, Rel. Constantino Lisbôa de Azevedo, j. 6-3-2008). 
 “A conduta descrita denúncia não se amolda ao tipo penal descrito no art. 348 do Código Penal: o auxílio prestado pelo paciente ao suposto assaltante não objetivava sua fuga, mas sim para que recebesse atendimento médico. Ordem concedida para trancar a ação penal movida em desfavor do paciente, pelo crime previsto no art. 348 do Código Penal” (STJ, HC 46.209/BA, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, j. 30-5-2006).
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento real
Art. 349. Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: 
 Pena — detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
Objeto material: produto ou proveito de crime 
 O objeto material do crime de favorecimento real, a exemplo da receptação, deve ser produto ou proveito de crime, isto é, há de ser o resultado, mediato ou imediato, de um fato definido como crime. É irrelevante que tal produto tenha sido substituído por outro. Perante nosso Código Penal, que se refere apenas a “proveito do crime”, inegavelmente a coisa sub-rogada, representando proveito do crime, também pode ser objeto tanto de favorecimento real quanto de receptação, visto que a ilicitude do produto do crime precedente não desaparece, evidentemente, com a substituição por qualquer outra coisa diretamente obtida com aquele. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento real
Art. 349. Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: 
 Pena — detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa.
Objeto material: produto ou proveito de crime 
 Objeto material do favorecimento real, ao contrário do que ocorre com o crime de receptação, não se limita à coisa móvel, podendo o “proveito do crime”, por conseguinte, recair sobre imóvel. Os direitos, reais ou pessoais, igualmente, tampouco podem ser objeto de receptação, pois direitos não se confundem com “coisa” (afora os títulos ou documentos que os constituem ou representam), no entanto, também podem ser objeto de favorecimento (proveito do crime), como simples “proveito” do crime.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento real
Sujeitos do crime 
 Sujeito ativo do crime de favorecimento real, a exemplo do favorecimento pessoal, também pode ser qualquer pessoa, tendo ou não interesse pessoal no processo, não sendo exigida nenhuma qualidade ou condição especial, desde que não tenha contribuído, de alguma forma (coautor ou partícipe), no crime anterior, pois, nessa hipótese, teria concorrido para o crime nos moldes do art. 29 e seus parágrafos. Aliás, nada impede que a própria vítima do crime anterior possa auxiliar seu algoz a furtar-se à ação da autoridade pública, isto é, ser sujeito ativo desse crime.
 Sujeito passivo será sempre o do crime do qual advém o proveito do favorecimento real, ou, em outros termos, o sujeito passivo do crime de favorecimento real é o mesmo sujeito passivo do crime anterior; secundariamente, é, também, o Estado.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento real
Tipo objetivo: adequação típica 
 A conduta incriminada consiste em prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria (art. 29 do CP) ou de receptação (art. 180 do CP), auxílio (direto ou indireto, material ou moral) destinado a “tornar seguro o proveito do crime”. Caracteriza-se o favorecimento real, em outros termos, pelo auxílio prestado a criminoso, após a prática do crime (está excluída a contravenção), com o fim de tornar seguro o seu proveito. 
 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento real
Receptação: similitude com o favorecimento real 
 A receptação, pode-se dizer, numa linguagem figurada, é uma espécie de irmã siamesa do favorecimento real; se ocorrer, afasta a configuração deste, por expressa determinação legal. Com efeito, tanto a receptação quanto o favorecimento real, que em muito se aproximam, são posteriores ao crime praticado pelo favorecido, sendo recomendável, por isso mesmo, redobrada atenção no estabelecimento da linha divisória entre ambos; como nas duas infrações penais há o conhecimento, por parte do sujeito ativo, da prática do crime precedente, a essência da diferença reside na causa posterior:
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Favorecimento real
Receptação: similitude com o favorecimento real 
 enquanto na receptação o sujeito ativo é levado ao cometimento da infração penal para satisfazer interesse econômico próprio ou de terceiro, e não do autor do crime antecedente, no favorecimento real, a motivação da conduta típica resume-se ao “proveito exclusivo do autor” do crime precedente, que pode ou não ser econômico. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exploração de Prestígio
Art. 357. Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha: Pena — reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa. 
 Parágrafo único. As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exploração de Prestígio
Sujeitos do crime 
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive funcionário público, desde que não esteja no exercício de suas funções normais. 
Sujeito passivo é o Estado, mais especificamente a Administração da Justiça. O próprio funcionário público iludido ou ludibriado, que arcará, no mínimo, com o dano moral decorrente de sua infidelidade funcional, também é, secundariamente, sujeito passivo dessa infração penal.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exploração de Prestígio
Tipo objetivo: adequação típica 
As condutas típicas, alternativamente incriminadas, são representadas pelos verbos nucleares solicitar (pedir, rogar, procurar) ou receber (aceitar em pagamento, obter, conseguir) dinheiro ou qualquer outra utilidade (de cunho moral ou material), a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário da justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha (enumeração taxativa). Solicitar indica a iniciativa do agente; este propõe a “traficância”, sendo desnecessária
a sua aceitação por parte do “beneficiário” ou presumível comprador; receber é um estágio mais avançado do “processo”, já pressupondo acordo de vontade entre comprador e vendedor do “prestígio”, pois há um pagamento.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exploração de Prestígio
Tráfico de influência e exploração de prestígio 
Ao contrário do que ocorre com o crime de tráfico de influência (art. 332), o tipo penal de exploração de prestígio (art. 357) não criminaliza a conduta de obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, mas tão somente solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, embora com finalidade semelhante, qual seja, “a pretexto de influir” — lá, “em ato de funcionário público...”, qualquer funcionário — enquanto aqui (especialização), “em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário da justiça...” etc., e é exatamente essa finalidade distinta que assegura igualmente a diferença de bem jurídico; naquele é a Administração Pública lato sensu, e neste, a Administração da Justiça.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Exploração de Prestígio
Jurisprudência
“Exploração de prestígio majorada. O delito do art. 357 do Código Penal é de mera atividade ou simples conduta, bastando que o agente solicite o dinheiro para que se consume” (TJRS, Revisão Criminal 70005824248, Rel. Antônio Carlos Netto de Mangabeira, j. 5-8-2005). 
“Exploração de prestígio. Evidenciada a inexistência de materialidade da conduta, uma vez que a única prova do suposto fato constitui a palavra da vítima, por ela mesma infirmada, cabível o trancamento da ação penal, por falta de justa causa” (STJ, HC 30.966/SP, Rel. Min. Paulo Medina, j. 27-4-2004). 
“O crime de exploração de prestígio exige, à sua configuração, apenas a obtenção de vantagem, ou promessa desta, junto a funcionário público no exercício da função. Dispensável a identificação expressa do servidor” (STJ, REsp 76.211/PE, Rel. Min. Edson Vidigal, j. 30-6-1999
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito. 
Art. 359. Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: 
Pena — detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
Sujeitos do crime 
	Sujeito ativo somente pode ser aquele que foi suspenso ou privado, por decisão judicial, de exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus (público ou privado), ressalvada, evidentemente, a hipótese da participação, que é alcançada mediante a ampliação da adequação típica, na forma do concurso eventual de pessoas. 
	Sujeito passivo é o Estado, sempre titular do bem jurídico ofendido Administração Pública “lato sensu”, mais especificamente, na hipótese, a Administração da Justiça. O Estado, na concepção clássica, é sempre sujeito passivo de qualquer crime, como temos reiteradamente insistido.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito. 
Art. 359. Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: 
Pena — detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
Sujeitos do crime 
	Sujeito ativo somente pode ser aquele que foi suspenso ou privado, por decisão judicial, de exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus (público ou privado), ressalvada, evidentemente, a hipótese da participação, que é alcançada mediante a ampliação da adequação típica, na forma do concurso eventual de pessoas. 
	Sujeito passivo é o Estado, sempre titular do bem jurídico ofendido Administração Pública “lato sensu”, mais especificamente, na hipótese, a Administração da Justiça. O Estado, na concepção clássica, é sempre sujeito passivo de qualquer crime, como temos reiteradamente insistido.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito. 
Tipo objetivo: adequação típica 
A conduta tipificada é exercer, que significa desempenhar, executar, praticar qualquer das atividades contidas no tipo penal. Exercer tem o significado tradicional de habitualidade. No entanto, a habitualidade é, na hipótese do dispositivo em exame, afastada pelo fato de que a prática de um único ato já caracteriza a violação da proibição imposta. É pressuposto do crime que o agente exerça função, atividade, direito, autoridade ou múnus de que já foi suspenso ou privado por decisão judicial transitada em julgado, entendida esta como exclusivamente a de natureza penal; isto é, o sujeito ativo volta a desempenhar função, atividade, direito, autoridade ou múnus de que estava “suspenso ou privado”, tais como, segundo a doutrina majoritária, as hipóteses expressamente elencadas no art. 92 do CP. 
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito. 
Confronto com o crime de desobediência?
Art. 330 – Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
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1. Dos Crimes praticados a Administração da Justiça
Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito. 
Jurisprudência
Desobediência a decisão judicial sobre suspensão de direito. Lesões corporais. Comete os delitos previstos no art. 359 e art. 129 do CP o agente que desobedece a ordem judicial de afastamento do lar conjugal e ofende a integridade corporal da ex-esposa. Condenação mantida” (TJRS, Apelação 70022223234, Rel. Constantino Lisbôa de Azevedo, j. 24-1-2008). 
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Conclusão
Exercícios.
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