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de forças e circunstâncias provenientes de uma ação simultaneamente espontânea e elaborada. Acreditamos que para distinguir o momento da formação e elaboração do Direito é necessário e oportuno examinar, primeiramente, as principais correntes filosóficas que buscam a origem do conhecimento humano, já que o homem é um animal histórico que, por excelência, conhece. 3.1 – Origem do Conhecimento Humano A) Empirismo - afirma que todo e qualquer conhecimento encontra o seu fundamento na experiência. Ensina Miguel Reale 8 que o Direito ―brota dos fatos e que existe em função dos fatos, cujas relações não nos é dado ultrapassar. Resumindo, podemos afirmar que dentro da concepção empírica a fonte primeira do Direito é a experiência, cuja 4 SÂNSCRITO – antiga língua sagrada da Índia: o sânscrito é a mais antiga das línguas indo-européias. 5 FATOR VOLITIVO – fator que diz respeito à volição ou à vontade. 6 AXIOLOGIA – ciência dos valores teve seu início no princípio do séc. XX e tem suas origens próximas na ética de Brentano e na Filosofia Fenomenológica. 7 JHERING, Rudolf Von – jurista Alemão (1818-1892). Opôs-se à formação espontânea do Direito, defendida pela Escola Histórica. Admite a evolução impulsionada por conflitos de interesses. Obras principais: ―O Espírito do Direito Romano‖, ―A Luta pelo Direito‖ e ―O Fim no Direito‖. 8 REALE, Miguel – Lições Preliminares de Direito. São Paulo: Ed. Saraiva, 1998. 5 existência só é possível no Direito Positivo, pois só ele permite observar o resultado prático e palpável dessa experiência O Direito Positivo parte dos fatos para formular as leis (normas) que se destinam a determinar a conduta dos indivíduos‖. B) Racionalismo - (do latim ―ratio‖, razão) vê, não na experiência, mas no pensamento a fonte principal do conhecimento, o Racionalismo reconhece as realidades empíricas, cuja explicação só é possível por meio da razão; sem refutar o Direito Positivo, o Racionalismo o situa ao lado do Direito Natural, ideal ou racional, que subordinou a si o Direito Positivo, por ser um Direito permanente, imutável e universal, expressão necessária da própria natureza do homem e condicionante universal de toda a vida prática, sendo, assim, o fundamento do Direito Positivo. C) Criticismo - segundo o Criticismo a razão não comporta idéias inatas, mas certas formas ou ―categorias A Priori, puras, condicionadoras da experiência, manifestando-se em função delas‖. Se não existissem as Categorias, não poderia haver conhecimento humano, a não ser o empírico. Para Kant 9 o Direito Natural é um só, porque se fundamenta em postulados da razão humana, de nada dependendo. Todavia a aplicação desse direito pode variar, refletindo-se no Direito Positivo ou de cada povo. O Direito Positivo varia de povo para povo, de acordo com as circunstâncias de tempo, de lugar, de momento histórico e cultura, mas todas as legislações se baseiam num mesmo conjunto de princípios. Para o Criticismo, o direito que se processa historicamente é resultado de uma experiência. ―Esta, porém, só se torna possível por meio de formas a priori transcendentais‖. SEGUNDA PARTE II - HISTÓRIA DO DIREITO NAS PRIMEIRAS GRANDES CULTURAS. 1 – Tempos Primitivos. Mesmo renunciando a formulação de uma trajetória unívoca e retilínea para as instituições sociais de todos os povos, acreditamos que os homens primitivos eram nômades e a associação humana era determinada pelas relações individuais e pelos laços de parentesco. Nesse período, temos a horda, o clã e a tribo. Mais tarde, o homem se fixa ao solo e o vínculo social vai lentamente se transformando de individual para territorial. A vida sedentária provoca o aparecimento de aglomerações mais densas formando as cidades, que unidas entre si formam a Nação, e esta institucionaliza o Estado, como máquina político-administrativa, cuja finalidade maior é garantir o Bem Comum e a Segurança Pública da população que vive em seu Território. Ensina Ludwick Gumplowicz 10 (Précis de Sociologie, Paris, 1896) que o Estado tem como primeira ação constitutiva a subjugação de um grupo social por outro grupo e no estabelecimento, pelo primeiro de uma organização que lhe permita dominar o outro: “O Estado é um conjunto de instituições que tem por fim a dominação de certo número de homens sobre outros homens e essa dominação é sempre exercida por uma minoria sobre a maioria”. O Direito, que só pode formar-se no Estado é a expressão de desigualdade dos grupos sociais, não existe um Direito Natural, nem direitos inatos do cidadão. 9 KANT, IMMANUEL – o ―primeiro dos filósofos modernos‖, nasceu em Königsber em 1724, onde viveu e morreu (1804). Sua vida foi um modelo de equilíbrio, simplicidade e honradez. Apesar de racionalista, reagiu ao dogmatismo, desconhecedor de limites da Razão. As suas obras fundamentais são: a ―Crítica da Razão Pura‖ (1781), a ―Crítica da Razão Prática‖ (1788) e a ―Crítica do Juízo‖ (1790). Para o Direito sua principal obra foi os ―Fundamentos da Metafísica dos Costumes‖ (1785). 10 LUDWIG GUMPLOWICZ, escritor e jurista austríaco de origem polonesa que defendia um estado baseado na luta de classes superiores em detrimento das inferiores. Os homens lutam para satisfazer suas necessidades materiais. A desigualdade entre 6 Mesmo aceitando a exposição de Gumplowicz como cientificamente brilhante, preferimos asseverar que os povos primitivos eram nômades e tinham uma organização primária e uma disciplina débil. Mais tarde, os homens fixaram-se a terra, formando clãs, tribos, cidades e finalmente o Estado. Não podemos esquecer que, nesse processo de evolução da sociedade humana, ―a família como primeiro vínculo natural unem em si todos os fins da vida e é a fonte de todas as formações social posterior; está claro que o Direito tem nela também a sua origem‖. Com o aparecimento do Estado, o Direito recebe uma posterior extensão e caráter especial de normalizador de todas as diferenças e relações da vida social. 2. O Direito nas Primeiras Grandes Culturas. (Egípcios, Babilônios, Hebreus, Hindus, Árabes). As primeiras grandes culturas desenvolvidas no Oriente apresentaram, no dizer de Alfredo Weber 11 , um verdadeiro ―consórcio entre o magismo primitivo e a primeira organização racional da Economia, da Sociedade e do Estado. O estrato social dominante, detentor dos segredos mágicos, impunha sua dominação sobre as camadas inferiores, pela Religião unificada com o Direito”. O Direito era então uma tradição sagrada mantida pelos sacerdotes, que foram os primeiros juízes. Secreto era o conhecimento do Direito, guardado pelos sacerdotes ou pelos mais velhos. Com o tempo, o Direito tornou-se o conjunto de decisões judiciais que, sendo ininterruptamente repetidos, tornaram-se costumes 12 . Então, das sentenças surge os costumes e dos costumes as leis, ou melhor, o Direito. Afirma o Prof. Paulo Dourado de Gusmão (Introdução ao Estudo do Direito, Rio de Janeiro, Forense, 1999), que “o Direito primitivo era respeitado religiosamente, não só pelo temor as suas sansões draconianas 13 e desumanas, como também, por medo da ira dos deuses que poderia se manifestar por epidemias, secas, chuvas, etc., como acreditavam os povos das primeiras culturas”. No estudo do Direito oriental notamos que a maioria dos legisladores declarava ter recebido o Direito ou as leis das mãos de seu Deus. Nesse Direito primitivo não há distinção entre os diversos ramos da árvore jurídica, ou seja, o Direito Civil, o Direito Penal, o Direito Administrativo etc, estavam todos inseridos na mesma