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Tese Professor titular Crocco

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Categoria:  1 
 
Proponente: Marco Aurélio Crocco Afonso  Código: 674  Protocolo: f0cb6bd 
Título:   MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO: UMA LEITURA KEYNESIANA E SUA APLICAÇÃO AO CASO 
BRASILEIRO 
 
Resumo: 
 Nos últimos vinte anos a pesquisa sobre as relações entre moeda e desenvolvimento regional e urbano vivenciou grandes 
transformações e distintos períodos de euforia e marasmo. No início dos anos 1990, uma série de trabalhos sobre o papel da 
moeda e sistema financeiro na configuração dos territórios vieram a tona, especialmente entre os geógrafos econômicos. As razões 
para este ressurgimento são várias (Martin 1999). No entanto, três fatos merecem destaque, todos com implicações territoriais 
importantes: i) as profundas transformações tecnológicas dentro do sistema financeiro, que possibilitaram, não somente o 
armazenamento de uma quantidade sem precedentes de informação, como também que volumes enormes de recursos financeiros 
fossem transferidos de um lado para outro do planeta, quase que instantaneamente; ii) o profundo processo de liberalização 
financeira realizada em quase todos os países do mundo, dentro do contexto do Consenso de Washington; e, iii) o fato de quase a 
totalidade das crises econômicas desta época tinham um forte componente financeiro no seu interior.  
Este quadro praticamente impôs aos acadêmicos especializados em economia regional ou geografia econômica a necessidade de se 
entender melhor o papel da moeda e do sistema financeiro na configuração espacial da economia. 
O objetivo desta tese é contribuir para a discussão acima mencionada, através de uma revisão teórica crítica dos autores seminais 
das teorias de desenvolvimento regional e urbano, procurando analisar, a partir do referencial Keynesiano, como a moeda foi 
tratada nestes trabalhos e quais as suas principais limitações. Além disto, efetua‐se uma investigação empírica sobre o Brasil, 
procurando mostrar que a atuação dos bancos é diferenciada no território, sendo um elemento fundamental para o entendimento 
das desigualdades regionais.  
 
Descrição: 
 Nos últimos vinte anos a pesquisa sobre as relações entre moeda e desenvolvimento regional e urbano vivenciou grandes 
transformações e distintos períodos de euforia e marasmo. No início dos anos 1990, uma série de trabalhos sobre o papel da 
moeda e sistema financeiro na configuração dos territórios vieram a tona, especialmente entre os geógrafos econômicos. As razões 
para este ressurgimento são várias (Martin 1999). No entanto, três fatos merecem destaque, todos com implicações territoriais 
importantes: i) as profundas transformações tecnológicas dentro do sistema financeiro, que possibilitaram, não somente o 
armazenamento de uma quantidade sem precedentes de informação, como também que volumes enormes de recursos financeiros 
fossem transferidos de um lado para outro do planeta, quase que instantaneamente; ii) o profundo processo de liberalização 
financeira realizada em quase todos os países do mundo, dentro do contexto do Consenso de Washington; e, iii) o fato de quase a 
totalidade das crises econômicas desta época tinham um forte componente financeiro no seu interior.  
Este quadro praticamente impôs aos acadêmicos especializados em economia regional ou geografia econômica a necessidade de se 
entender melhor o papel da moeda e do sistema financeiro na configuração espacial da economia. Diversas linhas de investigação 
foram desenvolvidas, ao ponto de Martin (1999) afirmar, ao final dos anos 1990, que uma nova sub‐disciplina da geografia 
econômica havia surgido. 
No entanto, apesar deste ressurgimento, durante os anos 2000 este interesse nesta nova sub‐disciplina se estabilizou, sem 
conseguir torná‐la central na discussão sobre desenvolvimento regional e urbano. Apenas após a crise mundial do final dos anos 
2000 é que esta temática volta a ter força, tendo em vista as evidentes implicações espaciais desta crise. Apesar de sua extensão 
mundial, esta última de forma alguma foi neutra espacialmente, mesmo porque a sua origem (os empréstimos sub‐prime no 
mercado imobiliário norte americano) também foi espacialmente localizada. 
A presente tese se encaixa no esforço de tornar central a discussão sobre as relações entre moeda e território dentro do debate 
sobre desenvolvimento regional e urbano. No entanto, diferentemente de boa parte da literatura sobre o tema, parte‐se de 
premissa de que o correto entendimento das relações entre moeda e território e de suas implicações de política só poderá emergir 
a partir da construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. Para tanto, é necessário que se tenha 
uma concepção teórica sobre a moeda que permita a esta afetar o comportamento das variáveis reais da economia, tanto no curto, 
quanto no longo prazo. Esta concepção é encontrada nos escritos de Keynes.  
Neste contexto, a presente tese busca realizar três contribuições básicas: 
i. Incorporar uma concepção de moeda, que seja capaz de afetar as variáveis reais da economia, no contexto teórico do 
desenvolvimento regional e urbano, de forma a contribuir para a construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento 
Regional e Urbano; 
ii. Aprofundar o diálogo entre a contribuição Pós‐Keynesiana para a teoria do desenvolvimento regional, de forma a estender este 
diálogo à teorias do desenvolvimento urbano, notadamente a Teoria do Lugar Central; e 
iii. Pesquisar, empiricamente, os desenvolvimentos teóricos propostos a partir de uma base de dados única no Brasil, copilada pelo 
Laboratório de Estudos em Moeda e Território (LEMTe) do CEDEPLAR / UFMG. 
 
Para atingir estes objetivos a tese foi estruturada em duas partes. Na Parte I, toda a discussão teórica é efetuada. No capítulo 1 
desta Parte, o referencial teórico Pós‐Keynesiano, que serve de base para toda a tese, é detalhado. Nos três capítulos seguintes, 
este referencial é utilizado para uma re‐leitura crítica dos principais autores da Teoria do Desenvolvimento Regional, da Teoria do 
Desenvolvimento Urbano e da Geografia Econômica. Deve ficar claro, que o objetivo desta tese é estabelecer um diálogo com estes 
autores seminais. Esta opção se baseia no fato destas contribuições ainda serem extremamente atuais, mesmo decorrido mais de 
50 anos do surgimento de algumas delas. Na medida da necessidade, alguns trabalhos mais recentes foram incorporados na 
análise. Assume‐se aqui que a tarefa de tornar a moeda um elemento importante na análise do desenvolvimento regional e urbano 
deve, necessariamente, começar com uma reflexão crítica dos autores seminais. 
Encerrando a Parte I, uma reflexão crítica sobre a interpretação Pós‐Keynesiana é efetuada e as contribuições originais deste autor 
são apresentadas. 
A Parte II da tese consiste na investigação empírica do tema, onde procura‐se contrastar as contribuições teóricas desenvolvidas na 
Parte I com dados da economia brasileira. Desta forma, esta Parte começa com uma breve discussão das transformações por que 
passou o sistema financeiro do Brasil nas últimas duas décadas. Este contexto serviu de base para o desenvolvimento dos dois 
capítulos seguintes, que analisaram os comportamentos, regional e urbano, do sistema bancário brasileiro.  
A tese se encera com o detalhamento das suas principais conclusões. 
 
Justificativa: 
 O objetivo central desta tese foi contribuir para a construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. 
Acredita‐se que este objetivo só possa ser atingido se se considera a moeda como não‐neutra; vale dizer, a moeda, em suas várias 
dimensões, é capaz de interferir nas decisões dos agentes e, conseqüentemente, afetar o lado real da economia. Dito de outra 
forma, só é possível falar em Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano, se a moeda possuir a capacidade de afetar 
o volume de produção de uma região ou espaço urbano, tanto no curto quanto no longo‐prazo. Caso isto não sejapossível não 
existiria sentido teórico falar em uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. Esta é uma premissa fundamental 
da tese. 
Para tanto, partiu‐se do entendimento da economia capitalista enquanto uma Economia Monetária de Produção, tal como 
proposto por Keynes (1979). Os elementos fundamentais desta concepção da economia capitalista, tal como visto no Capítulo 1 da 
Parte I, dão à moeda um papel chave, na medida em que ela pode interferir no lado real da economia.  
Frente a um mundo onde a incerteza em relação ao futuro é um condicionante da atividade econômica, tornando esta última uma 
atividade por natureza especulativa, a capacidade da moeda em ser reserva de valor e, por definição, ser o ativo mais líqüido na 
sociedade, faz com que sempre exista a possibilidade de ocorrência de deficiências de demanda efetiva. O conceito de preferência 
pela liqüidez é, portanto, fundamental em uma sociedade capitalista e, quando aplicado ao sistema financeiro, abre a possibilidade 
do processo de finance e funding não ocorrer.  
 
 
 
 
 
 
MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO: UMA 
LEITURA KEYNESIANA E SUA APLICAÇÃO AO CASO BRASILEIRO 
 
 
 
 
Marco Aurélio Crocco Afonso 
 
 
 
Tese submetida ao Concurso de Professor Titular 
Departamento de Ciências Econômicas 
Universidade Federal de Minas Gerais 
 
 
 
 
 
 
Abril 2010 
 
 
 
 
ii
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Fabiana e Elene
 
 
iii 
 
SUMÁRIO 
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. 3 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 6 
PARTE I - MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO EM UMA PERSPECTIVA 
TEÓRICA .............................................................................................................................. 9 
I.1 MOEDA E SISTEMA FINANCEIRO NA TEORIA PÓS-KEYNESIANA: DEFININDO O MARCO TEÓRICO ......... 13 
I.1.1 Economia Monetária de produção e seus Fundamentos ....................................... 13 
I.1.2 O Debate Sobre Exogeneidade e Endogeneidade da Oferta de Moeda .................. 22 
I.1.3 Poupança, Finance e Funding .................................................................................... 30 
I.2 AS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MOEDA ............................................................ 36 
I.2.1 A primeira geração: O Enfoque Keynesiano ............................................................. 37 
I.2.1.1 Teoria do Desenvolvimento Desigual ............................................................................................... 38 
I.2.1.2 Big Push ............................................................................................................................................. 49 
I.2.1.3 Teoria dos Pólos de Crescimento ..................................................................................................... 51 
I.2.1.4 Teorias da Base de Exportação ......................................................................................................... 55 
I.2.2 O Enfoque da Competitividade ................................................................................. 57 
I.3 AS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO URBANO E A MOEDA .......................................................... 64 
I.3.1 A Teoria do Lugar Central .......................................................................................... 64 
I.4 A MOEDA E A GEOGRAFIA ECONÔMICA: UMA ANÁLISE CRÍTICA.................................................... 80 
I.5 ELEMENTOS PARA UMA TEORIA MONETÁRIA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO............. 88 
I.5.1 Preferência pela Liquidez, Centralidade e Hieraquia urbana e a construção do 
espaço ................................................................................................................................. 94 
PARTE II - DUAS INVESTIGAÇÕES EMPÍRICAS: MOEDA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL E 
HIERARQUIA URBANA NO BRASIL .................................................................................... 101 
II.1 EVOLUÇÃO RECENTE DO SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO ....................................................... 102 
II.2 ATUAÇÃO REGIONAL DO SISTEMA BANCÁRIO .......................................................................... 107 
II.2.1 Indicadores de Escala do Sistema Bancário ............................................................ 110 
II.2.2 Indicadores de Gestão do Ativo ............................................................................. 112 
II.2.2.1 Preferência Pela Liqüidez das Agências Bancárias ......................................................................... 115 
II.2.2.2 Distribuição Regional de Crédito, Quociente Regional de Crédito e Racionamento de Crédito .. 117 
II.2.2.3 Lucratividade das Agências Bancárias ............................................................................................ 122 
II.2.2.4 Crédito Total sobre Ativo, Títulos e Valores Mobiliários sobre Ativo e Créditos em Liquidação 128 
II.2.3 Indicadores de Gestão do Passivo ........................................................................... 131 
II.2.4 Conclusão ................................................................................................................ 134 
II.3 HIERARQUIA URBANA E SISTEMA FINANCEIRO NO BRASIL ........................................................ 136 
II.3.1 Hierarquia e Estratégia Bancária ........................................................................... 151 
II.4 ESTRATÉGIAS BANCÁRIAS COMPARADAS: REGIÃO E HIERARQUIA ............................................... 153 
II.4.1 Análise de Componente Principal para as Regiões Administrativas .................... 154 
II.4.2 Análise de Componente Principal por Hierarquia do Sistema Financeiro ............ 157 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 161 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 167 
 
 
3
 
AGRADECIMENTOS 
 
Esta tese é o resultado de uma trajetória de pesquisa que se inicia dois anos 
após o meu retorno da Inglaterra, onde realizei o meu doutoramento. Desde esta 
época, várias pessoas contribuíram, de diversas formas, para que esta trajetória 
terminasse na elaboração da presente tese. Neste momento, gostaria de agradecer 
‘as suas colaborações. 
Começo por aqueles que participaram da criação e desenvolvimento do 
Laboratório de Estudos em Moeda e Território (LEMTe), grupo de pesquisa 
alocado no CEDEPLAR e por mim coordenado. Este grupo é, sem dúvida alguma, a 
minha melhor experiência como docente e pesquisador. Experiência única, que me 
fez aprender todo o significado de ser um professor. Através deste grupo, não 
somente desenvolvi toda a visão de economia regional expressa nesta tese, mas 
também acompanhei o desenvolvimento pessoal e profissional de uma série de 
alunos. Foram vários os alunos de iniciação científica deste grupo que assisti 
formarem, tornarem-se assistentes de pesquisa, alunos de mestrado e doutorado, 
e, professor universitário. Assim sendo, gostaria de agradecer o empenho, 
paciência, contribuição e, principalmente, de terem “vestido a camisa” deste 
projeto a Bruno, Vanessa, Melissa, Anderson, Mateus, Mara, Raquel, Tininha, 
Aninha, Wallace, Pedro Amaral, João Prates, Márcio Amaral, Breno, Eduardo, Iara, 
Cláudio, Carla, Ana Teresa, Fernanda, Rubens, Teófilo, Luiz Paulo e Luciana.Vários professores e pesquisadores também contribuíram para o 
desenvolvimento do LEMTe, quer seja por um engajamento mais constante, quer 
seja por trabalhos específicos e esporádicos. Desta forma, gostaria de agradecer a 
Adriana Amado, Ana Hermeto, Fabiana Santos, Frederico Gonzaga e Gustavo 
Rocha. 
Nesta trajetória de reflexão sobre os aspectos monetários do 
desenvolvimento regional, os cursos oferecidos na Pós-Graduação do CEDEPLAR 
foram de fundamental importância. Organizados na forma de seminários, estes 
 
 
4
cursos se constituíram em um ambiente profícuo de discussão acerca desta 
temática. Assim sendo, gostaria de agradecer a todos os alunos da pós graduação 
do CEDEPLAR que assistiram aos cursos de Moeda e Território e de Sistema 
Financeiro e Desenvolvimento. 
No processo de preparação da tese algumas pessoas foram essenciais. Em 
primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Colegiado de Curso do Programa de Pós 
Graduação do CEDEPLAR. Durante a elaboração da tese tive que, praticamente, me 
ausentar das tarefas relacionadas ao meu cargo de Coordenador do Programa de 
Pós Graduação. Esta ausência foi compensada com uma maior participação no dia a 
dia da Pós dos demais membros do Colegiado. Por isto agradeço a Ana Hermeto, 
Fred, Hugo e Rodrigo. Em especial, deixo registrado o meu agradecimento à Ana 
Hermeto, minha companheira na direção da Pós. Aninha assumiu prontamente 
minhas funções da coordenação assim que o concurso para titular foi anunciado. 
Sem esta colaboração, a elaboração da tese teria sido muito mais difícil. 
Também no processo de elaboração da tese, a contribuição da Carol foi 
inestimável. Carol me ajudou muito além do que as suas tarefas determinavam. 
Além de tomar conta de minhas atribuições profissionais, Carol foi de fundamental 
importância na montagem de meu currículo. Fica aqui o meu agradecimento a uma 
amiga. 
Uma pessoa em particular merecer um agradecimento especial: Clélio 
Campolina. Um mestre que se tornou um grande amigo. Com Campolina fui aluno, 
assistente de pesquisa, colega de departamento, companheiro de direção de 
faculdade e co-autor em vários trabalhos. Durante toda esta trajetória profissional, 
Campolina sempre foi um orientador, estimulador e companheiro. Ao meu “chefe” 
fica um agradecimento especial. 
Gostaria também de agradecer a três pessoas de meu círculo pessoal. Ao 
Luigi, meu irmão mais velho. Durante estes últimos seis anos, companheiro das 
tardes de domingo torcendo pelo Botafogo, Luigi tem sido muito mais que um 
irmão. Amigo e conselheiro, pessoal e profissional, agradeço todo o estímulo e 
paciência com aquele que nunca deixou de se portar como o irmão mais novo. 
 
 
5
Henrique e Léo têm sido muito mais do que sobrinhos. São dois grandes 
pequenos amigos que ganhei nesta vida. Estar perto deles, quer seja jogando X-
Box, futebol, montando legos ou lutando, me faz lembrar como a vida pode ser 
mais simples e sincera. Meu enorme agradecimento ao carinho destas duas 
pessoas maravilhosas. 
 
Chegar até este ponto de minha trajetória profissional não teria sido 
possível sem a Fabiana. Tentar expressar em palavras o significado que ela tem em 
minha vida é uma tarefa impossível. Qualquer coisa que eu diga, e escreva, sempre 
ficará aquém do real sentimento e significado que sua presença tem em minha 
vida. Nada disto teria acontecido sem o seu carinho, amor, e apoio incondicional. 
Obrigado por tudo, principalmente por me deixar te amar. Por isto tudo, esta tese é 
dedicada a você. 
Por fim, gostaria de agradecer a Elene. Em seus dois meses de vida, sua 
presença nesta reta final de elaboração da tese foi fundamental. Vê-la, me fazia 
esquecer o cansaço e me dava a alegria necessária para terminar a tese. Muito 
obrigado, filha. 
 
 
6
INTRODUÇÃO 
 
Nos últimos vinte anos a pesquisa sobre as relações entre moeda e 
desenvolvimento regional e urbano vivenciou grandes transformações e distintos 
períodos de euforia e marasmo. No início dos anos 1990, uma série de trabalhos 
sobre o papel da moeda e sistema financeiro na configuração dos territórios 
vieram a tona, especialmente entre os geógrafos econômicos. As razões para este 
ressurgimento são várias (Martin 1999). No entanto, três fatos merecem destaque, 
todos com implicações territoriais importantes: i) as profundas transformações 
tecnológicas dentro do sistema financeiro, que possibilitaram, não somente o 
armazenamento de uma quantidade sem precedentes de informação, como 
também que volumes enormes de recursos financeiros fossem transferidos de um 
lado para outro do planeta, quase que instantaneamente; ii) o profundo processo 
de liberalização financeira realizada em quase todos os países do mundo, dentro 
do contexto do Consenso de Washington; e, iii) o fato de quase a totalidade das 
crises econômicas desta época tinham um forte componente financeiro no seu 
interior. 
Este quadro praticamente impôs aos acadêmicos especializados em 
economia regional ou geografia econômica a necessidade de se entender melhor o 
papel da moeda e do sistema financeiro na configuração espacial da economia. 
Diversas linhas de investigação foram desenvolvidas, ao ponto de Martin (1999) 
afirmar, ao final dos anos 1990, que uma nova sub-disciplina da geografia 
econômica havia surgido. 
No entanto, apesar deste ressurgimento, durante os anos 2000 este 
interesse nesta nova sub-disciplina se estabilizou, sem conseguir torná-la central 
na discussão sobre desenvolvimento regional e urbano. Apenas após a crise 
mundial do final dos anos 2000 é que esta temática volta a ter força, tendo em vista 
as evidentes implicações espaciais desta crise. Apesar de sua extensão mundial, 
esta última de forma alguma foi neutra espacialmente, mesmo porque a sua origem 
(os empréstimos sub-prime no mercado imobiliário norte americano) também foi 
espacialmente localizada. 
 
 
7
A presente tese se encaixa no esforço de tornar central a discussão sobre as 
relações entre moeda e território dentro do debate sobre desenvolvimento 
regional e urbano. No entanto, diferentemente de boa parte da literatura sobre o 
tema, parte-se de premissa de que o correto entendimento das relações entre 
moeda e território e de suas implicações de política só poderá emergir a partir da 
construção de uma Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano. 
Para tanto, é necessário que se tenha uma concepção teórica sobre a moeda que 
permita a esta afetar o comportamento das variáveis reais da economia, tanto no 
curto, quanto no longo prazo. Esta concepção é encontrada nos escritos de Keynes. 
Neste contexto, a presente tese busca realizar três contribuições básicas: 
i. Incorporar uma concepção de moeda, que seja capaz de afetar as 
variáveis reais da economia, no contexto teórico do desenvolvimento 
regional e urbano, de forma a contribuir para a construção de uma 
Teoria Monetária do Desenvolvimento Regional e Urbano; 
ii. Aprofundar o diálogo entre a contribuição Pós-Keynesiana para a 
teoria do desenvolvimento regional, de forma a estender este diálogo 
à teorias do desenvolvimento urbano, notadamente a Teoria do 
Lugar Central; e 
iii. Pesquisar, empiricamente, os desenvolvimentos teóricos propostos a 
partir de uma base de dados única no Brasil, copilada pelo 
Laboratório de Estudos em Moeda e Território (LEMTe) do 
CEDEPLAR / UFMG. 
 
Para atingir estes objetivos a tese foi estruturada em duas partes. Na Parte I, 
toda a discussão teórica é efetuada. No capítulo 1 desta Parte, o referencial teórico 
Pós-Keynesiano, que serve de base para toda a tese, é detalhado. Nos três capítulos 
seguintes, este referencial é utilizado para uma re-leituracrítica dos principais 
autores da Teoria do Desenvolvimento Regional, da Teoria do Desenvolvimento 
Urbano e da Geografia Econômica. Deve ficar claro, que o objetivo desta tese é 
estabelecer um diálogo com estes autores seminais. Esta opção se baseia no fato 
destas contribuições ainda serem extremamente atuais, mesmo decorrido mais de 
50 anos do surgimento de algumas delas. Na medida da necessidade, alguns 
 
 
8
trabalhos mais recentes foram incorporados na análise. Assume-se aqui que a 
tarefa de tornar a moeda um elemento importante na análise do desenvolvimento 
regional e urbano deve, necessariamente, começar com uma reflexão crítica dos 
autores seminais. 
Encerrando a Parte I, uma reflexão crítica sobre a interpretação Pós-
Keynesiana é efetuada e as contribuições originais deste autor são apresentadas. 
A Parte II da tese consiste na investigação empírica do tema, onde procura-
se contrastar as contribuições teóricas desenvolvidas na Parte I com dados da 
economia brasileira. Desta forma, esta Parte começa com uma breve discussão das 
transformações por que passou o sistema financeiro do Brasil nas últimas duas 
décadas. Este contexto serviu de base para o desenvolvimento dos dois capítulos 
seguintes, que analisaram os comportamentos, regional e urbano, do sistema 
bancário brasileiro. 
A tese se encera com o detalhamento das suas principais conclusões. 
 
 
9
PARTE I - MOEDA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL E 
URBANO EM UMA PERSPECTIVA TEÓRICA 
 
A discussão teórica acerca dos aspectos regionais do sistema financeiro tem 
recebido tratamento diferenciado de economistas regionais, geógrafos econômicos 
e especialistas em sistemas financeiros. De uma forma geral, a literatura de 
economia regional tem dado pouca atenção para o papel desempenhado pela 
moeda e pelo sistema financeiro no desenvolvimento regional. A maioria destes 
trabalhos assume que o sistema financeiro é neutro em relação à sua capacidade 
de interferir no desempenho econômico de regiões. 
A literatura mainstream sobre desenvolvimento financeiro, por exemplo, 
tem focado, nos últimos 30 anos ou mais, no denominado “nexus finanças – 
crescimento”. A ênfase, neste contexto, é centrada na correlação entre variáveis 
financeiras (e o grau de desenvolvimento do sistema financeiro) e crescimento 
econômico. A maioria dos economistas vinculados a esta corrente de pensamento 
afirma que a direção de causalidade na relação citada vai no sentido do primeiro 
para o segundo, embora evidências empíricas irrefutáveis ainda não tenham sido 
fornecidas. Nesta literatura, aspectos regionais do desenvolvimento do sistema 
financeiro têm sido virtualmente negligenciados. De fato, em uma revisão extensa 
das contribuições mais relevantes desta linha de pesquisa, efetuada por Levine 
(2004), a palavra “regional” aparece apenas uma vez nas cento e dezoito páginas 
do artigo; a palavra “região” apenas uma e a palavra geografia nenhuma. Existe 
apenas um trabalho revisado por Levine que foca sua análise em regiões de um 
país especifico. Este artigo – escrito por Guiso et al. (2002), mostra que as 
condições de financiamento locais influenciam o desempenho econômico de 
distintas regiões da Itália. A conclusão mais importante desses autores é o 
reconhecimento de que sistemas financeiros nacionais e regionais possuem um 
papel importante a desempenhar a despeito da crescente integração financeira 
internacional. 
É possível, contudo, encontrar na literatura importantes contribuições que 
mostram a não neutralidade da moeda e do sistema financeiro em termos de seus 
 
 
10
impactos no lado real da economia, e, desta forma, no desenvolvimento regional, 
como pode ser observado na literatura Novo – Keynesiana1 e Pós-Keynesiana. 
De uma forma geral, as principais áreas de pesquisa dentro da vertente 
Novo-Keynesiana estão relacionadas à investigação sobre: 
i. a existência ou não de sistemas financeiros regionais (Amos e Wingender 
1993; Bias 1992); 
ii. como falhas de mercado – i.e. assimetria de informação e custos de 
transação e informação sensíveis à escala – afetam a eficiência do sistema 
financeiro na alocação de crédito (e, portanto, o desempemho das variáveis 
reais) entre regiões de um país (Koo and Moon 2004, Miyakoshi and 
Tsukuda 2004); 
iii. em que medida a distribuição de diferentes tipos de bancos pelas regiões de 
um país (a existência sistemas bancários locais) explica as disparidades no 
crescimento econômico regional (Usai and Vannini 2005; Ozyildirim and 
Older 2008; Valverde and Fernández 2004); 
iv. em que medida condições econômicas locais/regionais têm impacto sobre o 
desempenho de bancos locais/regionais (Meyer and Yeager 2001; Yeager 
2004; Emmons et al. 2004; Furlong and Kreiner 2007; Daly et al. 2008); 
v. como a diversificação geográfica afeta o desempenho dos bancos (Demsetz 
and Strahan 1997; Morgan and Samolyk 2005); e 
vi. como a distância entre agências e sedes2 ou entre credores e devedores3 
influencia ambos a alocação e a disponibilidade de crédito (Alessandrini 
 
1 Os primeiros trabalhos que procuraram identificar os fatores que podem determinar a ocorrência de 
racionamento de crédito em mercados regionais foram Roberts e Fishkind (1979) e Moore e Hill (1982). 
Recentemente, autores Novo Keynesianos como por exemplo, Faini et al. (1993) e Samolyk (1994), exploraram 
a hipótese de assimetria de informação em mercados regionais para explicar o racionamento de crédito. 
2 Também conhecida como “distância funcional”. Esta significa a distância entre níveis dentro de uma 
organização bancária. De acordo com Alessandrini et al. 2009 (p. 5), 
by functional distance we refer to the distance between a local branch, where information is 
collected and lending relationships are established, and its headquarter, where lending policies 
and ultimate decisions are typically taken. From a theoretical point of view, the importance of 
functional distance for the lending policies of local branches has its roots in (i) the asymmetric 
distribution of information and the costs of communication within an organisation, and (ii) the 
economic, social and cultural differences across communities. 
3 Também entendida como “distância operacional” (Alessandrini et al. 2008) 
 
 
11
and Zazzaro 1999; Berger and DeYoung 2001; Carling and Lundenberg 
2005; Brevoot and Hannan 2006; Alessandrini et al 2008). 
De forma similar a esta última linha de investigação, porém com uma 
abordagem teórica próxima à geografia econômica, Martin (1999) e Klagge e 
Martin (2005) fornecem evidências empíricas acerca da assimetria na alocação de 
crédito entre regiões centrais e periféricas, o que contribui para um padrão de 
desenvolvimento regional desigual. Estes autores apontam a existência de uma 
relação não-neutra entre os lados real e financeiro do sistema econômico. De 
acordo com eles, o sistema financeiro não funciona em uma “estrada espacialmente 
neutra”. Dito de outra forma, sistemas financeiros não são perfeitamente 
integrados entre as regiões de um país, de forma que o investimento em uma dada 
região é dependente da poupança local; a demanda local por financiamento é 
constrangida pela oferta; e os residentes (firmas e indivíduos) não podem acessar 
fundos de outras regiões do país. Ou seja, a proximidade geográfica de centros 
financeiros importa. O resultado seria a concentração de instituições financeiras 
em localizações centrais e hiatos locacionais de financiamento entre o centro e a 
periferia. 
Uma característica comum às visões teóricas acima citadas é o fato dos 
determinantes dos impactos da moeda e do sistema financeirosobre as regiões 
estarem associadas a falhas de mercado. Ou seja, não são as características da 
moeda e da forma de operação do sistema financeiro que permitem uma 
construção teórica onde tais fatores afetam o desenvolvimento regional, mas sim 
as falhas de mercado. Caso estas não existissem, não haveria a possibilidade 
teórica da moeda e o sistema financeiro interferirem na construção e ampliação 
das desigualdades regionais. 
 A perspectiva teórica defendida nesta tese discorda veementemente desta 
abordagem ao creditar às características intrínsecas da moeda e da forma de 
operação do sistema financeiro os determinantes de seus impactos sobre as 
disparidades regionais. Vale dizer, mesmo em um mundo onde não existissem 
imperfeições de mercado, estas características intrínsecas garantiriam a 
possibilidade do lado financeiro interferir, tanto no curto, quanto no longo prazo, 
na ocorrência de disparidades regionais. 
 
 
12
No restante desta Parte I será apresentada, de forma crítica, esta 
abordagem. Para tanto, inicia-se com a discussão dos fundamentos teóricos mais 
gerais que sustentam a teoria Pós-Keynesiana, notadamente a sua interpretação 
sobre o papel desemplenhado pela moeda em economias capitalistas, como a que 
conhecemos hoje. Esta base teórica é utilizada para uma re-leitura crítica dos 
clássicos da literatura sobre desenvolvimento regional e urbano, buscando 
entender como tais teorias incorporaram a moeda em suas formulações. Após esta 
revisão, conclui-se esta parte com uma análise critica da contribuição da teoria 
Pós-Keynesiana à economia regional. 
 
 
13
 
I.1 MOEDA E SISTEMA FINANCEIRO NA TEORIA PÓS-KEYNESIANA: 
DEFININDO O MARCO TEÓRICO 
O objetivo desta seção é destacar os princípios teóricos essenciais para o 
entendimento da abordagem Pós-Keynesiana para economia regional. Não se 
pretende aqui fazer uma discussão detalhada desta corrente de pensamento, mas 
apenas analisar aqueles elementos que são necessários à elaboração da 
“Perspectiva Pós Keynesiana de Economia Regional”. 
Nesse sentido, entende-se que três questões são fundamentais: i) o conceito 
de Economia Monetária de Produção, o qual expressa, claramente, como Keynes e 
os Pós Keynesianos entendem o funcionamento da economia capitalista, tendo a 
moeda como elemento central; ii) a discussão sobre a oferta de moeda, 
fundamental para o entendimento tanto dos limites de atuação das autoridades 
monetárias, como também do papel desempenhado pelo sistema bancário; e iii) as 
relações entre poupança, finance e funding, essencial para o entendimento do 
processo de investimento, variável-chave na discussão do conceito de demanda 
efetiva. Nas próximas seções analisaremos, em detalhe, cada uma destas questões. 
 
I.1.1 ECONOMIA MONETÁRIA DE PRODUÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS 
É amplamente reconhecido que Keynes, no período em que escrevia a 
Teoria Geral (Keynes 1973 [1937]), tinha a convicção de que o que estava 
escrevendo seria uma grande ruptura com a teoria ortodoxa vigente a época. 
Apesar disto, Keynes optou, na versão final da Teoria Geral, por não aprofundar o 
provável confronto com economistas ortodoxos. Assim sendo, embora tenha 
desenvolvido, nos rascunhos da Teoria Geral, uma análise detalhada do que 
entendia ser os fundamentos de uma economia capitalista de produção, ele optou 
por iniciar a sua obra mais importante aceitando, em parte, alguns fundamentos da 
escola clássica, de forma a mostrar que a sua principal conclusão – a possibilidade 
de equilíbrio com desemprego involuntário - se sustentaria. 
 
 
14
No entanto, como ficou evidente nos anos seguintes à publicação da Teoria 
Geral, esta estratégia não alcançou os resultados esperados, gerando não apenas 
interpretações equivocadas de sua obra, como também um grande desconforto no 
próprio Keynes em relação à forma que ele expôs suas críticas à teoria clássica nos 
dois capítulos iniciais da Teoria Geral. Nestes capítulos, Keynes expõe o que 
considera ser o cerne da economia clássica que pretende negar e tenta mostrar que 
os dois postulados centrais da teoria clássica – o primeiro definindo que a salário 
nominal seria igual à produtividade marginal do trabalho e o segundo definindo 
que a utilidade marginal do salário, dado o volume de trabalho empregado, sempre 
se iguala à desutilidade marginal deste trabalho – deveriam ser entendidos como 
um caso especial e não uma regra geral. 4 
Por volta de 1939, o descontentamento de Keynes com esta abordagem já 
era claro: 
If the falling tendency of real wages in periods of rising demand is 
denied … it would be possible to simplify considerably the more 
complicated version of my fundamental explanation which I have 
expounded in my General Theory – particularly in Chapter 2, which is 
the portion of my book which most needs to be revised (Keynes 1973b, 
p. 401) 
Embora Keynes não tenha revisto seu livro, foi possível inferir qual seria o 
caminho que ele tomaria quando veio a público a publicação de seus Collected 
Writings em 1973. Nesta coletânea encontram-se versões preliminares da Teoria 
Geral nas quais ele mostra, claramente, sua oposição aos fundamentos da Teoria 
Clássica, bem como o seu entendimento dos princípios de uma Economia 
Monetária de Produção. (Keynes 1979). 
Nos rascunhos da Teoria Geral, Keynes diferenciou os ‘modelos’ de 
economia que sustentavam a teoria econômica Clássica, dominante a época, e a sua 
 
4 “Paradoxically, Keynes’s attempt in Chapter 2 to differentiate his new theory from the old has resulted in 
complete misunderstanding of the fundamental difference between The Genera Theory and pre-Keynesian 
economics and has paved the way for neoclassical revival. His uncritical acceptance of the first postulate 
(diminishing marginal productivity of labour in the short period) without emphasizing that in his system the 
postulate does not give us the demand schedule for employment, together with his arguments concerning the 
stickyness of money-wages and the inability of labour as whole to reduce its real wage, led many to believe 
that all Keynes’s theory amounted to was an, admittedly realistic, critique of the imperfect operation of the 
labour market. The cure for unemployment was to bring about supply-side improvements to increase the 
(downward) flexibility of money and real wages – the neoclassical solution. (Brothwell 1997, p. 4) 
 
 
15
nova teoria. Tais ‘modelos’ foram denominados por ele de Economia Co-operativa 
(ou Economia de Trocas Reais), no caso da economia clássica, e de Economia 
Empresarial (ou Economia Monetária de Produção), no caso de sua teoria. Dentre 
os vários elementos que diferenciavam tais modelos, o papel desempenhado pela 
moeda se destaca. Nas palavras de Keynes, a diferença básica entre a teoria 
ortodoxa e a por ele preconizada estaria no fato de sua teoria lidar com 
an economy in which money plays a part of its own and affects motives and 
decisions and is, in short, one of the operative factors in the situation, so that 
the course of events cannot be predicted, either in the long period or in the 
short, without a knowledge of the behavior of money between the first state 
and the last. And it is this which we ought to mean when we speak of a 
monetary economy (Keynes, 1973 CW XII, 408-9) 
Uma Economia de Troca seria constituída por produtores e consumidores 
independentes que trocariam os excedentes de suas produções acima de suas 
necessidades. Esta troca poderia ocorrer de forma direta (ou seja, mercadoria por 
mercadoria) ou por algum meio de pagamento, sendo que, no entanto, sempre 
existiria um mecanismo que assegurasse que toda renda geradano processo 
produtivo retornasse ao mercado sob a forma de demanda por produtos 
produzidos. No agregado, sempre existiria um mecanismo que asseguria que o 
valor nominal das rendas dos fatores de produção seria igual no agregado ao valor 
da produção. 
Esta seria uma economia onde a lei de Say predominaria. Nas palavras de 
Carvalho, 
economies of the cooperative type admit sectoral disequilibria, local 
imbalances between supply and demand, but aggregate imbalances are ruled 
out. There are no disequilibrium-amplifying income effects, even if it is not for 
the precise basket of goods that is available. This kind of imbalance is removed 
by the operation of the price system in which relative scarcities and excess 
supplies are signalled by disparities between market and natural (or long-
period equilibrium normal) prices. (Carvalho 1992, p. 39) 
Nesta economia, a moeda é apenas um conveniente meio para efetuar 
intercâmbios, sendo sua função transitória e neutra em seus efeitos. Em outras 
palavras, ela não é capaz de afetar (modificar) os motivos e decisões dos 
integrantes desta economia: 
The distinction which is normally made between a barter economy and a 
monetary economy depends upon the employment of money as a convenient 
means of affecting exchanges, as an instrument of great convenience, but 
 
 
16
transitory and neutral in its effect […] an economy, which uses money but uses 
it merely as a neutral link between transactions in real things are real assets 
and does not allow it to enter into motives or decisions might be called – for 
want of a better name – a real-exchange economy (Keynes 1973a, p. 408 ) 
Em uma clara oposição a este tipo de “Economia” Keynes via a economia em 
que vivemos como uma Economia Monetária de Produção onde a moeda, além de 
meio de troca, desempenharia um papel próprio afetando decisões. Para tanto, ela 
é vista não somente como meio de troca, mas também como reserva de valor, o que 
faz com que o curso dos eventos não possa ser previsto, seja no curto ou no longo – 
prazo, sem o conhecimento do comportamento da moeda. 
O conceito de Economia Monetária de Produção pode ser melhor entendido 
através da análise de seis princípios, tal como formulado por Carvalho (1992): i) 
produção; ii) dominância estratégica; iii) temporalidade da atividade econômica; 
iv) não ergodicidade; v) não pré-conciliação de planos; e vi) propriedades da 
moeda. No que se segue são expostos estes princípios.5 
i. Princípio da Produção 
A firma é vista como um agente que possui interesses e objetivos próprios, 
distintos dos objetivos das famílias. Basicamente, a preocupação central de uma 
firma não seria atender as necessidades dos consumidores, mas sim gerar riqueza 
em sua forma mais geral, ou seja, moeda – poder de compra em sua forma 
universal. Seria através da obtenção de uma maior quantidade de moeda, o que 
possibilitaria à firma uma maior flexibilidade para aproveitar as chances que 
pudessem surgir para ampliar esta mesma riqueza monetária. 
É importante notar que não é o fato de existir uma necessidade da 
população não atendida que faz com que o empresário inicie o processo produtivo, 
mas sim, a expectativa de acumular riqueza com o atendimento desta necessidade. 
Assim, o objetivo da firma é atingido quando ela é capaz de aumentar o seu 
comando sobre a riqueza em sua forma mais líquida, isto é a firma aplica dinheiro 
para obter mais dinheiro. 
 
5 Uma observação faz-se necessária. Como se sabe, Keynes não apresentou seu entendimento do que seria uma 
economia monetária de produção na forma de princípios. No entanto, como salienta Carvalho (Carvalho 1992), 
a leitura dos rascunhos da Teoria Geral permite concluir que o significado destes princípios faziam parte do 
raciocínio de Keynes. No presente trabalho, segue-se a formalização de princípios feita por Carvalho (1992) 
que, por sua vez, é um desenvolvimento da proposição feita anteriormente por Davidson. 
 
 
17
Várias são as citações de Keynes que explicitam este princípio: 
An entrepreneur is interested not in the amount of product, but in the amount 
of money which will fall to his share. He will increase his output if by doing he 
expects to increase his money profit, even though this profit represents a 
smaller quantity of product than before (…) 
The choice before him in deciding whether or not to offer employment is a 
choice between using money in this way or not using it at all (Keynes 1979, p. 
82) 
ii. Princípio da Dominância Estratégica 
Este princípio refere-se à hierarquia existente nas relações econômicas de 
uma sociedade capitalista e é uma decorrência do primeiro princípio. Segundo o 
princípio da dominância estratégica, a capacidade de trabalhadores e firmas 
determinarem a dinâmica da economia é distinta, sendo que o poder de decisão 
não é distribuído de forma igualitária, pendendo claramente em favor das firmas: 
Both the amount of employment and of savings depend of the decisions 
of firms to produce and to invest. Labours and savers adapt themselves 
to the firms’ decisions even if they do not realize it and part of the 
innovative content of The General Theory is to show how this takes 
place. (Carvalho 1992, p. 45) 
O que garante este poder nas mãos das firmas é o fato do capital ser 
“escasso” em relação ao trabalho, lembrando sempre que esta escassez é 
organizada pelo próprio sistema.6 A firma, neste contexto, detém a iniciativa tanto 
no mercado de trabalho (demanda por trabalho) como no mercado de capitais (a 
decisão de investir precede a criação da poupança). Isto significa dizer que a 
famosa, e de fundamental importância para a teoria ortodoxa, tesoura Marshaliana, 
onde oferta e demanda se encontram em igualdade de condições, não se observa 
em uma Economia Monetária de Produção. 
Vale salientar que este princípio é ainda mais evidente quando se considera 
que o processo produtivo somente tem início se houver financiamento disponível. 
Em outras palavras, mesmo que exista mão de obra disposta a trabalhar ao salário 
em vigor ou talvez até menor, o processo de produção só ocorrerá caso os bancos 
forneçam o crédito e os empresários avaliem que o processo de produção permite 
 
6 O conceito marxista de exército industrial de reserva neste contexto é extremamente útil. 
 
 
18
à firma valorizar a sua riqueza de uma melhor forma do que em outras 
alternativas. 
 
iii. Princípio da Temporalidade da Atividade Econômica 
Este terceiro princípio pode ser resumido na expressão: em uma economia 
monetária de produção a produção é realizada para a venda no mercado. Apesar de 
parecer trivial, esta é uma expressão com fortes implicações, sendo, a mais 
importante, o fato da decisão de produzir preceder a produção, que por sua vez 
precede a venda. Isto significa dizer que a firma produz sob o comando, ou sob a 
expectativa, da demanda. Esta última característica é fundamental por dar às 
expectativas em relação ao futuro comportamento da demanda uma dimensão 
causal, conferindo à atividade produtiva um caráter inevitavelmente especulativo. 
Nas palavras de Chick, 
The time consuming nature of production takes place upon producers the 
necessity to make decisions based on an estimate, a forecast, of the demand for 
their product: the goods must be placed on the market before people can buy 
them, and thus before demand can be known. The existence of money can 
enhance the difficulty of making that estimate, for when people save for future 
purchases, they need not place specific orders even if they know what they 
will want and when. They can hold Money instead, or one ofthe many claims 
on future Money that a developed financial system provides. This action gives 
producers no clue as to their future plans (Chick 1983, p. 5) 
iv. Princípio da Não-Ergodicidade 
A definição técnica de ergodicidade classifica um sistema como sendo 
ergódigo se o processo estocástico é tal que as médias de tempo e espaço 
coincidem após infinitas realizações.7 Ou seja, se um processo estocástico se repete 
infinitamente, as médias de tempo (tomando-se os resultados em diferentes 
momentos do tempo) e espacial (no mesmo tempo, porém em locais distintos) 
tendem a convergir. 
Como conseqüência, se determinado processo é ergódigo, o dado obtido de 
observações passadas fornecem uma regra segura para a tomada de decisões sobre 
 
7 Nas palavras de Davidson: “Space averages refer to a fixed time point and are formed as averages over the 
universe of realisations … Time averages … refer to a fixed realisation and are formed as averages over na 
indefinite time space” (Davidson 1982-1983, p. 185). 
 
 
 
19
o futuro (Davidson 1982-1983, p. 185). Desta forma, sistemas econômicos 
governados por processos ergódigos possuirão relações ahistóricas e imutáveis. 
Analogamente, se as médias não convergem o sistema será classificado como não 
ergódigo, e neste caso, o dado obtido de observações passadas não fornecem uma 
regra segura para a tomada de decisões sobre o futuro 
Vale salientar que o conceito de não-ergodicidade implica em entender o 
tempo como histórico em oposição ao conceito de tempo lógico incorporado na 
teoria ortodoxa. No tempo histórico, o passado precede o presente que, por sua 
vez, precede o futuro, não sendo possível ir ao futuro e retornar ao presente. Não é 
possível reverter decisões presentes sem que se incorra em custos. O conceito de 
tempo lógico é o expresso em termos tais como t, t+1, t+2, etc, amplamente 
utilizado em modelos econômicos ortodoxos. Nestes últimos, o agente sabe, ou 
possuí uma distribuição de probabilidades (objetivas ou subjetivas) sobre o que irá 
acontecer no tempo t+1, de forma que o agente sempre age com um determinado 
grau de certeza, mesmo que probabilística. É como se fosse possível ir ao futuro e 
voltar ao presente, para se tomar uma decisão, com pelo menos uma certeza 
probabilística. 
A irreversibilidade do tempo, determinada pelo entendimento do tempo 
como histórico, faz com que decisões não possam ser repetidas. Ou seja, a 
irreversibilidade do tempo implica em assumir a existência de decisões cruciais, 
não-vazias (Shackle 1959). Uma decisão vazia é mera solução formal para um 
problema também formal. É a situação na qual o indivíduo possui conhecimento 
completo e certo acerca de todas as possíveis escolhas, bem como de todos os 
possíveis resultados de cada escolha. É uma ação mecânica e inevitável (Shackle 
1959, p. 291).8 
Em contraste, uma decisão crucial (não-vazia) implica na impossibilidade 
desta decisão ser repetida, 
 
8 Nas palavras de Crocco, 
When one looks at Shackle’s definition of “decision”, one realises that empty decisions are not 
true “decisions” in his account. He argues for an understanding of “decision” as a commitment 
to the first step in an action of choosing among a plurality of rival and mutually exclusive 
hypotheses about which it is impossible to know the relevant consequences (Shackle 1958, p. 
35). Obviously, this is far from a situation of complete knowledge and deterministic actions as in 
the case of empty decisions. (Crocco 2002, p. 15) 
 
 
20
because its very performance destroys forever the conditions in which 
it was undertaken, which form an essential part of it (Shackle 1970, p. 
109). 
É uma decisão única que cria novas informações “which agents will need to 
take into account in the future courses of action” (Andrade, 1997, p. 13). Alguns 
exemplos de decisões cruciais são investimento, acumulação de riqueza e 
financiamento. Como tais decisões não podem ser repetidas, inclusive devido ao 
fato da própria decisão destruir os condicionantes sobre os quais ela foi elaborada, 
não existe um processo de aprendizado. Na visão de Shackle, quando decisões 
cruciais são tomadas não existe conhecimento disponível. 
Uma implicação importante do princípio da não-ergodicidade é o fato dele 
determinar o surgimento da incerteza.9 Este conceito é de fundamental 
importância tanto para Keynes quanto para os autores Pós-Keysianos. Uma longa 
literatura tem tratado deste tema com riqueza de detalhes. No entanto, detalhar tal 
discussão fugiria ao tema deste trabalho, para o qual o conceito de incerteza 
utilizado será aquele em que se considera uma situação onde é impossível 
estabelecer uma distribuição de probabilidades (objetiva ou subjetiva) em relação 
aos eventos futuros, ou seja, uma situação onde a incerteza não é mensurável.10 
 
v. Princípio da não Pré-Conciliação dos Planos 
Este princípio afirma que em uma economia monetária de produção não 
existem instituições de comando que determinem às firmas o que e quanto 
produzir. Neste contexto, ela tem que decidir com base em expectativas, não 
sabendo com exatidão o quanto será demandado e o quanto será ofertado em 
conjunto. 
Este é o princípio que abre espaço para as expectativas e de formas 
institucionais de se lidar com a incerteza. Tais instituições têm por objetivo central 
socializar perdas e reduzir o risco para cada agente individual. Dentre tais 
 
9 Vale salientar que é a não-ergodicidade que cria a incerteza e não a temporalidade das decisões. Se o mundo 
fosse ergódigo, o fato da produção anteceder a venda (princípio da temporalidade das atividades econômicas) 
não implicaria em processo especulativo uma vez que o futuro seria um espelho do passado. 
10 Para uma discussão detalhada sobre o tema ver Rundle (1993), Davidson (1994), Dow e Hillard (1994), e 
Crocco (1999), entre outros. 
 
 
21
instituições talvez a mais importante seja o contrato futuro denominado em 
moeda. Neste momento é válida uma longa citação de Carvalho 
A contract reduces uncertainty by establishing flows of resources, real and 
financial, their timing and their terms, assuring producers of the availability of 
inputs, on the one hand, and of the existence of outlets for their products, on 
the other. It serves, as a cost-controlling device for entrepreneurs and as the 
basis for the calculation of relative rewards that are the field of application of 
entrepreneurial rationality. Not all flows of goods can be defined in forward 
contracts (in particular, consumption goods are not produced ‘to order’), so 
uncertainty cannot disappear completely. But time-consuming productive 
processes that would be too risky otherwise can be organized on the basis of a 
system of contracts that ensures its continuity, at least in the face of 
predicable contingences. (Carvalho 1992, p. 48) 
 
vi. Princípio das Propriedades da Moeda 
 Este princípio está fortemente relacionado com o anterior, pois para que 
um contrato, denominado em moeda, possa servir de instituição coordenadora em 
um ambiente não – ergódigo se faz necessário que a moeda possua propriedades 
que garantam a sua estabilidade no tempo. Esta estabilidade se faz necessária, 
pois, caso contrário, ela não poderia ser aceita como unidade de conta em 
contratos. Estas propriedades são duas: elasticidades de produção e substituição 
nulas ou próximas de zero. 
A elasticidade de produção próxima de zero implica dizer que um aumento 
da demanda por moeda não gera um aumento em sua produção e, 
conseqüentemente, um aumento da suadisponibilidade. Já a elasticidade de 
substituição da moeda próxima de zero implica dizer que as funções da moeda não 
podem ser exercidas por outro ativo. Tais características, em conjunto, garantem a 
função de reserva de valor da moeda e, conseqüentemente, sua liquidez, sua 
capacidade de liquidar dívidas e a sua transformação em poder de compra em sua 
forma mais geral. Nas palavras de Keynes, 
The attribute of ‘liquidity’ is by no means independent of the presence of these 
two characteristics. It is unlikely that an asset, of which the supply can be 
easily increased or the desire for which can be easily diverted by a change in 
relative price, will possess the attribute of ‘liquidity’ in the minds of owners of 
wealth. Money itself rapidly loses the attribute of ‘liquidity’ if its future supply 
is expected to undergo sharp changes (Keynes 1973 [1936], p. 241n) 
 
 
22
Os seis princípios listados acima permitem a caracterização da economia 
capitalista como sendo uma economia onde a moeda não é neutra no longo prazo, 
podendo o seu comportamento afetar as variáveis reais da economia. Em situações 
onde o futuro é incerto, o capitalista pode decidir ou não valorizar sua riqueza, 
mantendo-a em sua forma mais líquida (moeda) ou valorizá-la em ativos cuja 
reprodução não demande a contratação significativa de mão-de-obra (circuito 
financeiro). 
É justamente o refúgio encontrado na liquidez da moeda que faz com que 
ocorra a possibilidade de ocorrência de desemprego involuntário, mesmo em 
situações onde existam trabalhadores dispostos a trabalhar em troca de salários 
menores. Isto ocorreria porque a combinação de futuro incerto e a propriedade de 
conservar de valor por parte da moeda faz com que o nível de demanda efetiva seja 
abaixo daquele que garantiria o pleno emprego. Neste contexto, enquanto as 
expectativas em relação ao futuro não se alterarem positivamente, o nível de 
demanda efetiva será insuficiente para garantir a plena utilização dos fatores de 
produção. 
I.1.2 O DEBATE SOBRE EXOGENEIDADE E ENDOGENEIDADE DA OFERTA DE 
MOEDA 
Feita a análise dos fundamentos da concepção Keynesiana de uma 
Economia Monetária de Produção, passa-se agora para a discussão do segundo 
ponto teórico necessário para a construção de uma interpretação Pós-Keynesiana 
de economia regional, qual seja o debate acerca da endogeneidade da oferta de 
moeda. Como será visto mais a frente, esta discussão está no centro da 
interpretação Keynesiana de economia regional, pois é através dela que a moeda 
pode interferir na criação, manutenção e ampliação dos desequilíbrios regionais. 
O debate acerca da endogeneidade ou exogeneidade da oferta de moeda 
tem no seu cerne a discussão sobre a capacidade das autoridades monetárias em 
controlar a base monetária de uma economia. Neste contexto, três interpretações 
se consolidaram na literatura sobre teoria monetária: i) a vertente neoclássica 
verticalista; ii) a vertente Keynesiana horizontalista; e iii) a vertente Keynesiana 
estruturalista. 
 
 
23
A visão verticalista, fortemente apoiada pelos chamados monetaristas, 
considera a oferta de moeda completamente controlada pela autoridade 
monetária. Esta hipótese é de fundamental importância para a validação da Teoria 
Quantitativa da Moeda, marco central da corrente monetarista. 
 Basicamente, esta visão baseia-se em dois pilares: 
1. determinação da base monetária pelo Banco Central, que seria 
efetuada, essencialmente, por três tipos de operações do Banco 
Central, a saber: a fixação da taxa de reservas; a realizações de 
operações de redesconto ou empréstimo de liquidez; e, por fim, 
realização de operações de mercado aberto; e 
2. o entendimento de que o controle da base monetária pelo Banco 
Central o permite controlar o processo de expansão do crédito. Neste 
processo as preferências do público e as estratégias bancárias 
são consideradas estáveis. 
Implícito, nesta concepção, está o fato da quantidade ofertada de moeda ser 
fixada de maneira independente da demanda. É a decisão da autoridade monetária, 
em última instância, que determina a quantidade de moeda não importando o nível 
de atividade econômica e a demanda por moeda, conseqüentemente. A taxa de 
juros, nesta concepção, é um mero resultado da decisão sobre as metas quanto aos 
agregados monetários, não se constituindo em instrumento de política econômica. 
A vertente endogenista discorda fortemente deste entendimento, 
notadamente quanto à possibilidade da autoridade monetária ter controle sob a 
oferta de moeda. No entanto, esta vertente se subdivide em duas, denominadas de 
horizontalista e estruturalista. 
Os chamados horizontalistas possuem em Kaldor (1982) e Moore (1988) 
seus principais representantes. Esta corrente aceita a distinção entre moeda-
mercadoria e moeda-creditícia elaborada por Hicks (1967). Segundo este autor, a 
exogeneidade da oferta de moeda seria uma conceptualização apropriada para 
uma economia com moeda metálica e com pequeno ou nenhum desenvolvimento 
do sistema de crédito. Supondo uma economia fechada e sem crédito, a ampliação 
da renda nominal depende do aumento da quantidade de moeda. Não é possível 
 
 
24
gastar mais, em termos monetários, do que a quantidade de moeda que se dispõe a 
cada período. 
No entanto, com o desenvolvimento do sistema financeiro a moeda bancária 
passou a ser o principal meio de pagamentos, possibilitando a ocorrência de uma 
dependência da oferta de moeda em relação à demanda de crédito. Em um sistema 
de crédito, não existe uma oferta de moeda creditícia independente da demanda. 
Uma redução de demanda por crédito resulta na anulação da moeda creditícia e, 
portanto, uma redução do estoque de moeda existente. Simetricamente, quanto 
ocorre um aumento na demanda por crédito, o sistema bancário pode ampliar a 
oferta de moeda. 
O desenvolvimento da teoria da endogeneidade da moeda é datado 
historicamente, fruto do desenvolvimento tanto da forma de atuação dos bancos, 
como também das autoridades monetárias. 
Para melhor entender esta evolução, utiliza-se o arcabouço desenvolvido 
por Chick (1992 [1986]) e Dow (1999) de estágios de desenvolvimento bancário.11 
12 Este arcabouço se mostra extremamente útil uma vez que explicita as mudanças 
de processos causais na forma de operar dos bancos e como tais mudanças afetam 
a escolha da teoria mais apropriada para interpretá-los em cada estágio (Dow e 
Rodriguez-Fuentes, 1997). 
São seis os estágios de desenvolvimento bancário. No primeiro estágio, os 
bancos são numerosos e pequenos; os débitos em contas bancárias não são 
utilizados como forma de pagamento, isto é, os pagamentos são feitos em moeda 
mercadoria; os bancos são, principalmente, receptores de poupanças. Os depósitos 
são basicamente poupanças privadas, cuja oferta é exógena ao sistema bancário. 
 
11 Vale notar que o arcabouço desenvolvido por Chick não pretende ser uma teoria de desenvolvimento 
bancário a ser aplicado de forma generalizada para todo e qualquer sistema bancário nacional. Sua aplicação 
deve ser adaptada a cada sistema nacional, uma vez que ele foi elaborado tendo-se em mente o sistema inglês 
(e posteriormente, britânico). Feita esta ressalva, acredita-se que ele possa ser de grande ajuda neste trabalho, 
não somente para ajudar a explicar o processo de endogenia da oferta de moeda, mas também, como será visto 
mais adiante, para desenvolver a contribuição Pós-Keynesiana para a teoria de economia regional (para uma 
visão alternativa, porém não necessariamente contraditória, do processo de evolução dos bancos ver Kregel 
1997). 
12 Em seu trabalho original, Chick (1992[1986]) descreve cinco estágios de desenvolvimento bancário. Dow 
(1999) incorpora um sexto estágio. No presente trabalho será utilizada a versão de Dow. 
 
 
25
These features implied that an expansion of lending would entail a substantial 
loss of reserves even to the system as a whole. Banks are thus dependent of 
deposits for reserves and on reserves for lending capacity (Chick 1992 [1986], 
p. 194) 
Nesse cenário, a poupança determina o investimento. A capacidade de 
fornecer crédito está condicionada pela capacidade dos bancos em captar 
poupanças. Estas, por sua vez, estão condicionadas pela quantidade de moeda 
ofertada (high-powered money) não demandada pelo público na forma de cash ou 
por mudanças na preferência do público entre dinheiro vivo e depósitos bancários. 
Fundamental neste contexto é o fato do montante emprestado não retornar aos 
bancos sob a forma de depósitos, significando a existência de risco na atividade de 
concessão de empréstimo. 
No segundo estágio, o sistema bancário já possui a confiança do público, 
significando que os depósitos bancários podem ser usados como moeda. Além 
disso, esta possibilidade é ampliada pela consolidação de acordos de compensação 
entre bancos e pelo aumento do número de agências. Isto possibilita uma mudança 
radical no significado dos depósitos, uma vez que passam a representar toda a 
renda, seja ela destinada ao consumo ou não (poupança). 
Este desenvolvimento é de fundamental importância para a operação 
bancária, uma vez que o sistema não perde depósitos com empréstimos. Neste 
sentido, os bancos são encorajados a emprestar “dinheiro que não possuem” (além 
das reservas). Nas palavras de Dow, 
This development is crucial to the development of banking as opposed to 
financial intermediation. Now that there is less call on the intermediary’s 
reserves of coin, funds may be lent out without a prior matching deposit. The 
intermediary can generate what we now know as the ‘bank multiplier’. Deficit 
units can be financed without prior saving elsewhere in the system. The 
intermediary, now a bank, can itself create deposits as the counterpart to new 
lending which add to the local money supply and provide the basis for further 
financial intermediation (Dow 1999, p. 37) 
O multiplicador dos depósitos bancários é a teoria relevante: o sistema 
bancário pode emprestar um valor que é um múltiplo das reservas (sujeito à 
manutenção de um patamar mínimo de reservas). Nesse cenário, depósitos são 
uma conseqüência do processo de concessão de crédito. O sistema financeiro 
possui a capacidade de desenvolver os mecanismos para aumentar o estoque de 
depósitos bancários. O investimento pode preceder a poupança. 
 
 
26
O estágio III é caracterizado pelo desenvolvimento de mecanismos de 
empréstimos inter-bancários, fato este que potencializa o uso das reservas, 
fazendo com que o multiplicador de depósitos bancários atue de forma ainda mais 
intensa. Como pode ser notado, este estágio é um aprofundamento do estágio 
anterior. 
O quarto estágio marca uma mudança significativa na forma de operação do 
sistema bancário, e, conseqüentemente na teoria necessária para analisá-lo. Este é 
o estágio onde a atuação dos bancos centrais sofre uma mudança significativa: ele 
passa a atuar como emprestador de última instância para qualquer banco que 
esteja em crise, mesmo que isoladamente.13 
Under these circumstances, the supply of reserves has become endogenous, 
subject to the influence of the banks themselves. In turn, banks can now 
respond to the demand for loans, rather than being constrained by an 
exogenous stock of reserves (Dow 1993, p. 38) 
Neste estágio o banco central assume totalmente a responsabilidade pela 
manutenção da estabilidade do sistema bancário. 
No quinto estágio os bancos desenvolvem a administração do passivo, 
buscando atrair, ou reter, como depósitos, poupanças que poderiam ser mantidas 
em outras instituições financeiras. Esta é uma conseqüência do aumento da 
competição por depósitos dos bancos com instituições financeiras não-bancárias. 
The banks are forced to become much more pro-active, seeking lending 
opportunities and the deposits to match them, that is, to engage in 
liability management. This is where financial expansion starts to take on 
a life of its own, driven by the banks’ concern over market share rather 
than the financing needs of borrowers in the productive sector. There 
will always be demand for credit to finance speculation. (Dow 1999 
[1986], p. 38 -9) 
O sexto e último estágio representa uma resposta às conseqüências da 
expansão do sistema financeiro ocorrida durante o estágio anterior, que não 
necessariamente tiveram rebatimentos positivos no setor produtivo. Como visto 
acima, a estratégia de gestão de passivos, através de uma busca constante por 
reservas, levou à expansão dos depósitos, facilitando o aumento tanto de 
 
13 De acordo com Chick, (1992 [1986]) a atuação do banco central enquanto emprestador de última instância 
já havia sido defendida há bastante tempo atrás por Bagehot (1873). No entanto, tal intervenção ocorreria 
apenas quando ocorresse uma crise generalizada do sistema. No estágio IV, discutido acima, esta atuação 
ocorreria mesmo quando uma crise de liquidez afetasse apenas um único banco. 
 
 
27
atividades em mercados especulativos, quanto ao aumento da taxa de juros. Estas 
duas últimas conseqüências significaram um abandono do financiamento de 
atividades produtivas enquanto estratégia central dos bancos em busca de 
lucratividade. 
Assim sendo, observa-se um esforço, por parte das autoridades monetárias, 
em controlar este processo especulativo e a oferta de reservas através de regras de 
adequação de capital. A resposta do sistema bancário foi o desenvolvimento da 
securitização. 
Banks turned existing loans into marketable securities and developed the 
provision of financial services in securities markets, facilitating borrowing by 
means of issuing securities, rather than lending directly themselves. At the 
same time, they encouraged the development of markets in derivative 
products which offered banks profit-making opportunities off the balance 
sheet, and thus not subject to capital requirements (although the 
requirements have since been changed to try to capture exposure to off – 
balance sheet risk). (Dow 1999, p. 39) 
 
É no contexto do quarto estágio de desenvolvimento bancário, acima 
descrito, que a teoria da endogenia da oferta de moeda emerge. Dito em outras 
palavras, este desenvolvimento teórico se situa em um contexto institucional 
relativo à forma de atuação do sistema bancário. Neste sentido é uma teoria datada 
no tempo. 
Além do quadro institucional em vigor, a situação em que os bancos se 
encontravam ao final da II Guerra também favoreceu o desenvolvimento desta 
teoria, que pode ser entendida através da evolução dos balanços dos bancos. 
Pelo lado do ativo, observa-se que os sistemas bancários possuíam um 
grande volume de títulos públicos devido à necessidade de financiamento dos 
custos de guerra. Este fato determinou o surgimento de uma grande liquidez, uma 
vez que estes títulos possuíam uma grande aceitação. Com o crescimento 
econômico do pós-guerra, os bancos passaram gradativamente a trocar os títulos 
públicos (resgate dos governos) por títulos e créditos junto ao setor privado, 
diminuindo a liquidez dos bancos (títulos com menor aceitação). Pelo lado do 
passivo, observou-se o desenvolvimento do mercado internacional de divisas e o 
surgimento de uma série de inovações financeiras que facilitavam a obtenção de 
 
 
28
fundos por parte dos bancos. Com isto ocorreu umaredução progressiva na 
proporção de reservas mantidas em caixa. 
Neste contexto, ficou mais difícil para os Bancos Centrais constrangerem os 
bancos por meio de limitações de reservas sem pôr em risco o sistema. Isto os 
levou a, na prática, socorrer todo e qualquer banco em situação de restrição de 
liquidez, dando ao sistema como todo a garantia de que os bancos poderiam 
emprestar o quanto desejassem, uma vez que o banco central os socorreria sempre 
que necessário. Nas palavras de Dow, 
Kaldor’s strongest argument for the passivity of the monetary authorities in 
the face of expanding credit is that this is what inspires the confidence in the 
financial system which allows it to flourish; if the authorities were to 
contemplate refusing to supply reserves on demand, the entire financial 
system would be threatened by a crises of confidence. (Dow 1999, p. 70) 
A teoria da endogenia da oferta de moeda teve implicações profundas no 
debate entre Keynesianos e Monetaristas acerca da eficácia da política monetária 
no que concerne ao controle das autoridades monetárias sobre a quantidade de 
moeda na economia. 
Como visto, na visão verticalista (monetarista), a autoridade monetária 
controla plenamente a oferta de moeda, sendo assim possível determinar a 
quantidade de moeda na economia. Como, para esta vertente de pensamento, a 
quantidade de moeda determina o nível de preços (via teoria quantitativa da 
moeda), deriva-se, então, que a política monetária se torna o instrumento principal 
no combate a inflação.14 
Já os adeptos da endogenia da moeda preconizam que a autoridade 
monetária, ao atuar como emprestador de última instância, teria perdido a sua 
capacidade de controlar a oferta de moeda, limitando-se a definir a taxa de juros 
que seria cobrada aos bancos em caso de socorro de liquidez. No entanto, afirmam 
os horizontalistas, os bancos determinariam uma taxa de juros para a concessão de 
crédito através de um mark-up sobre esta taxa e, desde que o demandante de 
empréstimo estivesse disposto a pagar esta taxa, o empréstimo seria efetuado. Nas 
palavras de Moore, 
 
14 Esta interpretação fundamentou as políticas de metas de agregados monetários (precursora do regime de 
metas de inflação) adotado pelos governos Reagan e Thatcher no final dos anos setenta. 
 
 
29
The Federal Reserve retains the power to set interest rate at which it will 
provide lender of last resort liquidity. But it has very limited ability to 
constrain quantitatively the amount of reserves provided below the demand 
for them (Moore 1988, p. 39) 
 Ou seja, mesmo que as reservas sejam adquiridas a uma taxa de juros mais 
alta, os bancos poderão expandir os empréstimos caso a expansão seja rentável 
(rentabilidade marginal dos empréstimos comparadas aos custos marginais da 
aquisição das reservas adicionais junto ao Banco Central). A oferta de moeda, 
nesse caso, acaba se tornando completamente endógena à demanda: uma reta 
horizontal. 
A versão horizontalista da oferta de moeda, no entanto, não é unânime na 
literatura Pós – Keynesiana. Autores como Davidson (1972), Kregel (1984-5), 
Rousseas (1986), Jarsulic (1989), Dow e Dow (1989), Wray (1990), Pollin (1991), 
Carvalho (1992), entre outros questionam a hipótese de que os bancos sempre 
validariam a demanda por crédito. Basicamente, estes autores analisam a atuação 
dos bancos em termos de sua própria preferência pela liquidez. Portanto, é através 
da análise da escolha de portfólio por parte dos bancos que a questão da endogenia 
da moeda deve ser tratada. Assim sendo, para qualquer política adotada pelas 
autoridades monetárias, a criação real de moeda dependerá do comportamento 
dos bancos. Estes irão procurar fazer suas decisões de portfólio combinando 
lucratividade e liquidez: 
For any given policy of the monetary authorities, the actual creation of money 
will depend on the behaviour of banks. The portfolio choices of banks are 
oriented by the need to combine profitability with liquidity. According to the 
conditions in which existing asset possibilities offer those two attributes, 
banks will choose an investment policy which will ultimately determine the 
money supply. (Carvalho 1992, p. 111) 
Dessa forma, a análise estruturalista fundamenta-se na análise de dinâmicas 
monetárias centradas nas estruturas financeiras, envolvendo estratégias de 
valorização das instituições financeiras, o que permite questionar a estabilidade do 
multiplicador dos meios de pagamento e, conseqüentemente, da estabilidade da 
velocidade de circulação de moeda. A causa de uma falha de demanda efetiva 
poderá, então, ocorrer devido tanto ao fato de as firmas preferirem ativos líquidos 
à produção de bens de capital, quanto ao fato de os bancos escolherem direcionar 
seus recursos para o circuito financeiro ao invés do circuito industrial: 
 
 
30
In a sense this approach suggests that the very dichotomy between demand 
and supply of money is too narrow. It is the same fundamental factor that is in 
operation in both sides of the market: liquidity preference (Carvalho 1992, p. 
112) 
É importante notar que o sentido de endogenia da oferta de moeda ainda se 
mantém presente na abordagem estruturalista, embora de forma distinta da 
observada entre os horizontalistas. Enquanto nestes últimos, a oferta de moeda é 
endógena à expectativas do setor privado não bancário, nos primeiros a endogenia 
é garantida e determinada pelo setor bancário exclusivamente. A principal crítica 
aos horizontalistas é o não reconhecimento da possibilidade de os bancos optarem 
por alocar seus ativos na circulação financeira. 
Por fim vale salientar que, como será visto mais a frente, a abordagem 
estruturalista de oferta de moeda que dá as bases para a interpretação Pós-
Keynesiana de desenvolvimento regional. As duas outras interpretações 
(verticalista e horizontalista) não possuem espaço para que a moeda seja 
entendida como uma variável importante na dinâmica regional. 
 
I.1.3 POUPANÇA, FINANCE E FUNDING15 
Uma das mais importantes rupturas com a teoria ortodoxa introduzida por 
Keynes está na relação entre poupança e investimento. Enquanto que para a teoria 
clássica estas duas variáveis são faces da mesma moeda, intermediada pela taxa de 
juros, Keynes estabeleceu teoricamente uma clara distinção entre poupança e 
investimento. 
Nas palavras de Carvalho, 
It is a fundamental proposition of Keynesian economics in any of its forms that 
the savings decision should be studied separately from the choice as to the 
form in which saved income should be stored. (Carvalho 1992, p. 147). 
Keynes argumentava que o ato de poupar era um escolha inter-temporal 
relacionada com preferências intertemporais e, principalmente, à precaução ante 
um futuro incerto. Uma vez decido o quanto poupar, uma segunda decisão deve ser 
tomada: em que forma devem ser mantidos os recursos poupados. Esta segunda 
 
15 A descrição do processo de poupança, finance e funding aqui apresentado baseia-se em Carvalho (1992). 
 
 
31
decisão, de acordo com a visão ortodoxa, expressa na conhecida Teoria dos Fundos 
Emprestáveis, seria a obrigatória transformação destes recursos em investimento. 
Para Keynes, no entanto, esta relação direta não se estabelece, sendo a 
transformação em investimento apenas uma das opções existente. Esta decisão 
seria, em última instância, determinada pela preferência pela liquidez dos 
poupadores. 
Além de diferenciar poupança de investimento, Keynes também introduziu 
dois conceitos fundamentais para entender a dinâmica do investimento, quais 
sejam: finance

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