Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.084.030 - MG (2008/0188304-8) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : MC MEDICINA E CONSULTORIA OCUPACIONAL LTDA E OUTRO ADVOGADO : GUILHERME HENRIQUE BAETA DA COSTA E OUTRO(S) RECORRIDO : BANCO BRADESCO S/A ADVOGADOS : LINO ALBERTO DE CASTRO MARCOS PAULO DE SOUZA BARBOSA E OUTRO(S) EMENTA PROCESSUAL CIVIL. CITAÇÃO. HORA CERTA. PRAZO DE DEFESA. COMPUTO. COMUNICADO DO ART. 229 DO CPC. RELAÇÃO. INEXISTÊNCIA. 1. O comunicado previsto no art. 229 do CPC serve apenas para incrementar a certeza de que o réu foi efetivamente cientificado acerca dos procedimentos inerentes à citação com hora certa, sendo uma formalidade absolutamente desvinculada do exercício do direito de defesa pelo réu. Sendo assim, a expedição do referido comunicado não tem o condão de alterar a natureza jurídica da citação com hora certa, que continua sendo ficta, tampouco interfere na fluência do prazo de defesa do réu. 2. O comunicado do art. 229 do CPC não integra os atos solenes da citação com hora certa, computando-se o prazo de defesa a partir da juntada do mandado citatório aos autos. Precedentes. 3. Recurso especial não provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasília (DF), 18 de outubro de 2011(Data do Julgamento) MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 1 de 8 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.084.030 - MG (2008/0188304-8) RECORRENTE : MC MEDICINA E CONSULTORIA OCUPACIONAL LTDA E OUTRO ADVOGADO : GUILHERME HENRIQUE BAETA DA COSTA E OUTRO(S) RECORRIDO : BANCO BRADESCO S/A ADVOGADOS : LINO ALBERTO DE CASTRO MARCOS PAULO DE SOUZA BARBOSA E OUTRO(S) RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): Cuida-se recurso especial interposto por MC MEDICINA E CONSULTORIA OCUPACIONAL LTDA. E ALFREDO DIMERLO SOARES, com fundamento no art. 105, III, “a” e “c”, da CF, contra acórdão proferido pelo TJ/MG. Ação: monitória, ajuizada pelo BANCO BRADESCO S.A. em desfavor dos recorrentes, fundada no descumprimento de cédula de crédito bancária. Citação: tendo em vista a impossibilidade de localização dos réus, o Juiz de 1º grau de jurisdição deferiu a citação com hora certa. Os mandados foram cumpridos e juntados aos autos em 04.11.2004 (fl. 50, e-STJ), seguindo-se, em 18.03.2005, a expedição do comunicado previsto no art. 229 do CPC (fl. 56, e-STJ), tendo os respectivos ARs sido juntados aos autos em 14.04.2005 (fl. 59, e-STJ). Embargos: protocolizados pelos recorrentes em 30.05.2005 (fl. 70, e-STJ). Sentença: rejeitou os embargos por intempestividade, constituindo de pleno direito o título executivo judicial, convertendo o mandado inicial em executivo (fls. 108/110, e-STJ). Acórdão: o TJ/MG deu parcial provimento ao apelo dos recorrentes, mantendo a intempestividade dos embargos mas afirmando que, ante à revelia, deveria o Juiz de 1º grau de jurisdição ter nomeado curador aos réus (fls. 150/156, e-STJ). Embargos de declaração: interpostos pelos réus, foram rejeitados pelo TJ/MG, que no entanto ressalvou a desnecessidade de nomear curador, tendo em vista a intervenção espontânea dos embargantes (fls. 166/168, e-STJ). Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 2 de 8 Superior Tribunal de Justiça Recurso especial: aponta violação dos arts. 190, I, 227, 229 e 535 do CPC, bem como dissídio jurisprudencial (fls. 1.334/1.354, e-STJ). Prévio juízo de admissibilidade: o TJ/MG negou seguimento ao recurso especial (fls. 192/193, e-STJ), dando azo à interposição do Ag 1.008.115/MG, ao qual dei provimento para determinar a subida dos autos principais (fl. 204, e-STJ). É o relatório. Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 3 de 8 Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.084.030 - MG (2008/0188304-8) RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : MC MEDICINA E CONSULTORIA OCUPACIONAL LTDA E OUTRO ADVOGADO : GUILHERME HENRIQUE BAETA DA COSTA E OUTRO(S) RECORRIDO : BANCO BRADESCO S/A ADVOGADOS : LINO ALBERTO DE CASTRO MARCOS PAULO DE SOUZA BARBOSA E OUTRO(S) VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): Cinge-se a lide a determinar a relação jurídica entre a citação com hora certa e o comunicado previsto no art. 229 do CPC. I. Da negativa de prestação jurisdicional. Violação do art. 535 do CPC. Da análise dos acórdãos recorridos, nota-se que a prestação jurisdicional dada corresponde àquela efetivamente objetivada pelas partes, sem vício a ser sanado. O TJ/MG se pronunciou de maneira a abordar a discussão de todos os aspectos fundamentais do julgado, dentro dos limites que lhe são impostos por lei, tanto que integram o objeto do próprio recurso especial e serão enfrentados adiante. O não acolhimento das teses contidas no recurso não implica omissão, obscuridade ou contradição, pois ao julgador cabe apreciar a questão conforme o que ele entender relevante à lide. O Tribunal não está obrigado a julgar a questão posta a seu exame nos termos pleiteados pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento, consoante dispõe o art. 131 do CPC. No que tange especificamente à determinação inicial de nomeação de curador aos recorrentes, o TJ/MG, em sede de embargos de declaração, bem elucidou a questão, retificando o acórdão que julgou a apelação para reconhecer a desnecessidade de adoção da referida medida, tendo em vista a intervenção espontânea dos recorrentes nos Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 4 de 8 Superior Tribunal de Justiça autos. Constata-se, em verdade, a irresignação dos recorrentes com o resultado do julgamento e a tentativa de emprestar aos embargos de declaração efeitos infringentes, o que não se mostra viável no contexto do art. 535 do CPC. Não se vislumbra, pois, violação do mencionando dispositivo legal. II. Da notificação dos réus acerca da citação por hora certa. Violação dos arts. 190, I, 227, 229 do CPC. De acordo com o art. 229 do CPC, “feita a citação com hora certa, o escrivão enviará ao réu carta, telegrama ou radiograma, dando-lhe de tudo ciência”. Na ótica dos recorrentes, a norma supratranscrita deve ser interpretada em conjunto com o art. 190, I, do CPC, que impõe aos serventuários da justiça o prazo de 48 horas para execução dos atos que lhe competem. Na vigência do CPC de 1939, essa comunicação era facultativa, a ser encaminhada quando possível , caso se soubesse o paradeiro do réu que se ocultava. Argumentava-se – com certa razão – que tendo o réu sido localizado para envio da mencionada comunicação, ele não mais estaria em lugar incerto e não sabido, o que tornava a regra um contrassenso. Na tentativa de resolver o impasse, o CPC atual alterou a redação do dispositivo legal, passando a dispor que “o escrivão enviará ao réu carta” (sem destaque no original), conferindo à regra uma conotação de obrigatoriedade. Essa mudança justificou-se no fato de que, sendo ficta a citação com hora certa, a medida serviria de reforço às cautelas impostas ao oficial de justiça. Entretanto, há de se ter em mente que esse comunicado se traduz numa formalidadeabsolutamente desvinculada do exercício do direito de defesa do réu. Na realidade, serve apenas para incrementar a certeza de que o réu foi efetivamente cientificado acerca dos procedimentos inerentes à citação com hora certa. E nem poderia ser diferente, na medida em que também esse comunicado é Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 5 de 8 Superior Tribunal de Justiça ficto, apenas se presumindo ter sido recebido pelo réu, pois a notificação não é – nem poderia ser – pessoal. Em outras palavras, mesmo expedido o comunicado, ainda assim não será possível afirmar com absoluta certeza que o réu foi de fato cientificado da ação contra ele proposta. Sendo assim, a sua expedição não tem o condão de alterar a natureza jurídica da citação com hora certa, que continua sendo ficta, tampouco interfere na fluência do prazo de defesa do réu. Tanto é assim que doutrina e jurisprudência são unânimes em afirmar que o comunicado do art. 229 do CPC não integra os atos solenes da citação com hora certa, computando-se o prazo de defesa a partir da juntada do mandado citatório aos autos. Outro não é o entendimento do STJ, que já se manifestou mais de uma vez no sentido de que “o prazo da contestação, na citação com hora certa, inicia-se a partir da juntada do mandado aos autos e não da data da recepção da carta enviada pelo escrivão” (REsp 180.917/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 16.06.2003. No mesmo sentido: REsp 211.146/SP, Rel. Min. Waldemar Zveiter, 3ª Turma, DJ de 01.08.2000; e REsp 746.524/SC, 3ª Turma, minha relatoria, DJe de 16.03.2009). Com efeito, vincular o comunicado em questão à contagem do prazo de defesa subverteria a vontade do legislador, que viu nessa formalidade apenas um meio de conferir maior transparência à citação com hora certa, sem qualquer reflexo para o direito de defesa do réu. Dessarte, qualquer nulidade atrelada ao comunicado do art. 229 do CPC deve ser vista com extremo cuidado e temperamento, evitando-se a distorção dos reais objetivos pretendidos pelo legislador com a norma. Cândido Rangel Dinamarco lembra, com propriedade, que “a consciência de que as exigências formais do processo não passam de técnicas destinadas a impedir abusos e conferir certeza aos litigantes, manda que elas não sejam tratadas como fins em si mesmas, senão como instrumentos a serviço de um fim” (Instituições de direito processual civil. Vol. II, 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 599). Com efeito, o conceito de instrumentalidade das formas, contido nos arts. 244 e 249, § 1º, do CPC, se associa à não impositividade das nulidades. O ato não é nulo Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 6 de 8 Superior Tribunal de Justiça apenas por estar formalmente viciado. Além de não respeitar o modelo formal previsto em lei, o ato deve se afastar da finalidade a que se destina, causando prejuízo efetivo a uma das partes. Retomando os ensinamentos de Cândido Rangel Dinamarco, “a invalidade do ato é indispensável para que ele seja nulo, mas não é suficiente nem se confunde com a sua nulidade” (op. cit., p. 600). Conforme alertei no julgamento do REsp 746.524/SC, 3ª Turma, minha relatoria, DJe de 16.03.2009, a moderna interpretação das regras do processo civil deve tender, na medida do possível, para o aproveitamento dos atos praticados e para a solução justa do mérito das controvérsias. Os óbices processuais não podem ser invocados livremente, mas apenas nas hipóteses em que seu acolhimento se faz necessário para a proteção de direitos fundamentais da parte, como o devido processo legal, a paridade de armas ou a ampla defesa. Não se pode transformar o processo civil em terreno incerto, repleto de óbices e armadilhas. Na hipótese específica dos autos, o mandado de citação dos recorrentes foi juntado aos autos em 04.11.2004 (fl. 50, e-STJ), enquanto seus embargos foram apresentados tão somente em 30.05.2005 (fl. 70, e-STJ), ou seja, mais de 06 meses depois, sendo clara a intempestividade. Registre-se, apenas para argumentar, que o comunicado previsto no art. 229 do CPC foi expedido em 18.03.2005 (fl. 56, e-STJ), tendo os respectivos ARs sido juntados aos autos em 14.04.2005 (fl. 59, e-STJ). Portanto, mesmo que o prazo de defesa fosse contado da juntada dos mencionados ARs, ainda assim os embargos dos recorrentes, apresentados mais de 45 dias depois, seriam intempestivos. Portanto, por qualquer ângulo que se analise a questão, a intempestividade dos embargos dos recorrentes é patente. Forte nessas razões, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial. Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 7 de 8 Superior Tribunal de Justiça CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Número Registro: 2008/0188304-8 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.084.030 / MG Números Origem: 10024044265411001 10024044265411003 10024044265411004 200800211387 PAUTA: 18/10/2011 JULGADO: 18/10/2011 Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS Secretária Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAÇÃO RECORRENTE : MC MEDICINA E CONSULTORIA OCUPACIONAL LTDA E OUTRO ADVOGADO : GUILHERME HENRIQUE BAETA DA COSTA E OUTRO(S) RECORRIDO : BANCO BRADESCO S/A ADVOGADOS : LINO ALBERTO DE CASTRO MARCOS PAULO DE SOUZA BARBOSA E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Títulos de Crédito - Cédula de Crédito Bancário CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva votaram com a Sra. Ministra Relatora. Documento: 1098533 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/10/2011 Página 8 de 8
Compartilhar