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Psicopatologia da Infância e da Adolescência Livro 01

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Prévia do material em texto

AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E 
ADOLESCÊNCIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E 
ADOLESCÊNCIA. 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para 
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou 
distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do 
conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências 
Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 3 
 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
INTRODUÇÃO 
1 DEFICIÊNCIA MENTAL 
1.1 CONCEITO 
1.2 EPIDEMIOLOGIA 
1.3 ETIOLOGIA 
1.3.1 Fatores Antes da Concepção 
1.3.2 Fatores Genéticos 
1.3.3 Fatores Químicos 
1.3.4 Fatores Nutricionais 
1.4 DIAGNÓSTICO 
1.5 CLASSIFICAÇÃO 
1.6 TRATAMENTOS 
2 TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO 
2.1 CONCEITO 
2.2 EPIDEMIOLOGIA 
2.3 DIAGNÓSTICO 
2.3.1 Autismo 
2.3.2 Síndrome de Aspenger 
2.3.3 Transtornos Desintegrativos 
2.3.4 Síndrome de Rett 
2.3.5 Transtornos Invasivos do Desenvolvimento sem Outra 
2.4 TEORIAS NEURAIS DE AUTISMO 
2.5 TRATAMENTO 
3 TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM 
3.1 TRANSTORNO ESPECÍFICO DA ARTICULAÇÃO DA FALA 
3.2 TRANSTORNO EXPRESSIVO DE LINGUAGEM 
3.3 TRANSTORNO RECEPTIVO DA LINGUAGEM 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 4 
3.4 AFASIA ADQUIRIDA COM EPILEPSIA [SÍNDROME DE LANDAU-
KLEFFNER] 
4 TRANSTORNOS DE ESCOLARIDADE 
4.1 INTRODUÇÃO 
4.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM 
4.3 TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM E SEUS SUBTIPOS 
4.4 PREVALÊNCIA 
4.5 PROBLEMAS ESCOLARES QUE “SIMULAM” OS TRANSTORNOS DE 
APRENDIZAGEM 
4.6 IDENTIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
4.7 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO 
CONCLUSÃO 
ANEXO I - INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DE QUALIDADE DE VIDA 
ANEXO II – ESTUDO DE CASO 
 
 
MÓDULO II 
5 ESQUIZOFRENIA INFANTIL 
5.1 HISTÓRICO 
5.2 DEFINIÇÃO 
5.3 PREVALÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA 
5.4 ETIOPATOGENIA 
5.5 HISTÓRIA PRÉ-MÓRBIDA 
5.6 SINTOMATOLOGIA 
5.7 EVOLUÇÃO 
5.8 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
5.9 TRATAMENTO 
6 TRANSTORNOS DO HUMOR 
6.1 DEPRESSÃO 
6.1.1 Diagnóstico 
6.1.2 Formas Clínicas 
6.1.3 Um Mecanismo Compreensivo 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 5 
6.1.4 Tratamento 
6.2 MANIA 
6.2.1 Conceito 
6.2.2 Epidemiologia 
6.2.3 Evolução 
6.2.4 Tratamento 
7 SÍNDROMES MENTAIS ORGÂNICAS 
7.1 INTRODUÇÃO 
7.2 DEFINIÇÃO – CONSCIÊNCIA 
7.3 PERÍODO SENSORIOMOTOR (DE 0 A 18/24 MESES) 
7.4 PERÍODO PRÉ-CONCEITUAL (DE 2 AOS 4 ANOS) 
7.5 PERÍODO INTUITIVO (DOS 4 AOS 6/7 ANOS) 
7.6 FATORES PREDISPONENTES E ETIOLÓGICOS 
7.7 TRATAMENTO 
8 TDAH 
8.1 INTRODUÇÃO 
8.2 EPIDEMIOLOGIA 
8.3 ETIOLOGIA 
8.4 SUBSTRATO NEUROBIOLÓGICO 
8.5 QUADRO CLÍNICO 
8.6 DIAGNÓSTICO 
8.7 EVOLUÇÃO 
8.8 TRATAMENTO 
 
 
MÓDULO III 
9 TRANSTORNO DE CONDUTA 
9.1 INTRODUÇÃO 
9.2 EPIDEMIOLOGIA 
9.3 DIAGNÓSTICO 
9.4 ETIOLOGIA 
9.5 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL/COMORBIDADE 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 6 
9.6 EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO 
9.7 TRATAMENTO 
10 TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO 
10.1 EPIDEMIOLOGIA 
10.1.1 Aspectos Etiopatogênicos e Fisiopatológicos 
10.2 SÍNDROME DE GILLES DE LA TOURETTE 
10.2.1 Classificação e Características Clínicas 
10.2.2 Tratamento 
10.2.3 Evolução e Prognóstico 
11 TRANSTORNOS ANSIOSOS 
11.1 INTRODUÇÃO 
11.2 FOBIA 
11.3 FOBIA SOCIAL 
11.4 TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA 
11.5 ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO 
11.6 TRANSTORNO DO PÂNICO 
11.7 TRATAMENTO 
12 TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO 
12.1 CONCEITO 
12.1.1 Classificação 
12.1.2 Epidemiologia 
12.1.3 Etiologia 
12.1.4 Quadro Clínico 
 
 
MÓDULO IV 
13 TRANSTORNOS ALIMENTARES 
13.1 ANOREXIA NERVOSA 
13.1.1 Aspectos Clínicos 
13.1.2 Critérios Diagnósticos 
13.1.3 Diagnóstico Diferencial 
13.1.4 Epidemiologia 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 7 
13.1.5 Imagem Corpórea 
13.1.6 Família 
13.1.7 Psicodinâmica 
13.1.8 Etiologia 
13.1.9 Terapêutica 
13.2 BULIMIA NERVOSA 
13.2.1 Etiologia 
13.2.2 Tratamento 
13.3 CONCLUSÃO 
14 OBESIDADE 
14.1 OBESIDADE PSIQUIÁTRICA 
14.1.1 Perfil e Problemas Emocionais do Obeso 
14.1.2 Obesidade e Transtornos Alimentares 
14.1.3 Epidemiologia 
CONCLUSÃO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
GLOSSÁRIO 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 8 
 
 
MÓDULO I 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A Psicopatologia é “uma disciplina científica que estuda a doença 
mental em seus vários aspectos: suas causas, as alterações estruturais e 
funcionais relacionadas, os métodos de investigação e suas formas de 
manifestação (sinais e sintomas)” (CHENIAUX JUNIOR). Comportamentos, 
cognição e experiências subjetivas anormais constituem as formas de 
manifestação das doenças mentais. 
O autor define a semiótica ou semiologia médica como “o estudo dos 
sinais e sintomas das enfermidades, estudo este que inclui a identificação das 
alterações físicas e mentais, a ordenação dos fenômenos observados e a 
formulação de diagnósticos”. 
Os sinais e sintomas são os signos da Psicopatologia, sendo que os 
sintomas são subjetivos, aparecem apenas nas queixas dos pacientes, e os 
sinais objetivos são observáveis. A seguir apresentaremos alguns conceitos 
importantes (baseados no “Manual de Psicopatologia”, de Cheniaux Junior.): 
 Delirium: quadro agudo que se caracteriza por um prejuízo 
cognitivo global, com rebaixamento do nível de consciência. Os quadros de 
delirium ocorrem em função de uma perturbação difusa no metabolismo 
cerebral, que podem ser causados por intoxicações com drogas, abstinência a 
drogas, encefalopatias metabólicas, infecções, epilepsia; traumatismo 
cranioencefálico; doenças cerebrovasculares, tumores intracranianos, doenças 
degenerativas cerebrais, etc. 
 Atenção: processo pelo qual a consciência é direcionada para 
determinado estímulo ou objeto, selecionando-o em detrimento de outros 
objetos. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 9 
 Sensação: fenômeno passivo, físico, periférico e objetivo que 
resulta das alterações produzidas sobre os órgãos sensoriais, por estímulos 
externos. Exemplo: formas e cores em uma fotografia. 
 Percepção: fenômeno psíquico e subjetivo, consciente, resultado 
da integração das impressões sensoriais parciais e da associação destas às 
representações. Está relacionada à identificação, reconhecimento e 
discriminação dos objetos. Exemplo: quadro-negro, carteiras, crianças 
uniformizadas (sentadas) e uma senhora em pé (apontando para o quadro 
negro). Apreensão: uma aula. 
 
Classificação das qualidades sensoriais: 
 
 Exteroceptivas: visuais, auditivas, gustativas, olfativas, cutâneas; 
 Interoceptivas (ou sinestésicas): bem-estar; mal-estar; fome, sede; 
 Proprioceptivas: cinestésicas (movimentos corporais), posição 
segmentar do corpo, equilíbrio, barestesia (sensibilidade à pressão). 
 
 Ilusão: percepção falseada, deformada, de um objeto real e 
presente. É uma deturpação da imagem. 
 Alucinação: é a “percepção sem o objeto” ou a percepção na 
ausência de estímulo externo correspondente. 
 Delírio: é uma alteração relacionada à formação de juízos. 
Segundo Jaspers são juízos patologicamente falsos e possuem asseguintes 
características externas: acompanham-se de uma ideia extraordinária, não são 
susceptíveis à influência e possuem um conteúdo impossível. 
 Amnésia (hipomnésia) anterógrada: também chamada 
hipomnésia de fixação, consiste na dificuldade ou impossibilidade de formar 
novas lembranças de longo prazo. 
 Amnésia (hipomnésia) retrógrada: também conhecida como 
amnésia de evocação, diz respeito à dificuldade de recordar eventos 
anteriores à atuação do fator causal do distúrbio. 
 Hipermnésia de fixação: consiste na capacidade exagerada de 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 10 
armazenamento de novas informações. 
 Hipermnésia de evocação: ocorre um excesso de recordações em 
um breve espaço de tempo, pode ser observada na síndrome maníaca. 
 Hipermnésia lacunar: observada em pacientes com transtorno de 
pânico, em relação à rememoração do primeiro ataque ou no TEPT, como 
relação ao evento traumático. 
 Hipermnésia seletiva: ocorre normalmente na depressão, quanto 
a fatos dolorosos ou que despertem sentimentos de culpa; na mania, quanto a 
sucessos e realizações pessoais e nos quadros delirantes, diz respeito aos 
fatos que pareçam confirmar seu juízo patológico. 
 
 
1 DEFICIÊNCIA MENTAL 
 
 
1.1 CONCEITO 
 
 
No século XX deu-se início ao estabelecimento de uma definição para 
a deficiência mental. Esta diz respeito ao funcionamento intelectual, que seria 
inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à 
dificuldade de adaptação ao entorno. 
A característica essencial dessa é quando a pessoa tem um 
funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de 
notórias limitações no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das 
seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, 
habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de recursos comunitários, 
autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. 
A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados à Saúde (1997) define como: 
 
 
Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 11 
funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por um 
comprometimento, durante o período de desenvolvimento, das 
faculdades que determinam o nível global de inteligência, isto é, das 
funções cognitivas, de linguagem, da motricidade e do 
comportamento social; este pode acompanhar outro transtorno 
mental ou físico, ou ocorrer de modo independentemente. 
 
Essa é também a definição de Deficiência Mental adotada pela AAMR 
(Associação Americana de Deficiência Mental). Na Deficiência Mental, como 
nas demais questões da psiquiatria, a capacidade de adaptação do sujeito ao 
objeto, ou da pessoa ao mundo, é o elemento primordial relacionado à noção 
de “normal”. 
Segundo Weitbrecht (1970) a deficiência mental é descrita como: 
“pessoas em cujo cérebro não ocorrem muitas coisas”, até a proposta em 1959 
pela Associação Americana de Deficiência Mental, que define que: “o 
retardamento mental refere-se ao funcionamento intelectual geral abaixo da 
média, que se origina durante o período de desenvolvimento e está associado 
a prejuízo no comportamento adaptativo” (ROBINSON, 1975; OMS, 1985). 
Habituamos a raciocinar sobre a deficiência mental como uma 
condição em si mesma, um estado patológico bem definido. Contudo, em sua 
maioria, é uma condição mental relativa. A deficiência será sempre relativa em 
relação aos demais indivíduos de uma mesma cultura, pois a existência de 
alguma limitação funcional, principalmente nos graus mais leves, não seria 
suficientes para caracterizar este diagnóstico, se não houver um mecanismo 
social que atribua a essa limitação um valor de morbidade. E esse mecanismo 
social que atribui valores é sempre comparativo, portanto, relativo. 
Ou seja, DM é um estado onde existe uma limitação funcional em 
qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da média geral 
das pessoas pelo sistema social onde se insere a pessoa. Isso significa que 
uma pessoa pode ser considerada deficiente em uma determinada cultura e 
não deficiente em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa satisfazer 
as necessidades dessa cultura. Isso torna o diagnóstico relativo. 
Segundo critérios das classificações internacionais, o início da 
deficiência mental deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um 
transtorno do desenvolvimento e não uma alteração cognitiva, como é a 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 12 
demência. Embora o assunto comporte uma discussão mais ampla, de modo 
acadêmico o funcionamento intelectual geral é definido pelo Quociente de 
Inteligência (QI ou equivalente). 
 
FIGURA 1 - O PROCESSO DE DEFICIÊNCIA MENTAL 
 
FONTE: Adaptado de Anderson, 1981. 
 
 
1.2 EPIDEMIOLOGIA 
 
 
Como a maioria dos problemas psiquiátricos, em nosso meio não há 
estudos que definam sua frequência populacional. Por isso, temos que nos ater 
a dados projetivos, organizados e coletados em outras realidades e sem que, a 
nosso ver, possam ser projetados de forma adequada para o nosso meio. 
As melhores estimativas de deficiência mental, com quociente 
intelectual abaixo de 50, realizadas em países desenvolvidos, sugerem uma 
prevalência ao redor de 3 a 4: 1.000 pessoas (OMS, 1985). 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 13 
1.3 ETIOLOGIA 
 
 
A etiologia da deficiência mental é variável, podendo, de modo geral, 
ser subdividida da seguinte maneira, segundo a OMS, 1968: 
 
 
1.3.1 Fatores Antes da Concepção 
 
 
Fatores que atuam antes da concepção envolvem causas genéticas e 
ambientais, consistindo nos aspectos mais importantes na gênese da 
deficiência mental, a exemplo do que cita Kuo-Tai (1988), com cifras da ordem 
de 50% da população estudada por esse autor. 
 
 
1.3.2 Fatores Genéticos 
 
 
Entre os fatores genéticos há os que estão relacionados a um único 
gene e os que se devem a vários (CUNHA, 1992). 
 
 
1.3.3 Fatores Químicos 
 
 
Estes são representados principalmente pela ação de fatores tóxicos 
que provocam lesão cerebral na criança. O próprio oxigênio, usado 
frequentemente na reanimação de crianças recém-nascidas, está relacionado à 
fibroplasia retroletal, causadora de intenso deficit visual. Do mesmo modo, são 
descritas intoxicações por chumbo pós-ingestão de alimentos que o contenha 
(STERN, 1972). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 14 
1.3.4 Fatores Nutricionais 
 
 
Privações diversas podendo ser estas sensoriais, sociais, familiares. 
Sendo necessário serem vistas com bastante cuidado, pois se sobrepõem a 
diversos outros fatores causais, tornando-se quase impossível a sua 
separação. 
 
 
1.4 DIAGNÓSTICO 
 
 
As crianças com deficiência mental têm de ser submetidas a uma 
bateria de avaliações que possibilite o esclarecimento da provável etiologia do 
quadro. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 15 
FIGURA 2- ETIOPATOGENIA DA DEFICIÊNCIA MENTAL 
 
FONTE: Lira-Ramos, T. C. In: Assumpção Junior, F. B.; Spiorei, M. H., 1992. 
 
 
1.5 CLASSIFICAÇÃO 
 
 
A classificação da deficiência mental também é ampla, uma vez que 
ela não corresponde a uma ruptura no desenvolvimento intelectual do 
indivíduo, estabelecendo, assim, um conceito de patologia. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 16 
 
Classificação da OMS (Organização Mundial da Saúde) 
QI Denominação Nível Cognitivo (Piaget) Idade Mental 
Menor de 20 Profundo Sensório-Motriz 0-2 anos 
Entre 20-35 Agudo Grave Sensório-Motriz 0-2 anos 
Entre 36-51 ModeradoPré-Operativo 2-7 anos 
Entre 52-67 Leve Operações Concretas 7-12 anos 
 
 
FIGURA 3 – CLASSIFICAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS 
MENTAIS 
 
FONTE: Comitê de Experts em Saúde Mental da OMS, 1968. 
 
 
1.6 TRATAMENTOS 
 
 
Alterações de conduta são em geral associadas à deficiência mental 
pelo próprio conceito de deficit adaptativo que ele implica. Assim sendo, a 
utilização da psicofarmacologia é frequente e de extrema importância. Sua 
utilização segue, no entanto, as mesmas normas do uso das drogas em 
Psiquiatria (ASSUMPÇÃO JUNIOR, 1991). A Psicologia como ciência pode 
contribuir por meio de técnicas de apoio e a Neuropsicologia com a reabilitação 
cognitiva e social. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 17 
 
2 TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO 
 
 
2.1 CONCEITO 
 
 
Os transtornos invasivos do desenvolvimento contemplam o autismo, a 
Síndrome de Aspenger, a Síndrome de Rett, o Transtorno Desintegrativo da 
Infância e uma categoria residual denominada transtornos invasivos do 
desenvolvimento, sem outra especificação. 
O conceito atual de transtorno invasivo do desenvolvimento (TID) 
surgiu na década de 60, proveniente principalmente dos trabalhos de M. Rutter, 
I. Kolvin e D. Cohen. A mudança do título Journal of Autism and Childhood 
Schizophrenia para Journal of Autism and Development Disorders ao final dos 
anos 70, bem como a publicação do DSM-III, poderiam ser considerados 
marcos essenciais desse conceito. 
O fenótipo proposto para o TID inclui manifestações em três domínios: 
social, da comunicação e do comportamento. A interação social está 
qualitativamente prejudicada, bem como as habilidades de comunicação. O 
padrão de comportamento e os interesses são restritos, tendendo a ser 
estereotipados e repetitivos. 
Recentemente, os pesquisadores estão tentando olhar além do 
comportamento observável, por meio da busca de endofenótipos, fenótipos 
internos constituídos por medidas bioquímicas, neurofisiológicas, 
neuroanatômicas e neuropsicológicas (STERN, 1972). No campo da pesquisa 
do TID, alguns endofenótipos têm sido estudados, tais como os modelos da 
Teoria da Mente, o desempenho de coerência central, a função executiva, as 
estratégias de varredura visual, entre outros. 
Esses endofenótipos podem ser mais facilmente relacionados aos 
neurocircuitos e às suas funções. Além disso, eles têm permitido estudos de 
genes candidatos. É fato que o desenvolvimento na área tem se apoiado, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 18 
sobretudo, no desenvolvimento da neurociência; entretanto, a proposta de 
novos modelos de compreensão, tais como o conceito de transtornos do 
espectro do autismo (TEA), foi também extremamente importante. Para 
entender melhor o TEA, seria importante termos melhores definições de todas 
as categorias de TID. 
Hoje em dia, os protótipos de TID, Transtorno Autista (TA) e Síndrome 
de Aspenger são bem conhecidos e duas categorias que não se assemelham 
ao Autismo, à Síndrome de Rett e ao Transtorno Desintegrativo, também estão 
bem caracterizadas. A categoria residual é denominada TID-SOE (transtorno 
invasivo de desenvolvimento - sem outra especificação) e não possui critérios 
específicos. A classificação de crianças que não se encaixam em nenhum 
outro TID deve ser colocada nesta condição (WALKER et al., 2004). 
 
 
FIGURA 4 – O CONTINUUM AUTÍSTICO 
 
FONTE: Wing, 1988. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 19 
 
2.2 EPIDEMIOLOGIA 
 
 
Inicialmente a prevalência do autismo era estimada em 4 a 5: 10.000 
pessoas, porém recentes estudos chegam aos índices da ordem de 2: 1.000 
pessoas apresentando a tríade de deficit social, comunicacional e de atividade 
imaginativa (BRYSON, 1997). 
 
 
2.3 DIAGNÓSTICO 
 
 
2.3.1 Autismo 
 
 
O autismo está classificado na subcategoria dos transtornos invasivos 
do desenvolvimento. Ele inclui prejuízos na interação social, na comunicação, 
padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses, atividades, e tem 
início antes dos três anos de idade (APA, 1994). 
As manifestações clínicas variam amplamente em termos de níveis de 
gravidade, algumas crianças, conhecidas como “autistas de alto 
funcionamento”, podem chegar a se desenvolver de maneira parcial e 
relativamente independente e apresentar nível intelectual dentro da 
normalidade, o que lhes permite condições de manifestarem-se em relação às 
suas percepções de qualidade de vida (QV) (KLIN et al., 2000). 
 
Autismo é uma síndrome presente desde o nascimento e se 
manifesta antes dos 30 meses de idade. O comportamento é 
usualmente ritualístico e pode incluir rotinas de vida anormais, 
resistências a mudanças, ligação a objetos estranhos e um padrão de 
brincar estereotipados. A capacidade para pensamento abstrato 
simbólico ou para jogos imaginativos fica diminuída. A inteligência 
varia muito, de subnormal, normal ou acima (OMS, 1984). 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 20 
QV é um conceito subjetivo que inclui a percepção do indivíduo em sua 
posição na vida, no contexto cultural e no sistema de valores em que vive e em 
relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações, segundo o 
instrumento de avaliação de qualidade de vida – WHOQOL (1998) – anexo I. 
 
Psicopatologia da linguagem do autista é caracterizada por: 
o Mutismo; 
o Emissão de orações completas em situação emergente; 
o Emprego da negação simples como “proteção mágica”; 
o Literalidade; 
o Inacessibilidade; 
o Ecolalia imediata; 
o Ecolalia retardada; 
o Inversão pronominal; 
o Evitação pronominal; 
o Linguagem metafórica; 
o Dificuldades de compreensão; 
o Escassez de vocabulário; 
o Emprego de neologismos; 
o Dificuldades articulatórias; 
o Escassez de perguntas e informações com valor informativo; 
o Falta de intenção comunicativa; 
o Dificuldade para compreender e utilizar gestos; 
o Frequência de imperativos; 
o Alterações de tom, ritmo e inflexão; 
o Limitações do out put verbal; 
o Falta de correspondência entre prosódia e sentido; 
o Interesse pelo som sem captar o sentido; 
o Falta de coordenação entre os gestos e emissões verbais; 
o Crianças autistas geralmente têm deficiência mental associada 
em até 75% dos casos. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 21 
Em relação à sua inteligência são poucas as crianças autistas com 
inteligência normal ou acima da média que podem apresentar altas habilidades 
acadêmicas e serem confundidas com superdotadas. No autismo infantil, a 
criança sempre apresenta o QI executivo maior que o QI verbal - WISC. 
 
 
FIGURA 5 – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
 
FONTE: Wing, 1988. 
 
2.3.2 Síndrome de Aspenger 
 
 
Descrita por Aspenger em 1994, sob a designação “psicopatia 
autística”, correspondendo a um quadro caracterizado por deficit na 
sociabilidade, interesses circunscritos, deficit de linguagem e na comunicação 
(BOWMAN, 1988; SZATAMARI, 1991). 
Alguns sintomas de Asperger são: QI verbal maior do que o QI 
executivo (WISC); inteligência normal ou alta; dificuldade de interação social e 
empatia com pedantismo na fala; interpretação muito literal da linguagem; 
dificuldade com mudanças, perseveração em comportamentos estereotipados; 
alguns são hiperléxicos. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 22 
2.3.3 Transtornos Desintegrativos 
 
 
O transtorno desintegrativo da infância (TDI) possui um histórico mais 
longo do que o autismo. Foi inicialmente descrito por Heller, em 1908. Heller 
relatou seis casos de crianças jovens que, após um desenvolvimento 
aparentemente normal nos primeiros três a quatro anos devida, apresentaram 
uma perda muito grave das habilidades sociais e comunicativas. 
Heller denominou a condição dementia infantilis. Essa definição é 
insatisfatória: primeiro porque a condição não é comparável à demência, no 
sentido de que as características de perda de memória e de habilidades 
executivas não são proeminentes; e, em segundo lugar, porque nenhuma 
causa orgânica da trajetória do prejuízo pode ser encontrada. 
No DSM-III, a síndrome de Heller foi, pela primeira vez, introduzida em 
um sistema de classificação psiquiátrica. Foi incluída sob a categoria 
abrangente de TID, pois a perda das habilidades sociais e comunicativas era 
muito proeminente. No entanto, o TDI não é caracterizado em seu curso pela 
deterioração continuada nem por nenhum progresso. Em outras palavras, após 
a regressão dramática no início, chega-se a um status quo, mas um tremendo 
impacto no desenvolvimento pode ser observado durante toda a vida. 
A etiologia ainda é desconhecida. Portanto, é possível que o TDI esteja 
fadado a desaparecer como categoria quando os instrumentos diagnósticos 
tornarem possível determinar as causas genéticas, metabólicas ou infecciosas 
envolvidas nesses casos ainda inexplicados. Um relato de caso aponta para 
um possível vínculo genético com o autismo em um caso em que o autismo e o 
TDI ocorreram em dois meios-irmãos. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 23 
 
2.3.4 Síndrome de Rett 
 
 
Esse transtorno foi identificado em 1966 por Andréas Rett, mas 
somente após o trabalho de Hagberg tornou-se mais conhecido. Nesse mesmo 
trabalho foi proposto o epônimo síndrome de Rett (SR). A descrição original de 
Rett enfatizava a deterioração neuromotora, predominância em mulheres, 
sinais e sintomas particulares, a presença de hiperamonemia, tendo sido 
denominada “Atrofia Cerebral Associada à Hiperamonemia”. 
A perda dos movimentos propositais das mãos, a torção estereotipada 
das mãos e a hiperventilação são características deste transtorno. O 
desenvolvimento social e o desenvolvimento lúdico estão detidos enquanto o 
interesse social continua em geral conservado. A partir da idade de quatro anos 
manifesta-se uma ataxia do tronco e uma apraxia, seguidas frequentemente 
por movimentos coreoatetósicos. O transtorno leva quase sempre a um retardo 
mental grave (CID10). 
 
 
2.3.5 Transtornos Invasivos do Desenvolvimento sem Outra 
 
 
O TID-SOE é uma categoria diagnóstica de exclusão, então possui 
regras especificadas para sua aplicação. Alguém pode ser classificado como 
portador de TID-SOE se preencher critérios no domínio social e mais um dos 
dois outros domínios (comunicação ou comportamento). Além disso, é possível 
considerar a condição mesmo se a pessoa possuir menos do que seis 
sintomas no total (o mínimo requerido para o diagnóstico do autismo), ou idade 
de início maior do que 36 meses. 
Se o acordo entre os clínicos é alto para os diagnósticos de autismo, o 
mesmo não é verdadeiro no caso do TID-SOE. Ainda que os estudos 
epidemiológicos tenham sugerido que o TID-SOE seja duas vezes mais comum 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 24 
do que o TA, essa categoria continua a estar subinvestigada. Hoje em dia, 
diferentes categorizações têm sido propostas, algumas baseadas no enfoque 
fenomenológico descritivo, outras baseadas em outras perspectivas teóricas, 
tais como a Neuropsicologia. 
Subcategorias propostas, baseadas em descrição clínica: 
 Transtorno de desenvolvimento múltiplo e complexo; 
 Transtorno de evitação patológica às demandas; 
 Transtorno de prejuízo multidimensional (TPM); 
 Transtorno esquizoide infantil; 
 Transtornos de vinculação. 
 
 
2.4 TEORIAS NEURAIS DE AUTISMO 
 
 
 Hipótese do lobo temporal médio; 
 Hipótese cerebelar; 
 Hipótese frontoestriada. 
 
 
2.5 TRATAMENTO 
 
 
Uma vez diagnosticado um caso de criança com um transtorno 
autístico, deve-se priorizar as técnicas pedagógicas de tratamento e a 
orientação aos pais e familiares. Um dos principais objetivos do tratamento 
destas crianças é o desenvolvimento de suas aptidões e habilidades 
linguísticas e de comunicação, visando sua maior autonomia. 
A abordagem terapêutica nesses quadros deve englobar, segundo 
Rutter (1994): cuidados médicos e tratamento das condições médicas, quando 
presentes. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 25 
 
 Educação Especial: 
o Classes ou escolas especializadas; 
o Serviços auxiliares e outros recursos pedagógicos. 
 
 Suporte Familiar: 
o Métodos comportamentais; 
o Grupos de desenvolvimento social. 
 Tratamento de fala e linguagem. 
 Outras terapias. 
 
 
3 TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM 
 
 
Transtornos nos quais as modalidades esperadas de aquisição da 
linguagem estão comprometidas desde os primeiros estágios do 
desenvolvimento. Não são diretamente atribuíveis a comprometimentos 
sensoriais, anomalias anatômicas do aparelho fonador, anomalias 
neurológicas, retardos mentais ou a fatores ambientais. 
Os transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem 
se escoltam com frequência em problemas associados, tais como transtornos 
emocionais e transtornos comportamentais, dificuldades da leitura e da 
soletração, perturbação das relações interpessoais (DSM-IV, 1994). 
 
 
3.1 TRANSTORNO ESPECÍFICO DA ARTICULAÇÃO DA FALA 
 
 
Transtorno específico do desenvolvimento na qual a utilização dos 
fonemas pela criança é inferior ao nível correspondente à sua idade mental, 
mas no qual o nível de aptidão linguística é normal. 
 
 
 
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 26 
 
3.2 TRANSTORNO EXPRESSIVO DE LINGUAGEM 
 
 
Transtorno específico do desenvolvimento no qual as capacidades da 
criança de utilizar a linguagem oral são nitidamente inferiores ao nível 
correspondente à sua idade mental, mas no qual a compreensão da linguagem 
se situa nos limites normais. O transtorno pode se acompanhar de uma 
perturbação da articulação. 
 
 
3.3 TRANSTORNO RECEPTIVO DA LINGUAGEM 
 
 
Transtorno específico do desenvolvimento no qual a capacidade de 
compreensão da linguagem pela criança está abaixo do nível correspondente à 
sua idade mental. Em quase todos os casos, a linguagem expressiva estará 
também marcadamente prejudicada e são comuns anormalidades na 
articulação. 
 
 
3.4 AFASIA ADQUIRIDA COM EPILEPSIA [SÍNDROME DE LANDAU-
KLEFFNER] 
 
 
Transtorno no qual a criança, tendo feito anteriormente progresso 
normal no desenvolvimento da linguagem, perde tanto a habilidade de 
linguagem receptiva quanto expressiva, mas mantém uma inteligência normal; 
a ocorrência do transtorno é acompanhada de anormalidades paroxísticas no 
EEG e, na maioria dos casos, há também convulsões epilépticas. 
Usualmente o início se dá entre os três e os sete anos, sendo que as 
habilidades são perdidas no espaço de dias ou de semanas. A associação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 27 
temporal entre o início das convulsões e a perda de linguagem é variável com 
uma precedendo a outra (ou inversamente) por alguns meses a dois anos. Tem 
sido sugerido como possível causa deste transtorno um processo inflamatório 
encefalítico. Cerca de dois terços dos pacientes permanecem com um deficit 
mais ou menos grave da linguagem receptiva. 
 
 
4 TRANSTORNOS DE ESCOLARIDADE 
 
 
4.1 INTRODUÇÃO 
 
 
Uma criança pode ter dificuldades para aprender por vários motivos: 
retardo mental, paralisia cerebral, epilepsia e prejuízos sensoriais podem 
interferir no processo de aprendizagem. Neste capítulo estudaremos a criança 
cuja dificuldade de aprendizagemnão seja resultado direto dessas ou de outras 
condições incapacitantes ou privações. Ao contrário, elas apresentam prejuízos 
em algum aspecto do desenvolvimento visuoperceptivo e da linguagem, que 
interferem na aprendizagem. 
 
 
4.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM 
 
 
A primeira definição de que se tem relato é a proposta por Kirk (1963, 
p., afirmando que: 
 
Uma dificuldade de aprendizagem refere-se a um 
retardamento, transtorno, ou desenvolvimento lento em um ou 
mais processos da fala, linguagem, leitura, escrita, aritmética 
ou outras áreas escolares, resultantes de um ‘handicap’ 
causado por uma possível disfunção cerebral e/ou alteração 
emocional ou condutual. Não é o resultado de retardamento 
mental, de privação sensorial ou fatores culturais e 
instrucionais. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 28 
Em 1977, o National Advisory Committee on Handicapped Children 
(NACHC), criado pelo Bureau of Education for the Handicapped dentro da U. S. 
Office of Education (USOE) publicou a seguinte definição: 
 
As crianças com dificuldades de aprendizagem especiais 
(específicas) manifestam um transtorno em um ou mais 
processos psicológicos básicos na compreensão ou no uso da 
linguagem falada ou escrita. Estes podem manifestar-se em 
transtornos da audição, do pensamento, da fala, da leitura, da 
escrita, da silabação ou da aritmética. Incluem condições que 
foram referidas como ‘handicaps’ perceptivos, lesão cerebral, 
disfunção cerebral mínima, dislexia, afasia do desenvolvimento, 
etc. Não incluem problemas de aprendizagem devido 
primariamente a ‘handicaps’ visuais, auditivos ou motores, ao 
retardamento mental, alteração emocional ou à desvantagem 
ambiental. 
 
Porém atualmente essas definições possuem apenas valor histórico, 
pois nos EUA a definição de grande consenso foi apresentada pelo Nacional 
Joint Committee on Learning Disabilities no ano de 1988. Esta definição 
expressa a essência do que podemos entender como dificuldade de 
aprendizagem sob os vários aspectos, educativos, social e outros, sendo ele: 
 
Dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a 
um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por 
dificuldades significativas na aquisição e uso da escuta, da fala, 
leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses 
transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se que são 
devidos à disfunção do Sistema Nervoso Central, e podem 
ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as 
dificuldades de aprendizagem, problemas nas condutas de 
autorregulação, percepção social e interação social, mas não 
constituem, por si próprias, uma dificuldade de aprendizagem. 
Ainda que as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer 
concomitantemente com outras condições incapacitantes (por 
exemplo, deficiência sensorial, retardo mental, transtornos 
emocionais graves), ou com influências extrínsecas (tais como 
as diferenças culturais, instrução inapropriada ou insuficiente), 
não são o resultado dessas condições ou influências.” 
 
A Organização Mundial de Saúde, na Classificação Internacional de 
Doenças – CID-10 (OMS, 1992), denomina-os de Transtornos Específicos do 
Desenvolvimento das Habilidades Escolares – F81, e os coloca no bloco dos 
Transtornos do Desenvolvimento Psicológico – F80. A Associação Psiquiátrica 
Americana, no seu Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 29 
(APA, 1995), apresenta definições também descritivas, no sentido de que não 
propõem causas nem teorias na base destas definições. 
A definição destes transtornos - conforme o DSM-IV (1994) - é: 
 
Um funcionamento acadêmico substancialmente abaixo do 
esperado, tendo em vista a idade cronológica, medidas de 
inteligência e educação apropriadas para a idade. Essas 
inabilidades não se devem a transtornos físicos ou 
neurológicos demonstráveis ou a um transtorno global do 
desenvolvimento, ou a um retardo mental. Atualmente acredita-
se que estes transtornos têm origem em anormalidades do 
processo cognitivo, derivadas, em grande parte, de algum tipo 
de disfunção biológica. 
 
 
4.3 TRANSTORNOS DA APRENDIZAGEM E SEUS SUBTIPOS 
 
 
No DSM-IV encontramos que a estes transtornos se incluem transtorno 
de leitura, de matemática, da expressão escrita e da aprendizagem sem outra 
especificação (APA, 1995). Outras classificações, baseadas no desempenho 
acadêmico, como a do Ministério da Educação dos EUA (1977), especifica sete 
áreas nas quais a criança deve apresentar significativa dificuldade: expressão 
oral, expressão escrita, compreensão oral, habilidades básicas de leitura, 
compreensão de leitura, cálculo matemático, e raciocínio matemático. 
Com o avanço dos estudos, a subdivisão dos transtornos da 
aprendizagem deve ser implementada, considerando principalmente as bases 
biológicas destes transtornos. 
 
 
4.4 PREVALÊNCIA 
 
 
A prevalência atual deste, segundo a literatura americana, na 
população escolar, ou seja, de seis a 17 anos, é de aproximadamente quatro a 
cinco por cento, contando cerca de dois milhões de crianças (RUTTER, 1994). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
Além de que a predominância conforme o sexo tem caído em desuso, pois 
cada vez mais se sabe que meninas respondem de forma diferente no contexto 
escolar, além de manifestarem características distintas quando portadoras 
desses. 
 
 
4.5 PROBLEMAS ESCOLARES QUE “SIMULAM” OS TRANSTORNOS DE 
APRENDIZAGEM 
 
 
Algumas crianças que não são portadoras desses transtornos podem 
apresentar dificuldades na aprendizagem escolar como consequência de 
outros problemas ao longo do desenvolvimento, tais como doenças crônicas, 
problemas psicossociais, carências globais, dentre outros. Alterações agudas 
do SNC, como meningite, encefalite e traumatismos cranioencefálicos podem 
prejudicar o desenvolvimento e acarretar dificuldades na aprendizagem. 
 
 
4.6 IDENTIFICAÇÃO DIAGNÓSTICA E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 
 
 
Na fase escolar o diagnóstico é clínico, descritivo e podem ser 
realizados testes padronizados (WISC, Bender, testes visuoperceptivos, etc.), 
aplicados individualmente, para leitura matemática ou expressão escrita, que 
devem se apresentar significativamente abaixo do esperado para a idade, 
escolarização e nível de inteligência (APA, 1995). 
Além de que, considerando uma avaliação psiquiátrica, podemos dividir 
os transtornos que interferem na aprendizagem nos seguintes grupos: 
 
 Prejuízos sensoriais: auditivos, visuais, perceptivos; 
 Transtornos relacionados com o atraso do desenvolvimento 
neuropsicomotor: retardo mental e transtornos abrangentes do 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 31 
desenvolvimento; 
 Grupo dos comportamentos disruptivos: TDAH e suas variáveis, 
transtornos de linguagem; 
 Grupo dos transtornos que aparecem num determinado tempo do 
desenvolvimento em diante: transtornos do humor, de ansiedade, 
fobia e pânico. 
 
FIGURA 6 – FLUXOGRAMA DE AVALIAÇÃO DO DEFICT DE 
APRENDIZAGEM 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 32 
4.7 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO 
 
 
As estratégias de intervenção devem prever o tratamento (ou 
reabilitação) dos prejuízos associados, tais como prejuízos cognitivos, de 
atenção, de percepção e sensoriais, e considerar imaturidade, desmotivação e 
impulsividade, frequentemente associados aos transtornos de aprendizagem. 
A participação da família no processo de intervenção é fundamental, 
tanto dando suporte e apoio no treinamento acadêmico, quanto no estímulo, 
motivação e continência para as dificuldades emocionais da criança. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
 
Os transtornosespecíficos da aprendizagem aparecem em crianças 
com inteligência dentro dos padrões de normalidade, que falham no processo 
de aprendizagem, e isto não pode ser atribuído a nenhuma outra condição 
incapacitante. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
 
ANEXO I 
VERSÃO EM PORTUGUÊS DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 
DE QUALIDADE DE VIDA (WHOQOL) 1998 
Instruções 
Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua 
qualidade de vida, saúde e outras áreas de sua vida. Por favor, 
responda a todas as questões. Se você não tem certeza sobre 
que resposta dar em uma questão, por favor, escolha entre as 
alternativas a que lhe parece mais apropriada. Esta, muitas 
vezes, poderá ser sua primeira escolha. 
Por favor, tenha em mente seus valores, aspirações, prazeres e 
preocupações. Nós estamos perguntando o que você acha de 
sua vida, tomando como referência as duas últimas semanas. 
Por exemplo, pensando nas últimas duas semanas, uma 
questão poderia ser: 
 Nada 
Muito 
pouco 
Médio Muito Completamente 
Você 
recebe 
dos outros 
o apoio de 
que 
necessita? 
1 2 3 4 5 
Você deve circular o número que melhor corresponde ao quanto você 
recebe dos outros o apoio de que necessita nestas últimas duas semanas. 
Portanto, você deve circular o número 4 se você recebeu "muito" apoio 
como abaixo. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 34 
 Nada 
Muito 
pouco 
Médio Muito Completamente 
Você 
recebe 
dos outros 
o apoio de 
que 
necessita? 
1 2 3 5 
 
Você deve circular o número 1 se você não recebeu "nada" de apoio. 
 
Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no 
número que lhe parece a melhor resposta. 
 Muito ruim Ruim 
Nem ruim, 
nem boa 
Boa 
Muito 
boa 
1 
Como 
você 
avaliaria 
sua 
qualidade 
de vida? 
1 2 3 4 5 
 
Muito 
insatisfeito 
Insatisfeito 
Nem 
satisfeito, 
nem 
insatisfeito 
Satisfeito 
Muito 
satisfeito 
2 Quão 1 2 3 4 5 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 35 
satisfeito 
(a) você 
está com 
a sua 
saúde? 
 
As questões seguintes são sobre o quanto você 
tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas. 
 Nada 
Muito 
pouco 
Mais ou 
menos 
Bastante Extremamente 
3 
Em que 
medida você 
acha que sua 
dor (física) 
impede você 
de fazer o que 
você precisa? 
1 2 3 4 5 
4 
O quanto você 
precisa de 
algum 
tratamento 
médico para 
levar sua vida 
diária? 
1 2 3 4 5 
5 
O quanto você 
aproveita a 
vida? 
1 2 3 4 5 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 36 
6 
Em que 
medida você 
acha que a 
sua vida tem 
sentido? 
1 2 3 4 5 
7 
O quanto você 
consegue se 
concentrar? 
1 2 3 4 5 
8 
Quão seguro 
(a) você se 
sente em sua 
vida diária? 
1 2 3 4 5 
9 
Quão 
saudável é o 
seu ambiente 
físico (clima, 
barulho, 
poluição, 
atrativos)? 
1 2 3 4 5 
 
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem 
sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas duas semanas. 
 Nada 
Muito 
pouco 
Médio Muito Completamente 
10 
Você tem energia 
suficiente para 
1 2 3 4 5 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 37 
seu dia a dia? 
11 
Você é capaz de 
aceitar sua 
aparência física? 
1 2 3 4 5 
12 
Você tem dinheiro 
suficiente para 
satisfazer suas 
necessidades? 
1 2 3 4 5 
13 
Quão disponíveis 
para você estão 
as informações 
que precisa no 
seu dia a dia? 
1 2 3 4 5 
14 
Em que medida 
você tem 
oportunidades de 
atividade de 
lazer? 
1 2 3 4 5 
 
 As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a 
respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas. 
 Muito ruim Ruim 
Nem ruim, 
nem bom 
Bom 
Muito 
bom 
15 
Quão bem 
você é capaz 
de se 
1 2 3 4 5 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 38 
locomover? 
 
Muito 
insatisfeito 
Insatisfeito 
Nem 
satisfeito, 
nem 
insatisfeito 
Satisfeito 
Muito 
satisfeito 
16 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com o seu 
sono? 
1 2 3 4 5 
17 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com sua 
capacidade 
de 
desempenhar 
as atividades 
do seu dia a 
dia? 
1 2 3 4 5 
18 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com sua 
capacidade 
para o 
trabalho? 
1 2 3 4 5 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 39 
19 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
consigo 
mesmo? 
1 2 3 4 5 
20 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com suas 
relações 
pessoais 
(amigos, 
parentes, 
conhecidos, 
colegas)? 
1 2 3 4 5 
21 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com sua vida 
sexual? 
1 2 3 4 5 
22 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com 
o apoio que 
você recebe 
de seus 
amigos? 
1 2 3 4 5 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 40 
23 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com 
as condições 
do local onde 
mora? 
1 2 3 4 5 
24 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com o 
seu acesso 
aos serviços 
de saúde? 
1 2 3 4 5 
25 
Quão 
satisfeito (a) 
você está 
com 
o seu meio 
de 
transporte? 
1 2 3 4 5 
As questões seguintes referem-se a com que frequência você sentiu ou 
experimentou certas coisas nas últimas duas semanas. 
 Nunca 
Algumas 
vezes 
Frequentemente 
Muito 
frequentemente 
Sempre 
26 
Com que 
frequência 
você tem 
1 2 3 4 5 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 41 
sentimentos 
negativos, 
tais como 
mau humor, 
desespero, 
ansiedade, 
depressão? 
Alguém lhe ajudou a preencher este questionário? 
Quanto tempo você levou para preencher este questionário? 
Você tem algum comentário sobre o questionário? 
OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 42 
ANEXO II 
 
 
Estudo de Caso 
 
Richard, um primogênito de três anos e meio, foi encaminhado por 
solicitação de seus pais por causa de seu desenvolvimento desigual e 
comportamento anormal. O parto fora difícil e ele necessitou de oxigênio ao 
nascer. Sua aparência física, desenvolvimento motor e habilidade de autoajuda 
eram adequados, mas seus pais preocupam-se com ele desde os primeiros 
meses de vida, por sua falta de resposta ao contato social e jogos costumeiros 
de bebês. Comparações com seu segundo filho que, diferente de Richard, 
gostava de comunicação social desde os primeiros meses, confirmaram seus 
temores. 
Richard parecia ser autossuficiente e distanciado de outras pessoas. Ele 
não saudava a mãe pela manhã, ou o pai quando este voltava do trabalho; 
contudo, se deixado com a babá, tendia a gritar grande parte do tempo. Ele 
não demonstrava interesse por outras crianças e ignorava seu irmão mais 
novo. Seus balbucios não tinham entonação de conversa. Aos três anos, ele 
conseguia compreender instruções práticas simples. Sua fala consistia de 
ecoar algumas palavras e frases que ouvira no passado, com o acento e 
entonação originais do falante; ele conseguia usar apenas uma ou duas 
expressões para indicar as suas necessidades simples. Por exemplo, se ele 
dizia “Você quer beber?”, isto significava que ele estava com sede. Ele não se 
comunicava com expressões faciais, gestos ou mímica, exceto para puxar 
alguém e colocar a mão desta pessoa em um objeto que desejava. 
Ele mostrava fascinação por luzes brilhantes e objetos giratórios e fitava-
os rindo, sacudindo as mãos e dançando na ponta dos pés. Ele também exibiaos mesmos movimentos enquanto escutava música, que apreciava desde 
bebê. Era intensamente apegado a um carrinho de brinquedo, que mantinha 
em sua mão dia e noite, mas jamais brincava de forma imaginativa com este ou 
com qualquer outro brinquedo. Ele era capaz de montar quebra-cabeças 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 43 
rapidamente (com uma mão, porque a outra segurava o carrinho), quer o lado 
com a figura estivesse exposto ou escondido. Desde os dois anos ele 
colecionava utensílios de cozinha e arranjava-os em padrões repetitivos por 
todos os cômodos da casa. Esta ocupação, juntamente com períodos 
ocasionais de correrias sem objetivo, constituía todo o seu repertório de 
atividades espontâneas. 
O principal problema no manejo era a intensa resistência de Richard a 
qualquer tentativa no sentido de alterar ou expandir seus interesses. A 
remoção de seu carrinho, ou desarranjo em seus quebra-cabeças ou padrões 
de arrumação dos utensílios de cozinha ou até mesmo o simples fato de 
recolher, por exemplo, uma colher para uso legítimo na cozinha, ou tentar fazê-
lo olhar para um livro de figuras, precipitavam ataques coléricos que podiam 
durar uma hora ou mais, com gritos, chutes e mordidas sem si mesmo ou em 
outros. Esses ataques podiam ser encurtados, restaurando-se a situação 
anterior. De outro modo, tocar sua música favorita ou um longo passeio de 
automóvel, às vezes, acalmavam-no. 
Seus pais pensavam que Richard fosse surdo, mas seu amor pela 
música, seus ecos perfeitos e sua sensibilidade a sons muito baixos, tais como 
aqueles feitos ao desembrulhar um chocolate no aposento ao lado, 
convenceram-nos de que esta não era a causa de seu comportamento 
anormal. Testes psicológicos davam-lhe uma idade mental de três anos em 
habilidades independentes (tarefas de encaixar e montar), mas apenas 18 
meses na compreensão da linguagem. 
 
Discussão 
 
Richard demonstra acentuado prejuízo na interação social e na 
comunicação verbal e não verbal em repertório acentuadamente restrito de 
atividades, tudo começando nos primeiros meses de vida. Ele não parece 
interessar-se por outras crianças e jamais deseja fazer “brincadeiras de bebê” 
com os pais. Sua fala é limitada e peculiar (ecoando palavras e frases de 
outros) e suas brincadeiras são anormais, no sentido de que ele nunca se 
 
 
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engaja em jogos imaginativos. Seus interesses são acentuadamente restritos e 
estereotipados (montar quebra-cabeças e formar padrões com objetos de 
cozinha) e ele possui maneirismos motores estereotipados (balançar as mãos). 
Esses comportamentos, iniciados antes dos três anos de idade, são os sinais 
característicos de um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Transtorno 
Autista. 
FONTE: DSM-IV. Casos Clínicos - Transtornos Mentais em Crianças e Adolescentes, p. 65. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO I

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