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Resumo, cap. 8/9/10 - Fundamentos da Historia do Direito

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SANTOS, Rogério Dultra dos. Institucionalização da dogmática jurídico-canônica medieval. 
In: Antônio Carlos WOLKMER. Fundamentos de História do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: 
Del Rey, 2006, p. 169 – 186. 
A Igreja Católica deixou como legado para o direito ocidental moderno dois institutos máximos, 
a dogmática e o inquérito. O último, engloba tanto a constituição dos tribunais medievais da 
Santa Inquisição quanto os métodos de construção da verdade. A institucionalização canônica 
da dogmática fundamenta uma política autoritária imposta pela Igreja durante a Idade Média, 
legitimando o próprio discurso jurídico-dogmático. Os pilares de sustentação política de Roma 
– que futuramente vieram a se desfazer e provocaram a sua queda -, era a proteção militar da 
população, o incentivo ao comércio e a facilidade de comunicação. Entretanto, dois fenômenos 
abalaram essa harmonia: o modo de produção escravocrata e o cristianismo como religião 
oficial. Surgiu, então, o etnocentrismo que disseminou a discriminação daquilo que apareça 
“sob bases culturais e sociais não-idênticas”. A Igreja Católica Romana enfrentava um 
momento de instabilidade ao negar, por um lado, os aspectos importantes da cultura romana, 
mas por outro, se elevava a religião do Estado, impondo um modelo de pensamento através da 
teologia. Desse modo, o direito derivado da Igreja servia para a sedimentação do poder 
institucional através de fundamentações racionais na interpretação da verdade. Com isso, o fim 
das relações públicas entre indivíduo e Estado causou vínculos de subordinação pessoal. Neste 
período, o direito germânico foi utilizado como instrumento para resolução de conflitos, 
baseando-se na sistemática da prova. Mas, como o objetivo não era provar a verdade e sim a 
influência social de quem participava, geralmente o vencedor era o mais forte. A Igreja se 
destacou, principalmente, por ser o maior latifundiário da época, possuindo uma força 
onipresente no desenvolvimento financeiro e jurídico da Europa. Dessa maneira, auxiliou de 
forma ativa na repressão de revoltas de camponeses, denunciando hereges que desejavam 
restabelecer a imagem de uma Igreja apostólica. Com o crescimento da sua influência no meio 
jurídico os tribunais passaram a ser pressionados para julgar seus litígios a partir do direito 
canônico, monopolizando a produção intelectual jurídica. Portanto, foi definido que a crítica a 
Igreja passaria a equivaler a crime de lesa-majestade, tornando o Papa o pontífice católico e 
imperador romano ao mesmo tempo. Por fim, ela marginaliza e exclui os que não fazem parte 
da crença maior, e o direito canônico surge como instrumento que assegura e legitima essa 
divisão, punindo os diferentes ou insatisfeitos. 
 
	
  
NASPOLINI, Samyra Haydêe. Aspectos históricos, políticos e legais da inquisição. In: Antônio 
Carlos WOLKMER. Fundamentos de História do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 
2006, p. 187 – 200. 
O fenômeno da Inquisição é um dos fatos mais controvertidos entre os estudiosos. A grande 
cruzada empreendida pela Igreja Católica contra os hereges também é sinônimo da grande caça 
às bruxas que ocorreu entre os séculos XV e XVII em toda a Europa. O objetivo principal são 
as mudanças no direito penal, como condição para existência desse fato histórico. Sob 
influência da Igreja, todo o sistema penal foi alterado para que os crimes de bruxaria e heresia 
fossem combatidos com eficácia. Novas regras do processo, com reintrodução da tortura, foram 
admitidas para que dificilmente o acusado escapasse sem condenação. As legitimidades das 
questões legais tornaram a Inquisição uma operação judicial e, dessa maneira era necessário 
que o cristianismo fosse a religião oficial do Estado. O objetivo da Inquisição era, portanto, 
combater toda e qualquer forma de contestação aos dogmas da Igreja. De modo que consistia 
na identificação, julgamento e condenação de indivíduos suspeitos de heresias. Os tribunais 
aprisionavam as pessoas com base em boatos, interrogavam-as e, ao final, as levavam a 
condenação. A Espanha, entretanto, mostrou-se como o país mais tolerante da Europa em 
relação aos hereges e até o século XV não houve sinais de penetração da Inquisição no país. 
Mas, posteriormente, ganhou força com o pretexto de verificar a sinceridade da conversão dos 
judeus que ali habitavam. O direito canônico, citado anteriormente, era um direito redigido, 
comentado e analisado desde a Alta Idade Média, tendo sido o único escrito durante a maior 
parte do período. Então, com a forte ligação entre a Igreja e o Estado, o poder da mesma acabou 
refletindo sobre os princípios e na lógica do direito laico e ambos se uniram para combater a 
proliferação dos seguidores do Satã, que ameaçavam os seus poderes. O que realmente 
proporcionou o julgamento dos acusados foi a mudança no sistema penal influenciada pela 
Igreja, ocorrida entre XII e XIII, que alterou o processo acusatório para o processo de 
inquirição. Essa transformação deu-se pelo fato de mostrar-se mais eficiente ao combate da 
heresia, que aumentava em grandes proporções. E, a culpabilidade ou não do réu era averiguada 
por forma de interrogatório de testemunhas e do próprio acusado em questão, investigando as 
evidências do crime e tornando o processo rigoroso. Entretanto, a confissão tinha uma enorme 
importância, mas a mesma era obtida pela tortura, pois acreditava-se que só desse modo o réu 
diria a verdade. Por fim, nota-se a semelhança da Inquisição com os diversos regimes 
totalitários e racistas espalhados pelo mundo ainda no século XXI. 
	
  
 
CARVALHO, Salo de. Da desconstrução do modelo jurídico inquisitorial. In: Antônio Carlos 
WOLKMER. Fundamentos de História do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 
201 – 220. 
A fase marcada pela intolerância e mascarada pela sacralização somente receberia críticas e 
teria a ilegitimidade reconhecida ao final do século XVII e início do XVIII, quando a casta 
intelectual teórica e prática desqualificou o discurso totalmente totalitário. Aliou-se então, a 
filosofia iluminista à prática jurisprudencial, que estruturou uma nova mentalidade no direito 
penal. O catolicismo foi perdendo legitimidade no seu discurso por conta das evoluções 
científicas, que causou um choque na doutrina cristã. E, foi Spinoza, que fundamentou a 
separação entre ciência e religião. A Igreja que antes monopolizava a produção científica, 
passou a negar os frutos das suas pesquisas. Posteriormente, o discurso intolerante da Inquisição 
foi colocado em dúvida pelo avanço científico. Foi com a atuação dos magistrados franceses 
que deu início ao processo de laicização do direito e, casos que antes eram considerados 
intervenções diabólicas, foram considerados apenas enfermidades naturais. A primeira atitude 
tomada pelos magistrados foi de restringir a repressão aos crimes de bruxaria e em 1624, os 
juízes inferiores foram proibidos de decidirem os crimes de lesa-majestade, além de ser 
penalizada a negligência ou omissão ao dispositivo de lei. Portanto, após 1640 houve uma real 
desvinculação da feitiçaria e bruxaria à criminalidade. Juridicamente, não há dúvidas que o 
avanço das ciências e do direito representaram um total desprezo pelo direito sacralizado, dando 
mérito ao iluminismo jurídico-penal ao destrono do saber malévolo que perdurou por séculos. 
Tal postura foi crucial para a ascensão de um novo saber jurídico e de uma nova concepção de 
Estado: o Estado moderno. 
 
1)   Devido	
  à	
  forte	
  ligação	
  da	
  Igreja	
  ao	
  Estado,	
  com	
  a	
  soberania	
  da	
  Igreja	
  sobre	
  o	
  mesmo,	
  
qual	
  foram	
  os	
  interesses	
  do	
  Estado	
  que	
  estavam	
  sendo	
  salvaguardados	
  pelaInquisição	
  
à	
  mando	
  da	
  Igreja?	
  
2)   Qual	
  foram	
  as	
  medidas	
  cautelosas	
  que	
  fizeram	
  os	
  Iluministas	
  exporem	
  suas	
  opiniões	
  –	
  
obviamente	
  contrárias	
  à	
  Igreja	
  Católica	
  –,	
  sem	
  serem	
  julgados	
  pela	
  Inquisição?	
  
	
  
Mariah	
  Martins	
  Ferrite	
  –	
  RGM:	
  011.4668	
  
Acadêmica	
  da	
  Faculdade	
  de	
  Direito	
  
Centro	
  Universitário	
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  Grande	
  Dourados	
  –	
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