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REVISAO ANTROPOLOGIA I UNIDADE

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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
ANTROPOLOGIA DA EDUCAÇÃO 
 Introdução
Antropologia
Etnografia
Etnocentrismo
Relativismo
Alteridade
Cultura
Antropologia da Educação
O homem como educador
Conceitos Gerais
Como de costume, vamos começar a unidade com algumas reflexões que nos permitam pensar sobre o tema. E a nossa primeira provocação é a seguinte: A sociedade atual está cercada de exemplos de preconceitos e falta de respeito. Pense em alguns exemplos e imagine como seria o mundo sem o preconceito. Parece muito utópico um mundo sem preconceito? Por que parece tão difícil respeitar as diferenças sociais e culturais? Por que os grupos não conseguem viver harmonicamente em sociedade? Como a Educação pode modificar algumas práticas sociais que prejudicam a vida em sociedade? Qual o papel do professor nisso tudo?
São muitas questões! 
E acredito que cheguemos a respostas simples, sobretudo porque estamos tratando de temas bastante complexos. A intenção aqui é que juntos possamos refletir sobre as questões colocadas.
Antes, porém, vamos definir o que é Antropologia? 
Antropologia
De acordo com o dicionário virtual Dicio, Antropologia é a ciência que se dedica ao estudo do homem (espécie humana) em sua totalidade, tendo em conta sua origem, desenvolvimento (físico, social, cultural), comportamento, psicologia, particularidades raciais, hábitos, costumes, conhecimentos, crenças etc. Parece muita coisa para uma ciência estudar? E realmente é. Por isso é comum a Antropologia ser dividida em alguns ramos que buscam elementos específicos.[1: Dicio: in: http://www.dicio.com.br/antropologia/ acesso em 31/10/2015.]
A seguir explicaremos cada uma dessas vertentes da Antropologia. Mas, antes que tal fazer um passeio pela história da Antropologia? E à medida que damos essa volta na história da Antropologia, irei explicar melhor o que cada uma dessas vertentes estuda em especial. 
Prontos para esse passeio? Vamos lá!
A Antropologia enquanto ciência é uma construção muito recente. Tendo sido organizada e ganhando o status de ciência apenas em meados do século XIX, principalmente pelas descobertas de Charles Darwin. Você deve estar se perguntando se esse Charles Darwin é o mesmo da teoria do evolucionismo. E a resposta é sim. Darwin tem uma importância muito grande para a Antropologia. Falaremos dessa importância daqui a pouco.
Antes, devemos dizer que embora o status de ciência da Antropologia tenha sido reconhecido apenas no século XIX – como já dissemos – muitos saberes sobre a Antropologia remontam à Antiguidade Clássica. Desde que o homem vive e se organiza em sociedade que ele pensa sobre o seu lugar no meio social e quais os papéis que devem ser desempenhados por cada indivíduo. Os gregos na antiguidade, por exemplo, tinham a ágora como um espaço de debate e reflexão sobre o papel dos indivíduos na polis.[2: De acordo com o Dicio, ágora era uma espécie de praça pública onde se realizavam as assembleias políticas na Grécia antiga. Local de reunião da assembleia do povo nas antigas cidades gregas. Retirado de http://www.dicio.com.br/agora_2/ acesso em 31/10/2015.][3: Polis significa cidade-estado. Na Grécia Antiga, a polis era um pequeno território localizado geograficamente no ponto mais alto da região, e cujas características eram equivalentes a uma cidade. http://www.significados.com.br/polis/ acesso em 31/10/2015.]
Logo, todas as vezes que o homem pensou sobre si mesmo e sobre a sua relação com os outros, esteve fazendo antropologia. 
Primórdios da antropologia
Desde os filósofos pré-socráticos que a existência humana é questionada. Nesse período era comum atribuir e relacionar a ação dos homens à vontade dos deuses. O escritor Homero (928 a.C./898 a.C.), autor da Odisseia, expõe nessa obra a o impacto das relações sociais sobre o comportamento humano e este impacto como consequência dos caprichos dos deuses, valorizando muito mais a apreensão da realidade no dia a dia da experiência humana. 
A Odisseia relata o regresso do herói da Guerra de Tróia, Odisseu (ou Ulisses, como era chamado pelos romanos). Na obra já é possível ver pensamentos antropológicos na construção da narrativa, que está centrada não só nos feitos de seu principal personagem, mas também na sua relação com outros povos.
Podemos dizer que o hábito de relatar os feitos de grandes homens e as relações entre diferentes povos, é um ensaio da prática antropológica. Nesse sentido, merece destaque o trabalho de Heródoto (485 a.C./425 a.C.). Conhecido como “pai da História”. Heródoto é apontado por muitos estudiosos como o “pai da antropologia”. Essa afirmação é possível com base na sua obra, em que há uma descrição minuciosa das culturas com que seu povo se relacionava. 
Além dos gregos, os romanos e os chineses também registram o contato com as mais diversas culturas desde a Antiguidade. 
Outro fenômeno que tem uma relação muito próxima com as origens da Antropologia refere-se aos estudos de Sócrates (469 a.C./399 a.C.). O pensamento socrático provoca o homem a refletir sobre o seu lugar no mundo. Uma de suas máximas é “conhece-te a ti mesmo”.
Vamos continuar? Afinal ainda temos muito para ver. E o nosso passeio está apenas no começo. Seguiremos falando sobre os primórdios da antropologia, para destacar o papel e a importância de Marco Polo (1254 – 1324). Antes da Antropologia se firmar como uma ciência, Marco Polo exerceu um papel semelhante ao de um antropólogo, viajando e descrevendo as mais diferentes culturas e povos. Filho de comerciante, Marco Polo desde muito novo viveu aventuras pela Ásia ao lado de seu pai. Os dois empreenderam uma jornada em busca de riquezas e tesouros, passando pela Tartária, Indochina e China.
A maioria dos relatos de Marco Polo refere-se ao período em que ele esteve na China. Foi nesse período que ele teve contato com a corte do rei Kublai Khan (1215 – 1294), neto do poderoso Gengis Khan (1162 – 1227). Os relatos de Marco Polo impressionam pela riqueza de detalhes e a emoção de sua narrativa. As suas histórias são responsáveis pelo imaginário criado sobre os povos orientais.
Outro empreendimento que marcou significativamente a Antropologia foi o período das grandes navegações e a dominação das terras da América. O Novo Mundo (como era chamado o continente americano) influenciou de diversas formas a Antropologia. Primeiro pelo estranhamento causado entre os diferentes povos europeu e os nativos desse lado do oceano Atlântico.
Os relatos dos viajantes serviram, durante muito tempo, para criar um imaginário sobre os nativos americanos. Na maioria das vezes esses relatos eram feitos em diários, com narrativas muito pessoais e sem uma preocupação metodológica. Outras vezes serviam para informar às cortes o que estava acontecendo nas colônias. Em todos os casos estavam envolvidas na atmosfera das relações dos povos nativos, mas sempre pelo olhar do europeu.
Você já deve ter ouvido expressões como: “todo índio é preguiçoso!” ou “os índios são canibais”. Esses pensamentos equivocados são resquícios da época em que os viajantes faziam relatos dos povos nativos a partir de suas realidades. Ou seja, quando o europeu entrou em contato com os nativos na América observou as culturas daqui com os olhos de sua cultura. Logo, se o índio não aceitava trabalhar para acumular riquezas (como fazia o europeu) era apontado como preguiçoso.
Esse tipo de relato era (como já dissemos) comum e, embora hoje sejam questionáveis à sua época significaram registros importantes sobre tempos e culturas distintas. No entanto, não podemos falar ainda de uma ciência antropológica nesses períodos que estudamos. Então, já apresentamos o contexto e os pilares que fundaram a Antropologia, vamos ao surgimento da ciência antropológica?
Século XIX: o nascimento da ciência antropológica.
Você lembra que no começo dessa unidade falamos de Charles Darwin? Sim! E você até agora não entendeu qual a relação dele com a Antropologia? Certo! Vamos fazer o seguinte: vamos construir essa relação agora! Podemos fazer isso,juntos? Então vamos lá!
Bem, depois de todo esse percurso sobre o pensamento antropológico, a Antropologia enquanto ciência ainda não existia. Mas, com as grandes navegações e a dominação do Novo Mundo, o homem passou a ter conhecimento de outras culturas. Era necessário estuda-las e entende-las. E é a partir da teoria organizada por Darwin (o evolucionismo) que começam as primeiras tentativas de explicar as diferenças entre os povos.
Inicialmente essas explicações estavam amplamente ligadas a questões biológicas. Daí porque falamos em Antropologia Biológica ou Física. Esse ramo da Antropologia busca estudar o homem a partir de seus aspectos genéticos e biológicos.
A Antropologia nesse momento é bastante influenciada pelo darwinismo social. O que colocou o homem europeu como o apogeu de um processo evolutivo. Ou seja, nesse período o homem europeu acreditava que estava no topo de um processo natural de evolução social e os outros povos, sobretudo do Novo Mundo, eram primitivos e atrasados. “Esta visão usava o conceito de ‘civilização’ para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos”.[4: https://pt.wikipedia.org/wiki/Antropologia#cite_note-1 acesso em 31/10/2015.]
Esse pensamento de superioridade civilizacional que ignora as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, é conhecido como etnocentrismo. Ou seja, etnocentrismo é a visão demonstrada por alguém que considera o seu grupo étnico ou cultura o centro de tudo, portanto, num plano mais importante que as outras culturas e sociedades.[5: http://www.significados.com.br/etnocentrismo/ acesso em 31/10/2015.]
Embora hoje as observações antropológicas baseadas no darwinismo social pareçam ultrapassadas, elas representaram um avanço importante para a consolidação da Antropologia enquanto ciência.
Criação e Consolidação da Ciência Antropológica
Nas ultimas décadas do século XIX o mundo presenciou um extenso intercâmbio cultural e um processo de internalização das culturas, principalmente devido ao intenso imperialismo cultural empregado pelo colonialismo. Ou seja, as relações entre culturas distintas foram intensificadas promovendo uma interação cultural bastante rica. Porém, como já dissemos, essas relações existiam a partir de olhares etnocêntricos. O europeu afirmava que a colonialização era a prova da teoria da evolução social. Logo, se o europeu estava no topo desse processo evolutivo poderia dominar e subjugar os povos colonizados.
Com a I Grande Guerra (1914 – 1918) e a Revolução Russa (1917), as certezas no mundo moderno começaram a ser abaladas e o papel do homem na sociedade passou a ser questionado. É nesse contexto de conflitos e incertezas que se firma a Antropologia.
Questionando a Antropologia Biológica e o Darwinismo Social, alguns antropólogos passam a construir novos modos de olhar para a cultura do outro. Uma das correntes de pensamento que surge no início do século XX é o Relativismo Cultural. Segundo o site Significados, Relativismo Cultural é uma corrente de pensamento ou doutrina que tem como objetivo entender as diferenças culturais e estudar o porquê das diferenças entre culturas distintas. Enquanto o etnocentrismo tem uma vertente de confronto, o relativismo aborda as diferenças de uma forma apaziguadora.[6: http://www.significados.com.br/etnocentrismo/ acesso em 31/10/2015.]
Essa mudança de pensamento antropológico deveu-se principalmente aos estudos de quatro importantes antropólogos, considerados por muitos como os pais da Antropologia enquanto ciência, a saber: Franz Boas (1858-1942); Bronislaw Malinowski (1884-1942); Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881-1955); e Marcel Mauss (1872-1950).
Falaremos um pouco sobre cada um deles, mas destacaremos o trabalho de Malinowski (devido a sua importância para a etnografia). 
Franz Boas
A importância de Franz Boas para a Antropologia deve-se ao fato dele ter consolidado uma prática de estudar o campo, ou seja, o antropólogo deve ir ao lócus da pesquisa para entender os aspectos da cultura estudada. Eriksen e Nielsen se referem a Franz Boas da seguinte maneira:[7: ERIKSEN, T. H.; NIELSEN, F. S. História da Antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. Pág. 52.]
“Como muitos outros de sua geração, ele estava convencido de que o desenvolvimento da teoria geral dependia totalmente de uma base empírica sólida. Assim, a principal tarefa do antropólogo consistia em coletar e sistematizar dados detalhados sobre culturas particulares. Só então seria possível dedicar-se a generalizações teóricas. Nesses e em outros aspectos Boas era um legítimo filho do humanismo romântico alemão”.
Devemos destacar também as incansáveis críticas de Boas contra o racismo e a ciência inspirada por ele. Devemos lembrar que quando falamos de racismo aqui, estamos nos referindo a um conjunto de ideias que foram construídas inspiradas na teoria das raças. Quando alguns antropólogos afirmaram que:
“que cada “raça” tinha um potencial inato distintivo para desenvolvimento cultural. Boas respondeu que a cultura era sui generis - sua própria fonte - e que diferenças inatas não podiam explicar o volume impressionante de variação cultural que os antropólogos já haviam documentado. O termo relativismo cultural, a que nos referimos várias vezes acima, foi efetivamente cunhado por Boas”.[8: Idem. Pág. 54.]
Franz Boas então propôs que o evolucionismo social fosse substituído pelo particularismo histórico. Nessa perspectiva, “cada cultura continha em si seus próprios valores e sua própria história única, em alguns casos poderia ser reconstruída pelos antropólogos”.[9: Idem. Pág. 54.]
Bronislaw Malinowski
Se Franz Boas tem uma importância ímpar para a Antropologia, a importância de Bronislaw Malinowski não é menor. Principalmente pelos seus estudos etnográficos. Mas o que é Etnografia? 
A etnografia é o método utilizado pela antropologia na coleta de dados, baseando-se no contato intersubjetivo entre o antropólogo e o seu objeto, seja ele uma tribo indígena ou qualquer outro grupo social sob o qual o recorte analítico seja feito.
Não seria exagero afirmar que Malinowski está para a etnografia como Pelé está para a história do futebol brasileiro. A construção da disciplina de etnografia dentro da antropologia deve muito aos estudos do referido autor. Malinowski é considerado um dos fundadores da antropologia social, pois tomou uma posição original em relação aos conflitos de ideias do seu tempo e rejeitou a especulação evolucionista e a manipulação do passado para fins do presente, pecados vulgares do seu tempo.
A principal contribuição de Malinowski à Antropologia foi o desenvolvimento de um novo método de investigação de campo, cuja origem remonta à sua intensa experiência de pesquisa na Austrália, inicialmente com o povo Mailu (1915) e posteriormente com os nativos das Ilhas Trobriand (1915-16 e 1917-18). Esta ultima experiência de pesquisa está, em partes, relatada em seu trabalho Os Argonautas do Pacífico Ocidental.
O contexto das pesquisas de Malinowski nas Ilhas Trobriand é deveras importante para que possamos entender a própria pesquisa. Antes de pesquisar os nativos do arquipélago da Nova Guiné Melanésia, Malinowski passou de setembro de 1914 a março de 1915 observando o povo Mailu, habitantes da ilha Tulon. Essas observações lhe renderam uma monografia e o reconhecimento da comunidade científica.
Em junho de 1915 Malinowski partiu para as Ilhas Trobiand, e lá permaneceu até maio de 1916. Ao voltar para a Austrália, avaliou o material coletado, analisou-o, publicou vários artigos e percebeu que sua jornada de pesquisa não tinha acabado. É nesse momento que Malinowski constrói uma de suas mais importantes perspectivas do trabalho etnográfico: o ideal da investigação antropológica.
Retorna ao campo em 1917 permanecendo até 1918. E nos narra o contexto de sua pesquisa em uma narrativa simples e imediata, mas de uma densidade e complexidade científica, que merece aqui uma reprodução ipse litteris: 
“Imagine-se o leitor sozinho, rodeado apenasde seu equipamento, numa aldeia tropical próxima a uma aldeia nativa, vendo a lancha ou o barco que o trouxe afastar-se do mar até desaparecer de vista. Tendo encontrado um lugar para morar no alojamento de algum homem branco - negociante ou missionário - você nada tem para fazer a não ser iniciar o seu trabalho imediatamente. Suponhamos, além disto, que você seja apenas um principiante, sem nenhuma experiência, sem roteiro e sem ninguém que o possa auxiliar - pois o homem branco está temporariamente ausente, ou não se dispõe a perder tempo com você. Isto descreve exatamente a minha iniciação na pesquisa de campo, no litoral sul da Nova Guiné”.[10: MALINIWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. São Paulo: Abril Cultural, 1984. Pág. 19.]
E é a partir deste contexto que Malinowski apresenta o fazer etnográfico. Para o autor: “o objetivo da pesquisa [...] é o de apreender o ponto de vista dos nativos, seu relacionamento com a vida, sua visão de seu mundo”. Para tal, estabelece três princípios metodológicos válidos até hoje:[11: Idem. Pág. 33-34.]
O pesquisador deve ter objetivos genuinamente científicos e conhecer bem as teorias antropológicas modernas. 
Assegurar boas condições de pesquisa: viver entre os nativos e aprender a língua.
Aplicar métodos especiais de coleta (informantes), manipulação e registro das evidências (diário de campo).
Quanto ao primeiro princípio devemos destacar a necessidade, por inspiração dos estudos teóricos, que o etnógrafo tem de construir seus problemas prévios. Caso contrário o pesquisador vai a campo sem saber ao certo o que observar. Porém, este deve ser capaz de abandonar suas hipóteses frente à pressão de evidências que a refutem.
Isso para delimitar o contorno firme e claro da constituição tribal e delinear as leis e os padrões de todos os fenômenos culturais, isolando os irrelevantes (totalidade dos aspectos da cultura nativa). O etnógrafo tem o dever e a responsabilidade de estabelecer todas as leis e regularidades que regem a vida tribal. E o faz, ao coletar dados concretos sobre todos os fatos observados. E a partir dos dados pode construir inferências gerais.
Mas, somente ao fazer um esboço preliminar dos resultados de um problema aparentemente resolvido, fixado e esclarecido, é que poderá reorientar sua pesquisa de campo ao perceber as deficiências desta.
Malinowski ainda orienta que sempre que o material da pesquisa permitir o etnógrafo deve transformar um “esquema mental” em um “esquema real” através de diagramas, planos de estudo e pesquisa e quadro sinóticos completos. 
Quanto ao aspecto das condições de pesquisa o etnógrafo precisa superar a fase do “maravilhamento” ou do tédio, para assumir o caráter natural e ficar em plena harmonia com o ambiente que o rodeia. No entanto, desde sua chegada na tribo o etnógrafo deve tomar nota e fazer observações, mas tendo em mente que está no trabalho posterior que encontrará o sumo central de seu trabalho.
As observações iniciais do etnógrafo serão capazes de desvendar o que Malinowski chamou de “esqueleto”, ou seja, a constituição tribal e os atos da cultura cristalizados. No entanto, a pesquisa não pode se limitar a uma descrição superficial da vida tribal. É necessário chegar à “carne e ao sangue”, que são os dados referentes à vida cotidiana e ao comportamento habitual. Mas o etnógrafo não encontraria ainda nesse elemento o conjunto completo da vida tribal. E o autor afirma que é preciso completar uma tarefa muito mais complicada que é chegar ao “espírito”, pontos de vista, opiniões, as palavras dos nativos. Permitamos ecoar a voz do autor:
“[...] em todo ato da vida tribal existe primeiro, a rotina estabelecida pela tradição e pelos costumes; em seguida, a maneira como se desenvolve essa rotina; e, finalmente, o comentário a respeito dela, contido na mente dos nativos”.[12: Idem. Pág. 32.]
O trabalho etnográfico para Malinowski só será pleno se o “espírito” for encontrado e este só pode ser achado se os três princípios metodológicos da pesquisa etnográfica forem rigorosamente seguido.
O trabalho de Malinowski é pioneiro em sua densidade exploratória e analítica e o material publicado por ele mostrou uma densidade e um engajamento com a pesquisa que serve de referências até os dias atuais. Uma leitura que se faz clássica, por ter vencido o tempo, e atual, por apontar demandas ainda necessárias à pesquisa antropológica.
Alfred Reginald Radcliffe-Brown
Oriundo da classe operária inglesa, Radcliffe-Brown realizou trabalhos de campo nas Ilhas Andaman, a leste da Índia. Quando voltou à Inglaterra publicou o relatório de seu trabalho e teve contato com a obra de Durkheim. Essa aproximação com o pensamento durkheimiano interferiu significativamente nas obras de Radcliffe-Brown.
Para o antropólogo, ao invés de procurar as motivações humanas e a lógica da ação (como defendia Malinowski), era necessário descobrir os princípios estruturais abstratos e os mecanismos de integração social. 
“Na obra de Radcliffe-Brown a estrutura social existe independentemente dos atores individuais que a reproduzem. As pessoas reais e suas relações são meras agenciações da estrutura, e o objetivo último do antropólogo é descobrir sob o verniz de situações empiricamente existentes os princípios que regem essa estrutura. Esse modelo formal, com suas unidades nitidamente definidas e logicamente relacionadas, demonstra claramente a intenção “científica” do mestre”.[13: ERIKSEN, T. H.; NIELSEN, F. S. História da Antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. Pág. 60.]
A influência do pensamento de Radcliffe-Brown permaneceu muito forte na tradição antropológica durante cerca de duas décadas. A sua obra se opunha em certos pontos ao pensamento de Malinowski, mas em muitos aspectos o trabalho desses dois importantes antropólogos esteve imbricado.
Marcel Mauss
Após a morte de Durkheim, seu sobrinho Marcel Mauss passou a ser considerado o herdeiro do pensamento do durkheimiano. Mauss trabalhou por cerca de duas décadas diretamente com o seu tio, e por isso passou a ser o líder de um circuito de sociólogos (antes liderado por Durkheim). Mauss viveu os horrores das duas Grandes Guerras, mas foi através da morte de muitos de seus amigos na I Grande Guerra que esse horror marcou a obra de Mauss. Este dedicou muita energia à publicação dos manuscritos de seus amigos intelectuais.
A grande contribuição de Mauss à Antropologia está no seu poder de síntese ao construir trabalhos que expunham a diferentes expoentes da Antropologia moderna em uma mesma obra com um fantástico poder analítico. Como herdeiro da tradição durkheimiana, Mauss fazia suas análises a partir das teorias sociológicas criadas por Durkheim. Pela influência comum, muitas vezes o trabalho de Mauss aproximou-se do Radcliffe-Brown. A grande diferença entre os dois pensamentos estava no fato de que, enquanto Radcliffe-Brown era um cientificista, Mauss construiu a sua tradição a partir do humanismo.
Sua mais importante obra (The Gift) analisa a prática da troca de presentes. Para muitos presentear alguém é um ato de estabelecer relações sociais. Porém Mauss ao investigar essa prática observou que há uma série de regras rígidas que regulam o ato de presentear, embora implícitas. 
“não pode haver prestação sem uma contraprestação, e por isso a troca de presentes é um meio de estabelecer relações sociais; essa troca é moralmente obrigatória e socialmente integradora. A troca de presentes une as pessoas num compromisso mútuo e é instrumental na formação de normas. Ela parece ser voluntária, mas de fato é regulada por regras rígidas, embora implícitas”.[14: Idem. Pág. 64.]
Por fim devemos afirmar que o pensamento e as obras desses quatro antropólogos constitui a espinha dorsal da tradição antropológica moderna e foram cruciais para a consolidação da Antropologia enquanto ciência.
A Cultura 
Ao longo de todo o texto uma das palavras mais presentes é Cultura.Mas afinal o que é Cultura. Segundo o site Significados, Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é.[15: http://www.significados.com.br/cultura/ acesso em 31/10/2015.]
Esse conceito é bastante importante para que a gente possa entender as considerações de um dos maiores estudiosos sobre a questão da Cultura: Clifford James Geertz. 
Geertz foi considerado, por três décadas, o antropólogo mais influente nos Estados Unidos. E é o criador da teoria da Sociologia interpretativa. Em sua obra A Interpretação das Culturas, o autor aponta a necessidade de uma análise da cultura que se assemelhe aos trabalhos etnográficos. [16: GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC editora, 1989.]
Geertz se apoia no trabalho de Gilbert Ryle para estabelecer uma nova teoria interpretativa da cultura e parte do exemplo da ação descrita por Ryle em que dois ou mais indivíduos piscam os olhos em situações e motivos diferenciados. Nesse sentido Geertz afirma que só será possível a leitura aproximada da realidade cultural desses indivíduos se quem for fazê-la levar em consideração o cotidiano cultural do individuo estudado. 
Geertz vai apontar Max Weber e a sua teoria das teias de significado para apontar que o trabalho antropológico é nada mais do que buscar significado em práticas como uma simples piscadela. Para Weber “o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu”. E por tanto Geertz afirma que a cultura é o estudo ou a materialização dessas teias e desses significados. 
O trabalho de Geertz tem uma importância ímpar para os estudos da cultura, principalmente pelo fato de ter sido embrionário. Isto, pois foi um dos primeiros trabalhos a serem apresentados no campo da interpretação cultural e ainda hoje tem sua relevância, embora devamos contextualizá-lo ao seu tempo histórico, cultural e social. Além do mais, o brilhante trabalho foi feito por um antropólogo em um momento em que pouco se falava e menos se estudava a questão da cultura.
Antropologia e Educação: uma relação mais que possível
Hoje não é rara a quantidade de notícias envolvendo práticas de preconceito, violência e falta de respeito dentro da escola. A Educação parece fragilizada em uma sociedade capitalista que troca valores morais e culturais, por bens de consumo. E o que fazer? Como a Antropologia e a Educação podem contribuir para construirmos uma sociedade melhor?
Você já deve ter ouvido a expressão: “coloque-se no lugar dele”. Difícil isso não é? Colocar-se no lugar do outro? O ato de colocar-se no lugar de outro é o que chamamos de Alteridade. E esse é um conceito bastante importante para a Antropologia da Educação. Haja vista que a nossa identidade é construída nas relações que temos com os outros. E o ambiente da escola (educação formal) tem um papel fundamental na construção da alteridade.
Principalmente porque uma atitude altera implica na diminuição de práticas de preconceito e de violência. Na educação o exercício de olhar para o outro é fundante. Nesse sentido, devemos levar em consideração que o espaço da sala de aula é um espaço vivo de interações entre os mais variados sujeitos, com histórias de vida distintas e com culturas completamente diferentes.
Como as práticas educativas são construções sociais feitas necessariamente por pessoas, podemos olhar para a Educação com um olhar antropológico. Buscando com isso a construção de relações mais humanizadas e respeitosas. Cabe destacar que a Antropologia tem importância crucial para o processo educacional, ao possibilitar a buscar do social a partir do individual.
Cabe lembrar que a Educação moderna, falamos aqui da Educação formal sistematizada após a Revolução Francesa, está fundada num princípio onde os sujeitos individuais se preparavam para assumir um lugar na sociedade. Essa preparação buscava no passado os elementos para consolidar o presente e planejar o futuro. Devemos lembrar que a permanência do mundo em que vivemos depende da nossa capacidade de ensinar aos mais novos. Desde que a humanidade se organiza em sociedade que um dos grandes sentidos da existência humana é preparação das gerações mais novas no mundo.
Reverberemos o pensamento do professor Carlos Rodrigues Brandão:
“a educação é - como tudo o mais que é humano e é criação de seres humanos - uma dimensão, uma esfera interativa e interligada a outras, um elo, uma trama (no bom sentido da palavra) na teia de símbolos e saberes, de sentidos e significados, como também de códigos, de instituições que configuram uma cultura, uma pluralidade interconectada (não raro, entre acordos e conflitos) de culturas e entre culturas, situadas em uma ou entre várias sociedades”.[17: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 2002. Pág. 12.]
Há aí uma relação entre Educação e Cultura que exerce uma via de mão dupla. Esse legado cultural só é possível graças a Educação (formal ou não). E a Educação só se faz na relação entre sujeitos. Logo, é possível pensar numa Antropologia da Educação.
Por fim devemos destacar que a relação educativa é essencialmente uma relação humana. Segundo Paulo Freire:
“embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.[18: FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 48ª ed – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.]
A fala de acima traduz a máxima de que uma Antropologia da Educação faz-se necessária e possível justamente porque o homem pode ocupar o papel de Educador. Mas esse papel só é possível na relação com os educandos. 
SUGESTÃO: Para refletir sobre a importância do conhecimento para a libertação do indivíduo, assista uma animação do Mito da Caverna de Platão: https://www.youtube.com/watch?v=Rft3s0bGi78
REFORÇANDO:
A Antropologia é a Ciência que se dedica ao estudo do ser humano em sua totalidade, levando em consideração a sua origem, o seu desenvolvimento, seja físico, social ou cultural, o seu comportamento, particularidades raciais, costumes, etc.
Apesar de ter diversas definições, entendemos a Cultura, de maneira geral, como todo complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano, tanto em família, como também na sociedade a qual faz parte. 
Um dos pontos fundamentais para o entendimento da sociedade é a pratica da Alteridade, esta prática, ou um olhar, é algo essencial para que a sociedade possa enfrentar alguns desafios contemporâneos, é o ato de colocar-se no lugar de outro.

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