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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO MÓDULO I INTRODUÇÃO 1 DEFICIÊNCIA MENTAL 1.1 CONCEITO 1.2 EPIDEMIOLOGIA 1.3 ETIOLOGIA 1.3.1 Fatores Antes da Concepção 1.3.2 Fatores Genéticos 1.3.3 Fatores Químicos 1.3.4 Fatores Nutricionais 1.4 DIAGNÓSTICO 1.5 CLASSIFICAÇÃO 1.6 TRATAMENTOS 2 TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO 2.1 CONCEITO 2.2 EPIDEMIOLOGIA 2.3 DIAGNÓSTICO 2.3.1 Autismo 2.3.2 Síndrome de Aspenger 2.3.3 Transtornos Desintegrativos 2.3.4 Síndrome de Rett 2.3.5 Transtornos Invasivos do Desenvolvimento sem Outra 2.4 TEORIAS NEURAIS DE AUTISMO 2.5 TRATAMENTO 3 TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM 3.1 TRANSTORNO ESPECÍFICO DA ARTICULAÇÃO DA FALA 3.2 TRANSTORNO EXPRESSIVO DE LINGUAGEM 3.3 TRANSTORNO RECEPTIVO DA LINGUAGEM AN02FREV001/REV 4.0 4 3.4 AFASIA ADQUIRIDA COM EPILEPSIA [SÍNDROME DE LANDAU- KLEFFNER] 4 TRANSTORNOS DE ESCOLARIDADE 4.1 INTRODUÇÃO 4.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM 4.3 TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM E SEUS SUBTIPOS 4.4 PREVALÊNCIA 4.5 PROBLEMAS ESCOLARES QUE “SIMULAM” OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM 4.6 IDENTIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 4.7 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO CONCLUSÃO ANEXO I - INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA ANEXO II – ESTUDO DE CASO MÓDULO II 5 ESQUIZOFRENIA INFANTIL 5.1 HISTÓRICO 5.2 DEFINIÇÃO 5.3 PREVALÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA 5.4 ETIOPATOGENIA 5.5 HISTÓRIA PRÉ-MÓRBIDA 5.6 SINTOMATOLOGIA 5.7 EVOLUÇÃO 5.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 5.9 TRATAMENTO 6 TRANSTORNOS DO HUMOR 6.1 DEPRESSÃO 6.1.1 Diagnóstico 6.1.2 Formas Clínicas 6.1.3 Um Mecanismo Compreensivo AN02FREV001/REV 4.0 5 6.1.4 Tratamento 6.2 MANIA 6.2.1 Conceito 6.2.2 Epidemiologia 6.2.3 Evolução 6.2.4 Tratamento 7 SÍNDROMES MENTAIS ORGÂNICAS 7.1 INTRODUÇÃO 7.2 DEFINIÇÃO – CONSCIÊNCIA 7.3 PERÍODO SENSORIOMOTOR (DE 0 A 18/24 MESES) 7.4 PERÍODO PRÉ-CONCEITUAL (DE 2 AOS 4 ANOS) 7.5 PERÍODO INTUITIVO (DOS 4 AOS 6/7 ANOS) 7.6 FATORES PREDISPONENTES E ETIOLÓGICOS 7.7 TRATAMENTO 8 TDAH 8.1 INTRODUÇÃO 8.2 EPIDEMIOLOGIA 8.3 ETIOLOGIA 8.4 SUBSTRATO NEUROBIOLÓGICO 8.5 QUADRO CLÍNICO 8.6 DIAGNÓSTICO 8.7 EVOLUÇÃO 8.8 TRATAMENTO MÓDULO III 9 TRANSTORNO DE CONDUTA 9.1 INTRODUÇÃO 9.2 EPIDEMIOLOGIA 9.3 DIAGNÓSTICO 9.4 ETIOLOGIA 9.5 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL/COMORBIDADE AN02FREV001/REV 4.0 6 9.6 EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO 9.7 TRATAMENTO 10 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO 10.1 EPIDEMIOLOGIA 10.1.1 Aspectos Etiopatogênicos e Fisiopatológicos 10.2 SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE 10.2.1 Classificação e Características Clínicas 10.2.2 Tratamento 10.2.3 Evolução e Prognóstico 11 TRANSTORNOS ANSIOSOS 11.1 INTRODUÇÃO 11.2 FOBIA 11.3 FOBIA SOCIAL 11.4 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA 11.5 ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO 11.6 TRANSTORNO DO PÂNICO 11.7 TRATAMENTO 12 TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO 12.1 CONCEITO 12.1.1 Classificação 12.1.2 Epidemiologia 12.1.3 Etiologia 12.1.4 Quadro Clínico MÓDULO IV 13 TRANSTORNOS ALIMENTARES 13.1 ANOREXIA NERVOSA 13.1.1 Aspectos Clínicos 13.1.2 Critérios Diagnósticos 13.1.3 Diagnóstico Diferencial 13.1.4 Epidemiologia AN02FREV001/REV 4.0 7 13.1.5 Imagem Corpórea 13.1.6 Família 13.1.7 Psicodinâmica 13.1.8 Etiologia 13.1.9 Terapêutica 13.2 BULIMIA NERVOSA 13.2.1 Etiologia 13.2.2 Tratamento 13.3 CONCLUSÃO 14 OBESIDADE 14.1 OBESIDADE PSIQUIÁTRICA 14.1.1 Perfil e Problemas Emocionais do Obeso 14.1.2 Obesidade e Transtornos Alimentares 14.1.3 Epidemiologia CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GLOSSÁRIO AN02FREV001/REV 4.0 8 MÓDULO I INTRODUÇÃO A Psicopatologia é “uma disciplina científica que estuda a doença mental em seus vários aspectos: suas causas, as alterações estruturais e funcionais relacionadas, os métodos de investigação e suas formas de manifestação (sinais e sintomas)” (CHENIAUX JUNIOR). Comportamentos, cognição e experiências subjetivas anormais constituem as formas de manifestação das doenças mentais. O autor define a semiótica ou semiologia médica como “o estudo dos sinais e sintomas das enfermidades, estudo este que inclui a identificação das alterações físicas e mentais, a ordenação dos fenômenos observados e a formulação de diagnósticos”. Os sinais e sintomas são os signos da Psicopatologia, sendo que os sintomas são subjetivos, aparecem apenas nas queixas dos pacientes, e os sinais objetivos são observáveis. A seguir apresentaremos alguns conceitos importantes (baseados no “Manual de Psicopatologia”, de Cheniaux Junior.): Delirium: quadro agudo que se caracteriza por um prejuízo cognitivo global, com rebaixamento do nível de consciência. Os quadros de delirium ocorrem em função de uma perturbação difusa no metabolismo cerebral, que podem ser causados por intoxicações com drogas, abstinência a drogas, encefalopatias metabólicas, infecções, epilepsia; traumatismo cranioencefálico; doenças cerebrovasculares, tumores intracranianos, doenças degenerativas cerebrais, etc. Atenção: processo pelo qual a consciência é direcionada para determinado estímulo ou objeto, selecionando-o em detrimento de outros objetos. AN02FREV001/REV 4.0 9 Sensação: fenômeno passivo, físico, periférico e objetivo que resulta das alterações produzidas sobre os órgãos sensoriais, por estímulos externos. Exemplo: formas e cores em uma fotografia. Percepção: fenômeno psíquico e subjetivo, consciente, resultado da integração das impressões sensoriais parciais e da associação destas às representações. Está relacionada à identificação, reconhecimento e discriminação dos objetos. Exemplo: quadro-negro, carteiras, crianças uniformizadas (sentadas) e uma senhora em pé (apontando para o quadro negro). Apreensão: uma aula. Classificação das qualidades sensoriais: Exteroceptivas: visuais, auditivas, gustativas, olfativas, cutâneas; Interoceptivas (ou sinestésicas): bem-estar; mal-estar; fome, sede; Proprioceptivas: cinestésicas (movimentos corporais), posição segmentar do corpo, equilíbrio, barestesia (sensibilidade à pressão). Ilusão: percepção falseada, deformada, de um objeto real e presente. É uma deturpação da imagem. Alucinação: é a “percepção sem o objeto” ou a percepção na ausência de estímulo externo correspondente. Delírio: é uma alteração relacionada à formação de juízos. Segundo Jaspers são juízos patologicamente falsos e possuem asseguintes características externas: acompanham-se de uma ideia extraordinária, não são susceptíveis à influência e possuem um conteúdo impossível. Amnésia (hipomnésia) anterógrada: também chamada hipomnésia de fixação, consiste na dificuldade ou impossibilidade de formar novas lembranças de longo prazo. Amnésia (hipomnésia) retrógrada: também conhecida como amnésia de evocação, diz respeito à dificuldade de recordar eventos anteriores à atuação do fator causal do distúrbio. Hipermnésia de fixação: consiste na capacidade exagerada de AN02FREV001/REV 4.0 10 armazenamento de novas informações. Hipermnésia de evocação: ocorre um excesso de recordações em um breve espaço de tempo, pode ser observada na síndrome maníaca. Hipermnésia lacunar: observada em pacientes com transtorno de pânico, em relação à rememoração do primeiro ataque ou no TEPT, como relação ao evento traumático. Hipermnésia seletiva: ocorre normalmente na depressão, quanto a fatos dolorosos ou que despertem sentimentos de culpa; na mania, quanto a sucessos e realizações pessoais e nos quadros delirantes, diz respeito aos fatos que pareçam confirmar seu juízo patológico. 1 DEFICIÊNCIA MENTAL 1.1 CONCEITO No século XX deu-se início ao estabelecimento de uma definição para a deficiência mental. Esta diz respeito ao funcionamento intelectual, que seria inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à dificuldade de adaptação ao entorno. A característica essencial dessa é quando a pessoa tem um funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de notórias limitações no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (1997) define como: Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do AN02FREV001/REV 4.0 11 funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por um comprometimento, durante o período de desenvolvimento, das faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, das funções cognitivas, de linguagem, da motricidade e do comportamento social; este pode acompanhar outro transtorno mental ou físico, ou ocorrer de modo independentemente. Essa é também a definição de Deficiência Mental adotada pela AAMR (Associação Americana de Deficiência Mental). Na Deficiência Mental, como nas demais questões da psiquiatria, a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da pessoa ao mundo, é o elemento primordial relacionado à noção de “normal”. Segundo Weitbrecht (1970) a deficiência mental é descrita como: “pessoas em cujo cérebro não ocorrem muitas coisas”, até a proposta em 1959 pela Associação Americana de Deficiência Mental, que define que: “o retardamento mental refere-se ao funcionamento intelectual geral abaixo da média, que se origina durante o período de desenvolvimento e está associado a prejuízo no comportamento adaptativo” (ROBINSON, 1975; OMS, 1985). Habituamos a raciocinar sobre a deficiência mental como uma condição em si mesma, um estado patológico bem definido. Contudo, em sua maioria, é uma condição mental relativa. A deficiência será sempre relativa em relação aos demais indivíduos de uma mesma cultura, pois a existência de alguma limitação funcional, principalmente nos graus mais leves, não seria suficientes para caracterizar este diagnóstico, se não houver um mecanismo social que atribua a essa limitação um valor de morbidade. E esse mecanismo social que atribui valores é sempre comparativo, portanto, relativo. Ou seja, DM é um estado onde existe uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da média geral das pessoas pelo sistema social onde se insere a pessoa. Isso significa que uma pessoa pode ser considerada deficiente em uma determinada cultura e não deficiente em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa satisfazer as necessidades dessa cultura. Isso torna o diagnóstico relativo. Segundo critérios das classificações internacionais, o início da deficiência mental deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um transtorno do desenvolvimento e não uma alteração cognitiva, como é a AN02FREV001/REV 4.0 12 demência. Embora o assunto comporte uma discussão mais ampla, de modo acadêmico o funcionamento intelectual geral é definido pelo Quociente de Inteligência (QI ou equivalente). FIGURA 1 - O PROCESSO DE DEFICIÊNCIA MENTAL FONTE: Adaptado de Anderson, 1981. 1.2 EPIDEMIOLOGIA Como a maioria dos problemas psiquiátricos, em nosso meio não há estudos que definam sua frequência populacional. Por isso, temos que nos ater a dados projetivos, organizados e coletados em outras realidades e sem que, a nosso ver, possam ser projetados de forma adequada para o nosso meio. As melhores estimativas de deficiência mental, com quociente intelectual abaixo de 50, realizadas em países desenvolvidos, sugerem uma prevalência ao redor de 3 a 4: 1.000 pessoas (OMS, 1985). AN02FREV001/REV 4.0 13 1.3 ETIOLOGIA A etiologia da deficiência mental é variável, podendo, de modo geral, ser subdividida da seguinte maneira, segundo a OMS, 1968: 1.3.1 Fatores Antes da Concepção Fatores que atuam antes da concepção envolvem causas genéticas e ambientais, consistindo nos aspectos mais importantes na gênese da deficiência mental, a exemplo do que cita Kuo-Tai (1988), com cifras da ordem de 50% da população estudada por esse autor. 1.3.2 Fatores Genéticos Entre os fatores genéticos há os que estão relacionados a um único gene e os que se devem a vários (CUNHA, 1992). 1.3.3 Fatores Químicos Estes são representados principalmente pela ação de fatores tóxicos que provocam lesão cerebral na criança. O próprio oxigênio, usado frequentemente na reanimação de crianças recém-nascidas, está relacionado à fibroplasia retroletal, causadora de intenso deficit visual. Do mesmo modo, são descritas intoxicações por chumbo pós-ingestão de alimentos que o contenha (STERN, 1972). AN02FREV001/REV 4.0 14 1.3.4 Fatores Nutricionais Privações diversas podendo ser estas sensoriais, sociais, familiares. Sendo necessário serem vistas com bastante cuidado, pois se sobrepõem a diversos outros fatores causais, tornando-se quase impossível a sua separação. 1.4 DIAGNÓSTICO As crianças com deficiência mental têm de ser submetidas a uma bateria de avaliações que possibilite o esclarecimento da provável etiologia do quadro. AN02FREV001/REV 4.0 15 FIGURA 2- ETIOPATOGENIA DA DEFICIÊNCIA MENTAL FONTE: Lira-Ramos, T. C. In: Assumpção Junior, F. B.; Spiorei, M. H., 1992. 1.5 CLASSIFICAÇÃO A classificação da deficiência mental também é ampla, uma vez que ela não corresponde a uma ruptura no desenvolvimento intelectual do indivíduo, estabelecendo, assim, um conceito de patologia. AN02FREV001/REV 4.0 16 Classificação da OMS (Organização Mundial da Saúde) QI Denominação Nível Cognitivo (Piaget) Idade Mental Menor de 20 Profundo Sensório-Motriz 0-2 anos Entre 20-35 Agudo Grave Sensório-Motriz 0-2 anos Entre 36-51 ModeradoPré-Operativo 2-7 anos Entre 52-67 Leve Operações Concretas 7-12 anos FIGURA 3 – CLASSIFICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS MENTAIS FONTE: Comitê de Experts em Saúde Mental da OMS, 1968. 1.6 TRATAMENTOS Alterações de conduta são em geral associadas à deficiência mental pelo próprio conceito de deficit adaptativo que ele implica. Assim sendo, a utilização da psicofarmacologia é frequente e de extrema importância. Sua utilização segue, no entanto, as mesmas normas do uso das drogas em Psiquiatria (ASSUMPÇÃO JUNIOR, 1991). A Psicologia como ciência pode contribuir por meio de técnicas de apoio e a Neuropsicologia com a reabilitação cognitiva e social. AN02FREV001/REV 4.0 17 2 TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO 2.1 CONCEITO Os transtornos invasivos do desenvolvimento contemplam o autismo, a Síndrome de Aspenger, a Síndrome de Rett, o Transtorno Desintegrativo da Infância e uma categoria residual denominada transtornos invasivos do desenvolvimento, sem outra especificação. O conceito atual de transtorno invasivo do desenvolvimento (TID) surgiu na década de 60, proveniente principalmente dos trabalhos de M. Rutter, I. Kolvin e D. Cohen. A mudança do título Journal of Autism and Childhood Schizophrenia para Journal of Autism and Development Disorders ao final dos anos 70, bem como a publicação do DSM-III, poderiam ser considerados marcos essenciais desse conceito. O fenótipo proposto para o TID inclui manifestações em três domínios: social, da comunicação e do comportamento. A interação social está qualitativamente prejudicada, bem como as habilidades de comunicação. O padrão de comportamento e os interesses são restritos, tendendo a ser estereotipados e repetitivos. Recentemente, os pesquisadores estão tentando olhar além do comportamento observável, por meio da busca de endofenótipos, fenótipos internos constituídos por medidas bioquímicas, neurofisiológicas, neuroanatômicas e neuropsicológicas (STERN, 1972). No campo da pesquisa do TID, alguns endofenótipos têm sido estudados, tais como os modelos da Teoria da Mente, o desempenho de coerência central, a função executiva, as estratégias de varredura visual, entre outros. Esses endofenótipos podem ser mais facilmente relacionados aos neurocircuitos e às suas funções. Além disso, eles têm permitido estudos de genes candidatos. É fato que o desenvolvimento na área tem se apoiado, AN02FREV001/REV 4.0 18 sobretudo, no desenvolvimento da neurociência; entretanto, a proposta de novos modelos de compreensão, tais como o conceito de transtornos do espectro do autismo (TEA), foi também extremamente importante. Para entender melhor o TEA, seria importante termos melhores definições de todas as categorias de TID. Hoje em dia, os protótipos de TID, Transtorno Autista (TA) e Síndrome de Aspenger são bem conhecidos e duas categorias que não se assemelham ao Autismo, à Síndrome de Rett e ao Transtorno Desintegrativo, também estão bem caracterizadas. A categoria residual é denominada TID-SOE (transtorno invasivo de desenvolvimento - sem outra especificação) e não possui critérios específicos. A classificação de crianças que não se encaixam em nenhum outro TID deve ser colocada nesta condição (WALKER et al., 2004). FIGURA 4 – O CONTINUUM AUTÍSTICO FONTE: Wing, 1988. AN02FREV001/REV 4.0 19 2.2 EPIDEMIOLOGIA Inicialmente a prevalência do autismo era estimada em 4 a 5: 10.000 pessoas, porém recentes estudos chegam aos índices da ordem de 2: 1.000 pessoas apresentando a tríade de deficit social, comunicacional e de atividade imaginativa (BRYSON, 1997). 2.3 DIAGNÓSTICO 2.3.1 Autismo O autismo está classificado na subcategoria dos transtornos invasivos do desenvolvimento. Ele inclui prejuízos na interação social, na comunicação, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses, atividades, e tem início antes dos três anos de idade (APA, 1994). As manifestações clínicas variam amplamente em termos de níveis de gravidade, algumas crianças, conhecidas como “autistas de alto funcionamento”, podem chegar a se desenvolver de maneira parcial e relativamente independente e apresentar nível intelectual dentro da normalidade, o que lhes permite condições de manifestarem-se em relação às suas percepções de qualidade de vida (QV) (KLIN et al., 2000). Autismo é uma síndrome presente desde o nascimento e se manifesta antes dos 30 meses de idade. O comportamento é usualmente ritualístico e pode incluir rotinas de vida anormais, resistências a mudanças, ligação a objetos estranhos e um padrão de brincar estereotipados. A capacidade para pensamento abstrato simbólico ou para jogos imaginativos fica diminuída. A inteligência varia muito, de subnormal, normal ou acima (OMS, 1984). AN02FREV001/REV 4.0 20 QV é um conceito subjetivo que inclui a percepção do indivíduo em sua posição na vida, no contexto cultural e no sistema de valores em que vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações, segundo o instrumento de avaliação de qualidade de vida – WHOQOL (1998) – anexo I. Psicopatologia da linguagem do autista é caracterizada por: o Mutismo; o Emissão de orações completas em situação emergente; o Emprego da negação simples como “proteção mágica”; o Literalidade; o Inacessibilidade; o Ecolalia imediata; o Ecolalia retardada; o Inversão pronominal; o Evitação pronominal; o Linguagem metafórica; o Dificuldades de compreensão; o Escassez de vocabulário; o Emprego de neologismos; o Dificuldades articulatórias; o Escassez de perguntas e informações com valor informativo; o Falta de intenção comunicativa; o Dificuldade para compreender e utilizar gestos; o Frequência de imperativos; o Alterações de tom, ritmo e inflexão; o Limitações do out put verbal; o Falta de correspondência entre prosódia e sentido; o Interesse pelo som sem captar o sentido; o Falta de coordenação entre os gestos e emissões verbais; o Crianças autistas geralmente têm deficiência mental associada em até 75% dos casos. AN02FREV001/REV 4.0 21 Em relação à sua inteligência são poucas as crianças autistas com inteligência normal ou acima da média que podem apresentar altas habilidades acadêmicas e serem confundidas com superdotadas. No autismo infantil, a criança sempre apresenta o QI executivo maior que o QI verbal - WISC. FIGURA 5 – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL FONTE: Wing, 1988. 2.3.2 Síndrome de Aspenger Descrita por Aspenger em 1994, sob a designação “psicopatia autística”, correspondendo a um quadro caracterizado por deficit na sociabilidade, interesses circunscritos, deficit de linguagem e na comunicação (BOWMAN, 1988; SZATAMARI, 1991). Alguns sintomas de Asperger são: QI verbal maior do que o QI executivo (WISC); inteligência normal ou alta; dificuldade de interação social e empatia com pedantismo na fala; interpretação muito literal da linguagem; dificuldade com mudanças, perseveração em comportamentos estereotipados; alguns são hiperléxicos. AN02FREV001/REV 4.0 22 2.3.3 Transtornos Desintegrativos O transtorno desintegrativo da infância (TDI) possui um histórico mais longo do que o autismo. Foi inicialmente descrito por Heller, em 1908. Heller relatou seis casos de crianças jovens que, após um desenvolvimento aparentemente normal nos primeiros três a quatro anos devida, apresentaram uma perda muito grave das habilidades sociais e comunicativas. Heller denominou a condição dementia infantilis. Essa definição é insatisfatória: primeiro porque a condição não é comparável à demência, no sentido de que as características de perda de memória e de habilidades executivas não são proeminentes; e, em segundo lugar, porque nenhuma causa orgânica da trajetória do prejuízo pode ser encontrada. No DSM-III, a síndrome de Heller foi, pela primeira vez, introduzida em um sistema de classificação psiquiátrica. Foi incluída sob a categoria abrangente de TID, pois a perda das habilidades sociais e comunicativas era muito proeminente. No entanto, o TDI não é caracterizado em seu curso pela deterioração continuada nem por nenhum progresso. Em outras palavras, após a regressão dramática no início, chega-se a um status quo, mas um tremendo impacto no desenvolvimento pode ser observado durante toda a vida. A etiologia ainda é desconhecida. Portanto, é possível que o TDI esteja fadado a desaparecer como categoria quando os instrumentos diagnósticos tornarem possível determinar as causas genéticas, metabólicas ou infecciosas envolvidas nesses casos ainda inexplicados. Um relato de caso aponta para um possível vínculo genético com o autismo em um caso em que o autismo e o TDI ocorreram em dois meios-irmãos. AN02FREV001/REV 4.0 23 2.3.4 Síndrome de Rett Esse transtorno foi identificado em 1966 por Andréas Rett, mas somente após o trabalho de Hagberg tornou-se mais conhecido. Nesse mesmo trabalho foi proposto o epônimo síndrome de Rett (SR). A descrição original de Rett enfatizava a deterioração neuromotora, predominância em mulheres, sinais e sintomas particulares, a presença de hiperamonemia, tendo sido denominada “Atrofia Cerebral Associada à Hiperamonemia”. A perda dos movimentos propositais das mãos, a torção estereotipada das mãos e a hiperventilação são características deste transtorno. O desenvolvimento social e o desenvolvimento lúdico estão detidos enquanto o interesse social continua em geral conservado. A partir da idade de quatro anos manifesta-se uma ataxia do tronco e uma apraxia, seguidas frequentemente por movimentos coreoatetósicos. O transtorno leva quase sempre a um retardo mental grave (CID10). 2.3.5 Transtornos Invasivos do Desenvolvimento sem Outra O TID-SOE é uma categoria diagnóstica de exclusão, então possui regras especificadas para sua aplicação. Alguém pode ser classificado como portador de TID-SOE se preencher critérios no domínio social e mais um dos dois outros domínios (comunicação ou comportamento). Além disso, é possível considerar a condição mesmo se a pessoa possuir menos do que seis sintomas no total (o mínimo requerido para o diagnóstico do autismo), ou idade de início maior do que 36 meses. Se o acordo entre os clínicos é alto para os diagnósticos de autismo, o mesmo não é verdadeiro no caso do TID-SOE. Ainda que os estudos epidemiológicos tenham sugerido que o TID-SOE seja duas vezes mais comum AN02FREV001/REV 4.0 24 do que o TA, essa categoria continua a estar subinvestigada. Hoje em dia, diferentes categorizações têm sido propostas, algumas baseadas no enfoque fenomenológico descritivo, outras baseadas em outras perspectivas teóricas, tais como a Neuropsicologia. Subcategorias propostas, baseadas em descrição clínica: Transtorno de desenvolvimento múltiplo e complexo; Transtorno de evitação patológica às demandas; Transtorno de prejuízo multidimensional (TPM); Transtorno esquizoide infantil; Transtornos de vinculação. 2.4 TEORIAS NEURAIS DE AUTISMO Hipótese do lobo temporal médio; Hipótese cerebelar; Hipótese frontoestriada. 2.5 TRATAMENTO Uma vez diagnosticado um caso de criança com um transtorno autístico, deve-se priorizar as técnicas pedagógicas de tratamento e a orientação aos pais e familiares. Um dos principais objetivos do tratamento destas crianças é o desenvolvimento de suas aptidões e habilidades linguísticas e de comunicação, visando sua maior autonomia. A abordagem terapêutica nesses quadros deve englobar, segundo Rutter (1994): cuidados médicos e tratamento das condições médicas, quando presentes. AN02FREV001/REV 4.0 25 Educação Especial: o Classes ou escolas especializadas; o Serviços auxiliares e outros recursos pedagógicos. Suporte Familiar: o Métodos comportamentais; o Grupos de desenvolvimento social. Tratamento de fala e linguagem. Outras terapias. 3 TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM Transtornos nos quais as modalidades esperadas de aquisição da linguagem estão comprometidas desde os primeiros estágios do desenvolvimento. Não são diretamente atribuíveis a comprometimentos sensoriais, anomalias anatômicas do aparelho fonador, anomalias neurológicas, retardos mentais ou a fatores ambientais. Os transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem se escoltam com frequência em problemas associados, tais como transtornos emocionais e transtornos comportamentais, dificuldades da leitura e da soletração, perturbação das relações interpessoais (DSM-IV, 1994). 3.1 TRANSTORNO ESPECÍFICO DA ARTICULAÇÃO DA FALA Transtorno específico do desenvolvimento na qual a utilização dos fonemas pela criança é inferior ao nível correspondente à sua idade mental, mas no qual o nível de aptidão linguística é normal. AN02FREV001/REV 4.0 26 3.2 TRANSTORNO EXPRESSIVO DE LINGUAGEM Transtorno específico do desenvolvimento no qual as capacidades da criança de utilizar a linguagem oral são nitidamente inferiores ao nível correspondente à sua idade mental, mas no qual a compreensão da linguagem se situa nos limites normais. O transtorno pode se acompanhar de uma perturbação da articulação. 3.3 TRANSTORNO RECEPTIVO DA LINGUAGEM Transtorno específico do desenvolvimento no qual a capacidade de compreensão da linguagem pela criança está abaixo do nível correspondente à sua idade mental. Em quase todos os casos, a linguagem expressiva estará também marcadamente prejudicada e são comuns anormalidades na articulação. 3.4 AFASIA ADQUIRIDA COM EPILEPSIA [SÍNDROME DE LANDAU- KLEFFNER] Transtorno no qual a criança, tendo feito anteriormente progresso normal no desenvolvimento da linguagem, perde tanto a habilidade de linguagem receptiva quanto expressiva, mas mantém uma inteligência normal; a ocorrência do transtorno é acompanhada de anormalidades paroxísticas no EEG e, na maioria dos casos, há também convulsões epilépticas. Usualmente o início se dá entre os três e os sete anos, sendo que as habilidades são perdidas no espaço de dias ou de semanas. A associação AN02FREV001/REV 4.0 27 temporal entre o início das convulsões e a perda de linguagem é variável com uma precedendo a outra (ou inversamente) por alguns meses a dois anos. Tem sido sugerido como possível causa deste transtorno um processo inflamatório encefalítico. Cerca de dois terços dos pacientes permanecem com um deficit mais ou menos grave da linguagem receptiva. 4 TRANSTORNOS DE ESCOLARIDADE 4.1 INTRODUÇÃO Uma criança pode ter dificuldades para aprender por vários motivos: retardo mental, paralisia cerebral, epilepsia e prejuízos sensoriais podem interferir no processo de aprendizagem. Neste capítulo estudaremos a criança cuja dificuldade de aprendizagemnão seja resultado direto dessas ou de outras condições incapacitantes ou privações. Ao contrário, elas apresentam prejuízos em algum aspecto do desenvolvimento visuoperceptivo e da linguagem, que interferem na aprendizagem. 4.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM A primeira definição de que se tem relato é a proposta por Kirk (1963, p., afirmando que: Uma dificuldade de aprendizagem refere-se a um retardamento, transtorno, ou desenvolvimento lento em um ou mais processos da fala, linguagem, leitura, escrita, aritmética ou outras áreas escolares, resultantes de um ‘handicap’ causado por uma possível disfunção cerebral e/ou alteração emocional ou condutual. Não é o resultado de retardamento mental, de privação sensorial ou fatores culturais e instrucionais. AN02FREV001/REV 4.0 28 Em 1977, o National Advisory Committee on Handicapped Children (NACHC), criado pelo Bureau of Education for the Handicapped dentro da U. S. Office of Education (USOE) publicou a seguinte definição: As crianças com dificuldades de aprendizagem especiais (específicas) manifestam um transtorno em um ou mais processos psicológicos básicos na compreensão ou no uso da linguagem falada ou escrita. Estes podem manifestar-se em transtornos da audição, do pensamento, da fala, da leitura, da escrita, da silabação ou da aritmética. Incluem condições que foram referidas como ‘handicaps’ perceptivos, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia, afasia do desenvolvimento, etc. Não incluem problemas de aprendizagem devido primariamente a ‘handicaps’ visuais, auditivos ou motores, ao retardamento mental, alteração emocional ou à desvantagem ambiental. Porém atualmente essas definições possuem apenas valor histórico, pois nos EUA a definição de grande consenso foi apresentada pelo Nacional Joint Committee on Learning Disabilities no ano de 1988. Esta definição expressa a essência do que podemos entender como dificuldade de aprendizagem sob os vários aspectos, educativos, social e outros, sendo ele: Dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, da fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se que são devidos à disfunção do Sistema Nervoso Central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de autorregulação, percepção social e interação social, mas não constituem, por si próprias, uma dificuldade de aprendizagem. Ainda que as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes (por exemplo, deficiência sensorial, retardo mental, transtornos emocionais graves), ou com influências extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instrução inapropriada ou insuficiente), não são o resultado dessas condições ou influências.” A Organização Mundial de Saúde, na Classificação Internacional de Doenças – CID-10 (OMS, 1992), denomina-os de Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares – F81, e os coloca no bloco dos Transtornos do Desenvolvimento Psicológico – F80. A Associação Psiquiátrica Americana, no seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais AN02FREV001/REV 4.0 29 (APA, 1995), apresenta definições também descritivas, no sentido de que não propõem causas nem teorias na base destas definições. A definição destes transtornos - conforme o DSM-IV (1994) - é: Um funcionamento acadêmico substancialmente abaixo do esperado, tendo em vista a idade cronológica, medidas de inteligência e educação apropriadas para a idade. Essas inabilidades não se devem a transtornos físicos ou neurológicos demonstráveis ou a um transtorno global do desenvolvimento, ou a um retardo mental. Atualmente acredita- se que estes transtornos têm origem em anormalidades do processo cognitivo, derivadas, em grande parte, de algum tipo de disfunção biológica. 4.3 TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM E SEUS SUBTIPOS No DSM-IV encontramos que a estes transtornos se incluem transtorno de leitura, de matemática, da expressão escrita e da aprendizagem sem outra especificação (APA, 1995). Outras classificações, baseadas no desempenho acadêmico, como a do Ministério da Educação dos EUA (1977), especifica sete áreas nas quais a criança deve apresentar significativa dificuldade: expressão oral, expressão escrita, compreensão oral, habilidades básicas de leitura, compreensão de leitura, cálculo matemático, e raciocínio matemático. Com o avanço dos estudos, a subdivisão dos transtornos da aprendizagem deve ser implementada, considerando principalmente as bases biológicas destes transtornos. 4.4 PREVALÊNCIA A prevalência atual deste, segundo a literatura americana, na população escolar, ou seja, de seis a 17 anos, é de aproximadamente quatro a cinco por cento, contando cerca de dois milhões de crianças (RUTTER, 1994). AN02FREV001/REV 4.0 30 Além de que a predominância conforme o sexo tem caído em desuso, pois cada vez mais se sabe que meninas respondem de forma diferente no contexto escolar, além de manifestarem características distintas quando portadoras desses. 4.5 PROBLEMAS ESCOLARES QUE “SIMULAM” OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM Algumas crianças que não são portadoras desses transtornos podem apresentar dificuldades na aprendizagem escolar como consequência de outros problemas ao longo do desenvolvimento, tais como doenças crônicas, problemas psicossociais, carências globais, dentre outros. Alterações agudas do SNC, como meningite, encefalite e traumatismos cranioencefálicos podem prejudicar o desenvolvimento e acarretar dificuldades na aprendizagem. 4.6 IDENTIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Na fase escolar o diagnóstico é clínico, descritivo e podem ser realizados testes padronizados (WISC, Bender, testes visuoperceptivos, etc.), aplicados individualmente, para leitura matemática ou expressão escrita, que devem se apresentar significativamente abaixo do esperado para a idade, escolarização e nível de inteligência (APA, 1995). Além de que, considerando uma avaliação psiquiátrica, podemos dividir os transtornos que interferem na aprendizagem nos seguintes grupos: Prejuízos sensoriais: auditivos, visuais, perceptivos; Transtornos relacionados com o atraso do desenvolvimento neuropsicomotor: retardo mental e transtornos abrangentes do AN02FREV001/REV 4.0 31 desenvolvimento; Grupo dos comportamentos disruptivos: TDAH e suas variáveis, transtornos de linguagem; Grupo dos transtornos que aparecem num determinado tempo do desenvolvimento em diante: transtornos do humor, de ansiedade, fobia e pânico. FIGURA 6 – FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO DO DEFICT DE APRENDIZAGEM AN02FREV001/REV 4.0 32 4.7 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO As estratégias de intervenção devem prever o tratamento (ou reabilitação) dos prejuízos associados, tais como prejuízos cognitivos, de atenção, de percepção e sensoriais, e considerar imaturidade, desmotivação e impulsividade, frequentemente associados aos transtornos de aprendizagem. A participação da família no processo de intervenção é fundamental, tanto dando suporte e apoio no treinamento acadêmico, quanto no estímulo, motivação e continência para as dificuldades emocionais da criança. CONCLUSÃO Os transtornosespecíficos da aprendizagem aparecem em crianças com inteligência dentro dos padrões de normalidade, que falham no processo de aprendizagem, e isto não pode ser atribuído a nenhuma outra condição incapacitante. AN02FREV001/REV 4.0 33 ANEXO I VERSÃO EM PORTUGUÊS DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA (WHOQOL) 1998 Instruções Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua qualidade de vida, saúde e outras áreas de sua vida. Por favor, responda a todas as questões. Se você não tem certeza sobre que resposta dar em uma questão, por favor, escolha entre as alternativas a que lhe parece mais apropriada. Esta, muitas vezes, poderá ser sua primeira escolha. Por favor, tenha em mente seus valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que você acha de sua vida, tomando como referência as duas últimas semanas. Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma questão poderia ser: Nada Muito pouco Médio Muito Completamente Você recebe dos outros o apoio de que necessita? 1 2 3 4 5 Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você recebe dos outros o apoio de que necessita nestas últimas duas semanas. Portanto, você deve circular o número 4 se você recebeu "muito" apoio como abaixo. AN02FREV001/REV 4.0 34 Nada Muito pouco Médio Muito Completamente Você recebe dos outros o apoio de que necessita? 1 2 3 5 Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio. Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número que lhe parece a melhor resposta. Muito ruim Ruim Nem ruim, nem boa Boa Muito boa 1 Como você avaliaria sua qualidade de vida? 1 2 3 4 5 Muito insatisfeito Insatisfeito Nem satisfeito, nem insatisfeito Satisfeito Muito satisfeito 2 Quão 1 2 3 4 5 AN02FREV001/REV 4.0 35 satisfeito (a) você está com a sua saúde? As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas. Nada Muito pouco Mais ou menos Bastante Extremamente 3 Em que medida você acha que sua dor (física) impede você de fazer o que você precisa? 1 2 3 4 5 4 O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua vida diária? 1 2 3 4 5 5 O quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5 AN02FREV001/REV 4.0 36 6 Em que medida você acha que a sua vida tem sentido? 1 2 3 4 5 7 O quanto você consegue se concentrar? 1 2 3 4 5 8 Quão seguro (a) você se sente em sua vida diária? 1 2 3 4 5 9 Quão saudável é o seu ambiente físico (clima, barulho, poluição, atrativos)? 1 2 3 4 5 As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas duas semanas. Nada Muito pouco Médio Muito Completamente 10 Você tem energia suficiente para 1 2 3 4 5 AN02FREV001/REV 4.0 37 seu dia a dia? 11 Você é capaz de aceitar sua aparência física? 1 2 3 4 5 12 Você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades? 1 2 3 4 5 13 Quão disponíveis para você estão as informações que precisa no seu dia a dia? 1 2 3 4 5 14 Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer? 1 2 3 4 5 As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas. Muito ruim Ruim Nem ruim, nem bom Bom Muito bom 15 Quão bem você é capaz de se 1 2 3 4 5 AN02FREV001/REV 4.0 38 locomover? Muito insatisfeito Insatisfeito Nem satisfeito, nem insatisfeito Satisfeito Muito satisfeito 16 Quão satisfeito (a) você está com o seu sono? 1 2 3 4 5 17 Quão satisfeito (a) você está com sua capacidade de desempenhar as atividades do seu dia a dia? 1 2 3 4 5 18 Quão satisfeito (a) você está com sua capacidade para o trabalho? 1 2 3 4 5 AN02FREV001/REV 4.0 39 19 Quão satisfeito (a) você está consigo mesmo? 1 2 3 4 5 20 Quão satisfeito (a) você está com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos, colegas)? 1 2 3 4 5 21 Quão satisfeito (a) você está com sua vida sexual? 1 2 3 4 5 22 Quão satisfeito (a) você está com o apoio que você recebe de seus amigos? 1 2 3 4 5 AN02FREV001/REV 4.0 40 23 Quão satisfeito (a) você está com as condições do local onde mora? 1 2 3 4 5 24 Quão satisfeito (a) você está com o seu acesso aos serviços de saúde? 1 2 3 4 5 25 Quão satisfeito (a) você está com o seu meio de transporte? 1 2 3 4 5 As questões seguintes referem-se a com que frequência você sentiu ou experimentou certas coisas nas últimas duas semanas. Nunca Algumas vezes Frequentemente Muito frequentemente Sempre 26 Com que frequência você tem 1 2 3 4 5 AN02FREV001/REV 4.0 41 sentimentos negativos, tais como mau humor, desespero, ansiedade, depressão? Alguém lhe ajudou a preencher este questionário? Quanto tempo você levou para preencher este questionário? Você tem algum comentário sobre o questionário? OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO. AN02FREV001/REV 4.0 42 ANEXO II Estudo de Caso Richard, um primogênito de três anos e meio, foi encaminhado por solicitação de seus pais por causa de seu desenvolvimento desigual e comportamento anormal. O parto fora difícil e ele necessitou de oxigênio ao nascer. Sua aparência física, desenvolvimento motor e habilidade de autoajuda eram adequados, mas seus pais preocupam-se com ele desde os primeiros meses de vida, por sua falta de resposta ao contato social e jogos costumeiros de bebês. Comparações com seu segundo filho que, diferente de Richard, gostava de comunicação social desde os primeiros meses, confirmaram seus temores. Richard parecia ser autossuficiente e distanciado de outras pessoas. Ele não saudava a mãe pela manhã, ou o pai quando este voltava do trabalho; contudo, se deixado com a babá, tendia a gritar grande parte do tempo. Ele não demonstrava interesse por outras crianças e ignorava seu irmão mais novo. Seus balbucios não tinham entonação de conversa. Aos três anos, ele conseguia compreender instruções práticas simples. Sua fala consistia de ecoar algumas palavras e frases que ouvira no passado, com o acento e entonação originais do falante; ele conseguia usar apenas uma ou duas expressões para indicar as suas necessidades simples. Por exemplo, se ele dizia “Você quer beber?”, isto significava que ele estava com sede. Ele não se comunicava com expressões faciais, gestos ou mímica, exceto para puxar alguém e colocar a mão desta pessoa em um objeto que desejava. Ele mostrava fascinação por luzes brilhantes e objetos giratórios e fitava- os rindo, sacudindo as mãos e dançando na ponta dos pés. Ele também exibiaos mesmos movimentos enquanto escutava música, que apreciava desde bebê. Era intensamente apegado a um carrinho de brinquedo, que mantinha em sua mão dia e noite, mas jamais brincava de forma imaginativa com este ou com qualquer outro brinquedo. Ele era capaz de montar quebra-cabeças AN02FREV001/REV 4.0 43 rapidamente (com uma mão, porque a outra segurava o carrinho), quer o lado com a figura estivesse exposto ou escondido. Desde os dois anos ele colecionava utensílios de cozinha e arranjava-os em padrões repetitivos por todos os cômodos da casa. Esta ocupação, juntamente com períodos ocasionais de correrias sem objetivo, constituía todo o seu repertório de atividades espontâneas. O principal problema no manejo era a intensa resistência de Richard a qualquer tentativa no sentido de alterar ou expandir seus interesses. A remoção de seu carrinho, ou desarranjo em seus quebra-cabeças ou padrões de arrumação dos utensílios de cozinha ou até mesmo o simples fato de recolher, por exemplo, uma colher para uso legítimo na cozinha, ou tentar fazê- lo olhar para um livro de figuras, precipitavam ataques coléricos que podiam durar uma hora ou mais, com gritos, chutes e mordidas sem si mesmo ou em outros. Esses ataques podiam ser encurtados, restaurando-se a situação anterior. De outro modo, tocar sua música favorita ou um longo passeio de automóvel, às vezes, acalmavam-no. Seus pais pensavam que Richard fosse surdo, mas seu amor pela música, seus ecos perfeitos e sua sensibilidade a sons muito baixos, tais como aqueles feitos ao desembrulhar um chocolate no aposento ao lado, convenceram-nos de que esta não era a causa de seu comportamento anormal. Testes psicológicos davam-lhe uma idade mental de três anos em habilidades independentes (tarefas de encaixar e montar), mas apenas 18 meses na compreensão da linguagem. Discussão Richard demonstra acentuado prejuízo na interação social e na comunicação verbal e não verbal em repertório acentuadamente restrito de atividades, tudo começando nos primeiros meses de vida. Ele não parece interessar-se por outras crianças e jamais deseja fazer “brincadeiras de bebê” com os pais. Sua fala é limitada e peculiar (ecoando palavras e frases de outros) e suas brincadeiras são anormais, no sentido de que ele nunca se AN02FREV001/REV 4.0 44 engaja em jogos imaginativos. Seus interesses são acentuadamente restritos e estereotipados (montar quebra-cabeças e formar padrões com objetos de cozinha) e ele possui maneirismos motores estereotipados (balançar as mãos). Esses comportamentos, iniciados antes dos três anos de idade, são os sinais característicos de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Transtorno Autista. FONTE: DSM-IV. Casos Clínicos - Transtornos Mentais em Crianças e Adolescentes, p. 65. FIM DO MÓDULO I
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