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Autor
 Denilson Matos
Língua Portuguesa II: 
Morfologia I
2009
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 
80730-200 • Curitiba • PR
www.iesde.com.br
M433 Matos, Denilson. / Língua Portuguesa II: Morfologia I /Denil-
son Matos. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 
168 p.
ISBN: 978-85-7638-799-2
1. Língua Portuguesa – Morfologia 2. Língua Portuguesa – For-
mação de palavras 3. Língua Portuguesa – Gramática. I. Título. 
CDD 469.5
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
Sumário
morfologia | 7
Conceito de morfologia | 8
Estudos lingüísticos | 9
Significação lexical e gramatical | 10
Formas livres, presas e dependentes | 11
Etimologia | 12
Dupla articulação da linguagem | 13
morfema | 19
Conceito de morfema | 19
Análise mórfica | 22
Tipos de morfema | 25
Estrutura das palavras I | 33
Estrutura das palavras | 34
Estrutura das palavras II | 45
Conceituação | 45
modo | 45
Pessoa | 47
Número | 47
Estruturas do verbo | 48
O acento tônico nos verbos | 55
Processo de formação de palavras I | 59
Afixos | 60
Derivação | 63
Processo de formação de palavras II | 71
Composição | 71
Outros tipos de processos | 73
Criatividade lexical | 79
O que é? | 79
Neologismo | 81
Considerações finais | 88
Classes de palavras I | 93
Algumas informações essenciais | 93
Classes de palavras II | 107
Artigo | 107
O adjetivo | 110
Numeral | 114
Pronomes | 121
Pronome | 121
O pronome pode ser de seis espécies | 123
Colocação pronominal | 129
Locuções e interjeições | 133
Locuções | 133
Interjeição | 136
Narração | 141
Texto | 141
Gabarito | 155
Referências | 165
Apresentação
Nesta etapa de nosso estudo, abordam-se as diversas partes que constituem 
o léxico de nossa língua preferencialmente aquelas que determinam a for-
mação e construção dos termos que a caracterizam e a identificam. Aqui, 
conheceremos os mecanismos de formação previstos no sistema da Língua 
Portuguesa, bem como aqueles que transcendem às expectativas do regis-
tro padrão.
Na mesma direção, iniciaremos o estudo das classes de palavras que re-
presenta, indubitavelmente, conteúdo capaz de determinar o sucesso do 
estudante diante da constituição e análise da frase e da oração em Língua 
Portuguesa, a saber: a sintaxe.
Desta feita, pretende-se apresentar, sob o amparo da gramática normativa, 
a língua enquanto sua formação, estrutura e classe de palavras. 
Mais especificamente, enquanto estudiosos da linguagem, devemos en-
tender que todo indivíduo que pretenda estudar uma língua, seja ela qual 
for, deve atentar para certas considerações que determinam e auxiliam o 
reconhecimento dessa língua. Assim, o estudo da forma é uma das possi-
bilidades de análise que traz à tona o entendimento de que as palavras se 
organizam não apenas numa frase, mas, também, internamente. Se por um 
lado, palavras quando combinadas podem constituir frases, textos, por ou-
tro, letras, morfemas, sílabas também podem formar palavras.
Portanto, é neste espírito que se busca entender os procedimentos lingüísti-
cos que participam e atuam efetivamente na morfologia das palavras.
morfologia
Denilson Matos*
Seguindo o raciocínio do texto de apresentação, sugerimos o estudo da morfologia, que é exata-
mente aquela que vai conceber a língua sob um prisma formal, ou seja, a partir da forma da palavra.
Antes de apresentarmos os subsídios teóricos que formulam o conceito dessa parte da gramá-
tica, veja-se o texto a seguir que mostra o jogo com as palavras, feito pelo autor Augusto de Campos, 
observando mais pontualmente que a maestria do autor é percebida no jogo que faz com as partes das 
palavras, para construir novos sentidos.
Tensão
(A
ug
us
to
 d
e 
Ca
m
po
s,
 1
95
6)
Vale ressaltar que, por enquanto, o que se pretende demonstrar é a possibilidade de estudar 
as palavras pelas suas partes, já que estas podem, quando recombinadas, formar novos termos 
e novos sentidos. No caso do poema Tensão, o autor combina e recombina as sílabas e fonemas/
letras das palavras.
* mestre em estudos da linguagem (Língua Portuguesa e Lingüística) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). 
Especialista em Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Bacharel e Licenciado em Letras (Português/Literatura) 
pela UERJ. 
com
som
con
tem
can
tem
ten
são
tam
bém
tom
bem
sem
som
8 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Exemplo:
Com Tem Contém 
Som Bem Tensão 
Tom Sem Também 
Se na primeira coluna colocarmos, no lugar da letra [c], a letra [s] ou [t], veremos como resultado ou-
tras palavras. O mesmo na coluna da palavra “tem”, se colocarmos [b] ou [s]. Na terceira coluna, chamamos 
a atenção para a presença da sílaba “tem”/”ten” que participa na formulação de diferentes palavras. Isso 
comprova que toda palavra é formada por vários pedaços que se combinam.
Esta reflexão serve para fazermos a inferência de que o estudo da morfologia deve estar presente 
em nossas investidas lingüísticas, toda vez que se quiser tratar da forma da palavra.
Conceito de morfologia
Assim, pretende-se apresentar o âmbito dos estudos morfológicos, pode-se afirmar, segundo as 
propostas de Ernani Terra (1996), que ao analisarmos a maioria das palavras percebe-se que elas podem 
ser divididas em segmentos. Nessa direção, por exemplo, na palavra “bonitas”, sob a ótica da morfologia, 
devemos reconhecer a existência de dois grupos de unidades significativas: 
a) “bonita” 
b) “bonit-“, “-a”, e “-s” 
O primeiro grupo (a), representado pela palavra “bonita”, pode ser empregado como palavra iso-
lada e isto sempre trará um significado. Já o segundo grupo (b), “bonit-“, “-a”, e “-s”, nunca poderá reali-
zar-se, em Língua Portuguesa, como palavra provida de significado, destacada do restante da palavra, 
solta na frase ou descontextualizada. 
A esses segmentos mínimos (“bonit-“, “-a”, e “-s”) dá-se o nome de morfema. E a análise dessas par-
tes, chama-se análise mórfica, isto é, processo pelo qual se divide a palavra em seus elementos mórficos: 
unidades mínimas significativas.
Aqui a preocupação está em apresentar o estudo que se preocupa em analisar essas partes ou 
morfemas: a morfologia, que tem como objetivo precípuo, estudar a estrutura e a formação das pala-
vras de uma língua, a partir de suas partes constitutivas.
A própria palavra morfologia já nos conduz a uma análise de suas partes. Por exemplo, é possível 
separá-la em dois segmentos, são eles: 
“morf(o)” = forma
+
“logia”= estudo
9|Morfologia
Diante dessa divisão, podemos concluir que:
A morfologia tem como objetivo estudar a estrutura e a formação das palavras de uma língua.
Desta feita, com o objetivo de apresentar o conteúdo, fez-se essa breve incursão sobre a morfo-
logia. Todavia, daremos início ao estudo morfológico das palavras da Língua Portuguesa através dos 
caminhos sinalizados pelos estudos da significação lexical e gramatical das palavras, a compreensão 
do que seriam as formas livres, presas e dependentes, a abordagem panorâmica sobre a etimologia e o 
estudo da dupla articulação da linguagem
Estudos lingüísticos
Segundo manoel Pinto Ribeiro (2003), as palavras da Língua Portuguesa podem ser subdivididas 
em vocábulos formais variáveis e invariáveis. Temos um vocábulo formal quando um segmento fônico 
se associa a uma significação lexical ou gramatical. 
Um dos aspectos do estudo dos vocábulos é o que procura verificar se ocorre uma variação (mas-
culino / feminino) ou flexão(singular / plural). Dessa forma, os vocábulos podem ser subdivididos em 
vocábulos formais variáveis e vocábulos formais invariáveis. 
Os vocábulos formais variáveis podem ser exemplificados pelas seguintes classes de palavras:
Substantivos (menino, meninas)1. 
Verbo (tenho, tenhas)2. 
Artigo (o, os, a, as)3. 
Adjetivo (lindo, lindas)4. 
Pronome (sua, suas)5. 
Numeral (um, umas, primeiro, primeiras)6. 
Já os vocábulos formais invariáveis são exemplificadas pelas seguintes classes de palavras:
Advérbio (1. mais cansada, não fiques com medo)
Preposição (a, de, desde, contra)2. 
Conjunção (e, mas)3. 
Interjeição (ah! hum!)4. 
Vale lembrar que não é necessário, por enquanto, preocupar-se com relação a tais classes, pois, 
passo a passo, desde o começo, entenderemos os aspectos morfológicos da língua através de uma 
abordagem que pretende, didaticamente, levá-los a conviverem com as questões da morfologia que 
podem ser analisadas em grupos básicos, a saber:
10 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
1 Estrutura de palavras.
2 Formação de palavras.
3 Classe de palavras.
Assim, juntos, construiremos os conceitos que nos permitirão transitar nas veredas da estrutura, 
formação e classe das palavras. Trataremos, inicialmente, da significação lexical e gramatical.
Significação lexical e gramatical
Segundo Celso Cunha & Lindley e Cintra (2001), quanto à natureza da significação, os morfemas 
classificam-se em lexicais ou gramaticais.
Por que falar de significação lexical e gramatical?
Primeiro ressaltamos que não se pode perder de vista que estamos tratando de palavra. Por isso, 
convém, antes de entender as suas partes constitutivas (estrutura) e a relação que há de umas com as 
outras (classes), compreender que há um significado latente em cada uma delas. Portanto, numa abor-
dagem morfológica, convém saber quais significados estão em jogo, ou seja:
o significado lexical;::::
o significado gramatical. ::::
Significação lexical
Os morfemas lexicais apresentam significação externa, porque fazem referência a fatos do mun-
do extralingüístico, aos símbolos básicos de tudo o que os falantes distinguem na realidade objetiva ou 
subjetiva.
Em casa, casebre, casinha, casarão, podemos verificar que cas- é o elemento vocabular que faz 
referência ao mundo extralingüístico, além de o radical ser a parte comum a todas as palavras. 
A significação dos radicais é chamada de lexical, dessa forma, a formação das palavras em desta-
que recebe o nome de formação lexical. Podemos acrescentar aqui a significação dos prefixos (partícu-
las que são inseridas antes do radical das palavras), que dão origem a novos vocábulos. Por exemplo: 
pré- (prefixo que indica algo que vem antes); curso pré-vestibular (curso que ocorre antes do exame do 
vestibular).
Significação gramatical
Já a significação dos morfemas gramaticais deve ser classificada como interna, pois deriva das 
relações e categorias da língua. Observando o enunciado As meninas gostavam de boneca, dizemos que 
é composto por cinco vocábulos formais que apresentam a seguinte estrutura:
11|Morfologia
As = -a (feminino) + -s (plural); meninas = menin- (radical) + -a (feminino) + -s (plural); gostavam = gost- 
(radical) + -a (vogal temática de 1.ª conjugação) + -va (desinência modo-temporal do imperfeito do indicati-
vo) + -m (desinência número-pessoal); de (relaciona gostavam a bonecas, morfema relacional); boneca = bo-
nec- (radical) + -a (feminino). Todos esses morfemas, indicadores de feminino, plural, vogal temática, modo e 
tempo, número e pessoa, além do morfema relacional, são os que possuem significação gramatical.
Agora que vimos o significado lexical e gramatical cuidaremos de alguns conceitos que justificam 
o nome morfologia, como vimos no início. Lembram? 
“morfologia é o estudo da forma”.
Veremos como são agrupadas e analisadas as palavras a partir da perspectiva da forma.
Formas livres, presas e dependentes1
Forma livre
São os vocábulos que são capazes de estabelecer alguma comunicação. Consideremos a frase: 
”Os homens e as mulheres podem ser independentes”
Podemos citar como exemplos de vocábulos livres: homens / mulheres / podem / ser . 
Atualmente as classes de palavras que podem servir de exemplo para a forma livre são : os subs-
tantivos, os adjetivos, os verbos e alguns advérbios.
Por exemplo:
“Os índices de miséria aumentam, trazendo preocupação para os países menos desenvolvidos”.
Substantivo –“índices”, “miséria”, “preocupação”, “países”.
Adjetivo – “desenvolvidos”
Verbo – “aumentam”, “trazem”
Advérbio – “menos”
Todas as palavras retiradas do texto são exemplos de formas livres.
1 Segundo Bloomfield (1933), os vocábulos formais são de 2 espécies: a) formas livres - são aquelas que podem constituir, isoladas, um 
enunciado suficiente para comunicação. Ex. lei. b) formas presas - aquelas que não são suficientes para, sozinhas, constituírem um enunciado. 
Ex.: pro-(de proscrever), trans- (de transformar). Segundo Carone (1995, p. 32), uma palavra pode ser constituída de: uma forma livre mínima- 
leal; de duas formas livres mínimas - couve-flor; de uma forma livre e uma ou mais formas presas - leal-dade, in-feliz-mente; apenas de formas 
presas - re- a-bert-ur-a. Aos conceitos de formas livres e formas presas, mattoso (2006, p. 70) acrescenta as formas dependentes, que de acordo 
com o autor não são livres porque não constituem, isoladas, um enunciado; e não são presas porque são separáveis como vocábulos formais. 
São consideradas formas dependentes os artigos, preposições, algumas conjunções e os pronomes oblíquos átonos. São exemplos de formas 
dependentes: o rapaz, diga-me, preciso de ajuda.
12 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Forma presa
São os vocábulos que não existem isoladamente. Podemos citar como exemplo: a desinência de 
plural, a de feminino, a modo-temporal, a número-pessoal, os prefixos, os sufixos, as vogais temáticas. 
Os radicais normalmente aparecem como formas presas. 
É interessante notar que o conceito de forma presa, muitas vezes, depende do contexto. Por 
exemplo, o vocábulo “mar” é considerado indivisível (um único elemento: radical), porém, observando o 
vocábulo “mares” (forma livre), estamos diante de três formas presas = mar + e + s, pois o radical passou 
a ser uma forma presa nessa palavra.
Forma dependente
As formas dependentes não são suficientes para estabelecer comunicação, pois dependem das 
formas livres. Ou seja, embora sejam estruturas necessárias para conexão e ajustes entre os termos das 
frases isoladas, perdem sua função comunicativa e relacional.
Por exemplo: 
 “Os homens e as mulheres podem ser independentes”.
Podemos citar como exemplos de vocábulos dependentes: “os”, “e” e “as”. 
São chamados de formas dependentes as classes dos artigos, pronomes e conectivos.
Outra linha de estudos que complementa a abordagem da morfologia é a Etimologia, que com 
sua perspectiva histórica apresenta a trajetória da palavra através dos tempos sobre o prisma da evolu-
ção e transformação da mesma. Vale ressaltar que tal estudo, embora tratado de forma complementar, 
é absolutamente independente enquanto área do saber e representa um campo especifico dos estudos 
lingüísticos. 
Nosso desejo é estimular o interesse pela Etimologia, compreendendo que tal aprofundamento 
trará maior mobilidade para o entendimento da morfologia, bem como da Língua Portuguesa de uma 
forma geral. 
Objetivamente, realizaremos uma abordagem mais ampla do ponto de vista do estudo da pala-
vra, enquanto forma lingüística. Proponho uma passagem pela Etimologia. Esse estudo pode ser muito 
útil quando concebido simultaneamente ao estudo da morfologia.
Etimologia
As palavras certamente representam importantes ferramentas do espírito e do conhecimento 
humano. A ampliação do conhecimentopode ser alcançada a partir do estudo das suas histórias. Assim, 
o estudo da Etimologia2 (do grego ethymon – verdadeiro) é a possibilidade que se tem de entender, 
2 Os etimologistas são os estudiosos da língua, que buscam reconstruir a história das palavras (etimologia): em que época surgem numa 
determinada língua; quais suas fontes e como suas formas e significados se transformaram.
13|Morfologia
reconhecer e aprender mais sobre a história de uma língua, e por conseqüência, sobre o homem e sua 
visão de mundo numa determinada época.
Nesta etapa, trataremos dos derradeiros conceitos que nos darão uma idéia da relação que há 
entre os estudos morfológicos e a linguagem propriamente dita. Afinal, só há sentido no estudo morfo-
lógico se visto como parte integrante de um sistema maior, chamado gramática da língua, que por sua 
vez se realiza através da linguagem.
A linguagem é fundamental para efetivação da comunicação, entretanto, sob uma perspectiva 
morfológica, não basta apenas associá-las à idéia de comunicação, mas, também, de entender como ela 
se articula. Nesse intuito, veremos algumas considerações sob a articulação da linguagem. 
Dupla articulação da linguagem
A articulação é característica da linguagem humana, diferenciando-a fundamentalmente das ou-
tras produções vocais não-lingüísticas e dos outros sistemas de comunicação (os códigos e as quase-
linguagens: linguagem gestual, dos animais, musical etc.). O método de articulação é o mais utilizado 
para entendermos como se constitui ou se estrutura uma língua.
Conforme manoel Ribeiro (2003), foi martinet, o lingüista francês, quem introduziu a expressão 
“dupla articulação da linguagem” no estudo das línguas. Assim, podemos afirmar que toda língua pode 
ser analisada em dois tipos de unidade:
1 Significativas (1.ª articulação).
2 Distintivas (fonológicas) (2.ª articulação).
Vejamos então cada uma delas:
Primeira articulação da linguagem: unidades significativas
Na primeira articulação da linguagem, são estudadas as suas unidades significativas. Podemos 
citar como exemplos da primeira articulação da linguagem:
o :::: discurso - unidade maior, este poderia conter: um parágrafo, um texto ou uma simples frase; 
a :::: frase - divisão elementar do discurso, que tem como objetivo estabelecer comunicação; 
a :::: oração - divisão elementar de uma frase verbal; 
os :::: termos da oração - sujeito, objetos, complementos nominais, etc.;
os :::: vocábulos formais - as palavras da nossa língua; 
as :::: unidades mínimas ou elementares - o radical e os elementos mórficos constituintes de 
um vocábulo.3
3 Conforme vimos os morfemas.
14 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Segunda articulação da linguagem: unidades distintivas
Na segunda articulação da linguagem, são estudadas as unidades que pertencem ao campo fo-
nológico (unidades distintivas), que mostram quais são e como funcionam os fonemas de uma língua, 
com seu papel distintivo.
Pela substituição de um fonema, verificamos que ocorre uma oposição lingüística, visto que moti-
va uma mudança de significado na nossa mensagem. Podemos citar como exemplo dessa característica 
o grupo de vocábulos: mala X cala X fala X bala no qual a troca do fonema inicial da palavra dá origem 
a vocábulos distintos, isto é, embora, isoladamente, seja desprovida de quaisquer significado lexical ou 
gramatical.4
Na 2.ª articulação, verificamos os sons das palavras.
Assim, numa frase como “Telefone-me agora”, teremos as seguintes unidades da segunda ar-
ticulação: 
1. te /lê /fo /ne /me /a/go/ra
Ou
2. t/e/l/e/f/o/n/e m/e a/g/o/r/a
Desta feita, poderíamos, de forma geral, organizar as unidades de articulação da linguagem em 
2 grupos:
Grupo I
Discurso
Frase
Oração
Termos da oração
Vocábulos
morfemas 
4 Vide 1.1.1
15|Morfologia
Exemplos:
Discurso: Entremos, já que as portas se abrem de par em par, cerrando-se logo depois de nossa 
passagem. A sala não é grande, mas espaçosa; cobre as paredes um papel aveludado de sombrio es-
carlate, sobre o qual destacam entre espelhos duas ordens de quadros representando os mistérios de 
Lesbos. Deve fazer idéia da energia e aparente vitalidade com que as linhas e colorido dos contornos se 
debuxavam no fundo rubro, ao trêmulo da claridade deslumbrante do gás.” (Trecho da obra Lucíola, de 
José de Alencar, Cap. VI)
Frase: “A sala não é grande, mas espaçosa”
Oração: “mas espaçosa”
Vocábulo: “espaçosa”
Morfema: “-a”
Grupo II
Sílaba
Fonema 
Sílaba: (Amizade) A-mi-za -de
Fonema: s/a/p/a/t/o
Enfim, nesses quadros podemos compreender que:
1. A maior unidade significativa é o discurso, por exemplo, o trecho do livro Lucíola, de José de 
Alencar; e a menor unidade significativa é o morfema, por exemplo, o morfema “-a” da palavra espaço-
sa, que significa feminino.
2. O fonema é a menor unidade distintiva da linguagem.
16 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Texto complementar
Um passeio etimológico no pescoço da girafa
A semelhança da girafa com o camelo levou os europeus, em épocas passadas, também a de-
signá-la de camelo-leopardo, no entanto com uma pequena diferença na forma de grafar a palavra: 
camelopardo.
Também a chamaram assim por julgarem que a girafa era o cruzamento de um camelo com 
um leopardo. Apesar de há muito se saber que essa não corresponde à realidade, esse erro per-
manece imortalizado, pois o nome científico da girafa é Giraffa camelopardalis – versão latina de 
camelo-leopardo.
Os camelos, embora não estejam classificados na subordem dos ruminantes, são animais que 
ruminam e, ao contrário da maioria deles, eles não têm cornos. Como os girafídeos, mas com menor 
tamanho, os camelídeos também apresentam pescoço longo.
A grande diferença entre as duas famílias está no fato dos girafídeos andarem sobre suas patas 
desenvolvidas com cascos (ungulígrados), enquanto que, entre os camelídeos, o contato com o solo 
se dá por meio das duas últimas falanges (digitígrados).
“Zarafa” é palavra de origem árabe na Língua Portuguesa: ZARAFA. A palavra girafa provém da 
antiga palavra arábica ZIRAFAH, a qual significa “o mais alto de todos”. Diz-se também que a palavra 
girafa tem origem no nome árabe XIRAPHA, que significa “o que caminha muito depressa” ou “aquela 
que anda muito rápido”. O nome girafa vem também do árabe ZURAFA, que significa “a graciosa”. 
Embora o termo derive de uma palavra árabe, a letra G que veio de uma derivação da letra Z, não é 
natural. Podemos supor que a palavra zirafah é uma mistura comum chamada metátese. Em lingü-
ística (transposição de fonemas dentro de um mesmo vocábulo) e relativa à desordem neurológi-
ca chamada dislexia (incapacidade, devida a lesão central, para se ler compreensivelmente) ZaVaR 
(pescoço).
Enquanto Adão ou qualquer ancestral humano fizeram bem em chamar a girafa de uma cria-
tura “pescoço”, o termo hebreu enfatiza a garganta ou a parte frontal do pescoço mais que a parte 
proeminente detrás da girafa. Em hebreu, essa parte da anatomia é OREF, mais corretamente pro-
nunciada por Sephardim como KHOREF ou GHOREF. 
Assim, podemos verificar quantas discussões se pode fazer a partir da história de apenas 
uma palavra. 
A título de curiosidade, vejamos como a girafa é chamada em outras línguas: o selo postal da 
França mostra a palavra girafa escrita em francês: GIRAFE. O selo do Congo mostra a palavra girafa 
em latim: GIRAFFA, que se grafa igual ao italiano. E o selo dos Estados Unidos mostra a palavra girafa, 
em inglês, que se grafa igual ao alemão: GIRAFFE. Girafa em suaíle é TWIGA. Girafa em espanhol é 
JIRAFA, girafa em polonês é ŻYRAFA e girafa em tcheco é ŽIRAFA.
17|Morfologia
Desta feita, podemos afirmar que o patrimônio lingüístico de uma nação é um dos seus maio-
res bens, além de representar o legado para as gerações futuras, pois com a transmissãodos idio-
mas transferem-se milhares de características, fatores e costumes especiais e únicos.
Enfim, o estudo da etimologia é imprescindível para se circunscrever a história, o tempo e a 
vida de uma nação. E funciona como estudo complementar para a compreensão da morfologia.
(Disponível em: <www.sergiosakall.com.br/girafas/etimologia/html> (Adaptado). 
Acesso em: 14 jun. 2007).
Análise lingüística
1. Faça o que se pede:
a) Procure em pelo menos quatro dicionários diferentes de Língua Portuguesa, qual o significado 
da palavra morfologia.
b) A morfologia pode ser estudada em três partes distintas. Quais são?
2. O estudo da Etimologia pode ser utilizado para ampliar o horizonte histórico de análise dos 
estudiosos da morfologia, assim, escolha três palavras quaisquer cuja origem e história você 
gostaria de conhecer. Temos certeza que você fará boas e interessantes descobertas. 
a) Para ajudar nessa pesquisa utilize o dicionário (GUÉRIOS, R. F. m. Dicionário de Etimologias da Língua 
Portuguesa. São Paulo, Nacional: [Curitiba] Univ. Federal. Paraná, 1979 e o Dicionário Etimológico de 
Nomes e Sobrenomes. 2. ed. São Paulo: Ave maria, 1973. 
b) Faça buscas na web sobre etimologia.
3. Complete:
 Sabe-se que -logia significa estudo, então descubra as especialidades abaixo, em seguida crie ou 
encontre pelo menos um exemplo de unidade significativa, a partir das palavras descobertas. 
a) Olhos: _____________________
b) Pele:________________________
c) Da mulher: __________________
18 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
d) Da estrutura e formação da palavras:___________________
e) Dos sons:____________________
4. Classifique os vocábulos do poema de Cecília meireles em formas livres, presas e dependentes:
Compensação
Cecília Meireles
(...)Hoje eu queria andar lá em cima,
Nas nuvens,
com as nuvens,
pelas nuvens,
para as nuvens.(...)
5. Responda o que se pede:
a) Na 1.ª articulação de uma língua, temos unidades __________________ da linguagem.
b) Escolha uma das unidades da 1.ª articulação e escreva sobre ela.
c) Em “nuvens”, podemos dizer que o -s é uma unidade da 1.ª articulação. Explique.
d) No vocábulo universidade, é possível dizer que temos 12 ou 6 unidades distintivas. Por quê?
morfema
Vamos discutir a parte da palavra que representa uma pequena unidade de significação mor-
fológica: o morfema. Nele estão as informações que podem explicar ou ao menos representar alguns 
sentidos, como: o gênero masculino, o plural e o singular ou o tempo de uma ação. 
Através dessa pequena parte da palavra, que isolada, destacada do restante, normalmente, nada 
significa, somos capazes de entender, extrair certos significados que caracterizam a nossa língua. Por 
exemplo, numa frase como: “As vacas dão leite aos fazendeiros” cada palavra tem o seu morfema que 
é capaz de distinguir e definir sobre o que ou de quem estamos falando: “As vacas” (feminino + plural), 
“dão” (presente do indicativo + plural) ou “aos fazendeiros” (masculino + plural). 
Nesse sentido, podemos afirmar que é característica da Língua Portuguesa que as palavras con-
cordem entre si através de marcas, traços lingüísticos presentes nas palavras. No caso da frase em ques-
tão, esses traços são representados pelos morfemas indicadores de plural, que permitem que esta seja 
possível e esteja de acordo com a norma gramatical. Por outro lado, sabe-se que construções como as 
dos exemplos a seguir não são aceitáveis em português padrão:
a) “As vaca dá leite ao fazendeiros”; ou
b) “A vacas dá leite aos fazendeiro”.
Por quê? 
Porque em Língua Portuguesa todas as marcas de plural possíveis devem aparecer nas palavras 
que constituem a frase (se for mais de uma vaca que dá o leite e mais de um fazendeiro). Portanto, tais 
marcas são representadas pelos morfemas, dos quais estudaremos os principais tipos.
Conceito de morfema
Para construirmos o conceito básico sobre morfema, observe o grupo de palavras:
 Escola
Pré-escola 
20 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
 Escolinha
 Escolar
 Escolarização
Quais são as conclusões a que podemos chegar desse grupo de palavras?
A primeira conclusão a que se pode chegar é a presença do elemento escol-, comum a todas as 
palavras. Ao elemento comum a um grupo de palavras damos o nome de radical. Ele é o elemento bási-
co para a constituição de uma palavra. 
Fazer-se uma lista de palavras com semelhanças estruturais é uma boa maneira para descobrir-se 
o radical das palavras que deve ser o primeiro elemento (morfema) a ser identificado na palavra. Esse 
procedimento é eficaz em mais de 80% dos casos de identificação do radical. Vejam-se outros exemplos 
de listas de palavras com semelhanças estruturais e em seguida observem-se a estrutura que se repete 
em todas elas:
Exemplo 1: meninada, menininho, meninas, meninão
 
Exemplo 2: corredor, corredeira, corrimão, correr, percorrer 
No exemplo 1, a forma que se repete é menin- e, no exemplo 2 a forma é corr-. Já sabemos que 
as partes das palavras são chamadas de morfemas, logo, menin- e corr- são morfemas. Nesse caso, cor-
respondem a um tipo específico chamado de radical. mais à frente, falaremos um pouco mais sobre os 
radicais propriamente ditos. Agora, a intenção é deixar claro o que seria de fato um morfema.
Ainda observando o grupo de palavras constituídas pelo morfema escol-, percebe-se que em to-
das elas há elementos destacáveis, responsáveis pelo acréscimo de algum detalhe de significação. 
Seguindo esse caminho de investigação, observa-se que entre as palavras há a existência de di-
versos elementos formadores.
 Escol-a
Pré-escol-a 
 Escol-inh-a
 Escol-ar
 Escol-ar-iza-ção
Cada um desses elementos formadores é capaz de fornecer alguma noção significativa ao vocá-
bulo que integra. Além disso, nenhum deles pode sofrer nova divisão. Estamos diante de unidades de 
significação mínimas, ou seja, elementos significativos, os quais recebem o nome de morfema. 
Como forma lingüística mínima, o morfema tem um significante (estrutura fônica) e um significa-
do (noção gramatical por ele acrescentada ao lexema, que é a unidade de base do léxico, podendo ser 
morfema, palavra ou locução).
Por meio da análise do grupo de palavras anteriormente citadas, podemos definir “escola” como 
palavra constituída dos morfemas -escol + -a.
21|Morfema
Então, podemos confirmar que o morfema é a menor unidade de funcionamento da palavra. Ele 
pode ser um vocábulo inteiro ou parte dele. 
Os morfemas são realizados na fala por unidades distintas, conhecidas como morfes. O significa-
do de um morfema é, na maioria das vezes, definido pelo contexto lingüístico em que está inserido.
Chama-se análise mórfica o processo pelo qual se divide a palavra em seus elementos mórficos 
(unidades mínimas significativas). 
O estudo dos morfemas não pára por aí, temos muito mais a investigar sobre essa parte da gra-
mática de nossa língua. Nos próximos parágrafos trataremos mais sobre eles. 
Dessa forma, seguiremos o nosso estudo sobre morfologia, apresentando o que é o fenômeno da 
alomorfia; quais são os elementos que fazem parte das relações fechadas e abertas; o desenvolvimento 
da análise mórfica das palavras e dos verbos; os diversos tipos de morfemas da Língua Portuguesa e 
estabelecendo uma discussão sobre as palavras indivisíveis da nossa língua. 
Alomorfia
É possível que você já tenha se deparado com a informação de que os morfemas possuem uma 
só configuração fonêmica, mas essa afirmação nem sempre é verdadeira, pois os morfemas freqüente-
mente apresentam mais de uma configuração fonêmica. 
Segundo Benjamin Élson & Velma Pickett (1973, p. 41) os morfemas de plural em português têm 
mais de uma configuração fonêmica: “-s” em escolas, cadernos etc., “-es” em mares, escolaresetc., e ain-
da outras configurações.
 Já para Ana Paula Araújo Silva (2005, p. 12) a alomorfia é a variação de um morfema sem mudan-
ça no seu significado. A autora cita como exemplo de alomorfia as palavras “infeliz” e “imutável”, para 
relatar que tanto o prefixo “in” quanto “i” indicam negação. Ela ainda cita o caso do vocábulo “chapéu”, 
que grafamos como “chapel-” nos vocábulos (chapelaria e chapeleiro) como exemplos de alomorfia.
Conforme manuel Pinto Ribeiro (2003, p. 126) os morfemas freqüentemente sofrem mudança em 
seu significante (elemento mórfico), sem interferir em seu significado. Sendo assim, o fenômeno da 
alomorfia é uma variação fônica de um morfema do vocábulo.
Entendeu? É normal que apareçam dúvidas, pois esse tema suscita algumas dificuldades, afinal 
estamos tratando de um fenômeno lingüístico com características bastante peculiares no que se refere 
ao significado. Quando Silva (2005, p. 12) diz que a alomorfia é a variação de um morfema sem mudança 
no seu significado, o significado a que ela se refere não é o significado da palavra propriamente dito, 
mas o significado morfológico. Vejamos as seguintes palavras:
Ex: meninas, garotas, panelas, balas, bananas.
Em Português, o que significa o “-s” final de tais palavras ?
Provavelmente sua resposta foi a de que todas elas estão no plural.
Exato
O “-s” final de tais palavras são, em termos morfológicos, muito mais que a letra s, são os morfemas 
que indicam, plural. 
22 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Ora é desse significado que a autora está falando. Assim, na construção do plural da palavra mar, o 
morfema “-s” final não é suficiente para caracterizar o plural, pois o plural de mar é mares. Temos então:
mar- 
-es.
mar é o morfema radical.
E o -es, que papel desempenha na palavra ?
Você deve ter dito: “o morfema -es significa que a palavra mar está no plural.
Perfeito
Bem, vejamos:
Se a função continua, o significado morfológico também. O que mudou?
A forma do morfema -s para a alternativa do morfema -es. Essa alternativa de mudança de forma 
e não de significado é o que chamamos de alomorfia.
Seguindo o mesmo raciocínio, Ribeiro (2003, p. 126) ainda defende que não existe alomorfe grá-
fico, isto é, na forma “fique” a mudança é apenas ortográfica em relação ao verbo “ficar”. Portanto, o ra-
dical não se alterou em “fique”. Em ambas as palavras, o radical é o mesmo: / fik /, sendo duas formas de 
escrever o fonema /k/: com “-c” ou com o dígrafo “-qu”. Não podemos esquecer que aqui o autor fala de 
letra e não de morfema. O que muda é a letra, logo é uma questão ortográfica. O “q” ou o “k” não dizem 
nada, não significam (significado morfológico), são apenas letras. Por outro lado, alomorfia é ocorrência 
de variação no morfema.
Enfim, descobrindo um pouco mais sobre morfologia não poderíamos deixar de falar sobre as 
relações fechadas e abertas. 
Relações abertas X relações fechadas
O que são relações abertas e fechadas? 
Segundo Ribeiro (2003, p. 126), o número de termos do léxico de uma língua é ilimitado, pois 
devido ao dinamismo na comunicação criamos, a todo o momento, novos vocábulos. Diante dessa afir-
mação, podemos concluir que o léxico da língua deve ser classificado como uma relação aberta. 
Em contra partida, quando falamos de elementos gramaticais da língua, estamos diante de um 
número de termos limitados, isto é, finitos já que todos os elementos gramaticais são pré-determinados 
pela norma gramatical brasileira. Devido à impossibilidade da criação de novos elementos gramaticais, 
os mesmos devem ser classificados como relação fechada. Em paralelo o léxico da língua, devido à pos-
sibilidade de inserção de novos termos deve ser classificado como relação aberta. 
Vejamos agora um pouco mais sobre a análise mórfica.
Análise mórfica 
Segundo Ernani Terra (1996, p. 50) são cinco os elementos mórficos que podem ocorrer nas 
palavras, a saber:
23|Morfema
Radical (ou semantema)
É o elemento mórfico base do significado da palavra. Exemplos:
corredor, corredeira, corrimão, correr, percorrer
Desinências
São os elementos mórficos que se opõem ao radical para assinalar flexões gramaticais. As desi-
nências podem ser:
Nominais: indicam o gênero e o número dos nomes. Exemplo: meninas.
Verbal: indicam nos verbos o tempo e o modo (desinência modo-temporal), a pessoa e o número 
(desinência número-pessoal). Exemplo: cantávamos.
Afixos
São os elementos mórficos que se agregam ao radical a fim de formar palavras novas. Classi-
ficam-se em:
Prefixos: elemento mórfico posicionado antes do radical. Exemplos:
infeliz e desleal.
Sufixos: elemento mórfico posicionado depois do radical. Exemplos:
felizmente e lealdade
Vogal temática
Elemento mórfico que se agrega posteriormente ao radical, preparando-o para receber as 
desinências. Exemplos: 
cama, copo, encontrar.
Observação: Nos verbos a vogal temática indica a conjugação. Exemplos:
cantar - 1.ª conjugação (vogal temática em a).
Vender - 2.ª conjugação (vogal temática em e).
Partir - 3.ª conjugação (vogal temática em i).
Tema
O tema é a junção do radical acrescido da vogal temática. Exemplo: 
casarão. 
24 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Além dos elementos mórficos destacados, em certas palavras podem aparecer as vogais e conso-
antes de ligação. Tais vogais e consoantes são desprovidas de significação (não são, pois, morfemas) e 
intercalam-se no vocábulo somente para facilitar a pronúncia.
Exemplo: gas-ô-metro
 pau-l-ada
 cafe-t-eira
A análise mórfica, então, é o processo pelo qual se divide a palavra em elementos mórficos, ou 
seja, em unidades mínimas significativas.
Tomemos como exemplo a análise mórfica do sintagma nominal proposta por Ernani Terra 
(1996):
 cachorr inh a s
 1 2 3 4
Nessa palavra você pode observar, com facilidade, a existência de quatro elementos mórficos. 
São eles:
1. cachorr – radical,
2. inh – morfema indicativo de palavra no diminutivo;
3. a – morfema indicativo de palavra feminina (desinência de gênero); e
4. s – morfema indicativo de palavra no plural (desinência de plural).
Agora observe a análise morfológica do vocábulo em itálico:
Desatualizávamos diariamente nossa agenda. 
“Desatualizávamos” é constituído dos seguintes elementos:
Des atual iz á va mos
1 2 3 4 5 6
Prefixo Radical Sufixo
Vogal 
temática
Desinência modo e 
temporal
Desinência 
número e 
temporal
Tema: atualiza
25|Morfema
Tipos de morfema
Segundo maria Cecília Perez & Ingedore Koch (1991), os morfemas gramaticais em português 
podem ser enquadrados em quatro tipos: classificatório, flexionais, derivacionais e relacionais. 
Nos morfemas classificatórios, as autoras destacam as vogais temáticas, cuja função é a de enqua-
drar os vocábulos nas classes dos nomes (substantivos e adjetivos) e de verbos. 
Já os morfemas flexionais têm como característica alterar os morfemas lexicais, adaptando-os à 
expressão das categorias gramaticais que a sua classe admite: nos nomes, gênero e número; nos verbos, 
modo e tempo, número e pessoa.
São cinco os morfemas flexionais em Português: 
Aditivo
São todos os morfemas que se acrescentam ao radical (ao morfema lexical): 
prefixos - elementos mórficos colocados anteriormente ao radical; ::::
sufixos - elementos mórficos colocados posteriormente ao radical;::::
desinências nominais - elementos mórficos presente nos nomes;::::
desinências verbais - elementos mórficos colocados nos verbos para determinar tempo, modo ::::
e pessoa e
vogal temática - elementos mórficos posicionados posteriormente ao radical.::::
Observe o vocábulo:“-recomeçar”
Nele podemos evidenciar os morfemas aditivos: 
re + começ + a + r 
(re= prefixo; a= vogal temática; r= desinência de infinitivo) 
Subtrativos
Resultam da supressão de um segmento fônico do morfema lexical. 
Nos vocábulos: 
“irmão – irmã” 
Podemos evidenciar que a noção de feminino nas palavras, em vez de aparecer indicada através 
da adição de um morfema específico do seu gênero, é construída por meio da omissão (subtração) da 
desinência masculina.
26 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Alternativos
Resultam da permuta de um segmento fônico do morfema lexical. Entre os nomes a vogal tônica 
/-ô/ do masculino singular pode alternar com /-ó/ no feminino e no plural, podemos citar como exem-
plo desse fenômeno o par de vocábulos: povo – povos. 
Observação: No par de vocábulos “avó – avô” e seus derivados, a marca sufixal de feminino está 
ausente e a distinção de gênero é indicada unicamente pela alternância /-ó/ x /-ô/, constituindo o ver-
dadeiro morfema alternativo.
Zero
Na Língua Portuguesa, em muitos casos, a função semântica é cumprida pela ausência do morfe-
ma. A formação do número é bem característica desse caso. 
O plural costuma ser indicado pelo morfema “-s” no final da palavra. Já o singular, é reconhecido 
pela ausência do morfema de plural, ou seja, a formação do número nos vocábulos da Língua Portugue-
sa, em muitos casos, é marcada pela ausência de elemento mórfico. Quando a ausência do morfema é 
tratada pelo sistema da língua como significativa, dizemos que a função é cumprida pelo morfema zero. 
Tomemos como exemplo o vocábulo casa + s X casa + 0 (zero) . O plural é marcado pela presença 
do morfema “-s”, em contrapartida, o singular é marcado pela ausência de morfema. A maioria dos gra-
máticos considera que a ausência de morfema deve ser classificada como morfema zero.
Singular Plural
0 (zero) -s
Redundância
A noção gramatical é representada por mais de uma forma nos vocábulos da Língua Portuguesa. 
Exemplo: a casa é bonita. Em três dos vocábulos da frase em estudo, evidenciamos morfemas que mar-
cam o feminino das palavras, são eles: /a /e /bonita/. O morfema básico é o artigo. Os outros marcadores 
de feminino, a rigor, são considerados redundância, apesar de serem indispensáveis para a concordân-
cia dos termos na oração.
Resta ainda falar de dois outros tipos de morfemas: os derivacionais e os relacionais. Os primeiros 
têm como finalidade criar novos vocábulos na língua e têm como ponto de partida o morfema lexical. 
Tais morfemas ao contrário dos flexionais, não obedecem a uma sistematização obrigatória, porque os 
morfemas derivacionais não constituem um quadro regular, coerente e preciso. Podemos citar como 
exemplo de morfemas derivacionais os caracterizadores de grau: diminutivo e aumentativo dos nomes, 
dentre outros elementos da nossa língua. 
27|Morfema
Chegamos finalmente aos morfemas relacionais, estes ordenam os elementos da frase, possibili-
tando o encadeamento dos morfemas lexicais entre si. Podemos exemplificar os morfemas relacionais 
nas classes das preposições, das conjunções e dos pronomes relativos.
A seguir, observe mais uma curiosidade da Língua Portuguesa.
Palavras indivisíveis
Segundo Evanildo Bechara (1999, p. 336) existem palavras na língua portuguesa que não com-
portam divisão em unidades menores, ou seja, a palavra só possui como elemento mórfico o radical. 
Exemplos: Sol, mar, hoje, Lua, é, ar, lápis e luz.
É importante diferenciarmos sílabas de palavras indivisíveis. Sílaba é uma forma de segmentação 
das palavras da língua, porém as sílabas das palavras não apresentam a noção de elementos significati-
vos como nas palavras indivisíveis.
Quando falamos de palavras indivisíveis lembramos do léxico que possuem raízes (radicais) co-
muns. Tomemos como exemplo as palavras:
Palavras Radical Sufixo
Lápis lápis --
Lapiseira lápis eira
Palavras Prefixo Radical Sufixo
Lua -- lua --
Enluarada en (em) lua rada
Luar -- lua r
Palavras Radical vogal de ligação Sufixo
mar mar -- --
mareado mar e ado
Diante da impossibilidade de subdividir o radical das palavras, estas devem ser classificadas em 
indivisíveis. Como pudemos observar no quadro.
28 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Texto complementar
O texto tem o objetivo precípuo de confirmar nossa prerrogativa de que cada pedaço de palavra 
(morfema) tem sua importância na estrutura da mesma e pode ser objeto de estudo e pesquisa.
Vogal temática nominal
(MEDEIRoS, 2005 p. 232)
A vogal temática é um elemento morfológico sobre o qual não restam dúvidas quando se 
analisa a estrutura de um verbo, já que é praticamente unânime entre os estudiosos da língua que 
os lexemas que constituem essa classe são dotados desse elemento: eles ocorrem após os radicais 
dos verbos, constituindo com esses o tema. Assim, a estrutura do verbo “amar”, por exemplo, seria: 
radical: am-; vogal temática: -a; desinência de infinitivo: -r.
Porém, o mesmo não acontece com a análise de substantivos e de adjetivos (nesse trabalho, 
englobados sob a designação “nomes”), uma vez que não são todos os autores que reconhecem 
que esse elemento entra na estrutura dessas palavras. Pode-se citar o próprio Said Ali, que em sua 
Gramática Elementar da Língua Portuguesa, de 1965, ao tratar da classificação de substantivos (p. 21-
36) e dos adjetivos (p. 38-41), não cita a vogal temática. Acompanhando o pensamento de Said Ali 
estão Gladstone Chaves de melo (1988, p. 85) e Cunha & Cintra (1985).
No entanto, a partir de mattoso Câmara Jr. (1970, §40), iniciou-se a discussão de que nomes 
também seriam dotados em sua estrutura de vogais temáticas. A proposta de mattoso é bastante 
diferente da tradicional, como salienta Cintra (2004), e um tanto complexa. Alguns autores, como 
Laroca (1994, p. 58-59), recusam terminantemente essa proposta, enquanto outros a aceitam ou 
parcialmente (como Walter Kedhi [1990, p. 34-36], Cláudio Cezar Henriques [1988, p. 85-94] e José 
Carlos de Azeredo [2000, § 138]) ou totalmente (como Evanildo Bechara [1999, p. 337-338]).
Por isso, faz-se necessário o perfeito entendimento do que se entende sob o rótulo de vogal 
temática.
A função classificatória da vogal temática
A vogal temática tem uma função fundamental: classificar as palavras de uma dada classe. É 
por ter essa função classificatória que se entende que a vogal temática é uma unidade do plano do 
conteúdo, e não do plano da expressão; ora, a existência dessa vogal após o radical não é apenas 
uma questão de sonoridade, mas de um valor que se lhe confere . Esse valor, como aponta Bechara 
(1999, p. 337) é “de significação interna ou puramente gramatical”, em oposição ao valor conferido 
ao radical das palavras, o qual “é o núcleo onde repousa a significação externa da palavra, isto é, 
29|Morfema
relacionada com o mundo em que vivemos” (id. ibid., cf. nota 1).
Seguindo essa significação puramente gramatical, os verbos podem ser classificados em: de 
primeira, de segunda ou de terceira conjugação, quando se segue ao radical verbal as vogais -a 
(amar), -e (meter) e -i (cair) nas sílabas tônicas do infinitivo, respectivamente.
Analogamente, mattoso (id. ibid.) considera que os nomes também podem ser classificados 
por elementos vocálicos que vêm depois do radical nominal, apenas salientando que essas vogais 
ocorrem em sílabas átonas. Por essa proposta, os nomes podem ser classificados por temas em -a 
(casa), em -e (parede) ou em -o (teto); opondo-se à ocorrência de radicais seguidos de vogais temá-
ticas nominais em sílabas átonas, mattoso classifica os nomes que terminam por vogais em sílabas 
tônicas (cajá, café, pavê, caqui, cipó, avô, tatu) como atemáticos. Assim, estipulam-se duas grandes 
classes para os nomes: atemáticos e temáticos; essa última classe apresenta a subclassificação de 
temas em -a, -eou -o, como visto acima.
Vogal temática como atualizador léxico
Uma função que a vogal temática apresenta, e que já fora reconhecida por Herculano de Carva-
lho em 1973 (apud CINTRA, 2004, § 8 do tópico 1.1.), e retomado por Bechara (1999, p. 337):
Aluno pode desmembrar-se em alun -e -o. O primeiro elemento (radical) encerra a significação da palavra, cabendo ao 
elemento final (sic) –o primeiramente atualizá-la para funcionar como palavra, integrando-a no léxico [...] muitas vezes o 
radical não pode funcionar imediatamente como palavra; completa-o uma vogal para constituir o tema da palavra e por 
isso se chama vogal temática ou atualizador léxico, isto é, atualiza-o para funcionar concretamente no discurso.
Esse funcionamento concreto no discurso deve-se ao fato de que os radicais de nomes que necessi-
tam da vogal temática, não estão aptos a receberem as desinências flexionais que espelham as relações 
morfossintáticas (gramaticais) próprias de lexemas nominais: assim, o radical menin- não pode receber 
diretamente os morfes que caracterizam a flexão nominal: os de gênero (Æ para o masculino e -a de 
feminino) e os de número (Æ de singular ou o -s de plural). Para que aquele radical possa ocorrer no dis-
curso, estando apto a funcionar com esses morfes, é necessário que a ele se some a vogal temática.
É interessante notar essa função quando um mesmo radical é utilizado em palavras de mais de 
uma classe, como é o caso de arquiv-, plan-, sentenç- e banquet-, por exemplo, que não são especi-
ficados quando à classificação, não estando aptos, assim, a receberem diretamente as desinências 
flexionais; apenas quando a esses radicais somam-se as vogais temáticas é que se pode fazer o 
exercício de classificação.
Assim, se ao radical arquiv- adjunge-se a vogal temática -o, há como resultado o substantivo 
arquivo, que, por sua vez, está apto a funcionar no discurso, podendo receber as desinências de gê-
nero e de número. mas se após a esse mesmo radical aparece a vogal temática -a, obtém-se então o 
tema verbal arquiv-, que no discurso pode passar a receber as marcas flexionais desse verbo (como 
por exemplo o -r de infinitivo, o -ndo de gerúndio, o -do de particípio e todas as demais desinências 
modo-temporais e número-pessoais).
30 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Essa análise estende-se a todos os demais radicais utilizados como exemplos, alterando-se ape-
nas os morfemas que se somam ao radical. Em plan- pode-se somar a vogal -o, resultando no subs-
tantivo plano; mas pode-se também somar o sufixo derivacional -ejar, no qual consta a vogal temática 
-a; ao radical sentenç- podem-se somar ou a vogal temática -a, obtendo-se então o substantivo, ou o 
sufixo derivacional -iar, no qual se observa a vogal temática -a, resultando então no verbo sentenciar; 
por fim, o radical banquet- pode resultar no substantivo banquete, se se soma a vogal temática -e, ou 
no verbo banquetear, se se soma o sufixo derivacional -ear, em que há a vogal temática -a.
A partir de todas essas análises, comprova-se que realmente a vogal temática tem uma função 
de atualizador lexical. É importante salientar que essas análises levam em conta a hipótese lexica-
lista fraca de Chomsky (1970), que prevê uma morfologia baseada em morfemas cujas bases não 
recebem categorização gramatical.
Para essa função, a existência de nomes atemáticos não é nenhum empecilho, já que aos ra-
dicais de nomes atemáticos podem-se adjungir diretamente os morfes das flexões nominais: tatus, 
cipós, cajás etc.
Portanto, percebe-se que a função de selecionar os alomorfes verbais que entram no jogo 
morfológico não é de domínio exclusivo da vogal temática, mas também da desinência número-
pessoal; isso porque entram condicionamentos fonológicos no comportamento desses alomorfes. 
Por tudo isso, essa função deve ser descartada da análise morfológica.
Análise lingüística
1. Substitua os elementos destacados por um único vocábulo formado por prefixo e escreva 
novas frases. 
a) O juiz leu novamente os documentos do processo.
b) É necessário fazer outra vez todos os cálculos.
c) Depois de vários anos vou ver novamente meus pais.
d) A policia do Rio de Janeiro deixa a todos os moradores da cidade sem proteção.
31|Morfema
2. Classifique todos os elementos mórficos dos vocábulos destacados no poema Congresso do medo 
de Carlos Drummond de Andrade.
Congresso internacional do medo
Provisoriamente não cantaremos o amor.
Que se refugia mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os braços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
túmulos flores amarelas e medrosas e sobre nossos nascerão
3. Tendo como base os tipos de morfemas, marque a alternativa correta:
a) Casa – morfema subtrativo.
b) meninos – morfema aditivo.
c) Avô X avó – morfema alternativo.
d) Casas – morfema zero.
32 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Estrutura das palavras I
Será possível um piloto de avião controlar o painel de instrumentos sem saber o que significam 
aqueles símbolos que nos parecem tão complicados? Com as palavras não é diferente. Se não conhe-
cermos e estudarmos sua estrutura não se pode ir à frente no processo de comprenssão das palavras. 
Concordam?
Assim, temos que ficar atentos para o fato de que a palavra é estruturada por “pedaços”, que a 
constituem. Para ilustrar, leia o fato a seguir:
Uma empresa que vendia produtos para emagrecer lançou uma campanha publicitária interessante 
e que vai nos servir de ponto de partida para o estudo das estruturas das palavras. O produto era oferecido 
em anúncios de televisão e revista com o objetivo de fazer com que as pessoas desistissem das interven-
ções cirúrgicas causadas pela lipoaspiração. Obviamente, na opinião da empresa era muito melhor tomar 
o produto do que fazer tal cirurgia para se alcançar o desejo de se 
emagrecer. 
A imagem que aparecia era de uma taça semelhante à de 
sorvete, o que lhe dava uma aparência apetitosa. Ela estava cheia 
do produto, com dois canudos dentro e com a seguinte mensa-
gem em letras garrafais, ao lado da taça:
Criativo, não é mesmo?
O produto deveria ser aspirado através daqueles canudos 
que estavam dentro da taça.
De fato, graças à referência que as partes “lipo” e “aspiração” 
fazem à palavra lipoaspiração, somos capazes de entender o bem-
humorado propósito da campanha que é dizer que melhor que 
fazer uma cirurgia é beber o produto.
Esse breve exemplo serve para demonstrar como as pala-
vras se constituem por partes e que conforme a combinação que 
se faça com essas partes pode-se ter resultados variados.
34 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Estrutura das palavras
As palavras podem ser, na maioria das vezes, decompostas em elementos mórficos, unidades 
significativas menores, divisíveis ou indivisíveis, denominados morfemas: 
Exemplo: gatos- gat-o-s(divisível) / sol (indivisível). 
 A palavra morfema vem do grego: morfhé = forma + a terminação ema = morfema. 
Segundo os autores Infante e Nicola (1997, p. 70) há uma forma semântica que se refere ao mun-
do exterior: seres, ações, idéias, sensações, estados, qualidades e que indicam a significação da palavra 
(ao conjunto de palavras de uma língua chama-se léxico).
A forma que tem significação apenas em relação ao sistema gramatical da língua, indica, no caso 
da Língua Portuguesa, o gênero, o número, a pessoa, o modo, o tempo.
Observe a palavra a seguir:
 moço- masculinomoça- feminino
 moços- plural
 moças as- plural
Assim, os morfemas são os “pedaços” que representam as estruturas das palavras. Os elementos es-
truturais das palavras são: radical, vogal temática, vogal e consoante de ligação, afixos e desinências.
Radical1
É também denominado base ou semantema. Elemento primário, irredutível e significativo da pa-
lavra, em torno do qual se agrupam os outros elementos de formação, geralmente monossilábica, pro-
pensa a sofrer modificações através de morfemas gramaticais, tais como desinências, afixos (prefixo ou 
sufixo) ou vogal temática. Tomemos como exemplo pátria: pat (raiz); patri (-i vogal temática acrescida ao 
radical pronto para receber um sufixo ou desinências) = patriota, compatriota; patriotismo; patriotada. 
Além disso, o radical pode apresentar alterações fonéticas: cap (capilar) alterou-se em cab (cabeça) e em 
cip (occipital). Para entender melhor o radical, vejamos um dos caminhos que auxiliam na identificação 
do radical, através do conhecimento do conceito de palavras cognatas. 
1 Radical ou raiz? Por vezes estes dois termos são utilizados indistintamente como se fossem sinônimos. De forma genérica, alguns autores o 
fazem sem entrar no mérito das diferenças que de fato existem. Normalmente opta-se pelo termo radical por ser mais utilizado nas gramáticas 
escolares e de ter maior aceitação no meio estudantil. Todavia, não podemos deixar de ter claro em nosso conhecimento sobre os estudos 
morfológicos que o termo raiz tem uma relação muito mais próxima ao estudo histórico das palavras: a Etimologia. Observe o que Pasqual e 
& Ulisses dizem a respeito (1997, p. 70): “Optamos pelo uso do termo radical para designar o morfema que concentra a significação principal 
da palavra e que pode ser depreendido por meio de simples comparações entre palavras de uma mesma família. Intencionalmente, não 
empregamos o termo raiz, que está ligado à origem histórica das palavras. Para identificar a raiz de uma família de vocábulos é necessário um 
conhecimento especifico de Etimologia”
35|Estrutura das palavras I
Palavras cognatas
Quando o radical de um grupo de palavras mantém uma origem etimológica de significação co-
mum denominamos de palavras cognatas, independente dos acréscimos de afixos: 
Exemplo: ferr-
 ferrar
 ferreiro
 ferraria
 ferrugem-
Exemplo: medo
 amedrontado
 medrosos
 medinho 
Todavia, vale uma observação interessante, algumas cognatas podem apresentar dois radicais, 
um de forma erudita, outro de forma popular.
Exemplo: digital e dedal; 
 parietal e parede; 
 capilar e cabelo; 
 auricular e orelha; 
 acutíssimo e agudíssimo; 
 paupérrimo e pobríssimo; 
 sacratíssimo e sagradíssimo etc.2
Portanto, essas palavras que são da mesma família e que têm um mesmo radical são chamadas de 
cognatas. 
Por outro lado, existem também aquelas palavras que parecem cognatas, mas não são. Por exem-
plo: “feracidade” parece ter relação com “feroz”, “bravo”, “temível”. Na verdade, “feracidade” significa ex-
trema fertilidade e “feraz” é prolífico, fértil. Ferocidade é que se refere a feroz etc. O substantivo feracida-
de aparece numa das obras-primas de manuel Bandeira, O Cacto (Libertinagem, 1930)3:
“Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária!
Laocoonte constrangido pelas serpentes.
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco nordeste, carnaubais, catingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.”
2 Um estudo interessante sobre esta obra pode ser visto em PASSONI, Célia A.N. Vida Noves Fora Zero. Disponível em: www.
portrasdasletras.com.br, Acesso em: 05 jul. 2007)
3 BECHARA, Evanildo. Gramática Escolar da Língua Portuguesa, 2003.
36 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
No poema, “feracidades excepcionais” significa fertilidades excepcionais.
Por isso, devemos ter alguma cautela antes de analisarmos certos radicais, pois estes podem vir 
de palavras pseudo-cognatas, também chamadas de falsas cognatas.
Desinências
Dividida em nominal e verbal, é o elemento final de uma palavra que indica flexão. É importante 
não confundir desinência com sufixo, embora o próprio sufixo possa conter em si a desinência, assim 
como em histórico= -ico (sufixo nominal) -o (desinência do masculino).
Trataremos mais pontualmente das desinências que se combinam ao radical para formarem no-
mes: as desinências nominais.
Desinências nominais
As desinências nominais4, servem para indicar o gênero (masculino e feminino), o grau (diminutivo 
e aumentativo) e o número (singular5 e plural) dos substantivos, adjetivos e de certos pronomes.
Exemplo: Garotas
 Garot-: radical
 -a: desinência nominal de gênero 
 -s: desinência nominal de número 
 Garotinho
 Garot: radical
 -inho: desinência nominal de grau diminutivo (dentro do sufixo -inho vemos a presença 
da desinência nominal de gênero masculino). 
Observe os exemplos de desinências nominais a partir do trecho a seguir, de manuel Bandeira , 
Poema de Finandos (Libertinagem, 1930):
4 As desinências nominais também são conhecidas como DNN (desinência nominal de número) e DNG (desinência nominal de gênero).
5 De acordo com Cunha (p. 79) o singular de desinência ou morfema é zero, caracteriza-se pela falta de um sinal particularizante.
“Amanhã é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.
Leva três rosas bem bonitas.
Considerando apenas os morfemas destacados, podemos afirmar que em “mortos” temos uma 
desinência nominal de gênero, indicando masculino; em “sepulturas” uma desinência nominal de nú-
mero, indicando plural e uma desinência nominal de gênero indicando feminino.
37|Estrutura das palavras I
Vejamos agora outra estrutura nominal.
Vogal temática
A vogal, além de funcionar como elo entre o radical e os afixos, tem a missão classificatória de 
distinguir categorias nominais ou verbais. Aqui, trataremos de seu papel na estruturação dos nomes. 
Nos nomes, as vogais temáticas são representadas pelos morfemas -a, -e e -o:
Exemplo: bala
 sempre
 livro 
Vale observar que, conforme verificamos no item sobre as desinências, nas categorias nominais, 
os morfemas -a e -o acumulam a função de gênero (masc./fem.); também a vogal temática -o e -e pode 
representar uma semivogal de um ditongo: cão – cães. 
muitas vezes, ao receber afixos, a vogal temática sofre uma supressão:
Exemplo: mala – mal(a)inha
 ovo – ov(o)inho
A junção/combinação do radical com a vogal temática forma o que chamamos de tema. Todavia, 
os nomes terminados em vogal tônica ou por consoante perdem sua vogal temática no singular: 
Exemplo: mar
 paz
 mal
Por isso, são chamados de atemáticos. Nos nomes terminados em consoante, a vogal temática 
reaparece quando pluralizados: 
Exemplo: flor – flor -e -s 
 giz – giz -e -s
 mal – mal -e -s
 livro – livr-eir-o (nesse caso a reaparição da vogal temática ocorre numa derivação).
Observe o quadro resumido das vocais temáticas nominais:
Nominais
Radical VT Os nomes oxítonos terminados 
em vogal são atemáticos: café, 
cipó, cajá. Em “doutor” e “xadrez”, 
a vogal temática só aparece no 
plural: doutor -e -s, xadrez -e -s 6
mal a
Livr o
Pent e
6 Ribeiro, m. P. Nova Gramática da Língua Portuguesa. 2003, 128.
38 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
Afixos
São elementos significativos ou de reforço que se agregam à raiz ou radical. Os afixos, quando ante-
postos à raiz, são chamados de prefixos (sobreviver/ refazer), pospostos à raiz, sufixos (maldoso/cajueiro).
Os sufixos unem-se à parte final do radical formando uma nova palavra,transformando subs-
tancialmente o radical, sem, no entanto, alterar-lhe o sentido. Além de não ter curso independente na 
língua (forma presa), empresta-lhe uma idéia acessória marcando a categoria dos substantivos, adjeti-
vos, verbos, advérbios a que pertencem. Por exemplo: lembrar (verbo) / lembrança (substantivo); livre 
(adjetivo) / livremente (advérbio).
Uma nova significação, os prefixos emprestam ao radical se relacionam semanticamente com as 
preposições, geralmente se agregam aos verbos (reter, deter, conter) ou a adjetivos (infeliz, desleal, sub-
terrâneo) e são menos freqüentes nos substantivos.
Alguns autores falam da existência de um interfixo, que seriam elementos mórficos átonos, sem 
função gramatical ou significativa, servindo somente como elementos de ligação entre a base e sufixo. 
No entanto, Bechara (1994) diz que há autores que preferem não usar o termo interfixo, considerando 
apenas como um alongamento sufixal. Veja os exemplos:
glor-ific-ar 
fum-ar-ada
fog-ar-éu.
Por fim, vejamos os elementos que realmente funcionam apenas como estrutura de ligação.
Consoantes de ligação
De acordo com Bechara (1999), as vogais e as consoantes de ligação não têm função semântica 
nem gramatical, contribuem apenas na formação de novas palavras, intercalando-se entre a base e o sufi-
xo para facilitar a pronúncia ou evitar hiatos, principalmente quando o radical termina por vogal tônica:
Exemplo: chá-l-eira
 pau-l-ada
 café-t-eira
 chapéu-z-inho
 pedre-g-ulho
 gás-ô-metro
39|Estrutura das palavras I
Vogais de ligação
Em Português, temos duas vogais de ligação. São elas o -i e o -o.
Para a vogal -i, podemos apresentar os seguintes exemplos:
 lanígero
 dentifrício
 carnívoro
 parisiense 
Para a vogal -o, podemos apresentar os seguintes exemplos:
 gasômetro 
 bibliófilo
A título de revisão do conteúdo aqui trabalhado, e objetivando demonstrar de forma mais esque-
mática, apresentamos a seguir um quadro geral com os morfemas: radical, desinência e afixo:
Morfemas Exemplos
Radical 
(É responsável pelo sentido básico da palavra) 
- Consciência, ciência, onisciência são palavras 
cognatas, que possuem o radical “ciência” 
(sabedoria, conhecimento). 
- Geologia, geografia, apogeu são palavras 
cognatas, possuem o radical “geo” (terra) 
Desinências 
(São responsáveis pelas flexões das palavras) 
- “- s”, em nomes, é o morfema que indica plural: 
carros, casas, tabus. 
- “ - m”, em verbos, é marca de 3.ª pessoa do 
plural: mentem, falam, vendem. 
- “- sse - “, em verbos, é desinência de 
pretérito imperfeito do subjuntivo: cantasse, 
vendesse, partisse. 
Afixos 
(São responsáveis pela 
criação de palavras.) 
Prefixos 
(afixos que vêm 
antes do radical.) 
Sufixos 
(afixos que vêm após 
o radical.) 
- “in – ” indica negação, ausência: infeliz, imoral. 
- “semi-“ indica metade: semideusa, semicírculo. 
- “ão-” indica grau aumentativo: carrão, gatão. 
- “dade-” forma substantivos a partir de 
adjetivos: felicidade, beldade. 
Após essa abordagem sobre o que é um morfema e sua importância na construção dos signifi-
cados morfológicos das palavras, vejam o estudo de maria Alice Aguiar (2000) como pode, ainda, um 
“pedaço” de palavra dizer ainda mais do que já diz, enquanto morfema da Língua Portuguesa.
40 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
A estilística dos afixos em A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz 
(AGUIAR, 2000)
Pensando com Riffaterre, definimos o contexto estilístico como um pattern, rompido por um 
elemento imprevisível. O estilo, nesta óptica, define-se como “o realce que impõe à atenção do 
leitor certos elementos da seqüência verbal, de maneira que este não pode omiti-los sem mutilar o 
texto e não pode decifrá-los sem achá-los significativos e característicos”7. Ter um estilo, portanto, 
não significa possuir uma técnica de linguagem. É sim assimilar uma visão própria do mundo e 
encontrar uma forma adequada para expressar essa ‘paisagem interior’. A luta pela expressão é o 
fundamento da criação literária. Criar em literatura, portanto, é realizar o dizer de forma expressiva 
e singular. É reesculpir cada palavra, reinventando cada estrutura para que a linguagem, gasta no 
dia-a-dia, invista no desconhecido em busca do reconhecido. 
Nosso estudo pretende, pela descrição do texto de A Cidade e as Serras, obter, de uma das inú-
meras isotopias possíveis, a mensagem estética dessa obra de Eça, partindo do estudo dos afixos. 
Assim, lido o romance, procuramos identificar na obra os morfemas, de acordo com as relações se-
mânticas que os ligam entre si e aos diversos níveis do texto. Percebemos, de pronto, que o roman-
ce A Cidade e as Serras assenta-se sobre dois grandes pólos – civilização e genuinidade – sendo, este 
último, dimensionado numa perspectiva de terra como elemento gerador de vida, volta às raízes da 
nacionalidade portuguesa. 
Desenha o escritor, nesses dois pólos, dois personagens: Jacinto e Zé Fernandes. E é sobre a 
permanência e mudança na personalidade do personagem narrado – Jacinto – e sobre o conheci-
mento que vamos obtendo pela voz do personagem narrador – Zé Fernandes – que reside o nosso 
estudo. O jogo do sim e do não, em relação à cidade e ao campo, montado por Eça na composição 
desses personagens, foi o caminho que encontramos para demonstrar a temática dessa obra – a 
genuidade como perfeita fruição de vida. Para tal, seguiremos, com exemplos significativos e co-
mentários sobre eles, o caminhar de Jacinto no sentido de aceitação da cidade e do campo. 
A civilização, do ponto de vista do personagem Jacinto, passa por três estágios bem delinea-
dos: fanatismo → cansaço → saturação. Logo ao primeiro instante em que Zé Fernandes nos coloca 
diante de Jacinto, é-nos mostrado um homem “bem-aventurado”. Ouçamos o narrador: 
“Rijo, rico, indiferente ao Estado e ao Governo dos homens, nunca lhe conhecemos outra am-
bição além de compreender bem as idéias gerais” (p. 14). 
“O seu valor genuíno, de fino quilate, nunca foi desconhecido nem desapreciado” (p. 14). 
“Este Príncipe concebera a idéia de que “o homem só é superiormente feliz quando é superior-
mente civilizado” ( p. 15). 
Texto complementar
7 RIFFATERRE, michael. Estilística estrutural. Trad: Anne Arnichand e Álvaro Lorencini. São Paulo. Editora Cultrix, p. 32.
41|Estrutura das palavras I
A presença dos morfemas in e des mostram a negação de engajamento político-social de Jacinto e a 
positividade de sua valorização como homem bem-aventurado que era, a ponto de dominar, inclusive, a 
natureza, pois “nuvens pejadas e lentas, se avistavam Jacinto sem guarda-chuva, retinham com reverên-
cia as suas águas até que ele passasse”(p. 14). O morfema -mente, do último exemplo denota a idéia de 
excessividade da importância de civilização para o personagem, idéia essa não só carregada pela própria 
significação do radical superior como também pela soma, a ele, do sufixo -mente. Esse “bem-aventurado” 
entrosa-se de tal forma à engrenagem da civilização/máquina, que nada que não possua a chancela de 
civilizado tem, para ele, potencialidade para gerar prazer. São estas suas palavras: “... sou mais feliz que o 
incivilizado, porque descubro realidades no Universo que ele não suspeita...”(p. 18). 
Desse modo, a idéia de civilização não se separa da imagem de uma enorme cidade, com todos 
os seus órgãos funcionando “poderosamente”. (p. 18). E jacinto clama: “Aí tens tu, o fonógrafo!... Só o 
fonógrafo, Zé Fernandes, me faz verdadeiramente sentir a minha superioridade de ser pensante e me 
separa do bicho. Acredita, não há senão a cidade, Zé Fernandes, não há senão cidade!” (p. 19). E Eça de 
Queiroz coloca na boca do personagem-narrador Zé Fernandes uma insistente demonstração do pavor 
de Jacinto pelo campo e de seu amor à cidade, usando abusivamente os afixos de negação eadvérbios: 
“mas para o meu Jacinto, desde que assim me arrancavam da cidade, eu era arbusto desarraigado 
que não reviverá (...). E quando fechou sobre mim a portinhola, gravemente, supremamente como se 
cerra a grade de uma sepultura, eu quase solucei − com saudades minhas”(p. 24). 
Os morfemas in-, re-, des-, dos exemplos, emprestam ao contexto a significação positiva da 
cidade para Jacinto. Os afixos, assim organizados, apontam para uma leitura semanticamente in-
vertida. O efeito estilístico faz com que percebamos o fanatismo de Jacinto pela civilização através 
de sua antítese − o campo. Dessa maneira, o que se denota negativo, conota-se positivo. Há que se 
notar, ainda, a expressividade do uso do afixo -mente nos exemplos selecionados. Nesses casos, o 
advérbio apresenta-se como reverso neológico do adjetivo. Sua função, parece-nos, é, primordial-
mente, evocar imagens. Procurando derivá-los de adjetivos, cuja natureza é puramente descritiva, 
consegue, Eça, concretizar, para nós, a imagem exata do que quer descrever. 
A exceção do primeiro advérbio, verdadeiramente, que indica no exemplo a reafirmação de 
seu pensamento positivo em relação à cidade, todos os outros se apresentam com a significação 
descrita do adjetivo. É fato que verdadeiramente também deriva de adjetivo, mas dilui-se no sentido 
de descrição. Sentimo-lo mais abstrato que os demais. Nobremente, gravemente e supremamente 
pintam de forma concreta, a figura do personagem. 
Percebe-se, então, que o contato fecundo de Eça de Queiroz com a língua viva faz com que o 
escritor compense a simplicidade de seus processos estilísticos com uma rica concentração expressiva 
através da repetição de palavras e de morfemas de forma ousada e habilidosa. Ele procura, trabalha, 
sublinha tais processos de forma a chamar a atenção do leitor, transformando tal repetição em vanta-
gem estilística. Obtém o escritor, desse modo, fórmulas de grande musicalidade evocativa. 
Após o primeiro estágio em que os afixos, tão especiosamente usados por Eça, possibilitaram-nos 
demonstrar a importância da cidade para Jacinto, num desenvolver de entusiasmo para fanatismo, 
o personagem, saltará, do excesso de sua bem-aventurança para um cansaço profundo e palpável. A 
cidade já não o atrai. Só lhe causa enfado. Assim o descreve Zé Fernandes: “Considerei o meu Príncipe. 
Estirado no divã, de olhos miserrimamente cerrados, bocejava, num bocejo imenso e mudo.”(p. 43). 
Este momento racional, emerso após uma série de tantos outros, cujo perseverante uso dos 
afixos vai demonstrando o desgosto do “Príncipe” pela vida da cidade, foi o que mais evidenciou a 
42 | Língua Portuguesa II: Morfologia I
fadiga que já tomava conta de todo Jacinto. Ao adjetivo mísero, que já traz uma carga semântica 
negativa intensa, Eça acopla dois sufixos igualmente intensificativos: -érrima e -mente demarcando, 
de forma clara, o clímax do cansaço de Jacinto. 
Recomendamos a releitura atenta das páginas indicadas para uma melhor observação do que 
outros a serem estudados está sendo comentado e pela riqueza de materiais lingüísticos. 
O sufixo mente, tão usado por Eça como elemento de comicidade ao mostrar a artificialidade e o 
exagero da civilização, ao caracterizar o arrastar de Jacinto pela vida, na sua fase de saturação, começa 
a escassear-se aqui. Ainda o encontramos, é evidente, mas carregando novo colorido. Esta leveza, 
sentimo-la, pelo cuidado que passa a ter nosso artista em sua tão bem elaborada expressão. Já não 
mais quer mostrar não. Aqui, concretiza-se o sim da terra como elemento gerador de prazer. 
Logo ao primeiro exemplo nos deparamos com o advérbio genuinamente, colocado entre dois 
adjetivos de significação positiva – verdadeiros. O advérbio assim colocado intensifica a positividade 
do adjetivo genuíno, atingindo a escritura o ponto que pretendemos demonstrar − a genuinidade 
como fruição de vida/felicidade. Observe-se que a partir deste momento, os prefixos negativos des- e 
in- são especiosamente colocados em vocábulos que, por seu significado no contexto, o positivam. 
É a beleza inesgotável, é a busca insaciável dos recantos da serra, é a esperança de descobrir um 
mundo inédito. Quando denotativamente negativos, referem-se à civilização: o pessimismo, desin-
dividualiza, o sofrimento, atenua o desgracioso delito dos inertes. Na palavra desgraçazinhas, além 
da negatividade dos des- , acresce o diminutivo pejorativo, irônico, usado por Jacinto para depreciar 
o pessimismo, em oposição a regatinhos, cujo sufixo duplica a idéia de diminutivo, já contida na 
palavra, vestindo-a de afeto. O prefixo sobre-, com significado de excessividade negativa, refere-se à 
civilização, em oposição também ao sufixo -íssimo, que trazendo em si uma idéia intensa e reiterada 
representa a própria positividade do excesso. É o antiquíssimo de onde brotava a sua raça; é o anti-
quíssimo humo que reflui, como se colocasse Jacinto e terra em plena integração. O re- ganha sentido 
de renovação: refluisse o humo, revolvesse o torrão. E Jacinto, no torrão português, desvestido de 
todo o falso ornato da civilização, comungando com a natureza a cada minuto da hora, a cada hora 
do dia, a cada dia do tempo, nasce − rejuvenece − cria. Gera-se e gera. Brota-se e faz brotar. 
Concluímos do exposto que Eça de Queiroz, em contato com a língua viva, compensou a lin-
guagem do cotidiano que eiva seus processos de escrita numa concentração expressiva, em decor-
rência da qual a composição de palavras, a composição dos grupamentos verbais e a composição 
da frase em sua totalidade passam a ter a qualidade essencial de uma palavra. Consegue ele, através 
de uma ajustada engrenagem, reduzir o conjunto a uma unidade de curiosa ambivalência. 
Se por um lado sua expressão é abrangível e compreensível numa simples imagem, na qual 
se combinam hierarquicamente todos os elementos de significação ali implícitos, por outro lado, 
por não expressar objetivamente mais que uma fração do todo que nos transmite, contém o que 
podemos denominar de efeito retardado. Também apontando para a restrição, observamos não só 
a repetição de palavras como também a insistente repetição de afixos. No entanto, a desvantagem 
dessa repetição é fictícia, pois o escritor a emprega ousada e habilidosamente. Não foge dela. Ao 
contrário, procura-a, invoca-a, trabalha-a, transformando-a num lucro estilístico. 
Utilizando as palavras em expressões refletidas, instigando o lastro de sugestões psicológicas 
e de evocações sensoriais de que elas vêm carregadas, revigorando o duplo gume − uma fruição 
intelectiva e uma afetivo-sensorial −, pôde Eça de Queiroz usar um léxico familiar, se o conside-
43|Estrutura das palavras I
rarmos isoladamente em seus elementos. No entanto, de tal léxico integrado à frase, emerge uma 
multiplicidade de planos e ressonâncias que resultam na ilusão de uma grande riqueza de material 
verbal. Contudo, deixamos de observar esse mecanismo no plano puramente semântico, haja vista 
termos selecionado e analisado transcrições nas quais os afixos se faziam presentes. O resultado 
desta dissecação no corpo lingüístico de A Cidade e as Serras, limitada aqui pelo objetivo do traba-
lho, permitiu-nos descobrir alguns indícios reveladores da inquestionável revolução a que o escritor 
submeteu a ferramenta de expressão literária em suas próprias bases. O vocabulário, a sintaxe, a 
palavra, a frase, o período obtiveram de suas mãos uma nova realidade estética. Ao mágico toque 
de sua imaginativa sensibilidade idiomática, o material lingüístico adquiriu uma vida inédita, ines-
perada, imprevisível, adquirindo o vigor de redescobrimento. 
Análise lingüística
1. Leia e responda:
Camelôs
Manuel Bandeira
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam

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