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CRIMES HEDIONDOS II

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL IV 
TEMA DA AULA: LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL. CRIMES HEDIONDOS II. Crimes em espécie.
PALAVRAS-CHAVE: Crimes Hediondos. Crimes equiparados a hediondos. Crimes em espécie. 
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Objetivos
 Conhecer o plano de aula.
Analisar, nos casos concretos propostos, a incidência dos institutos repressores da Lei n.8072/1990 aos delitos previstos no Código Penal tipificados como delitos hediondos.
 Identificar os delitos tipificados como delitos equiparados a hediondos previstos na Legislação Penal Especial.
 Compreender os conflitos de Direito Intertemporal para fins de tipificação dos delitos hediondos e seus consectários penais e processuais penais.
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Sumário
Introdução
Desenvolvimento
 I. Crimes Hediondos. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
1. Homicídio.
   1.1 O delito de homicídio e sua tipificação como delito hediondo.
 a) Homicídio praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (Art.121, §2º, incisos I a VII).
 b) Lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º.
 1.2 A (in)aplicabilidade da Lei n.8072/1990 ao delito de homicídio qualificado-privilegiado. 
 
 
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2. Latrocínio
     2.1 O roubo qualificado pelo resultado morte e sua tipificação como delito hediondo - Lei n.8930/1994.
   2.2 A admissibilidade da tentativa no delito de latrocínio: controvérsias.
   2.3. A competência para processo e julgamento do delito de latrocínio.
3. O delito de Extorsão
    3.1. Figuras típicas consideradas hediondas.
   3.2 A Lei n. 11923/2009 e a extorsão qualificada do §3º, do art. 158, do Código Penal e sua (in)aplicabilidade à Lei n.8072/1990-  controvérsias.
4. O delito de extorsão mediante sequestro.
    4.1. Figuras típicas consideradas hediondas.  
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5. Os delitos de Estupro e Estupro de Vulnerável.
     5.1 Figuras típicas consideradas hediondas.
      5.2 Estupro de Vulnerável-  a Lei n.12015/2009 e sua incidência sobre a Lei de Crimes Hediondos.
    5.3 O Direito Intertemporal, a Lei n.12015/2009 e as causas de aumento previstas no art. 9º, da Lei n. 8072/1990.
    5.4 O Direito Intertemporal, a Lei n.12.015/2009 e o delito de atentado violento ao pudor.
6.  Epidemia com resultado morte.
7. Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
8. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.
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II. Crimes Hediondos. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
 1. Genocídio - Lei n.2889/1956.
 1.1 O delito de genocídio e a EC n.45/2009: art. 5º, §4º e art. 109, inciso V-A, da CRFB/1988
 2. Tortura - Lei n.9455/1997.
 3. Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins- Lei n.11343/2006.
 4. Terrorismo: Lei n.7170/1983, art.20.
Conclusão
 Exercícios.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
1. Homicídio
A inclusão do homicídio no rol dos crimes hediondos foi uma das principais modificações provocadas pela Lei n. 8.930/94. Tentado ou consumado, o homicídio simples é crime hediondo, mas somente quando cometido em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só executor. Atividade típica de grupo de extermínio não se confunde com quadrilha ou bando, pois a lei não exige número mínimo de integrantes para considerar hediondo o homicídio simples. O grupo pode ser formado por, no mínimo, duas pessoas (como no caso da associação criminosa – art. 35 da Lei n. 11.343/2006), admitindo-se, ainda, que somente uma delas execute a ação. A finalidade é especial em relação ao delito previsto no art. 288 do CP, qual seja a de eliminar fisicamente um grupo específico de pessoas, pouco importando estejam ligadas por um laço racial ou social, sendo suficiente que estejam ocasionalmente vinculadas. Por exemplo: no massacre de Vigário Geral, as vítimas estavam, eventualmente, alocadas umas perto das outras, sem um liame necessariamente racial a uni-las.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
1. Homicídio
Tentado ou consumado, o homicídio doloso qualificado é hediondo, nos termos do art. 1o, I, com a redação da Lei n. 8.930/94. Conforme exposto, as normas de direito material da Lei n. 8.072/90 só se aplicam aos crimes cometidos após 7 de setembro de 1994, e as de direito processual têm aplicação imediata.
No que concerne ao delito de homicídio qualificado, a lei n. 13.104, de 2015 alterou o Código Penal acrescentando a figura denominada de feminicídio, no qual o motivo determinante para a prática do homicídio é a violência discriminatória de gênero o que, segundo a referida lei envolve violência doméstica e familiar e menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
1. Homicídio
 Ainda, a lei n. nº 13.142, de 2015 acrescentou ao art.1º, da lei de crimes hediondos as condutas de lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
A (in)aplicabilidade da Lei n.8072/1990 ao delito de homicídio qualificado-privilegiado. 
O homicídio privilegiado não é crime hediondo. O homicídio simples, sobre o qual pode ser aplicado o privilégio, só é considerado hediondo quando cometido em conduta típica de grupo de extermínio, circunstância incompatível com as do art. 121, § 1o, do CP. Não é possível que alguém, logo em seguida a injusta provocação e sob o domínio de violenta emoção, pratique um homicídio em atividade típica de grupo de extermínio, em que “frieza” e premeditação são imprescindíveis. Assim, ou o homicídio simples é privilegiado ou cometido em atividade típica de extermínio.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
2. Latrocínio
     A palavra “Latrocínio” do latim “latrocinium”, indica a conduta de um agente que pratica um roubo seguido de um homicídio. O uso da violência é essencial para diferenciação de um crime de roubo e um crime de furto. Naquele, a violência é sempre notada, só que no caso do latrocínio, tal violência é empregada com tanta ênfase que dela temos o resultado morte.
O art. 157, do CP, define o tipo penal roubo, destacando-se a descrição da conduta do latrocínio:
 “Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: § 3º Se da violência (...) resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.”
É evidenciado que, na conduta de roubar, a violência contra a vítima encontra-se intrínseca ao próprio conceito jurídico do crime. 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
2. Latrocínio
     O roubo qualificado pelo resultado morte e sua tipificação como delito hediondo - Lei n.8930/1994.
O homicídio surge aqui como uma qualificadora, dando ao delito pretextos para ampliação da pena mínima e máxima que lhe foi delimitada. A violência aqui descrita deve ser física, até porque se não fosse não poderia ter como resultado final a morte da vítima. Nesse entendimento: TJSP:
 “Todavia, a violência a que se refere o art. 157, §3º, do Código Penal há de ser física, e não moral. Com efeito, enquanto o caput refere a ‘grave ameaça ou violência à pessoa’, no art. §3º, que trata o latrocínio, apenas faz referência à violência física (...) omitindo a violência seja ela grave ou não. (TJSP/RT
111/495)”
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
2. Latrocínio
    A admissibilidade da tentativa no delito de latrocínio: controvérsias.
Considera-se consumado o latrocínio quando a coisa alheia é subtraída e a morte evidenciada. Analisando as hipóteses de crime tentado, temos que: quando o agente não consegue finalizar nenhuma das ações, obviamente, tem-se a tentativa de latrocínio.
Também há tentativa, caso o agente aproprie-se da coisa e não consiga consumar o homicídio contra a vítima. Apesar de alguns poucos, como é o caso de Hungria (1977, 63), se posicionarem na linha de pensamento de que implicaria em uma tentativa homicídio qualificado, pelo motivo torpe de querer roubar, o entendimento majoritário é de que a tentativa é incontestável nessa hipótese, já que se leva em consideração a maior relevância do resultado morte para ter-se a consumação. 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
2. Latrocínio
    A admissibilidade da tentativa no delito de latrocínio: controvérsias.
A dúvida surge quando o agente não completa a ação de roubo, mas comete homicídio contra a vítima. A parte majoritária da doutrina afirma ser um caso de latrocínio consumado. Dentro desse raciocínio, temos o posicionamento do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima” (SÚMULA Nº 610 - STF).
Alguns doutrinadores opinam de forma diferente, caso de Mirabete e Fragoso. Na opinião de outra parte doutrinária, como Noronha, quando ocorrer a morte e não a subtração, há tentativa de furto em concurso com homicídio qualificado.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
2. Latrocínio
      A admissibilidade da tentativa no delito de latrocínio: controvérsias.
Apesar de não ser uma interpretação literal do que consta na lei, e ainda que se trate de um crime complexo, tendo que haver a execução de ambas as ações que fazem parte do tipo penal para ser considerado consumado, a orientação do STF e da maior parte da doutrina, é a mais aceitável.
  A competência para processo e julgamento do delito de latrocínio.
Entendimento majoritário ser a competência para julgar o crime de latrocínio o juiz singular.
Cabe desclassificação.
Crime contra o patrimônio. 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
3. Delito de Extorsão
No caso de extorsão da qual resulte morte, deve ser aplicada a mesma pena prevista no § 3º do art. 157, por força do que dispõe o art. 158, § 2º, todos do CP. A extorsão e o roubo, qualificados ou não, são crimes praticamente idênticos, que ofendem os mesmos bens jurídicos. Observe a diferença: se a vítima pratica um ato que o agente poderia realizar em seu lugar, o crime é de roubo (entrega da carteira); se a vítima pratica um ato que o agente não poderia cometer em seu lugar, o crime é de extorsão (preenchimento de um cheque). Não há muita diferença entre as condutas. Assim, se em qualquer das condutas exemplificadas a vítima vier a ser morta pelo agente, fica ele sujeito à pena de 20 a 30 anos de reclusão, além da multa, por força da redação dada ao § 3º do art. 157.
Lei 11.923/2009 e sua (in)aplicabilidade à Lei 8.072/90. o crime de extorsão previsto no §3º do art. 158 do CP, quando resulta morte, é crime hediondo, por força de uma interpretação extensiva do § 2º.
    
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
4. Extorsão mediante sequestro
O legislador, na pressa de fazer a lei, esqueceu-se de inserir a pena de multa no crime de extorsão mediante sequestro, quer em sua forma simples, quer na forma qualificada (art. 159 e parágrafos). Isso é lamentável, pois a cupidez é o móvel principal desse crime. Ocorreu, in casu, verdadeira abolitio poena, e, como norma penal mais benéfica, a nova regra, na parte em que aboliu a sanção pecuniária, retroage para alcançar todos os crimes de extorsão mediante sequestro praticados anteriormente, levando à extinção imediata de todos os processos de execução das multas aplicadas a esses delitos.
    
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
5. Delito de estupro e estupro de vulnerável 
O estupro simples é o delito previsto no art. 213, caput, com a nova redação determinada pela Lei n. 12.015/2009. Dado que constitui grave atentado à liberdade sexual do indivíduo, integra o rol de crimes hediondos, uma vez que a Lei n. 8.072/90 se refere expressamente a todas as formas, simples e qualificadas, desse crime (cf. art. 1º, V). Nesse sentido, inclusive, era o posicionamento dos tribunais superiores quando da antiga redação do crime de estupro (CP, art. 213 c.c. revogado art. 223).
Com a nova epígrafe do delito em exame, entretanto, passou-se a tipificar a ação de constranger qualquer pessoa (homem ou mulher) a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Desse modo, ações que antes configuravam crime de atentado violento ao pudor (CP, art. 214), atualmente revogado pela Lei n. 12.015/2009, passaram a integrar o delito de estupro, sem importar em abolitio criminis. 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
5. Delito de estupro e estupro de vulnerável 
Houve uma atipicidade meramente relativa, com a passagem de um tipo para outro (em vez de atentado violento ao pudor, passou a configurar também estupro, com a mesma pena).    
Conclui-se, portanto, que o estupro passou também a abranger a prática de qualquer outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal (coito anal, oral etc.). 
Por força dessas modificações legais, a Lei n. 12.015/2009 expressamente modificou a redação do art. 1º, V e VI, da Lei dos Crimes Hediondos, prevendo o estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º), mas excluindo o atentado violento ao pudor do inciso VI. 
Embora a Lei dos Crimes Hediondos não se refira mais, em seu inciso VI, ao atentado violento ao pudor na forma simples e qualificada, por força da revogação expressa dos arts. 214 e 223 do CP pela Lei n. 12.015/2009, os elementos de tais figuras penais foram abrangidos pela nova redação do delito de estupro.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
5. Delito de estupro e estupro de vulnerável
O Código Penal, em seu art. 224, presumia a violência da vítima: 
 a) não maior de 14 anos; 
 b) alienada ou débil mental, e o agente conhecesse esta circunstância; 
 c) quando ela não pudesse, por qualquer outra causa, oferecer resistência. 
Nessas hipóteses, considerava-se, por ficção legal, ter havido conjunção carnal mediante constrangimento, sendo irrelevante o consentimento da vítima, cuja vontade era totalmente desconsiderada, ante sua incapacidade para consentir. O estupro com violência real ou presumida integrava o mesmo tipo incriminador, com penas idênticas. Com o advento da Lei n. 12.015/2009, o estupro cometido contra pessoa sem capacidade ou condições de consentir, com violência ficta, deixou de integrar o art. 213 do CP, para configurar crime autônomo, previsto no art. 217-A, sob o nome de “estupro de vulnerável”. 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
5. Delito de estupro e estupro de vulnerável
Assim, a ação de “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos” configurará o aludido delito com pena mais severa de reclusão de oito a 15 anos, quando na forma simples. O § 1º do mencionado art. 217-A pune com a mesma pena do caput os atos libidinosos contra pessoa, cuja enfermidade ou deficiência mental lhe retire o discernimento ou a capacidade de resistência. No seu § 3º (o § 2º foi vetado), há uma qualificadora: se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave, pena de reclusão, de dez a 20 anos. Finalmente, no § 4º, se resulta morte, pena de reclusão, de 12 a 30 anos.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
5. Delito de estupro e estupro de vulnerável
Importante apenas ressalvar que o antigo art. 224 do CP considerava que a
violência era presumida se a vítima tivesse idade igual ou inferior a 14 anos, o que não mais ocorre, agora, tendo em vista que se considera apenas o menor de 14 anos. Assim, a conjunção realizada com indivíduo com idade igual a 14 anos não configurará estupro de vulnerável (CP, art. 217-A), devendo-se comprovar o emprego de violência ou grave ameaça para se possibilitar o seu enquadramento na figura típica do art. 213 do CP. 
Finalmente, cumpre assinalar que, de acordo com a nova redação do art. 1º, VI, da Lei n. 8.072/90, o estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º) é considerado crime hediondo. Antes de tais modificações legais, muito se discutiu se os crimes sexuais (estupro e o revogado atentado violento ao pudor) com violência presumida seriam hediondos, sendo certo que os Tribunais Superiores vinham se manifestando no sentido afirmativo da hediondez de tais delitos.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
5. Delito de estupro e estupro de vulnerável
Importante apenas ressalvar que o antigo art. 224 do CP considerava que a violência era presumida se a vítima tivesse idade igual ou inferior a 14 anos, o que não mais ocorre, agora, tendo em vista que se considera apenas o menor de 14 anos. Assim, a conjunção realizada com indivíduo com idade igual a 14 anos não configurará estupro de vulnerável (CP, art. 217-A), devendo-se comprovar o emprego de violência ou grave ameaça para se possibilitar o seu enquadramento na figura típica do art. 213 do CP. 
Finalmente, cumpre assinalar que, de acordo com a nova redação do art. 1º, VI, da Lei n. 8.072/90, o estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º) é considerado crime hediondo. Antes de tais modificações legais, muito se discutiu se os crimes sexuais (estupro e o revogado atentado violento ao pudor) com violência presumida seriam hediondos, sendo certo que os Tribunais Superiores vinham se manifestando no sentido afirmativo da hediondez de tais delitos.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
6. Epidemia com resultado morte.
Entende-se por epidemia a propagação de germes patogênicos.
 “VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o)” 
Ressalta-se que basta a morte de uma só pessoa para a configuração do crime. A transmissão dolosa do vírus HIV não configura o crime ora em comento. 
 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
7. Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.
Com o escândalo da falsificação dos medicamentos causado em 1998, foram encontrados mais de 138 remédios falsificados expostos e à venda nas farmácias. Depois de inúmeras fatalidades, como, por exemplo, idosos e crianças mortas por tratamentos feitos com remédios a base de farinha de trigo, a sociedade e a mídia, esperavam por justiça e por uma posição das autoridades competentes a respeito do assunto. (Lei 9.677/98)
 O art. 273, caput e os +1º, §1º-A e §1º B , foram introduzidos aos crimes hediondos pela Lei 9695/98. 
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
8. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.
O crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável, com o nome jurídico dado pela Lei 12.978/2014, consiste no fato de o agente “submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não temo necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone” (CP, art. 218-B, caput). São quatro os elementos que integram o delito: (1) as condutas de submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual; (2) alguém menor de 18 anos; (3) ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato; (4) facilitando, impedindo ou dificultando que a vítima a abandone.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
8. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.
Prostituição é o comércio habitual do próprio corpo, exercido por qualquer pessoa (homem ou mulher), em que estes se prestam à satisfação sexual de indeterminado número de pessoas, em troca de pagamento não somente monetário, mas também por meio de bens e serviços. A reiteração do comércio sexual é imprescindível, pois, trata-se de atividade necessariamente habitual. Pressupõe o contato físico entre as pessoas envolvidas na atividade sexual (conjunção carnal, sexo oral, sexo anal, masturbação etc.). A prostituição em si mesma, embora seja um ato considerado imoral, não é crime, somente a exploração do lenocínio por terceiros constitui ilícito penal.
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 I. Crimes em espécie previstos no Código Penal.
8. Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável.
Qualquer outra forma de exploração sexual - o dispositivo pune o agente não somente na hipótese de prostituição, mas por qualquer outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável. Por exemplo:
 - o turismo sexual;
 - a pornografia infantil;
 - o tráfico de criança ou adolescente para fins sexuais.
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
1. Genocídio – Lei 2.889/1956
A palavra genocídio vem da junção dos termos: génos (grega) que significa raça, povo, tribo, grupo, nação com a palavra caedere (latim) que quer dizer destruição, aniquilamento, ruína, matança etc. 
O artigo 2º da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio de 1948 define o crime como: 
" Na presente Convenção, entende-se por genocídio os atos abaixo indicados, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tais como: 
a) assassinato de membros do grupo; 
b) atentado grave à integridade física e mental de membros do grupo; 
c) submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua destruição física, total ou parcial; 
d) medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; 
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
1. Genocídio – Lei 2.889/1956
e) transferência forçada das crianças do grupo para outro ". 
No Brasil a referida Convenção foi ratificada pelo Decreto 39.822 , de 1952 e, logo após, em 1956, foi editada a Lei nº 2.889 /56 que não fugiu aos tipos de genocídio descritos na Convenção. 
Características do Crime de Genocídio 
- O genocídio pode ser dividido em 3 espécies: 
(i) genocídio físico : assassinato e atos que causem a morte; 
(ii) genocídio biológico : esterilização, separação de membros do grupo, e o 
(iii) genocídio cultural : atentados contra o direito ao uso da própria língua; destruição de monumentos e instituições de arte, história ou ciência. 
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
1. Genocídio – Lei 2.889/1956
A Emenda Constitucional 45/2009 alterou o art 5º, §4º e o art 109, inciso V-A da CF/88.
Art. 5º ........................................................................................................ 
 § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. 
Art. 109 Aos juízes federais compete processar e julgar:
 V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo.
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
2. Tortura - Lei n.9455/1997.
A tortura, até bem pouco tempo, só podia ser praticada como meio para a realização de outro crime (por exemplo: homicídio qualificado pelo emprego de tortura). Havia um único tipo, previsto no art. 233 do ECA (“submeter criança, menor ou adolescente
a tortura”), mas que era considerado muito vago, impreciso e, por essa razão, de constitucionalidade duvidosa. 
A Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1997, em seu art. 4º, revogou expressamente o art. 233 do ECA e fixou o exato conceito do crime de tortura: 
 Art. 1º Constitui crime de tortura: 
 I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
 a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; 
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
2. Tortura - Lei n.9455/1997.
 b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; 
 c) em razão de discriminação racial ou religiosa; 
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
 Pena – reclusão, de dois a oito anos. 
 [...] Art. 4o Revoga-se o art. 233 da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. 
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
3. Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins- Lei n.11343/2006. 
No regime anterior da Lei n. 6.368/76, discutia-se se o art. 35 do mencionado diploma legal, que dispunha: “O réu condenado por infração dos arts. 12 ou 13 desta Lei não poderá apelar sem recolher-se à prisão”, teria sido revogado pela Lei n. 8.072/90, o qual previa que caberia ao juiz decidir fundamentadamente se o réu poderia ou não apelar em liberdade, independentemente de qualquer requisito. Como o tráfico está previsto nessa lei, ficava a questão: a Lei n. 8.072/90 teria revogado o art. 35 da Lei de Tóxicos, possibilitando a apelação em liberdade no caso de condenação por tráfico de drogas? Havia o entendimento que tinha operado a revogação, cabendo, assim, ao juiz decidir fundamentadamente se o réu poderia ou não apelar em liberdade. 
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
3. Tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins- Lei n.11343/2006. 
Com o advento da nova Lei de Drogas (Lei n. 11.343/2006), contudo, passou-se a impor, novamente, a obrigatoriedade de o réu recolher-se à prisão para apelar, salvo se primário ou de bons antecedentes. Com efeito, de acordo com o art. 59: 
 “Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá apelar sem recolher-se à prisão, salvo ser for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória.”
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
4. Terrorismo: Lei nr 7.170/1983, art. 20. 
O terrorismo, embora ainda careça de melhor tipificação legal, está previsto genericamente no art. 20 da Lei n. 7.170/83: 
“Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.” 
 A crítica que se faz é a de que não existe tipo legal definindo o crime de terrorismo com todos os seus elementos, mas tão somente uma breve menção a ele, feita no art. 20 da Lei de Segurança Nacional. Sem a existência de um tipo próprio, definidor da conduta, em tese, não se poderia admitir a existência legal do delito no ordenamento pátrio, sob pena de afronta ao princípio da reserva legal.
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II. Crimes em espécie previstos na Legislação Penal Especial.
4. Terrorismo: Lei nr 7.170/1983, art. 20. 
Contudo, embora o seu tipo definidor seja aberto, isso se justifica plenamente diante da imensa variedade operacional com que essa conduta pode se revestir, sendo impossível ao legislador antever todas as formas de cometimento de ações terroristas. Considerando que o bem jurídico não pode ficar sem proteção, uma vez que a própria Constituição Federal tutela o direito à vida, à segurança, ao patrimônio, entre outros (art. 5º , caput), o largo alcance da elementar em questão é perfeitamente aceitável. Assim, incide a Lei dos Crimes Hediondos sobre a conduta tipificada no art. 20 da Lei n. 7.170/83, sem que essa padeça de qualquer vício de inconstitucionalidade.
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Jurisprudência 
Pena. Regime de cumprimento. Progressão. Razão de ser. A progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semiaberto e aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais dia ou menos dia, voltará ao convívio social. Pena. Crimes hediondos. Regime de cumprimento. Progressão. Óbice. Art. 2o, § 1o, da Lei n. 8.072/90. Inconstitucionalidade. Evolução jurisprudencial. Conflita com a garantia da individualização da pena. Art. 5o, inc. XLVI, da Constituição Federal. A imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da individualização da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do art. 2o, § 1o, da Lei n. 8.072/90 (STF, 1a T., HC 88.159/RS, rel. Min. Marco Aurélio, j. em 28-11-2006, DJU de 19-12-2006)
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Conclusão
Exercícios
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