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SALÃO INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO Expo Center Norte – São Paulo, 21/04 a 02/05 de 1999 - Salão de Idéias – Mesa redonda sobre “Formação do educador” - Claudinei Ferreira, Jorge Vasconcelos, Moacir Gadotti (IPF) e Maria Alice Setubal (CENPEC). A FORMAÇÃO DO EDUCADOR E A NOVA LDB Moacir Gadotti (*) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), também chamada de Lei Darcy Ribeiro, abrange todos os níveis de ensino, da educação infantil à pós-graduação, do ensino público e privado à educação especial e dos grupos étnico- culturais minoritários. Por isso é chamada de "Constituição da Educação". O processo de discussão da nova LDB teve início ainda durante a elaboração do capítulo da educação na Constituinte (1986-1988). Com a promulgação da Constituição em 1988 os debates em torno da nova LDB se intensificou. Foram três anos de trabalhos e negociações que envolveram os partidos, fóruns de entidades científicas, sindicatos, centrais sindicais, entidades profissionais e numerosos educadores. Ainda em 1988, o Deputado Octávio Elísio, apresentou o primeiro Projeto de Lei de LDB, tomando por base as discussões levadas à frente pela Associação Nacional de Pós-Graducação em Educação (ANPED). Seguiram-se onze Projetos de vários deputados. Ao mesmo tempo, a Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Turismo da Câmara dos Deputados iniciou um exaustivo processo de consultas. Várias entidades trouxeram novas propostas completas de LDB. Em agosto de 1989 estava pronto o 1º Substitutivo da LDB apresentado pelo relator da Comissão de Educação, deputado Jorge Hage, incorporando inúmeras idéias dos projetos anteriormente apresentados. Começou, então, a longa tramitação no Congresso. Em 1991 ele recebeu nada menos do que 1.200 emendas que as várias comissões técnicas do Congresso compatibilizaram num texto de consenso, aprovado pela Câmara em 1993 e encaminhado ao exame do Senado. O Senado aprovou um novo texto de autoria do Senador Darcy Ribeiro, o qual, ao contrário do texto da Câmara dos Deputados, não foi discutido com a sociedade, apesar dos protestos de eminentes educadores e ex-constituintes que participaram da elaboração da LDB como o sociólogo Florestan Fernandes, felecido em agosto de 1995. Não é possível neste pequeno texto colocar toda a riqueza do debate que ocorreu antes e depois da sua promulgação. Meus comentários vão se limitar ao texto final, (*) Moacir Gadotti, Professor titular da Universidade de São Paulo, Diretor do Instituto Paulo Freire e autor, entre outras obras, de: A educação contra a educação (Paz e Terra, 1979: Francês e Português), Convite à leitura de Paulo Freire (Scipione, 1988: Português, Espanhol, Inglês, Japonês e Italiano), História das idéias pedagógicas (Ática, 1993: Português e Espanhol), Pedagogia da práxis (Cortez, 1994: Português, Espanhol e Inglês) e Perspectivas atuais da educação (Artes Médicas, no prelo). Este texto é um roteiro (daí o seu caráter esquemático) utilizado para uma teleconferência sobre a nova LDB durante a Semana de Estudos Pedagógicos organizada pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba de 27 a 31 de julho de 1998. Nessa teleconferência participaram também Íria Brzezinski, da Universidade de Brasília e Lilian Anna Wachowicz, da PUC do Paraná. Para um aprofundamento do tema recomendo o livro de Íria Brzezinski (org.), LDB interpretada: diversos olhares se entrecruzam (São Paulo, Cortez, 1997) e Pedro Demo, A nova LDB: ranços e avanços (Campinas, Papirus, 1997). Pedro Demo foi um dos consultores próximos de Darcy Ribeiro e que colaborou na preparação do projeto de lei da nova LDB. 1 homologado pelo Presidente da República. Vou me ater a apontar alguns aspectos positivos e negativos da LDB que podem servir de base para uma reflexão crítica que pretendo desenvolver na exposição e nos debates. Em primeiro lugar, há uma questão de fundo desta LDB que precisamos aprofundar: ela propõe mudanças e avanços efetivos, mas não deixa claro nem a metodologia, nem as condições necessárias e as obrigações, tanto do Estado quanto da Sociedade para pôr em marcha essas mudanças. Isso significa que há uma espécie de descompromisso da Lei com a sua própria efetivação. A educadora e deputada federal Esther Grossi refere-se a três pontos nevrálgicos da nova LDB, que são: a) clara retração do Estado de suas responsabilidades de garantir escolaridade para todos; b) cerceamento da participação democrática da sociedade na condução dos destinos da educação no país e c) embasamento teórico atrasado no que diz respeito ao ensino- aprendizagem face às modernas teorias da construção do conhecimento. 1 – Quanto à formação do educador Quanto à formação do educador, há avanços e recuos. É notável verificar que o princípio da valorização do magistério é citado direta ou indiretamente em 43 artigos. O inciso II do Art. 67, cria alguns direcionamentos promissores voltados tanto para a melhoria da formação como para o “aperfeiçoamento profissional continuado”, incluindo-se o “licenciamento periódico remunerado”, consagrando a idéia essencial de que o aprimoramento profissional faz parte da profissão. O inciso V do mesmo artigo estabelece “período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho. O professor que não estuda sempre não é profissional sério da educação. Educação continuada em serviço (não “treinamento”). Estudo dirigido através de novas tecnologias (a distância, Internet), para além da obsoleta relação ensino-aprendizagem, como sustentam Maturana, Varela, Gardner, Vigostsky, Wallon, Piaget, Freire e outros. A formação continuada do professor deve fazer parte integrante dos sistemas de ensino. Não podem reduzir-se a “cursinhos” periódicos de “reciclagem” ou participação em “eventos” promovidos pelas Secretarias. 1. A nova Lei possibilita a qualquer bacharel - através de um curso de curta duração - o acesso à habilitação para a docência, criando condições para a desativação dos cursos de Pedagogia. Para alguns isso não é um aspecto negativo, pois esses cursos precisam realmente mudar. Mas a Lei cria os “Institutos Superiores de Educação”, que manterão “cursos normais superiores” (Art. 63, I), não diferenciando as atribuições destes Institutos em relação aos Cursos de Pedagogia, cuja continuidade, a médio prazo, fica ameaçada. A introdução da exigência de 300 horas de prática de ensino pode aumentar as dificuldades e não melhorar a formação docente. As atuais 180 já são realizadas com inúmeros problemas e, muitas vezes, de forma burocrático-formal. Não adianta aumentar o número de horas, sem repensar a forma como é feito o estágio. 2. Um aspecto positivo a ser mencionado é a exigência de formação superior para o professor do ensino básico (Art. 62), defendida há muitos anos pelas próprias entidades do magistério. Mas, levando em conta as diferenças regionais, esse artigo acaba possibilitando a admissão de professores sem curso superior no caso das primeiras quatro séries do ensino fundamental, para as quais basta o curso normal de nível médio. Isso pode abrir espaço para o descumprimento desse princípio. Além do mais, ela não estabelece prazos para que Estados e Municípios se comprometam a criar as condições para efetivar a elevação do nível de formação. Em princípio as autoridades governamentais não precisam tanto nos dizer o que fazer, mas, muito mais, oferecer as 2 condições para que possamos fazer o que juntos decidirmos fazer. Os profissionais da educação precisam ser mais ouvidos. 3. Ainda com referência à formação do educador devemos apontar três boas novidades: a) a formação de profissionais da educação para planejamentoe inspeção (Art. 64), tanto em nível de graduação quando em nível de pós-graduação, uma prática esquecida por causa da luta contra o tecnicismo e que criou uma certa aversão ao planejamento; b) o reconhecimento da importância da prática para a formação, o que pode facilitar o surgimento de novas propostas de formação de professores associando “teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço” (Art. 61, I); c) a valorização da formação continuada, “com licenciamento periódico remunerado” dos professores (Art. 67, inciso II). A importância da prática na formação do professor foi muito enfatizada por Paulo Freire que afirmou no livro Pedagogia da autonomia: “na formação permanente dos professores, o momento mais importante é o da reflexão crítica sobre a prática”. 4. Outro aspecto positivo da lei é a sua flexibilidade, apontada por alguns como a sua maior virtude. Mas não é bem assim. A flexibilidade pode transformar-se em vagüidade. A flexibilidade da lei pode gerar confusões. Por exemplo, ela prevê a possibilidade de formação de professores “por treinamento em serviço” (Art. 87, 4º), mas não deixa claro o que entende por essa modalidade de formação. Outro exemplo: ela prevê a criação dos “Institutos Superiores de Educação”, mas, de nada adiantará criar uma nova instituição com velhas práticas, como: currículos fragmentados e desvinculados da realidade das escolas, ausência de relação entre teoria e prática, formação conteudista e concepção iluminista do conhecimento. Como lembra Esther Grossi o embasamento teórico da lei está atrasado em relação às novas tendências da Sociologia do Currículo. 5. A lei determina que os Estatutos e os Planos de Carreira do Magistério Público assegurem, aos profissionais da educação: a) piso salarial profissional; b) progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; c) período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho (Art. 67, incisos III, IV e V). A exigência da docência como pré-requisito para a ocupação de qualquer cargo técnico-administrativo como a direção, a supervisão, a orientação educacional, a assistência técnico-pedagógica e a coordenação de área curricular pode ser considerada como um avanço na medida em que contribui para impedir o tão conhecido distanciamento entre os especialistas e a realidade das escolas. 6. Enfim, para entender melhor a questão da formação de professores na nova LDB é preciso entender melhor a filosofia que a embasou e, sobretudo, não esperar que ela venha a provocar profundar mudanças. Não haverá mudanças substantivas na educação sem um clara vontade política da Sociedade e do Estado em favor da valorização da Educação. Despertar na sociedade a paixão de aprender e valorizar o estudo e a formação para a cidadania, parecem exigências básicas para o educador de hoje. Isso não está na lei. Não importa. O mais importante não está na lei. Como diz Drumond de Andrade: “As leis não bastam. Os lírios não nascem das leis”. 2. Aspectos positivos e negativos Passando para outro tema, gostaria de apontar agora alguns aspectos positivos e outros negativos que podem servir de pontos para o nosso debate a seguir. Para esses comentários inspiro-me sobretudo no livro de Pedro Demo, A nova LDB: ranços e avanços, publicado pela Editora Papirus (1997). 3 Eis alguns aspectos positivos que gostaria de apontar: 1. Dispositivos inovadores. A nova LDB não é propriamente inovadora, pois não apresenta uma superação do paradigma educacional vigente. Contém, porém, dispositivos inovadores e flexibilizadores: a) reclassificação e desseriação. Exemplo: a educação básica pode ser oferecida através do sistema de “créditos” (módulos) como na Universidade ou “por disciplinas” como no atual “sistema supletivo” (Art. 23). b) Como vimos, o Art. 62 estabelece a formação superior para os professores da educação básica, a criação dos institutos superiores de educação e do curso normal superior. c) O Art. 4º abre a possibilidade de criar “formas alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior” (grifo nosso). O certo seria que qualquer pessoa pudesse retomar seus estudos a qualquer momento, em qualquer série ou etapa da escola, independentemente do calendário escolar. d) O Art. 34 estabelece a jornada escolar de pelo menos 4 horas diárias de trabalho efetivo em sala de aula. 2. O Regime de colaboração. O Art. 8º estabelece o “regime de colaboração” entre a União, os Estados e os Municípios na organização dos respectivos sistemas de ensino. O segundo parágrafo deste artigo sugere que, respeitada a lei, Estados e Municípios organizem os seus sistemas de ensino. À União cabe tão somente (Art. 9o) a “coordenação da política nacional de educação”. A União é responsável pela elaboração do Plano Nacional de Educação, em colaboração com Estados, Distrito Federal e Municípios. Ao MEC, como articulador dos diferentes níveis de ensino, cabe um papel normativo, redistributivo e supletivo. 3. Avaliação. Uma das boas inovações desta LDB é o destaque que dá à avaliação. O Art. 9º (inciso VI) assegura processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e melhoria da qualidade do ensino. O inciso V do mesmo artigo incumbe a União de “coletar, analisar e disseminar informações sobre educação” admitindo a necessidade de qualidade técnica dos dados disponíveis. Como observa Pedro Demo (op. cit, p. 37) é tradicional a precariedade dos dados e muitas vezes a sua falta. Ele aponta o “primarismo tradicional de administrar sem conhecimento de causa”. Este artigo introduz uma novidade importante quanto ao papel de avaliação e da informação (incisos V, VI, VIII). Não vale somente a auto-avaliação nem tão pouco só a avaliação externa. Como diz ainda Pedro Demo (idem), “um processo avaliativo dotado de qualidade formal e política alimenta-se de todas as chances possíveis, também para cultivar todas as transparências possíveis, como a avaliação de dentro e de fora, feita pelos alunos e pela comunidade, olhada de cima e de baixo, inter e extrapares, e assim por diante”. No sentido de vencer a resistência à avaliação e oferecer metodologias renovadas e emancipadoras de avaliação, o Instituto Paulo Freire oferece um curso sobre a avaliação do desempenho escolar no regime didático de progressão continuada e publicou em 1998 o livro Avaliação dialógica de José Eustáquio Romão. 4. Gestão democrática – O Art. 14 estabelece que “os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as peculiaridades”, consagrando ao mesmo tempo dois princípios educativos cruciais: a gestão democrática e o espaço próprio de cada sistema conforme suas peculiaridades - Os profissionais da educação deverão participar da elaboração do “projeto pedagógico da escola” (inciso I); as comunidades escolar e local deverão participar nos Conselhos Escolares ou equivalentes (inciso II). Não se pode afirmar que no que concerne à gestão democrática a LDB avançou muito. Na prática, a nova LDB não levou em conta a rica experiência que vem se construindo nestas duas últimas décadas no Brasil. Podia avançar muito mais sobretudo 4 na questão da escolha dos dirigentes escolares. A gestão democrática é uma tendência mundial hoje. Está sendo superada a visão hierárquica para uma visão de rede e da democracia representativa para uma democraciaparticipativa. 5. Autonomia da escola. O Art. 15 estabelece “progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público” às unidades escolares públicas. Assunto complicado. Veja-se a experiência de Minas Gerais com a escolha dos dirigentes escolares. Até hoje o executivo e o judiciário não se entenderam. Também neste tema o IPF vem trabalhando com o princípio da “autonomia da escola”, traduzindo-o sobretudo em estragégias, propostas e práticas concretas. O Art. 75, § 3º, possibilita Estados e Municípios a transferência de verbas diretamente para as escolas, reforçando a idéia de uma autonomia financeira da escola. 6. A incorporação da educação infantil ao sistema de ensino. Até agora as chamadas “escolinhas” de educação infantil não tinham qualquer controle. Agora elas terão que seguir certas normas ou serão consideradas “depósitos de crianças”. As escolas privadas de educação infantil pertencem ao sistema municipal. Mas, no que diz respeito à educação infantil existe uma grave contradição entre a LDB e o FUNDEF (Fundo de Manutenção e desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério): enquanto a LDB estrutura melhor a educação infantil (sobretudo a particular), o FUNDEF estrangula a educação infantil pública, não contabilizando, para efeito da transferência de fundos, as matrículas dos Municípios neste nível de ensino. 7. Novas garantias de financiamento. Temos sido generosos na legislação na “proclamação” de coisas para as quais não prevemos os recursos para realizá-las. A nova LDB prevê o que é e o que não é “despesa” com o ensino e facilita a fiscalização. Pelo Art. 72, toma-se a providência de imprimir alguma transparência ao processo de financiamento: “as receitas e despesas com manutenção e desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos balanços do Poder Público”, bem como em outros relatórios constitucionais. 8. A criação dos sistemas municipais de educação. No nível da norma a educação foi municipalizada. Define o que é educação municipal. Antes o Município para construir o seu sistema devia solicitar delegação de competências ao Conselho Estadual de Educação. Agora o Município que não se constituir em sistema, deve pedir vinculação ao sistema estaduais. A exceção virou regra. O Município virou unidade da Federação do ponto de vista da educação. Os destaques negativos da nova LDB já vem sendo discutidos por vários educadores. É claro, eles dependem muito da ótica do analista. O que para uns é negativo pode ser positivo para outros. Por exemplo, para muitos educadores, a criação dos sistemas municipais de educação, apontada acima como um ponto positivo, representa um retrocesso. 1. Uma visão relativamente obsoleta de educação - A visão de educação da nova LDB não ultrapassa a do mero ensino, como regra, observa Pedro Demo (op., cit). Na LDB educação é igual a ensino. A educação é também vista como mercadoria (êxito/fracasso). Há uma parte retrógrada no texto que é o uso do conceito de “ensino”, principalmente ligado ao de “qualidade” (Art. 9º inciso VI). Tem-se por trás da Lei o esquema “ensino-aprendizagem” que separa aquele que ensina daquele que aprende. Todos os níveis educacionais são tomados como ensino, inclusive o superior (Art 4º, Art 5º, Art 6º, Art 8º, Art 9º e incisos). 2. A concepção de Conhecimento - A Lei (Art. 32 ss) vê o conhecimento como algo a ser “adquirido”, não construído ou “reconstruído” como defende o Prof. Pedro Demo. Este é um “ponto nevrálgico” da nova LDB, como sustenta Esther Grossi. As 5 teses do construtivismo na educação são por demais conhecidas para serem retomadas aqui. Segundo Jean Piaget, “aprender não é saber repetir ou conservar verdades acabadas. É apresentar por si próprio a conquista do verdadeiro”. Quero lembrar apenas que a nova Sociologia do conhecimento insiste na necessidade de criação de ambientes interativos para a construção/reconstrução do conhecimento e reserva ao professor um papel de animador, de promotor das capacidades de aprendizagem. Como sustenta Ladislau Dowbor em seu livro A reprodução social (Vozes, 1998), a escola está deixando de ser lecionadora para ser gestora do conhecimento. A escola deve também trabalhar com a construção do gosto (não hábitos) pelo conhecimento, portanto deve trabalhar com valores, habilidades e novas competências, para o exercício da inteligência e da sensibilidade. Segundo Alberto Einstein “existe uma paixão pelo conhecimento, tal como existe uma paixão pela música. Essa paixão é comum nas crianças, mas a maioria das pessoa perde-a posteriormente. Sem ela não haveria matemática nem ciências naturais”. 3. Informática. Diante da importância que a informática tem hoje na educação, a nova LDB não se refere a ela mas apenas à educação a distância (Art. 80). Não mostra a sua importância para a formação inicial e continuada. Foi uma lacuna imperdoável. A novas tecnologias estocam o conhecimento de forma prática, possibilitam a pesquisa rápida, transmitem de forma flexível a informação e de forma amigável. Como profissionais do conhecimento, os novos profissionais da educação não podem ignorar essas poderosas ferramentas. Não precisam aprender informática para ensinarem informática, mas para usá-la no processo permanente de aprendizagem deles e de seus alunos. 4. Com relação à Educação de Jovens e Adultos. O tema do analfabetismo adulto, um dos mais graves da educação no país, foi tratado como um tema menor. Com a retração crescente do Estado nesta questão, a Sociedade Civil que deveria ser apenas parceira do Estado, acaba assumindo a maior parte da responsabilidade diante do analfabetismo. O insistido que a diminuição do analfabetismo se dá pela expansão das oportunidades de acesso ao ensino fundamental. A LDB traduz o pensamento atual do MEC a respeito deste tema. Darcy Ribeiro insistiu até a sua morte em 1997 que o seu subtitutivo, apresentado no Senado, era “enxuto, libertário e renovador” e que o texto da Câmara era “corporativo e sectário”. O resultado é que temos um texto da LDB que é híbrido – como o anterior (1962) - já que, no final, foram incorporados muitas teses do texto da Câmara. Os educadores nas suas práticas e a sociedade através do seu envolvimento com os problemas educacionais, saberão distinguir o que é mais urgente e necessário e o que é possível fazer com ela. Temos certeza de que também o Estado estará atento e aprenderá neste processo permanente de enfrentamento dos desafios educacionais brasileiros. 6
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