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SANTOS, Rogério Dultra dos. Institucionalização da dogmática jurídico-canônica medieval. In: Antônio Carlos WOLKMER. Fundamentos de História do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 169 – 186. A Igreja Católica deixou como legado para o direito ocidental moderno dois institutos máximos, a dogmática e o inquérito. O último, engloba tanto a constituição dos tribunais medievais da Santa Inquisição quanto os métodos de construção da verdade. A institucionalização canônica da dogmática fundamenta uma política autoritária imposta pela Igreja durante a Idade Média, legitimando o próprio discurso jurídico-dogmático. Os pilares de sustentação política de Roma – que futuramente vieram a se desfazer e provocaram a sua queda -, era a proteção militar da população, o incentivo ao comércio e a facilidade de comunicação. Entretanto, dois fenômenos abalaram essa harmonia: o modo de produção escravocrata e o cristianismo como religião oficial. Surgiu, então, o etnocentrismo que disseminou a discriminação daquilo que apareça “sob bases culturais e sociais não-idênticas”. A Igreja Católica Romana enfrentava um momento de instabilidade ao negar, por um lado, os aspectos importantes da cultura romana, mas por outro, se elevava a religião do Estado, impondo um modelo de pensamento através da teologia. Desse modo, o direito derivado da Igreja servia para a sedimentação do poder institucional através de fundamentações racionais na interpretação da verdade. Com isso, o fim das relações públicas entre indivíduo e Estado causou vínculos de subordinação pessoal. Neste período, o direito germânico foi utilizado como instrumento para resolução de conflitos, baseando-se na sistemática da prova. Mas, como o objetivo não era provar a verdade e sim a influência social de quem participava, geralmente o vencedor era o mais forte. A Igreja se destacou, principalmente, por ser o maior latifundiário da época, possuindo uma força onipresente no desenvolvimento financeiro e jurídico da Europa. Dessa maneira, auxiliou de forma ativa na repressão de revoltas de camponeses, denunciando hereges que desejavam restabelecer a imagem de uma Igreja apostólica. Com o crescimento da sua influência no meio jurídico os tribunais passaram a ser pressionados para julgar seus litígios a partir do direito canônico, monopolizando a produção intelectual jurídica. Portanto, foi definido que a crítica a Igreja passaria a equivaler a crime de lesa-majestade, tornando o Papa o pontífice católico e imperador romano ao mesmo tempo. Por fim, ela marginaliza e exclui os que não fazem parte da crença maior, e o direito canônico surge como instrumento que assegura e legitima essa divisão, punindo os diferentes ou insatisfeitos. NASPOLINI, Samyra Haydêe. Aspectos históricos, políticos e legais da inquisição. In: Antônio Carlos WOLKMER. Fundamentos de História do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 187 – 200. O fenômeno da Inquisição é um dos fatos mais controvertidos entre os estudiosos. A grande cruzada empreendida pela Igreja Católica contra os hereges também é sinônimo da grande caça às bruxas que ocorreu entre os séculos XV e XVII em toda a Europa. O objetivo principal são as mudanças no direito penal, como condição para existência desse fato histórico. Sob influência da Igreja, todo o sistema penal foi alterado para que os crimes de bruxaria e heresia fossem combatidos com eficácia. Novas regras do processo, com reintrodução da tortura, foram admitidas para que dificilmente o acusado escapasse sem condenação. As legitimidades das questões legais tornaram a Inquisição uma operação judicial e, dessa maneira era necessário que o cristianismo fosse a religião oficial do Estado. O objetivo da Inquisição era, portanto, combater toda e qualquer forma de contestação aos dogmas da Igreja. De modo que consistia na identificação, julgamento e condenação de indivíduos suspeitos de heresias. Os tribunais aprisionavam as pessoas com base em boatos, interrogavam-as e, ao final, as levavam a condenação. A Espanha, entretanto, mostrou-se como o país mais tolerante da Europa em relação aos hereges e até o século XV não houve sinais de penetração da Inquisição no país. Mas, posteriormente, ganhou força com o pretexto de verificar a sinceridade da conversão dos judeus que ali habitavam. O direito canônico, citado anteriormente, era um direito redigido, comentado e analisado desde a Alta Idade Média, tendo sido o único escrito durante a maior parte do período. Então, com a forte ligação entre a Igreja e o Estado, o poder da mesma acabou refletindo sobre os princípios e na lógica do direito laico e ambos se uniram para combater a proliferação dos seguidores do Satã, que ameaçavam os seus poderes. O que realmente proporcionou o julgamento dos acusados foi a mudança no sistema penal influenciada pela Igreja, ocorrida entre XII e XIII, que alterou o processo acusatório para o processo de inquirição. Essa transformação deu-se pelo fato de mostrar-se mais eficiente ao combate da heresia, que aumentava em grandes proporções. E, a culpabilidade ou não do réu era averiguada por forma de interrogatório de testemunhas e do próprio acusado em questão, investigando as evidências do crime e tornando o processo rigoroso. Entretanto, a confissão tinha uma enorme importância, mas a mesma era obtida pela tortura, pois acreditava-se que só desse modo o réu diria a verdade. Por fim, nota-se a semelhança da Inquisição com os diversos regimes totalitários e racistas espalhados pelo mundo ainda no século XXI. CARVALHO, Salo de. Da desconstrução do modelo jurídico inquisitorial. In: Antônio Carlos WOLKMER. Fundamentos de História do Direito. 3 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 201 – 220. A fase marcada pela intolerância e mascarada pela sacralização somente receberia críticas e teria a ilegitimidade reconhecida ao final do século XVII e início do XVIII, quando a casta intelectual teórica e prática desqualificou o discurso totalmente totalitário. Aliou-se então, a filosofia iluminista à prática jurisprudencial, que estruturou uma nova mentalidade no direito penal. O catolicismo foi perdendo legitimidade no seu discurso por conta das evoluções científicas, que causou um choque na doutrina cristã. E, foi Spinoza, que fundamentou a separação entre ciência e religião. A Igreja que antes monopolizava a produção científica, passou a negar os frutos das suas pesquisas. Posteriormente, o discurso intolerante da Inquisição foi colocado em dúvida pelo avanço científico. Foi com a atuação dos magistrados franceses que deu início ao processo de laicização do direito e, casos que antes eram considerados intervenções diabólicas, foram considerados apenas enfermidades naturais. A primeira atitude tomada pelos magistrados foi de restringir a repressão aos crimes de bruxaria e em 1624, os juízes inferiores foram proibidos de decidirem os crimes de lesa-majestade, além de ser penalizada a negligência ou omissão ao dispositivo de lei. Portanto, após 1640 houve uma real desvinculação da feitiçaria e bruxaria à criminalidade. Juridicamente, não há dúvidas que o avanço das ciências e do direito representaram um total desprezo pelo direito sacralizado, dando mérito ao iluminismo jurídico-penal ao destrono do saber malévolo que perdurou por séculos. Tal postura foi crucial para a ascensão de um novo saber jurídico e de uma nova concepção de Estado: o Estado moderno. 1) Devido à forte ligação da Igreja ao Estado, com a soberania da Igreja sobre o mesmo, qual foram os interesses do Estado que estavam sendo salvaguardados pelaInquisição à mando da Igreja? 2) Qual foram as medidas cautelosas que fizeram os Iluministas exporem suas opiniões – obviamente contrárias à Igreja Católica –, sem serem julgados pela Inquisição? Mariah Martins Ferrite – RGM: 011.4668 Acadêmica da Faculdade de Direito Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN
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