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Aula 2. FUNDAMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL

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FUNDAMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL
Fonte
Celso D. de Albuquerque Mello. Curso de direito internacional público – 15 ed. rev. – RJ: Renovar, 2004.
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1. Introdução e definição
O estudo do fundamento do DI consiste na investigação da justificação e legitimidade da norma jurídica internacional. 
O fundamento do direito é de onde ele tira a sua obrigatoriedade. O seu estudo é da maior importância para a sua reconstrução. 
François Geny assinalava que não podemos tomar uma posição perante o Direito sem antes termos tomado uma posição perante Deus, o Homem e o Universo. 
No DIP, as posições adotadas pelo jurista decorrem normalmente de sua posição filosófica.
	
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A palavra fundamento do latim fundamentu, significa a base, o alicerce, são, portanto, as razões e os argumentos em que se sustentam uma tese, concepção, ponto de vista, apoio, justificativa e motivo. 
Nesse sentido o fundamento é a garantia ou razão de ser.
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2. Doutrinas: Classificação
2.1. As mais antigas
A questão do fundamento tem preocupado os juristas há longa data. As teorias tem se multiplicado e entre as mais antigas podemos citar: A teoria da necessidade e a da nacionalidade.
A da escola utilitária ou da necessidade sustentou que o DI teria por finalidade “a investigação da utilidade geral no comércio dos Estados independentes e, em caso de guerra, a produção do menor mal possível”. 
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 A teoria da nacionalidade da escola italiana sustentava que a nação era “uma associação de língua com uma consciência social e vida comum”. 
A nação seria o único sujeito de DI. A primeira defendida por Bentham e Story, e a segunda por P. Stanislaw Mancini.
Nenhuma das duas prosperou
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As teorias que apresentam maior interesse para o nosso estudo podem ser classificadas em dois grandes grupos: o voluntarista e o objetivista.
2.2. O Voluntarismo
	É formado por aquelas doutrinas que defendem estar o fundamento do DI na vontade dos Estados, enquanto o objetivismo pressupõe a existência de uma “norma” ou de um “princípio” acima dos Estados.
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2.2.1. Teorias Voluntaristas
A) TEORIA DA AUTOLIMITAÇÃO (Georg Jellinek)
Afirmou não poder um Estado soberano se encontrar submetido a uma vontade que não fosse a sua própria, que era absoluta;
Entretanto, esta vontade impunha a si mesma o dever de respeitar o direito por ela estabelecido. O DI se fundamentaria na autolimitação do Estado que não poderia se “deslimitar”.
O DI se fundamentaria na vontade estatal.
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Crítica a teoria da autolimitação: 
	Esta teoria é contraditória, porque se o DI só existe em virtude da autolimitação estatal, isto é, em virtude da vontade do Estado soberano absoluto, ele poderia se deslimitar. 
Se isto não ocorre, é que existe algum princípio superior ao Estado impedindo isto. Podemos acrescentar a crítica de Aguilar Navarro: “um Direito que só obriga a vontade do interessado não pode pretender ser considerado como tal”. 
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b) Teoria da vontade coletiva (Heinrich Triepel, 1899 – origem germânica)
O DI se fundamentaria na vontade coletiva dos Estados, que se manifestaria expressamente no tratado-lei e tacitamente no costume;
“A fusão de vontades diferentes com um mesmo conteúdo”;
“O meio de se entenderem vários titulares de poder” (Miaja de La Muela).
André Gonçalves Pereira e Fausto Quadros afirmam que em certa fase a doutrina soviética aderiu a esta teoria ao defender que ou países socialistas e capitalistas tinham vontades diferentes, mas “que podiam ser dirigidas a um fim comum”.
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Objeções a teoria da vontade coletiva:
1ª) Ela não explica por que um Estado novo na sociedade internacional se encontra sujeito a uma norma costumeira elaborada anteriormente ao seu ingresso nesta sociedade.
 Como explicar a vontade tácita deste Estado quando da formação do costume se ele ainda não existia?
 Como explicar que, sem ter manifestado a sua vontade sobre aquela norma, ele se encontra subordinado a ela? 
Na verdade, como estudaremos, o costume é um “produto da vida social” e obrigatório para todos independentemente da vontade;
2ª) É que esta vontade coletiva, que se assemelha à vontade geral de Rousseau do direito público interno, não pode ter a sua existência demonstrada;
3ª) É que tanto Triepel como Jellinek, faz apelos a elementos estranhos ao voluntarismo. 
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A defesa de Triepel:
	Como que prevendo a crítica de que o Estado poderia retirar a sua vontade individual da vontade coletiva afirma que o direito em última análise se fundamenta em elementos éticos e psicológicos. Assinalando que a sua “teoria é mera hipótese de trabalho”.
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c) Teoria do consentimento das nações (Hall, Oppenheim – origem inglesa)
Não se confunde com a teoria anterior; A grande diferença com a da vontade coletiva é que ela não prevê a formação de uma vontade coletiva independente das vontades individuais para que para ela concorrem. À vontade a que se refere a presente concepção é a vontade majoritária, o consentimento mútuo. 
O consentimento seria expresso nos tratados e tácito no costume.
Crítica
Esta teoria apresenta o mesmo defeito da anterior para explicar o fenômeno costumeiro. E permanece de pé a principal crítica dirigida ao voluntarismo: como garantir o DI contra a “instabilidade da vontade estatal”?
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 d) Teoria da delegação do direito interno (Max Wenzel)
Ela é uma consequência natural da teoria da autolimitação (Jellinek). É a teoria de Wenzel que fundamenta a validade do DIP no direito interno estatal, ou seja, na Constituição.
Crítica
Se isso ocorresse, o Estado poderia se desvincular dos Tratados alterando a sua Constituição. Todavia, tal fato não acontece em nome da permanência do Estado.
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 2.3. Teorias objetivistas
 
O objetivismo pressupõe a existência de uma “norma” ou de um “princípio” acima dos Estados.
2.3.1. TEORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DOS ESTADOS (PILLET, RIVIER)
Esta teoria se desenvolveu após a Revolução Francesa e doutrinariamente remonta a Grotius e Wolf. 
Os Estados viveriam em verdadeiro estado de natureza, uma vez que a vida internacional ainda não foi organizada em um “Superestado”;
Seus defensores aplicam aos Estados a teoria dos direitos naturais do homem;
Os Estados possuiriam direitos naturais ou fundamentais “pelo simples fato de existirem”. Desta concepção é que poderiam ser deduzidas as normas internacionais. O DI teria o seu fundamento nos direitos fundamentais dos Estados.
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Críticas a teoria dos direitos fundamentais
1ª) Tem sido violentamente criticada pelos modernos doutrinadores, porque não corresponderia à história, quando afirma, por exemplo, que a igualdade “é direito natural” dos Estados. Segundo Brierly “a atribuição dessa característica é apenas uma fase no processo histórico”, e nem sempre foi assim;
2ª) O estado de natureza alegado pelos seus defensores nunca existiu, e se porventura existisse, não predominariam neles os direitos fundamentais, mas a força, enfim, a guerra;
3ª) Não negam a existência dos direitos fundamentais dos Estados, o que sustentam é que eles não podem dar ao DI um fundamento estável, porque eles variam de acordo com a época histórica.
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2.3.2. Teoria da norma base	 (Kelsen)
Para o autor, “todo o conhecimento conduz à unidade”. A partir desta afirmação ele construiu a teoria da pirâmide, ou dos degraus. “A validez de uma norma depende da que lhe é imediatamente superior. No vértice da pirâmide estaria situada a norma fundamental (Grundnorm).
Na sua primeira fase: Kelsen afirmou que poderia ser qualquer norma;
Posteriormente: ele saiu do indiferentismo e considerou que ela seria a norma costumeira pacta sunt servanda. A norma fundamental, para Kelsen, é uma hipótese, que não necessita de justificação;
Na terceira fase de estudos, ele rejeita a teoria da pacta sunt servanda e passa a considerar como fundamento do DIP “uma norma que institua como fato gerador do Direito o costume constituído pela conduta recíproca dos Estados”
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Objeções a
teoria de kelsen
 
1ª) Esta teoria conduz a um círculo vicioso, uma vez que a norma-base necessita ter o seu fundamento explicado. Kelsen não explica por que uma norma costumeira é obrigatória. 
É verdade que ele não está preocupado com a formação do Direito mas com o Direito já existente, o que torna a crítica não muito procedente.
2ª) Esta tese é “formalista” e a política é da maior importância no DIP. A teoria de Kelsen está “a serviço da ordem estabelecida” (Michel Villey). Ela tem as raízes em Gerber e Seydel, que pretendiam expor o D. Público “de um ponto de vista exclusivamente jurídico”.
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2.3.3. Teorias Sociológicas (desenvolvidas Leon Duguit e seguidores, como Georges Scelle).
Duguit, baseando-se nos trabalhos de Durkheim, considera que o direito é um produto do meio social;
A solidariedade social pode ser mecânica (similitude de interesses) e orgânica (divisão de trabalho). As necessidades é que impõem ao homem a vida em sociedade, decorrendo daí às duas formas de solidariedade para atendê-las.
A norma social é um resultado da solidariedade.
Duguit - A solidariedade proíbe ao homem tudo aquilo que pode causar uma desordem social e, ao mesmo tempo, ela lhe ordena tudo aquilo que pode manter ou desenvolver o fato social.
A norma internacional decorre da solidariedade internacional. 
Uma norma econômica ou moral se transforma em norma jurídica quando preenche dois requisitos:
Os indivíduos integrantes de uma sociedade sentem a sua relevância e acham que ela deve possuir sanção;
Os indivíduos consideram que será justa a criação desta sanção (sentimento de justiça).
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Crítica a teoria sociológica
Esta teoria é contraditória no sentido de que, ao pretender ser eminentemente positivista, acabou sendo jusnaturalista. Existem, como assinalava Cavaré, “necessidades morais inerentes à pessoa humana que não implicam necessariamente a ideia de solidariedade”. 
Ele não se refere à justiça objetivamente, mas a um “sentimento de justiça”, enfim a um elemento pessoal que conduz a uma relatividade. 
As necessidades humanas são muito mais amplas do que as duas formas de solidariedade. (Mecânica – similitude de interesses ou orgânica- divisão de trabalho)
 
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George Scelle
Foi quem melhor aplicou a teoria sociológica entre os seguidores de Duguit, acrescentando alguns argumentos de natureza biológica. Ele denominava a sua concepção de neopositivismo.
 Accioly a chamava de biológica. O internacionalista francês sustenta “que o equilíbrio social só pode ser mantido com forças coercitivas que resultam das leis naturais, uma vez que sem elas a vida social estaria ameaçada”. Tais forças seriam e ordem biológica... 
O DI tiraria a sua obrigatoriedade da necessidade dos grupos sociais que dele precisam para a sua sobrevivência. Ele teria assim, um fundamento biológico.
Scelle observa que o Direito fundamenta-se sempre na “necessidade social” e, em segundo lugar na “utilidade social”, porque “não se trata somente de viver mas de progredir”,
OBS.: Scelle se esquece de que o homem nem sempre se submete a necessidades biológicas, enfim, ele não leva em consideração os elementos psicológicos e elementos éticos.
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2.3.4. Teorias modernas italianas
Os doutrinadores modernos italianos são talvez na modernidade os que mais tenham pesquisado sobre o fundamento do DI, trazendo contribuições expressivas e pessoais para o seu estudo. Salvioli os agrupa em duas correntes: uma que apresenta correções ao normativismo; e outra, que tira o fundamento do DI do “substrato social”.
Primeira corrente (Ziccardi e Sperduti)
Ziccardi fundamenta o DI na forma que torna obrigatório o costume internacional;
Sperduti assinala que o fundamento do DI estaria em diversas normas que formaram um “costume pré-jurídico”, que se teria elaborado espontaneamente.
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Segunda corrente (Ago, Giuliano e Rolando Quadri)
Quadri – constata que na comunidade internacional se encontra um Direito e uma autoridade. Os sujeitos desta comunidade têm sobre eles um corpo social, que é a autoridade, com um “poder irresistível”. Este poder existe, porque a vontade do corpo social cria uma situação psicológica que se transforma em autoritária, uma vez que é comum a todos. O fundamento de uma norma seria no fundo “um fato psicológico coletivo”;
Giuliano – considera o Direito como um produto de determinada comunidade histórica e seu fundamento se resume no fato de que “um conjunto de juízos de valor jurídico próprios de uma determinada sociedade estejam presentes e operantes na mesma”.
Ago – Cuja concepção se aproxima da de Giuliano, sustenta que as normas fundamentais são inúmeras e que seria difícil declarar qual delas é a norma-base. Estas normas seriam de formação espontânea.
Miaja de La Muela observa que estas concepções italianas, apesar de lutarem contra o jusnaturalismo, não se encontram longe desta concepção ao admitirem “sistema de juízos de valores”, “autoridade do corpo social”, etc.
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2.3.5. Teoria do Direito Natural 
A admissão de um direito superior ao direito estatal ou positivo e dele independente é sustentada desde a Antigüidade.
 Na Grécia, Sófocles já defendia a sua existência em “Antígona”, em Roma, Cícero o pregava no “De República” e no “De Legibus”. Entretanto, foi com o cristianismo que esta concepção encontrou maior desenvolvimento e difusão.
O Jusnaturalismo foi desenvolvido no período medieval pelos padres da Igreja, como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. 
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Aquino declara que a primeira das leis é a lei eterna, que emana da razão divina; 
em seguida viria a lei natural, que é a lei eterna conhecida pelo homem por meio da razão, “sem o auxílio sobrenatural da revelação”. 
O D. natural se divide em primário, que possui poucas normas invariáveis, e o secundário, que seria mais extenso e com conteúdo variável.
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É na obra de Santo Agostinho que vai se encontrar as raízes da unidade do direito: ideal de justiça, a lei terrestre interpretada à luz da lei divina que vem através da Revelação.
Santo Tomás retoma esta concepção de Agostinho do D. Natural, mas através de uma visão aristotélica, no caso a lei sendo “ditada pela razão” numa concepção divina e humana.
Em Occam, o germe do positivismo - Só aceita como modo de conhecimento a experiência. Deus está fora do Direito, porque se trata de questão de fé. A moral não se fundamenta na razão. O único fundamento da lei é o comando do legislador. O indivíduo passa a ser o centro do direito. Já Santo Tomás parte da observação da ordem que vem da natureza.
 Simplificar é o melhor caminho para Occam (frade nascido na Inglaterra)
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Op. Citada Mello, 2004 (in Max Weber – Sociologie Du Droit, 1986). Antígona declara não ter cumprido o edito de Kreon porque ela não quis violar as leis imutáveis e não escritas dos Deuses. A “Lex naturae” é uma criação dos estóicos que foi retomada pelo cristianismo.
Resumo de Antígona (Sófocles): Numa das mais belas e dramáticas tragédias já escritas, Sófocles devassa em toda a sua profundidade o amor, a lealdade e a dignidade nesta triste história de amor entre Antigona e Hemon. 
Antígona desejava enterrar seu irmão Polinice, que atentou contra a cidade de Tebas, mas o tirano da cidade, Creonte, promulgou uma lei impedindo que o morto que em vida atentou contra a lei da cidade- fosse sepultado, o que era uma grande ofensa para o morto e sua família, pois a alma não faria a transição adequada ao mundo dos mortos. 
Antígona, enfurecida, desafia a lei e enterra o irmão. É então capturada e levada até Creonte, que a sentencia à morte, não adiantando nem os apelos de Hemon, filho de Creonte e noivo de Antígona, que clama ao pai pelo bom senso e pela vida dela, pois ela apenas queria dar um enterro justo ao irmão. 
Hemon briga com Creonte.
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 Antígona é colocada em uma tumba aonde deve ficar até morrer.
 Nesse ínterim, aparece Tirésias, (adivinho), que avisa a Creonte que sua sorte está acabando, pois o orgulho em não enterrar Polinice acabará
destruindo seu governo. 
Antes de poder fazer algo, Creonte descobre que Hemon, seu filho, se matou desgostoso com a pena de morte atribuída a Antígona. 
Eurídice (mulher de Creonte) procura-o e relata que, ao abrir a tumba onde Antígona estava presa, encontraram-na enforcada junto aos seus. Creonte se aproxima do filho Hemon, mas este num ato de desespero se mata, não sem antes tentar matar o pai (o que não consegue). 
Eurídice, desiludida pela morte do filho também se mata, para desespero de Creonte, que ao ver toda sua família morta se lamenta por todos os seus atos, mas principalmente pelo ato de não ter atendido o desígnio dos deuses, o que lhe custou a vida de todos aqueles que lhe eram queridos. (Tragédia grega). Fonte:www.netsaber.com.br.
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A laicização do D.Natural vem de Grotius, em que a lei moral se fundamenta na razão, que é autônoma.
Jusnaturalistas foram ainda os teólogos espanhóis fundadores do DI: Francisco de Vitória e Francisco Suárez.
No século XVII, Grotius admite a existência de um direito natural e de um direito positivo.
 Pufendorf e seus seguidores abandonam o direito positivo, ou jus voluntarium de Grotius, e passam a admitir apenas a existência do D. Natural. 
Pufendorf assinala que o direito natural se origina na razão, que criaria o direito, ao contrário da doutrina católica, que considerava a razão não como criadora do direito, mas o meio de “descobri-lo”.
Laicizar: v.t. Tornar leigo; substituir pessoal religioso por pessoal leigo: laicizar uma escola. Eliminar qualquer princípio de caráter religioso: laicizar as instituições, a administração de um país. Fonte: Dicionário online de português. www.dicio.com.br
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Crítica: 
Este jusnaturalismo racionalista universal não é possível, porque os valores não são universais e só a lógica formal é como o princípio da não contradição.
 Na verdade, o direito natural racionalista não descobre princípios universais e necessários. “Eles correspondem a desígnios normativos exigidos pelas condições sociais e institucionais de certa época. “O pensamento jurídico não se limitou a “descobri-las”, mas a “colocá-las lá”.
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No século XVIII, Wolf – retoma, juntamente com seus discípulos, a idéia de Pufendorf e desenvolve a concepção da existência de um direito natural entre os Estados.
Século XIX, o jusnaturalismo começou a ser criticado de maneira violenta pelo positivismo, que no DI tem as suas raízes em Bynkershoek. Na verdade as críticas se dirigiam ao Jusnaturalismo dos séculos XVII e XVIII, que se afasta da realidade social. 
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A superioridade do jusnaturalismo medieval sobre o moderno reside no fato de que ele nunca pretendeu elaborar um sistema completo de prescrições deduzidas (...) de uma natureza humana abstrata e permanente: o direito natural do jusnaturalismo medieval consiste em alguns princípios de grande generalidade, tendo como limite um princípio único: fazer o bem e evitar o mal”. Que o D. Natural Moderno, fundado por Hobbes, parte de “uma concepção estreita, particularmente privatista e atomística do homem”, o que vai dar origem ao liberalismo. Ele tem como modo de partida o homem isolado, em estado natural e egoísta, enquanto o medieval parte do homem em sociedade e tem uma visão comunitária. Observa ainda que “enquanto o direito natural medieval vê as obrigações do homem, o moderno vê os direitos”.
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 Século XX, (Charmont) sustenta que o direito natural teve um verdadeiro “renascimento”. Bodenheimer entende que ele teria ressurgido em virtude do aparecimento de problemas econômicos e sociais, que não puderam ser solucionados pelo direito positivo. É o D. natural os recursos dos que protestam (De Page), o que torna mais necessária a sua utilização no século XX, num momento em que o mundo se encontra em completa transformação. 
Max Weber igualmente afirma que o D. Natural foi sempre invocado por aqueles que se revoltam contra a ordem estabelecida.
O D. Natural tem a vantagem (Verdross) de dar ao DIP um fundamento na própria idéia de direito. A idéia de justiça existente no direito natural dá a este um aspecto dinâmico, que por sua vez vai influenciar o direito positivo.
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Outra crítica ao jusnaturalismo
É que quando ele leva em consideração os dados sociológicos e psicológicos ele o faz “no nível de representações ideais e não de teorias científicas”.
O jusnaturalismo é adotado por uma série de internacionalistas modernos, tais como: Lorimer, Verdross, Miaja de La Muela, Tryol y Serra, Accioly, Antonio de Luna etc.
Mello, 2004 in (François Ost e Michel van de Kerchove – Jalons pour une theórie critique du droit, 1987).
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Conclusão
Celso Mello sustenta que a conclusão a que se pode chegar quanto às teorias que fundamentam o Direito internacional, é que as doutrinas voluntaristas, que são no direito a continuação das filosofias de Espinosa e Hegel, são insuficientes para fundamentar o DI ou qualquer outro ramo da ciência jurídica, uma vez que a vontade só produz efeitos quando preexiste uma norma jurídica lhe atribuindo tais efeitos e, como assinala Jiménez de Aréchaga, tal norma não tem caráter consensual. Por sua vez, as doutrinas objetivistas procuram evitar esta crítica; todavia muitas delas acabam por admitir uma norma superior, cuja justificação é impossível. A melhor concepção, a nosso ver, é a do direito natural, e para dar sustentação a esta posição, podemos citar as observações de Delbez:
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Delbez
(...) o direito tem por missão fazer reinar a ordem e a justiça (...) inspirando-se em um certo ideal de justiça, ele visa a assegurar e manter a ordem social. O direito tira portanto o seu valor obrigatório do fato de que ele é indispensável à ordem social e que ele é presumido estar conforme a justiça. Se os Estados devem obedecer às regras costumeiras e convencionais, é (...) que elas visam a exprimir e a realizar o “bem comum” da sociedade internacional.
O fundamento assim dado (...) tem um tríplice caráter. Ele é objetivo, porque o bem comum da ordem internacional existe em si e não depende das vontades subjetivas dos Estados. Ele é racional, porque é a razão que o concebe. Ele é transcendente, porque visando a assegurar o bem geral da sociedade interestatal, ele é superior aos Estados que perseguem o seu bem particular (...) 
O D. Natural e o Direito Positivo não se opõem: o primeiro se concretiza no segundo. É como aduz Arias: “O Direito Positivo é o prolongamento do Direito Natural”. 
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“Foi como uma estrela polar... no meio das tempestades na história do mundo. Deu ao pensamento dos homens um apoio absoluto” ou ainda; “a razão humana, considerada como eterna... podia legitimar a tudo”. Friedrich Meinecke (El Historicismo y su Genesis, 1983) sobre o D. Natural.
 
	O grande problema do D. Natural é o de se saber quem vai definir o que é “bem comum”, sendo de recordar que “bem” é aquilo que atinge a sua finalidade. Acrescenta ainda que a doutrina do “bem comum” de Santo Tomás de Aquino é passível de vários usos e foi incorporada ao fascismo.
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A doutrina católica (Le Fur) defende a sua “descoberta” pela Revelação e este jurista francês aponta três princípios de direito natural: 
“o pacta sunt servanda”, o respeito à autoridade e o de que todo o dano injustamente causado deve ser reparado;
Outra corrente apontada por Gonçalves Pereira e Fausto Quadros é a do jusnaturalismo dos valores em que o D. Natural está no plano axiológico (axiologia – “teoria crítica da noção de valor em geral – e é descoberto através de uma progressiva participação da consciência moral nos valores”. É a tese de Helmut Coing e Verdross (esse encontra os princípios de D. natural nos princípios gerais do direito).
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Criticas ao jusnaturalismo
Ele não se insere “claramente na luta de classes atual” (M. Miaille);
As doutrinas de direito natural têm dado uma imutabilidade ao Direito (propriedade individual, família monogâmica, como sendo eternos) e têm-se constituído como um dique a mudança (Jean Carbonnier);
A doutrina de Santo Tomás tem conduzido ao corporativismo;
O direito natural serve sempre para legitimar o Poder, já que este se considera sempre justo (Denis Touret);
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Umberto Cerroni diz que o Jusnaturalismo pode ser definido “como a pré-história teórica do liberalismo”, e dentro desta linha de raciocínio Reinhard Kuhnl sustenta ter observado que após 1918 a burguesia com a sua hegemonia em perigo faz renascer o D. Natural afirmando “que o legislador não pode de modo algum estruturar a seu capricho a ordem social, mas que estava obrigado a repetir “normas superiores” que sendo examinadas de perto se comprovava serem sempre as normas da sociedade burguesa e de sua ordenação da propriedade”. Acrescenta o pensador alemão que na sociedade burguesa “a propriedade privada estava sempre por cima do princípio da democracia”.
La Violence Du Droit, 1980.
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Mello sustenta que é preferível nos filiarmos ao pensamento de Charles Chaumont para quem a natureza do caráter obrigatório da norma está na solução a uma contradição que se encontra em um momento histórico, dado mais forte que todas as outras. Ele fica com o fundamento do DI no D. natural, neste contexto.
A posição adotada quanto ao fundamento do DI vai influenciar todo o seu estudo; por exemplo: a admissão dos direitos fundamentais dos Estados, a questão da soberania limitada, etc.
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