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CAPÍTULO I DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL O sujeito ativo dos crimes deste capítulo I somente será o funcionário público no exercício do seu cargo, figurando como sujeito passivo o Estado e também o particular, vitimado pela violência do agente. Obs: particular, em concurso, se sabe que seu comparsa é funcionário público. Sujeito passivo é o Estado, a entidade que sofre o dano ou o particular, se o objeto material for deste. O bem jurídico protegido é o patrimônio dos entes da administração pública ou de particulares se em posse da adm.pub. Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público PECULATO Artigo 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. O peculato é crime próprio. Sujeito ativo é o funcionário público. (O não-funcionário pode ser co-autor ou partícipe do crime); O crime é doloso. A tentativa é possível. Obs: O objeto material do peculato é dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel público ou particular que esteja na posse do agente em razão do cargo. Pode Pertencer ao Estado ou a qualquer dos entes a ele equiparados. Pode o bem pertencer a qualquer pessoa, mas que esteja em poder do agente em razão da função que ele exerce. O bem particular pode ter sido apreendido ou depositado, emprestado, locado, enfim, pode estar sob o poder da administração pública Obs: Não haverá crime quando a coisa tem valor insignificante – principio da insignificância OBS: *PECULATO – APROPRIAÇÃO (1ª PARTE DO CAPUT DO ART.312)- EX: escrivão de policia tem inquérito policial sob sua responsabilidade, no qual há bens de particulares apreendidos, e se apropria desses bens. ( equivale a apropriação indébita). * PECULATO - DESVIO (2ª PARTE DO CAPUT DO ART.312) – Desviar é modificar o destino do objeto ou Dar-lhe finalidade diversa.EX:o ordenador de uma despesa que fica com parte do valor de uma licitação § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.( peculato furto) É O PECULATO FURTO – ex: escrivão de policia A, recebe inquérito policial com R$ 50.000,00 apreendidos e o escrivão de policia B, da sala ao lado, toma conhecimento. B, que não detém a posse do valor, vai à delegacia e, valendo-se das facilidades do cargo, pega a chave da sala de A, entra e subtrai os valores . Atente: B Não tinha a posse do dinheiro, mas se utilizou do cargo para tomar a coisa pra si. Obs: FURTO DO BEM PÚBLICO COMETIDO POR FUNCIONÁRIO PUBLICO: se B ingressar na sala sem as facilidades do cargo penetrando na sala como um criminoso comum (sem se valer das facilidades do cargo) responderá por furto qualificado, e não peculato. Ex: um policial, atendendo a uma ocorrência, subtrai o Som do carro envolvido antes da apreensão, há somente crime de furto, isto porque o objeto ainda não estava sobe guarda da administração PECULATO-USO: * Se for bem fungível, há peculato: funcionário que usa dinheiro público para comprar apartamento: crime consumado, mesmo que depois reponha aos cofres públicos; *se for bem infungível não há crime: funcionário que usa um trator público em sua casa e depois devolve. Caracteriza-se em infração administrativa. PECULATO CULPOSO: §2º Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Ocorre por conta da contribuição culposa do funcionário (imprudência ou negligência) que, por falta de zelo propicia a prática criminosa. EX: funcionário, negligenciando, deixa a porta da sua sala aberta ao sair e alguém passa e subtrai o dinheiro que estava em poder do servidor. Note: haverá furto por parte daquele que subtraiu o valor e peculato culposo por parte do funcionário publico Atenuantes: §3º - Se a reparação do dano precede à sentença irrecorrível, EXTINGUE A PUNIBILIDADE; se lhe é posterior, REDUZ DE METADE A PENA IMPOSTA. RESUMO: Peculato apropriação: É uma apropriação indébita e o objeto pode ser dinheiro, valor ou bem móvel. O funcionário tem a posse da coisa em razão do seu cargo. Peculato desvio: O servidor desvia a coisa em vez de apropriar-se. Peculato furto: Aqui o funcionário público não detém a posse, mas consegue se apossar da coisa em razão da facilidade de ser servidor público. Peculato culposo: é o caso da “porta aberta” esquecida pelo funcionário publico, e terceiro entra e subtrai um bem. PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM Artigo 313 - apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Ex: funcionário público que trabalha como caixa no orgão de arrecadação, recebe valor maior (por erro espontâneo de alguém) e se apropria do valor excedente. Obs: peculato estelionato: fiscal aplica multa ao contribuinte que paga o valor direto ao fiscal, sendo que nunca existiu multa. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES Artigo 313-A - Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Sujeito ativo é apenas o funcionário público que esteja autorizado a acessar o Sistema. Outro funcionário ou o não-funcionário pode ser co-autor ou partícipe do crime. O crime é doloso. O agente deve estar consciente da falsidade dos dados que insere. Não se prevê a modalidade culposa . A tentativa é possível; MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES Artigo 313-B - Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único - As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. Não se trata das informações contidas no sistema, mas do próprio sistema operacional ou de um dos programas nele utilizados, que é modificado ou alterado pelo agente. Para incorrer na incriminação, o agente deve agir sem autorização ou solicitação da autoridade competente. Deve o agente atuar com dolo. A tentativa é possível. EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO Artigo 314 -Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, se o fato não constitui crime mais grave. obS: sonegar é não exibir quando exigido. extraviar é fazer desaparecer. inutilizar é tornar imprestável. O objeto material é livro oficialou documento. Livro oficial é aquele no qual o órgão da administração registra fatos de interesse público. Assim os livros de atas, de registro de protocolo, de documentos etc. Já o documento pode ser público ou particular. A norma não exige que, em razão da conduta, decorra qualquer dano para a administração ou para qualquer particular, ATENÇÃO: se houver destruição de documento em benefício do agente ou de terceiro o crime será o do art. 305 do Código Penal. ATENÇÃO: Se o funcionário público é advogado e destrói ou sonega documento que recebeu em razão de sua função, cometerá o delito do art. 356. A conduta é dolosa. A tentativa é possivel. EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS Artigo 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. Sujeito ativo é somente o funcionário público que tem poder de decidir sobre a aplicação de verbas ou rendas públicas, o chefe do poder executivo, seus ministros ou secretários, dirigentes de empresas públicas etc. Quando o crime é praticado pelo Prefeito Municipal, incide a norma do art. 1º, inciso III, do Decreto-lei nº 201/67. Tratando-se do Presidente da República ou dos Ministros de Estado, Governadores e Secretários de Estado, poderão responder também por crime de responsabilidade definido no art. 11 da Lei nº 1.079/50 . Cuida-se de crime doloso. O agente deve saber que está aplicando o dinheiro público em finalidade diversa da estabelecida e atua com vontade livre, sem qualquer outro fim especial. A tentativa é possível . IMPORTANTE: A realização do tipo não exige a obtenção de vantagem para o agente ou outra pessoa, podendo, inclusive, não haver qualquer lesão ao erário, mesmo que não causem danos à administração . CONCUSSÃO Artigo 316 -Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Exigir é ordenar, intimar, impor a alguém um comportamento. É muito mais do que pedir ou solicitar. Constitui um verdadeiro constrangimento, uma coação. A vantagem indevida pode ter natureza econômica, patrimonial, moral ou qualquer outra. Indevida é a vantagem a que o agente não tem direito Ex: policial exige dinheiro da vitima, senão lavrará boletim de ocorrência ou providenciará a instauração de inquérito policial contra ela. pode ocorrer no exercício da função, fora da função (férias, licença) ou até mesmo antes de assumi-la (quando aprovado em concurso público sem ainda ter tomado posse). se o particular ceder à exigência, não estará cometendo crime algum. O agente abusa do poder que tem em razão da função pública que exerce infundindo temor na pessoa de quem exige a vantagem, a fim de que ela atenda a seu desejo. Não é necessário que ele prometa a causar mal injusto e grave, bastando que transmita à pessoa a ideia de que fará incidir seu poder de autoridade. O crime é doloso. O agente deve estar consciente de que a vantagem que exige é indevida e saber que age abusando da condição de funcionário público; Se o agente exige vantagem imaginando-a devida haverá erro de tipo, excludente do dolo e, portanto, da tipicidade, por inexistir forma culposa crime é do tipo formal, ou seja, não é exigível que o agente consiga a vantagem pretendida. A tentativa só será possível quando a exigência for feita por meio escrito, não chegando ao conhecimento da pessoa a quem é feita. OBS: se o funcionário publico exigir vantagem indevida usando de violência ou grave ameaça, ele incorrerá no crime do art. 158 do CP, que é extorsão. CONFLITO APARENTE DE NORMA: Se a exigência é feita para deixar de lançar ou cobrar tributo ou alguma contribuição, ou parcialmente cobrá-los, o delito passa a ser tributário, nos termos do art. 3.º, II, da Lei n. 8.137/9 CONCUSSÃO X CORRUPÇÃO PASSIVA (art. 317- cp) Na concussão, o funcionário público exige uma vantagem indevida. Exigir significa constranger, obrigar, existe necessariamente uma ameaça. Já no crime de corrupção passiva, o funcionário não faz qualquer ameaça, apenas solicita, isto é, pede uma vantagem indevida. Não existe qualquer imposição de temor à vítima EXCESSO DE EXAÇÃO § 1º- Exigir tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, Empregar na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. Exação é a cobrança rigorosa de uma dívida ou de um imposto. A norma pune o funcionário que se exceder na cobrança, porque deve ser exato no cumprimento de seu dever, não podendo ir além. A norma alcança a cobrança indevida de tributos ou de contribuição ou a cobrança de modo vexatório ou gravoso. é um crime doloso, onde o agente deve saber que o tributo ou contribuição é indevido ou que a forma de cobrança não é permitida. Não é necessário que o sujeito efetue o recolhimento. Basta, portanto, a exigência do tributo ou contribuição indevido ou o emprego do meio proibido de cobrança. A tentativa é possível Forma qualificada. § 2º - Desviar, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. CORRUPÇÃO PASSIVA Artigo 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. ATENÇÃO: Note que há diversas condutas. Na primeira conduta – solicitar – a iniciativa é do funcionário público e nas demais – receber e aceitar vantagem -a iniciativa é do particular, que responderá, como autor do crime de corrupção ativa (art. 333 CP) A solicitação e o recebimento podem ser feitos diretamente pelo funcionário ou através de outra pessoa, funcionário ou não, que participa do crime. Já a aceitação da promessa deve ser realizada diretamente pelo funcionário. A vantagem solicitada ou recebida pode ser para o próprio agente ou para outra pessoa o crime é do tipo formal, ou seja, não é exigível que o agente consiga a vantagem pretendida, É crime doloso. FORMAS DE CONSUMAÇÃO E TENTATIVA DA CORRUPÇÃO PASSIVA: na modalidade Solicitar: consuma-se no instante em que o pedido chega ao conhecimento da pessoa à quem é feita, possível a tentativa quando por meio escrito. Na modalidade receber, a consumação acontece no momento em que o funcionário tem, a seu dispor, a vantagem. Não há possibilidade de tentativa, pois ou o agente recebe ou não recebe. Se não recebe, não há crime; Na modalidade Aceitar: consuma-se com a manifestação da vontade do agente de anuir ou concordar com a promessa feita, não sendo admitida a tentativa. Atenção: *Se o funcionário solicita vantagem indevida comete o crime de corrupção passiva, a pessoa a quem foi solicitada a vantagem não comete crime algum. *Se o funcionário público aceita a promessa de vantagem ou a recebe, é porque o particular a prometeu ou ofereceu, o particular comete o delito do art. 333 Obs: Tem-se entendido que pequenas gratificações, de pouco valor, recebidas pelo funcionário, não constituem crime (ex: pequeno presente de dado pelo natal) Obs: Da mesma forma, não há crime quando o funcionário recebe, de qualquer pessoa, algum presente ofertado desinteressadamente, sem qualquer relação com a prática de qualquer ato funcional ou como gratidão por ato legítimo e lícito praticado anteriormente. Obs: pode ocorrer no exercício da função, fora da função (férias, licença) ou até mesmo antes de assumi-la (quando aprovado em concurso público sem ainda ter tomado posse). Conflito aparente de normas: Seo agente solicita ou recebe a vantagem ou aceita sua promessa, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social ou para cobrá-lo parcialmente, o fato se ajustará ao tipo do art. 3º, II, da Lei nº 8.137, punido com reclusão de três a oito anos e multa. ESPÉCIES DE CORRUPÇÃO PASSIVA CORRUPÇÃO PRÓPRIA – A vantagem que é oferecida ou solicitada pelo funcionário público é para praticar um ato ilegal (com violação do dever funcional). CORRUPÇÃO IMPRÓPRIA – A vantagem que é oferecida ou solicitada pelo funcionário público é para praticar um ato regular (um ato legal). Forma Qualificada. §1º- A pena é AUMENTADA DE UM TERÇO se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Forma Privilegiada. § 2º- Praticar, deixar de praticar ou retardar ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. Obs: Na forma privilegiada o proceder criminoso não é motivado por vantagem, e sim pelo pedido ou influência de outrem. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO Artigo 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334 CP). Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. facilitar é afastar obstáculos, tornar fácil o cometimento do crime do art. 334 CP. contrabando é a importação ou exportação fraudulenta, de mercadoria, cuja entrada ou saída seja proibida (mercadoria ilegal). descaminho é o ato fraudulento que se destina a evitar o pagamento de direitos e impostos previstos pela entrada, saída ou consumo (mercadoria legal). O agente deve ser o funcionário a quem incumbe fiscalizar a importação ou a Exportação; Se é funcionário público, mas não tem a atribuição legal para fiscalizar ou exigir o recolhimento do tributo, e vier facilitar o contrabando ou descaminho, irá responder como partícipe de um desses dois delitos. O crime é punido apenas a título de dolo. O erro sobre estar a mercadoria incluída dentre as proibidas ou sobre o imposto devido exclui a tipicidade do fato A tentativa somente é possível quando a conduta for positiva. PREVARICAÇÃO Artigo 319 -Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Retardar é atrasar, protelar. O funcionário não realiza o ato que deve executar no prazo previsto; deixar de praticar constitui-se na omissão do agente que não tem a intenção de praticar o ato que está obrigado a fazer Essas duas condutas são, portanto, omissivas e devem ser indevidas, no sentido de serem ilícitas, não justificadas Ex:delegado de policia arquiva boletim de ocorrência e não instaura inquérito policial em razão de amizade com o autor do delito. A terceira conduta típica é praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei. Trata-se de crime doloso; note que, se não houver esse elemento de satisfazer interesse ou sentimento pessoal, não haverá crime, ocorrendo uma infração funcional; A consumação, nas duas formas omissivas – retardar ou deixar de praticar ato de ofício – ocorre no instante em que o agente não realiza o ato. Impossível a tentativa. ; Na forma comissiva, consuma-se quando o ato é praticado com infração de norma legal, possível a tentativa Em qualquer caso, não é necessário que o funcionário consiga satisfazer a interesse ou sentimento pessoal que o moveu. Prevaricação imprópria art. 319-A - “deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 (três meses) a 1 (um) ano.” A conduta é omissiva, própria do Diretor da Penitenciária ou de outro agente público que esteja exercendo as suas funções O funcionário age sem a necessidade de motivos particulares aos seus deveres, difere da prevaricação própria do art. 319, pois não há a figura do interesse pessoal; o tipo abrange aparelhos telefônicos, podendo ser móveis ou fixos, pois não faz ressalvas; Veda também o acesso do preso a rádios, que devem ser aparelhos de radiodifusão, transmissores e/ou receptores, mas, obviamente, exclui rádios receptores de meios de comunicação (AM, FM, etc.). Diz a lei, ainda, sobre aparelhos similares, parecendo que se refere a similares de rádios, assim, poderiam se incluir aparelhos tipo pagers, outros transmissores de ondas eletromagnéticas, os Ipods, bluetooth , Iphones. CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA Artigo 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa. o agente deve ser superior hierárquico do funcionário infrator. É indispensável que entre o agente e o funcionário que comete a infração exista uma relação de subordinação hierárquica. trata-se de crime omissivo, visto que o funcionário superior não toma providências a fim de responsabilizar o subordinado pela prática da infração. A omissão deve ser dolosa, portanto, o agente teve está consciente que o subalterno praticou infração, penal ou administrativa, no exercício do cargo, Além disso, deve atuar por indulgência, que é a compaixão, a condescendência, a complacência, a tolerância. OBS: se agir por interesse ou sentimento pessoal, o crime será o de prevaricação. OBS: Se para obter vantagem indevida, a pedido de alguém, poderá realizar o tipo de corrupção passiva. • Consuma-se no instante em que o agente, tomando conhecimento da infração praticada pelo subordinado, deixa de praticar os atos visando a sua responsabilização ou, não sendo competente, deixa de comunicar ao funcionário competente para agir. • Não é possível a tentativa. Obs: crimes omissivos puros. ADVOCACIA ADMINISTRATIVA Artigo 321 -Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, além da multa. embora pelo nome pareça indicar que o sujeito ativo do crime seja advogado, o patrocínio a que se refere a lei inclui qualquer funcionário público. o crime é facilitar, proteger, defender, um interesse particular alheio perante a administração pública, aproveitando-se das facilidades que tem por sua condição de funcionário público. Na forma típica básica o interesse do particular é legítimo, isto é, lícito do ponto de vista formal e material. Se o interesse for ilegítimo, incidirá a norma do parágrafo único, que qualifica o crime. É crime doloso. Consuma-se o crime com a realização do primeiro ato de defesa do interesse privado A tentativa é possível VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA Artigo 322 -Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da pena correspondente à violência. a conduta criminosa se descreve pela prática, por funcionário público, de violência física injustificada contra determinada pessoa. A arbitrariedade da violência é elemento indispensável à verificação típica, posto que, sendo necessária, nos estritos limites da lei, será lícita, excluída a tipicidade do fato. Obs: A violência de que trata o tipo penal refere-se tão e só à violência física praticada por funcionário público no exercício de sua profissão, violência estaentendida como o emprego de força física, maus-tratos, que resultem ou não lesão corporal, estando assim excluída a violência psíquica, moral, a exemplo a ameaça. A consumação do delito se dará no momento da efetiva violência, respondendo ainda a autoridade por eventuais crimes de lesão corporal ou homicídio ou ainda pelas suas tentativas. O agente deve atuar dolosamente. A tentativa é, portanto, possível. ATENÇÃO - Divergem, doutrina e jurisprudência, acerca da revogação tácita do art. 322 pela da Lei nº 4.898/65, que diz: ABUSO DE AUTORIDADE, consiste na pratica de qualquer atentado à liberdade de locomoção, à inviolabilidade do domicílio, ao sigilo da correspondência, à liberdade de consciência e de crença, ao livre exercício do culto religioso, à liberdade de associação, aos direitos e garantias legais asseguradas ao exercício do voto, ao direito de reunião, à incolumidade física do indivíduo e aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. Uma corrente entende que não houve revogação, havendo, inclusive, decisão do Supremo Tribunal Federal nesse sentido. Outros estudiosos, dentre eles DAMÁSIO e MIRABETE, defendem que houve revogação tácita; A revogação é acolhida por muitas decisões dos Tribunais estaduais. O Superior Tribunal de Justiça não se manifestou expressamente a respeito. ABANDONO DE FUNÇÃO Artigo 323 -Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa. §1º- Se do fato resulta prejuízo público: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. §2º- Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. abandonar é ausentar de maneira arbitrária do local onde exerce o cargo publico exigindo a norma o transcurso de tempo juridicamente relevante.; se o funcionário pedir demissão, deverá aguardar o deferimento do pedido. a expressão “fora dos casos permitidos em lei” significa que a lei admite o abandono de cargo público em hipóteses como força maior (ex: doença) ou estado de necessidade (ex: epidemia, guerra ,etc.) Obs: há entendimento que abandonar cargo público significa afastar-se do cargo, deixando de exercê-lo de forma definitiva. Deve atuar com dolo, com consciência de que abandona o cargo, A consumação ocorre quando o funcionário tenha se afastado do exercício do cargo por um tempo juridicamente relevante; A tentativa é, portanto, impossível. Obs: só o titular de cargo público pode abandoná-lo. Não se aplica, a esse crime, a norma de equiparação do art. 327. EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO Artigo 324 -Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa. Note que são duas as condutas típicas; Indispensável, nas duas modalidades típicas, que o sujeito realize pelo menos um ato de ofício. O crime é doloso. Se não sabe das exigências legais ou de que foi afastado do cargo, não cometerá o crime. Consuma-se o crime com a prática de um único ato de ofício antes de satisfeitas as Exercício Funcional ou depois de saber que fora exonerado, removido, substituído ou suspenso. A tentativa é possível. VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL Artigo 325 -Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. §1º-- Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. §2º- Se da ação ou omissão RESULTA DANO à Administração Pública ou a outrem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. A primeira conduta incriminada é revelar fato. Revelar significa narrar a alguém, comunicar a outrem; A segunda conduta típica consiste na facilitação da revelação. Facilitar é tornar fácil. Obs: o fato deve ser daqueles que devem permanecer em segredo, ou seja, Fato sigiloso. Sigiloso e que deve permanecer em segredo é o fato de interesse público cuja revelação possa causar dano a um interesse da Administração Pública. Crime doloso O momento consumativo ocorre quando o segredo chega ao conhecimento de qualquer pessoa. A tentativa é possível. Obs: o enquadramento do agente será no artigo 325 se o fato não constituir crime mais grave, como por exemplo espionagem ou revelação de segredo com o ofensa a segurança nacional (lei 7170/83); Obs: violação de sigilo militar - CPM art 326; Obs: a revelação pode ser é direta, quando o funcionário comunica o fato pessoalmente a terceiro, ou será indireta, que é quando o funcionário torna fácil o conhecimento do fato pelo terceiro. VIOLAÇÃO DO SIGILO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA Artigo 326 -Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. OBS: Esse artigo está revogado pelo art. 94 da Lei n. 8.666, de 21/06/93, que regulamenta o art. 37, inc. XXI, da Constituição Federal e institui normas para licitações e contratos da Administração Pública, com a seguinte redação: Art. 94 - Lei n. 8.666/93 — Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena — detenção de 2 (dois) a 3 (três) anos e multa. Note-se que a redação do atual dispositivo, em sua essência, é muito semelhante àquela constante do Código Penal, porém com uma maior abrangência. Obs: o art. 326 do CP ficou vazio. Hoje o delito de violação de sigilo de licitação pública está descrito na lei especial. Funcionário público Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. Leia o Verbete de Súmula n. 147 do Superior Tribunal de Justiça. o Verbete de Súmula n. 18 do Supremo Tribunal Federal. as seguintes decisões: STF - Informativos n.580, 568, 553, 549, 536, 533, 530, 529 e 521 (disponíveis em: http://www.stf.jus.br). STJ - Informativos n. 442, 396, 370, 361 e 360 (disponíveis em: http://www.stj.jus.br). STJ. AgRg no AREsp 139973 / RS; Rel. Ministra Laurita Vaz; Quinta Turma. Julgado em: 26/06/2012 (disponível em: http://www.stj.jus.br). TJMG, Apelação Criminal n. 1.0390.09.025586-5/001. Sétima Câmara Criminal. Des. Duarte de Paula, julgado em 05/07/2012 (disponível em: http://www.tjmg.jus.br). TJRJ, Apelação Criminal n.2008.050.02801. Segunda Camara Criminal. Des. Adilson Vieira Macabu (disponível em: http://www.tjrj.jus.br).
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