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Teoria da Burocracia (MaxWeber)

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TGA II: Abordagem Estruturalista da Administração
Teoria da Burocracia
Origens da Burocracia
Embora tivesse escrito sobre a burocracia décadas antes, foi somente com a tradução do alemão para o inglês em 1947 que Max Weber – considerado o fundador do movimento que se iniciou na sociologia – passou a ser conhecido e discutido nos meios acadêmicos e empresariais. A abordagem estruturalista é um movimento que provocou o surgimento da sociologia das organizações e que iria criticar e reorientar os caminhos da teoria administrativa.
A Teoria da Burocracia surgiu na TGA quando a Teoria Clássica e a Teoria das Relações Humanas disputavam entre si o espaço na teoria administrativa e apresentavam sinais de obsolescência e exaustão para sua época. A burocracia foi uma invenção social aperfeiçoada no decorrer da Revolução Industrial, embora tenha raízes na Antiguidade histórica, com a finalidade de organizar detalhadamente e de dirigir rigidamente as atividades das empresas com a maior eficiência possível.
Rapidamente, a forma burocrática de Administração alastrou-se por todos os tipos de organizações humanas, como indústrias, empresas de prestação de serviços, repartições públicas e órgãos governamentais, organizações educacionais, militares, religiosas, filantrópicas, etc. em uma crescente burocratização da sociedade. 
Com o aparecimento, crescimento e proliferação das burocracias, a teoria administrativa – até então introspectiva e voltada apenas para os fenômenos internos da organização – ganhou uma nova dimensão por meio da abordagem estruturalista: além do enfoque infra-organizacional, surgiu o enfoque interorganizacional. A visão estreita e limitada aos aspectos internos da organização passou a ser ampliada e substituída por uma visão mais ampla, envolvendo a organização e suas relações com outras organizações dentro de uma sociedade maior. A partir daqui, a abordagem estruturalista se impõe definitivamente sobre a Abordagem Clássica e a Abordagem das Relações Humanas. Embora predomine a ênfase na estrutura, a visão teórica ganha novas dimensões e novas variáveis.
Os aspectos que levaram a Teoria da Burocracia a se desenvolver na Administração foram os seguintes:
a) Fragilidade e parcialidade da Teoria Clássica e da Teoria das Relações Humanas;
b) A necessidade de um modelo organizacional racional capaz de caracterizar todas as variáveis envolvidas, aplicável a todas as formas de administração;
c) O crescente tamanho e complexidade das empresas passaram a exigir modelos organizacionais mais bem-definidos. Milhares de homens e mulheres colocados em diferentes setores de produção e em diferentes níveis hierárquicos: os engenheiros e administradores no alto da pirâmide e os operários na base. Devem executar tarefas específicas e ser dirigidos. As teorias precedentes mostraram-se insuficientes para responder à nova situação.
d) A Sociologia da Burocracia propõe um modelo de organização e as organizações não tardaram em tentar aplicá-lo na prática.
A Burocracia como Forma de Organização
A burocracia teve origem nas mudanças religiosas ocorridas após o Renascimento. Weber salienta que o sistema moderno de produção se originou de um novo conjunto de normas sociais e morais, às quais denominou “ética protestante”: o trabalho duro e árduo é como dádiva de Deus, a poupança e o ascetismo que proporcionaram a reaplicação das rendas excedentes, em vez do seu dispêndio e consumo em símbolos materiais e improdutivos de vaidade e prestígio.
Verificou-se que o capitalismo, a burocracia (como forma de organização) e a ciência moderna constituem três formas de racionalidade que surgiram a partir dessas mudanças religiosas ocorridas nos países protestantes e não em países católicos.
As semelhanças entre o protestante e o comportamento capitalista são impressionantes. Essas três formas de racionalidade se apoiaram mutuamente nas mudanças religiosas.
Weber avança a tese de que a ética e as idéias puritanas influenciaram o desenvolvimento do capitalismo. Tradicionalmente, na Igreja Católica Romana, a devoção religiosa estava normalmente acompanhada da rejeição dos assuntos mundanos, incluindo a ocupação econômica. Não foi o caso com o Protestantismo.
Ele define o espírito do capitalismo como as idéias e hábitos que favorecem, de forma ética, a procura racional de ganho econômico. Devido a isso, Weber argumenta que há vários motivos para procurar as origens do capitalismo – bem como da burocracia – nas idéias religiosas da Reforma Protestante.
Tipos de Sociedade e de Autoridade
Weber distingue três tipos de sociedade: a tradicional (com características patriarcais e patrimonialistas, como famílias, clãs, sociedades medievais, etc.), a carismática (com características místicas, arbitrárias e personalísticas, como em grupos revolucionários, partidos políticos, nas nações em revolução, etc.), burocrática (também chamada de racional ou legal, as características predominantes são as normais impessoais e racionalidade na escolha dos meios e dos fins, como em grandes empresas, estados modernos, exércitos, etc.)
Cada tipo de sociedade está relacionada a um tipo de autoridade correspondente.
A autoridade significa a probabilidade de uma ordem específica ser obedecida, representando o poder oficializado em uma organização. Poder é a possibilidade de imposição de arbítrio por parte de uma pessoa sobre outras pessoas. A autoridade depende da legitimidade, que é a capacidade de justificar o exercício da autoridade, isto é, o motivo que explica por que um grupo de pessoas obedece as ordens de alguém, conferindo-lhe poder.
A dominação decorrente do exercício da autoridade requer um aparato administrativo, isto é, o pessoal administrativo para executar as ordens e servir como ponto de ligação entre governo e governados. 
Weber estabelece uma tipologia de autoridade baseando-se nas fontes e tipos de legitimidade aplicados, a saber:
Autoridade tradicional: quando os subordinados aceitam as ordens dos superiores como justificadas porque essa sempre foi a maneira pela qual as coisas foram feitas. O poder tradicional não é racional, pode ser transmitido por herança e é extremamente conservador. A legitimação provém da justiça e da maneira tradicional de agir. O aparato administrativo pode assumir duas formas:
Forma patrimonial: os membros que preservam a dominação são servidores pessoais do senhor (parentes, favoritos, empregados, etc.), geralmente dependentes economicamente.
Forma feudal: os funcionários são aliados e lhe prestam um juramento de fidelidade. Em virtude disso, exercem uma jurisdição independente, dispondo de seus próprios domínios administrativos e não dependendo do senhor noque se refere à subsistência.
Autoridade carismática: os membros aceitam as ordens do superior como justificadas por causa da influência da personalidade e da liderança do superior com o qual se identificam. Carisma é uma qualidade extraordinária ou indefinível de uma pessoa, e o poder de influência decorrente do carisma é sem base racional, instável e facilmente adquire características revolucionárias, não podendo ser delegado ou herdado.
O aparato administrativo envolve seguidores, discípulos e subordinados leais e devotados, para desempenharem o papel intermediário entre o líder carismático e a massa. A seleção de tais seguidores se baseia na devoção e na confiabilidade no subordinado.
Autoridade burocrática: os membros aceitam as ordens dos superiores por concordar com certos preceitos ou normas que consideram legítimas. A idéia básica fundamenta-se no fato de que leis podem ser promulgadas e regulamentadas através de procedimentos formais e corretos. Tais procedimentos são definidos racionalmente.
O aparato administrativo é a burocracia. Tem seu fundamento nas leis e na ordem legal. A posição dos funcionários (burocratas) e suas relações com o governante, os governados e os colegas burocratas são definidas por regras impessoais e escritas, que delineiamde forma racional a hierarquia do aparato administrativo, direitos e deveres inerentes a cada posição, métodos de recrutamento e seleção, etc.
Weber identifica três fatores principais que favorecem o desenvolvimento da moderna burocracia:
1- O desenvolvimento de uma economia monetária: Na Burocracia, a moeda assume o lugar da remuneração em espécie para os funcionários, permitindo a centralização da autoridade e o fortalecimento da administração burocracia.
2- O crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas do Estado Moderno.
3- A superioridade técnica – em termos de eficiência – do tipo burocrático de administração serviu como uma força autônoma para impor sua prevalência.
Características da Burocracia segundo Weber
	Segundo o conceito popular, a burocracia é visualizada geralmente como uma empresa, repartição ou organização onde o papelório se multiplica e se avoluma, impedindo as soluções rápidas e eficientes. O termo é empregado também com o sentido de apego dos funcionários aos regulamentos e rotinas, causando ineficiência à organização. O leigo passou a dar o nome de burocracia aos defeitos do sistema.
	Entretanto para Max Weber a burocracia é exatamente o contrário, é a organização eficiente por excelência e para conseguir esta eficiência, a burocracia precisa detalhar antecipadamente e nos mínimos detalhes como as coisas devem acontecer.
Para tanto Weber estabeleceu as principais características da burocracia:
1- Caráter legal das normas e regulamentos: É uma organização ligada por normas e regulamentos previamente estabelecidos por escrito. É baseada em legislação própria que define com antecedência como a organização deve funcionar. Tais normas:
• Procuram cobrir todas as áreas da organização.
• Definem uma estrutura social racionalmente organizada.
• Conferem às pessoas investidas da autoridade um poder de coação sobre os subordinados e também os meios coercitivos capazes de impor a disciplina.
• Possibilitam a padronização dentro da empresa.
2- Caráter formal das comunicações: A burocracia é uma organização ligada por comunicação escrita. Todas as ações e procedimentos são feitos por escrito para proporcionar a comprovação e documentação adequadas.
3- Caráter racional e divisão do trabalho: A Burocracia é uma organização que se caracteriza por uma sistemática divisão do trabalho. Esta divisão do trabalho atende a uma racionalidade, é adequada ao objetivo a ser atingido: a eficiência da organização.
• Daí o aspecto funcional da burocracia.
• Há uma divisão sistemática do trabalho, do direito e do poder.
• Estabelece as atribuições de cada participante.
• Cada participante passa a ter o seu cargo específico, suas funções específicas e sua área
de competência e de responsabilidade.
• Cada participante sabe qual é a sua capacidade de comando sobre os outros e quais os limites de sua tarefa.
• As incumbências administrativas são altamente diferenciadas e especializadas.
4- Impessoalidade nas relações: Essa distribuição de atividade é feita impessoalmente, ou seja é feita em termos de cargos e funções e não de pessoas envolvidas.
• Considera as pessoas como ocupantes de cargos e de funções.
• O poder de cada pessoa é impessoal e deriva do cargo que ocupa.
• Obedece ao superior não em consideração a pessoal mas ao cargo que ele ocupa.
• As pessoas vem e vão mas os cargos permanecem.
• Cada cargo abrange uma área ou setor de competência e de responsabilidade.
5- Hierarquia da autoridade: A burocracia estabelece os cargos segundo o princípio de
hierarquia.
• Cada inferior deve estar sobre a supervisão de um superior.
• Não há cargo sem controle ou supervisão.
• A hierarquia é a ordem e subordinação, a graduação de autoridade correspondente às diversas categorias de participantes, funcionários e classes.
• Os cargos estão definidos por meio de regras limitadas e específicas.
6- Rotinas e procedimentos padronizados: A burocracia fixa as regras e normas técnicas para o desempenho de cada cargo.
• O ocupante do cargo não pode fazer o que quiser, mas o que a burocracia impõe que ele faça.
• A disciplina no trabalho e o desempenho no cargo são assegurados por um conjunto de regras e normas, que tentam ajustar o funcionário às exigências do cargo e das organizações.
• Todas as atividades de cada cargo são desempenhadas segundo padrões claramente definidos.
7- Competência técnica e meritocracia: Na burocracia a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência técnica.
• Admissão, transferência e a promoção dos funcionários são baseadas em critérios, válidos para toda a organização.
• Daí a necessidade de exames, concursos, testes e títulos para a admissão e promoção dos funcionários.
8- Profissionalização dos participantes: A burocracia é uma organização que se caracteriza pela profissionalização dos seus participantes. Cada funcionário é um profissional pelas seguintes razões:
• É um especialista: Cada funcionário é especializado nas atividades do seu cargo.
• É assalariado: Os funcionários da burocracia participam da organização e recebem salários
correspondente ao cargo que ocupam.
• É nomeado por superior hierárquico.
• Seu mandato é por tempo indeterminado (não existe norma que determine previamente o tempo de permanência de um funcionário no cargo ou na organização).
• Segue carreira dentro da organização.
• É fiel ao cargo e identifica-se com os objetivos da empresa. O funcionário passa a defender os interesses do seu cargo e da sua organização.
9- Especialização da administração: Na burocracia, existe uma clara separação entre propriedade e administração, isto é, os administradores da burocracia não são necessariamente seus donos, acionistas ou proprietários, e sim um profissional especializado na sua administração.
A estrita separação entre os rendimentos e bens privados e públicos é a característica específica da burocracia e que mais a distingue dos tipos patrimonial e feudal da administração.
10- Completa previsibilidade do funcionamento: O modelo burocrático de Weber parte da pressuposição de que o comportamento dos membros da organização é perfeitamente previsível.
• Os funcionários devem comportar-se de acordo com as normas e regulamentos da organização.
• Tudo na burocracia é estabelecido no sentido de prever antecipadamente todas as ocorrências e rotinizar sua execução.
Em essência, as características da burocracia segundo Weber podem ser sistematizadas tendo em vista:
Para descontrair... 
Fonte: Pau para Toda Obra - Gilmar - Editora Devir
Exercícios: 
1) Transcreva para seu caderno a tabela síntese que segue e complete-a:
	Sociedade/
Autoridade
	Características
	Exemplos
	Legitimação
	Aparato Administrativo
	Tradicional
	
	
	
	
	Carismática
	
	
	
	
	Burocrática
	
	
	
	
2) Os tipos de sociedade e autoridade nem sempre são encontrados de forma pura na mundo contemporâneo: o que ocorre é a predominância de um tipo de autoridade ou de sociedade. Na sua opinião, algum dos tipos de sociedade é ideal em sua forma pura? Caso não seja, qual seria a combinação ideal entre dois ou mais tipos de autoridade definidos por Weber? Quais seriam as características de tal tipo?
3) Alexandre é o proprietário da Proteus, uma conhecida empresa do ramo imobiliário. Depois de décadas de atividade, a Proteus precisa deslanchar para abrir novos mercados. Durante todo esse tempo, Alexandre havia assumido uma autoridade tipicamente carismática e que agora precisa ser modificada para permitir o crescimento da empresa.
a) Quais são as alternativas para ele? Qual a mais adequada para os objetivos de Alexandre? Justifique.
b) Descreva como provavelmente são os critérios de recrutamento e seleção de pessoal e o estilo de liderança de Alexandre.
c) Como Alexandre poderia fazer a mudança do tipo de autoridade atual para o ideal? Quais seriam os prováveisobstáculos a serem encontrados?
4) Após rigoroso e exaustivo processo seletivo, Jorge conseguiu um emprego na Movibrás, uma grande empresa produtora de artigos de consumo, como supervisor de tesouraria. Nos seus primeiros dias na empresa Jorge passou por um programa de integração para melhor conhecer as características da organização. Recebeu vários manuais contendo regras, regulamentos, rotinas, descrição do seu cargo, deveres e responsabilidades como funcionário. Ficou impressionado com o alto grau de organização e de padronização existente na empresa. Mas, isso seria realmente uma característica positiva da organização? Quais as vantagens e desvantagens advindas dos aspectos mencionados?
Vantagens da Burocracia
Weber viu inúmeras razões para explicar o avanço da burocracia sobre as outras formas de associação.
1- Racionalidade em relação ao alcance dos objetivos da organização.
2- Precisão na definição do cargo e na operação, pelo conhecimento exato dos deveres.
3- Rapidez nas decisões, pois, cada um conhece o que deve ser feito, por quem e as ordens e papéis tramitam através de canais preestabelecidos.
4- Univocidade de interpretação garantida pela regulamentação específica e escrita. A informação é discreta, pois é fornecida apenas a quem deve recebê-la.
5- Uniformidade de rotinas e procedimentos que favorece a padronização, redução de custos e de erros, pois os procedimentos são definidos por escrito.
6- Continuidade da organização através da substituição do pessoal que é afastado.
7- Redução do atrito entre as pessoas, pois cada funcionário conhece aquilo que é exigido dele e quais os limites entre suas responsabilidade e as do outro.
8- Constância, pois os mesmos tipos de decisão devem ser tomados nas mesmas circunstâncias.
9- Confiabilidade, pois o negócio é conduzido de acordo com regras conhecidas. As decisões são previsíveis e o processo decisório elimina a discriminação pessoal.
10- Benefícios para as pessoas na organização, pois a hierarquia é formalizada, o trabalho é dividido entre as pessoas de maneira ordenada, as pessoas são treinadas para se tornarem especialistas em seus campos. As pessoas podem fazer carreira na organização em função de seu mérito pessoal e competência técnica.
11- Com a burocracia, o trabalho é profissionalizado, o nepotismo é evitado e as condições de trabalho favorecem a moralidade econômica e dificultam a corrupção.
12- Há eqüidade das normas burocráticas, sempre baseadas em padrões universais de justiça e tratamento igualitário;
13- A burocracia tem a virtude de assegurar cooperação entre grande número de pessoas, sem que elas se sintam necessariamente cooperadoras;
14- As pessoas cumprem regras porque os fins visados pela organização são valorizados e cada qual deve fazer sua parte para que o objetivo global seja alcançado.
Racionalidade Burocrática
Para Weber, racionalidade implica na adequação dos meios aos fins. Nesse contexto, isso significa eficiência.
Uma organização é racional se os meios mais eficientes são escolhidos para a implementação das metas. No entanto, são as metas coletivas da organização e não as de seus membros individuais que são levadas em consideração. Desse modo, o fato de uma organização ser racional não implica necessariamente que seus membros ajam racionalmente no que concerne às suas próprias metas e aspirações. Muito pelo contrário, quanto mais racional e burocrática torna-se a organização, tanto mais as pessoas tornam-se engrenagens de uma máquina, ignorando o propósito e significado do seu comportamento. Esse é o tipo de racionalidade que Mannheim denomina racionalidade funcional.
Para Weber, a racionalidade funcional é alcançada pela elaboração – baseada no conhecimento científico – de regras que servem tanto para dirigir, partindo de cima, todo comportamento de encontro à eficiência. É nessa concepção de racionalidade que a Administração Científica se baseia na busca da melhor maneira de desempenho e trabalho industrial.
Dilemas da Burocracia
Weber notou a fragilidade da estrutura burocrática que enfrenta um dilema típico: de um lado, existem pressões e forças externas para encorajar o burocrata a seguir outras normais diferentes da da organização e, do outro lado, o compromisso dos subordinados com as regras burocráticas tende a se enfraquecer gradativamente. A organização para ser eficiente, exige um tipo especial de legitimidade, racionalidade, disciplina e limitação de alcance.
A capacidade de aceitar ordens e regras como legítimas exige um nível de renúncia que é difícil de se manter. As organizações burocráticas apresentam uma tendência a se desfazerem, seja na direção carismática, seja na tradicional, onde as relações disciplinares são mais “naturais” e “afetuosas”. Assim, a racionalidade da estrutura racional é frágil e precisa ser protegida contra pressões externas, afim de poder ser dirigida para os seus objetivos e não para outros.
Os burocratas são pessoas que formam o corpo administrativo da estrutura da organização, devidamente indicadas, que seguem as regras impostas e servem aos objetivos da organização. No entanto, Weber salienta também a existência de chefes não-burocráticos, que indicam e nomeiam os subordinados, estabelecem regras, resolvem os objetivos que deverão ser atingidos e são eleitos ou herdam sua posição, como, por exemplo, os presidentes, diretores e reis. Esses chefes (não-burocráticos) da organização desempenham o papel de estimular a ligação emocional e mesmo irracional dos participantes com a racionalidade, pois a identificação com uma pessoa ou líder da organização influi psicologicamente, reforçando o compromisso abstrato com as regras da organização.
Na organização burocrática, as identificações referem-se à posição e não ao ocupante. Se os indivíduos se ausentam, morrem ou se aposentam, são substituídos por outros pelo critério de qualificação técnica e a eficiência da organização não é prejudicada. Porém, a ausência ou morte de um chefe não-burocrático da organização – o único indivíduo perante o qual as identificações são pessoais e não-burocráticas – provoca uma crise na sucessão, que é acompanhada de um período de instabilidade. Alega Weber que a crise de sucessão é mais evidente nos estados totalitários, embora exista também nas empresas, igrejas, exércitos ou outras organizações. As burocracias estabelecem normas e precisam impô-las. Têm regulamentos e regras, dão ordens que devem ser obedecidas afim de que a organização funcione com eficiência.
Disfunções da Burocracia
O modelo weberiano oferece vantagens, já que o sucesso das burocracias em nossa sociedade se deve a inúmeras causas. Contudo, os excessos da racionalidade burocrática, a omissão das pessoas que participam da organização e os próprios dilemas da burocracia, apontados por Weber, constituem problemas que a burocracia não consegue resolver adequadamente. As disfunções da burocracia decorrentes desses aspectos são as seguintes:
- Internalização das regras e apego a regulamentos: Elas passam de "meios para os fins", ou seja, às regras são dadas mais importância do que às metas. O funcionário adquire “viseiras” e esquece que a flexibilidade é uma das principais características de qualquer atividade racional. Torna-se com isso um especialista não por possuir conhecimento de suas tarefas, mas por conhecer perfeitamente as normas e regulamentos que dizem respeito ao seu cargo ou função.
- Excesso de formalismo e papelório: A necessidade de documentar e formalizar todas as comunicações dentro da burocracia afim de que tudo possa ser devidamente testemunhado por escrito pode conduzir ao excesso de formalismo, de documentação e, conseqüentemente, de papelório. Isso torna os processos mais lentos e constitui uma das mais gritantes disfunções da burocracia, o que leva o leigo, muitas vezes, a imaginar que toda burocracia tem necessariamente um volume inusitado de papelório.
- Resistências às mudanças: os funcionários geralmentese acostumam com uma completa estabilidade e repetição daquilo que faz, o que passa a lhe proporcionar uma completa segurança e tranqüilidade a respeito de seu futuro na burocracia. Quando surge alguma possibilidade de mudança dentro da organização, essa mudança tende a ser interpretada como algo que ele desconhece, e que portanto, pode trazer perigo à sua segurança e estabilidade. Com isso, a mudança passa a ser indesejável para o funcionário.
- Despersonalização: Os funcionários se conhecem pelos cargos que ocupam. 
- Categorização como base no processo decisorial: O que tem um cargo maior, toma decisões, independentemente do que conhece sobre o assunto. Além disso, quanto mais se lança mão da categorização no processo decisório, menor será a procura de alternativas diferentes de solução.
- Superconformidade às rotinas: O impacto das exigências burocráticas sobre uma pessoa pode provocar profunda limitação em sua liberdade e espontaneidade pessoal. O indivíduo tente a perder sua flexibilidade, pois restringe-se ao desempenho mínimo. Perde a iniciativa, a criatividade e a inovação.
- Exibição de sinais de autoridade: Como a burocracia enfatiza a hierarquia da autoridade, torna-se necessário um sistema capaz de indicar aos olhos de todos aqueles que detêm o poder. Em algumas organizações – como o exército, a Igreja, etc. - o uniforme e o tratamento especial constitui um dos principais sinais de autoridade.
- Dificuldade com os clientes: O funcionário está voltado para o interior da organização, o que torna difícil realizar as necessidades dos clientes tendo que seguir as normas internas. Essa padronização no atendimento, tende a irritar o público com a pouca atenção e descaso para com seus problemas particulares e pessoais. 
Exercícios
1) Defina chefe não-burocrático. Como conciliar a chefia burocrática com a chefia não-burocrática?
2) Explique o que é racionalidade funcional e como é possível alcançá-la, segundo Weber.
3) Feliciano Alpert fundara a @lert há alguns anos e imprimiu nela todo o seu carisma pessoal. Agora que acabou o impulso inicial e a empresa crescera suficientemente, Feliciano pretende organizar e burocratizar sua empresa para imprimir racionalidade no sentido de evitar perdas e desperdícios decorrentes da improvisação e da falta de planejamento. Com base nisso, como Feliciano deve trabalhar seu estilo de liderança e sua autoridade? Quais os passos para Feliciano tornar sua empresa um verdadeiro modelo burocrático?
4) A Excel é uma empresa que tem tudo para dar certo. Mas tudo sai errado. Ela adotou um caráter legal e formal, definiu cargos e posições hierárquicas, elaborou rotinas e procedimentos e profissionalizou a diretoria e os participantes. Nada mais correto. Contudo, o resultado está decepcionando: as pessoas apenas seguem as normas e procedimentos, o formalismo é total e o papelório é uma loucura, as pessoas resistem às mudanças, o relacionamento entre os funcionários é precário e superficial, os chefes abusam das suas mordomias e se afastam dos subordinados e os clientes vivem reclamando da falta de atenção aos seus problemas. Se você fosse diretor da Excel, o que faria?
Fonte: Pau para Toda Obra - Gilmar - Editora Devir
Graus de Burocratização nas Organizações
Para Gouldner existem graus de burocratização nas organizações formais. O modelo proposto por Weber passou a constituir o modelo ideal de burocracia, e não o único modelo absoluto.
A hipótese central de Gouldner é de que a supervisão cerrada deteriora as relações entre superior e subordinado e viola as normas informais do grupo. Por outro lado, a excessiva formulação de regras burocráticas funciona como um símbolo de desconfiança nas pessoas e nas suas intenções.
As Dimensões da Burocracia
Não há um tipo único de burocracia, mas graus variados de burocratização. Atualmente, a burocracia está sendo entendida como um continuum e não uma maneira absoluta de presença ou ausência. O grau variável de burocratização depende das dimensões da burocracia. As dimensões da burocracia bem como os efeitos de seus diferentes graus podem ser visualizadas no gráfico que segue:
Essa abordagem é mais adequada do que tratar a organização como totalmente burocrática ou não-burocrática. Uma organização pode, por exemplo, ser muito burocrática quanto ao conjunto de regras e regulamentos ao mesmo tempo em que está escassamente burocratizada quanto à sua divisão do trabalho.
Atualmente, admite-se que a escassez ou ausência (ou mesmo o excesso) de aspectos referentes a quaisquer dimensões da burocracia não significa necessariamente os aspectos negativos relacionados na tabela acima. Desse modo, o nível mínimo de Hierarquia (que corresponde à falta de autoridade) pode também significar um grau de trabalho em equipe e senso de cooperação muito elevado. Um mínimo de Regras e Regulamentos não significa somente liberdade excessiva, mas pode também representar equipes de trabalho altamente auto-organizadas, onde cada indivíduo tem um grau de liberdade muito elevado para inovar e deixar fluir a criatividade. 
Além disso, uma organização pode apresentar diferentes níveis de uma mesma dimensão de acordo com a área (ou unidade departamental) que a forma. Por exemplo, equipes referentes à produção podem precisar trabalhar com metas, disciplina e regras rígidas e elevado grau de especialização, enquanto equipes referentes à criação de novos produtos podem trabalhar com maior liberdade e sem tantas regras, tendo em vista que a criatividade nesse tipo de atividade é fundamental.
“(...) Parece um paradoxo, mas as empresas excelentes utilizam controles apertados e severos em algumas áreas (para assegurar os valores íntimos da firma) e controles frouxos e soltos em outras (as pessos são livres para experimentar, tentar, errar, inovar e assumir riscos). Mantém seu código de ética mas permitem que os funcionários possam ajudar a organização a atingir melhor os seus objetivos.” (Introdução à TGA – Idalberto Chiavenato, 7ªed. p. 579)
Apreciação Crítica da Teoria da Burocracia
Uma cuidadosa apreciação crítica da burocracia leva-nos à conclusão de que apesar de todas as suas limitações e restrições, é talvez uma das melhores alternativas de organização, superior a várias alternativas tentadas no decorrer do século XX.
Excesso de formalismo da burocracia
Para Katz e Kahn o sistema burocrático consegue sobrevivência e eficiência quando:
As tarefas individuais são mínimas em requisitos criativos, de modo que basta a submissão à autoridade legítima e não há necessidade de identificação com metas organizacionais;
As exigências do ambiente sobre a organização são óbvias, de modo que a informação é redundante e pode ser esbanjada, e a organização não precisa utilizar todos os processadores de informações entre seus membros;
A rapidez na tomada de decisão é importante e cada pessoa envolvida no processo significa cursos e riscos organizacionais;
A organização se aproxima do sistema fechado com requisitos mínimos de mudança do meio.
Já para Perrow, a burocratização envolve:
Especialização;
Necessidades de controlar as influências dos fatores externos sobre os componentes internos da organização;
Um ambiente externo imutável e estável.
Mecanicismo e as limitações da “teoria da máquina”
A Teoria Tradicional – cujos três modelos clássicos são os de Taylor (Administração Científica), Fayol (Teoria Clássica) e de Weber (Modelo Burocrático) – focalizou estruturas internas, abordando os problemas organizacionais em termos de sistemas fechados. O termo “teoria da máquina” (proposto por Worthy em 1950) é aplicável aos três modelos que abordam a organização, embora constituída por pessoas, como uma máquina construída para cumprir uma tarefa. As principais características da teoria da máquina são:
Especialização das tarefas;
Padronização do desempenho da função;
Unidade de comando e centralização da tomada de decisão;
Uniformidadede práticas institucionalizadas, além da padronização das tarefas;
Não duplicação de função afim de se garantir a centralização.
A teoria da máquina em decorrência desses aspectos apresenta como fraquezas a pouca importância e limitado intercâmbio com o ambiente (as entradas são apenas matérias primas e mão de obra, e as saídas são apenas o produto físico da organização); pouca atenção aos subsistemas organizacionais; negligência quanto à organização informal e concepção estática da organização.
Conservantismo da burocracia
Diz respeito ás características da burocracia que levam a um modelo rígido e estático, onde não se considera o desenvolvimento das pessoas e não se adapta facilmente às mudanças do ambiente externo.
Para sobreviver, a organização burocrática deve cumprir também tarefas secundárias, como:
Integrar o lado humano da empresa (organização informal), buscando a reciprocidade entre organização e indivíduos;
Adaptar-se continuamente ao ambiente externo (adaptabilidade).
O caminho moderno consiste em utilizar o modelo burocrático de Weber como ponto de partida, mas reconhecendo suas limitações. O ponto de vista que prevalece é:
A forma burocrática é mais apropriada para atividades rotineiras e repetitivas da organização em que a eficiência e a produtividade constituem o objetivo mais importante;
A forma burocrática não é adequada às organizações flexíveis que se vêem à frente de atividades não rotineiras, em que a criatividade e a inovação são mais importantes.
Abordagem de sistema fechado
As organizações complexas podem ser classificadas como dois modelos fundamentais:
O modelo “racional” de organização: sistema fechado, busca a certeza e a previsão exata;
O modelo “natural” de organização: sistema aberto, busca lidar da melhor forma possível com a incerteza, tendo em vista que o sistema contém mais variáveis do que somos capazes de compreender.
	A burocracia, bem como os demais modelos clássicos, consideram a empresa como o modelo racional.
Abordagem descritiva e explicativa
As teorias existentes até então (Administração Científica, Teoria Clássica e das Relações Humanas), foram prescritivas e normativas: estavam voltadas para estabelecer receituários pelos quais o administrador deve lidar com as organizações.
A Teoria da Burocracia não tem essa preocupação: sua preocupação é descrever, analisar e explicar as organizações, afim de que o administrador escolha a maneira apropriada de lidar com elas, levando em conta sua natureza, tarefas, participantes, problemas, situação, etc., aspectos que variam intensamente. A Teoria da Burocracia se caracteriza por uma abordagem descritiva e explicativa, trazendo como vantagens o conhecimento profundo sobre o objeto de estudo e versatilidade na solução dos problemas.
Posição da Teoria da Burocracia na Teoria das Organizações
O modelo burocrático constitui um terceiro pilar na Teoria Tradicional da Organização.
Comparando a teoria de Weber com a de Taylor e Fayol, conclui-se:
Taylor procurava meios e métodos científicos para realizar o trabalho rotineiro das organizações. Sua contribuição foi para a gerência.
Fayol estudava as funções de direção. Sua contribuição foi para a direção.
Weber preocupava-se com as características da burocracia. Sua contribuição foi para a organização, considerada como um todo.
Todos os três se preocuparam com os componentes estruturais da organização.
Exercícios
1) Leia atentamente ao estudo de caso proposto e responda às questões que seguem:
	Pressionada pela forte concorrência japonesa, a gigantesca Ford Motor Company tinha um sério problema: tinha muitas gorduras para cortar.
	No seu departamento de contas a pagar (DCP), cerca de 500 funcionários se engalfinhavam com um mar de papelório para resolver pendências e pagar fornecedores. Um total de 14 itens de uma variedade de fontes – registros de recebimento, ordens de compras, faturas, etc. – tinha de ser conferido e casado. Um simples atraso de qualquer documento significava horas e horas para achar a informação correta, atrasos nos pagamentos e fornecedores raivosos.
	O processo era convencional: o departamento de compras (DC) enviava um pedido de compra (PC) ao fornecedor, com cópia para o DCP. Quando o material enviado pelo fornecedor chegava na recepção da Ford, um funcionário preenchia o formulário descrevendo o material recebido e o enviava ao DCP. Enquanto isso, o fornecedor enviava ao DCP a fatura correspondente. A partir daí, o DCP tinha de conciliar três documentos: o PC, o formulário de recebimento e a fatura do fornecedor. Em 80% dos casos, a conciliação era possível e o DCP emitia o pagamento ao fornecedor. Mas, 20% dos casos proporcionavam verdadeira confusão que tomava o tempo de todo mundo.
	A Ford resolveu implantar um sofisticado e caro sistema computadorizado para agilizar o processo e obteve uma redução de 20% no pessoal. A euforia durou até que os administradores da Ford foram visitar a Mazda japonesa, da qual a Ford estava adquirindo parte do capital. Pasme: a Mazda tinha apenas 5 funcionários para lidar com o departamento de contas a pagar. Ali tudo fluía tranqüilamente.
	A Ford resolveu fazer uma reengenharia de todo processo de pagamento aos fornecedores. Com a reengenharia, tudo ficou diferente. A fatura e os três documentos foram eliminados. O papelório foi substituído por um processo ágil, simples e rápido em que a verificação e o controle são feitos diretamente por computador. O comprador do DC emite um pedido ao fornecedor e informa em um banco de dados on-line. Ao receber o material a recepção verifica a compra pendente no banco de dados. Se corresponde, aperta uma tecla para informar a chegada do material e o computador emitirá automaticamente o cheque ao fornecedor no prazo previsto. Se não, a recepção devolve o material ao fornecedor.
	Na verdade, o redesenho do processo quase eliminou a necessidade do DCP. Esse ficou com apenas 5% do pessoal que tinha antes.
Com base no estudo de caso acima, responda:
a) Qual(is) a(s) dimensão(ões) da burocracia mais evidente(s) no caso proposto? Descreva a situação da empresa em relação a tal(is) dimensão(ões).
b) Como era, em geral, o departamento de contas a pagar antes da reengenharia?
c) Como ficou depois, sob o ponto de vista do modelo burocrático? Descreva como ficou(aram) a(s) dimensão(ões) citada(s) na questão “a”.
d) Com base no texto, defina o que é reengenharia.
e) Qual sua opinião sobre a necessidade de papéis e documentos?
f) Quais seriam outras alternativas para agilizar uma empresa burocratizada?
2) A Fagundes Computadores Ltda. é uma empresa de pequeno porte recém-criada que resolveu iniciar suas atividades da forma mais racional e eficiente possível. Seu negócio é montagem e manutenção de microcomputadores.
Ela conta atualmente com 2 técnicos especializados e com experiência na área, uma secretária, e o proprietário, o Sr. Fagundes. Toda a equipe foi contratada a partir de um rígido critério de seleção, que envolveu desde a análise de currículo, entrevista pessoal e até mesmo provas escritas para análise de competências. Além disso, contratou 5 estagiários para auxiliar na montagem e manutenção de micros.
Tendo em vista tais características, defina numa escala de 0 a 4 cada uma das dimensões da burocracia, tendo em mente o que você considera o ideal para o caso proposto. Em seguida, justifique cada pontuação adotada. 
Fonte: CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. Ed. Campus, 7ª Edição, RJ, 2003. 
Abordagem
Estruturalista
Teoria da
Burocracia
Teoria
Estruturalista
Ênfase na forma, na estrutura.
Ênfase na estrutura,
nas pessoas e no ambiente.
Excessivamente burocratizada:
|
Excesso de normas e regulamentos
Pouco
burocratizada:
|
Escassez de normas e regulamentos
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