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Falta de Conscientização Ambiental agrava risco de extinção do caranguejo-uçá em Sergipe IBAMA alerta para a necessidade do defeso O caranguejo, acompanhado de uma salada tipo vinagrete e de um pirão feito com o próprio caldo do crustáceo cozido, é a comida típica mais conhecida de Aracaju e por duas vezes já foi eleita pela revista Veja como “o melhor prato da cidade”, segundo informações do site http://www.aracaju.se.gov.br. “Patinhas de caranguejo", um dos pratos preparados do crustáceo. Abundante há muitos anos atrás, o caranguejo-uçá está cada vez mais difícil de ser catado nos manguezais sergipanos e nas demais regiões do país, como afirmam os próprios catadores e comerciantes do crustáceo. “Hoje o caranguejo está difícil de ser encontrado, em Aracaju praticamente ele não existe mais, por isso a gente tem que trazer de fora, principalmente de Brejo Grande e Estância”, explica a comerciante Daniela dos Santos, Setor de Pescados do Mercado Albano Franco, em Aracaju. 2 Reportagem desenvolvida por Camila Regina e Joscivanio de Jesus para a disciplina Jornalismo Especializado, curso Jornalismo, Unit, em abril de 2013. A importância da defesa do caranguejo-uçá Segundo pesquisas realizadas pelo Centro de Pesquisa e Extensão Pesqueira do Nordeste (CEPENE), que desenvolve estudos de biologia das espécies de caranguejo desde 1993 em manguezais do Norte e Nordeste, a diminuição do crustáceo pode tornar inviável a vida de outras espécies da fauna do mangue, como é o caso do caranguejo violinista, que se alimenta dos restos de matéria orgânica da alimentação do uçá. Segundo o CEPENE, toda uma cadeia alimentar depende da atividade do caranguejo-uçá, e a sua degradação dos mangues e a extinção dos caranguejos significaria a destruição desse ciclo (ver Infográfico abaixo), sendo a atividade da pesca a primeira a ser afetada. O total desaparecimento do crustáceo apresentaria sérios desdobramentos em termos sociais e ambientais, gerando desemprego e redução na renda de milhares de famílias que sobrevivem de sua pesca, conclui. Infográfico: A importância ambiental do caranguejo-uçá. Relatório do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), divulgado em 2009, aponta uma queda na produção do caranguejo-uçá no estado de Sergipe, como pode ser observado no gráfico apresentado abaixo, que traz números da captura do crustáceo referentes aos anos de 1991 a 2007. Conforme os dados apresentados, em Sergipe a média por ano de crustáceos capturados era de 608 toneladas, levando-se em conta os anos de 1991 a 1997. Nos anos 2000 a 2007 a média/ano caiu para cerca de 280 toneladas por ano, uma redução de 54%. FONTE: http://projetocaranguejouca.blogspot.com.br 3 Reportagem desenvolvida por Camila Regina e Joscivanio de Jesus para a disciplina Jornalismo Especializado, curso Jornalismo, Unit, em abril de 2013. 641 641 641 641 794 513 385 403 294 380 382,5 378 102 104,5 276 278,5 312 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Produção do caranguejo-uçá no estado de Sergipe (1991 - 2007) - em toneladas Produção de caranguejo-uçá no estado de Sergipe (1991 - 2007) - em toneladas FONTE: IBAMA/CEPENE Gráfico: Produção de caranguejo-uçá no estado de Sergipe (1991 - 2000) Segundo análise do pesquisador da UFRPE, Jacques Ribemboim, que estudou a crise na pesca do caranguejo no Nordeste, esses dados mostram que há um “sintoma de exaustão por captura”. “No estado de Pernambuco, a situação é muito grave; ali o crustáceo praticamente desapareceu”, pontua o pesquisador da UFRPE. E comenta: “Uma série de hipóteses explicativas para esta exaustão varia desde a pesca excessiva até a provável mortandade acarretada pela disseminação de uma doença letal causada por fungos, o que parece estar ocorrendo também nos apicuns de Aracaju e na Paraíba”. No entanto, há uma controvérsia muito grande a respeito dos motivos do desaparecimento do crustáceo dos manguezais sergipanos. “Uns afirmam que é a demanda em bares e restaurantes que acarretou a sobre pesca, e outros alegam que a mortandade é por disseminação de pragas resultantes de contaminação antrópica dos hábitats naturais. De qualquer modo, a escassez crescente deste integrante típico da culinária nordestina está atrelada, de um lado, aos hábitos de consumo de classes sociais mais abastadas durante as atividades de lazer, e, de outro, por visitantes e turistas de outros estados e outras regiões do país”, esclarece Jacques. Em Sergipe, não há estudos conclusivos que autentiquem as hipóteses levantadas pelo pesquisador. Períodos de Defeso Para evitar a extinção do caranguejo-uçá, o Ministério da Pesca e Aquicultura, através de Instrução Normativa assinada também pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), proíbe a captura, o transporte, o beneficiamento, a industrialização e a comercialização do 4 Reportagem desenvolvida por Camila Regina e Joscivanio de Jesus para a disciplina Jornalismo Especializado, curso Jornalismo, Unit, em abril de 2013. crustáceo no período da “andada”, que ocorre entre dezembro e março, dependendo da região, época em que as chuvas provocam um choque salino no manguezal. É o período conhecido como “defeso”, quando os caranguejos saem de suas tocas e vagam em todas as direções para se reproduzirem. Nessas “andadas”, que duram de três a quatro dias, eles ficam desprotegidos, longe de seus abrigos. Os catadores, portanto, ficam proibidos de pegarem o crustáceo nas datas previamente divulgadas pelo IBAMA. Em 2013, diferente dos anos anteriores, aconteceram seis defesos do caranguejo-uçá, divididos em três períodos. O primeiro período foi em janeiro, de 12 a 17 e de 28 de janeiro a 02 de fevereiro; o segundo ocorreu de 11 a 16 de fevereiro e de 26 de fevereiro a 03 de março e o último em março, de 12 a 17 e de 28 de março a 02 de abril. Tabela dos períodos de defeso do caranguejo-uçá em 2013. Penalidades Segundo informações do IBAMA, as pessoas físicas ou jurídicas que atuam na captura, manutenção em cativeiro, conservação, beneficiamento, industrialização ou comercialização desta espécie, forneceram ao órgão, até o último dia que antecedeu cada período de andada previstos na Instrução Normativa, a relação detalhada dos estoques de animais vivos, congelados, pré-cozidos, inteiros ou em partes. Os infratores notificados prestariam esclarecimentos junto ao IBAMA sobre a não declaração dos crustáceos 5 Reportagem desenvolvida por Camila Regina e Joscivanio de Jesus para a disciplina Jornalismo Especializado, curso Jornalismo, Unit, em abril de 2013. apreendidos e, ainda, sofreriam as penalidades previstas na Lei de Crimes Ambientais. A multa variava de R$ 700,00 (setecentos reais) a R$ 100 mil (cem mil reais), com acréscimo de R$ 20,00 (vinte reais), por quilo do produto. Não há registro de infrações ocorridas neste ano. O superintendente do IBAMA/SE, Manoel Rezende Neto, explica que as equipes de fiscalização visitaram Colônias de Pescadores, feiras livres, estabelecimentos, pontos de comércio do caranguejo-uçá e locais com grande circulação do público em geral, para fiscalizar e afixar cartazes de divulgação que orientaram sobre os períodos do defeso em todo o estado de Sergipe. "Sabemos que o caranguejo é um ingrediente fundamental na culinária sergipana e não poderíamos proibir que essa venda fosse negada, porém todos declararam seus estoques e esse procedimento já é conhecido por todos", pontua o superintendente. Comercialização durante os defesos Sendo assim, mesmo