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Psicoterapia Fenomenológico-Existencial (Resumo para aula)

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VALDEMAR Augusto Angerami-Camon (org.).Psicoterapia Fenomenológico-Existencial; São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2002. 
                                Psicoterapia, detalhes e nuances 
Cada vez mais é necessária uma reflexão pormenorizada, contextual dos sintomas para que a intervenção psicoterápica não se perca em mero reducionismo acadêmico. 
Um dimensionamento que concebe o homem em toda a sua historicidade, inserindo-o em suas relações e compreendendo-o a partir desse enfeixamento. Abandonamos todas as tentativas de compreensão do homem que não consideram sua especificidade única em seus detalhamentos e nuances. Recusamos também a aceitação das explicações teóricas que dão ao homem uma mesma compreensão geral em total detrimento de sua unicidade. 
A psicoterapia não pode caminhar distante da realidade social e tampouco virar-lhe as costas como se fosse algo sem importância. 
O objetivo da psicoterapia é, entretanto, ampliar a visão perceptiva do cliente acerca de sua situação existencial para que ele possa usufruir de uma concepção de mundo mais abrangente e repleta de possibilidades. 
A experiência vivida muda de aspecto diante de sua concepção idealizada, da mesma forma que muda quando reflito sobre experiências do cliente, onde a sua narrativa, por mais rica que possa ser, não tem como abarcar em sua totalidade os detalhes e as sensações por ele vividas quando de sua ocorrência.É na riqueza dos questionamentos que conduziremos o trabalho, na certeza de que muito mais do que esclarecer dúvidas, seguramente iremos ao encontro de muitos pontos e inúmeras indagações que ficarão sem respostas imediatas ou que serão passíveis de ser enquadradas num espectro teórico, qualquer que seja ele. 
O próprio jeito como refletimos a concepção fenomenológica no campo da psicoterapia já torna difícil um enquadre que possibilite respostas absolutas e definitivas aos questionamentos que estarão sendo propostos neste trabalho. 
Não há como se buscar o chamado enquadre científico e, ao mesmo tempo, procurar a especificidade e unicidade de cada pessoa. Se propagamos o tempo todo a necessidade de uma compreensão humana inserindo a totalidade da existência do homem em toda a sua historicidade, não há a menor condição de se buscar o respaldo nos critérios científicos. 
Para os psicólogos existencialistas, fazer ciência é tarefa para os cientistas em seus laboratórios que condicionam animais em fórmulas muito bem definidas de experimentação e que depois acreditam, irracionalmente, que os resultados possam ser reproduzidos para a condição humana. Nosso trabalho com seres humanos não é científico e nem tem a pretensão de sê-lo (pelo menos enquanto somente for considerado ciência os modelos deterministas, positivistas, estruturalistas, causais). 
Em busca de conceitos 
- Percepção dos fatos 
A mudança no campo perceptivo é condição inicial para que a pessoa possa, a partir da mudança da percepção dos fatos, alterar inclusive os próprios fatos. É necessário, porém, que a mudança perceptiva ocorra de modo consistente para que o novo desdobramento seja algo que faça parte da vida da pessoa de modo abrangente. 
Ao abrir-se para novas possibilidades existenciais, a consciência apreende novas idealizações para efetivar vivências inerentes a tais possibilidades. A mudança perceptiva é condição indispensável para que outras, significativas, possam ser efetivadas no real embora, nem de longe a idealização substitua a vivência concreta, muito mais estruturante. 
Quando um paciente traz na psicoterapia sua situação de incredulidade diante de fatos que fazem parte de sua vida, é preciso que se esmiusse detalhadamente suas razões para que sua consciência possa abrir-se para mudanças significativas em seu campo perceptivo. 
É através do esboço da fala do cliente que os fatos mostrar-se-ão repletos de obstáculos considerados, muitas vezes, intransponíveis. A mudança em seu campo perceptivo determinará um novo parâmetro de dimensões da consciência. 
As possibilidades que se descortinam no campo perceptivo do sujeito poderão dimensionar-lhe, inclusive, uma nova percepção de si mesmo. Ele passa a se acreditar de modo absoluto, criando condições emocionais para efetivar mudanças em sua própria realidade. A base emocional onde se estruturam tais mudanças perceptivas é o esteio no qual se sustentam as condições necessárias para a alteração dos fatos na realidade. 
Convém salientar que quando falamos em possibilidades que se desabrocham no campo perceptivo do paciente estamos fazendo referência ao aumento das variantes que surgem diante da realidade. 
Conseqüentemente, quando se abre o campo perceptivo para um rol de possibilidades, é fundamental que igualmente se abra a reflexão sobre as questões envolvendo dados probabilísticos. Somente assim será possível o paciente caminhar rumo a uma real transformação dos fatos, visto que, concomitantemente ao surgimento de novas possibilidades, haverá também uma consciência reflexiva que determinará o verdadeiro teor e alcance destas possibilidades. 
A consciência perceptiva será, assim, um determinante de crescimento do paciente e poderá levá-lo ao desdobramento de suas possibilidades em tanto quanto expansão esse desenvolvimento permitir. 
Não se trata, por outro lado, do estabelecimento de uma reflexão meramente racional na qual o cliente terá a condição de entrar em contato com suas possibilidades em níveis emocionais, de maneira lenta e gradual, todos os detalhamentos inerentes a esse processo são absorvidos de modo que o seu próprio ritmo de absorção será respeitado. Assim, a peculiaridade de cada cliente será respeitada de acordo com o tempo de absorção e mudança perceptiva que não serão os mesmos para diferentes clientes. 
Ao psicoterapêuta cabe respeitar o tempo de absorção do cliente. Por maior que seja a sua experiência profissional, a qual lhe dá a condição de antever os possíveis desdobramentos de um cliente, o respeito à sua característica exigirá que ele se atenha a esperar que o seu desabrochar ocorra no seu limiar e dentro de suas próprias possibilidades existenciais. Mesmo que a sua experiência permita que veja com bastante antecedência e propriedade o desenvolvimento de certos clientes, nada garantirá que as coisas seguirão rumos iguais às minhas previsões. 
A psicoterapia é um processo único e, como tal, deverá ser conduzido e norteado porque inclusive a própria peculiaridade dos sentimentos do psicoterapeuta será uma variável que igualmente influenciará no desenvolvimento do método. 
A mudança no campo perceptivo será um processo que dependerá da própria interação do cliente com o psicoterapeuta, além da maneira como ele será conduzido. 
A perspectiva fenomenológica abre-se para uma gama de possibilidades que não se esgotam e se recusa terminantemente a  aceitar o enquadre de concepções deterministas que aprisionam a condição humana em conceitos restritos e fechados, em si mesmo. 
A totalidade do ser presente na psicoterapia é algo muito mais abrangente que a concepção trazida à luz das reflexões contemporâneas pela psicoterapia introspectiva que praticamente reduz o paciente às imagens surgidas dessa cápsula imaginária denominada arbitrariamente de “psique”. 
O homem é muito mais do que simples reducionismo teórico. 
Merleau-Ponty nos ensina que a união entre a alma e o corpo não é selada por um intelecto arbitrário entre dois termos exteriores, um objeto, outro sujeito. 
Os caminhos que o cliente poderá enveredar através do conhecimento de si e de sua própria potencialidade no desvelamento de sua existência, serão determinantes de uma nova concepçãoexistencial. Ele é o criador de si mesmo e não uma mera consequência de relações anteriores mal-acabadas. 
Ao psicólogo cabe construir uma relação de crença em seu cliente e com seu cliente onde este, após sucessivos encontros, possa mudar seu campo peceptivo a fim de transformar a realidade socioexistencial em que vive e, o que é mais importante, aprender a buscar o instrumental necessário para a efetivação, alterando assim as condições que denigre sua vida. 
O processo de autoconhecimento, que a psicoterapia promove, leva o paciente a superar os próprios limites, o que, sem dúvida, é a face mais bela e promissora da prática psicoterápica. Situações libertárias, tanto existenciais como sociais, encontram na psicoterapia o campo ideal de reflexão para um despertar promissor. 
As mudanças que o cliente experimenta em si mesmo, com a transformação ocorrida em seu campo perceptivo, fazem-no refletir de forma onde os seus limites transcenderão até mesmo diante de desatinos que anteriormente pudessem atormentá-lo. 
Sempre estamos em um contínuo vir-a-ser e em um ainda-não. Estes fatos dependem, muitas vezes, de um processo de reflexão pormenorizado que nos leve ao encontro de novas possibilidades existenciais que se tornarão realidade após a mudança do campo perceptivo. 
O desdobramento das possibilidades está em nós mesmos e a condição primeira para que isso ocorra é a superação de limites e de horizontes perceptivos. 
O campo da psicoterapia é o espaço onde a consciência adquire novos parâmetros de sua própria dimensão e, a partir disso, pode Juntar novos valores para a superação dos desatinos e vicissitudes que possam estar reprimindo uma determinada pessoa. 
A mudança perceptiva do enredo, fatos e da história do nosso cliente que determinam sua dor, como algo que se coloca como necessário para uma determinada existência, por si só já representa um grande passo rumo a novas possibilidades existenciais que não a manutenção do “sintoma”, de seu “modus operandi” de existir. 
O embotamento da consciência e da percepção determina uma escolha que se mostra em realidade excludente com outras possibilidades, implicando necessariamente em conflito, dor ecxistencial e até na própria destruição do indivíduo. 
O que sempre fará da psicoterapia um processo fascinante de reflexão, desdobramentos e desvelamentos existenciais – não somente uma tentação no sentido de fascínio do próprio termo, mas um caminho que é preciso percorrer - é que ela é verdadeira até mesmo na negação de valores trazidos pelo paciente. 
O campo perceptivo que se abre a partir da psicoterapia terá uma amplitude e um dimensionamento que são possíveis de ser alcançados apenas no esplendor da vivência psicoterápica. 
Neste ponto, é importante salientar que, com essas colocações, não estamos afirmando que a psicoterapia realizada sob a ótica fenomenológico-existencial é mais eficaz do que aquela realizada sob outras abordagens. Apenas estamos enfatizando que a nossa tentativa de compreensão e análise dos fatos possui uma abertura que, além de não excluir nenhuma das possibilidades inerentes à própria condição humana, não aprisiona o paciente em conceitos apriorísticos que o reduzem tão-somente a um detalhe de suas explanações teóricas. 
Quando buscamos um estudo teórico, não nos satisfazemos com nada mais que não o enfeixamento de uma teoria com sua respectiva prática. 
O paciente que procura pela psicoterapia sem ter conhecimento das diferentes abordagens teóricas, o faz por ter sido encaminhado por um profissional ou por não estar bem com suas próprias questões. O seu; processo não fluirá se a atitude do psicoterapeuta for embasada em teorias que sejam distantes de sua realidade existencial e que conflitam o tempo todo com o seu universo simbólico quando das intervenções psicoterápicas. 
A vida do outro, tal como ele a vive, não é para mim uma experiência que apreendo a partir do relato deste outro, pois o outro é o outro, verdadeiro outro e nada mais que isso. Não se pode perder o parâmetro de que a minha simples presença contamina o outro igualmente como sou contaminado por ele. As alterações que ocorrem nesse encontro determinam mudanças substanciais que se formam como filetes d'água que numa grande conjunção formam o leito de um rio. 
A psicoterapia trilha por caminhos onde o desenvolvimento pessoal do paciente soma-se ao do próprio psicoterapeuta. Existe uma contaminação nas duas partes do processo, pois se é fato que o paciente se desenvolve no processo psicoterápico abrindo seu campo perceptivo para inúmeras possibilidades que a vida se lhe apresente, é também verdadeiro que o psicoterapeuta se desvela nesse processo e, além de modificar seu campo perceptivo, cresce em níveis muito exacerbados no tocante à sua própria condição humana. 
A psicoterapia fenomenológico-existencial principia recusando-se  a qualquer outra aceitação do homem que não apenas a sua condição humana. Seja qual for outro aparato com mecanismos reguladores como se fôssemos máquinas ou comparações com animais deve ser abolido das discussões contemporâneas sobre a abrangência da psicoterapia. 
- Afinidades e concepção de valores 
Não raro o processo de psicoterapia falha pelo simples fato de o psicoterapeuta não afinar com a realidade e os valores do cliente. Quando nos deparamos com pacientes que possuam valores e estilos de vida conflitantes com os nossos, a psicoterapia terá de ser um processo de constante superação para o psicoterapeuta, para que essa variável não emperre o processo em si. Existirão casos em que as nossas peculiaridades e limites chegam até ao extremo da exaustão. 
A relação terapêutica é como qualquer outra (ninguém “se abre” logo no primeiro encontro). Por maiores que sejam as dificuldades e vicissitudes que o paciente possa estar enfrentando, é preciso um número de sessões preliminares para que a confiança possa ser conquistada e, então, se estabeleça um sustentáculo em que as questões que estão a interferir em sua existência possam ser colocadas de maneira absoluta. 
Não há como se esperar que de início o cliente possa colocar todo o teor de seu desespero e sofrimento. Embora isso possa ocorrer em muitos casos. É fundamental, no entanto, uma postura de tolerância para se aguardar o momento propício no qual o cliente possa sentir-se seguro para demonstrar seus problemas e dissabores. A fala é um verdadeiro gesto e contém seu sentido, assim como o gesto contém o seu. Então, para que eu compreenda a fala do outro, eu tenho de compreender seu vocabulário e sua sintaxe. Dessa maneira, a própria transformação que ocorre na fala quando ela expressa sentimentos e emoções mais fortes é detalhamento imprescindível para a condução com êxito da própria psicoterapia. O relacionamento vai sendo tecido paulatinamente e lentamente também se constrói o próprio esteio, no qual o relacionamento se estrutura. O mesmo ocorre no processo psicoterápico. 
Quando temos o paciente à nossa frente, além da palavra, temos também todo o seu expressionismo gestual, que, embora possa ser um coadjuvante nesse processo que visa sua compreensão, pode ser uma variável que nos disperse em relação ao sentido da palavra. 
Não há como apreender a essência de determinados sentimentos se não entender o modo como se estrutura a fala do outro. 
Para Feijoo o processo psicoterápico compõe-se de momentos em que se torna importante conhecer o dia-a-dia do cliente, sendo necessário explorar seu cotidiano. O trabalho de intervenção psicoterápica carece de um aprumo quase artesanal para que as coisas possam fluir no próprio tempo do paciente. Quando nos deparamos com um paciente que, além de similaridade com o nossouniverso cultural, também apresenta uma afinidade com a nossa concepção de valores - incluindo-se os conceitos de mundo, homem e de valores políticos e sociais - teremos todas as condições propícias para que a psicoterapia se desenvolva em toda a plenitude. 
Quando se fala no campo da psicoterapia, normalmente, esse nível de afinidades inexiste, uma vez que o relacionamento se fundamenta nas necessidades do paciente que busca um processo de libertação das amarras existenciais. O mais freqüente é paciente e terapeuta possuirem similaridades em nível cultural e as diferenças quanto à concepção de valores muito significativas. Nesse caso, torna-se necessário fazer um trabalho de garimpo dos possíveis obstáculos que eventualmente possam emperrar o desenvolvimento do processo. 
Saber desses detalhamentos a ponto de não permitir que eles interfiram no próprio desenvolvimento emocional do paciente é condição fundamental para que a psicoterapia possa ser conduzida; com pleno êxito. Além do mais, é sempre viável ter-se como verdadeiro que todo o tipo de relacionamento interpessoal precisa ser gratificante e prazeroso ou energizante senão, não há como se pensar num processo de desenvolvimento e crescimento pessoal que possa levar o paciente a situações reflexivas o qual culmina em momentos dolorosos e, ainda, possa ser definido por ele próprio como prazeroso. 
Podemos afirmar que as situações dolorosas, num primeiro momento, podem provocar o sangramento da própria alma e, depois, significar a necessidade de mudanças estruturais na condição emocional do paciente. Sabe-se, inclusive, do grande número de pacientes que encontram sua verdadeira condição libertária depois do enfretamento de situações dolorosas e que, muitas vezes, implicavam modos estruturais de sua maneira de se relacionar com o mundo e até consigo próprio. 
A psicoterapia como processo libertário não pode, em hipótese alguma, estar vinculada a determinismos oriundos de crendices populares e que dependem de uma fé irracional para se tornarem realidade. Não cabe a nós questionar a validade dessas crenças e o tanto que beneficiam as pessoas. O que nos interessa ressaltar é que o princípio maior da psicoterapia é ser um processo libertário que conduza o paciente a novas perspectivas existenciais independentemente de sua orientação teórica. 
Somos a própria realidade, a realidade do fenômeno de ser em toda a sua abrangência e perspectiva de historicidade. E o desvendar da consciência, propiciado pelo processo psicoterápico, é a construção de um novo prisma existencial que vai sendo elaborado no decorrer da própria existência, ainda que, muitas vezes, seja puído lentamente por situações de dor. Vagarosamente, a psicoterapia reconstrói o determinante de que a percepção foi uma inspeção do espírito e que a reflexão é somente a percepção renascendo para si mesma, a conversão do saber da coisa num auto conhecimento. É na psicoterapia que o paciente pode, ao lidar com diferenças conceituais de valores, dimensionar a importância dos fatos na própria realidade existencial, já que se envereda por caminhos distantes dos nossos e que, ainda assim, é possível uma compreensão diferente para a nova realidade conceitual. 
O que a psicoterapia promove de mais eficaz e surpreendente é que, após o término do processo, as mudanças ocorridas no campo perceptivo do cliente farão com que a sua postura diante da vida seja libertária. Não aceitamos determinismos teóricos das principais correntes da psicoterapia ou princípios religiosos, ou de qualquer ordem, que já “sabem”do indivíduo mais do que ele e que tiram dele o mais importante – A liberdade de escolha. 
A escolha pela psicoterapia como um processo libertário implica no abandono de princípios que aprisionam e estrangulam o desenvolvimento do cliente. 
É importante destacar que a busca da espiritualidade não implica necessariamente na busca de religiosidade. Ao contrário, os fatos revelam que diversas vezes não encontraremos os quesitos de espiritualidade em pessoas praticantes de determinadas religiões. A procura pela espiritualidade e transcendência é algo próprio da condição humana como já foi magistralmente mostrado por Victor E. Frankl. Trata-se, então, de se estabelecer que a busca pela espiritualidade presente na prática psicoterápica não leva, em hipótese alguma, à transformação da psicoterapia em prática religiosa, qualquer que seja a religião que possa embasá-la. 
O fato de alguém ser psicoterapeuta não implica que ele não seja praticante de alguma religião. O que importa é que seus valores religiosos fiquem distantes de sua prática. Na realidade, não apenas os valores religiosos devem ficar distantes, mas também o conjunto destes valores que se constituem no substrato pessoal e existencial e que podem influenciar de modo tendencioso a prática psicoterápica. O cliente não precisa de nenhum julgo a não ser o dele mesmo. 
A psicoterapia, todavia, deverá ir ao encontro dos anseios libertários do cliente, sendo ela mesma um processo teórico sem amarras e/ou revestida de preconceitos em que o fio condutor seja apenas a realidade existencial do paciente. 
- Sentimentos do psicoterapeuta diante do paciente 
Apesar de não ocorrer o toque corporal, em sua grande maioria, entre o psicoterapeuta e o paciente, as coisas que são confiadas e tratadas nesse espaço são de uma profundidade e intimidade incomparáveis e o terapêuta precisa estar consciente de tal entrega. 
A questão dos sentimentos do psicoterapeuta diante do cliente é incômoda e cáustica, pois nos direciona para detalhamentos significativos quanto ao êxito ou fracasso de um processo psicoterápico. 
Na medida em que somos donos de nossas percepções, podemos senti-las e experenciá-las das mais diferentes maneiras e somos igualmente cônscios de que a falta de parâmetros sobre elas poderá determinar desvios ao rumo da psicoterapia. 
O psicoterapêuta deve estar cônscio de que a psicoterapia é um processo em que se constrói um nível de intimidade interpessoal infinito, fazendo com que o psicoterapeuta seja depositário de sentimentos, desejos e angústias. Ele não deve usar desses sentimentos como referenciais. 
Enquanto psicoterapeutas, somos mais do que meros profissionais que se interessam pela complexidade da condição humana. Somos porta-voz das possibilidades de mudanças e transformação da condição indigna do nosso cliente. Podemos afirmar que a admiração é condição indispensável para que as relações humanas se aprofundem, incluindo-se aí o processo psicoterápico. Romper com esse vínculo pode ser por demais desastroso à vida do nosso cliente e a nossa. 
Não podemos atender uma pessoa por quem não tenhamos admiração ou que haja incompatibilidade, pois fica difícil imaginar a superação necessária do psicoterapeuta para realizar bom traballho. Tal admiração contudo tem limites e cabe ao terapeuta respeitá-los. 
A fluência do processo psicoterápico depende da harmonia entre a ocorrência dos detalhamentos e o modo como eles são conduzidos. Sem um sentimento de afeição e admiração, não há como se esperar solidificação na estrutura emocional do paciente nem a efetivação da vivência de suas possibilidades existenciais. 
Em termos de processo psicoterápico, que é nosso maior interesse, podemos afirmar que o apego igualmente deve existir e estar presente, mas em níveis que não prejudique o desenvolvimento do processo. O apego ao vínculo psicoterápico pode ser saudável e utilizado como coadjuvante ao desenvolvimento do paciente. Antes de qualquer coisa, ele será um instrumento a ser utilizado para levar o paciente a melhorar seu sentimento de auto-estima, além de fazer com que ele possa potencializar seus valores e se desenvolver em plenitude existencial. 
Compreendera unidade emocional de alguém é algo que terá de ser feito a partir dos meus parâmetros e por mais que eu me esforce para alcançar a dimensão da dor do outro, por exemplo, ela será algo peculiar à sua especificidade existencial. Não há como eu senti-la em toda a sua plenitude; existe apenas o dimensionamento de alcançar o nível de sofrimento do outro conceituando sua dor a partir de parâmetros de momentos nos quais também senti dores muito intensas. 
Se a dor do outro não me provocar sentimentos que me mobilizem na dimensão de seu sofrimento, então, certamente, não terei condições, enquanto psicoterapeuta, de ajudar este outro. Não se trata de tentar sentir a dor do outro. Aliás, não possuímos a capacidade nem de experenciar, em níveis imaginários, a nossa própria dor vivida em outros momentos de nossa vida, quanto mais vivenciar a dor do outro. O que sou capaz, na condição de psicoterapeuta, é de me colocar junto a esse outro em seu sofrimento,  proporcionando-lhe condições emocionais para superá-lo. 
A arte do relacionamento humano consiste justamente na capacidade de reverter e aparar arestas que estejam dificultando o desenvolvimento pessoal e profissional.

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